Capítulo 10




Chegara a hora de ter uma boa conversa com Draco Malfoy, pensou Gregory. Mas não seria nada dificil. Tudo que teria de fazer seria levá-lo até seu escritório, enquanto Hermione estivesse ocupada com Angela em algum outro aposento da casa. Quanto a Matthew... Bem, com ele não haveria problema, já que o rapaz passava a maior parte do tempo procurando inspiração para montar seus brinquedos de metal. As esculturas de Matthew sempre o deixavam surpreso e orgulhoso ao mesmo tempo. Não podia negar que o rapaz era talentoso, embora criasse coisas esquisitas.

- Sente-se, meu rapaz. E aproveite para esticar um pouco as pernas. - Dizendo isso, caminhou até a estante de onde tirou um exemplar de Guerra e Paz. - Aceita um? - perguntou ele, abrindo o livro e revelando se tratar de uma caixa de charutos.

Draco arqueou uma sobrancelha.

- Não, obrigado. Literatura interessante, sr. McDeal.

- Bem, um homem deve saber o que fazer para não ser aborrecido pela esposa.

Gregory passou o charuto sob o nariz, apreciando seu aroma, e suspirou alto ao sentar-se, antecipando o prazer que teria em fumá-lo. Com calma, destrancou uma das gavetas de sua mesa e tirou dela uma concha que, pelo visto, era usada regularmente como cinzeiro. Em seguida, também tirou da gaveta um pequeno ventilador movido a pilha. Sem dúvida, seu mais novo artifício para evitar que a esposa sentisse o cheiro do charuto.

- Angela não quer que eu fume - declarou ele, balançando a cabeça. - E quanto mais velha ela está ficando, mais apurado está ficando também seu nariz. Às vezes, mais parece o de um cão de caça - resmungou, encostando-se na cadeira.

- E se ela aparecer? - indagou Draco, ao notar que ele pretendia mesmo acender o charuto.

- Vamos nos preocupar com isso se e quando acontecer, meu rapaz.

Apesar da aparente despreocupação, Draco não deixou de notar que o velho Gregory manteve o pequeno ventilador bem junto de si.

- Muito bem, sua nova peça está fazendo sucesso?

- Sim, está.

- Quero que saiba que estou lhe perguntando isso porque quero saber mais detalhes a seu respeito.

- Hum-hum - anuiu Draco, sem querer se arriscar a oferecer respostas mais elaboradas.

- Admiro o trabalho de seu pai. Tenho alguns livros dele na minha estante. - Gregory se ajeitou melhor na cadeira, dando uma baforada no charuto. - Alguém me contou que Hollywood está bastante interessada em seu trabalho.

- Tem informantes muito bons, sr. McDeal.

Gregory sorriu.

- Faço o possível para me manter sempre bem informado. Então, como vai indo esse negócio com o cinema?

- Bem.

- Prefere manter a discrição, não é mesmo? Gosto disso. - Gregory bateu o charuto levemente sobre a concha, antes de prosseguir: - Vai ficar em Nova York por mais algumas semanas?

- Por mais um mês, provavelmente. A essa altura, a maior parte da reforma da casa já deverá ter acabado.

- Uma belíssima casa com vista para o mar, não? - Gregory sorriu ao ver Draco estreitar o olhar. - Alguém me disse todas essas coisas. E bom para um homem ter uma casa própria. Alguns de nós simplesmente não conseguem viver em prédios, dividindo as paredes da própria casa com as de outras pessoas. E bom ter espaço para a família. Um lugar suficientemente grande para que seja possível se fumar charuto sem ter de ouvir um sermão durante horas seguidas.

Draco pressionou os lábios, disfarçando o riso, enquanto Gregory dava outra baforada no charuto.

- Tem razão - concordou Draco. - De qualquer maneira, tenho noção de que, em questão de tamanho, minha casa não chega nem aos pés da sua.

