A falha na magia.



Naquela noite, quando Harry deitou-se na cama seus pensamentos lhe levaram novamente para os campos da escola. A noite já estava avançando para a madrugada quando se viu do lado de fora, ele tinha plena consciência de que estava dormindo seguro na sua torre, mas mesmo sabendo que era um sonho consciente, queria ver onde isso iria leva-lo. Desde sua visita ao passado, todos as suas noites passavam como um borrão. Ele deitava e acordava sem ter sonho algum, isso começou a deixa-lo preocupado. Havia comentado isso com Sarah e Hermione, mas a amiga dissera que isso era apenas a “pressão” dos NIEMs. E se fosse uma “consequência” da viajem no tempo, bem, era algo razoavelmente leve se contasse o que aconteceu com a namorada. Harry então começou a andar, seus pés tocando a grama úmida do campo. Não parecia estar em Hogwarts, parou, olhou em volta. Decididamente não estava nas terras de Hogwarts... mas então onde é que seus sonhos o tinham levado dessa vez?



Ele virou no lugar onde estava  e a luz do luar encheu a sua visão. Ele estava na luz de uma lua extremamente azulada, de pé sobre um platô coberto de grama. A grama sem traços característicos do platô se espalhava em todas as direções e Harry percebeu que o platô era na verdade um pequeno vilarejo, ou parecia ser, cercado por íngremes despenhadeiros. Havia um rio cinza que batia levemente contra os rochedos, salpicando água no ar. E naturalmente, havia um castelo mais adiante, projetando-se numa distância próxima. Era feito de pedra negra, pequeno, porém tão alto, tão incrustado de torres grandes e pequenas, que parecia rasgar o céu, que naquele exato momento,  começava a se encher de núvens dando indícios de que uma tempestade estava se aproximando. A estrutura se erguia sobre a borda do despenhadeiro, como  se as rochas tivessem sido corroídas debaixo dele, e mesmo assim o castelo ainda estava de pé, segurado por uma determinação completamente cruel.



Alguém estava observando da escuridão do castelo. Harry sentiu o peso do seu olhar como pedras quentes em sua pele. Ele olhou atentamente para o castelo, sombreado contra a luz cinza. Uma figura estava em pé numa alta sacada, obscurecida em  sombras.



- Eu vim... -  uma voz disse. As palavras ecoaram sobre o terreno coberto de grama  como  um trovão.  - Eu observo e espero. Minha hora está muito próxima. Eu sou a Rainha Feiticeira. Eu sou a Princesa do Caos.



Harry então forçou os olhos, tentando olhar através da obscuridade sombria da sacada. Ele mal podia distinguir a figura, exceto que parecia ser uma mulher. Seu cabelo se esvoaçava sombriamente ao vento. Quando ela falou novamente, um lento calafrio  passou  sobre  o garoto, congelando-o no lugar. Seus olhos se alargaram e a visão começou a se intensificar, a sangrar e a pulsar, a se rasgar em pedaços, mas as palavras  voltaram,  ecoando cada vez  mais altas, martelando os ouvidos de Harry a ponto de doer.



- Eu observo e espero... -  a voz repetiu. -  Meu nome será conhecido em todos os destinos. Meu nome... é Morgana. Aquela que marcha entre os mundos.



A visão se desfez como uma núvem de fumaça negra. A escuridão redemoinhou, comprimiu-se, e sumiu num único ponto escuro o qual fez Harry sentar-se na cama de um salto. O som daquela voz martelando ainda em seus ouvidos. Ele não lembrava de ouvir tal voz em nenhum momento de sua vida. O que isso queria dizer? Meneando a cabeça e saíndo da cama, Harry foi até o banheiro e decidiu tomar um banho. Tinha muita coisa para colocar em dia antes de finalmente dar Adeus a Hogwarts.



O horário das aulas de terça-feira ilustrou a rapidez com que o penoso trabalho escolar poderia substituir a emoção de se estar tão próximo de dizer adeus a escola.  As aulas de Poções ainda eram dadas nas masmorras e ministradas pelo chefe da casa da Sonserina, o professor Severus Snape, que, de acordo com a tradição de longa data, não gostava de alunos fora de sua própria casa.  Embora todos soubessem a preferencia de Snape por Defesa contra as Artes das Trevas, parecia que adquirira novas ambições, cujo os principais objetivos estavam confinados aos objetos mais tangíveis de se atormentar “não sonserinos”. E para isso a tarefa exigida foi a mistura de um elixir particularmente difícil, projetado para conceder temporariamente habilidades auditivas sobrenaturais.



 - Misture-o adequadamente... – disse Severus arqueando uma fina sobrancelha preta - e você ouvirá os ratos planejarem seus conselhos secretos nas vigas mais altas da torre norte. – Snape então encarou os alunos com o mesmo despreso de costume e novamente encarou o caldeirão -  Misture de forma inadequada e suas orelhas vão inchar até o tamanho de chaleiras. – então ele encarou Harry por um segundo – Como sei que alguns de vocês não dão ouvidos a razão, pode ser que isso seja de certa ajuda... -  Ele sorriu maliciosamente, seus olhos negros brilhando.  – contudo, não existe antídoto. Então prestem atenção...



Alguns minutos depois, a maioria dos alunos estavam com as orelhas muito aumentadas e reclamando de ouvirem tudo ao mesmo tempo. Harry teve a sorte de ter seu caldeirão derretido antes mesmo de completar a poção. O que apesar de ter levado um belo olhar de desdém de Snape, pode ver a cara de desgosto do mesmo quando Hermione e Sarah entregaram uma poção realmente impecável. Já estavam sentados na sala de História da Magia quando Harry sentiu algo passar zumbindo por seu ouvido.



- Mova suas orelhas monstruosas, Weasley - Simas sussurrou aborrecido.  - Não consigo ver a frente da sala de aula.



Harry olhou por cima do ombro enquanto Ron retrucava -  Quem se importa? Desde quando você faz anotações daqueles rabiscos no quadro negro Finnigan!



- Não é o quadro-negro que eu quero ver – respondeu o garoto com um suspiro.



Harry seguiu o olhar de Simas. Duas garotas da Corvinal sentadas mais a frente. Eram louras, e pareciam muito concentradas na aula. Elas realmente lembravam a cunhada de Rony, Fleaur.  Um raio de sol brilhante da única janela incidiu sobre seus ombros e cabelos, fazendo com que as duas meninas virtualmente brilhassem na sala de aula sombria.



- Elas chegaram cedo só para arrumar os assentos... -  Ashley Moore murmurou revirando os olhos. – Até parece que são Veelas... para mim são as rainhas do drama... isso sim!



- Elas podem ser qualquer tipo de rainha que quiserem, no que me diz respeito. - Simas sorriu melancolicamente e apoiou o queixo nas mãos.



 - Shh! - Hermione sibilou, balançando a cabeça em aborrecimento. -  Eu mal posso ouvir a palestra de Binns sobre os argumentos dos ratos na torre norte.



Nesse instante Harry pode perceber que o ouvido da amiga estava um pouquinho aumentado.



- A poção de vocês não estava certa? – perguntou ele baixinho e então encarou o olhar matador da amiga.



- Estava... o problema foi que “sem querer” Parkinson deixou a poção dela respingar nos meus ouvidos... – disse ela - Os malditos batimentos cardíacos de todos. – Então olhou para um canto da sala - Quem diria que fazer teias de aranha era tão barulhento, com todas aquelas perninhas estalando?



- Eu juro que ainda não sei porque ainda temos que assistir as aulas... – reclamava Ron agora recolhendo suas coisas – não poderiam já nos liberar? Já prestamos os exames, passamos, não precisamos mais frequentar as aulas...



- Engano seu... – disse Sarah vendo o rosto horrorizado de Hermione encarando o namorado – frequencia nas disciplinas ainda contam 50% da nota meu amigo... se deixar de participar das aulas, adeus resultados...



Rony ainda dera um suspiro de desapontamento enquanto tentavam inutilmente entender “os argumentos dos ratos da torre norte”.



- Vamos... anime-se... – disse Harry tentando animar Rony após uma enfadonha última aula de História da Magia. - Mais alguns dias e finalmente vamos ter as merecidas férias...



Hogwarts até poderia estar se encaminhando para os últimos dias do ano letivo, mas velhos costumes ainda permaneciam. Sarah e Hermione haviam dito que passariam na biblioteca antes da última aula do dia, enquanto ele e Ron ficariam na sala comunal estudando suas últimas anotações sobre o exame de Astronomia. Contudo, era apenas uma desculpa para ficarem de bobeira enquanto comiam besteiras e bebiam cerveja amanteigada gentilmente contrabandeada por Dino Thomas direto do Três Vassouras. E talvez por estarem tão imersos em uma conversa em como o jovem amigo exercia o papel de “Gêmeos Weasley” nesse quesito, que perderam a hora para a aula. Era o caso de Defesa Contra as Artes das Trevas. A aula estava apenas começando quando Ron e Harry escorregaram pelas portas, tentando se tornar o mais discreto possível abaixando-se atrás de um grupo de estudantes em pé. Simas sorriu para eles por cima do ombro. Do outro lado da sala, Hermione estava com Sarah e alguns amigos da Lufa-Lufa, Mione com seu olhar afiado deliberadamente fiscalizando a entrada, ou pelo menos foi o que Rony lhe disse quando estrategicamente se acomodaram ao lado de um enorme armário. Talvez ela simplesmente não os tivesse visto (ainda) ou realmente estava realmente esperando só uma chance de vê-los entrando atrasado para dar-lhe aquela reprimenda. Ele eriçou-se inutilmente com o pensamento.



O chão da sala de aula estava livre de carteiras, tornando espaço para uma pequena arena de duelo. Hoje aparentemente seria um sessão prática, com os alunos enfrentando o Professor Mesmero ou uns aos outros. Harry deixou cair a mochila contra a parede e sacou o varinha. Duelar era uma de suas atividades escolares favoritas. Olhou de soslaio para o canto e viu Corner falando alegremente sobre alguma aventura sua nas férias a um grupinho seleto de alunos da Ravenclaw. Malfoy ao contrário, parecia realmente doente. Sua aparência estava ainda pior do que Harry havia visto da última vez. Se não fossem a suas vestes caras...



- Impressão minha ou a cobra albina esta mais para um verme cego do Hagrid... – ouviu Ron comentar.



- Realmente parece que algo está consumindo-o de alguma forma... – disse Harry um tanto desconfiado. Todos sabiam no que Malfoy estaria metido, ou pelo menos tinham alguma desconfiança, mas não tinham provas reais de que ele estaria envolvido de alguma forma com algo pessoal do Lord das Trevas. Mesmero, seu professor entrou na sala com o rosto sereno embora tanto Harry quanto Ron notaram sua expressão confusa novamente quando notara a presença de Harry. Rapidamente, Mesmero pegara sua prancheta e encarou os alunos enquanto dava inicio a sua aula.



-  Hoje, estudantes, vocês estarão duelando entre si. Porém.... Eu pretendo para desafiá-lo com um oponente mais exigente. E não, isso não significa que estarão duelando contra mim.



Um suspiro e um murmúrio de alívio varreram a sala. Primeiro porque ninguém em sã consciência teria coragem de desafiar o professor de Defesa Contra as Artes das Trevas, alguém com esse título obviamente mandaria um aluno numa caixa de fósforos para a enfermaria.  Ocasionalmente, quando fora feito alguma demonstração em um duelo,  muitos saíram mancando irritados, envergonhados e, ocasionalmente, arrastando fumaça colorida de tais confrontos.



