Epílogo



Epílogo:


 


Eu andava de um lado para o outro, nervoso. Céus! Mas que demora mais irritante!

Olhei no relógio pela sétima vez, notando que este estava dois minutos adiante desde a última vez que o olhara, um total de nove minutos de atraso! Estava ficando paranóico!


 Dylan rabiscou novamente a frase.  Pensando bem, a ideia de imitar as palavras do pai no último capítulo de seu livro poderia não ser muito bem interpretada por todos. Assim, quer dizer, poderiam pensar que ele estava copiando e não elevando – como na verdade era – e talvez até dar um toque de reconhecimento na obra, para que todos relembrassem a melhor biografia de Harry Potter já existente. Que, claro, foi escrita pelo seu pai.


 - Então... Como vai ficar?


 Andar de um lado para o outro, nervoso, poderia se considerar um tique nervoso dos Malfoy. Caso contrário, eu não estaria tão…


 - Não. Que merda. Ta horrível! Tão o quê? Tão covarde? Tão cagão que pensava que ia ser abandonado na porta do salão principal como papai pensou que seria no altar? Ah, pelo amor de Deus! Será que eu não sei fazer nada que não lembre meu pai?


 - Claro que sabe. Ele não fica falando sozinho pelos cantos por aí, por exemplo. – Dylan deu um pulo. – O que você está fazendo no dormitório enfiado nesse caderno? Já está quase na hora de sairmos.


 A única coisa que Dylan soube fazer em relação a acusação, porém, foi abrir um sorriso de todos os dentes retos e brilhantes, largar o caderno onde escrevia minutos antes e abraçar a garota que ele tanto amava.


 - Você está com uma mania de fazer isso – Rosier murmurou, mas com um sorriso nos lábios e retribuindo o abraço.


 - Fazer o quê se eu não consigo ficar longe de você? Do seu abraço, do seu calor, do seu cheiro…


 - Opa.


 Rindo, Rosier se esquivou do abraço, pulando a dois metros do rapaz que assediava. 


 - Cuidado aí – ela advertiu, ainda rindo. – Podemos acabar nos atrasando.


 Dylan bufou, apesar de acompanhá-la nos risos depois.


 - Certo... Fazer o quê? Se perdermos o expresso, papai vai me matar.


 - Não. Provavelmente o meu vai ter te matado antes. Basta só ele constatar que você também não chegou e juntar dois mais dois.


 Dylan não agüentou ao imaginar a cara que Ronald Weasley faria ao se certificar do desaparecimento duplo. Aquela que ele fez quando contaram do namoro já fora surpreendentemente hilária.


 - O que você tanto escreve aqui, heim?


 Em dois passos, Dylan já estava ao lado da namorada, arrancando de suas mãos o caderno que ela pegara enquanto estava distraído.


 - Nada disso! Não é para olhar! É surpresa!


 A garota ergueu as belas sobrancelhas.


 - Não sabia que guardava segredos de mim.


 Dylan quase se amoleceu. Quase.


 - Não vem não. Conheço esse seu jeitinho. Dessa vez não vai funcionar! Eu quero fazer surpresa, entende? Prometo que quando tiver pronto você vai ser a primeira pessoa a olhar.


 Rosier fez um bico, fazendo com que ele risse e a abraçasse novamente.


 - Não faz essa cara. Eu sei que você me entende.


 - Entendo – respondeu ela, bufando, mas não agüentando e sorrindo. – Agora eu vou descer porque ainda tenho algumas coisas pra ajeitar. Você devia fazer o mesmo.


 - Uhum.


 - Dylan?


 - O quê?


 - Tira a mão daí.


 - Ah…


 - Dylan!


 Rosier teve que beliscá-lo dessa vez para conseguir tomar uma distância segura. Riu da cara de indignação que ele fez e mandou um beijo.


 - Já disse que não podemos nos atrasar. A gente se vê lá embaixo! Tchau!


 - Rosy?