- Você ainda é muito jovem. Irá aumentando a casa conforme for ficando mais velho, pode acreditar. Também vai precisar da atmosfera do mar, como eu precisei, e ainda preciso, para me manter em forma.

- Prefiro o mar à cidade - confessou Draco. Sem saber ao certo onde aquela conversa iria dar, não estava conseguindo se sentir muito relaxado. - Se eu tivesse de viver por muito tempo em um centro urbano, acho que acabaria ficando maluco.

Gregory riu, olhando para Draco através da fumaça do charuto.


- Você é um homem que precisa de privacidade. Mas quando essa necessidade se transforma em isolamento, ela deixa de ser saudável, não é mesmo?

Draco inclinou ligeiramente a cabeça.

- Desculpe-me, mas não estou vendo vizinhos entrando e saindo de sua casa, sr. McDeal.

Um sorriso curvou os lábios de Gregory.

- Tem razão. Porém, por mais que tenhamos privacidade, não estamos isolados. Hermione também foi criada à beira-mar. - Gregory moveu o charuto entre os dentes. - Mais especificamente em uma casa no litoral de Maine, onde o pai dela guardava sua privacidade como um pit bull.

- Foi o que ouvi dizer - anuiu Draco.

- O pai dela é um bom homem. E não poderia ser diferente, já que se trata de um Granger. - Gregory tamborilou os dedos sobre o braço da cadeira. - E a esposa dele é uma verdadeira dama, vinda de uma família tradicional. Os dois se orgulham muito dos filhos.

- Bem, eles devem ter motivo para isso.

- Claro que têm - afirmou Gregory, com seu costumeiro tom incisivo. - Viu por si mesmo, não? Minha Hermione é uma jovem brilhante e adorável. Tem um coração enorme e é estimada por todos. Ela tem uma espécie de aura luminosa, você não acha?

- Eu a considero única. -

- E ela é mesmo. Hermione é a sinceridade em pessoa - continuou Gregory, observando com atenção cada uma das reações de Draco. - Com mais freqüência do que você imagina, ela deixa de considerar os próprios sentimentos para dar importância aos sentimentos dos outros. Não que ela viva servindo de capacho por aí, não com aquele sangue escocês correndo nas veias. Ela revida quando é provocada, mas geralmente prefere se magoar a ter de magoar outra pessoa. E confesso que isso me deixa um pouco preocupado.

Embora não estivesse ouvindo nada que já não houvesse presenciado, as palavras de Gregory causaram uma certa inquietação em Draco.

- Não creio que deva se preocupar com Hermione, sr. McDeal.

- Preocupar-se com os netos é um direito, um dever e... por que não? Um prazer, para alguém com uma família tão grande quanto a minha. Sinto que Hermione quer ter um lar, para pôr em prática todo o amor que traz guardado dentro de si. E o homem que conquistar aquele coraçãozinho tirará a sorte grande.

- Sim, tem razão.

- Notei o modo como você a olha, meu rapaz. - Gregory se inclinou para frente. - E não foi preciso que alguém me dissesse isso.

Draco se tornou mais do que cauteloso.

- Como o senhor mesmo já disse, Hermione é uma mulher adorável.

- E você é um homem solteiro com trinta anos de idade. Quais são suas intenções?

Ora, ora, aquela conversa estava ficando realmente séria, pensou Draco.

- Não tenho nenhuma intenção.

- Então está na hora de começar a ter. - Batendo o punho cerrado sobre a mesa, Gregory acrescentou: - Não é cego ou idiota, é?

- Não, claro que não.

- Então o que está esperando, meu rapaz? A garota é exatamente o que você precisa para animar um pouco essa sua natureza séria, para evitar que você se feche em uma caverna, feito um urso com indigestão. - Estreitando o olhar, Gregory tirou o charuto da boca e o segurou entre os dedos. - E se eu não soubesse que você é a pessoa certa para ela, não estaria aqui, nesse momento, tendo esta conversa com você. Pode acreditar.