- Não, hoje desejo observar sua técnica de perto, como o que fazem de melhor para enfrentar um desafiante. Para tanto, iremos fazer um pequeno torneio.  Nosso mais novo campeão de duelos regional Michael Corner concordou muito gentilmente em ser seu oponente.



Harry pode observar que embora Corner acenasse e sorrisse como se fosse os famosos bruxos nas figurinhas de sapo de chocolate, Malfoy por sua vez fizera uma careta tão desdenhosa quanto a expressão estampada na cara de Ron ao ouvir “Campeão regional de duelos”.  O amigo piscou e olhou ao redor. Na verdade, Corner andou para o pequeno círculo de duelo, parecendo um pouco altivo do que de costume. Em um movimento rápido, o garoto se desvencilhou de sua capa e a jogou para um grupinho seleto de garotas que dera sorrisinhos e gritinhos, assim que ele lançara um sorriso.



- O que ele pensa que é? – ouviu a voz de Ron e pode notar a expressão no rosto do amigo que observava o garoto com uma sobrancelha arqueada – Uma versão de bolso do Lockhart?



 Harry, até então ficara um tanto surpreso. Duelar definitivamente não parecia ser o ponto forte de Corner, até porque o vira com a varinha de Malfoy em sua garganta certa vez. Na verdade, pelo que Harry tinha visto, o garoto parecia quase incapaz de lançar feitiços mesmo sob a pressão mais mundana. Ele tinha a mais absoluta certeza de que Corner só havia concordado em ajudar o professor, porque não tivera tempo suficiente para inventar uma desculpa? Ele estava prestes a ser terrivelmente envergonhado por esta demonstração de sua impotência induzida pelo estresse?  Se fosse esse o caso, bem Corner estava escondendo muito bem seu desconforto. Corner virou-se, girou a varinha habilmente entre os dedos e depois curvou-se com um sorriso um tanto tenso, batendo os calcanhares.



- Senhor. Tipton -  gritou Mesmero, consultando uma prancheta no sua mão enorme e carnuda. - Você duela primeiro. Por favor, tome posição.  



RogerTipton, um aluno Hufflepuff encolheu os ombros e se dirigiu para a pista de duelo, postando-se na frente de Corner. Tipton curvou-se superficialmente e depois abaixou-se para uma posição de combate meio agachado, levantando a varinha diagonalmente na altura dos olhos, focando além dela para seu oponente, exatamente como Mesmero lhes havia ensinado. Harry olhou para Corner. Este ficou com os pés retos, a varinha ao lado do corpo, a cabeça ligeiramente inclinada, os olhos estreitados. Sua postura sugeria que ele estava contemplando um pedaço obscuro de uma obra de arte em vez de se preparar para se defender ou lançar um ataque. Mesmero assistia impassível, com a testa franzida, uma pena erguida em uma mão, e na outra contra a prancheta. Harry sabia que, na turma de Mesmero, não houve início oficial de duelos.  Na verdade eles raramente faziam alguma aula prática até o inicio do seu sétimo ano. E por sua experiencia no clube de duelos no seu segundo ano, um duelo só começava quando um dos oponentes lançasse seu ataque. Por isso, Tipton atacou primeiro, esquivando-se e apontando a varinha para frente.



 - Confringo! -  O garoto de sardas proferiu, sua voz ecoando nos confins apertados do sala de aula. A maldição explosiva era uma das favoritas de Tipton, e ele era particularmente bom nisso. O raio de luz roxo cintilante atravessou o espaço entre eles e atingiu Corner. O garoto tropeçou para trás, desequilibrado. Harry estremeceu, envergonhado com a atitude do garoto em nome dele. Mas mesmo assim Tipton não havia conseguido o golpe paralisante que havia pretendido. De alguma forma, Corner havia esperado tal feitiço, como Harry pode perceber, ele lançara um feitiço de Repulso um pouco tarde mas rápido o suficiente para evitar se pego completamente e derrubado por Tipton.



Os estudantes reunidos murmuraram, meio surpresos que Tipton tivesse lançado um feitiço tão forte e cristalino, embora previsível, e ainda assim que Corner, tenha conseguido bloquea-lo sem sequer levantar sua varinha que continuava pendurado ao seu lado enquanto ele se recompunha e retomava sua posição. Corner então ergueu o queixo em direção a Tipton, como se o desafiasse tentar novamente. Mesmero assistiu sem qualquer expressão. Tipton ficou na ponta dos pés e moveu-se para o lado. “Seja sempre um alvo em movimento” -  pensou Harry, recitando uma das primeiras regras de duelos que aprendera com Lupin. Tipton parecia esperar pelo ataque de Corner, observando o primeiro toque da varinha do garoto loiro, preparando-se para prever sua intenção. Mas Corner não fez nenhum movimento. Impaciente, Tipton recuou,  e avançou novamente.



- Petrificus Totalis! -  Tipton gritou, falando rápido, mas claramente. Era uma jogada ousada, e ele se saiu bem. O feitiço disparou pela sala iluminando os rostos dos estudantes que assistiam, e atingiu Corner com um estalo de impacto mágico.



Harry enrijeceu, esperando ver Corner cair para trás como uma estátua. Em vez disso, o garoto permaneceu em pé, os olhos abertos, sua boca pressionada em uma expressão tensa. Sua varinha foi levantada agora, mas na altura da cintura. Ele desviou o feitiço de Tipton de alguma forma, sem sequer uma palavra. A turma murmurou novamente, desta vez com admiração silenciosa.  Feitiços não verbais eram impressionantes em qualquer circunstância. Até mesmo Lupin só os usava com moderação em sessões de duelo.



- Expeliarmus! -  Tipton tentou novamente, desta vez desviando para a direita.



Desta vez, Corner bloqueou o feitiço antes que ele chegasse à metade do trajeto até ele. Seu feitiço defensivo anulou o ataque de Tipton com uma explosão de luz dourada.



- Expeliarmus! -  disse Corner, quase em tom de conversa, repetindo o feitiço do próprio Tipton. A varinha do garoto ruivo emitiu um sinal sonoro estremeceu na mão e girou para trás  dele, batendo contra a porta. Tipton ficou boquiaberto, mal compreendendo o quão rápida e facilmente Corner o havia vencido.



O próprio Harry mal conseguia acreditar no que tinha visto. Até Corner pareceu agradavelmente surpreso. Ele olhou para sua própria varinha e sorriu. Então, ele levantou-a até o ombro e curvou-se novamente para Tipton.



- Espirituoso, e previsível, Sr. Tipton.  Srta. Abbot Por favor, tome posição e deixe-nos ver se você se sai melhor. – disse Mesmero e rapidamente marcou em sua prancheta.



Harry assistiu enquanto Hanna Abbot enfrentava Corner. Desta vez, o garoto loiro defendeu-se quase instantaneamente, atirando sua varinha levantada enquanto os feitiços se formavam nos lábios de Hanna, apagando-os antes de cruzarem a arena de duelo. Hanna recuou, deslumbrada com seus feitiços bloqueados, e Corner avançou para cobrir o espaço entre os dois.



- Ascendio! -  Corner proclamou, sacudindo sua varinha com inteligência em direção a Hanna. Ela ergueu-se um metro no ar, largando a varinha enquanto ela se debateu, girando os braços. - Isso basta, Sra. Abbot-  anunciou Mesmero em uma voz monótona, fazendo mais marcas em sua prancheta.  – Sr. Hopkings você é o próximo, por favor.



Wayne Hopkings postrou-se relutantemente em frente a Corner colocando Hanna de pé, até então a garota continuava sentada no meio da arena. Hannah foi andando cautelosamente até onde estavam seus companheiros de Hufflepuff. Frustrada, ela tirou o cabelo desgrenhado do rosto com os dedos, as bochechas vermelhas. Enquanto Harry observava, o mesmo cenário se repetia indefinidamente. Aluno após aluno enfrentou Corner, e ele defendeu, bloqueado e extinguiu seus ataques tão facilmente que ele, Corner mal pareceu que estivesse prestando atenção. Todas as vezes, Corner superou seu oponente com um ataque único e diferente, cada um mais criativo e obscuro que o anterior.



Ernest McMillan ele dominou com um feitiço de cócegas. Anthony Goldstein, transformando seu cabelo em chifres. Suzan Bones teve a infelicidade de ter seus dedos transfigurados em geleias. E o sonserino Theodore Nott foi submetido a um fantasma-palhaço tão aterrorizante que o deixou em posição fetal encolhido aos pés de Emily Bulstrode.



- É apenas um espectro... - disse Goyle, cutucando Nott com força com seu pé, rolando-o de costas. - Só fumaça e barulho, você é um perfeito bebêzão. Saia dai.



Bulstrode deu uma cotovelada em Goyle com um olhar fulminante e estendeu a mão para ajudar Nott a se levantar.  Harry pode perceber Ron gemer baixinho nessa hora, até mesmo seu cabelo estava em pé com a lembrança da horrível monstruosidade de palhaço, fantasma ou não.  Novamente olhou para Corner que estava segurando sua varinha pensativamente peito, esfregando-o contra a lapela.



- E com isso – anunciou Mesmero  desanimado -  ... receio estamos quase sem tempo. Vejo que temos muito que trabalhar, estudantes. Muito trabalho, de fato.



Harry soltou um suspiro de alivio assim como Rony, nem mesmo percebendo que ele estava segurando. Ele começou a temer a ideia de enfrentar repentinamente o imbatível Corner, mas agora, felizmente, parecia que ele e alguns poucos restantes intocados tinham recebido um alívio.



- Na verdade... -  Mesmero gritou sobre o súbito arrastar de pés e vozes murmurando - Antes de agradecermos ao Sr Corner, Receio que só tenhamos tempo para mais um duelo.



Uma sensação de tristeza tomou conta de Harry. Instintivamente, ele tentou esconda-se atrás de Kevin Entwhistle e Stephen Cornfoot assim como Ron.



- Não adianta... -   rosnou, Cornfoot empurrando Rony com força com seu cotovelo.  - Se eu tiver que fazer isso, você também precisa.



Mesmero passou o olhar pela turma, semicerrando os olhos. Harry tinha a mais absoluta certeza de que ele o mandaria. Por vezes em suas aulas usou-o de cobaia, porque agora seria diferente?



 - Você! – O garoto ouviu a voz do professor e sentiu um frio no estomago, porém quando seguiu os olhos do professor ele olhava diretamente para Draco Malfoy.  Balançando a cabeça decisivamente.  - Senhor. Malfoy. Poderia nos impressionar com seu talento por favor?



Harry pode sentir que Rony cedeu alguns centímetros de alívio, exalando outro suspiro audível. Malfoy estava olhando para Corner, com uma expressão dura, enquanto dizia: Vamos por um fim nisso majestosamente professor...



- Por favor, Sr. Malfoy tome posição. – disse Mesmero.



Malfoy moveu-se prontamente para o centro da arena, os olhos ainda fixos em Corner, sua varinha estendida na altura da cintura. Corner deu um passo à frente para se curvar rigidamente, com um sorriso educado em seu rosto mas Harry sabia que de educado não tinha nada. Malfoy não se curvou em resposta. Era nítido a provocação entre eles. Em vez disso, ele atacou, de repente e poderosamente, antes mesmo de Corner se endireitar. O raio vermelho saiu da varinha estendida de Malfoy. Em resposta, a varinha de Corner levantou-se e cortou o feitiço vermelho, bloqueando-o mas não desviando-o completamente. Um raio cego acertou-o no ombro e girou-o, tropeçando e se debatendo, as abas de sua capa voando como asas de morcego. Malfoy deu um passo à frente, mirando a extensão de seu braço. Ele disparou novamente, desta vez um feitiço laranja. O raio cegante pegou Corner na parte de trás do joelho e ele cedeu, sua perna momentaneamente inútil. Sua varinha ergueu-se novamente e ele girou seu corpo em sua perna boa, acompanhando seu movimento, um brilho incerto nos olhos. Ele estava surpreso com o ataque de Malfoy. Harry podia ver, e também que Corner  estava irritado com isso.



