Lembranças



Capítulo 2: Lembranças


Rony estava acostumado a ver seus filhos se desentenderem por brincadeira à mesa. Porém, o desânimo e respostas monossilábicas de Rose somados ao mau humor de Hugo de longe não eram normais. Buscou uma explicação em Hermione, mas ela se portava tão estranhamente quanto os dois, olhando para a filha com especial atenção.
- Alguém pode me dizer o que está acontecendo aqui?
- Não entendi a razão da pergunta, Rony – respondeu Hermione, sem encará-lo.
- Se você não entendeu, um dos dois talvez conseguiu – retrucou, mirando os filhos com um olhar de repreensão. – Rose, o que você tem pra ficar tão quieta, como se tivesse em um velório?
- Pai! Não fale assim, ninguém morreu – ela se apavorou de repente, notando que não tinha escapatória, começaria a mentir para ele. – Só estou triste por não voltar mais para Hogwarts. Mamãe também foi no meu quarto fazer a mesma pergunta, e ela sabe que é isto. Não é?
- Sim. É isto. Agora comam, antes que esfrie. O dia foi cheio, todos precisam descansar.
- Você é muito parecida com sua mãe. Até triste por causa de estudos consegue ficar. Logo vai fazer o curso de medibruxa e vai se cansar de estudar.
- Duvido, pai! Ela é doida, nunca vai ficar satisfeita. A não ser que pense em outra coisa além dos cadernos.
- Hugo, não me enche! Pelo menos aqui em casa, me dá um pouco de sossego! O quanto eu estudo e meus pensamentos não são da sua conta!
Não era fácil ver Rose saindo do sério a ponto de gritar. Geralmente, todos percebiam o tom de diversão em sua voz ao fingir uma crise de raiva com o irmão, ou se era uma discussão tola. Rony e Hermione se encararam assustados, ela estava explodindo.
- Pare de atormentar sua irmã e coma, Hugo. Rose, não precisa ficar alterada desse jeito! Querida, é difícil lidar com perdas, mas você se lembra de como foi quando você nos mandava cartas toda semana, morrendo de saudade, apesar de todas as novidades? É a mesma coisa agora. Procure ficar mais calma, seu irmão estava brincando.
Hermione tentou ser branda nas palavras, temia que Rose se exaltasse outra vez. Pensando muito em qual atitude seria a menos suspeita, ela respondeu:
- Desculpem. Eu exagerei, ele vive fazendo essas provocações e nunca dou tanta atenção desse jeito. Hoje estou muito sentimental, acho.
- Filha, se você precisar nos contar alguma coisa e pensa que vamos ficar bravos, não tenha medo. Sabe que eu e sua mãe a amamos muito, e pode contar conosco, certo?
- Claro, pai. Eu sei disso.
Ela se surpreendeu com a atitude de Rony. Parecia que ali todos sabiam o quanto ela queria desabafar mas, por algum motivo, ela nada podia dizer. Virou para Hugo e pediu perdão. O garoto resmungou um “tudo bem, sua doida”, que ela devolveu com um sorriso tímido. Restabelecida uma pequena estabilidade no clima do jantar, os quatro começaram a conversar sobre assuntos alheios à escola de magia e Rose participou ativamente deles. Quando estava indo se deitar, a vontade de sucumbir ao remorso voltou. Comparando mentalmente o corredor de casa com o que levava ao dormitório feminino da Grifinória, recordou-se de Alvo. Eles conversavam muito próximos as entradas que davam acesso aos dormitórios ou na Sala Comunal.
- Eu queria que você estivesse aqui para me ouvir, Alvo. Você me entende muito.
Ao perceber-se falando sozinha, entrou em seu quarto. Jogou-se na cama e passou a contornar o desenho de seus travesseiros, bordados por sua avó materna, com as unhas. A forma de flor a fez recordar de um acontecimento antigo, que ela julgava ter pouca relevância, mas depois fez toda a diferença em sua vida. Uma atitude mudou determinadas opiniões, e seus sentimentos também.