 Ela se voltou um pouco hesitante, deixando um pé e metade do corpo ainda do lado de fora da porta.


 - Eu te amo.


 Ela corou, depois sorriu. Pareceu tentada a entrar novamente, mas se conteve.


 - Eu também. Até daqui a pouco.


 Quando ela realmente se foi, Dylan se sentou novamente e tentou tirar o sorriso bobo do rosto para poder se concentrar.


 Onde estava mesmo? Ah, sim. Reescreveu novamente, deixaria como estava.


 Eu andava de um lado para o outro, nervoso. Céus! Mas que demora mais irritante!

Olhei no relógio pela sétima vez, notando que este estava dois minutos adiante desde a última vez que o olhara, um total de nove minutos de atraso! Estava ficando paranóico!


 Não me julguem. Não era à toa, afinal, ouvira a conversa dela com Sarah mais cedo. Ainda tinha medo. Tudo estava se acertando para todos, mas ela ainda temia que por tudo que lhe fizera antes. Sabe… Pode ser por isso que seu passado pode assustar tanto as pessoas, não por ele em si, mas o que você foi capaz de fazer um dia, a probabilidade de repeti-lo é bem maior.


 Então… Justamente naquela noite, por significar tanto, eu temia o fim do relacionamento mais puro e verdadeiro que eu já tivera com alguém.


 - Vai acabar fazendo um buraco no chão de tanto andar para lá e para cá.


 Derrapei no mesmo instante.


 Qualquer coisa que eu pretendia dizer não pôde ser dita, já que eu estava ocupado demais em babar nas belas curvas delineadas pelo vestido magnífico de seda negra e os cachos ruivos que caíam em cascata pelas costas nuas. E aqueles olhos cor de mel que me encaravam com ternura num rosto sorridente?


 Que visão…! Que garota!


 Minha garota!


 Ao constatar esse fato, relaxei. Retribuí o sorriso antes de abraçar a criatura mais linda do planeta como se ela pudesse desaparecer num piscar de olhos.


 - Você está aqui.


 Apesar de escondida entre a curva do meu pescoço, tinha certeza de que ela girava os olhos.


 - Claro que estou aqui, meu amor. Não foi onde combinamos de nos encontrar?


 - Você demorou – Meu tom agora era acusatório.


 - Por Deus, Dylan. Foram dez minutinhos só! Eu não tinha avisado que poderia demorar?


 - É, você avisou. – me lembrei, a soltando.


 - Posso saber por que está tão nervoso? É a formatura de Lily… Não a nossa.


 Oh, sim… ela havia chegado onde queria.


 - Meu amor, você não sabe disfarçar.


 - Disfarçar o quê?


 - Deixa pra lá. Estamos atrasados, vamos?


 - Vamos.


 Todos estavam nas mesas que combinamos de compartilhar. O primeiro casal era minha cunhada Maggie, com Lucas, os dois abraçadinhos, cheios de sorrisos cúmplices. Esforcei-me para não girar os olhos. Quando os vi juntos pela primeira vez pensei que estava mais do que na hora daquilo acontecer. Oras… Hogwarts inteira já desconfiava do amor não-secreto de ambos! Só eles que não enxergavam! Mas agora… Merlim, meses se passaram e eles continuam tão melosos quanto uma torta de caramelo! Hum... E por falar em torta de caramelo, havia uma em cima da mesa que me parecia tentadora…


  Dylan?Acorda, meu amor, Sírius está te cumprimentando.


 rgui os olhos para ver o sorriso divertido do Potter Junior. Tcs… Será que não se pode mais sentir fome neste planeta?


 - Fala, Potter – cumprimentei, já estressado. A torta de caramelo já sumira para a mão dele... Estava fazendo de propósito?


 Abri a boca para dizer alguma grosseria pra ele quando meus olhos caíram na pessoa ao seu lado.


 - Merlim, esta é minha irmã?


