Capítulo Dois

Havia grandes arcos de voltas perfeitas e abóbadas na entrada da igreja. Todo o local tinha um aspecto voltado para a defesa, pois suas paredes eram grossas e havia pouquíssimas e pequenas janelas. Diziam que as Igrejas deveriam ser fortes e resistentes, para combater a entrada das “forças do mal”.

Harry ajoelhou e fez o sinal da cruz, só para não perder o costume. Para ele, aquilo tudo era baboseira hipócrita cristã. Um jeito de a Igreja prender o poder e a mente das pessoas. Pra ele, aquele local não servia como pilar de sua fé, e sim algo que protegesse seu maior tesouro.

Quando ele entrou, viu várias pinturas e vitrais sobre a vida de Jesus, dos santos, alguns com passagens da bíblia. Serviam para ensinar os fiéis os princípios cristãos. Numa época que poucas pessoas tinham o privilegio de ler, eram importantíssimos destacar o caráter didático-religioso.

Ela estava o esperando, como sempre. Havia um padre ao seu lado, como usual. Harry se aproximou com passadas decisivas.

–Vossa Eminência. – saudou Harry.

Ele acenou com a cabeça e saiu. Hermione deu um sorrisinho, enquanto Harry segurava-lhe as mãos.

–Você achou mesmo o esconderijo perfeito. – disse ela. – O voto de silêncio dos padres é bem conveniente.

–Tive sorte. Passeias comigo? – convidou ele, estendendo o braço pra ela.

–Claro.

Aquela Igreja pequena e obscura escondia atrás de si uma floresta maravilhosa e inabitada. Harry e Hermione passearam com prazer, sentindo o vento fresco e desfrutando da companhia um do outro.

–Eles estão te tratando bem? – questionou Harry, de repente.

Hermione deu os ombros.

–Você sabe, eles não falam muito.

Ele riu.

Em frente, havia um grande tronco de árvore abatido no chão, dando aos dois um ótimo local para sentar. Harry a ajudou a se ajeitar no banco, mas não se juntou a ela. Ficou ali ajoelhado em sua frente, segurando suas mãos e sorrindo como um bobo.

–Irá sujar seus trajes, Vossa Alteza. – disse Hermione, um pouco envergonhada com o jeito com que ele a olhava.

Harry fez uma careta.

–Deixes de me chamar de Vossa Alteza. – reclamou ele.

–Mas tu és um Príncipe.

–Pra ti, sou só Harry. Teu Harry.

–Perdão. – disse Hermione baixinho. – Não estou muito bem acostumada com isso.

–Mas ainda gostas de mim, sim?

A voz desesperada de Harry quase a fez se deleitar no prazer óbvio que ele sentia ao vê-la.

–Claro que sim. – respondeu Hermione, como se fosse óbvio. E realmente era.

Fez um silêncio pesado só para que ela pudesse escutar Harry suspirar de alívio.

–Que susto me deste. – ele se aproximou. – Escute, tu não tens visto nada de estranho por aqui, meu amor?

–Estranho? Como?

–Escutei histórias sobre vampiros na região. – disse Harry, sério. – Se estiveres em perigo, te tirarei daqui agora mesmo.

Para sua surpresa, Hermione riu.

–Não existem vampiros, meu bobinho.

–Você ficaria surpresa com as coisas que aparecem pelos arredores do Castelo de meu irmão, minha senhora.

–Eu não sou tua senhora. – ela disse, agora séria. –Tu sabes bem disso.

–Não és porque não queres. – Harry disse, ofendido. – Se dependesse de mim, tu estarias casada comigo há muito tempo!

–Eu gostaria, acredite em mim. Mas não posso. – disse Hermione, triste.

Harry segurou-lhe o rosto pequeno com as mãos. Era incrível como a pele dela era quente e macia, como suas feições eram harmoniosas, como seus olhos brilhavam ao olhar para ele, como seu cabelo exalava um cheiro único...

Então ele ergueu a cabeça para encostar os lábios nos lábios dela. O beijo que depositou ali foi enormemente terno, quente e tentador. E ela se sentiu arrepiada da raiz dos cabelos à ponta dos pés.

–Por que? – ele perguntou, olhando-a profundamente. – Por que não se casa comigo? Por que não me conta teu segredo? Por que tenho que te esconder?

–Não vou lhe meter nisso, meu senhor. – Hermione disse, envergonhada. Nunca diria a ele que fugira de casa porque era noiva de um homem que não conhecia.

–Não confias em mim?

–Não digas isso! Confio em ti como um cego que confia em seu guia!

–E por que esconde teu passado de mim?

–Harry, eu te imploro... – disse ela, segurando as mãos dele com força. Elas eram cheias de calos devido às lutas de espadas, e grossas, além de extremamente grandes, mas Hermione as amava mesmo assim. Suspirou.– Você me ama?

–Amo. Mais que ontem, menos que amanhã... – respondeu-lhe ele.

–Então deixe isso passar. Eu estou aqui com você. É isso que importa.

–Eu não entendo! O que podes ter feito de tão terrível!? Matou alguém? Desafiou algum rei? Questionou o poder da Igreja? Fugiu de uma prisão?

–Por Deus, não. – ela afirmou.

–Tens medo de mim!

Harry se levantou num salto.

–Vou embora. – anunciou.

–Meu senhor, por favor! – implorou Hermione, erguendo-se também. – Eu não tenho medo de ti! Eu te amo!

–Quando entenderes que não me importa o que tu tenhas feito no teu passado, tu me dizes. Agora eu vou embora.

–Voltarás amanhã?

–Eu sempre voltarei.

Hermione, ali parada, observou seu Príncipe caminhar em direção a saída da floresta. Ela não o seguiu. Ele estava certo. Ela tinha medo.

Um medo da força que ele exercia em seu coração. Era uma garra firme e possessiva, que às vezes era reconfortante e outras vezes aterradora.

Quando chegou aos seus aposentos no Castelo, Harry sentou-se na cama, exasperado. Nem percebeu Gina escorada na porta, sorrindo.

–Meu primo. – saudou ela. – Queres ajuda para tirar as botas?

–Sim, minha prima, por favor.

Gina se alegrou no mesmo instante. Enquanto ela tirava as botas pesadas de Harry, ela via seu rosto contorcido de dor. Ela não imaginava que aquela dor toda era resultado da lembrança de uma mulher em seus braços. Uma mulher que não era ela.

–No que pensa? – arriscou-se ela a perguntar.

–No meu primo. – mentiu ele. – Vossa Alteza já encontrou a tal esposa?

Gina fez uma careta.

–Não, e quase põe todo o reino louco por isso.

Harry se permitiu rir.

–É insano pensar que uma dama fugiu de um casamento com um Rei.

–Meu irmão cairá na desgraça se alguém descobrir.

–Nós vamos achar essa mulher. – afirmou Harry. – Ela não pode se esconder por muito tempo...

*

N/A: capítulo para a Sara! beijos :*