Furioso por sentir-se encurralado, Draco ficou de pé.

- O senhor praticamente me atirou à porta dela, utilizando-se da desculpa de me fazer um favor.

- Eu lhe fiz o melhor favor de sua vida, rapaz, e você deveria estar me agradecendo por isso, em vez de ficar me olhando com esse ar indignado.

- Não sei como o resto da família lida com essa sua atitude de se meter na vida das pessoas, sr. McDeal. De minha parte, posso dizer que não gosto e nem preciso disso.

- Se acha que não precisa da intervenção de alguém, por que continua lamentando algo que já terminou há muito tempo, ou mesmo que nunca existiu? Por que se negar a aceitar aquilo que está bem diante de seus olhos?

O olhar de Draco se tornou frio.

- Isso é problema meu.

- E seu defeito - replicou Gregory, satisfeito ao ver que seu comentário o afetara de alguma maneira. - Já vivi mais de noventa anos neste mundo, tendo a chance de observar as pessoas e a maneira como elas se comportam. E vou lhe dizer uma coisa, Draco Malfoy, algo que você ainda não notou por si mesmo, talvez por ser muito jovem ou muito teimoso: vocês dois combinam. Um equilibra o outro.

- O senhor está enganado.

- Ah, essa é boa! - ironizou Gregory. - Hermione não o teria deixado freqüentar a casa dela se não estivesse apaixonada. E você não teria aceitado vir até aqui, se também não estivesse apaixonado por ela.

Gregory se recostou novamente na cadeira, satisfeito ao notar que Draco empalidecera.
O amor, para alguns, era mesmo algo assustador.

- O senhor entendeu mal - insistiu Draco, tentando manter a calma mesmo sentindo uma sensação de aperto no estômago. - O que existe entre mim e Hermione não tem nada a ver com amor. E se eu a magoar... Quando eu a magoar - ele corrigiu -, parte da culpa será sua.

Dizendo isso, saiu com passos firmes. Gregory continuou fumando seu charuto. Magoar-se era algo que fazia parte do amor, pensou consigo. Ainda da assim, não pôde deixar de lamentar o fato de que sua preciosa menina sofreria um pouco ao longo do caminho. E sim, sabia que em parte a culpa era sua. Mas quando o rapaz parasse de teimar feito uma mula e a fizesse feliz... Ora, quem mais receberia o crédito por isso a não ser o astuto Gregory McDeal?

Sorrindo, terminou de fumar o charuto enquanto repassava seus planos com a calma que somente um homem suficientemente vivido e sábio conseguia ter.

Hermione lamentou que a viagem até Hyannis houvesse deixado Draco de mau humor. Algo que, segundo vinha notando, ainda não havia mudado mesmo depois de eles haverem retornado para Nova York havia uma semana.

Draco era uma pessoa dificil. E ela aceitava isso. Agora que sabia tudo pelo que ele havia passado, e tudo que haviam feito a ele, não conseguia ver muita possibilidade de ele agir de modo diferente.

Para um homem com tanta sensibilidade, seria preciso um longo tempo até que fosse possível ele voltar a confiar em alguém. E talvez mais tempo ainda para se permitir sentir algo mais profundo por alguém.

Mas ela poderia esperar. Por mais que isso doesse. Não conseguia deixar de lamentar quando ele a deixava e partia de maneira súbita, ou quando ele se isolava, usando o trabalho como desculpa. Ultimamente, Draco também havia adquirido o estranho hábito de tocar sax em horários inusitados, como se aquilo fosse uma espécie de desabafo que precisava ser posto para fora no exato momento em que algo o afligia.

Hermione tentou se convencer de que o trabalho devia estar causando problemas para ele, embora Draco nunca mais houvesse falado a respeito dele com ela. Talvez ele imaginasse que ela não fosse capaz de compreender toda a angústia que envolvia o ato da criação artística. Embora isso a magoasse, convenceu-se de que seria melhor aceitar a opção e o silêncio de Draco. Sempre havia conseguido mentir melhor para si mesma do que para os outros.