 Sarah estava deslumbrante. Um vestido sem alças azul como seus olhos e os cabelos tão perfeitos como os meus cacheados num penteado elegante. Não tinha outro jeito a não ser reconhecer.


 - Uau! – exclamei, fazendo-a abrir um sorriso ainda maior. – Você fez alguma coisa, não fez?


 O sorriso dela diminuiu, mas ela parecia tão feliz que parecia impossível de se apagar.


 - Não precisa espalhar para o mundo inteiro – Como ela sabia? – Além disso, não fiz nada demais, só uns feitiços insignificantes para acabar com as espinhas...


 - E as celulites. – Sírius completou, ao que Sarah lhe deu um beliscão.


 - Isso é permitido? – Rosier perguntou interessada. Olhei-a com mais atenção.


  Por que isso agora, Rosier? – perguntei. – Você é perfeita assim. Usar algum feitiço para alterar qualquer coisa em você seria um pecado.


 la apontou um dedo para Sarah.


  Ela também é perfeita. Mesmo assim você apóia.


 - Não apoio coisa nenhuma. Eu é que não quero aborrecer minha irmãzinha super-poderosa pra acordar transformado num pelúcio gigante amanhã. Você não concorda, Potter?


  Está sendo esperto. Estou com você.


 s duas garotas giraram os olhos.


 - Merlim, esta é minha irmã?


 Olhei para o lado para ver quem repetia minhas palavras. Era Robert, muito elegante em seu traje a rigor, tenho que reconhecer, olhando abobalhado para minha namorada perfeita.


 - Robert! – exclamou Rosier feliz. Ele a abraçou, elogiando sua beleza novamente, depois veio me cumprimentando todo sorridente.


 O que está havendo com o pessoal dessa escola?


 - E aí, cara? Jóia?


  Opa. E você?


 - Nervoso. Lily acabou por me convencer a entrar com ela. Sou um moço tímido.


 Tanto eu quanto ele rimos desse comentário. Pelo canto dos olhos, vi como Rosier me olhava estranho.


 - Aliás, já está na hora de ir pra lá, estou louco para ver como ela está. Nos vemos mais tarde, pessoal. Até mais.


 - Até – respondemos todos.


 Eu e Rosier (aparentemente os únicos ainda de pé) nos sentamos ao lado de Sarah e Sírius. Robert parecia mesmo atrasado, porque nós ainda nos acomodávamos quando minha querida sogrinha começou a falar lá na frente, e uma música animada vinda aparentemente do nada passou a tocar.


 Os alunos do sétimo ano entravam com seus devidos pares. Eu os observava quando algo bateu em minha canela e, resmungando, voltei-me para minha irmã.


 - Quê?


 - Você está bem?


 Franzi as sobrancelhas pela pergunta.


 - Como assim? Claro que estou bem! Com fome, mas bem.


- Tome.


 - O quê?


 - Eu vi o jeito que você olhava para a torta de caramelo que o Sírius pegou. Sei o quanto gosta delas. São suas favoritas.


 Estava para soltar um comentário ácido quando algo me fez olhar para baixo, o meu prato, outrora vazio, agora continha um enorme pedaço de uma suculenta torta de caramelo.


 -Uau, maninha! Valeu!


 Sarah sorriu vitoriosa. Como é que ela conseguia fazer essas coisas? Pouco me importa, enquanto ela puder continuar me fornecendo tortas de caramelo…


 - Veja, Dylan. É a Lily. Puxa, ela está realmente linda.


 Entre uma mordida espetacular que fez caramelo escorrer pelo meu queixo, ergui os olhos por um breve instante para ver a herdeira dos Potter entrando toda feliz (novidade) de braços dados com Robert. Ela estava divina, é óbvio.


 - Está mesmo. Aquele tom de vinho  combina com ela. – comentei casualmente, dando uma nova mordida na torta. Hmm... que fome! – Desculpe, nem te ofereci. Está deliciosa, quer?


 Antes que eu percebesse qual a razão, Rosier começou a rir. Parei de comer apenas para tentar entender.