 - Ele está usando meios não-verbais! -  Megan Jones sibilou de lado, sem tirar os olhos de Malfoy. - Desde quando Malfoy conhece coisas não-verbais?



- Ele é um Malfoy! – Parkinson respondeu com orgulho. – Ele já nasceu fazendo feitiços assim...



- Que piada... – ouviu Rony murmurando ao seu lado. Ele conhecia Malfoy muito bem, sabia que a maior parte daquela pose era somente isso. Pose. Mas nunca tinha visto o garoto duelar dessa maneira, e sabia que fosse o que fosse, ele havia aprimorado e muito.



Malfoy disparou novamente, ainda dando um passo à frente, diminuindo a distância. Esse vez Corner conseguiu bloqueá-lo, mas a força do golpe empurrou-o vários metros para trás, raspando as botas no chão de pedra enquanto ele se inclinava contra o golpe.



- Malfoy... – Mesmero gritou, mas sua voz foi abafada por outro estalo da varinha de Malfoy.  Um arco de relâmpago verde pálido se contorceu em direção a Corner, atingindo seu peito enquanto sua varinha disparava a contra azaração inutilmente no ar. Corner voou para trás e atingiu uma estante, que explodiu seus livros contra os alunos, salpicando o professor e o resto dos estudantes chocados nas proximidades.



- Isso é suficiente! – disse Mesmero, levantando a voz enquanto um BOOM era audível na parede atrás dele. – Senhor Malfoy... já basta!



Uma explosão de faíscas amarelas atravessou a sala, desta vez vindo da direção de Corner. O feitiço ricocheteou no teto e no chão, espalhando sua força inutilmente, mas distraindo Malfoy brevemente. Corner habilmente desvencilhou-se do resto da estante cambaleante e chutou um pedaço de livro de lado e ergueu a varinha novamente. Malfoy viu e disparou outro relâmpago verde-claro. Harry presumiu que fosse um feitiço de repulsão, embora fosse impossível dizer, já que Malfoy continuou a atirar sem pronunciar nenhum encantamento. Feitiços não-verbais, pensou Harry, arregalando os olhos. Corner não tinha idéia do que se proteger. E, no entanto, desta vez o garoto se protegeu, apenas porque Malfoy lançou o mesmo feitiço duas vezes. A varinha de Corner varreu ar, produzindo um escudo cintilante no exato instante em que o raio verde foi lançado através da sala. O feitiço de Malfoy atingiu-o e ricocheteou devolta para ele. O sonserino jogou-se de lado, virando-se, de modo que o raio passou em arco e atingiu a porta, deixando uma explosão estelar enegrecida no madeira antiga. Malfoy virou-se em direção ao oponente e empunhou a varinha. mais uma vez.



- Sectumsempra! -  ele gritou, disparando uma rajada de azul lívido. O sangue de Harry gelou. Sectumsempra foi um ataque cruel, pouco conhecido na verdade e nunca usado em práticas de duelo, ainda mais por se tratar de magia única das trevas.



- Esperar o quê dessa cobra... – ouviu a voz de Ron, que era um dos poucos que sabia sobre tal feitiço assim como ele.  Malfoy parecia ter ficado sem recursos não-verbais para tentar. Corner por sua vez,  cortou o raio azul, a mão da varinha movendo-se rapidamente, como se fosse acionado por uma mola. O feitiço de Malfoy foi destruído no ar. O sonserino tentou novamente, saltando para o lado enquanto Corner apontava sua varinha nele.  



- Incarcerare! – Malfoy gritou, sua voz estava rouca, tensa tanto concentração e veemência inexplicável. Um feixe de cordas serpenteava em direção a Corner, contorcendo-se para incapacitá-lo, mas o garoto já havia se firmado e estava avançando ele mesmo, enfrentando os ataques de Malfoy de frente.



Sua varinha lançada na vertical, desenhando uma faixa vermelha flamejante no ar, e as cordas caíram no chão como serpentes de cinzas. Malfoy atacou de novo e de novo, mas Corner mal piscava agora. Ele deu um passo à frente a cada desvio, diminuindo a distância entre eles, forçando Malfoy a recuar em direção à porta. Corner estava sorrindo agora, ou pelo menos mostrando os dentes com uma espécie de expressão desdenhosa, a mão da varinha se movendo como se por vontade própria, cortando e empurrando, sacudindo o punho como uma coisa viva. Malfoy estava sem fôlego, invocando todos os feitiços que conseguia pensar, cada vez mais rápido, mas sem sucesso. A varinha de Corner encontrou cada um dos feitiços com sua contra azaração, tão rapidamente que Harry mal conseguia acompanhar. O odor da magia gasta, acre e elétrica, encheu a sala e fez o cabelo de Harry arrepiar. O flash O pop e o chiado do duelo foram quase ofuscantes demais para se assistir. Por comparação, o resto da sala era um mar de pessoas com rostos atônitos e espantados.



Finalmente, quando o confronto atingiu o seu ápice explosivo e ofegante, as costas de Malfoy bateram contra a porta da sala de aula. Seu cotovelo atingiu a madeira e a varinha saiu de sua mão, deixando um rastro de faíscas fumegante como uma lenha no fogo. Corner moveu o braço para frente em um borrão, parando perto do queixo erguido de Malfoy, tocando a ponta de sua própria varinha fumegante na garganta do menino e congelando ali. A sala ficou subitamente repleta de um silêncio atordoante. Harry trocou olhares com Ron, este também lembrava-se claramente dessa mesma cena algum tempo atrás embora as posições fossem trocadas. O único som agora era a respiração ofegante de Malfoy enquanto ele estava encostado na porta, ficando na ponta dos pés, cabeça inclinada para trás por causa da varinha apontada por Corner.



 - Ouso dizer, para vocês dois -  Mesmero falou sacudindo a sua própria varinha devagar – Vocês são bons, e fizeram bem aprender alguns feitços… mas também seria melhor aprender a quando deve parar... – Nesse instante, ele lançou um olhar gélido para Malfoy que por sua vez com os olhos em chamas basicamente murmurou algo inaudível e com um movimento rápido pegou sua varinha escancarou a porta e saiu da sala sem nem ao menos deixar o professor terminar a aula. Harry assim como Ron ainda boquiaberto com o que viu, foram até o canto mais próximo pegar sua mochila e então começaram a andar rumo a porta dando tempo para que Hermione e Sarah os encontrassem. 



- O que você acha que aconteceu para Corner e Malfoy quase se matarem? – perguntou Ron encarando Harry.



- Boa coisa não é... – disse Harry fingindo procurar algo na mochila enquanto de canto de olho observava Mesmero em uma conversa intimista com o prodígio de duelo.  - ... será que estão com problemas no paraíso?



- Eu ainda acho que Malfoy não esta gostando de ter uma boa concorrência a mal caráter...  – disse Hermione que chegava com Sarah. – Quando foi que vocês chegaram a aula?



- Estivemos aqui o tempo todo Hermione... – respondeu Ron com cara de ofendido - ... OBVIAMENTE não ficamos a vista, já pensou se Mesmero decide colocar a gente pra duelar com aquele maluco?



Harry sabia que Malfoy e Corner eram parceiros. Mas as coisas entre eles não estavam exatamente correndo bem fazia dias. Primeiro haviam presenciado um desentendimento dos dois antes dos exames. E tanto Harry quanto Rony viram o desempenho do garoto no exame prático de feitiços. Ele não era assim tão bom como agora. Tinha alguma coisa acontecendo para ele ficar tão bom assim, ainda mais em feitiços não verbais.



 



***



No final daquela noite, os Centauros começaram a ficar agitados. A floresta proíbida estava inquieta enquanto a vida havia retornado ao que atualmente era considerado normal no castelo. Embora nada tivesse sido falado sobre o acontecimento na aula de Mesmero. Sem muito o que os formandos precisassem fazer a não ser matar o tempo com jogos ou auxiliando os mais novos,  a última semana em Hogwarts chegou e foi quando o verão finalmente quebrou a umidade dos dias de outono sobre o terreno, concedendo os primeiros dias verdadeiramente ensolarados e deixando flores e grama exuberante por todo o lugar. As sessões de estudo na biblioteca finalmente terminaram, e só eram encontrados lá os alunos que por alguma razão, ainda precisavam entregar algum relatório de ultima hora.



 



Cansados das tediosas noites quentes de verão, Simas Finnigan teve a brilhante idéia que rapidamente se espalhou pela escola como um virus extremamente transmissível e perigoso. O Quadribol noturno, apelidado “carinhosamente” pelos seus inventores como “Quadribol da meia noite”. Hermione é claro foi totalmente contra. Chamava de idiotice, e que seus três amigos estavam totalmente loucos. Mas o fato de jogarem após o toque de recolher, com bolas enfeitiçadas para brilhar somente enquanto estavam em jogo, foi uma idéia dela. E com a chegada do verão as noites quentes ficaram muito convidativas. Com a Grifinória em segundo na classificação geral,  contra o time Lufa-Lufa, liderado pelo irreprimível Julien Jackson no campeonato original, Simmas não ficara contente com o resultado quando Grifinória perdeu para Jackson. Movido por isso, ele se motivou ainda mais em elaborar um “quadribol diferente”. Contudo com a criação do quadribol noturno, as regras eram criadas pelos próprios “The originals” como Simas, Dino e Nigel gostavam de ser chamados. Jackson que inicialmente foi relutante em permitir a magia nas partidas, agora estava igual a Simas em sua habilidade de lançar poços gravitacionais e feitiços de fusão óssea. O qual, Simas foi bem claro quando os mostrou nos jogos americanos o Quodpot, OBVIAMENTE mais elaborados.



Além disso, Simas tinha começado a estudar revistas obscuras Quodpot e outros jogos dos Estados Unidos para aprender todos os novos feitiços que conseguisse, incluindo uma versão desagradável do Knuckler que fazia com que os dedos de uma pessoa flexionassem para trás (tornando-o impossível segurar a goles ou um bastão batedor) e um feitiço fantasma que criavam duplicatas aleatórias do jogador que o lançou, sem nenhuma maneira de saber qual era o original. Ele também ensinou os feitiços para seus companheiros de equipe, (Ron, Sarah, Harry, Nigel, Lino, Dino) mas os protegeu vigilantemente de serem descobertos por qualquer outra equipe. Chegou a um ponto em que alguns alunos escapavam no meio da noite especialmente para assistir. OBVIAMENTE, haviam restrições. Nenhum professor sabia sobre o quadribol da meia noite e é claro, todos os alunos já tinham ouvido falar. Harry achava que tinha visto a professora Sprout disfarçada ir ver o desempenho da Lufa-lufa. Sarah afirmava com toda a certeza de que sua tia, Minerva sabia sobre os jogos, mas fingia não saber. E que também assistia da sua maneira ao desempenho da equipe da Grifinória. Harry ficou irritado certa vez com a devoção Simas da equipe noturna de quadribol, principalmente porque se sentia muito distraído para fazer ele mesmo o esforço de conhecer mais sobre feitiços de jogo. De sua parte, Hermione continuou a se irritar com a existência do quadribol noturno, jurando que se algum dia descobrisse quando uma partida iria acontecer, seria seu dever “como monitora e cidadã mágica” entrega-lo aos professores. Rony sempre revirava os olhos para essas proclamações, escolhendo acreditar que Hermione apenas dizia isso por ser seu dever, não por determinação.