Flashback:

Quando foi nomeada monitora, Rose teve orgulho de si e pôde ver a mesma sensação estampada no rosto de seus pais. Hugo achou aquilo péssimo, seria mais uma maneira dela pegar em seu pé. Lílian compartilhava deste desgosto, apesar de agradecer imensamente a falta de interesse do irmão em querer ser monitor.
Como por praga dos bagunceiros da família, a alegria transformou-se em preocupação para Rose quando se deparou com Scorpius Malfoy, monitor da Sonserina. Eles nunca discutiram, mas a má impressão que tinha dos Malfoy era grande demais para ser ignorada. Seu pai adorava cultivar aquele desprezo, e sua mãe o repreendia de maneira tão branda que parecia concordar em partes. E ela sabia o quanto isso era verdade, pois Hermione já havia explicado que eles não eram maus, mas um pouco de cautela não seria insanidade.
Scorpius parecia em situação igual a dela. A olhava com sincera curiosidade, mas quando percebeu que era correspondido, disfarçou e continou a conversar com o monitor chefe da Corvinal, com uma voz cordial, porém firme. Eles discutiam sobre como conter os alunos nas traquinagens pelos corredores.
Rose resolveu não interagir, pois o corvinal a mirava com interesse. Ela tinha consciência de que estava longe de ser feia. Quando outros monitores chegaram, ela se sentiu mais à vontade por conhecê-los melhor ou por motivação de puxar assunto.
A viagem transcorreu bem. As primeiras semanas foram de adaptação, apesar da maioria ter se acostumado rápido, observando monitores mais velhos atuarem anos antes, tanta era o desejo de estar no lugar deles. No começo, Rose notava que Hugo tentou se conter. Após algum tempo, ele voltou à farra de sempre. Ele e Pirraça podiam dar as mãos, se fosse possível.
Ela temia ter que castigar o irmão oficialmente. Sabia que ele precisava de um corretivo, mas não queria chateá-lo, mesmo sendo difícil admitir. Após quase dois meses de aula, aconteceu. Uma monitora da lufa-lufa correu para ela, que fazia a ronda na Torre da Grifinória:
- Rose, por favor, venha aqui rápido!
- O que foi, Matilda?
- Seu irmão. Vamos correndo, talvez dê tempo de impedir que ele pegue uma hiper detenção esta noite!
- Você só pode estar brincando... – resmungou, inconformada e acompanhando a corrida da garota.
- Lucinda veio toda atrapalhada contar que ele e o Marcus brigaram outra vez e combinaram de duelar longe dela, nas masmorras. Tudo porque Marcus morre de ciúme dela com Hugo, você sabe que ela foi namorada dele por um tempão!
- E largou Marcus pra ficar com o Hugo. Sei bem! Mas e agora, o que a gente pode fazer pra impedir? A ronda acabou de começar, algum monitor sonserino já os pegou a essa hora!
- Vale a pena arriscar. Você se lembra da lista de castigos novos?
Rose pareceu refletir por um instante, e apressou ainda mais o passo. Quando chegaram perto das masmorras, pararam bruscamente ao verem uma luz dobrando um dos corredores, e Hugo sendo arrastado para uma direção oposta. Alcançando o irmão, ela se arrepiou toda ao reconhecer os cabelos absurdamente loiros de quem o segurava pelo braço.
- Rose, vou embora agora, ok?
- Pode ir, Matilda. Obrigada.
Ela correu um pouco mais e disse:
- Espere! Por favor, me escute um pouco, Malfoy.
Ele parou de andar ao ouvi-la, porém não soltou Hugo e não virou-se para trás.
- Meu irmão é meio inconseqüente, mas entregá-lo para o professor Zabini é um pouco demais! Eu o levo para o professor Longbottom agora, mas por favor, deixe Zabini fora disso.
- Rose, não se meta! Não precisa me defender, eu sei me cuidar!
- Estou vendo, seu irresponsável! O que me diz, Malfoy?
- Que pedi para outro monitor levar o aluno para nossa sala de reuniões, e não estou com vontade de ser chamado de incompetente por deixar escapar quem fez ele brilhar nos corredores e sair gritando sem voz.
- Você está querendo humilhar o meu irmão, ou pensa que sou boba? Mandar ele levar uma bronca de um dos professores mais exigentes e ranzinzas de Hogwarts! Depois ainda encarar Longbottom e perder um monte de pontos para a Grifinória! Não ensinam esse tipo de feitiço nas aulas, ainda tem esse agravante. E falo porque sei que você sabe disso, sempre tirou notas boas em feitiços no ano passado! Eu devia ter me lembrado que apesar de tudo, sonserinos gostam de ser vingativos e arbitrários com grifinórios, estava vendo de longe meu irmão com uma das pernas totalmente torta! Não adianta disfarçar com as vestes, Hugo, é evidente! E isso você não vai falar para o seu querido professor, não é, Malfoy?
