Poção



6-

Hermione não tinha aquela beleza perfeita, tão estimada. Hermione muitas vezes desejara ser diferente do que era, e muitas vezes criticou a própria aparência. Porém, naquele momento, ela não queria ser outra pessoa além de si mesma. Porque ele a fazia se sentir bonita, e muitas vezes dissera exatamente isso.
Sirius era uma pessoa bonita. Tanto por dentro quanto por fora, e esse era o melhor elogio que ela tinha para dar. Era também a mais pura verdade.
Flutuava. Todo dia começava a andar, a correr, a voar para os braços de um sentimento, um quarto, um homem. Homem este que estava sempre a esperar, a desejar o momento tanto quanto ela.
Por mais de um mês eles viveram em nuvens. Este foi certamente um tempo demasiado curto para ambos. A hipótese de uma separação fora ignorada e rebaixada para aqueles momentos derradeiros antes do adormecer, em que uma consciência meio esquecida tenta lhe dizer algo, mas você já está em outro mundo e não acha importante.
Ledo engano.

****

Luna olhou em volta ansiosamente. Será que aquilo ia funcionar? Três Inonimáveis olhavam duvidosamente para a jovem mulher loira e magrela, com uma aparência exótica, para dizer o mínimo. Será que ela bate bem da cabeça?
Depois de narrar, repetir, dissecar com cuidado o que acontecera com Hermione mais vezes do que ela poderia se lembrar, finalmente ficara decidido que Luna poderia usar umas pequenas poções para encontrar a amiga. Onde quer que ela esteja.
Os olhos azuis fitaram o papel amarelado. Da onde surgiram aquelas receitas, ela não podia precisar até agora. Aparentemente, aquele funcionário idoso que insistia em duvidar de sua história tinha um amigo na Prefeitura Francesa que era casado com uma garota alemã cuja tia tinha uma vizinha. A filha desta vizinha morava na Espanha e o marido dela tinha uma irmã que era amiga de um meio-humano tão idoso quanto Mérlim, e tudo aquilo era dele.
Complicado? Sim, os Narguilés são assim mesmo. Nunca agem diretamente.
Então era isso. Uma poção para achá-la, uma para ir até lá, e uma para voltar.
Fácil assim.
Ela quase acreditava nisso.

****

Apesar de Hermione ultimamente ter ficado meio avoada com o calendário, ela tinha uma vaga noção que o natal devia estar chegando. Mas ela não passaria o natal no Largo Grimmauld nº12.
Porque sua poção estava pronta, ela percebeu, num misto de horror e excitação.
Durante tanto tempo, ela esperara que aquela beberagem ficasse pronta (não que ela parecesse um pouco sequer bebível, a julgar pelas nojentas bolhas que explodiam em sua superfície) que agora que o momento tinha chegado, ela se sentia em choque.
Beber aquilo significaria voltar a um mundo diferente. Ao seu mundo. Luna, Gina, Rony e Harry estariam esperando-a ali.
Mas para que ela queria voltar, se Sirius estava aqui?

Mais do que o esperado, ela se prendera ao Black. Se quando adolescente ele era um homem de coragem sempre admirável, e preocupado com as pessoas ao redor, agora, como adulta, ela tinha muito mais a admirar nele. A alegria, a vontade de melhorar, conhecer, desafiar, era tudo isso que ela admirava nele. E mais um pouco.

Ensaiando mentalmente como daria a notícia, a morena deu adeus a Bicuço e foi até o quarto de Sirius, logo ao lado. Ela não soube dizer se era por sorte ou azar, mas de qualquer forma o homem estava lá.

- Ei. Sirius. – Arrependeu-se de tê-lo chamado no segundo seguinte, porque ainda não havia chegado a conclusão nenhuma de como falar sobre o assunto. Tarde demais para se arrepender. – A poção está pronta. – Quando criança, a mãe de Hermione costumava falar que ela era direta demais com os assuntos errados. Talvez ela estivesse certa.
Sirius continuou a ler o que estava anteriormente focado. Não hesitou em nenhum momento. Por alguns instantes, Hermione desejou ter batido na porta antes de ter adentrado o quarto - a camisa aberta a deixava mais nervosa de certo modo. Era um assunto sério em que ambos não queriam discutir. Ou pelo menos ela esperava que não.
Pareceu uma eternidade até ele fechar o livro. Mas, quando olhou para ela, Hermione quis que ele ainda estivesse lendo. Ficou com um pouco de medo do que ele ia falar. Um pouco, quem ela queria enganar? A mulher estava prestes a desabar no chão - e isso não seria nada, nada legal.
- Você está pronta? – Ele perguntou quase que friamente para ela. Depois mudou de idéia, e abraçou-a apertado – Não sei se eu estou pronto.
E, depois dessa, Hermione não soube se teria coragem.


Mas, afinal de contas, qual era a outra opção? Morar no passado, continuar a viver em um sonho infinito... Até que acabe. Até que Sirius desapareça no maldito véu. E aí ela teria que voltar. De qualquer jeito. Fazer tudo acontecer diferente não era exatamente uma opção. O que aconteceria com o futuro? Ou melhor, o presente? O presente de Hermione Granger? Ela colocaria tudo a perder?
Não, não colocaria.
Mesmo que isso tivesse um leve sabor de covardia.