Mesmero desapareceu por uma semana inteira antes do seu exame de aparatação. Harry não sabia sobre isso até que um dia as aulas do professor foram canceladas, e em seguida, substituido nos dias seguintes pelo Professora Hooch.



- Doente, segundo me disseram... – Madame Hooch fungou com uma nota de desaprovação. - E contagioso também, colocado em quarentena em seus aposentos sem visitantes permitido. Quanto a mim, espero que sofra de problemas meramente sazonais. alergias ou algo assim. Esta é a temporada. Mas longe de mim julgar a capacidade de outro professor de dar aula enquanto está doente.



Ela passou pela mesa de estudos de Harry e Lino então se inclinou para o lado e sussurrou:  - Ouvi dizer que ele está com varíola de dragão. Espirrando pelas entranhas pelos ouvidos e por todos os outros orifícios!



- Você é nojento... – ralhou Lilá Brown revirando os olhos.



- Eu aposto a vocês que ele está apenas sem vontade de dar aulas... ou alguém sabe exatamente o que ele ensina em Defesa? – Agora era a vez Dino Thomas perguntar – Até agora eu não vi nada de bom vindo daquele cara... alias ele me dá arrepios...



Mais tarde naquela noite, Rony e Hermione escaparam pelos corredores para Porta de Mesmero. Eles realmente podiam ouvir o inconfundível som de espirros angustiantes vindos de dentro com força suficiente para sacudir a velha porta.



- Podemos conseguir alguma coisa para você, professor? – disse Hermione batendo na porta.



Eles esperaram, mas Mesmero não respondeu. Alguns segundos depois, outro espirro forte balançou a porta. Hermione olhou para Ron, seu rosto marcado pela suspeita. Mais tarde reunidos na sala precisa, ela começou a narrar o que havia ouvido.



- Algo estava realmente espirrando nos aposentos de Mesmero... – disse ela, mas não era o professor. Talvez fosse algum tipo de gravação, ou mesmo um Agoureiro treinado para repetir o mesmo barulho aleatoriamente.



- De qualquer jeito, o professor não estava lá. – garantiu Ron.



- Também não vi Corner ou Malfoy desde a última aula dele... – disse Sarah.



E Harry teve a terrível sensação de que ele sabia onde ele estava. Mesmero estava se encontrando com Malfoy e Corner. Eles foram finalmente completar sua tarefa, fazendo seja lá o que quer que fosse.



- Talvez já tenham feito seja lá o que fosse?- Ron perguntou em um sussurro.



- Teríamos percebido isso. Não é? – Harry respondeu balançando a cabeça negativamente. - A questão toda é que se tivessem feito alguma coisa usando uma magia tão forte, nós sentiriamos alguam coisa? Mas nada mudou.



- Ainda... – advertiu Sarah – Só porque ainda não sentimos diferença não quer dizer que não estejam fazendo alguma coisa...



Ron apenas encolheu os ombros. Assim como ele, o amigo estava preocupado. Todos estavam. Porém a verdade chegou a Harry nesta mesma noite, enquanto ele corria o corredor em direção a sala da professora Sinistra para entregar suas autorizações para o passeio ao povoado de Cork. Algo pequeno e forte ricocheteou na parte de trás de sua cabeça, assustando-o tanto que ele quase deixou cair os papeis. Ele parou e se virou, batendo com a mão livre na nuca. No chão atrás dele, um pequeno distintivo brilhava ao sol. Tinha o formato de um escudo e estava gravada com a palavra “monitor”. Quando ele deu por si, o distintivo que estava caído, girou e voou para trás no ar. Acertou a mão esperançosa de Draco Malfoy, que estava parado na parede oposta, com a varinha na mão. O menino sorriu para Harry, seus olhos semicerrados maliciosamente. A sua direita, Pansy Parkinson riu, Gregory Goyle fez uma careta para Harry, à esquerda de Malfoy, com o queixo erguido em desafio.



- Ora seu...  - Harry começou a dizer, seu rosto esquentando de raiva. – Qual é seu problema!?"



As palavras saíram muito mais altas e com força do que ele pretendia, fazendo com que os alunos próximos parassem, e os encarassem.



- Não fizemos nada... - disse Goyle, com a voz anasalada, alta e presunçoso. - Você tem narguilés no cérebro, só isso. Eles apenas estavam querendo sair.



Rindo, Malfoy prendeu seu distintivo de volta nas vestes. - Ande, Potter. Antes de ficarmos irritados e relatarmos toda a sua estúpida liga noturna de quadribol às autoridades.



– Isso se já não fizemos.  – gracejou Parkinson.



Harry sabia que o garoto estava tentando irritá-lo e sabia igualmente bem, que  não deveria deixá-lo conseguir isso. Mas ele estava farto, já estava se sentindo impotente em relação a tantas outras coisas. Notou o peso da varinha em suas vestes e ansiava por puxá-la, brandi-la para aquele FBO (Filhote de Basilisco Oxigenado) idiota e seus aliados.



            - O que o quadribol noturno significa para ele? – Parkinson zombou. – Isso é coisa do imbecil do Finnigan e aqueles debilóides... Potter é acostumado a fazer outras pessoas pagarem por suas ideias estúpidas. Às vezes ele até deixa outras pessoas morrerem por ele.



Harry sentiu uma ponta de gelo percorrer sua espinha com as palavras de Parkinson. Ele ficou imóvel por um momento enquanto todos os olhos atentos se voltavam para ele. Os corredores começavam a pipocar com alunos saindo de suas sessões noturnas. Ele abriu a boca para responder, mas Goyle falou primeiro, levantando-a voz estridente em uma paródia de tristeza.



- Oh, boo-hoo, meus pais estão mortos... - Goyle falou maldosamente, baixando a cabeça e levando a mão até o peito gigantesco. - Todos sentem pena de mim... porque matei minha mãe... meu pai.... até mesmo quem não tem nada haver com isso... Cedrico Digory... tudo porque.... adoro me intrometer em coisas que eu não tinha direito! Eu sou um herói trágico... Quem mais quer morrer para provar isso? – Seu olhar se afinou como navalha quando pronunciou as palavras - ... Sua namoradinha?



- Cala já essa matraca Goyle... ou eu mesmo a calo... – Harry ouviu a voz de Sarah vindo do alto da escada.



- Uhhhhh precisa da sobrinha da Velhota para te defender Potter! – grasnou Malfoy rolando a varinha entre os dedos.



- Você chamou minha tia do que? – Sarah desceu o restante da escada em um segundo. Enquanto Malfoy apontava a varinha em direção a garota.



As mãos de Harry moveram-se por vontade própria. Quando deu por si, sua varinha estava apontada para Malfoy, então Goyle caiu na gargalhada, cego para a abordagem furiosa de Harry.  Apenas  Parkinson viu e respondeu, apontando sua própria varinha para frente e



apontando para o rosto de Harry. Ambos atiraram ao mesmo tempo. Harry, uma maldição explosiva; Parkinson, uma azaração do corpo preso,  e ambos os feitiços foram lançados no espaço entre eles, iluminando as paredes e rostos dos observadores surpresos com brilhantes vermelho e roxo elétrico. E naquele exato momento, um terremoto sacudiu o chão, forte e repentino. As janelas chacoalhavam nas molduras. As gramíneas além estremeceram, ondulando pelo terreno. As folhas chacoalharam com as árvores na Floresta Proibida e pássaros assustados voaram em nuvens de seus ninhos. E o mais absurdo de tudo,  nenhum dos feitiços dos garotos atingiu o alvo.



Enquanto Harry observava, as maldições pararam no ar, pairando e crepitando com energia, como se de repente estivesse suspenso no ar como gelatina. Houve um silêncio total, além do zumbido latejante do feitiços parados no meio do percurso. Ninguém nunca tinha visto ou sentido tal coisa antes. Harry teve um momento para se perguntar se algum professor estava envolvido. Olhou ao redor, para ver se algum adulto estava por perto com varinha em sua mão, exercendo algum tipo de força mortífera sobre as maldições precipitadas dos alunos desobedientes.



Mas não tinha ninguém a vista, nenhum professor ou empregado ou até mesmo diretor no corredor. Cautelosamente, Samuel Donovan, um corvinal do sétimo ano passou através do multidão de observadores atordoados, aproximando-se dos feitiços crepitantes onde eles estavam suspensos no ar. Ele ergueu sua varinha para eles, menos como um instrumento magico, e mais como um galho de árvore para cutucar uma aranha para ver se estava morta.  Quando a ponta de sua varinha se aproximou do “zumbido” do Feitiço de Harry,  ele tremeu, xacoalhou e se desintegrou em poeira brilhante caindo inutilmente.



Uma fração de segundo depois, o feitiço de Parkinson fez o mesmo. O silêncio que se seguiu foi ofegante e confuso. E então, o silêncio foi interrompido por um coro de gritos distantes e uivos de surpresa. Como uma onda única, a multidão de estudantes correu para as janelas ao longo do corredor, olhando a luz do sol do final de tarde. Harry não viu nada a princípio. Então, com um sobressalto, ele avistou algo caindo em direção ao Campo de quadribol. Era uma pessoa em uma vassoura, caindo de ponta a ponta, seguido por mais dois e alguns balaços, eles estavam caindo como pedras. Eles passaram por uma orla de árvores, poupando a todos de vê-los caindo no campo abaixo.



- Suas vassouras falharam... - disse Sarah em voz alta trocando olhar com Harry.



- Eles estavam treinando para o jogo de amanhã, não eram os sonserinos? – disse outro aluno mais para frente. - E suas vassouras cairam! Você viu isso?



Harry ainda estava com a varinha na mão. Ele ergueu-o de repente. – Lumos!- ele ordenou com uma voz seca. Nada aconteceu. Sua varinha se projetava inutilmente em sua mão, morta como um pedaço de pau.



Ele ergueu os olhos, o pavor enchendo seu peito de repente, e seu seu olhar encontrou o de Sarah enquanto Rony e Hermione avançavam no meio da multidão, chegando ao lado ele.



- Vejam! - Nolan Boot do quarto ano da Lufa-Lufa disse de repente, apontando para o janela novamente. – Vocês conseguem ver?



Harry pressionou o rosto contra o vidro novamente enquanto Rony se aproximava com Hermione ao seu lado. Desta vez foram as estufas. Elas estavam tremendo como se estivessem no meio de uma tempestade de vento de modo que suas vidraças vibrassem e rachassem. Algumas começaram a quebrar em alguns lugares, seus cacos foram destruídos por  tentáculos folhosos e vinhas espinhosas que começaram a se desenrolar pelas rachaduras. Quaisquer que fossem as plantas capazes de locomoção, eles batiam no vidro, esforçando-se para se soltar, rompendo e socando em massas contorcidas e retorcidas.



A professora Sprout irrompeu pela porta do centro estufa, as vestes rasgadas, vinhas verdes enroladas nos braços e nas pernas. Ele deu um tapa em algumas, puxou-as e jogou-as no chão, pisando nas partes contorcidas e sacando sua varinha. Ela apontava de volta à estufa, pareceu querer lançar um feitiço e então ergueu a varinha, examinando-a com surpresa silenciosa, pois nada aconteceu.



Mal sabia Harry, que naquele momento, a extensão do evento como seus vários efeitos atingiram o mundo inteiro. Nas proximidades de Hogsmeade, um grupo de três caminhantes trouxas tropeçou numa rua no meio de uma trilha, tendo de repente encontrado  uma misteriosa aldeia onde apenas árvores densas e arbustos existiam momentos antes. Eles entraram pela porta destrancada do Três Vassouras, olhos arregalados e queixo boquiaberto, como Madame Rosemerta quando os chamou impotente -  Quem são vocês? Vocês não deveriam estar aqui!



