Capítulo 2



O lugar tinha cheiro de uísque e cigarro. No entanto, não chegava a ser necessariamente ofensivo, segundo Hermione pôde notar. Era algo mais atmosférico, se é que se poderia chamar assim. O ambiente era permeado por uma iluminação suave, tendo como destaque o agradável tom de azul dos holofotes que iluminavam o palco. Pequenas mesas redondas se distribuíam por todo o salão, e embora a maioria delas estivesse ocupada, o nível de ruído era bem baixo.

Hermione percebeu que as pessoas conversavam sussurrando, desfrutando a companhia umas das outras ou realizando novas conquistas.

Diante do espesso balcão de madeira do bar, à direita da entrada, alguns clientes se mantinham ligeiramente inclinados sobre suas bebidas, como que protegendo-as de possíveis invasores.

O ambiente lembrava o tipo de clube noturno que aparecia nos filmes em preto-e-branco da década de quarenta. Aquele tipo no qual a heroína usava vestidos longos e justos, batom vermelho escuro e uma mecha de cabelos caído sobre o olho esquerdo, enquanto se mantinha no palco, iluminada por um único foco de luz, interpretando canções a respeito de amores frustrados.

Enquanto cantava, os homens que a desejavam, e contra os quais ela fazia seu protesto, mantinham-se debruçados sobre seus copos de uísque, com os olhos parcialmente ocultos pelas abas de seus chapéus.

Em outras palavras, pensou Hermione com um sorriso, o ambiente era simplesmente perfeito.

Esperando não ser notada, andou sorrateiramente junto a uma das paredes e sentou-se à mesa mais próxima. Então passou a observá-lo através da nuvem formada pela fumaça dos cigarros.

Ele estava todo vestido de preto. Hermione não conteve um suspiro. O jeans e a camisa pretos ressaltavam ainda mais aquele ar sedutoramente másculo. A jaqueta preta de couro havia sido deixada sobre uma cadeira próxima ao palco. A mulher com quem ele estava conversando era uma linda negra trajando um macacão vermelho feito de um tecido brilhante e muito justo, evidenciando cada curva do corpo perfeito. Hermione calculou que ela devia ter mais ou menos um metro e oitenta de altura. Como se não bastasse toda aquela beleza, quando ela inclinou a cabeça para trás, o rico som de seu riso se espalhou pelo ambiente.

Pela primeira vez, Hermione o viu sorrir. Mas aquilo não era apenas um sorriso, pensou ela, encantada com a transformação na expressão do atraente semblante masculino. Aquilo era um intenso raiar do sol após uma noite sombria. Aquilo que o tornava tão irresistivelmente atraente a seus olhos, não poderia ser chamado meramente de "sorriso". Era uma expressão repleta de afeição, divertimento e charme. Mesmo àquela distância, Hermione sentiu todo seu impacto. Com um suspiro, apoiou o queixo sobre a mão e sorriu, como se o sorriso houvesse sido dirigido a ela.

Imaginou que ele e a bela negra fossem amantes, e confirmou isso quando a mulher segurou o rosto dele entre as mãos e o beijou enfaticamente. Claro que um homem magnífico como aquele tinha de ter uma amante, no mínimo, exótica, concluiu Hermione. E o lugar perfeito para um encontro entre os dois seria um clube noturno permeado por fumaça de cigarro e músicas melancólicas.

Hermione suspirou alto, considerando aquilo tudo romântico demais.

No palco, Delta pousou a mão afetuosamente sobre o rosto de Draco.

- Então, agora passou a ser seguido por mulheres, meu querido?

- Ela é maluca.

- Quer que eu a ponha para fora?

- Não. - Draco não olhou para trás, mas podia sentir aqueles olhos castanhos observando-o.

- Estou quase certo de que ela é uma maluca inofensiva.

Um brilho de divertimento surgiu nos olhos negros de Delta.

- Então, vou só verificar se isso é mesmo verdade. Quando uma mulher começa a seguir um homem, meu querido, é melhor averiguar do que ela é capaz. Certo, André?

O homem negro e magro sentado ao piano parou de dedilhar as teclas por um instante e sorriu para ela, em resposta.

- Faça isso, Delta. Mas não assuste a moça. Olhando daqui, ela parece ser bastante inofensiva. Pronto para começar? - perguntou ele, dirigindo-se a Draco.