Seu próprio trabalho havia tomado um novo rumo e estava exigindo mais tempo e energia de sua parte. A reunião que ela havia tido antes de partir para Hyannis havia sido importantíssima, mas ela não a mencionara para ninguém. Talvez fosse um pouco de superstição de sua parte, concluiu ela, descendo do táxi diante de seu prédio, mas era assim que ela preferia agir. Não quisera contar nada a ninguém antes de ter certeza de que o negócio seria fechado. Mas agora tinha certeza.

Levando a mão ao peito, sentiu as batidas fortes de seu coração. Então ouviu seu próprio riso. Sim,agora tinha muita certeza, e mal podia esperar para contar para todo mundo.

Talvez até oferecesse uma festa para comemorar. Uma festa animada, com muita música e risos. Ah, e também com champanhe, balões coloridos e caviar.

Como que já entrando no espírito da festa, subiu os degraus que levavam à entrada meio que dançando. Precisava ligar para seus pais, para o restante da família e também teria de contar a Gina, para que as duas pudessem trocar um daqueles grandes abraços cheios de entusiasmo.

Mas primeiro, teria de contar a Draco.

Respirando fundo, bateu com animação à porta do apartamento dele. Sabia que ele estava trabalhando, mas isso era algo que não poderia esperar. Ele iria entender. Eles tinham de comemorar. Tomar champanhe no meio da tarde até ficarem zonzos e depois fazer amor loucamente.

Quando a porta se abriu, um sorriso radiante iluminava o rosto dela.

- Olá! Acabei de voltar de uma reunião e você não vai acreditar no que aconteceu.

Dracp estava com a roupa amassada e a barba crescida. Lamentou o fato de que um simples olhar para Hermione pudesse fazê-lo esquecer completamente de sua peça.

- Estou trabalhando, Hermione.

- Eu sei. Sinto muito, mas é que acho que vou explodir se não contar a alguém. - Segurou o rosto dele entre as mãos. - De qualquer maneira, parece estar mesmo precisando de um descanso.

- Estou no meio da elaboração de uma cena importante... - Ele começou, mas Hermione continuou a falar.

- Aposto que ainda não almoçou. Por que não comemos sanduíches enquanto eu...

- Eu não quero nenhum sanduíche. - Draco notou que o tom de sua voz se alterara, mas não se importou com isso. - Não tenho tempo para comer agora. Quero trabalhar.

- Mas você precisa se alimentar. – Abrindo a geladeira, Hermione começou a procurar algo que pudesse preparar para eles. Então ouviu Draco subindo a escada.

- Oh, droga.- resmungou com um suspiro desanimado e foi atrás dele.- Tudo bem, vamos esquecer o sanduíche. Preciso apenas lhe contar como foi meu dia. Pelo amor de Deus, Draco, este escritório está escuro feito uma tumba.

Instintivamente, ela foi até a janela, com a intenção de afastar as cortinas.

- Mas que droga, Hermione! Deixe as coisas como estão!

Ela parou de repente, soltando a cortina devagar. Notou que Draco já havia sentado novamente diante do computador, voltando a se isolar do resto do mundo. Iluminado apenas pela lâmpada sobre a mesa e com uma xícara de café deixada de lado, Draco continuou a trabalhar, mantendo-se de costas para ela.

Naquele momento, nada do que ela dissesse importaria para ele.

- Para você, é tão fácil me ignorar, não? - protestou Hermione, magoada.

Draco manteve a mesma postura, recusando-se a se sentir culpado.

- Não é fácil. Mas, no momento, isso é necessário.

- Claro, você está trabalhando, e é mesmo muita ousadia de minha parte interromper um gênio criador, não é mesmo? Alguém cujo trabalho grandioso eu simplesmente não tenho condições de entender.