****


- Sirius, olhe, isso é muito importante. – Ela segurou a pedrinha na frente do rosto dele. – Guarde sempre com você. SEMPRE. Não importa o que aconteça.
- Hermione... - ele pegou a pedrinha e a observou cuidadosamente -...Isso fede. -Hermione teve que corar.
- Sai com o tempo. Mas é sério. Não tire nunca.
- Até parece que eu ia tirar algo que você me deu.
- É um presente meu, guarde com você. - Com cuidado, a mulher prendeu a corrente ao redor do pescoço do homem. De seu lugar, a pedrinha do pingente piscou para ela.

"Espero que isso seja um bom sinal"

****


Luna tirou os cabelos dourados de cima do rosto e olhou em volta.
Por Mérlim, ela não fazia idéia da onde estava.
E definitivamente não fazia idéia de onde Hermione estava. Andar um pouco por aí iria ajudá-la a se localizar. Seria muito ingênuo ter esperanças de esbarrar em Hermione na rua?
Provavelmente sim. Mas não tinha importância. Ela iria encontrar Hermione de todo o jeito. Afinal, aquela pracinha lhe parecia vagamente familiar. Só era preciso andar um pouco para se situar.

Luna levantou-se do chão. Cara, a primeira poção deveria fazê-la ter uma visão do lugar onde a amiga estava, mas conseguiria, além disso, deixá-la completamente tonta. Porém valera apena. Tinha um delicioso gosto de Tutti-Frutti.
Voltando ao que importava, a casa que aparecera na visão deveria estar por ali perto... Uma intuição lhe dizia que se ela seguisse aquela rua acabaria, de um modo ou de outro, dando no lugar certo.
Como Luna é do tipo que segue a intuição, começou a caminhar lentamente na direção que ela achava ser a certa.
Passou por uma banca de revista, e viu que, ou haviam impresso a data errada no jornal, ou de alguma forma ela viera parar no ano errado. Que curioso.
Mas, afinal de contas, sua amiga estivera mexendo num vira-tempo. Essas coisas acontecessem.

****

Sirius Black e Remus Lupin estavam olhando atentamente para a mulher. Hermione Granger girava o copo da poção em sua mão, sentada numa cadeira bem de frente para os dois homens.
- Hermione... Você vai ou não beber? – A mulher lançou um olhar de desagrado para Lupin, e pelo canto do olho viu que Sirius a imitava. Imaginou se ele estava fazendo a mesma coisa que ela, ou seja, tentando gravar a face dele na memória.
- Já vou! – E olhou para a substância no copo. Definitivamente não tinha uma cara apetitosa. Se Remus é quem fosse beber, ele não estaria com pressa.
“Mas é claro que ele não está com pressa. É só porque estamos nessa posição a uns... dez minutos?” .
- Bom... Tchau Remus. Tchau Sirius. – Ela deu um casto beijo nele. A despedida fora feita anteriormente, e não tivera nada de casta. – Vejo vocês mais tarde.
“Ou ao menos espero que sim”.
Fechando os olhos, Hermione bebeu todo o conteúdo do copo.

****

Nossa, como aquilo tinha um gosto ruim. A morena fez uma careta. Ainda de olho fechado, começou a ouvir um barulho. Será que isso significava que tinha funcionado?
Não, parecia mais a campainha.
Hermione abriu os olhos cuidadosamente: primeiro o direito, depois o esquerdo. Ela continuava sentada na mesma cadeira, e Sirius continuava a olhar para ela. Remus não estava mais lá.
- Onde foi o.. – Ela iria perguntar, mas o homem respondeu antes dela sequer terminar a frase.
- Remus foi abrir a porta.
Silêncio.
- A poção não funcionou... Não acredito! O que será que deu errado? Será que eu exagerei na quantidade de algum ingrediente? Ou mexi pouco a poção? Mérlim, o que deu errado? – Sirius já sabia que a mulher ia começar a tagarelar, como geralmente acontecia quando ela errava de alguma forma. O que ele não poderia saber é que não era por essa poção que ela estava preocupada. Hermione estava na verdade pensando que, se a poção não tinha dado certo, existiam chances de que o amuleto estivesse errado também.
- Calma, vai dar tudo certo. – Ele segurou a mão dela e começou a fazer movimentos circulares nas costas de sua mão. A morena parou aos poucos de falar, e quando Remus entrou novamente, o aposento estava silencioso.
- Isso é seu, Hermione? – Ele deu um passo para o lado, e lá estava Luna, com os cabelos quase brancos caindo nos ombros, e um colar de sementes vermelhas dando voltas e voltas no seu pescoço.
- Luna...?!

“E eu que achei não poder ficar surpresa com mais nada...”