Com uma rapidez quase bruta, ele continuou arrastando Hugo pelo braço e o largou devagar perto de Rose. O garoto cambaleou, porém se recusou a apoiar-se na irmã. Queria ter se livrado de Malfoy sozinho.
- Siga para o final deste corredor, atrás de você. A sala é uma marcada por um distintivo, mas somente os monitores daqui conseguem enxergá-lo. Então, se você for com algum objeto meu, a porta ficará destrancada. Fale com Fireglass, ele está lá dentro com o garoto. Você sabe reverter o feitiço, Weasley?
Hugo hesitou. Rose o ameaçou, impaciente:
- Ande logo, Hugo! Responda!
- Você quer mesmo saber qual detenção vem depois da limpeza de troféus, Weasley? Porque a novidade agora é outra, e tem professor aqui tentado para aplicar no primeiro petulante que fizer uma besteira.
- Nossa, você parece tão assustador, Malfoy!
- Hugo, cale a boca. Ele está certo sobre as novas detenções. Por isso vim defendê-lo também.
- Eu sei. Tenho uma poção pra isso.
- Sabia que tio Jorge tinha algo a ver com isso!
- É, Rose. Está satisfeita?
- Estou. Mas o que você...?
- Vá para a sala que mandei e explique tudo. Depois, vá pegar a tal poção. O Weasley fica lá com o monitor.
Rose sentiu a mão de Hugo em seu ombro. Fitava Scorpius como se exigisse uma explicação para aquele ataque de bondade, ou procurasse algum indício de que ele estava aprontando uma armadilha.
- Como posso confiar na sua palavra?
- Confiando, se você quiser. Eu ouvi a confusão no corredor quando saí da sala do professor Zabini. Tenho que voltar para dar satisfações a ele. Ou você faz o que eu disse agora, ou está tudo acabado, Weasley. Aliás, aqui está meu lenço. Tem as minhas iniciais com fios de prata. Vai lá ou não?
- O que você quer em troca, Malfoy?
- Que você corra logo atrás da poção, devolva meu lenço e nunca abra a boca para falar sobre o que aconteceu. Antes que eu me esqueça, deixe seu irmão como ele está, com uma perna torta. Por enquanto.
Rose e Hugo seguiram para a sala indicada. Scorpius foi para o lado oposto sem olhar para trás. Ela pediu para o irmão dizer onde estava a poção e o deixou com Fireglass e o garoto que soltava faíscas e parecia querer gritar de tanta dor, mesmo mudo por um feitiço. Ao se verem, os rivais quase se degladiaram outra vez, mas quando Rose transmitiu o recado de Malfoy para Fireglass, este fez questão de explicar para os dois, de modo discreto e ameaçador, que se reclamassem de qualquer coisa, iriam se arrepender com uma detenção severa, pois ambos se atacaram.
No caminho para a Sala Comunal, ela se lembrou de que todas aquelas faíscas provocavam uma sensação de ardência muito incômoda, como seu tio adorava explicar. Assim, pediu ajuda para Alvo, que ainda não tinha dormido, e ele pegou a poção no baú do primo. Prometendo dar explicações depois, ela voltou para as masmorras e medicou o rapaz. Scorpius estava lá.
- Agora eu posso ajudar meu irmão? Olhar para ele me dá agonia.
- Pode.
Após girar a perna dele para a posição correta com um feitiço reparador, todos saíram da sala em silêncio. Na confusão, ela e Scorpius se esqueceram do lenço bordado à prata. Portanto, por acaso ela tinha um pretexto para agradecer a Malfoy pela generosidade.
Hugo agradeceu Rose quando estavam longe das vistas de qualquer um. Ela não deu mais uma bronca, porque achou desnecessário perante o susto. A última coisa que ela queria era vê-lo limpando o corujal por algumas noites. Sabia que apesar da coragem dele, não costumava se dar bem com corujas. Por algum motivo, elas comumente o bicavam ele estava próximo delas. Por isso, ele sempre pedia para ela ou os primos enviarem e receberem suas cartas.
No dia seguinte, um tanto sem graça, Rose abordou Scorpius no final da aula de Herbologia e disse:
- Muito obrigada pelo o que fez por meu irmão. E me perdoe por ter desconfiado de suas intenções.
Ela estendeu o lenço adornado com as iniciais dele em prata. Ele o pegou, escondeu no bolso das vestes e respondeu:
- Apenas não deixe ele chegar perto daquelas masmorras de novo. E obrigado por ter lembrado do meu pedido de ontem. O assunto do seu irmão morre aqui.
O sorriso cordial dele e a falta de arrogância a impressionaram. Passaram a se cumprimentar com menos frieza depois do ocorrido. Mas Hugo foi parar no corujal antes do ano letivo terminar. Era muito previsível, mas daquela vez não houve quem o salvasse, pois Neville o pegou.