Em Londres, o muro de tijolos que separa o Beco Diagonal da cidade trouxa propriamente dita rachou, curvou-se e depois desabou. Uma chuva de poeira, tijolos secos e argamassa. O proprietário do Caldeirão Furado, um velho bruxo com nariz do tamanho e textura de uma laranja, espiou pelos fundos de seu estabelecimento, deu uma olhada na parede demolida e depois saiu correndo pela frente, emperrando um velho boné de pescador na cabeça e deixando uma placa balançando na porta trancada porta da frente:



FECHADA ATÉ SEGUNDO AVISO, OU FIM DO UNIVERSO,



O QUE CHEGAR PRIMEIRO.



Na cidade de Leeds, milhares dos habitantes trouxas ergueram os olhos para o breve tremor que sacudiu a cidade, eles piscando ao ver inúmeros sinais e estabelecimentos estranhos à medida que se materializavam por toda parte e no topo da cidade trouxa, junto com vias suspensas de ônibus voadores e condutores de vassouras, muitos agora lutando para permanecer no ar enquanto o campo mágico do mundo tremeluzia desastrosamente. Um desses trouxas, um velho taxista de ascendência paquistanesa com um boné de tweed pressionado sobre seu cabelo grosso e grisalho, suspirou e balançou sua cabeça cansada. – Eu tenho de parar de beber..., ele murmurou para si mesmo, enquanto gritos de admiração e o terror começaram a surgir nas ruas ao redor.



Mais ao sul em uma pequena cidade trouxa, fora destruído por um terremoto, as ruas inflando e as janelas quebradas por quarteirões em todas as direções, um minúsculo terreno baldio cercado por um velho muro de pedra subitamente expandiu, explodindo em de vários blocos quadrados, como se um erumpente tivesse entrando em num ônibus. Os veículos pararam bruscamente ou colidiram ums com os outros enquanto as ruas se reorganizavam, quarteirões inteiros reposicionados, as placas de rua giraram, reorientaram e ganharam nomes inteiramente novos. E acima de tudo, uma tempestade repentina lançou ondas de núvens de água fervente sobre a cidade, girando e espiralando sobre um único ponto de escuridão, formando uma espécie de bússola que não apontava para o verdadeiro norte, mas para centro sobre o qual a roda do tempo e do destino virou um dispositivo estranho e antigo enterrado nas profundezas da terra. Na escuridão abaixo, sessenta metros abaixo, cercado por chuva de areia e pedras gemendo, pontes e escadas de ferro inclinaram-se, desmoronaram e começaram a cair sobre si mesmas, duas vozes se chamavam alarmadas e chocadas.



- Será que funcionou? – um jovem bruxo gritou, seu cabelo grisalho coberto de poeira, seus olhos selvagens de horror e surpresa. – Ela voltou?



- E como é que eu vou saber? – outro bruxo um pouco mais velho ofegou, seu rosto sangrando por um corte largo na testa. Ele mancou até o garoto vindo da ruína onde suas folhas de latão e cristal estavam deformadas sobre si mesmas, ou quebrando ou derretendo em lama brilhante pela força da explosão mágica que acabara de abalar a terra inteira. – Seja lá o que tenha acontecido, alguém, de alguma forma... sabia que estávamos vindo. Eles criaram uma reação em cadeia. Isto foi acionado no momento em que nos aproximamos isso acionou o feitiço...



Atrás dele e ao redor, as paredes tremiam violentamente. Um alto rugido ecoou acima de suas cabeças enquanto os níveis começavam a desmoronar um sobre os outros como dominós, desintegrando e esmagando milhares de antigas relíquias de valor inestimável e suas memórias armazenadas.



- Mas como isso é possível! Por que eles teriam arriscado  a nos parar se isso tudo foi idéia deles? – dizia o jovem bruxo furioso e desesperado.



O bruxo mais velho agarrou o braço dele e começou a afastá-lo do lugar destruído. Um emaranhado de fios desgastados e tapeçaria rasgada fumegava da ruína. O próprio lugar nada mais era do que um fumegante quarto abafado.



- Não importa! Agora não! Devemos ir antes do o lugar inteiro caia sobre nossas cabeças! – repetiu o bruxo mais velho.



- Não! – o rapaz gritou de fúria, imóvel como pedra, com os olhos fumegantes como gelo seco. - Não podemos até ser concluído! Eu não posso ficar parado esperando!



- Existe outra maneira de saber! – o bruxo respondeu, sacudindo-o e fazendo-o olhar para o rosto dele. – Se não tiver dado certo... se não tivermos tido exito... existe outra maneira... vai custar muito, mas há uma última opção que eu nunca te contei! Um último e definitivo recurso! Mas apenas se formos embora agora!



O jovem bruxo olhou para ele, parecendo querer esfola-lo vivo, seus olhos brilhando de raiva. E então, com uma expiração trêmula, o brilho ofuscante sumiu e ele era apenas um jovem de novo, tremendo, sujo e sangrando por meia dúzia de arranhões irregulares. Tremendo, ele perguntou: - Ainda há outra maneira?



- Uma maneira terrível... - admitiu o bruxo mais velho com relutância, espalmando sangue de seu rosto. - Uma maneira indescritível. Um caminho para abrir dimensões que ninguém jamais tentou antes porque o custo será caro. Mas se sairmos deste lugar agora, talvez possamos realizá-lo.



O lugar começou a afundar ao redor deles. Cada superfície borrada e inclinada, quebrada e sacudindo. A agonia da morte do lugar subterrâneo soava um rugido insistente, crescendo, sacudindo e ouvido no ar. Os dois sairam em disparada pela caverna. Muito acima, a terra cedeu. Seus pilares circundantes inclinado para dentro, caindo pesadamente no enorme poço abaixo, mesmo quando um vulcão de poeira e areia explodiu, chegando à fervura das nuvens bem acima. À medida que a destruição dessa pequena cidade ia se concluindo, as coisas ao redor do mundo começaram a voltar a ser como eram, a existir e se reafirmar. O pequeno terreno e sua parede de pedra voltou à sua minúscula forma original, sugando e quebrando mais janelas, corrigindo as ruas indisciplinadas, e deixando os trouxas atordoados e tontos, piscando e estupefato. A cidade mágica que aparecera em Leeds desapareceu novamente, engolido de volta pelo seu novo campo de sigilo reforçado. O velho taxista paquistanês estava parado dentro de seu táxi amarelo com a porta aberta, olhando em volta enquanto observadores atordoados franziram a testa, perguntando uns aos outros sem palavras se todas aquelas visões estranhas realmente estiveram lá, ou eram apenas mais uma ilusão em massa. O táxi balançou quando um homem caiu no banco de trás, batendo a porta atrás dele. O taxista paquistanês inclinou-se e olhou para a traseira de seu carro. Lá, um homem magro com um sobretudo e um velho chapéu Fedora encontrou seu olhar, seu rosto tenso, mas composto.



 - Vou pagar a você cem dolares para nos tirar da cidade o mais rápido como este barco pode navegar -  disse ele, segurando um fino maço de notas.



- Qual direção? — perguntou o taxista, um pouco sem fôlego.



- Qualquer direção... - respondeu o homem. - E se você for inteligente, meu amigo, você não vai voltar depois.



A alguns kilometros de distância, atrás do Caldeirão Furado, a pilha de pedaços quebrados tijolos estremeceram, vibraram e, com alguma dificuldade, começaram a remontar-se numa parede, mais uma vez, fechando o Beco Diagonal de olhares trouxas curiosos. Hogsmeade brilhou e desapareceu na impossibilidade de ser mapeada novamente, deixando os três caminhantes deslumbrados e confusos, tendo momentos antes, estavam discutindo em voz alta com Madame Rosemerta sobre o uso de seu telefone aparentemente inexistente. Agora, eles estavam apertados em um matagal tão denso que parecia forçá-los fisicamente a recuar, tropeçando, arranhado por espinhos e sarças desagradáveis.



E nas estufas de Hogwarts as plantas enlouquecidas começaram a se acomodar, retirando-se lentamente, retraindo suas vinhas em cachos tímidos. Pendurada na mão atordoada de Harry, sua varinha de repente e silenciosamente explodiu em chamas, brilhando com o feitiço Lumos que ele havia invocado momentos antes. Atordoado e profundamente preocupado, ele ergueu a varinha e olhou para ela. Sarah ergueu os olhos da varinha em suas mãos para seu rosto.



- O que é que foi isso? - ela perguntou em um sussurro, quase murmurando as palavras.



Harry balançou a cabeça fracamente. Ele não tinha ideia, embora tinha a sensação de que saberia a verdade em breve. Olhou para a multidão de alunos, Malfoy e sua trupe não estavam ali. Algo então lhe ocorreu de que, fosse o que fosse que tivesse acabado de acontecer, era o começo do fim.



 



***



No final da manhã seguinte,  quando todos se reuniram para o almoço, o assunto mais comentado era o motivo de toda magia ter “falhado” nunca fora ouvido na história da magia algo do gênero. Tanto Harry, quanto seus amigos estavam quase certos de que isso tudo tinha haver de certa forma com o tal feitiço de Morgana. Estranhamente o Profeta Diário não havia sido enviado a ninguém aquela manhã, e isso deixou também Hermione intrigada.



- Mas como se pelo que sabemos... ela está morta a séculos? – perguntou Ron encarando, Sarah, Hermione e ele enquanto saíam da sala comunal. – A não ser que queiram reviver uma múmia, não sei como ela pode ter algo a ver com isso.



- Talvez não ela... – disse Hermione - ... lembra do que Harry nos disse sobre o descendente de Salazar Sonserina?



- Não importa realmente o que tenha acontecido... – disse Sarah - ... seja lá o que tenha sido, foi algo muito forte a ponto de extinguir a magia por completo... mesmo que tenha sido por poucos minutos. Se isso não é preocupante...



- Sarah tem razão... – respondeu Harry, sua voz em tom de preocupação - ... essa magia tem de ter sido muito poderosa se conseguir fazer isso. Sem mencionar que não tivemos nem um aviso da escola sobre tal evento...  



- E nem o Ministério se pronunciou... – falou Hermione pegando no braço de Sarah é muito estranho a magia se esvair por completo do universo e ninguém falar nada sobre o assunto.



- E o que vamos fazer?  – disse Rony. – Sair e perguntar por ai?



- Definitivamente não Ron...   – respondeu Hermione cerrando os olhos tentando pensar - ... se sairmos perguntando por ai vão acabar nos culpando de alguma coisa. Já passamos por isso.



- Precisamos saber onde é que estava o Corner... – disse Sarah – Não sei se Malfoy sabia de algo pois desapareceu assim que a confusão começou...



- Ou ele era apenas uma distração... – respondeu Harry.