- Você começa, eu acompanho.

Enquanto Delta descia do palco, os dedos longos de André começaram a exercer sua magia. Draco deixou-se levar pelo ritmo do piano, então fechou os olhos, permitindo que a música entrasse em seu ser.

Era assim que sempre acontecia. Aquilo sempre esvaziava sua mente das palavras, das pessoas e das cenas que geralmente a preenchiam. Quando ele tocava, era como se não houvesse nada além da música e do magnífico prazer de executá-la.

Certa vez, dissera a Delta que aquilo era como sexo, que tirava algo de você mas lhe dava o dobro em troca. E que quando terminava, era como se houvesse sido rápido demais.

No fundo do salão, Hermione também se deixou levar pelo ritmo suave e contagiante da música. Era diferente vê-lo se apresentar de simplesmente ouvi-lo tocar, com o som abafado atravessando as paredes do prédio. Vê-lo ali no palco era algo mais poderoso, mais excitante, quase como um apelo sensual.

Aquela música era um sonho. Do tipo perfeito para servir de fundo musical para um casal em pleno ato de amor. Deus, como ele tocava bem, pensou ela, mal contendo outro suspiro. Será que ele faria amor com aquela mesma intensidade? O pensamento provocou-lhe um arrepio pelo corpo.

Estava tão concentrada no que estava acontecendo no palco que não viu Delta se aproximar da mesa.

- Está gostando, meu bem?

- Hein? - Hermione levantou a vista, sorrindo com ar de distração. - Oh, é maravilhoso. Quero dizer, a música é maravilhosa. Causa uma espécie de nostalgia em mim.

Delta arqueou uma sobrancelha. A garota tinha um rosto lindo e até inocente. Não parecia ser a lunática que Draco descrevera.

- Está bebendo ou apenas ocupando o lugar?

- Oh. - Hermione se deu conta de que um lugar como aquele se sustentava pela venda de bebidas. - Esta música pede um uísque - disse com outro sorriso. - Então vou tomar um uísque.

Delta arqueou a sobrancelha com mais ênfase.

- Você não parece ter idade suficiente para andar tomando uísque por aí, mocinha.

Hermione suspirou. Estava acostumada a ouvir aquele tipo de coisa. Sem dizer nada, abriu a bolsa e tirou seu documento de identidade.

Delta o examinou.

- Está bem, Hermione Jane Granger. Vou pegar seu uísque.

- Obrigada.

Satisfeita, Hermione apoiou o queixo sobre a mão mais uma vez e continuou ouvindo a música. Ficou surpresa quando Delta voltou com dois copos de uísque e sentou-se à mesa, a seu lado.

- O que está fazendo em um lugar como este, minha cara Hermione?

Ela abriu a boca para responder, mas, no mesmo instante, deu-se conta de que não poderia revelar que seguira seu misterioso vizinho até ali.

- Moro perto daqui, e acho que apenas segui um impulso. - Levantou o copo de uísque e indicou o palco com ele.

- Estou contente de ter vindo - disse e tomou um gole da bebida.

Delta apertou os lábios. A garota podia até parecer inocente, mas tomava uísque como um homem.

- Se continuar andando sozinha pelas ruas, à noite, pode acabar tendo problemas, minha cara.

Um brilho de sagacidade surgiu nos olhos de Hermione, acima da borda do copo.

- Não se preocupe, minha cara - respondeu ela, no mesmo tom.

Delta assentiu, considerando a resposta.

- Talvez não seja mesmo preciso eu me preocupar. Sou Delta Pardue - acrescentou ela, tocando o copo no de Hermione, em um brinde. - Este é meu clube.

- Gostei do seu clube, Delta.

- Ora, que bom - admitiu ela, com outra de suas ricas risadas. - Mas vejo que também gostou do meu homem, logo ali. Não tirou seus olhos felinos dele desde que chegou.

Hermione moveu o uísque no copo, pensando em como deveria atuar naquele jogo. Mesmo sabendo que poderia se cuidar nas ruas, ou em qualquer outro lugar, calculou que Delta era muito mais forte do que ela. Além disso, estavam no território de Delta, e sua desvantagem era mais do que evidente. Aquele modo de dizer "meu homem" deixara a situação bem clara. De qualquer maneira, não havia motivo para estragar logo no primeiro encontro aquilo que poderia se transformar em uma boa amizade.

