O viajante do Espelho



O mar bruxuleante fazia o pequeno navio fantasma balançar o empurrando para o meio da névoa enquanto as ondas castigavam a proa fazendo um barulho assustador. O céu encoberto por uma densa camada de nevoeiro fazia com que o barco fantasma, tecnicamente parecesse ainda mais doentio e perverso do que de costume. Não havia som algum (fora o som do mar em fúria) durante todo o percurso do qual o experiente Saul Croaker estava acostumado. O nobre bruxo de índole “intocável” e “incorruptível” era o homem de confiança quando se tratava dos assuntos do Grande Conselho Mágico. Sua fama e competência atravessaram dois mandatos de Ministros diferentes, e ele ainda se mantinha fiel aos seus ideais. Além dele, mais quatro pessoas o acompanhavam nessa viajem. Todos usando capas e capuzes escuros. O vento mudou abruptamente fazendo com que uma das figuras, a mais baixa e franzina levasse a mão a cabeça para levantar o capuz.



                A luz monótona da lamparina improvisada revelava um rosto bastante magro e assustado. A jovem loira que parecia muito preocupada, lançou um olhar nervoso para o bruxo a sua esquerda.



                 - Não se preocupe Bridget... não estamos longe agora. – disse o homem sem mostrar preocupação alguma – O tempo de viagem depende muito da maré...



                - Apenas mantenham suas capas junto ao corpo.... –  Falava agora Croaker com toda a sua experiencia, ninguém ousava discutir – e lembrem-se do que lhes disse no cais... essas capas são as únicas coisas que os protegem da magia do navio. Caso vocês a percam.... vão conhecer o que tem no fundo desse oceano mais rápido que uma pedra.



                Croaker já tinha feito aquele trajeto tantas vezes que já estava até habituado com tudo. Diferente dos seus companheiros que pelo que pareciam tinham sido nomeados a pouco pelo conselho. Ainda não entendi porque motivo tinha de levar pessoas tão jovens até os confins do Mar Norte mas Ordens eram ordens! Fora os quatro ocupantes que usavam capas mágicas, não havia mais ninguém a bordo. Lady Imladris, como era chamado antes do fatídico dia em que fora perfurado por um Iceberg enquanto fazia uma viagem levando bebidas e tecidos.  Lady, era a única embarcação capaz de navegar nesta região desconhecida do Mar do Norte. Sendo um Navio Fantasma, amaldiçoado a repetir a mesma rota indefinidamente, vazio de ocupantes. A única maneira de navegar nele, eram as capas devidamente enfeitiçadas. A única regra também, era jamais tirada do corpo. Se uma das pessoas chegasse a se despir dela, era uma passagem só de ida para o fundo do mar.



                A jovem Bridget olhou para trás ao longo do barco. A casa do leme era uma pequena cabine no meio do navio, ligeiramente elevada contra o nevoeiro expeço. As suas lâmpadas estavam quebradas e lá dentro, o leme do navio girava pesadamente, solto, operado por ninguém. Quando o convés rangeu ameaçadoramente a garota estremeceu e voltou sua atenção a frente, visivelmente ansiosa para que a viagem terminasse.



                - Pronto... – ouviu-se uma voz rouca vindo da maior figura entre eles. Indicando o queixo barbudo para frente do barco.



                Croaker semicerrou os olhos, uma enorme construção em forma de blocos começou a sair lentamente da névoa. Erguendo-se sobre ela, a silhueta de uma grande torre, de topo achatado e quase inteiramente sem características. Sua base descia em penhascos rochosos e cavernas, mergulhando no quebrar das ondas.



                - Ok meus amigos... bem vindos a AZKABAN! – disse ele enquanto o barco começava lentamente a parar. Muitas histórias eram contadas sobre a prisão mais segura dos bruxos. E sabia que seus companheiros deviam estar imaginando todas elas. Ele mesmo conhecia as lendas sobre o lugar. Alguns diziam que a fundação rochosa da prisão não era uma ilha, mas um topo de montanha flutuante magicamente livre, arrancada do topo do Himalaia. Outras diziam que a prisão não ficava no mar do norte, mas contavam que a névoa misteriosa do mar, escondia um portal para um lago abissal impossível de se localizar, sem fundo e perdido no tempo, cuja as profundezas eram percorridas por horríveis leviatãs. Mas a história que ele mais gostava, era sobre os rumores de haver gigantes com olhares mágicos que podiam hipnotizar as pessoas e faze-las pular direto para suas boconas.  Ao recordar dessa história, o bruxo sorriu. Era incrível como as pessoas podiam usar sua imaginação para coisas tão banais.



                Conforme o barco foi se aproximando da prisão, um som baixo ecoou sobre as ondas. Um som estrondoso e choco, como água nas profundezas de uma garganta de pedra. Por trás desse som, entretanto, havia algo ainda pior, uma espécie de lamento agudo subindo e descendo com o vento.



                - Está tudo bem... – disse o homem barbudo e corpulento que os acompanhava apontando para a luz verde bruxuleante que se espalhava pela névoa no pico da torre – Relativamente falando.



                -Eu sei o que quer dizer Bill... – disse Croaker concordando. Ele ergueu o rosto para a torre deixando a luz verde pálida brilhar fracamente em seu rosto. – Sempre fico surpreso ao ver as chamas verdes no braseiro. Nunca vi a tocha do farol brilhar em vermelho acusando perigo, mas posso imaginar muito bem toda vez que faço essa viagem de barco.



                - Esse lugar pode ser necessário... – respondeu Bill balançando a cabeça enquanto acariciava sua barba - ... mas certamente não é agradável.



                - Que barulho horrível é esse? – perguntou Bridget com sua voz tremula.



                - Barulho? – disse Croaker como se ele mesmo não tivesse notado – Oh, é apenas o mar lavando as cavernas. Isso acontece quando a maré sobe. Cria um trovão e tanto não?



                Brigit estreitou os olhos e apertou os lábios. Mas não respondeu a pergunta de Croaker, e tampouco perguntou mais alguma coisa. Croaker por sua vez ficou aliviado por não ter de contar que por baixo do estrondo das ondas, era possível ouvir o leve guincho coletivo do fosso dos dementadores, enterrado nas profundezas das bases rochosas da prisão. Essas criaturas das sombras, parasitas que se alimentavam da miséria humana já tinham sido carcereiros da prisão, mas foram considerados indignos de confiança quando se aliaram ao Lord das trevas nos últimos anos. Como consequência, foram lançados a um poço sem luz e o mais profundo buraco de AZKABAN. Tinha certeza de que se Brigit prestasse mais atenção, poderia ouvir os seus lamentos agudos e torturados e delirando de fome.



                - Não entendo porque não foi possível simplesmente aparatar diretamente na prisão... – agora era a outra figura mais baixa dos quatro falando – Isso parece ridiculamente ineficiente.



                - Não podermos aparatar na prisão... – respondeu Bill com uma paciência de pedra – pelo mesmo motivo que seus prisioneiros não podem aparatar para fora dela. O que você chama de ineficiente, Sr. Felps, nós chamamos de seguro.



                - É o nevoeiro... – acrescentou Croaker - ... Não é um fenômeno natural, como você pode imaginar. É de origem mágica antiga, infundida com todos os tios de feitiços e azarações. Qualquer navio normal que tentasse navegar por ele se perderia. O leme ficaria incontrolável e a bússola inútil. Assim como qualquer bruxo ou bruxa que tentar desaparatar através do nevoeiro, acabaria reaparecendo no mesmo lugar onde partiu ou pior, poderia aparecer no fundo do mar. Essas medidas podem parecer antiquadas para os seus padrões, Sr. Felps, mas funcionam muito bem. Não é registrado fugas aqui a anos.



                - Mas não é impossível... – acrescentou Sr. Felps erguendo uma sobrancelha. Apesar da pouca idade, o jovem Sr. Felps não tinha mais do que 30 anos, assim como a Srta. Brigit La Croix. Ambos novatos nos assuntos dos Inominaveis.



                Croaker tinha sido categórico quando fora designado para ser o tutor de ambos novatos. Achava que eram jovens demais para tal cargo, mas eram as regras do novo conselho, não tinha como discutir apesar dele saber que cargos como o que ele ocupava a no mínimo 10 anos, só conseguira depois dos seus 45 anos como auror.