- Hermione! Finalmente te achei! – Todo o ar que a morena tinha nos pulmões foi jogado para fora quando Luna a abraçou, e era incrível a força que aquela mulher magrinha tinha.
- Você... Está... Me.. Sufocando! – O abraço foi desfeito com um pedido de desculpas, e os quatro começaram a se olhar, analisando a situação. Hermione pensou que seria divertido pintar aquela cena em um quadro.
Lupin parado perto da porta, olhando quase que desaprovador para a cena (confusão?) toda. Luna, sua aparência por si só motivo de surpresa, os enormes brincos em forma de garra quase tocando seus ombros, mostrando um sorriso que ia de uma ponta a outra do rosto, por ter finalmente achado a amiga. Por último Sirius Black, lindo, levantando a sobrancelha direita, uma ponta de curiosidade mal disfarçada nos olhos, a surpresa estampada em seu rosto.
E ela, claro, com uma ponta de sorriso nos lábios, porque apesar de tudo, aquela cena era hilária.

- Sirius... Esta é Luna Lovengood. Ela estudou em Hogwarts, era um ano mais nova que a gente. Agora ela é minha colega de trabalho. – Hermione quase podia ouvir os pensamentos surpresos de Sirius.
- Sirius? Você é Sirius Black? O padrinho de Harry? Nossa, ouvi tanto falar de você! – com entusiasmo demasiado, Luna apertou a mão de Sirius, e acabou balançando o braço de ambos até os ombros. – Hermione, ele não é aquele que... – A frase foi interrompida por um olhar bem a tempo da outra mulher. – Bem, vamos voltar?
- Lovengood? Hum, tem como você soltar a minha mão? – Se a sobrancelha de Sirius se levantasse mais, desfiaria para fora do rosto.
- Ah, perdão! – Ela finalmente soltou a mão dele, que a puxou para perto de si imediatamente, como que temendo seu roubo novamente. – Hermione, eu tenho uma poção para nos levar novamente ao nosso tempo. Aliás, não é incrível termos voltado há tantos anos atrás? Aposto que ninguém viajou tanto no tempo assim! Vamos entrar no Guiness Book Bruxo! Será tão divertido!

Luna nunca conseguiu uma resposta para este comentário. Pois sua amiga estava mais preocupada com outra coisa no momento. A morena estava tentando procurar seu pé, que, por incrível que pareça, não estava no lugar de sempre.
- Gente... Meu pé se desvaneceu! – Todos olharam imediatamente para o pé de Hermione. Ou, ao menos, para o lugar onde ele deveria estar. Ele sumira, deixando sua dona flutuando sobre as pernas, sendo que estas começavam a ficar pálidas, como que se despedindo. – Eu estou desaparecendo! – A voz dela estava carregada de pânico.
Ninguém soube o que fazer imediatamente, e durante um segundo todos ficaram lá, respiração presa, virados para Hermione, como se tivessem dado ‘stop’ no mundo. Mais tarde Hermione pensaria naquele momento como o mais longo da sua vida, e aquele que ela sempre saberia de todos os detalhes. Principalmente, ela sempre se lembraria do jeito que uns olhos cinzentos brilharam para ela.
- A poção só está fazendo efeito agora. – E com a fala de Remus Lupin, o momento se quebrou em pequenos pedacinhos, e agora tudo estava indo rápido de mais. Remus explicava para Luna que Hermione já bebera uma poção, que não fizera efeito. Ao menos imediato. Luna tirava do bolso um frasco de poção verde-musgo, e bebia tudo aquilo de um gole só. Esta não tinha gosto de tutti-frutti. Hermione já não tinha joelhos, e sua coxa mal aparecia. Ela tentava desesperadamente comunicar uma coisa a Sirius.
- Não tire o cordão, ele é importante. Por favor. – Com as mãos estendidas, finalmente seus dedos tocaram os do homem.
- Tudo o que você pedir. Vou sentir sua falta. – Ela poderia estar imaginando, mais pensou ver lágrimas escondidas por trás da cor cinzenta dos olhos do Black. As mãos dele caíram ao lado do corpo, pois as dela, que ele segurava, tinham desaparecido. – Hermione... – Ele não terminou a frase, pois ela o beijou.
- Espero te encontrar mais tarde. – Outro beijo. Hermione agora era somente um pescoço e uma cabeça flutuante. Uma parte observadora da mente dela notou que Remus Lupin a observava assustado. Deve ser realmente estranho ver uma cabeça flutuar.
- Eu te amo. – declarou Sirius. E tocou com a mão a pela delicada e macia do rosto de Hermione.
- Eu te amo também. – Murmurou a mulher, porém mais tarde ela não saberia dizer se ele ouvira ou não, pois foi naquele momento que seu rosto desapareceu, como a névoa soprada pelo vento.




N/A: Hello darlings! Queria avisar que, por incrível que pareça, este foi o penúltimo capítulo da fic. Sim, é verdade! Também estou surpresa, passou tão rápido... Desculpe para quem esperava uma fic maior, não dá pra ser xDD
Ah, a capa nova foi feita pela Lena, uma grande amiga minha ;) Quem gostou e quiser ver outros trabalhos dela, é só vir aqui ->>

http://smilelines.ipbfree.com/index.php?showtopic=119

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