Irritado, Draco se virou para ela.

- Você consegue trabalhar com pessoas fazendo algazarra à sua volta, eu não.

- Não se trata disso - continuou Hermione, no mesmo tom indignado. - Você também já me ignorou em outras situações que não diziam respeito a trabalho.

Draco empurrou o teclado para o lado.

- Não quero discutir com você, Hermione.

- Sim, claro. Tudo depende do seu estado de humor: se quer ficar comigo ou sozinho, se quer conversar ou ficar quieto, ou se quer me tocar ou me mandar embora.

A voz de Hermione revelou um tom definitivo que deixou Draco apreensivo por um instante.

- Se isso não a estava agradando, deveria ter dito antes.

- Você tem razão. Está absolutamente certo. Pois agora isso não está me agradando, Draco. Não gosto de ser tratada como se eu fosse uma pessoa inconveniente, à qual você só dá atenção quando isso o interessa. Não me agrada ver assuntos que são tão importantes para mim sendo considerados como coisas menores diante da "grandiosidade" do seu trabalho.

- Hermione, pelo amor de Deus. Você quer mesmo que eu pare de trabalhar para ouvi-la falar como foi seu dia de compras enquanto comemos sanduíches?

Ela abriu a boca, mas fechou-a em seguida. Não sem antes emitir um breve som de mágoa.

- Desculpe-me. - Furioso consigo mesmo, Draco ficou de pé. Hermione continuou olhando-o como se houvesse levado uma bofetada.

- Estou tendo de me esforçar para conseguir terminar esse roteiro e estou impaciente por isso. - Passou a mão pelos cabelos ao notar que ela não tivera nenhuma reação. - Vamos lá para baixo.

- Não, eu preciso ir. – Hermione decidiu ir embora, antes que acabasse passando pela situação ridícula de chorar na frente dele. - Preciso dar alguns telefonemas, e estou com dor de cabeça - acrescentou, massageando a têmpora. - Acho que preciso de uma aspirina.

Ela fez menção de sair, mas parou ao sentir a mão de Draco em seu braço. Foi então que ele notou quanto ela estava trêmula.

- Hermione, eu...

- Não estou me sentindo bem, Draco. Vou para casa me deitar um pouco.

Desvencilhando-se dele, ela se encaminhou para a porta. Draco se encolheu ao ouvi-la bater.

- Seu idiota - ralhou consigo mesmo.

Aborrecido, perambulou pelo aposento mantendo as mãos nos bolsos. Por fim, aproximou-se da janela e afastou as cortinas.

O sol intenso o fez estreitar o olhar. Talvez ele estivesse mesmo muito isolado do que se encontrava do outro lado daquela janela, pensou. Mas trabalhava melhor assim, sem ter de dar explicações sobre seus hábitos de trabalho para ninguém.

Ainda assim, não precisava ter magoado Hermione daquela maneira. O problema fora ela haver aparecido feito por um furacão, e no pior momento possível. Ele estava em meio a um momento de intensa concentração, com as falas e as atitudes das personagens fervilhando em sua mente.

Não havia dispensado ou ignorado Hermione. Como diabos seria possível ignorar alguém que ocupava a maior parte de seus pensamentos ao longo do dia?

Contudo, era isso que vinha tentando fazer, não era? Ignorá-la. E deliberadamente, desde aquela conversa com Gregory McDeal, em Hyannis. No íntimo, sabia que o velho estava certo, por mais que detestasse ter de admitir isso. Sim, estava apaixonado por Hermione. Mas se continuasse tentando negar o sentimento, mantendo-o o mais de longe possível de seus pensamentos, talvez ele desaparecesse por si só.

Não queria se arriscar no amor novamente, não depois de saber com tanta precisão o que aquele sentimento era capaz de fazer a uma alma e a um coração. Não iria se permitir ficar vulnerável mais uma vez. Não poderia.