                - Estamos quase lá... – ouviu Bill dizer novamente e o barco dar um solavanco. Uma nuvem de ar frio emanava da enorme torre enquanto o barco avançava em direção a sua base, aproximando-se de uma enorme caverna negra. O trovão das ondas tornou-se um tambor quando o barco entrou nas águas mais calmas da caverna. Boias de ferro apoiavam lanternas antigas que brilhavam timidamente enquanto o barco se aproximava de um Pier de pedra. E sobre ele um bruxo muito magro com roupas pesadas e negras segurando uma tocha. Um distintivo brilhava em uma tira de couro que passava sobre seu peito.



                - Nomes! – disse ele do auto do píer com a voz ecoando.



                - Saul Croaker e Billdegard Jones, Inomináveis seniors acompanhados de Brigit La Croix e Edgar Felps, Inomináveis júniors.



                O mago que estava no píer não respondeu. Croaker sabia que era o jeito do pobre bruxo que fora designado para ser o “guarda” a morar naquele lugar. Interpretou isso como um bom sinal. O Bruxo era magro como um esqueleto, em seu punho segurava uma tocha erguida tão grande como um abacaxi. Além de um jeito severo e carrancudo, sua expressão era severa e carrancuda enquanto o barco fantasma se aproximava silenciosamente sem auxílio de corda ou âncora. Silenciosamente os ocupantes começaram a sair.



                - Este é o Sr. Renard – disse Croaker sem cerimonias, mostrando a todos que já estava familiarizado com o homem – Ele é o administrador chefe de Azkaban.



                - Senhor Renard... – disse Felps rigidamente estendendo a mão depois de passar sua varinha para a outra - ... Saudações.



                - Receio que você precise verificar isso e explicar sua presença, Sr. Felps. – Disse Renard olhando da mão com a varinha de Felps para seu rosto ignorando o cumprimento – Todas as varinhas, vassouras, chaves de portal ou qualquer parafernália mágica deve ser declarada no perímetro. Nenhum utensílio mágico é permitido dentro da torre senhor, tenho certeza de que não preciso dizer o porquê.



Felps baixou a mão e olhou de soslaio para Croaker mostrando aborrecimento. Não encontrando ajuda que precisava ele olhou para Renard outra vez e sorriu por educação.



- Sr Jones e eu garantimos nossos companheiros... – disse Croaker para Renard – Nenhum de nós carrega qualquer outra magia além de nossas varinhas.



- Venham por aqui então... – disse Remard liderando o grupo - ...mantenham suas varinhas longe o tempo todo e prestem atenção onde pisam.



A escuridão fria da caverna cercava o grupo por todos os lados. Brigit caminhava com Felps a sua frente e Bill no final da fila. E a cada passo, Bill tinha a impressão de que ela pularia nas costas de Felps. Depois de passarem por uma porta fortemente trancada e por uma escada curva mal iluminada, um corredor de pedra rachada e com lanternas penduradas de forma alinhada, podia -se ouvir o gotejamento solitário de água como trilha sonora. Começaram a subir e pode ouvir a voz fina de Brigit atrás de Felps.



                - Este é o único caminho?



                - A torre foi projetada com apenas uma entrada, Suas paredes tem dez metros de espessura em toda a volta, sem uma única janela – respondeu Croaker sem olhar para traz, mas pode ouvir um murmúrio da jovem então continuou – Não se preocupe, isso vai acabar antes que perceba.



                Depois de alguns minutos o grupo alcançou outra porta. Ela ficava no topo de um patamar curto, emoldurado em ambos os lados por lanternas verdes brilhantes. Com menos de uns 6 metros de altura, e inteiramente de metal cravejado de rebites, uma porta se mostrava diante deles. Renard se aproximou da porta com a sua tocha ainda erguida que crepitou levemente projetando sua sombra. Croaker ouviu um murmúrio de Brigit novamente sobre como passariam por aquele pedaço de metal, e foi quando Renard continuou a andar em direção a porta com Croaker em seu encalço. Pode ouvir um gritinho vindo da jovem atrás de Felps e se segurou para não rir. – Bruxos filhinhos de papai... - murmurou ele. Com certeza jamais haviam entrado em algum lugar desse nível antes. Enganava-se a garota se achava que iriam ricochetear no ferro frio. A tocha de Renard brilhou ainda mais por um momento espalhando e iluminando sua luz verde por toda a porta. Em resposta a enorme porta ondulou como algo visto através do calor. A medida que as chamas verdes da tocha se desenrolavam na escuridão, a grande porta se abriu em cortinas de fumaça, que rapidamente desapareceram revelando uma entrada cavernosa.



                - Intrigante... – Felps admitiu, até então ele apenas reclamava de tudo sem achar nada digno de admiração. – Então a porta de ferro era apenas uma ilusão de algum tipo.



                - Não... – afirmou Croaker enquanto seguia Renard escuridão a dentro – A porta é tão real quanto parecia. A tocha mágica do Sr. Renard é a verdadeira miragem. Cria ilusão de que podemos passar e então.... passamos.



                Croaker percebeu que o questionador franziu a testa com ceticismo. Obviamente a sua explicação simples não correspondera as expectativas do homenzinho, mas para quê perder seu precioso tempo tentando explicar algo para alguém que não tinha cérebro ou capacidade suficiente de compreensão para entender?



                - O Salão principal de Azkaban se abriu surpreendente diante deles. Pilares monstruosos saltavam para cima, cada um tão grosso quanto troncos de sequoia. E agachadas sobre os pilares, estavam antigas gárgulas de pedra, seus rostos voltados para baixo carrancudos e seus ombros apoiando os contrafortes de altos tetos abobadados. As paredes eram inexpressivas, compostas inteiramente de pedra áspera e rachada. Suas lanternas iluminavam de maneira insuficiente para o gosto de qualquer um. Renard continuava seu trajeto em direção a um arco distante. Mais bruxos pipocavam da escuridão aqui e ali, todos vestidos como Renard.



                - Onde estão todos? – Brigit novamente questionou todos – Isso aqui devia estar cheio de guardas, aliás, cadê as portas?



                - É como eu disse – ralhou Croaker virando-se e encarando o grupo atrás de si. – Só há uma maneira de entrar. Uma entrada e UMA saída! Entenderam ou precisam que desenhe?



                Obviamente Felps abriu a boca para falar, mas nesse momento, Renard virou à esquerda entrando em um corredor. Todos o seguiram e pararam abruptamente quando encontraram uma nova parede de pedra vazia. O bruxo então se aproximou, tocou a parede com a varinha e bateu nela. Uma série de entalhes começou a se desenrolar e tatuar a pedra. Os entalhes, formavam uma pequena porta, cercada por símbolos e formas indecifráveis. Com um rangido a porta se abriu diante deles revelando uma pequena alcova. Renard então baixou a tocha, a chama cintilou e golpeou como se estivesse nas garras de um vento forte. Com um som oco, e um lampejo verde, a luz da tocha saltou da ponta de onde estava para dentro da pequena sala onde rodou e girou formando uma esfera brilhante e bruxuleante. Instantaneamente, a porta de pedra se fechou.



                - A chama de entrada deve permanecer escondida durante qualquer interação com o prisioneiro – disse Renard de forma quase mecânica – Desde o momento em que abrimos a torre até o momento em que ela é trancada novamente, somos tão prisioneiros aqui quanto os internos. Está entendido?



                Tirando a dupla mais jovem que não falaram absolutamente nada, todos concordaram.



                - Qual o número de requisição do prisioneiro? – perguntou Renard a Croaker.



Houve então uma troca de pergaminhos, onde o funcionário olhou por apenas um momento. Então voltou-se para a parede de pedra. Tocou mais uma vez com sua varinha. A gravura da porta se desenrolou. As linhas esculpidas na pedra se reorganizaram e formaram uma grande moldura onde dentro delas haviam um quadro com 3 números:  0 – 0 – 0. O Bruxo então tocou o primeiro número com sua varinha.



                - Sete – disse ele – as gravuras que formavam o primeiro zero começaram a se contorcer e girar, transformando-se no número sete. – Quatro – novamente disse Renard apontando a varinha para o segundo espaço – Dois. – Sendo o último. Formando o número 742.  Quando o número foi concluído, eles brilharam fracamente por um momento e então toda a parede começou a se mover. Com um estrondo, todos ali podiam sentir nas solas dos pés a pedra deslizando para o lado, levando consigo a moldura gravada e os números. Um momento depois, uma porta deslizou até ele. Era de ferro pesado, com uma minúscula janela gradeada. No centro da porta, os números 001 brilharam em roxo. Ela passou voando, em seguida outra porta moveu-se um pouco mais rápido, já com o número 002 estampado.