Fim do flashback

Tão envolvida com suas recordações estava, que nem percebeu as batidas na porta. Então, antes de acordar de seu devaneio completamente, ouviu a voz de Hugo, que entrou no quarto finalmente:
- Você está toda nervosinha assim por causa do Alvo? É capaz de amanhã mesmo vocês se verem!
- Vai dormir, Hugo. Eu não quero mais perder a paciência com você hoje.
- Fala sério – ele chegou mais perto dela. – Por que vocês não contam logo pra todo mundo que se gostam? Ia ser meio complicado no começo, mas depois todo mundo ia concordar! Ainda se ele fosse um baderneiro ou um sonserino idiota, até dava pra entender o papai não deixar mais você namorar, mas o Alvo não é nada disso!
- Pare de falar sobre o que você não sabe!
- Hoje você tá insuportável, baixinha. Mais estranho do que isso, só a sua amizade de gratidão com o Malfoy. Amiguinhos monitores – disse, com um desdém parecido com o de Scorpius quando estava contrariado. – Você devia falar logo com o papai e mamãe. Aliás, eu não quero dar uma de dedo-duro, mas se continuar com essa frescura, mamãe vai continuar me perseguindo pra perguntar de você e vou acabar entregando o que tá acontecendo. Sabe tanta coisa e desaprendeu a cuidar de um simples namoro, Rose?
- Você não sabe nem cuidar da sua vida, Hugo! Não venha me dizer o que fazer com a minha! Vai acabar saindo de Hogwarts sem uma profissão, porque a única coisa que você faz é pegar detenção, jogar quadribol e ficar de namorico besta com qualquer menina que aparece na sua frente!
- Ei, eu só queria ajudar! Mas você não precisa, né? Sempre pode fazer tudo sozinha, não é? Então fica com a sua perfeição e essa merda de medibruxaria e nunca mais me peça nada! Porque se alguém mais me perguntar, eu falo que você tá namorando o Alvo, apesar dele ser burro de escolher uma garota tão insuportável quanto você!
Rony tentou intervir quando ouviu a porta do quarto do filho bater, contudo a palidez de Rose ao vê-lo fez com que ele esperasse um pouco para perguntar:
- Você vai me dizer agora o que está acontecendo ou preciso tirar satisfações com seu irmão?
- Ele só veio aqui me tirar do sério outra vez. Disse que é bobagem eu sentir saudade de Hogwarts, que sou uma fresca. Então eu me descontrolei, pai! Só queria ficar sozinha um pouco, e nem isso ele respeitou, entrando no quarto sem minha permissão!
- Vou falar com ele depois sobre isso. Mas se acalme, filha, você hoje está deixando eu e sua mãe muito preocupados. Tem certeza de que prefere ficar sozinha?
- Tenho. Prometo que amanhã estarei melhor.
- Eu espero. Fiquei feliz que tenha voltado para casa, mas não quero vê-la triste e revoltada desse jeito.
- Desculpe, pai – ela levantou-se, o abraçou e beijou-lhe no rosto. – Boa noite, de novo.
- Boa noite, Rose.
Ele a fitou por um tempo, esperando ela dizer mais do que aquilo, porém foi em vão. Tencionou falar com Hugo, mas conhecia o filho o suficiente para saber o quanto estaria nervoso para ter qualquer tipo de conversa. Percebeu que boa parte da confusão se deu por causa do destempero de Rose, então deixou tudo como estava, apenas advertindo o filho no dia seguinte sobre não fazer brincadeiras com Rose até ela apresentar um sinal de melhora no humor.
Da parte dela, chorou pelo resto da noite. O amor por Scorpius era genuíno e forte, porém o remorso de mentir para sua família era maior do que ela poderia supor.