 - O que foi?


 - Nada – ela respondeu, ainda rindo. Parecia feliz de verdade. Deus, quem entende as mulheres?


 Ignorando isso e o olhar de triunfo que ela trocou com Sarah, aproveitei o máximo possível do último pedacinho da torta, mas infelizmente ela acabou.


 "Vai acabar ficando gordo se eu te der mais”


 Pulei na cadeira. &2#$@!


 “Que merda, Sarah! Pára de enviar mensagens na minha cabeça do nada! Quando quiser fazer isso me avise antes! Sabe que eu não gosto quando você fica lendo meus pensamentos”


 “Pra quê? Perde todo o divertimento da coisa! Olha lá, Rosier está olhando estranho pra você, seu pulo chamou a atenção. Olha pra ela e dá um sorriso, dizendo que tinha uma formiga no seu pé.”


 “Uma formiga? Você não tem uma desculpa melhor, não?”


  Dylan, você está bem?


 - Ah, claro que sim, amor. Foi só… Uma formiga no meu pé.


 - Ah…


 Não deveria ter hesitado, ela ficou desconfiada.”


 “Cala a boca, Sarah”


 Olhei na direção dela, irritado, só o que vi, porém, foi ela cochichando com o Potter. Como ela conseguia fazer as duas coisas ao mesmo tempo?


 “Sou a garota da profecia, esqueceu?”


 Ah… $@#%&


 “Merda, Sarah. Pára de fazer isso, que coisa!”


 “Há-Há! Por que se é tão engraçado? Confessa, vai. Foi engraçado.”


 Não foi. E se Rosier ficou desconfiada a culpa é sua. Formiga no pé… Francamente!”


 “Mesmo assim você usou a ideia”


 “Usei porque não encontrei outra!”


 “Mesmo assim usou”


 Hunf… Pirralha metida.


 “Ei! Eu ouvi isso”


 “Não mando você entrar na minha cabeça. A culpa é sua.”


 “Oh! Seu ingrato! Eu vim aqui para te ajudar! Ok! Não vou ajudar mais também! Tchau!”


 Sarah?


 Como ela pretendia me ajudar?


 “Sarah?”


 


“...”


 


“Sarah, que droga, eu sei que você ainda ta na minha cabeça, fala logo no que eu preciso da sua ajuda”


 


“...”


 


“Então é assim? Você toma conta da minha mente e depois some? Valeu, muito obrigada, srta. Malfoy.”


 ...”


 “SARAH?”


 “Ai, não grita! Isso ecoa lááá no fundo!”


 Olhei novamente na direção dela. Fazia uma careta, como se eu tivesse gritado de verdade. Sorri maliciosamente.


 “Vai responder ou quer que eu grite de novo?”


 “Eu respondo! O que acontece é que você é muito idiota, sabia?”


 Como assim?”


 “Não vê? Rosier está morrendo de medo de que você tenha uma recaída por Lily! Ela te viu todo nervoso hoje e acha que é por causa dela. Você sabe, ela foi sua amiga enquanto você era apaixonado por Lily. É difícil pra ela acreditar agora que você realmente perdeu todo aquele amor, entende?”


  “Sim eu já percebi isso. Só não sei mais o que eu faço pra ela perceber que não sinto nada pela Lily.”


 “Você está quase lá. Ela achou que você cairia em cima do Robert, mas ao contrário disso, você brincaram um com o outro como se fossem amigos há anos e não rivais. Além disso, apesar de eu ter achado um pouco falso, ela caiu direitinho naquele truque de fingir que não prestou atenção em Lily, trocando a cor do vestido dela.”


 Franzi minha sobrancelha, estupidamente chocado.


 Como assim? Que truque? Do que Diabos você está falando?”


 “Ah, Dylan… Me poupe, né? A mim você não engana. Vestido vinho? O vestido da Lily é azul marinho, como você bem sabe!”


 Azul?