                - Acredito que nosso homem esteja bem perto do topo.... – disse Bill agora para o resto da comitiva. A julgar pela numeração 742 devia ser muito mais ao alto mesmo.



                As portas na parede de pedra começaram a passar com velocidade crescente fazendo um barulho de engrenagens. O chão parecia vibrar tão logo as portas começaram a piscar como um borrão com seus números luminosos formando uma faixa roxa indecifrável. A direção mais parecia como se fosse uma espécie de parafuso, aparafusando-se nas profundezas da fundação de Azkaban.



                Croaker sempre se perguntou até onde ia a profundidade de Azkaban a julgar pelas portas que iam “descendo” por assim dizer piso abaixo. Mas nunca tivera coragem de pedir a Renard nas outras vezes que viera até ali. E que não tinham sido poucas nos últimos anos.



                Surpreendentemente a parede da torre simplesmente parou com um novo rugido de engrenagens. O som fora tão alto que todos levaram as mãos aos ouvidos quase que simultaneamente enquanto observavam a porta no centro da parede de pedra com os números roxos na frente 742. A porta se abriu silenciosamente girando para fora. Era possível ver um lugar bem pequeno, quase tão profundo quanto a cama fina que cobria a parede direita onde uma pessoa estava deitada de costas para eles. Não havia janela, e a pedra que formava as paredes da cela eram totalmente lisas.



                - Recluso número sete quatro dois. -  Disse Renard formalmente. – Identificado como Lucius Abraxas Malfoy, cidadão da Inglaterra, preso em 20 de junho em Pechkam, Inglaterra, acusado de torturar, induzir, e manipular bruxos menores de idade com magia negra em nome daquele que não deve ser nomeado.



                Houve um longo silencia enquanto os ocupantes do salão de observação estudavam o homem deitado na pequena cela. No entanto Malfoy não lhes deu atenção, na verdade, ele nem se quer se mexeu, e continuou deitado com o rosto para a parede de pedra.



                - Essas condições simplesmente são abomináveis! -  Comentou Brigit categoricamente – Como um bruxo pode ser levado em consideração vivendo em condições insalubres desse jeito? Isso com certeza afeta seu estado mental!



                - Seu estado mental está ótimo! – retorquiu Bill agora mostrando bastante desagrado com o comentário e dentes cerrados – Em vez disso, você poderia considerar o estado mental dos três aurores, jovens, e dezenas de vítimas que foram feridos durante sua apreensão. Claro, agora restam apenas dois aurores para serem interrogados já que Dorea Jakob morreu!



                - Já chega Bill – disse Croaker então voltou-se para o interior da cela onde o bruxo continuava imóvel – Lucius Malfoy, você sabe quem somos nós?



                Nada, nem um minúsculo movimento partiu do bruxo que continuava deitado na pequena cama e encolhido com um pequeno cobertor sobre si.



                - Você é acusado de crimes contra a humanidade trouxa e mágica – continuou Croaker – Suspeito de participar de vários ataques a pessoas não mágicas sob ordens do Lord das Trevas. Invadir uma escola, sequestrar e torturar bruxos menores de idade, e ainda ensinar artes das trevas sem permissão do Departamento das Leis da Magia. Sendo assim, você está sob detenção de acusação de assassinato de Dorea JaKob e outros crimes contra a vida. Deseja invocar seu direito de admiti-los ou nega-los formalmente?



                Novamente, todos esperavam algum movimento ou reclamação por parte de Lucius Malfoy, mas ele continuou deitado, sem falar ou mexer um músculo.



                - Faça-o se levantar.... – disse Bill a Renard que assentiu. Ergueu a varinha e gritou severamente para dentro da sala. – Levante-se e se aproxime da porta!



                Nenhum movimento.



                - Será que está morto? – perguntou Brigit



Perdendo a pouca paciência que ainda lhe restava, Bill empurrou Renard que continuou com a varinha levantada para o homem que continuava deitado sem se mexer.



                - Ha! até parece... – Falou Bill andando em direção a cama de Lucius e com a mão pesada puxando a pequena manta que o cobria - ... Onde está seu respeito, seu verme!



                Assim como exclamou e arrancou a manta que estava sobre o bruxo, o corpo que estava ali deitado começou a esvaziar como um balão. Um fino assovio saia por algum lugar o qual Bill ficara tão atônito com a manta na mão. Rapidamente Croaker entrou na sala e tentou trazer Bill a realidade.



                - Toque o alarme! Lucius Malfoy escapou!



...



O dia amanheceu um tanto quanto nublado. Os corredores já estavam apinhados de alunos e os setimanistas praticamente eufóricos com os poucos dias letivos que ainda teriam que enfrentar. Rony estava absorto em mais um livro sobre “leis da magia” que Hermione praticamente o obrigara a ler. Já a nobre monitora, estava mais preocupada em como começar seus projetos revolucionários nas leis da magia. OBVIAMENTE ela não iria começar se candidatando a Ministra, mas precisava de opções plausíveis e eficientes para chegar onde realmente estava querendo chegar.



- Porque não começa com o que já fez? – disse Sarah certa vez enquanto estavam debruçados sobre livros na biblioteca. – Você não queria libertar os Elfos domésticos?



- Eu até que queria... – disse ela um tanto incerta - ..., mas...



- Os Elfos começaram a praticamente evitar falar com Hermione e se recusar a ouvi-la... – comentou Rony passando o braço pelo pescoço da garota - ... Então, não creio que Hermione consiga muita popularidade se os elfos não gostarem dela.



- Ué... então... – Sarah puxou alguns folhetos do Ministério procurando alguma coisa - ... que tal aqui? Departamento de Regulamentação e Controle das Criaturas Mágicas. Eu acho que você poderia fazer muitas coisas legais por criaturas mágicas... até mesmo igualdade para com os coitados dos lobisomens.



Hermione então pegou o panfleto e começou a olha-lo. Sarah sabia que sendo tão inteligente, a amiga poderia ter muito futuro tentando mudar a mente retrograda de alguns bruxos que ainda pensavam que eram superiores.



- Os Centauros também ficariam bem agradecidos... – disse Harry com um sorriso maroto - ... fora que eu ia adorara ver você trabalhando no mesmo local com a Umbridge...



- Das duas uma Harry... – respondeu Hermione - ... ou ela me jogaria numa jaula... ou eu a jogaria em Azkaban. – Mas Harry pode ver os olhos de Hermione começarem a brilhar. Realmente achava que a garota podia fazer qualquer coisa que quisesse e se tornar alguém que mudaria o mundo.  Embora estivessem de folga depois dos NIEMs, ainda faltava o último exame de Astronomia. Obviamente se não passasse em astronomia, poderia dar ADEUS aos seus NIENS, e ao sonho de se tornar auror. Por isso mesmo contra a vontade, teria de ir.



- Vamos... – ouviu Sarah sentando-se ao seu lado – anime-se... podemos considerar um passeio sobre as estrelas...



Harry então sorriu, passou um dos seus braços sobre a cintura da garota e dera-lhe um beijo no rosto. Apesar de ter passado poucas e boas, e com a sua cicatriz agora ser apenas uma cicatriz, bem, sentia-se muito bem na verdade. Embora, ainda tentasse evitar pensar no que Voldemort pudesse ter feito para desfazer tal ligação que por anos o assombrava. Mas não podiam ficar parados enquanto Voldemort transitava livremente por aí. Porém como saber exatamente qual eram seus planos.



- No quê está pensando Harry? – ouviu a voz de Ron e então voltou de seus pensamentos.



- Estava tentando juntar as peças desses ENORMES quebra cabeças, mas confesso que não consigo saber exatamente qual é o plano do Voldemort. – Harry disse sem notar a careta que Rony fizera – Ah, para com isso Ron, já está na hora de você parar de ter medo desse nome.



- Não consigo evitar... – disse ele - ... é mais forte do que eu. Mas você está certo, é muita coisa e não faz sentido algum. Até mesmo Mione andou se queixando ontem a noite... por mais que ela tente, as coisas não se encaixam. O que ele pode estar pretendendo fora do fato de querer acabar com você?



- Detonar os trouxas talvez? – disse Sarah que os alcançava carregando uma pilha de livros. Mais que rapidamente Harry pegou alguns o que fez com que ela sorrisse em agradecimento. – O cavalheirismo não morreu afinal.



- Pra que tantos livros? Os Niens já acabaram pelo que eu saiba. – perguntou Ron pegando dois livros também.



- Primeiro... os Niens ainda não acabaram.... temos o exame de astronomia lembra? – respondeu Sarah agora os acompanhando – ... e segundo, Hermione... desde que ela leu aquele negócio sobre o livro dos Mortos ela está obcecada por isso.