Fechou as cortinas com um gesto súbito, dizendo a si mesmo que iria superar aquilo. Logo as coisas voltariam a se equilibrar e ambos ficariam mais felizes.

De qualquer maneira, teria de encontrar um modo de se desculpar pela atitude que havia tomado nos últimos dias. Hermione não fizera nada para merecer aquilo. Desde que o conhecera, ela não havia feito outra coisa a não ser se doar inteiramente. E ele não fizera outra coisa a não ser aceitar isso.

Ciente de que não conseguiria mais trabalhar, desceu para o andar de baixo. Pensou em bater à porta do apartamento dela e se desculpar, mas, provavelmente, nesse momento era Hermione quem devia estar querendo ficar sozinha. Então daria algum tempo para ela, enquanto saía para uma caminhada.

Não havia pensado em comprar flores para ela até passar diante de uma grande floricultura. Não levaria rosas, elas eram muito formais. Margaridas também não cairiam bem para a ocasião. Embora fossem alegres, eram muito comuns. Então, decidiu-se por um belo vaso amarelo com tulipas vermelhas.

Havia sido muito rude com Hermione, mas mudaria aquela situação desagradável. Ofereceria a ela tanto quanto ela lhe oferecera, até que ambos ficassem em pé de igualdade. Assim, quando chegasse o momento da despedida, e ele chegaria, ainda restaria a chance de eles se tornarem amigos. Por outro lado, já não conseguia imaginar sua vida sem Hermione fazendo parte dela.

Passou o resto daquela tarde fora. Quando voltou para casa, no início da noite, não se sentiu tolo por estar trazendo flores. Sentiu-se aliviado. E quando Hermione abriu a porta, sentiu que aquele era o momento certo para ele estar ali, daquela maneira.

- Conseguiu descansar um pouco?

- Sim, obrigada.

- Posso lhe fazer companhia?

Dizendo isso, Draco mostrou as flores a ela. Ao vê-las, Hermione não conseguiu disfarçar a surpresa.

- Gosta de tulipas? - perguntou ele.

- Ah... Sim, claro. São lindas - respondeu ela, aceitando o vaso e levando-o até a mesa.

- Sinto muito sobre o que aconteceu essa tarde - Draco se desculpou.

- Oh.

Então as flores eram um pedido de desculpas, concluiu Hermione. Deixando de lado a vaga sensação de desapontamento, virou-se para ele com um meio sorriso.

- Não tem importância. É isso o que acontece quando se perturba um urso em sua caverna.

- Importa sim - insistiu ele. - E eu realmente sinto muito.

- Tudo bem.

- Só isso? Muitas mulheres fariam um homem se ajoelhar em uma situação como essa.

- Não sou do tipo que gosta de humilhar os homens. Portanto, considere-se um homem de sorte.

Draco levou a mão dela aos lábios e beijou-lhe a palma com delicadeza.

- Sim, sou um homem de sorte.

Pela segunda vez, viu um brilho de surpresa nos olhos dela. Nunca havia sido verdadeiramente terno com ela, concluiu ele, indignado com a própria tolice. Nunca havia oferecido a Hermione um pouco mais de romance.

- Pensei em convidá-la para jantar, se você estiver se sentindo melhor, claro.

Hermione pestanejou, cada vez mais surpresa.

- Jantar fora?

- Sim, se você quiser. Mas, se preferir, poderemos ter um jantar mais calmo aqui mesmo - acrescentou, aproximando-se dela. - Você é quem decide.

Segurando o rosto de Hermione entre as mãos, roçou os lábios junto à testa dela.

- Quem é você? E o que está fazendo no corpo de Draco?

Ele começou a rir e beijou-lhe uma face, depois a outra.

- Diga-me o que você quer, Hermione.

"Apenas receber seu carinho, assim", respondeu ela, em pensamento.