 Busquei o lugar onde Lily estava sentada com o olhar. Encontrei-a e, observando com atenção, percebi que seu vestido era realmente azul marinho, e não vinho.


 “Meu Deus, Dylan, ou você teve uma crise daltônica momentânea, ou é tão cegamente apaixonado por tortas de caramelo mesmo”


 “Eu sou cegamente apaixonado por Rosier, isso sim. Sarah, o que eu faço para que ela perceba isso?”


 “Ah, Dylan… Eu conversei com a Sarah hoje… Ela só está insegura. Você a tem tratado como uma princesinha de porcelana desde que começaram a namorar. Ela assistiu a sua paixão desenfreada por Lily, mas não percebe isso entre vocês dois. Você a trata mais como uma amiga do que como uma namorada.”


 Eu ouvi uma parte da conversa de vocês. Mas isso não é verdade”


 “Claro que é. Mas meu conselho já foi dado, você pode usar se quiser. Ou não. Agora, Sírius acabou de me chamar pra dançar, então tchau!”


 “Merda, Sarah, volta aqui! Sarah!”


 Ela e Sírius se levantaram sorridentes (novidade²) e foram até a pista de dança. Nem tinha reparado que a cerimônia de formatura já havia terminado e que Lily e Robert agora vinham na nossa direção. Como eu não tinha reparado que o vestido era azul marinho? Precisava cuidar do meu vício por tortas de caramelo.


 - Olá, garotos.


 - Olá – respondemos todos. Os dois se sentaram bem no lugar de Sarah e Sírius, ou seja, ao meu lado. Enquanto Lily agradecia aos elogios de todos, virei-me para Rosier com um sorriso no rosto.


 - Vamos dançar?


 Ela respondeu com um sorriso maravilhoso, me dando a mão.


 - Claro. Por que não?


 A pista de dança já estava lotada de estudantes apaixonados. A música animada tocava ainda mais alta naquele lugar, convidando qualquer um a se mexer. Rosier soltou minha mão e começou a dançar, animada. Eu sorri antes de imitá-la, de repente pensando em tantas coisas ao mesmo tempo.


Alguns meses haviam se passado desde aquela tragédia onde tantas pessoas ficaram entre a vida e a morte. Muita coisa acontecera desde então, porém, muitas delas foram quase imperceptíveis.


Por exemplo, Maggie, uma das atingidas pela magia negra, conseguiu recuperar a matéria perdida na escola, fazendo muita prova difíicil e estudando quase vinte horas por dia, mas conseguiu passar de ano. O melhor de tudo, porém, foi que ela e Lucas se acertaram e, desde então, estavam juntos, felizes e apaixonados. Talvez, se nada daquilo tivesse acontecido, eles ainda estariam separados... Sofrendo sozinhos...


Já minha irmã, se não tivesse passado por tudo aquilo também, nunca admitiria estar apaixonada por aquele pivete metido do Potter. E ele nunca teria engolido o orgulho e declarado seu amor mesmo sabendo que ela saía com aquele vilão de história de quadrinhos, louco e tapado. Além disso, tudo o que ela passou foi bom para o amadurecimento de seus poderes, tornando assim, possível que ela trabalhasse com papai atrás da cura de todos aqueles nascidos trouxas. Quem diria que sua magia fosse forte o suficiente para alterar a capacidade do antídoto? E se ela não tivesse a auto-confiança que adquirira com os acontecimentos, talvez não conseguisse… Sim, tragédias, geram romances, e romances geram boas atitudes. Robert e Lily também tinham se entendido, o que era bom, talvez assim seria mais fácil de Rosier aceitar o fato de que não existia mais nenhum sentimento meu por ela. Definitivamente. Ou eu nunca teria me aproximado dela.