- Eu aposto que se conseguirmos aquele “caderninho” do Corner.... vamos ter alguma pista... – disse Ron indicando o rapaz que passava carregando um pequeno caderno surrado com capa de couro.



- Por que você acha isso? – perguntou Sarah agora curiosa.



- Faz dias que vemos esse corvo carregando esse diário pra cima e pra baixo... – comentou Harry.



- Esse livrinho não parece ser algo muito novo... e também nenhum artefato antigo sairia da biblioteca. – respondeu Sarah analisando o pequeno livro nas mãos do garoto – O que nos leva a seguinte pergunta: Como podemos pegar esse livrinho dele para darmos uma olhada?



- Temos de bolar um plano... – disse Harry - ..., mas antes precisamos da Hermione.



Alguns minutos mais tarde, os três haviam se reunido com Hermione debaixo do imenso carvalho na orla da floresta proibida. Sabiam que ninguém os ouviria lá. Havia sim Hagrid fazendo seus afazeres de sempre, mas este tão pouco estava ligando para o que eles estariam conversando ainda mais carregando livros.



- E então? – perguntou Rony fechando o exemplar extremamente volumoso de A arte do disfarce para bruxos iniciantes. – Alguém tem alguma ideia de como conseguir esse livrinho do Corner?



- Agora com as aulas se encerrando... – começou Hermione - ... é mais difícil chegar perto dele sem que ele perceba alguma coisa.



- Mas também não podemos ficar parados esperando que ele simplesmente apareça diante da gente e diga “É isso que vocês querem? Então podem dar uma olhada!” – falou Sarah agora visivelmente preocupada – Se aquele livro realmente tem alguma coisa nele além dos “pensamentos impróprios de um garoto” – então olhou para Ron e Harry – sem ofensa meninos... – e voltou a falar - ... com certeza deve ter alguma outra artimanha ou feitiço...



- Quem sabe até algum contra feitiço daquele que “apareceu” fazendo vítimas... – respondeu Hermione - ... Poderíamos sugerir alguma reunião... somos monitores não é Ron?



- Ah claro... e ele viria de bom grado a uma reunião supervisionada... – disse ele com sarcasmo - ... ele é burro, mas não tanto.



Harry tinha de concordar que seria praticamente impossível chegar perto de Corner, ainda mais com as aulas praticamente concluídas. Faltavam apenas 3 disciplinas para concluírem o número de aulas do calendário e nenhuma delas seria compartilhada com a Corvinal. O jeito era fazer as coisas como nos filmes mesmo, e torcer para não ser pego.



- O único jeito é ficar na cola dele, sem que ele perceba... – disse Harry por fim. Estava vestindo apenas a camisa do uniforme, com os primeiros botões abertos e a gravata frouxa sobre a camisa. - ... como faremos isso, ainda estou tentando pensar. O castelo é terrivelmente grande.



- Posso falar com a Dama Cinzenta, ou até mesmo o Pirraça... – disse Sarah coçando o queixo.



- Não acho que a Dama Cinzenta iria espionar alguém da própria casa... – disse Ron - ... ainda mais se souber que ele é suspeito de algo.



- Bom... se ela achar que quem está pedindo é uma garota profundamente apaixonada... – disse Sarah com um sorriso sapeca nos lábios – A Dama Cinzenta é uma romântica de carteirinha, basta dizer que estou perdida de amores por ele, e ela me trará relatórios a cada cinco minutos.



- Ok, se ela realmente cair nessa conversa... – disse Harry com um sorriso - ... teremos uma chance.



Foi então que viram uma pessoa correndo desembestada pelas planícies do castelo com um pedaço de papel sacudindo em suas mãos.



- Aquele lá... – apontou Ron – É o Neville?



Neville corria ofegante pelo gramado em direção a eles, suas vestes esvoaçando com o vento morno.



- EIIIII .... – Gritava o garoto um tanto esbaforido – Pe... pessoaaaaaallllllll



CABUM



A capa esvoaçante enroscou-se nas pernas agitadas durante a corrida se tornando um belo emaranhado de tecido. Que ocasionou em um Neville se estabacando literalmente com a cara no gramado a poucos metros dos outros. Preocupados, os quatro correram ao seu encontro para o ajuda-lo.



- Pra quê tanto alarde assim Neville? – Perguntou Harry o ajudando a se levantar.



- SAIU OS RESULTADOS DOS NIENS???? – saltou Hermione tentando pegar o jornal que estava agora amassado depois da queda do garoto sobre ele.



- Não... não... – disse ele respirando rapidamente – Malfoy....



- Já está na hora de você enfrentar ele Neville... – falou Ron, mas Neville meneou a cabeça freneticamente - ... você é perfeitamente capaz de mandar aquela doninha loira pra Ala Hospitalar...



- Não o nosso Malfoy... – disse ele agora conseguindo pronunciar algumas palavras - ... O Malfoy Pai.... ele escapou.



- O QUE? – Perguntaram os 4 juntos enquanto Harry pegava o Jornal que Neville lhe estendera. A edição especial do Profeta Diário daquela tarde mostrava um prédio Triangular sem janelas, provavelmente a prisão de Azkaban, e ao lado a foto de Lucius Malfoy, quando entrara para a prisão. Um homem magro, o mesmo olhar de soberba embora seus costumeiros cabelos alinhados e loiros, estivessem despenteados e sujos. No peito a placa de Identificação com runas e os números 537 brilhantes enquanto correntes pendiam de seus braços percorrendo seu corpo até os pés.



- Como ele conseguiu fugir? – perguntava Hermione, foi mais ou menos nessa hora que Gina apareceu com uma carta na mão. Os olhos verdes, agora vermelhos mostrando que estivera chorando.



- Gina? – perguntou Ron – Mas o que... - Ela estendeu a carta ao garoto que se afastou enquanto lia.



- Pensei que depois que Sírius tivesse fugido, ninguém mais tinha conseguido essa proeza. O Ministério tomou todas as providencias possíveis e imagináveis para que ninguém mais escapasse... – começou Hermione correndo os olhos pelo jornal acompanhada de Sarah e Harry. Realmente não havia nada dizendo como o bruxo tinha conseguido escapar, apenas de que naquela manhã, inomináveis haviam ido até lá para investigações e não o encontraram.



- Ele usou Weasley Clone... – ouviram a voz de Rony e então todos se viraram sem entender.



- Weasley Clone? – perguntou Harry.



- Isso Harry... aqueles bonecos feitos com balões mágicos que Fred e Jorge inventaram... OBVIAMENTE não foi para isso, mas Carlinhos voltou da Romenia. – Então o garoto balançou a carta - ... mandou essa carta pois Fred e Jorge estão sendo suspeitos de “ajudar na fuga”.



- Como assim “ajudar na Fuga”? – Perguntou Harry – Eles nem se quer participaram, eles não criaram esse negócio no ano passado?



- Sim... – respondeu Ron – ..., mas de acordo com o “conselho” ninguém lembra quando foi a última vez que viu Malfoy andando na cela. Pode ter escapado a meses e só se deram conta agora.



- Isso é ridículo... – exclamou Hermione devolvendo o Jornal a Neville - ... não sabem a quem culpar e jogam a culpa no primeiro bode expiatório que aparece. Obviamente ele vai entrar em contato com o filho... não tem jeito, se quisermos livrar sua família Ron, vamos ter de agir o quanto antes... se puder, essa noite mesmo...



E foi mais ou menos algumas horas mais tarde que o plano foi colocado em ação. O plano era simples. Sarah iria procurar Dama Cinzenta e dizer que estava profundamente apaixonada por Corner e iria pedir para que a fantasma a avisasse quando ele saísse da torre. Assim que ela desse o aviso, Harry e Ron o seguiriam fosse para que lado ele fosse. E se surgisse qualquer mínima chance de pegar o livro “inseparável” dele. Eles tentariam. Logo depois do jantar, Sarah se despediu do grupo e tomando todo o cuidado para não ser seguida, saiu antes do que todo mundo em busca do fantasma da corvinal. Enquanto ela pegava os caminhos para a ala oeste. Harry, Ron e Hermione ficavam no Salão principal e Olho em Corner. Diferente dos outros dias, ele permanecia folheando o livro em um canto sozinho da enorme mesa da casa azul. Parecia muito interessado no conteúdo do livro, o que despertou ainda mais a curiosidade dos garotos.