- Seu homem é muito atraente - admitiu, em um tom casual. - Confesso que é difícil não olhar para ele. Portanto, vou continuar apenas olhando se isso não a incomodar. Além do mais, aposto que ele não tem olhos para outra mulher tendo alguém como você por perto.

Delta riu, exibindo os dentes alvos e perfeitos.

- Acho que não preciso realmente me preocupar. Sabe mesmo se cuidar, não é, menina?

Hermione sorriu, tomando outro gole de uísque.

- Sim, eu sei. - Decidindo mudar de assunto, ela acrescentou: - Gostei mesmo deste lugar. Há quanto tempo você o tem, Delta?

- Estou aqui há dois anos.

- E antes? Esse seu sotaque é de Nova Orleans, não é?

Delta inclinou a cabeça de lado, com um sorriso.

- Tem bons ouvidos, garota.

- Tenho sim, mas foi fácil reconhecer seu sotaque. Tenho família em Nova Orleans e minha avó foi criada lá.

- Não conheço nenhum Granger... Qual é o sobrenome de solteira de sua mãe?

- Grandeau.

Delta se encostou na cadeira.

- Ei, conheço os Grandeau! Por acaso, é parente da srta. Adelaide?

- Ela é minha tia-avó.

- Grande dama - asseverou Delta.

Hermione fez uma careta, tomando outro gole de uísque.

- Impaciente, ranzinza e fria como um iceberg. Os gêmeos e eu costumávamos pensar que ela fosse algum tipo de bruxa ou algo do gênero.

- Gêmeos? - Delta se surpreendeu.

- Sim, meu irmão e minha irmã são gêmeos - explicou Hermione.

Após uma breve pausa, Delta falou:

- Ela tem poder, mas apenas por causa do dinheiro e do sobrenome que carrega. Então você é parente dos Grandeau? Mas que agradável surpresa. Quem é sua mãe?

- Genviève Grandeau Granger, a famosa artista.

- Srta. Gennie. - Delta deixou o copo sobre a mesa e levou a mão ao peito, encostando-se na cadeira com um sorriso. - Quem diria que a filha da srta. Gennie algum dia visitaria minha boate. O mundo é mesmo pequeno.

- Conhece minha mãe?

- Minha mãe trabalhou como governanta para sua grandmère, minha cara.

- Mazie? Você é filha de Mazie? Ah, meu Deus! - Hermione tocou a mão de Delta, comovida. - Minha mãe falava de Mazie o tempo todo. Nós chegamos a visitá-la uma vez, quando eu ainda era criança. Lembro que ela fez bolinhos maravilhosos para nós - acrescentou com um sorriso saudosista. - Sentamos na varanda da casa, tomando limonada enquanto comíamos aqueles bolinhos divinos. Meu pai fez um desenho dela.

- Ela mandou emoldurá-lo e pendurou o quadro na parede. - Delta riu. - Vivia toda orgulhosa dele. Eu estava na cidade quando sua família nos visitou. Estava trabalhando. Minha mãe falou daquela visita durante semanas. Ela gostava muito da srta. Gennie.

- Espere até eu contar a eles que encontrei você. Como está sua mãe, Delta?

- Ela morreu no ano passado.

- Oh. - Hermione segurou a mão de Delta com mais firmeza. - Sinto muito. Muito mesmo.

- Ela teve uma boa vida. Morreu dormindo, portanto, acho que também teve uma boa morte. Seus pais compareceram ao funeral. Teve uma base familiar muito boa, Hermione.

- Sim, eu sei. O mesmo serve para você - acrescentou ela, com um sorriso.

Draco não estava entendendo mais nada. Lá estava Delta, a mulher que ele considerava a mais sensata das criaturas, conversando com aquela maluca como se ambas fossem velhas amigas. Compartilhando o uísque, as risadas e segurando a mão uma da outra como as mulheres costumavam fazer quando tinham muita amizade.

As duas já estavam ali, no fundo do salão, havia mais de uma hora. De vez em quando, Hermione começava um daqueles que só poderia ser outro de seus monólogos, gesticulando muito e rindo. Então Delta ouvia algumas palavras com atenção, e logo inclinava a cabeça para trás, rindo com satisfação e balançando a cabeça com ar de surpresa.

