Capítulo XII




Gina observava tudo ao seu redor com olhos curiosos e sonhadores. Com as malas aos pés, a ruiva buscava algum rosto familiar no meio daquele lobby lotado. Apesar de não fazer a menor idéia de como era a tia de Tonks, ela esperava que houvesse alguma semelhança entre o pai de Tonks e sua irmã, para que pudesse saber com quem deveria ir embora. Mas Agatha nunca chegou. Ao invés dela, havia um senhor segurando uma placa com Gina Weasley desenhado em letras bonitas e floreadas.
A ruiva olhou meio receosa para o senhor e se aproximou a passos lentos e cautelosos. Como saber se não era uma armadilha? Nos tempos atuais, em meio a uma guerra, tudo era possível. Ao ver a jovem se aproximando, o senhor sorriu e abaixou a placa.

- A senhorita é Gina Weasley? - o senhor perguntou gentilmente.
- Depende de quem pergunta. - Gina falou meio desconfiada.
- Oh, perdão. Meu nome é Jonathan, eu trabalho para a senhora Agatha, a irmã do pai da senhorita Tonks. Infelizmente a senhora Agatha não pôde vir buscá-la pessoalmente e por isso me encarregou de vir aqui para levá-la para casa.

Gina continuou olhando-o desconfiada. Aquela guerra tava mesmo acabando com tudo, até com a razão dela. Céus, ela estava ficando mais paranóica que Olho-Tonto Moody.

- Senhorita, é melhor nos apressarmos, do contrário, a senhorita poderá chegar atrasada na entrevista para sua escola.

Certo, o cara sabia tudo. Tinha que ser confiável. E ele era tão simpático e gentil... não podia ser um seqüestrador.

- Tudo bem, é, eu sou Gina Weasley. - A ruiva finalmente se rendeu.
- Bem-vinda à Nova York senhorita Weasley.- Jonathan falou sorrindo.
- Obrigada Jonathan.
- Vamos? A limusine a espera.- ele tornou a dizer, já pegando as malas.

Gina tornou a parar de andar. Ela tinha escutado bem?

- Li...Limusine?
- Isso mesmo senhorita Weasley, vamos?
- Ah, claro!- Gina respondeu se sentindo meio boba. O que era aquilo, um conto de fadas moderno? Com certeza, ela já tinha começado com o pé direito. Só havia um problema: será que Agatha e sua família continuariam mesmo sendo tão atenciosas?

Já acomodada dentro da limusine, e com as malas devidamente guardadas, Gina se permitiu avaliar pela primeira vez o ar de Nova Iorque. Havia algo de diferente nele. Não era tão úmido como o de Londres. Ainda meio lerda, a ruiva colou a testa na janela da limusine. A cidade era tão diferente, para qualquer lugar que você olhasse havia carros, um mar de gente andando apressadas e prédios. Vários e lindos prédios.

- Então, a senhorita veio de Londres, certo?- Jonathan, que Gina descobrira ser o motorista da família, despertou Gina de seus sonhos.
- Certo, eu morei lá a minha vida toda.- ela respondeu sorrindo. Estava adorando tudo.
- Então por que decidiu vir para Nova Iorque?

Gina ficou calada por um minuto, ela sinceramente não sabia o que responder. Não queria ter que contar tudo o que havia ocorrido até agora, era um pouco chato falar sobre aquilo. Então ela tinha tomado uma decisão: inventaria uma desculpa qualquer. Uma que não lhe causasse problemas. Uma que ela pudesse contar a todos. O problema era que ela ainda não havia decidido qual seria a desculpa.

- Desculpa a minha pergunta, senhorita. Foi muito intromissão da minha parte. O que importa é que a senhorita está aqui, sã e salva.
- É, isso é o que importa.- Gina ficou calada por mais um tempo, se sentindo culpada por não ter respondido à pergunta de Jonathan.- Quando chegarmos em casa, a filha da senhora Agatha estará lá?
- Creio que sim senhorita Weasley. A senhorita Nicolle saiu hoje cedo com as amigas, mas já deve estar retornado à casa..
- Ah, mas que ótimo, estou ansiosa para conhecê-la! E ah, por favor, Jonathan, me chame de Gina.- Gina disse. Senhorita Weasley ainda soava estranho aos seus ouvidos.
- Tudo bem senhorita Gina. Chegamos.