----------*----------

Fazia algumas horas que Scorpius estava deitado em sua cama, após a conversa com seu pai no escritório. Sabia que a discussão era o menor de seus problemas. Afinal, o que estava por vir seria muito mais chocante para sua família do que uma simples mudança de planos em sua carreira profissional.
Ele se levantou e foi até a janela do seu quarto, de onde se tinha uma visão ampla dos jardins da Mansão dos Malfoys. Adorava sua casa, mas sabia que teria de se habituar a outra vida, pois provavelmente seu pai jamais o permitiria colocar os pés novamente lá. Além do mais, sem o dinheiro dele precisaria levar uma vida humilde, sem tantas regalias como se acostumara.
- Mas vale a pena! – sussurrou ele, lembrando o motivo de tudo o que estaria para acontecer.
Scorpius voltou à cama e, encarando o teto de seu quarto, se lembrou de Rose e da despedida dos dois no castelo, no dia anterior ao embarque para casa no Expresso de Hogwarts.

Flashback:

Fazia alguns minutos que Scorpius aguardava Rose na Casa dos Gritos. Seria o último encontro deles lá, um dos lugares seguros que encontraram para ficarem juntos durante o ano que estavam namorando escondidos. Ele esfregava as mãos devido ao nervoso, pois Rose chegava nos encontros primeiro. Portanto, algo havia acontecido. Só quando ouviu passos no andar de baixo se acalmou.
- O que houve? – perguntou o garoto. – Algum problema?
- Apenas Hugo, que não saía do meu pé – respondeu a garota, caminhando em direção ao namorado. – Só quando Alvo o chamou para irem ao campo de Quadribol para uma partida de despedida ele me largou. Como ele e Lílian acham que estou namorando com Alvo, acharam que se colassem nele eu acabaria ficando na Sala Comunal.
- Ainda bem que seu primo está do nosso lado – Scorpius abraçou a namorada, enquanto sussurrava em seu ouvido. – Seria muito ruim se a notícia do nosso namoro chegasse aos ouvidos dos nossos pais antes de falarmos com eles.
- Nem pense nisso – Rose o beijou e, puxando ele para o sofá puído no quarto, sentou-se ao seu lado. – Não posso nem imaginar a reação dele se ficasse sabendo de nós por outra pessoa. Eu contando já vai ser difícil.
Scorpius fitou Rose e, com um olhar que misturava receio e tristeza, perguntou:
- Mudou de idéia?
- Como pode pensar isso? – respondeu a garota meio nervosa com a reação dele. – Depois de tudo que passamos nesse ano, e todas as provas que te dei dos meus sentimentos? Ou você está arrependido do que combinamos?
- Desculpe – Scorpius olhou para a namorada, enquanto segurava suas mãos. – Eu sei que é tão difícil pra você quanto é pra mim. E que você está tão segura disso quanto eu.
Rose se encostou no ombro de Scorpius, e ela carinhosamente colocou a mão sobre seus cabelos, afagando-os.
- Como acha que seu pai vai reagir? – foi tudo que Rose conseguiu perguntar.
- Nada bem, mas esse não é o problema. Preciso pensar onde irei ficar, é bem provável que ele me expulse de casa.
- Mas ele não pode fazer isso! Sua mãe não faria nada?
- Ao contrário da sua, minha mãe não tem influência nenhuma sobre o meu pai. Ela não poderá fazer nada, a não ser me entender. Tenho certeza de que ela fará todo o possível para ajudar. E o seu?
- Ele não me colocará para fora de casa, mas nem por isso a reação vai ser melhor. É bem capaz de querer me trancar em casa até eu esquecer a idéia.
- Mas pelo menos sua mãe poderá te ajudar.
- É. Mas não acho que vá aceitar tão fácil o nosso namoro. Ela é mais flexível, mas sabe o quanto isso vai afetar meu pai, e ela não suporta vê-lo triste.
- E quando vai contar?
- Acho melhor darmos um tempo depois de chegarmos. Podíamos contar no fim de semana, quando estarão mais relaxados. Eu contarei primeiro pra minha mãe, assim poderei preparar o terreno para contar pro meu pai. E você?
- Acho que posso agüentar até o fim de semana. Assim quando contar a ele, e ele me mandar pra fora de casa, terei tempo de ir pra casa de algum amigo antes procurar emprego.
- Não entendo como seu pai pode fazer uma coisa dessas com você. Eu nunca deixaria um filho meu sair de casa.