- O que você acha que tem naquele caderno? – sussurrou baixo Rony para Hermione e Harry, enquanto fingia pegar algo mais a frente. Estavam praticamente solitários no meio da mesa da grifinória. O café já havia sido servido, mas sempre haviam os atrasados, e as mesas automaticamente exportavam as guloseimas da cozinha assim que a pessoa se sentasse.



- Coisa boa é que não pode ser... – respondeu Harry sem tirar os olhos de Corner que parecia ainda mais absorto na leitura.



- Malfoy também parece muito interessado nos movimentos de Corner... – agora Hermione indicava o garoto no outro lado da mesa - ... vocês não acham que esse bendito diário não está enfeitiçado, não é? Digo... – ela então voltou a olhar para os garotos que a encararam – lembram que até uns dias atrás Malfoy andava com esse livro para cima e para baixo, tanto que parecia doente...



Harry encarou a amiga e depois virou-se discretamente e observou o garoto. Sua pele pálida já não estava apática como vira a alguns dias. Estava até mesmo sem as sombras escuras abaixo dos olhos. No entanto, Corner, começava a dar sinais visíveis de que algo estava errado.



- Lembram do Diário do Tom Riddle? – falou Ron recordando-se do seu segundo ano em Hogwarts. – Ele praticamente fez a Gina de fantoche.



- Não acho que seja a mesma coisa... – respondeu Hermione - ... depois do nosso segundo ano, a segurança com itens sombrios entrando na escola foi redobrado. Stace Mitchell teve de mandar de volta pra casa sua coleção de minis mágicos que comprou no Japão. E eram só brinquedos, imagina se fosse algo das trevas?



- Seja lá o que for.... e de quem for... – falou Harry finalmente – Não é coisa boa, e realmente está enfeitiçado. Veja... ele está se levantando...



Corner então fecho o livro, e começou a recolher suas coisas. Harry então bateu de leve no braço de Rony e rapidamente se levantou.



- Depressa Ron, ele está saindo....



- E Malfoy também... – respondeu Hermione.



- Vamos sair antes do Corner... – falou Ron já começando a andar e então Harry o alcançou – podemos esperar atrás do javali da escada e ver para onde ele vai.



Mais que depressa os meninos se esconderam atrás da enorme estátua de Javali que havia no canto oposto ao saguão de entrada. Podiam ver com clareza Corner seguir abatido rumo a saída do salão, ele então parou na frente da escada parecendo se decidir se continuava ou tomava um rumo diferente. Por alguns minutos ele ficara assim, aturdido apenas observando o alto da escada. Depois dera dois passos para trás e tomara o caminho para as estufas.



- Onde ele está indo? – perguntou Ron quase inaudível.



- Não sei... mas parece que não somos os únicos interessados em segui-lo – falou Harry indicando Malfoy a passos largos logo atrás do garoto.



O Sonserino parou alguns minutos na entrada do corredor que levava as estufas de Herbologia, então olhou para os lados e tanto Rony quanto Harry se espremeram atrás da estátua de Javali. No momento seguinte ele seguiu corredor adentro.



- Ele não está com cara de que vai apenas conversar... – disse Rony agora saindo de trás da estatua - ...  e se tentarmos seguir Malfoy...



- Me lembre de da próxima vez que quiser seguir alguém...  pegar o mapa do maroto antes de sair... – disse Harry dando alguns passos até a entrada do corredor. Nem se quer passou pela sua cabeça usar o Mapa do Maroto embora, ele soubesse de que de nada adiantaria se Corner entrasse na sala precisa. Contudo poderia saber onde o garoto estava e com quem caso fosse necessário. Mas situações urgentes, necessitavam de medidas desesperadas, e mesmo correndo o risco de se meterem no maior duelo de varinhas do ano, Harry e Rony continuaram. Correram sorrateiramente pelos corredores, se escondendo aqui e ali quando viam que Malfoy parava. Já havia se passado mais de 15 minutos e o sonserino ainda não havia encontrado Corner.



- Talvez ele não esteja atrás do Corner... – disse Rony baixinho - ... ou ele tenha perdido ele de vista.



- Pode ser... – Sussurrou Harry um pouco antes de Malfoy entrar no banheiro masculino.



O banheiro masculino estava um tanto silencioso. Do lado direito, as pias brancas com espelhos enormes refletiam o lado oposto, os mictórios, e é claro do lado esquerdo os cubículos. Mas não havia sinal de Draco ou Corner. Rony entrou normalmente no banheiro fingindo ir usar um dos lavabos, e poucos minutos depois Harry entrou. Nada havia sido combinado, mas depois de anos de amizade, tinha assuntos que os dois já nem precisavam mais combinar. Cada um dos dois havia entrado em um box, Harry olhou em volta, parecia como um box qualquer, o sanitário, o lixeiro, a divisória de madeira verde brilhante. Nada anormal.



“O que é que eu estou fazendo... “ – pensou o garoto abrindo a portinhola e saindo novamente para as pias brancas. Estava lavando as mãos quando ouviu o barulho vindo dos cubículos. Pensando que era Ronny, acabou não prestando atenção até que a voz de Malfoy o pegou de surpresa.



- Habein speculo!



Harry não teve tempo de pegar a varinha, ou de pensar em algum contrafeitiço, sentiu um baque forte contra o ombro direito e seu corpo fora jogado para cima e contra a parede. Esperava um baque seco contra os espelhos que estavam presos nela, mas isso não aconteceu e no minuto seguinte estava jogado no chão. Mais que depressa ele se levantou e olhou em volta, estava sozinho. Mas como?



- Isso é para você aprender a não ser intrometido Potter! – ouviu a voz de Malfoy vindo do espelho e voltou-se para o espelho sem entender. Novamente olhou em volta de si mas não havia mais ninguém onde ele estava, apenas a imagem de Malfoy refletida no espelho.  – Dê um alô aos fantasmas por mim...



- HARRY! - Então viu Ron entrando novamente pela porta de entrada do banheiro, e no minuto seguinte um a um dos espelhos começou a quebrar. Harry jogou-se no chão para evitar que os cacos de vidro, acabassem lhe atingindo. E só então ele foi entender. Havia caído na armadilha de Malfoy, e agora estava preso nos espelhos. E pior, não tinha a mínima ideia de como voltar.



Um fio de pânico começou a surgir dentro do peito de Harry, como ele pode ser tão estúpido? Já não tinha tido surpresas macabras de Malfoy em todos esses anos?



“Calma Potter...” – pensou ele respirando fundo ainda deitado no chão. Precisava ter foco, primeiro teria de saber onde ele estava. Depois em como poderia sair dali. OBVIAMENTE estava em Hogwarts, mas nunca tinha ouvido se quer falar sobre uma magia que fosse capaz de enviar alguém para dentro de um espelho. Nem nos seus sonhos mais doidos.



- Rapaz! – Harry ouviu a voz poderosa de uma silueta na porta de entrada e então ergueu a cabeça. Um homem vestido com uma longa capa estava de pé e suas vastas sobrancelhas estavam franzidas sobre olhos brilhantes e profundos. - Que tipo de rebelião é essa?



- Rebelião? – perguntou Harry e então se deu conta de como é que a cena toda parecia.



- E como explica tal desprezo pelo patrimonio da escola? – agora Harry podia ver quem era o bruxo que estava a sua frente. Era alguém que ele apenas tinha visto nos livros, ou por alguma imagem nos retratos espalhados pela escola. Uma barga tão longa quanto dumbledore, apesar de não ter cabelo algum na cabeça. Rosto magro com as maçãs do rosto bem acentuadas. Sem dúvida era ele. Estava frente a frente com Salazar Sonserina.



- Desculpe -me Senhor, mas não faço parte de nenhuma rebelião – respondeu Harry tão educadamente quanto conseguiu. Estava diante de um dos fundadores da escola, não acreditava que Malfoy tivesse capacidade para te-lo mandado através do espelho para o passado, ainda mais para a época dos fundadores. Tentou inutilmente achar uma desculpa para a situação calamitósa dos espelhos no banheiro, não consegiu pensar em nada - Eu estava somente... hmm... perdido.



- Estás deveras rebelando - rosnou Slytherin, semicerrando os olhos - mas unicamente por causa do teu sangue ruim. Como ousas cruzar estes corredores, trouxa?



- Trouxa? – pensou em perguntar Harry e só então se deu conta de que suas vestes não eram exatamente algo normal para o bruxo, principalmente de mil anos atrás. Um misto de  raiva e panico brotou dentro do garoto, ainda mais quando chamou ele de Sangue ruim. Slytherin se inclinou parecendo examinar ele melhor. Seus olhos cerrados como fendas e a pele bastante cadavérica e clara como ossos.