Assim como todos os outros, este prédio também era grande e majestoso. Em frente, havia um parque bastante movimentando, que Gina reconheceu como o Central Park. A rua era movimentada e o fluxo de carros e pessoas era grande, mesmo àquela hora. Jonathan abriu a porta do limusine e estendeu a mão para ajudá-la a descer do carro. Gina não estava acostumada com aquele tipo de tratamento. Logo, um homem uniformizado saiu de dentro do prédio e retirou a bagagem de Gina da limusine e a levo para dentro do prédio. Gina ainda estava meio atordoada. Aquilo com certeza era algo com que ela poderia se acostumar.
Olhando para o lado, percebeu que Jonathan a observava sorrindo e então percebeu que ele não iria com ela. Ela estava com vontade de abraçá-lo, por ter sido tão gentil, mas por algum motivo, ela sentiu que aquilo não seria apropriado e por isso se deteve a um agradecimento.

- Tchau Jonathan.
- Tchau senhorita Gina.

O homem que havia levado as malas para dentro aguardava Gina perto do elevador. O homem permaneceu calado todo o caminho e quando finalmente chegaram à cobertura, ele segurou a porta do elevador para que Gina saísse e logo em seguida trouxe as malas para dentro do apartamento. O apartamento era extremamente luxuoso: os tons pastéis das paredes destacavam a beleza do lugar. Com o teto alto, um majestoso lustre de cristal decorava o lugar. Havia flores, quadros e pequenas esculturas espalhados por todos os cantos, e no lobby um lindo piano de cauda. A escada de mármore subia em curva, atraindo o olhar de Gina para o segundo andar. Todo o lugar era simplesmente lindo.

- Um palácio em um apartamento.- Gina pensou em voz alta.
- Ah, você deve ser a Jenny. - uma garota morena e extremamente bonita saiu de umas das portas do apartamento.
- É Gina. E você deve ser a Nicolle?- Gina perguntou feliz por conhecer a garota.
- Ah, que seja. E sim, eu sou a Nicolle.- a garota parou perto de Gina e a olhou da cabeça aos pés com um tom de reprovação.- Nossa, de onde você veio? Marte?
- Não. Londres.- Gina respondeu, começando a se irritar.
- E eu achando que a moda em Londres era tão boa como aqui. Mas pelo visto está em decadência... é melhor trocar de roupa logo, Jenny, ou então minha mãe pode pensar que você é alguém da rua que invadiu a casa.
- Ah. Me desculpa Nicolle, mas eu me sinto bem nas minhas roupas. – Se ainda restava algum tipo de paciência em Gina, esta tinha acabado de sumir agora. Quem aquela garota pensava que era pra falar com ela daquele jeito? Mas Gina não estava totalmente surpresa com a recepção: estava mesmo tudo muito bom pra ser verdade, ou continuar assim. - Sua mãe está em casa?
- Não, ela nunca almoça aqui. Por falar nisso eu estou indo almoçar, faça o que quiser.- a garota pegou a bolsa que estava em cima do piano e saiu sem olhar para trás.

Gina permaneceu parada no meio do hall, sentindo uma onda de desanimo se aproximar rapidamente. Obviamente ela não era bem vinda ali. Mas antes que pudesse começar a se sentir sozinha uma empregada baixinha surgiu sorrindo e logo ela se apressou em pegar as malas da ruiva.

- Oi.- Gina disse, seguindo a empregada escadas acima.
- Bom dia, senhorita Gina. Seja bem-vinda.
- Obrigada,...?
- Lena, senhorita.

Gina sorriu. Pelo menos a empregada parecia ser simpática. Lena parou em frente a uma porta e sorriu para Gina.

- Este é seu quarto.

Gina se sentiu momentaneamente nervosa, como uma criança abrindo um presente. Sorrindo para a senhora, Gina abriu a porta do quarto. O lugar, assim como o resto da casa, era magnífico. Todo em creme com detalhes em dourado, o quarto era relaxante e luxuoso. A cama de casal era maior do que o normal e mais alta também. E parecia extremamente fofa, o que fez surgir em Gina uma louca vontade de se jogar nela. Ao abrir as longas cortinas, a jovem se deparou com uma linda vista para o Central Park. Paraíso.

- O banheiro fica a direita, e o closet logo a sua frente.- Lena disse, levando as malas de Gina para uma porta que ela ainda não tinha reparado.
- Eu tenho um closet?- Gina perguntou meio abobalhada.
- Mas é claro que sim!- a empregada disse rindo. – É melhor tomar um banho e descansar um pouco, senhorita. Logo a senhora Agatha estará e casa e vocês irão para a escola.