- Eu vou preparar alguma coisa para comermos aqui mesmo.

- Se prefere ficar, então eu vou providenciar alguma coisa.

- Você? - Ela riu. - Você?! Tudo bem, já entendi. Vou chamar os bombeiros porque, com certeza, estaremos correndo risco de vida.

Draco abraçou-a com força e riu.

- Eu não disse que vou cozinhar. Vou apenas pedir alguma coisa para nós.

- Oh, bem. Sendo assim...

Hermione não conteve um suspiro. Era maravilhoso se ver envolta mais uma vez por aqueles braços fortes.

- Você está tensa - observou ele, deslizando as mãos pelos braços dela para tentar fazê-la relaxar. - A dor de cabeça ainda a está incomodando?

- Não muito.

- Bem, por que não sobe e toma um banho relaxante na banheira? Depois poderá vestir uma daquelas camisetas grandes e confortáveis, que você tanto gosta, e então poderemos jantar.

- Eu estou bem. Posso...

Hermione se interrompeu quando os lábios de Draco capturaram os seus em um beijo deliciosamente inesperado. Um beijo carinhoso e sensual que a deixou com as pernas trêmulas.

- Agora suba - mandou ele, sorrindo quando ela o olhou com ar confuso. - Eu cuidarei de tudo.

- Tudo bem. Acho que ainda estou mesmo um pouco zonza. - Isso explicaria por que ela não estava nem conseguindo subir direito os degraus da escada de seu próprio apartamento. - O número... Ah, o número do telefone da pizzaria está sobre a mesinha...

- Pode deixar que eu cuidarei de tudo por aqui - ele repetiu, fazendo um gesto para que ela subisse. - Relaxe, sim?

- Está bem. - Hermione subiu alguns degraus, mas logo parou e olhou para ele. - Draco?

- Sim?

- Você... - Ela sorriu e balançou a cabeça. - Nada. Prometo que não vou demorar.

- Demore o tempo que quiser - respondeu ele.

De fato, levaria algum tempo para fazer com que tudo estivesse perfeito quando ela voltasse. Se aquela pequena demonstração de romantismo a deixara surpresa, com certeza Hermione ficaria sem palavras quando visse a noite que ele havia planejado para os dois.

Ao pegar o telefone, procurou em qual das teclas de memória estava registrado o número da melhor amiga de Hermione.

- Gina? Oi, aqui é Draco Malfoy. Sim, tudo bem. Você sabe se Hermione tem preferência por algum restaurante aqui por perto? Não. - Ele riu. - Nada de fast food. Vamos sofisticar um pouco o cardápio, sim? Que tal um restaurante francês ou algo do gênero?

Draco não conseguiu deixar de rir ao ouvir o longo "Oh" da amiga de Hermione, do outro lado da linha. Então anotou o número de telefone do restaurante que ela lhe passou.

- Agora vamos ver se você consegue me fazer o grande favor final - disse a ela, ainda sorrindo.

- Qual das sobremesas servidas por esse restaurante a deixa maluca? Hum... Ótimo, já anotei. Noite especial? - Ele riu, olhando para o teto.

- Não, nada especial. Apenas um jantar tranqüilo. Muito obrigado pela dica, Gina.

Riu novamente quando Gina continuou a lhe fazer perguntas.

- Ei, ambos sabemos que ela vai lhe contar tudo isso manhã.

Após se despedir, ligou para o restaurante e fez os pedidos. Então, puxou as mangas "metaforicamente", e partiu para o trabalho.

~~~ // ~~~

Cap ooooooooooooooon amores! *-*
Oh My God!!!! Quem quer um Draco desses?!
Euuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu!! *grito bem alto*
hausahsuahsuahsaushausha
Aii q lindo.. q romântico, q perfect.. q supeeeer! *olhos brilhando*
Isso é demais pra mim!!!! *__________*

Come on... vamos pro próximo cap!! ;)

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