- Veja só aquilo, André - disse, inclinando-se sobre o piano.

André parou de tocar e acendeu um cigarro.

- Como velhas comadres - falou ele, após a primeira baforada. - A garota é muito bonita, Draco. Tem uma animação fora do comum.

- Detesto pessoas animadas demais - resmungou Draco, já sem vontade de continuar tocando. Em silêncio, começou a guardar o sax. - Até a próxima - despediu-se, ao terminar.

- Até - foi a resposta de André.

Draco pensou em sair e ir direto para casa, mas sentiu-se irritado com a possibilidade de sua amiga estar sendo aborrecida por aquela lunática. Além disso, seria bom mostrar à sua vizinha abelhuda que também estava de olho nela, e que sua perseguição não passara despercebida.

Quando parou ao lado da mesa onde as duas estavam acomodadas, Hermione se limitou a levantar a vista e sorrir para ele.

- Oi. Não vai tocar mais? A música estava maravilhosa.

- Você me seguiu.

- Eu sei. Foi indelicado de minha parte, mas estou contente por tê-lo feito. Adorei ouvi-lo tocar e nunca teria encontrado Delta se não tivesse vindo até aqui. Estávamos acabando de...

- Nunca mais faça isso - falou ele, antes de se encaminhar para a saída.

- Ooh, ele está mesmo uma fera. - Delta riu. - Esse olhar fuzilante é capaz de intimidar qualquer um.

- Preciso pedir desculpas a ele - declarou Hermione, ficando de pé. - Não quero que fique bravo com você.

- Comigo? Mas...

- Voltarei logo - dizendo isso, Hermione deu um beijo estalado na face de Delta, fazendo-a pestanejar de surpresa.

- Não se preocupe, vou resolver isso.

Enquanto ela se afastava, Delta ficou observando-a por algum tempo, antes de soltar outra de suas sonoras risadas.

- Não tem idéia de onde está se metendo, menina. E nem meu querido Draco - acrescentou, com um brilho de divertimento no olhar.

Do lado de fora, Hermione saiu correndo pela calçada.

- Ei! - gritou para Draco, que já se encontrava a certa distância.

Então se repreendeu por não haver sequer perguntado o nome dele a Delta, depois de todo aquele tempo de conversa.

- Ei! - repetiu, acelerando a corrida e conseguindo finalmente alcançá-lo.

- Sinto muito - começou a falar, segurando a manga da jaqueta dele. - A culpa foi toda minha.

- E quem disse que não foi?

- Eu não deveria tê-lo seguido. Mas foi um impulso, eu tenho dificuldade de resistir aos impulsos. Sempre tive. Além disso, eu estava irritada por causa do idiota do Frank e... Bem, isso não vem ao caso agora. Eu só queria... Poderia diminuir um pouco o ritmo dos passos?

- Não.

Hermione revirou os olhos.

- Tudo bem, tudo bem. Sei que está desejando que um piano caia sobre minha cabeça, mas não precisa ficar bravo com Delta. Nós começamos a conversar e acabamos descobrindo que a mãe dela trabalhou para minha avó e que ela, Delta, conhece meus pais e alguns dos meus primos de sobrenome Grandeau. A partir daí, não paramos mais de conversar.

Draco parou de repente e olhou para ela.

- Com tantos clubes noturnos em tantas cidades do mundo... - resmungou ele, fazendo-a rir.

- Já sei: eu tinha logo de segui-lo até aquele e fazer amizade justo com sua namorada. Sinto muito.

- Minha namorada? Delta?

Para espanto de Hermione, ele sabia rir. Rir de verdade, fazendo o som grave de sua voz se espalhar pelo ar.

- Por acaso Delta parece ser namorada de alguém? Puxa, parece que você veio mesmo de outro planeta.

- Foi apenas uma suposição. Eu só não quis parecer indelicada, chamando-a de sua "amante".

O brilho de divertimento continuou nos olhos dele quando Draco voltou a fitá-la.

- Não deixa de ser uma idéia engraçada, mas a verdade é que aquele homem com quem eu estava tocando é o marido de Delta, um velho amigo meu.

- O homem alto e magro que estava ao piano? É mesmo? - Mordendo o lábio, Hermione pensou no lado romântico daquele contexto. - Não é lindo? - disse quase para si mesma.