- Ousas olhar em meus olhos como se acreditasses que fosses meu igual? - falou Salazar num silvo. - Os corações gentis dos meus companheiros têm gerado insolência na tua laia, mas não tolerarei isto. Terás que se referir a mim como “mestre”, e desviarás os teus olhos, ou os ficarei com eles para minha coleção. Está claro, filho da lama?



- Não costumo chamar pessoas crueis e sem um pingo de respeito a vida como o senhor de mestre. – disse Harry correspondendo ao olhar do bruxo que ele pode perceber flamejaram em desconfiança.



Harry não baixou a cabeça, mesmo sabendo que corria o risco de tomar uma bela maldição imperdoavel nas fuças. Mas correspondeu ao olhar na mesma intensidade que o fundador da Sonserina. Definitivamente, Salazar era exatamente como estava descrito nos livros. Tão rápido como um sopro de vento, o bruxo fez mensão de puxar sua varinha, e Harry por sua vez fizera o mesmo porém uma voz acabou interrompendo o que provavelmente seria um duelo.



- Salazar - chamou uma voz repentinamente e Harry pode perceber que o bruxo ficou congelado. A mulher que apareceu na moldura da porta, o garoto reconheceu na hora. Rowena Ravenclaw.  - Estávamos te esperando. A audiência com lorde Maarten já se iniciou. Por quanto tempo pretendes conferenciar com esse, hmm, jovem clérigo?



- Não vês? – disse Salazar mostrando ao redor – O descaso com que esse garoto trata nossa preciosa escola? Vandalizando e destruindo nosso precioso castelo?



- Mas não fui eu... – respondeu Harry praticamente em seguida.



Harry então encontrou os olhos de Rowena. Claramente ela sabia que ele não pertencia aquele lugar. Mas apesar de parecer um tanto curiosa percebeu que as coisas ali estavam um tanto quanto confusas e porque não dizer, preocupantes.



- Eu acredito em ti meu jovem... – disse Rowena com um doce sorriso apesar de Harry ver em seu rosto que ela estava tão curiosa sobre ele quanto Hagrid quando recebia algum bichinho novo na escola - ... aposto que fora o danado daquele fantasma endiabrado...



Obviamente Rowena devia estar falando sobre pirraça, afinal, contava-se em Hogwarts que o Poltergeist vivia ali desde os dias da fundação da escola. Contudo o garoto pode perceber a súbita mudança no olhar furioso de Salazar assim que ouvira a presença da Ravenclaw. Ele sorriu indulgentemente e deu um tapinha na cabeça de Harry “paternalmente”.



- Vá rapaz.... – disse ele em uma voz melodiosa – Tenho certeza de que poderemos finalizar nossa “conferencia” mais tarde.



Relutante, Harry foi andando de costas. Algo lhe dizia que se por algum momento ele se virasse, tomaria um avada. Contudo a expressão de Salazar não mudou, mas seus olhos endureceram, e mesmo ele não dizendo nada. Seus olhos estava gritando “Ande agora ou enfrente as consequencias”. Assim que Salazar virou-se para dar atenção para uma jovem Rowena, Harry então se virou e caminhou o mais rápido que podia, pegando um corredor perpendicular àquele em que Salazar e Rowena Ravenclaw ocupavam. Curvou-se para a direita e encontrou um pequeno lance de escadas. Quando Harry as alcançou, ele olhou para trás. Salazar não estava mais visível. Dando mais um suspiro de alívio, subiu pela escada de dois em dois degraus por vez.



Era difícil saber direito onde ir. Por mais que Harry passasse horas por dia tranzitando pelo castelo, esse castelo no caso era bem diferente do que ele estava acostumado. Haviam mais campos abertos e estruturas ao ar livre do que na Hogwarts a que ele pertencia.



Enquanto se aventurava pelos corredores, ainda podia ouvir os barulhos vindos de algum canto, devia estar perto do salão principal ou até mesmo da cozinha, embora pela claridade das janelas duvidava que estivesse próximo a cozinha. Nada era familiar, as tochas tremeluziam e chiavam em grandes suportes de ferro, fazendo com que as sombras dançassem nas paredes dando uma sensação nauseante. Ele passou por algumas pessoas, algumas mais velhas do que ele (o que parecia) e outras nem tanto. Possivelmente alunos da primeira versão de Hogwarts. Eles então se viraram curiosos enquanto ele passava, e só então ele percebeu o que era “tão estranho” assim. Ele estava vestindo roupas normais, tão normais quanto a época que ele vivia. Porém, TOTALMENTE diferente das roupas daquela época. Antes mesmo que alguém falasse ou lhe perguntasse algo, entrou porta adentro na primeira passagem que apareceu e tentou se esconder dos olhares curiosos, ou pelo menos até que os corredores ficassem com menos gente.



“Preciso ver onde fica a lavanderia...” – pensou ele enquanto olhava pela janela. A confusão que tomava os arredores da escola o deixava confuso. Parecia uma feira a céu aberto do lado de fora com muitas barracas. Os cheiros se confundiam entre estrume dos cavalos e grama rescém cortada. Sem falar os sons e falatórios. O seu reflexo na janela mostrava uma pessoa totalmente fora dos padrões para aquela época. Seu Jeans, tenis e moletom, mesmo pertencendo a Grifinória, não tinha o mesmo símbolo. O que o deixava fora do contexto por assim dizer.  Fora quando uma cabeça acinzentada saiu de dentro do armário ao qual ele estava escondido.



- AHA!!! PEGUEI UM RATINHO FORA DA JAULA!



Harry tivera um sobressalto, e então Pirraça, o poltergeist lentamente foi se materializando do mesmo jeito como ele conhecia. O fantasma flutuou preguiçosamente enquanto encarava Harry com um olhar acusador. Provavelmente tentando entender o que ele fazia fora da sala de aula, seja lá ela onde é que fosse.



- Está matando aula não é mandrião? – perguntou o fantasma coçando o queixo e com olhos serrados em desconfiança.



- Não... apenas estou perdido... – tentou dizer Harry. O que pareceu instigar o fantasma a entregar sua localização



- ALUNO FORA DA SALAAAAAA.... – Gritou o fantasma e então Harry rapidamente lembrou-se de como Sarah fazia para driblar as malcriações do fantasma.



- OK, OK, você me pegou... – disse ele lembrando-se também de como Pirraça respeitou Fred e Jorge depois que eles sairam fugidos do castelo no seu quinto ano. - ... eu apenas queria ver se o MAIOR FANTASMA desse castelo era tão grandioso quanto é mensionado por ai.



Harry pode ver no olhar do fantasma um certo quê de soberba e orgulho quando terminou a frase.



- Ah é???? – perguntou o fantasma desconfiado – Desde quando? Sou o único fantasma aqui...



- Pois é... e ouvi vários alunos comentando sobre seu incrível poder de manipulação e conflito... – disse Harry - ... pois saiba, que admiro muito quando usa seus dotes artisticos nos corredores, não sei porque motivo, os elfos ficam limpando aquelas pérolas de sabedoria que escreve nas paredes....



- POIS NÃO É???? – falou o poltergeist em concordancia – São frases de inspiração! Aqueles metidos a sabichões é que dizem que é um mal exemplo... - Então o fantasma circulou Harry tentando examinar o garoto dos pés a cabeça. Em sua mente, o garoto tentava buscar um jeito de tirar informações do fantasma antes que ele lhe entregasse para alguém. Ainda mais se fosse Salazar. – Hummm... por que algo me diz que você não pertence a esse lugar...



- Ahhh isso??? – disse Harry finalmente mostrando as roupas - ... encontrei uns meninos nos corredores, sabe com vestes verdes... foram eles que deformaram meus trajes... não sei que feitiço usaram, mas... – agora ele olhou em volta - ... mas disseram que podiam fazer a mesma coisa para concertar suas roupas... digo... – então indicou as do fantasma - ... acho que eles queriam aprontar alguma com você.



- Não seriam duas serpentes rastejantes... uma com cabelo liso e vermelho e outro com nariz de tucano?  - perguntou o fantasma cerrando os olhos para Harry.



- Se me disser onde posso conseguir alguma coisa decente para vestir... – disse o garoto correspondendo o olhar - ... eu posso lhe dizer quem foram os meliantes...



 Por um breve momento o fantasma pareceu pensar na proposta, e Harry pensou ter sido descoberto. Mas por fim, Pirraça o encarou.