Papai havia enterrado o que restara no incêndio do corpo de Lucius Malfoy que eu nunca considerei como avô, e junto com ele, enterrara seu passado. É claro que eu senti um certo ar preocupado nele por não terem encontrado Narcisa Malfoy em lugar algum. Aliás, um dos rapazes responsáveis pela segurança na fronteira do país jurou ter visto uma mulher de porte elegante mesmo trajando roupas velhas e gastas, que misteriosamente desaparecera ao ser avistada. Os outros imigrantes que estavam com ela, presos, declararam que era sim uma mulher diferente e suas descrições batiam em muito com a Matriarca dos Malfoy. O ministério da Magia da Inglaterra declarou sua impotência para agir no país de Gales e papai tampouco pediu para que o fizessem.


“Se for ela, deixem-na. Ela não se atreverá a voltar aqui”.


Então nada mais foi feito e nunca ninguém mais ouviu falar em Narcisa Malfoy. A vida de todas as pessoas atingida com a obsessão de um par de malucos egoístas foi se restaurando, as coisas se estabilizando… Harry Potter, papai e mamãe confirmaram seu contrato  com a escola para continuar lecionando no próximo ano letivo. Ronald e a irmã, Gina, decidiram continuar na profissão antiga, mas a escola se declarou de portas abertas para visitas, por mais freqüentes que fossem. O Hagrid que eu nunca conheci reapareceu também com o filho desastrado maior que ele, e a esposa maior ainda. Eles não sabiam quanto tempo iriam ficar já que estavam apenas matando a saudade do lugar, mas se dependesse dos sorrisos e olhares que o garotão estava jogando pra cima de Lúcia Longbotton numa mesa afastada da festa, desconfiei que eles não iriam tão cedo. Principalmente por ela retribuir a todos os sorrisos. Quem não parecia estar gostando muito daquilo era o profº Neville sentado com sua esposa, Luna, na mesa dos professores. Por falar nisso, ao notar o esposo olhando feio para a mesa, como eu, ela lhe deu um beliscão que doeu até em mim.


Desviei os olhos, rindo, apenas para corar quando eles encontraram Zabini e o namorado num momento íntimo. Olhei depressa para Rosier, tentando disfarçar o rubor. Esses dois também permaneceriam em Hogwarts, Zabini ainda como professor juntamente com Harry, e Eduardo no lugar de Madame Ponfrey, que finalmente se aposentaria. Eles não mais se escondiam,  o que era bom, ninguém merecia esconder um sentimento tão verdadeiro quanto aquele que eles sentiam um pelo outro.


Agora… Notei que Rosier não dançava mais tão empolgada quanto começara, olhando-me com uma expressão um pouco tristonha.


- Você está bem? – perguntei, bem perto do seu ouvido para que minha voz sobressaísse ao som alto.


- Sim. O que você estava olhando?


Fiz um sinal discreto com a cabeça na direção do casal que se beijava no canto do salão. Rosier olhou, curiosa, e logo sorriu como eu.


- Ah, sim. Eles estão bem mais soltos agora, não acha?


- Não há como duvidar.


Ela sorriu. Eu a encarei.


- Você não sabe disfarçar.


- É a segunda vez que você diz isso, mas não me explica.


- Você não sabe disfarçar o ciúme sem cabimento que você sente pela Lily. Achei que confiasse em mim.


Ela corou profundamente.


- Eu… Eu confio.


- Então pra que tudo isso? Por que fica insegura a cada vez que olho para o lado?


- É que…Dylan, eu… quer dizer… Ai, não sei o que dizer. Ela é tão bonita e você foi afim dela por tanto tempo…


Peguei seu rosto com as mãos, mirando os olhinhos tão cheios de amor e devoção que eu nunca esperara que ninguém sentisse por mim.


- Rosy… Eu te amo. Sabia? Amo mesmo. De verdade. O que eu sinto por você é mais forte do que qualquer outra coisa que já tenha sentido por alguém. É mais forte que eu, é mais forte que qualquer desejo, você é minha vida e é só com você que eu me sinto bem. Entende isso? Eu amo você. E mais ninguém.