Draco se limitou a balançar a cabeça e continuou a andar.

- O que eu quero dizer é... - Hermione recomeçou a falar, confirmando a certeza que Draco tivera de que ela não havia terminado o raciocínio, e de que, como sempre, não o terminaria tão cedo.

- È que percebi que ela foi apenas verificar qual era minha intenção. Para ter certeza de que eu não iria aborrecê-lo entende? Então uma coisa acabou levando a outra, e você sabe como é... Só não quero que fique bravo com ela.

- Não estou bravo com ela. Você, por outro lado, já me deu razões mais do que suficientes para ficar bravo.

Hermione pareceu desapontada.

- Bem, sinto muito por isso. Prometo que o deixarei em paz, já que isso, aparentemente, é o que parece agradá-lo.

Draco ficou parado por um momento, observando-a se afastar pela rua deserta, em direção à calçada oposta. Por fim, deu de ombros e virou a esquina, tentando se convencer de que ficara aliviado ao se livrar dela. Afinal, não era de sua conta se Hermione não se importava em se arriscar andando sozinha à noite. Além do mais, se não houvesse decidido segui-lo de repente, não estaria usando aqueles saltos tão altos e teria mais chance de correr, caso fosse necessário, diante de algum perigo.

Não, não iria se preocupar com isso.

Seguiu em frente com passos firmes, mas bastou percorrer alguns metros para girar sobre os calcanhares com um resmungo abafado. Iria apenas certificar-se de que ela chegaria em casa em segurança, só isso. Assim que tivesse certeza disso, lavaria as mãos de qualquer responsabilidade e trataria de esquecê-la.

Havia acabado de virar a esquina, quando se espantou com o que viu. Mais adiante, um homem surgiu das sombras e agarrou Hermione, que soltou um grito e começou a lutar. Draco soltou a maleta do sax no mesmo instante e saiu correndo para ajudá-la.

Entretanto, parou de repente ao ver que Hermione havia não apenas se livrado do marginal, como o atingira com um golpe certeiro do joelho em sua parte mais sensível, fazendo-o cair gemendo de dor no chão.

- Eu só tinha dez míseros dólares aqui. Dez míseros dólares, seu imbecil! - gritou ela para o homem, enquanto Draco se aproximava.

- Se precisava de dinheiro, por que simplesmente não pediu?

- Está ferida?

- Sim, droga. E por sua culpa! - protestou ela. - Eu não teria batido nele com tanta força se não estivesse tão furiosa com você!

Notando que ela estava massageando a junta dos dedos da mão direita, que provavelmente havia sido usada antes do "golpe fatal" com o joelho, Draco lhe segurou o pulso.

- Deixe-me ver. Mexa os dedos.

- Vá embora.

- Vamos, obedeça. Mexa os dedos.

- Ei! - gritou uma mulher abrindo a janela de uma casa do outro lado da rua. - Querem que eu chame a polícia?

- Sim - respondeu Hermione, movendo os dedos, como Draco lhe pedira. Então gemeu quando ele tentou massageá-los.

- Já estou bem, obrigada.

- Vítima polida, você, não? - ironizou ele. - Pelo visto, não quebrou nada. Mas será melhor fazer um exame mais detalhado.

- Muitíssimo obrigada, doutor. - Hermione afastou a mão e levantou o queixo, indicando a rua com a outra mão. - Pode ir agora, eu estou bem.

Quando o homem caído na calçada começou a se mexer e a gemer, Draco o imobilizou com o pé.

- Acho que vou ficar mais um pouco por aqui. Por que não vai pegar o sax para mim? Eu o deixei perto da esquina enquanto ainda estava sendo ingênuo o bastante para pensar que você corria perigo.

Hermione quase mandou que ele mesmo fosse pegá-lo, mas mudou de idéia ao pensar que se tivesse de bater novamente naquele bandido talvez já não tivesse tanta força quanto antes. Com o que lhe restava de dignidade, andou em direção à esquina e pegou a maleta que Draco deixara para trás.

- Obrigada - agradeceu ao se aproximar.

- Por quê? - indagou ele, surpreso.

- Por haver se preocupado comigo.

- Não precisa agradecer.

Draco forçou mais o pé ao ver o marginal começar a praguejar, querendo se levantar. Somente quando a polícia chegou, dez minutos depois, foi que ele se afastou do bandido.