- Como um aluno não sabe onde fica a lavanderia? É só ir até seu quarto e pegar roupas novas... os elfos sempre deixam algumas limpas lá todo dia... -  falou o fantasma despreocupadamente.  – MAS.... caso queira escolher suas vestes... bem... pode ir até as masmorras...



- Bem... – disse Harry vendo o olhar cintilar do  fantasma, se é que era possivel algo do genero - ... se você conseguir algo para mim, eu posso até mostrar os garotos que o chamaram de fumaça sem graça. Pode notar que o fantasma acabou cerrando os olhos e suas orelhas ficaram visivelmente vermelhas, se é que isso era possivel.  Por alguns segundos o fantasma atravessou o chão sem dizer uma única palavra, e Harry se pos a pensar que talvez tivesse posto tudo a perder. Se saisse vestido como estava vestido, no minimo o levariam para a fogueira ou deletariam sua memória por acharem que ele fosse um trouxa de algum tipo. Estava estudando o melhor caminho para sair da sala quando então, ouviu um barulho no trinco da porta. Ele por sua vez se escondeu atrás novamente do armário, e então. A cabeça de Pirraça apareceu seguido de seu corpo quando a porta foi aberta. Ele então jogou o que parecia ser uma capa de um vermelho um tanto desbotado.



- Tudo bem mandrião... vista isso, e me leve até os meliantes que me chamaram de “fumacinha”... – disse o fantasma.



Harry então jogou a capa por cima de suas vestes tomando cuidado para que elas não aparecessem. Usou a varinha para pintar os tenis de preto afim de confundi-los com sapatos e então saiu da sala com o fantasma voando acima de sua cabeça.



- Eu farei um sinal a você quando os vir... – disse o garoto enquanto caminhava pelos corredores. Ao contrário de sua época, todos aqueles tijolos e pedras estavam alinhados nas paredes. Nem mesmo a estatua dos fundadores que a muito estava lascada no saguão de entrada, pareciam recém feitas. A cozinha ficava um pouco atras do salão principal, que na verdade mais parecia um grande campo de piquenique ao ar livre do que um salão. Harry então passou pelo Aro de entrada e seguiu rumo a mesa onde estava alguns com a mesma cor de capa que e dele e passou os olhos pelas outras mesas. Diferente do que na sua época, as capas tinham cores distintas, e os alunos deviam ter 15 ou 20 no máximo naquelas mesas de pedra. Seus olhos pairaram sobre os dois alunos os quais ele encontrou nos corredores e então assoviou para Pirraça que passou lentamente perto dele.



- O quinto e o sexto do lado esquerdo da mesa a contar da ponta próximo a mesa dos professores... – falou o garoto e Pirraça então confirmou com a cabeça. Assim que o garoto viu o fantasma começar uma guerra de comida, rapidamente tratou de sair correndo com os outros alunos afim de pelo menos achar um jeito de voltar para sua época. Como? Ele ainda não tinha a mínima idéia, e pior de tudo, também não tinha noção de para quem pedir.



- Que falta faz a Hermione... – disse ele baixinho percorrendo o corredor lateral dessa vez. Pedia a Merlin para não topar com Salazar, pois este já havia mostrado que não tinha gostado dele. Então o que poderia fazer? Se enturmar com o pessoal da Grifinória, e com sorte saber a senha para entrar na torre? Se esconder em um dos estábulos? Se fosse pego fora do castelo, com certeza iria para as masmorras, conhecia as histórias, e não estava nem um pouco a fim de comprovar se eram reais. Olhou em volta, e viu alguns grifinórios andando em grupo, silenciosamente os seguiu, na esperança que fossem para a torre, assim pelo menos lá ficaria mais seguro e talvez conseguisse colocar seus pensamentos em ordem. Pelo que notara, e se não estivesse enganado, estavam na metade da manhã. Não sabia dizer exatamente o dia e o mês mas a julgar pelo calor, poderia ser entre Maio ou Junho. O grupo dos leões começou a subir algumas escadas despreocupadamente. Chegaram a um patamar ao que parecia ser uma bifurcação com 3 passagens, pegaram a do meio e seguiram por um corredor mal iluminado dando exatamente no corredor das escadas que se moviam. Dali era só esperar e pegar a escada certa para a Torre da Grifinória. O grupo parou na frente de um quadro onde uma linda mulher tocava harpa. Por alguns segundos Harry parou e observou o pequeno grupo. Não muito longe para que não pudesse ouvir a senha, mas também não tão perto para que eles não suspeitassem dele.



- Eu não acredito que ela tenha dito não? – disse o garoto mais baixinho – Sou praticamente um abastado nas provincias de Wormintong.



- Não fiques assim... ouvi dizer que Roxanne está livre já que Roxwell vai passar uns bons tempos com os curandeiros... – respondeu o outro.



- Verdade, falei com nossa curandeira chefe... – agora era um garoto loiro quem falava - ... por algum motivo nasceram tentaculos de suas orelhas, não sabem quem foi que causou isso ou o que... SANGUE SUGAS.



O retrato então girou calmemente e os trê passaram por ele, Harry mais que depressa também se precipitou e ainda mantendo distância os seguiu. A sala comunal era exatamente igual, embora com muito menos poeira. Ao contrário das poltronas e tapetes manchados ou puídos, as cores escarlates e douradas cintilavam entre as janelas. As mesas e cadeiras de madeira polida e com cheiro de novas ainda podiam ser sentidas. Enquanto o grupo se afastava rumo aos dormitórios, Harry foi sentar-se na mesa mais afastada fingindo olhar a paisagem do lado de fora. Precisava desesperadamente achar um jeito de sair dali, mas como? Não tinha mapa do maroto para lhe ajudar, embora achasse que isso teria pouca serventia já que a estrutura do castelo era totalmente diferente. Não tinha como contatar um professor, e muito menos conhecia alguém inteligente o suficiente para lhe mandar de volta.



- Pense Harry... pense... – começou ele  a buscar na memória o que havia acontecido. Desde a hora em que ele e Rony haviam saido  do salão comunal, até a hora em que tinham entrado no banheiro. Em sua mente as coisas ainda aconteciam muito rapido. Fechou os olhos por alguns minutos tentando esquecer onde estava e voltar de onde havia partido, e foi então que lembrou-se do feitiço. - Habein speculo



Ele nunca havia ouvido falar em tal feitiço, ainda mais algo tão potente capaz de prender e mandar alguém para uma parte do tempo. E se não tinha Hermione ou Sarah para ajuda-lo com isso, o jeito era ele mesmo apelar para a biblioteca. Hogwarts ainda era uma escola, e como toda escola deveria ter uma biblioteca em algum lugar. Mas não devia ficar explorando sem saber direito onde ir, isso poderia acabar despertando ainda mais suspeita para cima de si mesmo, então, ficou observando  alguns alunos que estavam próximo a lareira, e o que parecia um grupo rescém chegado de setimanistas.



- Eu vou lhes dizer... – disse o aluno mais baixo jogando a sacola no chão assim que sentara-se na poltrona - ... Aquele Sr. Lokisperp ainda vai nos matar com aquelas maluquices...



- Mas achei que você estivesse em astronomia para cortejar Endora Crabbe... – falou um outro garoto de pele clara e cabelos castanhos.



- Pode até ser... – repetiu novamente o garoto mais baixo e só então Harry pode notar um rabo de cavalo, seu semblante era muito parecido com o de Carlinhos.



- Mas Prewett... – agora um aluno loiro e com olhos profundamente claros o encarou – Você não nos disse que “qualquer sacrificio valia a pena” para chegar perto daquelas ancas?



“Prewett??” – pensou Harry, decididamente esse era o sobrenome da Sra. Weasley. Provavelmente era um de seus vários antepassados. Devia ser um tatatatataravô de Ron, e a julgar pelo cabelo cor de fogo...



- Disse, mas...  – começou Prewett. Ele então chegou mais perto dos outros garotos e começou a falar algo mais baixo.



Harry então pensou que essa seria uma ótima chance para pegar as coisas de Prewett, não por mal, mas se quisesse se misturar aos alunos deveria ter pelo menos alguns materiais, assim poderia ir livremente procurar a biblioteca. Seja lá onde é que ela era.



Accio Sacola! – disse ele baixinho apontando a varinha discretamente para a sacola do garoto que voou rapidamente para junto de seus pés. O garoto ruivo olhou em volta, mas não notando nada de diferente (e Harry agradeceu por isso) voltou a sua conversa sigilosa. Mais que depressa, Harry se pôs a um canto mais escondido, tirou todas as coisas que haviam na sacola do garoto e as duplicou. Resava para que elas aguentassem até a noite pelo menos, ou até quando ele soubesse como voltar para seu tempo.