Ao entrarem no salão principal, os meninos ficaram surpresos em encontrar alguns dos examinadores do ministério ainda transitando pelo castelo. Conhecia alguns deles de vista, afinal, Hermione tinha feito Ron, Sarah e ele decorarem os nomes de seus avaliadores para “causar uma boa impressão”. Maurice Toftten foi seu orientador em Herbologia. Um homem alto e magro, totalmente diferente da professora Sprout que sempre estava suja (não propositadamente é claro) com alguma folha de erva no cabelo ou mancha de terra em suas vestes. Sr. Toftten na realidade, era alto, bastante magro. Tinha certeza de que se Sírius estivesse vivo, o chamaria de “Varinha com pernas” mas decidiu manter esse apelido apenas para si mesmo. Agatha Thinkgress, ao contrário era tão corpulenta e “rosa” quanto a “inquisidora” de Hogwarts no seu quinto ano. Dolores Umbridge. Embora um pouco menos desagradável. Mas era difícil não notar a desagradável lembrança. Ela por sua vez, fora a examinadora de Transfiguração. Ele conseguira com perfeição transfigurar seu porco espinho em uma almofada para alfinetes, mas quando exigiu que tentasse algo mais elaborado. Ele não conseguiu com perfeição. Seu bule de chá ainda ficara com uma cauda emplumada no fim. Contudo não fora tão mal na sua avaliação de Feitiços conseguindo conjurar um patrono com perfeição. O que deixou seu avaliador muito satisfeito. Honorico Damian era seu nome. Um senhor sorridente, com bochechas protuberantes e com pouco cabelo. Mas como era de se esperar, o assunto sobre o “fim da magia” mesmo que por minutos acabou tomando as mesas e rodas de amigos.



- O que esse povo todo da cúpula está fazendo aqui? – ouviu Simas Finnigan perguntar a Ron enquanto almoçavam. – Achei que a semana de NIEMs já havia acabado!



- Provavelmente estão aqui pelo que houve ontem... – disse Ron mas Hermione balançou a cabeça negativamente.



- Até não realizarmos o último exame de Astronomia, os N.I.E.Ms não terá terminado... – respondeu Hermione encarando a mesa central que estava com mais gente do que de costume. Desde o sumiço de Dumbledore, a alguns meses Harry sentia que embora tivessem tido visões estranhas ou algumas informações desencontradas, achava que esse suposto sumiço tinha tudo a ver com esse feitiço de Morgana. Mas não quis comentar nada a princípio. Tinham de se aprontar afinal, o festival seria no dia seguinte. E tudo indicava que deveriam estar preparados.



- O que você tem? – perguntou Sarah encarando o garoto enquanto ele olhava para o prato sem tocar na comida.



- Apenas pensando em como evitar seja lá o que está prestes a acontecer... – disse ele.



- E quem disse que você é quem tem de evitar alguma coisa? – perguntou Sarah o encarando.



Harry encarou Sarah com uma sobrancelha arqueada.



- Você não está sozinho, nós... – então ela olhou para Ron, Hermione e voltou a encarar ele. - ... nós podemos ajudar.



- Sarah está certa Harry... NÓS vamos fazer alguma coisa. – disse agora Hermione. Harry não conseguiu evitar sorrir nessa hora. Era realmente bom ter pessoas leais e que não se importariam de pular no abismo com ele, embora ele não quisesse que eles fizessem isso.



- Vai ser muito perigoso... – disse ele, mas Rony dessa vez sorriu.



- E quando não é? – respondeu Ron em meio a um sorriso. Nesse instante todos começaram a rir. Sem motivo aparente, mas, embora estivessem próximos de uma batalha, Harry estava realmente feliz por não estar sozinho.



- Acho melhor eu e Sarah irmos em busca de informação... – disse Hermione.



- E onde você acha que vai conseguir alguma informação verdadeira? – perguntou Rony. – A professora Sinistra? Talvez ela tenha “visto” alguma coisa... sabe... nas estrelas e no cosmos...



- Só os Centauros fazem esse tipo de previsão... – disse ela dando um beijo na bochecha de Ron e meneando a cabeça - ... Mas posso tentar com a substituta da Trelawney...



Sarah levantou-se também embora Harry tenha segurado sua mão e praticamente a puxado para um beijo rápido nos lábios antes que ela pudesse fugir. Assim que as meninas saíram pelas portas de carvalho, os meninos também se levantaram.



- O que você acha de jogarmos uma partida de snap explosivo enquanto esperamos as meninas? – perguntou Ron colocando mais um bolinho de caldeirão inteiro na boca.



- Sr. Potter?  - os meninos se viraram para ouvir quem estava chamando por Harry e então puderam ver uma senhora muito distinta, com um casaco de vizon roxo fosforecente se aproximar deles. Ele podia dizer que se não soubesse que professora Minerva tinha apenas um irmão, essa senhora passaria muito bem por uma versão mais glamurosa e snobe da sua professora de transfiguração.



- Sim... – respondeu ele sem saber ao certo com quem estava falando.



Ela então se aproximou juntamente com um pequeno elfo doméstico que fizera uma reverencia.



- A condessa Eunice Vandergriff de Blackbrier -  proclamou ele altivamente.



 



A senhora andou imperiosamente em seu conjunto cor de vinho, as costas retas como se estivessem presas a uma vareta. O nariz empinado e olhar de soberba a todos a sua volta. Seu salto batendo no chão de pedra, aparentemente feito para anunciar sua chegada.



- Sr. Potter... – agora era a professora Minerva quem se aproximava – essa é a Condessa Vandergriff, ela foi responsável para que os alunos do sétimo ano fossem ao festival das estrelas.  Este é o Sr. Harry James Potter.



- Oh... muito prazer em conhece-la er... Senhora... – disse Harry estendendo sua mão.



Os olhos da condessa estreitaram-se ligeiramente nos cantos e ela pareceu suprimir um pequeno sorriso conhecedor.



- Você pode me chamar de Lady Blackbrier, que é meu título menos formal -  disse a condessa, estendendo a mão enluvada com a palma para baixo. Harry apertou-a timidamente pelos dedos. Ela parecia contente com isso. - E eu vou chamá-lo de Harry, em vez de pelo seu nome mais formal ou seu título...



Harry piscou um pouco para a mulher, que o olhou com um olhar ligeiramente curioso.



— Meu título mais formal, senhora... quero dizer, er, Lady Blackbrier? – perguntou Harry sem entender o que ela quis dizer com “titulo formal”. Até então ele não tinha idéia alguma de que alguma vez tivera algum título nobre na vida.



- Certamente que sim! -  ela respondeu suavemente. - Você é o herdeiro do senhor da propriedade Black de Grimmauld, não é?



            - Er... -  Harry franziu a testa, repetindo as palavras dela em sua cabeça. Foi isso possível que ela quisesse dizer Grimmauld Place? - Eu acho...  – então olhou para a professora McGonagall que apenas confirmou com um aceno discreto de cabeça – er... que sim? -  ele respondeu.



 - Então... – ela falou pomposamente - ...pela lei, isso faz de você o futuro Conde de Black Downing, se não estou errada. – ela então dera um pequeno sorriso tão brilhante quanto o de Lockhart no seu segundo ano - E tenho certeza de que não. - Ela ergueu sua sobrancelha esquerda um pouco mais alta, dando a Harry a impressão de uma pessoa majestosa. Como consegue cuidar da Mansão Negra em Grimmauld Place enquanto cumpria seus prodigiosos deveres escolares? - ela perguntou com certa curiosidade e seus olhos brilhando.



Harry a encarou tentando pensar por um minuto em uma resposta suficientemente boa, ou pelo menos que ela quisesse ouvir. Ela apenas levantou queixo e baixou os olhos para suas luvas, estudando seu prisma de luz carmesim.



 - Oh, bem hum... - Harry começou falando o mais cuidadosamente possível. A resposta, claro, foi que ele na verdade não se importava realmente com o velho lugar, como tal, depois da morte de Sírius aquele lugar passou a ser mais um esconderijo para a Ordem do que qualquer outra coisa, tanto que Dumbledore agora era o fiel do segredo. Havia um criado Elfo, chamado Monstro, que precisava de vigilância constante, e como Dumbledore o havia advertido, era melhor ficar de olho nele. Sempre que era possível, alguém da Ordem passava apenas dava uma olhada e garantia que tudo ainda estava seguro. Monstro ficava grato quando não se tinha ninguém que como ele dizia “não pertencia a família Black”, claro, já que só ele parecia nutrir uma espécie de afeição teimosa para a mansão bolorenta e imponente.  – Eu tenho ajuda. Herdei com a casa um elfo doméstico que a mantém em bom estado, mais ou menos, sempre que preciso ir até lá.



- Elfo doméstico... – a senhora suspirou para si mesma melancolicamente, marcando o queixo um pouco mais alto, ainda olhando para seu anel com uma pedra exageradamente grande. - E com que frequência você vai lá, na verdade?



- Algumas vezes por ano, eu acho. – respondeu Harry encolhendo os ombros. Na verdade ele não ia até lá. Mas por algum motivo, ele achou melhor a senhora não saber disso. -  Como sabe, nos dias de hoje... Mas... a casa, parece um pouco menos... velha e úmida, desde a última vez que a vi... Er... Se a senhora souber o que quero dizer... – então trocara olhares com sua professora McGonagall em busca de socorro.



- Bem... Lady Blackbrier, como sabe o jovem Sr. Potter ainda mora com seus tios trouxas. É ainda considerado um bruxo menor de idade... e em respeito a eles, costuma sair somente quando lhe é permitido... – respondeu a professora McGonagall profissionalmente.



- A aristocracia mágica não é como a aristocracia trouxa, jovem mestre Harry. - Lady Eunice suspirou rapidamente - Não posso culpar seus tios por não saberem disso. Eles muito provavelmente não receberam a educação adequada para as responsabilidades de sua posição, embora se espere que eles possam ter feito algumas pesquisas nos anos seguintes...



Harry tinha a mais completa certeza de que seus tios não tinham feito coisa alguma. Até porque se eles se que quer sonhassem que ele “tinha algum título”, esconderiam dele com certeza e dariam um jeito de tirar proveito disso. A Condessa virou os olhos para Harry agora, estudando-o antes de continuar.



- Os fios da nobreza mágica são cada vez menos e mais tênues a cada geração que passa. E ainda assim, isso apenas torna o seu significado restante ainda maior. O sobrenome Black,  A mansão Black não é apenas uma casa vazia, “velha e úmida”, como o Senhor observou... – Nessa hora, Harry teve certeza de que a resposta que dera não era a que a Lady queria ouvir - ... O título do último dos Blacks, que pelo que sei era seu padrinho e que você herdará, não é simplesmente um nome e um documento. A nobreza mágica é bem diferente dos trouxas porque seu título é uma responsabilidade, pois é aquele que vem com um grande e poder secreto.



Harry sentiu-se momentaneamente capturado pelo olhar penetrante da mulher. Tanto que até mesmo, a professora McGonagall agora tinha uma postura mais séria. O garoto conhecia BEM aquele olhar. Sarah tinha o mesmo olhar quando queria saber algo importante.



- Poder, senhora? – perguntou ele praticamente sabendo que era isso que sua professora de Transfiguração provavelmente perguntaria. Ela assentiu, ainda estudando-o severamente.



- Poder, de fato. Mas não o poder da propriedade, nem a posição, nem da terra. A mansão Black em si é um mero símbolo. – Ela então olhou para uma das mãos admirando um dos vários anéis que havia em seus dedos - ...Não, quando nós da nobreza mágica falamos de poder, queremos dizer isso no sentido mais verdadeiro e primitivo da palavra. Somos guardiões, Mestre Harry. Nosso direito é a responsabilidade de certas forças profundamente elementares. Mas nem todas foram mantidas. Alguns foram perdidos inteiramente, negligenciada ao ponto da impotência e esquecido na história.



Ela suspirou profundamente, resignada. Harry ficou intrigado, apesar de tudo. Mas respeitosamente não conseguiu evitar a pergunta.



- Que tipo de forças? – perguntou ele.



Lady Eunice relaxou um pouco e permitiu que seu olhar flutuar pelo salão.