Hermione não teve nenhuma dificuldade em descrever o que havia acontecido, enquanto Draco rezava para que ela conseguisse ser breve o suficiente para que eles fossem liberados logo. Evidentemente, tinha noção de que sua esperança era vã. Mas um homem podia sonhar, não podia?

Porém, sua esperança arrefeceu de vez quando um dos policiais uniformizados se voltou para ele.

- O senhor viu o que aconteceu aqui? - Draco suspirou.

- Sim.

Portanto, já eram quase duas horas da manhã quando ele e Hermione finalmente voltaram para casa. Continuava com aquele gosto horrível do café da delegacia na boca e com aquela dor de cabeça que começara quando o policial lhe fizera a primeira pergunta.

- Foi um bocado excitante, não foi? Todos aqueles policiais e marginais reunidos em um mesmo lugar... A certa altura, notei que a única diferença entre eles era o fato de os policiais estarem uniformizados, por que os rostos intimidadores pareciam todos os mesmos. Por que será que eles insistem em manter aquela expressão todo o tempo? Um sorrisinho não faria mal a ninguém. Foi muito gentil da parte deles me mostrar a delegacia. Você deveria ter nos acompanhado. As salas de interrogatório parecem exatamente como aquelas que vemos nos filmes: escuras e assustadoras.

Draco tinha certeza de que ela era a única pessoa do mundo que se interessava em fazer excursões por delegacias.

- Estou elétrica - anunciou ela. - Você não está? Acho que não vou dormir tão cedo. Quer alguns biscoitos? Ainda tenho uma porção deles.

Draco quase ignorou o convite enquanto tirava a chave do bolso, porém a sensação de vazio em seu estômago o fez lembrar-se que não havia comido nada nas últimas oito horas. E aqueles biscoitos eram um pequeno milagre.

- Acho que vou aceitar.

- Ótimo! - festejou Hermione, abrindo a porta e tirando os sapatos, antes de se dirigir à cozinha. - Pode entrar - disse por sobre o ombro. – Vou colocá-los em um prato, para que possa comê-los no refúgio de sua casa, mas também não precisa ficar esperando no corredor.

Draco entrou no apartamento, deixando a porta aberta atrás de si. Não ficou surpreso ao ver um ambiente decorado com cores alegres e com detalhes chamativos. Andou pela sala, mantendo as mãos nos bolsos, enquanto ouvia a voz de Hermione vinda da cozinha.

- Você fala demais.

- Eu sei - respondeu ela, colocando os biscoitos no mesmo prato que emprestara antes para ele. - Principalmente quando estou nervosa ou elétrica.

- E alguma vez você já se sentiu de outra maneira?

- Sim, mas isso é raro.

Draco viu uma série de porta-retratos sobre a estante, vários pares de brincos, um par de sapatos a um canto da sala, um romance sobre a mesinha de centro e sentiu um leve aroma de maçã pelo ar. Tudo aquilo combinava com ela. Continuou examinando os detalhes da sala até parar diante de uma tira de jornal emoldurada e presa à parede.

- Amigos e vizinhos - leu o título impresso e observou a assinatura no canto direito inferior da tira. Lia-se apenas "Hermione". - Isto é seu? - perguntou, no momento em que ela entrava na sala.

Hermione olhou para o quadro.

- Sim, é minha tira de jornal. Não acho que você seja do tipo que lê as tiras cômicas do jornal, ou estou enganada?

Sabendo muito bem reconhecer uma pergunta pessoal quando uma lhe era dirigida, Draco olhou-a por sobre o ombro. Devia ser o sono, concluiu, que o estava levando a considerá-la tão atraente àquela hora da noite.

- "Macintosh", de Grant Granger - Draco leu outra tira emoldurada, pendurada ao lado da de Hermione.

- É seu pai?

- Sim - ela assentiu.

Ler o sobrenome "Granger" era o mesmo que ler "McDeal", pensou Draco. Não era mesmo uma interessante coincidência?

Atravessando a sala, serviu-se de um dos biscoitos que Hermione havia colocado sobre o balcão que separava a sala da cozinha.

- Gosto do estilo do trabalho dele.

- Tenho certeza de que ele ficaria lisonjeado em ouvir isso. - Hermione sorriu ao vê-lo pegar outro biscoito.

- Quer um pouco de leite?