Assim que Lena saiu, Gina seguiu para o banheiro, só para descobrir que havia uma linda banheira a sua espera, com toalhas e roupões combinando. Gina tinha certeza agora que podia passar o resto da vida dentro daquele quarto.

***

- Senhorita Gina?- Lena perguntou, batendo à porta do quarto.
- Sim?- Gina perguntou sorridente, ao abrir a porta.
- A Sra. Agatha lhe aguarda na sala.

Gina desceu apressada, pois não queria deixá-la esperando. Ao chegar na sala, encontrou uma senhora muita bonita sentada em dos sofás, lendo jornal.

- Você deve ser Gina.- ela disse se levantando ao perceber a presença da ruiva na sala.
- Sim senhora. – Gina se sentiu momentaneamente envergonhada. Estava óbvio que os padrões de vida daquela família eram bem diferentes dos dela.
- Ora, nada de senhora. Vem aqui, deixe-me dar uma olhada em você.

Gina se aproximou, se culpando internamente por não ter trocado de roupa ou secado o cabelo. Queria passar uma boa impressão à mulher quem pusera sua casa à sua disposição.

- Sim, sim. Tonks estava certa. Você realmente é muito bonita.
- Obrigada. – Gina respondeu ficando vermelha. Ela estava começando a se sentir como alguém sendo entrevistado para um cargo no ministério.
- Eu comprei alguns presentinhos para você... é melhor se trocar logo ou chegaremos atrasadas à sua entrevista.

Quando Gina chegou novamente ao seu novo quarto, encontrou um lindo vestido azul claro com sapatos altos e lindos. Ali estava a roupa pra entrevista.

***

- Você não precisa ficar nervosa,- Agatha ia falando durante o caminho até a escola- sua vaga lá já está garantida. È só burocracia, você sabe como é...

Gina concordou, mesmo sem saber como era. A verdade é que nunca havia sido entrevista antes e simplesmente não sabia como agir ou o que falar. Ao chegar à escola, Gina percebeu que era no meio de uma rua trouxa bastante movimentada. Como era possível?

- Agatha, os trouxas, eles não...?
- Oh querida, as coisas aqui são diferente. Muito diferentes. Ao contrário dos ingleses, os americanos adoram os trouxas. Nós somos apaixonados por eles e por suas invenções. Por isso gostamos de nos misturar à eles. E com isso, raramente usamos magia fora de casa, entende. Não que realmente nos faça falta.
- Mas não ocorrem acidentes?
- Sim , é claro. Mas a situação aqui é muito mais controlada. Há um departamento inteiro cuidando disso. E além do mais, Nova Iorque é muito movimenta querida, a cidade é uma loucura diária. Com tantos filmes sendo gravados diariamente nas ruas, os trouxas não ligam mais para coisas estranhas acontecendo e passam a acreditar que é só mais algum longa metragem.
- Uau.- Gina respondeu, ainda pensando em como as coisas seriam mais fáceis se os ingleses pensassem assim também.
- Querida, espera aqui, que eu vou trocar umas palavrinhas com a diretora.

Gina sorriu e se sentou em um banco que havia ali perto. A escola era grande e os prédios pareciam ser um pouco antigos, mas de um jeito bem legal, parecia tudo ser proposital para criar um estilo clássico. Quando a porta da diretoria se abriu de novo, Gina esperava que alguém viesse chamá-la, mas ao invés disso, um jovem bronzeado com o cabelo castanho com fios loiros de sol saiu de lá. Gina sentiu incomodada com ele e logo desviou o olhar. Mas isso não adiantou muito pois logo ele já estava sentado ao seu lado.

- E aí?- ele disse.
- Oi.- ela disse, encarando-o novamente.
- Nova aqui?- ele perguntou, mostrando seus dentes brancos e perfeitamente alinhados.
- É...- ela não tava muito afim de papo.
- Michael Stewart.- ele disse estandendo a mão.
- Gina Weasley.- Gina disse, apertando sua mão.
- Você não é daqui né?- ele estava mesmo afim de puxar assunto.
- Não, vim de Londres.
- Jura? Nossa, se eu morasse lá, também fugiria. Com essa guerra...
- Eu não fugi!- Gina disse em um tom mais irritado do que pretendia.- Quero dizer, eu tive uns problemas pessoas e resolvi vir pra cá.
- Entendo.- ele disse sorrindo.- E então, ta em que ano?
- Sexto.- já que ele não ia parar de falar, não ia adiantar ela ficar calada.
- eu também!
- A gente vai estudar junto?- Gina perguntou, sem ter certeza se ficava ou não feliz com aquilo.
- Não sei, se a gente der sorte...
- Senhorita Weasley? Pode entrar agora.- a secretária a chamou da porta.