As coisas na sacola do garoto, não eram muito diferentes das que ele mesmo carregava. Rolos de pergaminho, pena, tinteiro, algumas figurinhas (que Harry deduziu) poderiam ser de alguns sapos de chocolate. Se é que eles existiam nessa época. Pareciam mais com cartões de jogadores, como os que ele via Duda colecionando quando era mais novo. Mas não eram brilhantes e coloridos, pareciam fotos polaroides, nas quais haviam a imagem do bruxo em questão, e o que ele fizera de iteressante. As que o garoto tinha na bolsa de couro de uma alsa, eram bem simples. Decidiu deixar as figurinhas de lado, e apenas focar no que precisava. Um pequeno livro de anotações, um caderno com a capa rabiscada – Tem coisas que não mudam... – disse ele para si mesmo lembrando-se dos cadernos de Ron.  Alguns pergaminos rabiscados, alguns em branco, penas, tinteiro. E eis que o que ele mais queria. Um livro da biblioteca. Tudo dentro estava etiquetado com o nome Ignatius Prewett, ele não podia usar algo com o nome do aluno que provavelmente todos conheciam. Olhou rapidamente na folha de retirada do livro da biblioteca. Haviam alguns nomes e as datas, mas não tinha como usar algum daqueles nomes, foi então que lhe ocorreu, precisava usar um nome o qual ali, ninguém tivesse conhecimento, mas qual. Foi então que lembrou de Sírius. Rapidamente pegou o livro da biblioteca e torcendo para que não houvesse feitiços de proteção neles, usou o feitiço mais uma vez. O livro balançou, tremeu e então praticamente cuspiu uma cópia igualzinha ao lado. Foi quando ouviu um movimento próximo a lareira e mais que depressa, colocou as coisas originais dentro da sacola de Prewett e com um movimento rápido a lançou para junto do sofá onde estava. Pegou uma pena e começou a rabiscar algo no pergaminho fingindo estar estudando.



Quando finalmente os alunos subiram para o dormitório, Harry tratou de mudar a cor da sacola de couro, embora a maioria delas fosse marrom, ele tentou dar um ar mais  velho e surrado que conseguiu, tirou as etiquetas antigas e subistituiu por novas com o nome Sirius Black escrito com tinta preta, tanto no caderno quanto no final do livro da Biblioteca. Começou a colocar as coisas dentro da bolsa. Não poderia demorar mais, tinha de ir encontrar a biblioteca, de qualquer maneira. Aproveitou que um grupo de garotas saía pela passagem e então pelos corredores.  O grupo seguiu por um corredor estreito, e logo a claridade quase o cegou.



O castelo de Hogwarts era muito menor que aquele que conhecia em sua época.  A entrada para os jardins era adornada com uma porta levadiça de ferro, recentemente suspensa. Os torreões cintilavam ao pôr-do-sol, seus telhados cônicos pareciam afiados o suficiente para furar o dedo de alguém. Mais alta que os outros torreões, havia uma outra torre a qual ele não lembrava de já ter visto. Talvez tivesse sido destruída afinal, a torre que ele conhecia ser “a mais alta” era a de astronomia, e não era nem um pouco tão alta e soberba quanto aquela. Enquanto circulava o castelo, percebeu que a terra aos redores do castelo estava salpicada com fazendas e cabanas. Harry ficara um pouco surpreso. Em sua época, o castelo de Hogwarts estava isolado em meio de uma imensa e arborizada vastidão, solitário e escondido. E ali, contudo, o castelo dava vista a uma tumultuada comunidade. Pessoas se moviam ocupadas em todo canto, obviamente absorvidas com os assuntos de uma vida rural. Várias pessoas lançaram a James olhares suspicazes, e ao menos uma mulher riu dele, mas pelo menos ninguém o estava saudando ou querendo saber o que estava fazendo.



Finalmente, ele captou o cheiro de adubo animal fresco na brisa inconstante. Olhou e viu um amplo celeiro de pedra. Sorriu, o reconhecendo; era o mesmo celeiro no qual Hagrid, em seu tempo, lecionava normalmente Trato das Criaturas Mágicas. O telhado era diferente, e havia algo como uma oficina de ferreiro ao lado, mas fora isso estava inalterado. Enquanto James se aproximava, podia ouvir os estampidos  e relinchos dos cavalos e o baque e assobio do ferreiro. Nem em seus sonhos mais loucos ele imaginaria uma Hogwarts tão amistosa e “aberta” aos trouxas como esta.



“Talvez fosse por isso que Salazar Sonserina estava de mal humor” – pensou ele mas então olhou em volta, duvidava que de onde ele estava chegaria a biblioteca. Decidira dar meia volta e voltar para o interior do castelo, por mais que estivesse tentado e curioso não poderia perder tempo, o que procurava certamente estava no interior da construção e não fora dela. Ele então rastejou sigilosamente em volta de uma grande passagem arcada, ali do outro lado do piso de mármore estavam as estátuas gigantescas dos fundadores. Ele havia voltado ao saguão de entrada. Foi mais ou menos nesse momento que ouviu um grupo de garotas saindo do corredor.



- Mally... vamos até a cozinha? Estou com muita fome. – dizia uma menina baixinha e atarracada.



- Você não acha que está comendo demais? – Dizia outra com a capa amarelada, com o símbolo da Lufa-Lufa.



- Podem ir... eu tenho de ir a biblioteca terminar meu trabalho de feitiços... – respondeu a menina com cabelos castanhos preso cuidadosamente em uma trança. Mas que depressa Harry a seguiu. Mantendo certa distancia para que não suspeitasse dele também. A garota passou por alguns corredores onde as tochas acendiam sozinhas. Virou a direita no que parecia ser o lavabo. Harry até tentou contar os corredores e também as escadas mas no fim estava tão precoupado em chegar a Biblioteca que não viu exatamente por onde passou. A biblioteca não era muito diferente a não ser pelo tamanho. A porta de carvalho estava polida e os livros não pareciam tão gastos como os da sua época. Ele tinha certeza de que alguns até ele já tinha pego para algum trabalho o qual Hermione o encarregou alguma vez. Mas por onde ele começaria. Haviam muitos livros e se ele estivesse certo, como ele tinha quase a mais absoluta certeza de que ele estava, não encontraria aquele feitiço específico nos livros da escola.



Com a bolsa a tiracolo, ele então parou diante da estante de livros de Feitiços e começou a olhar um por um deles. Muitos obviamente ele nunca havia ouvido falar antes, e muito menos os seus autores, ainda mais ele, que raramente ia para a biblioteca fazer alguma pesquisa. Geralmente ele e Rony copiavam de Sarah ou Hermione (quando ela ficava com pena dos dois e deixava isso acontecer), olhou em volta a procura de alguma sessão reservada, como a que ele tinha em Hogwarts mas não havia paredes ou grades separando as prateleiras ou as sessões. Ele precisava desesperadamente saber como voltar, sabia das consequencias de bruxos que brincaram com o tempo, ele mesmo já havia usado isso para salvar Sírius. E se o Ministério soubesse que ele mesmo havia sido mandado para outra época...



- Melhor não pensar nisso... – disse ele baixinho ainda olhando as prateleiras. Depois de alguns minutos, e vários livros folheados depois. Harry já estava começando a desistir de achar o que estava buscando entre aquelas várias prateleiras polidas e brilhantes. Se levantou uma última vez, carregando sua sacola, e então fora para os fundos da sala, talvez o livro que procurasse estivesse em alguma outra prateleira exclusiva para professores, ou algo nesse sentido. Quando passou pela prateleira de poções, no mesmo momento em que ele pensava em como sairia daquela situação caso não encontrasse o que procurava, no entanto, algo começou a se mover detrás das prateleiras. Alguém tinha estado o aguardando nas sombras e agora estava saindo delas como se viesse ao seu encontro. Harry tentou parar, se escapulir para outro lugar de refugio, mas não havia lugar algum para ir. Já era tarde demais. Salazar Sonserina sorria malevolamente para ele, triunfante. Tinha a varinha em sua mão direita e carregava algo debaixo do braço esquerdo, que estava coberto com um grosso tecido preto.



-   Imaginei que encontrar-te-ia aqui, meu jovem amigo - disse Salazar calmamente. - Sabes, estou começando a suspeitar que não tens nada de trouxa. Estou começando a pensar que és um espião. Quão ardiloso da tua parte, viajando através do Espelho. Eu tinha cometido o erro de pensar que era impossível.


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