- Poucos falam sobre isso. Poucos, mesmo entre os do próprio meio, respeitam ou lembram. Mas uma vez houve o Marquês de Rosemberg cujo o significado era o amor puro. Foi esse título que guardou e preservou as marés de eros. Perdido agora ao longo dos tempos, o amor ainda existe sem as nobres ministrações do título, e sempre existira, mas cada vez mais contaminadas e diluído, aleatório e desvinculado de seus núcleos mais profundos. E há muito mais tempo existia o Barão Greene, dotado com os limites da ambição, moderando a oferta e a procura de ciúme, rivalidade, ganância e inveja. Agora, sem a sua contabilidade, tal influências correm desenfreadas, descontroladas, invadindo a natureza humana como um erva daninha. E até o início deste século houve o Duque de Goldenrod, guardião da balança da coragem e covardia…



Harry olhou para a mulher mais velha enquanto ela falava, sem entender direito a magnitude do que ela estava dizendo, mas um detalhe o impressionou a ponto de deixar escapar, interrompendo-a no meio da frase. - Mas, os sobrenomes de todos tem cores…



Lady Eunice voltou seu olhar para ele, estreitando seu olhar em seus olhos verdes. Ela esperou, observando enquanto o significado dessa constatação se instalava sobre ele. A mente de Harry girou por um segundo. Finalmente, ele olhou para a mulher mais velha novamente, encontrando seu olhar.



- Você está dizendo... – disse ele - ... que Grimmauld Place não é apenas uma casa velha... -  e então abaixou o tom de voz - E Black… não é apenas um nome. É isso?



- Black é a cor do elemento da força... - Lady Eunice assentiu uma vez, lentamente.  - ... que é sua responsabilidade familiar.



Harry piscou para ela, seu cabelo arrepiando atrás da nuca. Ele franziu a testa, e trocou olhares com Minerva que parecia também muito interessada nessa teoria.



- Mas, que tipo de força elemental condiz com o nome Black? – perguntou ele.



Lady Eunice dera um suspiro, como se contente que Harry tivesse feito a pergunta.



            - Isso, jovem Mestre Potter... - ela respondeu, novamente examinando seu anel - é seu dever descobrir. Quando chegar o dia e o título passar para você.



Os ombros de Harry caíram, mas sua mente ainda girava, considerando tudo o que a condessa lhe dissera. O que isso realmente significava? Monstro saberia alguma coisa sobre isso? E que força elemental da natureza humana poderia ser significada pela cor preta? Tirando-o desse devaneio, a voz da condessa inesperadamente disse enquanto se virava -  O que uma senhora precisa fazer para conseguir uma bebida para se refrescar aqui?



O elfo doméstico que acompanhava a condessa agitou-se para fazer o que lhe foi pedido, a condessa então se afastou dele e de sua professora sem nem se quer se despedir. Sua professora, no entanto, apenas acenou com sua cabeça para ele se despedindo. Harry tinha a mais absoluta certeza de que ficar de babá de uma “condessa” não estava agradando nem um pouco Minerva McGonagall. Harry ficou exatamente onde a condessa o havia deixado, os olhos arregalados, completamente confuso. Ele se que sabia sobre qualquer coisa de sua história a não ser é claro o que Sírius e Lupin haviam lhe contado sobre seus pais. E no pouco que conviveu com Sírius, eles mais falavam sobre seu pai do que da própria família Black. O que Harry realmente sabia, era que eram uma família extremamente preconceituosa, rancorosa e que se dependesse deles, não existiriam trouxas. Tanto é, que a basicamente a família toda apoiou Lord Voldemort em seus planos sádicos de tornar os trouxas escravos. Assim como Salazar Slytherin em seu tempo. Novamente fora chamado “de volta” a sua realidade pela voz de Ron.



 - Bem... - disse Ron alegremente com um meio sorriso nos lábios. - Isso significa que devo começar a chamá-lo de Senhor a partir de agora?



 



***



- Robert... – dizia uma bela jovem de cabelos loiros e olhos negros como a noite - ... você tem certeza de que a localização é essa?



O jovem bruxo alto e bem apanhado virou seus olhos azuis e encarou a jovem. Era um auror em treinamento, responsável pela sua equipe. Obviamente que estava certo da localização, havia pego um portal diretamente do Ministério da Magia.



- Só porque saí da Academia de Aurores antes depois de você não quer dizer que eu não saiba como funciona um Portal... – respondeu ele ranzinza. – O próprio Ministro da Magia Albert Travers foi quem me entregou pessoalmente.



A cidade estava praticamente deserta e destruída. No centro, onde uma vez existira o museu contando a história da civilização trouxa, agora havia uma enorme cratera do tamanho de um estádio de quadribol.



- Mas em nome de Merlin... – agora era outro jovem, com cabelos cor de café vestindo um sobretudo azul com detalhes em ciano. - ... o que aconteceu aqui?



Nesse instante, Robert sentiu os pelos de sua nuca arrepiarem com uma rajada de vento cortante. Olhou a sua volta em alerta deixando os seus outros três amigos tão alertas quanto ele.



- Fiquem atentos... – sussurrou ele – não estamos sozinhos...



Foi então que em meio o nevoeiro daquela manhã e a fuligem figuras começaram a surgir. Eles estavam vestindo negro, basicamente da cabeça aos pés. Seus rostos cobertos pelo capuz não deixavam que os identificassem.



- Parem ai em nome do Ministério da Magia! – falou Robert em tom de autoridade. – Quem são vocês e o que fazem aqui?



A figura mais próxima dera uma gargalhada, assim como as outras duas que apareceram logo depois.



- Sejamos sinceros... Você não quer envolver esses jovens legais em problemas. Não é? – a voz do rescém chegado pareceu abafada.



Robert sentiu um gêlo despencar em seu estomago. Ele sabia o que eles eram apesar de ainda não ter visto suas máscaras. Eram comensais da morte, já havia praticado simulações na academia mas nunca enfrentado um frente à frente como agora. Mas não conseguiu evitar pensar, o que eles estariam fazendo ali? Estariam eles envolvidos naquele extermínio?



A ameaça era óbvia.  Robert olhou de volta para Lissa a jovem loira, viu o medo congelado em seu rosto. Sabia que tanto Phill, quanto Yohan e Zane estariam da mesma forma que ele. Se eles não concordasse com este homem, seu destino, qualquer que fosse, teria o mesmo fim.



- Ora... não sejam mal educados... – agora era outra figura encapuzada que falava, a voz era mais fina embora também estivesse abafada - ... deviam responder aos mais velhos...



-  Acho que não... Yohan disse impacientemente, erguendo o punho. Sua varinha projetada apontada para o comensal. - Não tenho nada contra você, amigo, mas pessoalmente estou cansado de ameaças falsas. Acredite em mim, eu os reconheço quando os ouço.



O comensal olhou para a varinha de Yohan mostrando assim finalmente seu rosto mascarado. Robert podia literalmente saber que por trás da máscara, suas sobrancelhas estariam levantadas. Com seu olhar tentou pedir ao amigo e parceiro que não brincasse com coisas sérias mas Yohan era imaturo o suficiente para assim como o comensal, tirar alguém do sério sem esforço.



- É assim que todos vocês se sentem? – Outro bruxo vestido de negro perguntou enquanto surgia das sombras. Um após o outro foi surdindo dos escombros, um tom de decepção em sua voz.



Robert levantou sua própria varinha e se moveu ao lado de Yohan. Ele assentiu. Um momento depois, ele sentiu Lissa e Zane de cada lado, suas próprias varinhas levantadas lado a lado com as dele e Yohan.



            - Sério, Robert? -  Disse o comensal mais próximo - Esta é a posição que você deseja tomar? Arriscar tudo por causa de uma cidade trouxa triste e perdida? Uma cidade com que nem mesmo sua própria espécie pode se importar?



Robert engoliu em seco porém não moveu nenhum músculo, apenas apertou ainda mais sua varinha.



- Você realmente deveria considerar... -  disse o Comensal passando os olhos de um a um  - deveria escolher suas batalhas com mais sabedoria.



O bruxo então ergueu os braços, mostrando-lhes as palmas brancas das mãos, como se fosse fazer um truque de mágica. E então, com um gesto bem complicado, uma fumaça preta começou a sair de suas mangas penduradas. A fumaça redemoinhou, condensando-se em gavinhas e depois desmoronando horrivelmente em formas. Duas criaturas surgiram da fumaça, ambas mais altas que o próprio comensal, e ambas igualmente terríveis.



- Você ainda não deve ter ouvido falar sobre o Wendigo... -  o comensal disse calmamente.  - É nativo dos Estados Unidos, antigo e estava quase extinto à fome. Até que um certo feiticeiro associado a nós os reviveu. Eles são espíritos canibais. E como você pode ver... eles estão com muita.... muita fome.



Os Wendigos pareciam humanos horrivelmente magros, com pele cinza manchada esticada sobre seus ossos. Seus pés eram grotescamente alongados, levantados nos calcanhares como os dos lobos. Braços longos e finos pendiam para o chão, terminando em dedos de aranha. A pior parte, no entanto, eram suas cabeças: grandes demais, curvadas para a frente entre os ombros, com olhos profundos e arregalados, brancos como mármores, e lábios finos e ensanguentados com dentes faltando. Chifres desordenados brotavam de suas têmporas, afiados e pontiagudos. Se não fossem os chifres, com certezas se passariam por zumbis. Os Wendigos levantaram seus longos dedos, em forma de garras, prontos para atacar.



- Corram! - Robert avisou, apontando sua varinha para o monstro à direita. Ele atirou com um feitiço atordoante, mas o raio de magia simplesmente explodiu em sua pele quase translúcida enquanto o monstro lançava-se sobre ele, soltando seu hálito rançoso em um rugido gultural. Robert se abaixou para o lado, jogando-se sob o toldo caído. O Wendigo pousou em cima dele com um guincho de metal e imediatamente começou a rasgá-lo atingindo. Outro rugiu ferozmente. Robert ouviu seus passos fortes enquanto trotava atrás dos outros. Alguém gritou. Feitiços foram disparados, iluminando a rua. Uma lufada de ar avisou Robert que pelo menos uma das vassouras estava no ar novamente. Ele saiu do outro lado do toldo quebrado e começou a correr.



Yohan, Zane e Lissa estavam amontoados em uma vassoura, a qual ele não tinha idéia de onde eles haviam encontrado. Porém eram muito pesados para serem levantados. O segundo Wendigo saltou atrás deles, pulando sobre carros abandonados e rosnando roucamente. Um baque pesado atingiu o chão atrás de Robert, acompanhado por uma rajada de hálito fedorento. Ele sabia que o primeiro Wendigo estava logo atrás dele, sentiu seus longos braços avançando em sua direção. Ele se abaixou para a esquerda e pulou por uma vitrine quebrada. Manequins tombaram diante dele, deslizando sobre montes de vidro quebrado. Ele caiu sobre eles, levantou-se e se jogou na loja escura. Atrás dele, o Wendigo rugiu, quebrando os restos da janela e jogando para o lado os manequins sem esforço algum. Robert olhou para trás, viu seus olhos leitosos brilhando levemente na penumbra. O monstro o viu e atacou. Mas até onde ele conhecia aquelas criaturas. Nada podia ferir-lhes. Nenhum feitiço faria algum estrago naquele monstro, tanto é que basicamente eles deviam estar estintos.