Ela me olhou profundamente, como se quisesse sentir a veracidade de minhas palavras. Quando, por fim, pareceu se dar por vencida, ela sorriu e eu encurtei a distância que havia entre nós. Beijando-a com todo o meu sentimento. Com todo o meu amor. Com toda a minha alma que só se satisfazia ao tê-la em meus braços.


A batida de uma nova música começou, sem perceber, ainda embalados num beijo que nos envolvia por completo, começamos a nos mover no ritmo da música. Não demorou para que estivéssemos engajados num amasso incomum no meio do Salão Principal. Separei-a com muito custo.


- Vamos para outro lugar? – sussurrei. Ela corou, mas disse sim. Puxei-a pela mão até me afastar de lá, ouvindo, ao fundo, a voz de minha irmã na minha cabeça…


“Uhul! Agora sim é o irmão que eu conheço! Pode aproveitar que o tio Rony ta ocupado, viu? Aparentemente ele resolveu namorar um pouquinho também. Ele e Hermione sumiram já faz algum tempinho.”


“Sai da minha cabeça, Sarah. É o meu último aviso.”


“Ui! Tá nervoso é?E se eu não quiser sair?”


“O problema é seu. Só não me responsabilizo pelo que vai ver a partir de agora.”


“Eca, você é um nojento”. Sorri, enquanto empurrava Rosier delicadamente contra a parede da primeira sala vazia que encontramos. Havia arranjado um jeito de afastar aquela pirralha metida da minha cabeça, afinal. “Pensa que eu quero te ver fazendo isso com a minha amiga? Eu, heim! Fui!”


E eu não precisei do silêncio que se seguiu na minha cabeça para ter a certeza de que a voz que não era da minha consciência desaparecera. Não precisei, porque quando meus lábios encontraram os da garota que eu amava novamente, nada conseguia se prender em meus pensamentos além do cheiro suave que eu inalava de seus cabelos e o quanto aquele anjo em meus braços me fazia feliz. Muito feliz.


Dylan achou que estava bom. E se não estivesse também, ficaria assim até ter uma chance de mudar, porque ele tinha quinze minutos para descer até a carruagem se não quisesse perder o trem. Fechou o caderno, apressado, despediu-se do quarto com um rápido olhar, e apagou a luz.


 


Já no expresso de Hogwarts…



- Não tenho culpa – Sarah se defendeu do namorado, rindo. – Seu pensamento foi tão alto que não tive como não escutar. Mas na próxima você ganha, quem sabe?


- Droga, Sarah – Sírius reclamou emburrado, ao que todos (que já estavam rindo) riram ainda mais. –Isso é trapaça. Até aprender oclumência nunca mais jogo com você!


- Não sei se oclumência vai funcionar muito com ela – Dylan interrompeu enquanto fazia um carinho nos cabelos da namorada. – Mas se você quiser, eu tenho algumas dicas que faz ela sair da sua cabeça rapidinho.


Sarah fechou a cara na hora.


- Por Merlim, não! Todo mundo quer me traumatizar com imagens que eu não quero ver?


- Por que todo mundo? – Dylan que parecia o único a entender, perguntou. – Aliás, você sabe muito bem que esse tipo de coisa acontece quando se é intrometida.


- Nem me fale – Sarah resmungou. – Minha curiosidade já me meteu em várias encrencas.


- Você se refere aos feitiços malucos que andou tentando fazer? Como voar sem vassoura? Se transformar num animago? Ficar invisível?


A cada palavra de Sírius, o sorriso de todos iam aumentando. As lembranças dos dias em que a garota Malfoy tentou apelar de seus poderes para magias muito mais complicadas que exigiam bem mais do que talento e as conseqüências que aquilo lhe causavam, como um pé invisível – réplica branca de um Saci-Pererê – ou orelhinhas de onça, e até mesmo algumas penas nas costas (a tentativa frustrada de um par de asas) fazia uma necessidade crescente de cair na gargalhada.


- Também não conto mais – Ela emburrou, cruzando os braços.