- Você não entende a cabeça dele como eu. Na educação que ele teve, um filho é obrigado seguir exatamente o que seu pai escolheu para o seu futuro. Foi assim com ele e com meu avô, então é normal ele esperar o mesmo de mim. Mas na minha vida mando eu, e só farei o que escolher pra mim.
Scorpius tinha o poder de surpreender a namorada. Ela sabia que ele era decidido, porém não tinha como se decepcionar com ele. A voz dele tinha o tom de quem já tinha toda a vida decidida, e ressaltava o quanto ela estava incluída nesses planos. Isso trazia muita confiança a Rose, principalmente dos sentimentos de Scorpius com relação a ela.
- Sabia que você sempre consegue me deixar cada vez mais segura de que estamos fazendo a coisa certa? – disse Rose, virando o rosto do loiro, e encarando os olhos cinzentos herdados do pai. – Eu nunca imaginei que poderia gostar tanto de um Malfoy – disse rindo marotamente, enquanto puxava Scorpius para um beijo apaixonado.
Ele não quis dizer nada, contudo também não passava pela sua cabeça gostar tanto de uma Weasley. Não depois de tudo o que seu pai falava sobre eles, como sempre se metiam em coisas que não diziam respeito a eles. A frase dita após o beijo saiu tão sem querer, sem pensar e tão verdadeira, que o próprio Scorpius não podia mais duvidar da veracidade dela:
- Eu te amo!
Rose olhou para ele e sorriu. Novamente, Scorpius impressionou a namorada, e a resposta de Rose veio sincera como sempre fora em todas as conversas com Scorpius, e isto o fazia se sentir o mais amado de todos os garotos de Hogwarts.
- Também o amo!
Então, Scorpius abraçou Rose e a trouxe de encontro a seu peito. Nenhuma palavra era necessária. Eles ficaram trocando carinhos o resto das horas que possuíam para ficarem juntos. Era tarde da noite quando, utilizando a capa de invisibilidade de Alvo, retornaram à escola. Scorpius ficou próximo à entrada das masmorras e correu para a Sala Comunal da Sonserina, deixando Rose com a capa, e ela seguiu para a Torre da Grifinória.
Scorpius entrou e foi direto para seu dormitório. Ninguém lhe fez perguntas na Sonserina, pois sabiam que além de não responder, ele provavelmente iria dizer uma série de motivos para todos se meterem com a própria vida.
Ele deitou-se, mas praticamente não dormiu, pois a visão de Rose não saía de sua cabeça. Aquele tinha sido o ano mais feliz de sua vida, e ela era o motivo. Sabia o quanto o que estava por vir seria o maior desafio de toda sua curta vida, porém sabia ser o certo. Não havia mais como separar as vidas dos dois.
Quando finalmente dormiu, Scorpius sonhou com sua vida fora da escola, e a casa em que ele e Rose viveriam. Acordou se sentindo feliz, e ao subir para o Salão Principal para tomar seu café, se esforçou para não correr em direção a Rose e beijá-la. Ele lançava olhares para Rose, e embora ela disfarçasse bem, retribuía sempre quando era possível.
O caminho até a estação para pegarem o expresso de Hogwarts foi sem surpresas, e ele e Rose não se viram. Somente no embarque, ele, como monitor chefe, encontrou Rose na cabine dos monitores.
Após a reunião, que definiu as rondas do trem, Rose olhou para Scorpius e, movendo os lábios sem pronunciar uma palavra, disse “Uma semana”, e saiu em ronda com Alvo.
Scorpius fez a ronda com a monitora da Sonserina, do mesmo ano dele, e não mais viu Rose. No fundo, sabia que podia agüentar uma semana até reencontrá-la, e seria para nunca mais se separarem, mas desejou intimamente que tivessem mais alguns anos em Hogwarts para ficarem juntos sem se preocuparem com suas famílias.

Fim do Flashback

Scorpius finalmente saiu da cama, e retornou a janela de seu quarto. Mirou a jardim, e pôde ver seu pai e sua mãe conversando. Seu pai parecia muito nervoso, e sua mãe tentava acalmá-lo.
- Se está nervoso agora, espere até o fim de semana, pai. Acho que nunca irá me perdoar.
Ele se virou, deitou-se e apagou as luzes, dormindo em seguida, após se conformar que não havia como mudar as coisas.

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