- Não. Você tem cerveja?

- Com biscoitos de chocolate?

Ela fez um ar de quem considerara aquilo muito esquisito, mas mesmo assim foi até a geladeira. Draco teve a chance de ver que estava muito bem abastecida quando Hermione se inclinou para examinar seu conteúdo, que também lhe deu a chance de ver o que uma calça preta sob medida era capaz de fazer a um traseiro feminino irresistivelmente arredondado. De fato, só se deu conta de que havia contido a respiração quando Hermione se virou para ele com uma garrafa de Beck's Dark.

- Isto não serve? O Harry gosta.

- Esse tal de Harry tem bom gosto. É um namorado?

Enquanto pegava os copos para servi-lo, ela respondeu:

- Harry é o marido de Gina. Gina e Harry Potter do 2B - explicou ela. - Fui jantar com eles esta noite e com Frank, o primo excessivamente insuportável de Gina.

- Por isso estava resmungando quando voltou para casa?

- Eu estava resmungando? - Hermione franziu o cenho, então apoiou-se sobre o balcão e comeu outro biscoito. Resmungar era outro dos hábitos dos quais ela não conseguia se livrar.

- É provável. Essa foi a terceira vez que Gina arranjou um encontro entre mim e Frank. Ele é corretor da bolsa. Trinta e cinco anos, solteiro e bonito, se você for do tipo que aprecia tipos atléticos e másculos. Tem um BMW, um apartamento em Upper East Side, Westchester, uma casa de praia em Hamptons, só usa ternos Armani, aprecia a cozinha francesa e tem dentes perfeitos.

Divertindo-se com a maneira como Hermione estava descrevendo o sujeito, Draco tomou um gole de cerveja e perguntou:

- Então por que já não está casada com ele e morando em Westchester?

- Ah, você acabou de descrever o sonho de Gina. E vou lhe dizer por que não quero isso para mim. - Ela comeu outro biscoito. - Primeiro, não quero me casar ou ir morar em Westchester. Segundo, e mais importante, eu preferiria a morte a ter de me casar com Frank.

- O que há de errado com o sujeito?

- Ele... Ele me cansa! - desabafou ela, com uma careta de desagrado. - Oh, droga, acho que fui indelicada, não?

- Por quê? Soou sincera para mim.

- Sim, estou sendo completamente sincera. - Hermione pegou outro biscoito e o comeu, sentindo-se apenas um pouquinho culpada.

- Ele é uma boa pessoa, mas acho que não leu um livro ou foi ao cinema nos últimos cinco anos. Talvez tenha assistido a alguns filmes selecionados, mas não a um filme para se divertir, entende? Tudo que ele sabe fazer é criticar o cinema o tempo inteiro, ou melhor, durante os cinqüenta e nove minutos de cada hora em que não fica falando das aplicações da bolsa de valores.

- Eu nem conheço o sujeito e já me cansei dele.

O comentário fez Hermione rir e pegar outro biscoito

- Ele é conhecido por ter a mania de olhar o próprio reflexo na colher quando está sentado à mesa - continuou ela. - Para se certificar de que continua perfeitamente "irresistível". E como se não bastasse tudo isso, ele beija como um peixe.

Draco arqueou uma sobrancelha.

- Como é isso exatamente?

- Ah, você sabe... - Hermione fez um biquinho arredondado com os lábios e depois começou a rir. - É possível imaginar como os peixes beijam, mesmo que eles não façam isso. Mas se beijassem, seria como Frank. Quase consegui escapar sem ter de passar pela experiência esta noite, mas Gina, como sempre, deu um jeitinho de interferir.

- E não lhe ocorreu simplesmente dizer "não"?

- Claro que me ocorreu! Todo o tempo! - Hermione forçou um sorriso, exasperada. - Mas parece que nunca consigo me expressar no momento certo. Gina me adora e, por razões que até a própria razão desconhece, ela também adora Frank. Está convencida de que formamos um casal perfeito. E você sabe como é quando alguém que você estima começa a fazer esse tipo de pressão "para o seu bem".

- Não, não sei.

Hermione inclinou a cabeça. Então lembrou-se da sala vazia no apartamento dele. Nenhum móvel, nenhum membro da família...

- A situação se torna muito inconveniente por que você corre o risco de magoar alguém, e isso não me agrada nem um pouco.