Gina respirou fundo. Borboletas dançavam em seus estomago e sua mão já estava totalmente suada.

- Bom, então até outro dia.- Gina disse, como se estivesse prestes a ir pra forca.
- Até outro dia.- ele respondeu rindo. Quando ela estava quase na porta, ele tornou a falar – Boa sorte, Weasley.

Ela sorriu e entrou na sala.

***

Gina estava de volta a paz e a solidão de seu quarto. Agatha estava certa, afinal. Ela não precisava ficar nervosa. Dentro de uma semana ela começaria a estudar e enfim conheceria pessoas novas. Sentindo o estômago doer por falta de comida, Gina resolveu se arriscar a descer até a cozinha, rezando para que Nicolle não estivesse lá.
Ao chegar ao hall encontrou um garoto familiar.

- Michael?
- Gina!? O que você está fazendo aqui? Quero dizer, como...
- Estou hospedada aqui. Quero dizer, estou morando aqui.
- Nossa, o mundo é mesmo pequeno.- ele disse sorrindo.
- E então... o que você está fazendo aqui?- Diz que não é com a Nicolle.
- Vim buscar a Nicolle pra jantar. Mas pelo visto ela está atrasada, como sempre.
- Ahn... quer comer alguma coisa?- ela não estava mesmo afim de comer sozinha.
- Claro!

Os dois seguiram para a cozinha, conversando bobagens. E continuaram assim enquanto comiam sorvete.

- Mike?- uma voz feminina perguntou.
- Na cozinha, Nicolle.
- Oi amor, o que você... ah, oi Jenny.
- É Gina!- a ruiva se viu repetindo aquilo de novo.
- Você não me disse que tinha alguém morando aqui.- Michael disse abraçando Nicolle, o que fez brotar em seus lábios um sorriso vitorioso que obrigou Gina a desviar o olhar dos dois.
- Devo ter esquecido.- ela disse sonsamente.
- Bem, eu já vou indo. Boa noite pros dois.- Gina disse, saindo da cozinha. Ela realmente estava cansada demais para intrigas.

***

Talvez fosse o fuso horário, ou só o fato de não estar acostumada com o lugar, Gina simplesmente não conseguia pegar no sono. Desistindo de tentar, a ruiva começou a assistir tv, até alguém abrir a porta do quarto.

- Sabe Nicolle, não é muito difícil bater na porta. Tudo o que você tem que fazer é fechar sua mão e dar pequenos soquinhos. É educado e não dói, te juro.
- Olha aqui garota, só vim te avisar para você ficar longe do meu namorado!
- Ora, fracamente Nicolle! Se você é tão insegura assim, a culpa não é minha.
- Eu não sou insegura! Meu namorado nunca olharia pra você!
- Bem, só posso acreditar em você. Você o conhece, sabe como ele é...
- Fique fora do meu caminho, marciana.
- Vai ser meio difícil já que agora a gente mora na mesma casa e estuda na mesma escola. Sabe Nicolle, ia ser bem mais simples se você simplesmente parasse de implicar comigo. Eu não te fiz nada.
- Fez sim, você surgiu na minha vida!
- Nicolle, é sério. Aceita meu conselho: você vai preferir que eu seja sua amiga.
- Você, minha amiga? Vai sonhando, bobinha. Você teria que ter, pelo menos, um bom gosto pra roupas.
- Você quer guerra? Então ta.
- Uhh, mal posso esperar! Você vai ver como o meu mundo é diferente do seu, não dou nem um mês para que você volte correndo para Londres, chorando feito um bebezinho.
- Acho que não, você não me conhece ainda, eu agüento qualquer coisa.
- Até uma rejeição completa do colégio? Sabe, eu sou a mais popular, e eu mando lá!
- Talvez eu possa acabar com o seu mundinho Nicolle!
- Tenta querida.
- Pode ter certeza que eu irei.

E Gina com certeza ia. Ela não queria arranjar problemas logo no inicio, nem queria as coisas que já eram de Nicolle, mas também não aceitaria que a perua estragasse sua nova vida. Agora tinha virado questão de honra fazer Nicolle sofrer um pouquinho, nem que pra isso Gina tivesse que arrancar tudo dela: o namorado, os amigos, a popularidade e as roupas. Afinal não era só o cabelo de Gina que era cor de fogo, seu sentimento por aquela garota era bem raivoso.

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