- Amor – Sírius a abraçou, segurando-se para não rir. – Pode contar o que quer que seja que queira contar. Só estávamos brincando.


- Tem a ver com aquilo, Sarah? – Lucas perguntou, com cautelosa.


- Aquilo o quê?


Agora todo mundo parecia realmente curioso.


- Bem – Lucas se justificou. – Eu fiquei sabendo meio por cima…


- O quê? – Agora era mesmo impaciência.


- Bem – Lucas continuou. – Você nunca se perguntaram porque Zabini andou perseguindo tanto Sarah numa época aí?


- Agora que você diz – Sírius olhou para Sarah. – Eu me lembro. Até desconfiamos que ele estava dando em cima de você. Por quê? E não era só ele não. Eduardo também ficou te perseguindo, não ficou, Sarah? Isso tem a ver com o que ia nos contar?


Aparentemente satisfeita com o interesse dos colegas agora, Sarah ergueu o queixo.


- Tem. Nenhum dos dois me perseguiam a toa. Eduardo queria me ver longe de Collin, pois ele tinha conhecimento dos planos dele. Já Zabini… - ela bufou, mas sorriu. – Morria de medo que eu saísse por aí espalhando algo que vi.


- O que você viu? – todos perguntaram ao mesmo tempo, aumentando ainda mais a satisfação de Sarah.


Ela se inclinou, cochichando como um segredo muito misterioso.


- Na época ninguém sabia que ele era gay. E… bem, eles marcaram bobeira um dia numa sala de aula… quando Eduardo não estava transformado… E eu… - Sarah corou. – Eu entrei na sala, curiosa, e… peguei os dois juntos.


Ela esperou que os OHs e ECAs acabassem para continuar.


- É claro que eu pensei que Zabini estava traindo a noiva com um homem. Nunca pensei que ela fosse ele e toda essa confusão que os dois fizeram. Blaize ficou no meu pé o tempo todo porque temia que eu saísse espalhando por aí o que tinha visto.


- Quando foi isso? – Maggie perguntou.


- Há muito tempo. Foi no mesmo dia em que deu aquele alvoroço todo por causa de dois garotos gays se beijando, se lembram?


- Eu estou lembrado – Dylan respondeu. – Caramba, nunca pensei que fosse isso.


- E você nunca contou pra nós? Um bafão desses? – Maggie parecia emburrada. – Valeu!


Sarah deu de ombros.


- Bom, ainda era a vida deles. Muita coisa estava em jogo se eu contasse. Lembre-se que eu pensava que ele estava traindo a namorada.


- Acabou que eram os dois mesmo. Nossa, quanta confusão!


- Nem me fale!


- Mas você não viu nada demais, viu, Sarah? – Sírius perguntou, preocupado.


A garota sorriu, encarando-o em silêncio. Alguns segundos depois ele soltava um “eca” em voz alta


- Eu podia ter ficado sem essa hoje, Sarah. Muito obrigada, agora vou ter pesadelos esta noite


- Você que perguntou… - respondeu a garota, rindo mais do que nunca agora.


Trocaram mais algumas fofocas e caíram num silêncio agradável enquanto as horas se passavam. Dylan aproveitou que a namorada adormecera no seu colo e que os outros pareciam distraídos, então pegou a mochila e retirou de lá o seu caderno, relendo todas as últimas anotações


… além do cheiro suave que eu inalava de seus cabelos e o quanto aquele anjo em meus braços me fazia feliz. Muito feliz


Ele havia esquecido de finalizar, então, enquanto ecos de risos cristalinos soavam perto de si e Rosier ressonava em seu colo, aspirando o delicioso perfume que ela usava, ele tirou uma caneta e, suspirando, escreveu:


E mais feliz ainda eu ficava por desejar que aquilo durasse para sempre. Não por todo o sempre, mas por todo o tempo que o nosso sempre durasse.


 


A garota da profecia


Uma resposta de Dylan Malfoy, para seu pai, Draco Malfoy.


Com muito amor…


 


 

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