O auror então se agachou.  Escondido sob uma arara de roupas. O Wendigo colidiu com ela, derrubando-o de lado, mas Robert escalou para o outro lado e se atirou por uma porta traseira. A escuridão o encontrou, cheia de caixas e mais manequins. As prateleiras estavam enfileiradas, cheias de mercadorias. A única luz vinha de uma pequena janela nos fundos, embutida em uma porta de metal cinza. Robert foi em direção a ela, desviando-se freneticamente das prateleiras.  Atrás dele, a porta dupla do depósito explodiu de suas dobradiças. O Wendigo a ergueu em seus braços finos e a jogou em Robert como um disco. Uma das portas passou por cima de seu ombro e se chocou contra uma estante, fazendo as caixas voarem em todas as direções. Ofegando de terror, o auror alcançou a porta dos fundos. Estava trancada com uma barra de pressão, que Robert moveu para baixo com as duas mãos. Felizmente, a porta se abriu diante dele, jogando-o em um beco estreito, abarrotado de latas de lixo e paletes de madeira. Ele correu, passando pelas latas de lixo. Ao longe, ouviu gritos, estrondos, o zumbido efervescente de feitiços sendo lançados.



O Wendigo explodiu pela porta traseira, arrancando-a das dobradiças e arremessando-a contra a parede de tijolos oposta. O monstro viu Robert e caiu de quatro. Com um raspar no cascalho, lançou-se atrás dele, galopando entre as latas de lixo com uma velocidade horrível. Estava quase sobre ele. Com um rosnado profundo e áspero, ele saltou. Robert se jogou no pavimento quebrado e cobriu cabeça. A vida praticamente passando por sua mente naquela hora. Contudo, uma sombra passou por ele, acompanhada por um estranho brilho metálico. Um ruído: BANG!



Numa fração de segundo depois, um estrondo pesado e retumbante encheu o ar. Robert olhou para cima a tempo de ver o Wendigo arremessado, de cabeça para baixo, contra uma cerca de arame que dividia o beco. A cerca curvou-se sob seu peso e depois recuou, arremessando a horrível criatura contra uma pilha de paletes.



- Fique onde você está! - uma voz profunda comandou severamente.



Robert se esticou para olhar por cima do ombro. Um homem com uma pesada túnica verde, cravejada com uma armadura de couro preto, pairava sobre o beco em uma vassoura preta de aparência desagradável. Seu braço estava totalmente estendido quando ele mirou sua varinha, apontando-a para o Wendigo. O monstro se levantou, aparentemente imperturbável por seu encontro com a cerca. Ele viu o homem na vassoura e rosnou, franzindo os lábios sangrentos de suas gengivas negras. Então, com uma velocidade ágil que era terrível de assistir, ele se lançou para a lixeira mais próxima. Robert pensou que isso era um sinal para se esconder. Em vez disso, a coisa ergueu o enorme caixote no ar, arremessando-o como um projétil. O homem na vassoura fintou para a esquerda instantaneamente, apenas o suficiente para permitir que a lata de lixo passasse assobiando, batendo contra a parede atrás dele. Ele disparou um feitiço verde, iluminando brevemente o beco escuro e produzindo outro estranho BANG metálico! O feitiço atingiu o Wendigo diretamente no peito, jogando-o para trás com uma força incrível. O Wendigo atingiu a parede de tijolos e a quebrou completamente, criando um buraco irregular na escuridão.



- Venha! -  O homem na vassoura ordenou, abaixando uma grande mão enluvada para Robert.  - Eles não podem ser mortos, apenas repelidos! Depressa, antes que ele se reanime!



Robert olhou da parede de tijolos quebrada para o homem na vassoura. Este era obviamente um dos Looters, popularmente chamados de “saqueadores” até onde ele tinha ouvido falar. Era um grupo de elite do Ministério da magia americano, o porque estariam em solo Inglês ele não sabia. Sem pensar duas vezes, ele estendeu a mão, agarrou o antebraço do homem e sentiu-se ser puxado do chão para a vassoura.



- Aguenta ai! - o Looter falou com voz rouca, virando-se rapidamente nos limites estreitos do beco. Atrás deles, o Wendigo rugiu. Houve um estrondo de tijolos. O Looter curvou-se sobre sua vassoura e disparou para frente, mais rápido e poderoso do que qualquer coisa que Robert já havia experimentado. Ele lutou para se segurar, agarrou a capa do homem e segurou o mais forte que pôde. A força da aceleração era de tirar o fôlego. Um instante depois, a vassoura disparou para a luz do sol, deixando o beco para trás.



- Meus amigos! -  Robert gritou sobre a rajada do vento.  – Tem mais daquelas coisas atrás deles!



O Looter não respondeu, mas fez uma curva forte para a direita, sobrevoando a avenida onde a luta havia começado. Robert viu o toldo quebrado e o táxi amassado. A vassoura inclinou-se novamente enquanto seu piloto examinava a cena, parecendo determinar em que direção a luta havia tomado a partir de mil pistas sutis. Ele inclinou a vassoura para cima e acelerou novamente. Enquanto eles dobravam uma esquina, Robert avistou um flash de azul elétrico à frente. O Looter apontou sua vassoura direto para ele e levantou sua varinha novamente.



- São eles! -  Robert informou quando eles se aproximaram.



Com certeza, Yohan, Zane e Lissa estavam pairando na vassoura azul, apenas seis metros acima da rua. Abaixo deles, o segundo Wendigo pulou para um ônibus, correu e saltou sobre eles, estendendo seus braços incrivelmente longos. Ele golpeou, querendo golpeá-los no ar, mas outro flash azul iluminou a rua, emanando de um orbe de magia que cintilou ao redor da vassoura, repelindo o alcance do Wendigo. Ele caiu de volta para a rua em um agachamento furioso e rugiu.



- Esse diabinho é durão... -  o Looter exclamou, gesticulando com sua varinha enquanto eles circulavam os outros. Robert semicerrou os olhos através do vento rugindo e viu a vassoura que afundava. - Não pode aguentar muito mais tempo - o Looter acrescentou, mergulhando para chamar atenção do Wendigo deles.  - Teremos que nos defender. Felizmente, existe apenas um. Droga!



Robert viu várias coisas acontecerem ao mesmo tempo: o gêmeo do Wendigo saltou à vista no final do quarteirão. Ele viu a vassoura aleijada e rosnou ferozmente. Num instante, ele começou a pular de capota em capota dos carros, esmagando capotas e tetos de metal com suas pegadas estrondosas.



            - Varinha na mão copiloto! -  o Harrier ordenou, apontando sua própria varinha para o mais próximo de seus perseguidores.  - Use um feitiço Convulsis ou qualquer coisa com alguma força! Eu pego esse e você pega o outro!



- Agora? - Robert gritou, tateando sua varinha e mirando-a. Ambos dispararam ao mesmo tempo. O Wendigo mais próximo se debateu para trás quando um raio azul o atingiu. O feitiço Convulsis de Robert errou o alvo, no entanto, explodindo uma caixa de jornal atrás do monstro que avançava. O Wendigo ziguezagueava para frente e para trás, quebrando pára-brisas e balançando em postes de energia.



- De novo! -  o Looter ordenou.



Mais raios de magia iluminaram a rua, com Yohan se juntando por trás, mas foi de pouca utilidade. Mesmo os golpes diretos do Looter apenas repeliram as criaturas por um momento. As monstruosidades gêmeas estavam quase sobre eles, rosnando mais ferozmente do que nunca.



Uma série de estalos de repente ecoou ao longo do desfiladeiro de arranha-céus. Figuras apareceram no meio da investida, cada uma vestida com túnicas verdes e armadura preta fosca, cada uma montada em suas próprias vassouras longas e lustrosas. Eles se curvaram em voltas apertadas e finalmente pararam em formação, formando um anel ao redor do Looter original e seus pupilos. Nove Looters ao todo, nove varinhas apontadas para os Wendigoes, que de repente caíram agachados furiosos em alerta.



- Ao meu sinal! -  um dos recém-chegados falou. Robert olhou para cima e ficou muito feliz ao ver Blaze Walker, seu rosto marcado por uma determinação severa.  - FOGO!



Todos os nove Looters lançaram seus feitiços nos Wendigos simultaneamente. Raios verdes iluminaram a rua, convergindo para as criaturas em um instante. Aquele estranho BANG metálico soou novamente, desta vez multiplicado quase dez vezes. Houve uma explosão de luz verde e uma onda de choque de fumaça preta e espessa. Quando os ecos morreram, os Wendigos se foram.



O Looter que compartilhava a vassoura de Robert respirou fundo e soltou o ar devagar, tentando se acalmar de propósito. Ele olhou para o lado, assegurando-se de que todos estavam bem, e então olhou para Walker.



 - Novamente... em cima da hora! -  ele gritou, sua voz ecoando pela rua vazia.



- Oras... meu Time é perfeito como sempre... – respondeu Walker com um sorriso malicioso. E então voltando-se para Robert o encarou de cima abaixo. – O que o ministério está pensando em mandar simples estagiários para uma zona de guerra?



Robert até tentou abrir a boca para explicar, mas realmente as coisas estavam complicadas. O Ministério não estava ciente totalmente do que estava acontecendo nas últimas horas, na verdade ele mesmo sendo um mero “estagiário” como Walker havia lhe falado, estava ali apenas porque os outros Aurores estavam ocupados demais com a segurança do principal evendo daquela semana. O festival das estrelas.



- Não somos estagiários... – reclamou Yohan agora sentado com Lissa em uma vassoura enquano Zane estava na garupa de outro Looter - ... O próprio Ministro da Magia nos enviou para averiguar o que houve aqui.



- E por acaso descobriram alguma coisa? – perguntou uma Looper de cabelos negros e olhos azuis eletricos. – Porque creio que não tenham nem idéia do que se passou aqui.



- É só um vilarejo abandonado... – respondeu Zane casualmente.



- Creio que não é apenas um vilarejo abandonado... – disse outro Looter olhando em volta - ... isso é claramente uma cidade fantasma trouxa... vê os prédios? – ele então apontou para as estruturas espelhadas e um tanto gastas – Obviamente haviam trouxas morando aqui e não faz muito tempo que sairam.



- Tudo bem... – respondeu outro Looter, a quem Robert percebeu ser uma mulher ruiva - ... então... onde estão os trouxas que deveriam estar aqui?



- É por isso que estamos aqui... – responeu Walker com um olhar preocupado. - ... tudo indica que essa cidade não estava vazia... não quero nem pensar...



- O que Looters americanos vieram fazer tão longe de casa? – Lissa perguntou curiosa.



- Eu creio que o ministério de vocês não soube fazer o trabalho direito... – agora era outro Looter quem tomava a palavra, e parecia BEM nervoso.



- Smith... por favor... – disse Walker encarando o colega - ... não viemos até aqui para julgar o trabalho alheio, estamos aqui por ordens do conselho mágico, e estamos prestando auxílio. Um pouco de cooperação e empatia é o mínimo que temos que ter.



- E como foi dito... – agora era Robert quem tomava a palavra - ... estamos todos trabalhando em prol da segurança do mundo mágico, e também dos trouxas. Se esses comensais apareceram com essas criaturas o que mais eles estão desenterrando do mundo antigo?



- Nosso amigo aqui tem razão... – completou Walker - ... devemos nos unir e tentar descobrir o que exatamente aconteceu aqui. Como essa cidade trouxa ficou deserta, onde estão os trouxas se é que existe algum aqui ainda. E porque exatamente aqueles comensais da morte estavam perambulando por aqui...



Com um aceno de cabeça, e movimentos com as mãos, Walker acenou para seus companheiros e passou as instruções de patrulha. O estado daquela cidade estava muito estranho. Parecia uma cidade fantasma, mas tinha algo suspeito no ar. Robert não sabia dizer exatamente o que havia acontecido, e com certeza precisariam mais do que simples Loopers e Aurores Juniores para desvendar o que tinha acontecido ali. Esperavam encontrar alguma pista para concluírem o caso o mais rápido possível.


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