- Como está sua mão? - perguntou Draco, ao vê-la massagear as juntas.

- Ainda está um pouco dolorida. Provavelmente terei dificuldade para trabalhar amanhã. Mas tentarei transformar a experiência em uma boa tira cômica.

- Não consigo imaginar Emily tendo coragem de nocautear um bandido - disse Draco.

- Ei, você lê minhas tiras! - exclamou Hermione, rindo com satisfação.

- Uma vez ou outra.

Ela era realmente encantadora, pensou Draco, admirando aquele lindo sorriso e o brilho de divertimento nos olhos incrivelmente quase esverdeados de Hermione. De súbito, flagrou-se imaginando como seria provar o sabor daqueles lábios rosados.

Era isso que acontecia quando um homem se dava a liberdade de ficar comendo biscoitos de chocolate no meio da noite na casa de uma linda mulher capaz de fazê-lo ver o mundo sob uma nova perspectiva. Uma perspectiva que, para ele, ainda oferecia riscos.

- Não tem o tom irônico de seu pai nem o gênio artístico de sua mãe, mas tem um talento inusitado para o absurdo.

Hermione riu com indignação.

- Ora, muitíssimo obrigada pela crítica construtiva.

- Não há de quê. - Draco pegou o prato que ela havia separado para ele levar.
- E obrigado pelos biscoitos.

Hermione estreitou o olhar enquanto ele se dirigia à porta. Bem, ele iria ver quanto talento ela tinha para o "absurdo" ao longo das próximas tiras.

- Ei!

Ele parou e olhou para trás.

- Ei, o quê?

- Você tem nome, apartamento 3B?

- Sim, eu tenho um nome, apartamento 3A. Malfoy.

Dizendo isso, levantou no ar a latinha de cerveja e o prato, em sinal de agradecimento, e saiu, fechando a porta atrás de si.


~~~~ // ~~~~

Aeee, nem demorei pra att né? :D

Nossa só a Mione mesmo pra achar excursões por delegacias interessantes! ¬¬'
E ai quem se surpreendeu com o ataque do bandido á Hermione? opss.. ou seria o ataque da Mione ao bandido? 'Oo hahahahahaha
shoooow! o/
Quem concorda comigo que o Draco ser muitooooo fofixxx.. e claroo, sarcástico? maaas isso ser tipico dele né! :D

Não preciso nem dizer que estou muitooo happy com os comments, né? *---*

Bom, agora vamos para as resposta dos comments! *-*

Teresa: Que bom que você está gostando honey, a história é realmente interessante hein! ;D haha.. Yeah, o Sr misterioso do 3B é mesmo perfect né, ainda mais quando se chama Draco Malfoy! *-* bom, espero que continue acompanhando a fic! bjooos ;*

Imogen: Siiiim, definitivamente um belo inicio, espero que tenha curtido esse cap também! ;)

Rhaissa.Black: Yeah, fico feliz que você gostou da fic! ai está, mais um cap emocionante! o/ espero que tenha gostado!! :D bjoo

Molambo: Sim, sim... muitas coisas por vir! :D E como pedido.. cap postadinho! huhu... ^^

Cαяσℓiиα: Eii, cap postadinho! o/ Que bom que você gostou da fic honey... também espero que tenha curtido esse cap! ;) bjooo

Lily Black. ♥ x)~ : Eiii, Welcome! hehe.. é sempre bom ter novos readers! :D Sim, sim o Draco está mais do que nunca irresistivel né? ;) Yeah, ser uma história realmente Ó T I M A, modestia á parte, claro. haha.. Aee, como pedido fic att! o/ Nova fã? ..aii, mas que honra! *-* Passei lá na sua fic... e achei igualmente Ó T I M A!!!! :D J/L forever, né! ;* bjoo

*** Sarinhaaa ***: Nada me faz mais feliz do que saber que os readers estão curtindo a fic! *-*... maaas claro, pedido.. ser uma 'ordem' então cap postadinho.. huhu o/ Espero q continue acompanhando a fic! :D

» Pandii Black: Como pedido cap postadinho honey! uhull o/ aiii, que bom que você curtiu a fic! Estou muitooo happy! :D


Ai está people, comments respondidos com muito carinho!! ♥

Cap 3 coming soon! ;D

Comments?! *-*


xoxo - Lay ~

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.