Desencontros



O almoço na Toca seguia seu curso natural. Hermione, já com uma bela e espalhada barriga de seis meses de gravidez, ajudava a sogra picando algumas vagens que seriam acrescentadas à salada.

Gina, com sua barriga de sete meses, também ajudava na tarefa. As pernas inchadas de ambas impediam que elas ficassem em pé por tempo demais.

Conversavam animadas, fazendo planos para a festa de batizado, enquanto os homens da casa armavam a mesa no jardim para aproveitarem o agradável clima de primavera.

- O enxoval do Sev está quase pronto, mamãe – informou Gina que já se habituara ao apelido sugerido por Hermione. – Faltam apenas algumas fraldas, mas isso o Harry ficou de comprar amanhã.

- Ótimo, Gina! – exclamou a Srª. Weasley, que naquele momento cortava algumas fatias de bacon para incrementar o purê de batatas. – E você, Hermione? Já terminou o enxoval da minha neta?

- Ah, ainda não – respondeu meio desanimada. – Eu pensei em escolher o nome primeiro, para poder bordar nas roupinhas.

- Ai, a difícil decisão do nome – comentou o Sr. Weasley que entrava na cozinha naquele momento. – Não se preocupe, querida. Quando você menos esperar, um ótimo nome vai surgir em sua mente.

- Hunf! Por que o Harry não esperou esse momento antes de escolher o nome pro nosso? – brincou Gina se fingindo zangada.

O pai de Rony depositou o álbum de leões que Hermione levara para mostrar aos sogros sobre o balcão da cozinha e foi terminar de levar os pratos e talheres para fora.

Quando o relógio soou uma da tarde, o almoço foi servido entre conversas animadas e planos divertidos para as crianças. Fred revelava aos poucos ter a mesma personalidade do tio, de quem ganhara o nome, e fazia diversas travessuras, arrancando gargalhadas dos avós e um comentário típico do pai coruja:

- Quando éramos pequenos, Fred e eu, mamãe nunca ria das nossas brincadeiras.

- Relaxa, amor – pedia Angelina. – Isso é porque eles eram seus pais, e não seus avós.

A família ria muito entre um prato e outro, evitando mencionar a chegada de Rony, que todos sabiam que aconteceria por aqueles dias.

Na hora de tirar os pratos, todos resolveram ajudar e só quando a família inteira chegou na apertada cozinha é que a Srª. Weasley reparou que Hermione não estava entre eles. Chegou até a janela para ver se a nora estava brincando com uma das crianças, mas a morena não havia se levantado da mesa e apertava a barriga com uma expressão de dor e angústia.

- Arthur! – chamou Molly. – Corra, Hermione não está bem!

O Sr. Weasley correu pelos degraus que davam para o jardim e alcançou a nora, perguntando como ela se sentia. Hermione apenas o olhou, o choro correndo solto pelo rosto. Gui chegou logo atrás e ergueu a cunhada nos braços, aparatando com ela no St. Mungus. George, Harry e os outros seguiram atrás dela e apenas a Srª. Weasley e Gina ficaram na Toca, junto das crianças.

Na sala de estar da casa, um Rony coberto de fuligem aparecia tenso e saudoso do aroma da comida de sua mãe. Entrou pelos cômodos e só encontrou movimento na cozinha. A expressão preocupada no semblante da mãe e da irmã o fizeram estancar antes que conseguisse sequer cumprimentá-las.

- Rony! – exclamou a matriarca, quando o viu, com um tom de voz entre o emocionado e o triste.

Gina também abraçou o irmão do jeito que pôde e deu-lhe um sorriso cansado.

- Nossa, você está incrível! – disse olhando a barriga da irmã. – O que é?

- Menino – respondeu com um nó na garganta.

A ruiva pensava em Hermione no hospital naquele momento. A amiga já foi vítima de um princípio de aborto no começo da gravidez. Seria possível que o destino iria ser tão cruel a ponto de fazê-la perder o bebê quando o marido voltava e eles poderiam enfim se acertar?

- Onde estão todos? – perguntou curioso e preocupado.

As duas mulheres se entreolharam indecisas. Não sabiam o que contar para o rapaz, que já havia sentado e se servia de purê de batatas com molho de ervilhas.

Elas se sentaram de frente para ele, escolhendo as palavras para dar a notícia. Gina pensou numa alternativa e pegou o álbum sobre o balcão, empurrando-o na direção do irmão. Ele o abriu curioso e parou ao ver a foto de Hermione na primeira página.

- O que tem isso? – perguntou sentindo o peito apertar e a respiração ficar difícil.

- Estão todos no St. Mungus, Rony, querido – disse a Srª. Weasley tocando a mão do filho com as pontas dos dedos.

- Mas quem... – ele viu o olhar de Gina descer em direção ao álbum. – A Mione está... Digo... Ela está bem, não está?

- Ainda não sabemos! Faz poucos minutos que eles a levaram para lá – informou a matriarca.

Ele levantou, largando a comida em cima da mesa, e andou pela cozinha tentando colocar as idéias em ordens. Não sabia se deveria ir até lá ou não. E se sua presença só piorasse as coisas, causando constrangimento?

- Por que você não vai até lá, Rony? – sugeriu Gina pondo fim as dúvidas do irmão. – Tenho certeza que ela vai se sentir melhor com você por perto.

- Sim eu vou – disse decidido, mas antes de aparatar perguntou: – Mas o Erick, ele não vai estar lá?

- Claro que vai – respondeu Gina sem entender como Rony poderia saber o nome do obstetra se ele desconhecia a gravidez de Hermione. – Afinal ele é quem tem cuidado dela esse tempo todo.

A indecisão tornou a brilhar nos olhos dele. Respirando o fundo e passando as mãos pelos cabelos, ele tornou a se sentar.

- Então... então eu... – começou a falar sem saber exatamente o quê.

- Então vai ficar tudo bem, Rony – completou a Srª. Weasley impaciente. Ela não sabia de todos os problemas que o casal estava enfrentando pelo mal entendido no jantar há quase quatro meses. – Você está em condições de aparatar?

Ele apenas balançou a cabeça afirmativamente.

- Perfeito. Agora se levante, pegue esse álbum e aparate lá no St. Mungus. – e vendo o filho dar o primeiro impulso para fazer o que ela ordenava, concluiu. – Você vai ver que o Dr. Erick é um ótimo obstetra. Sua mulher e sua filha estão em boas mãos.

O estalo seco de aparatação ficou pela metade. As palavras da Srª. Weasley deixaram Rony tão perturbado que ele aparatou no St. Mungus sem uma perna. A outra parte ficou na Toca.

A dor que ele sentiu foi enorme, mas só teve noção do que havia acontecido quando um grupo de pacientes olhou espantado para ele. Por um instante pensou estar mal-vestido, mas logo desequilibrou e gemeu de dor.

Os enfermeiros correram a socorrê-lo, mas ele brigava que precisava ver onde a esposa estava. A muito custo eles conseguiram levá-lo para a emergência e logo um grupo de medibruxos especializados foram até sua casa para recuperar a parte da perna que havia ficado para trás. A mãe do rapaz acompanhou a equipe de volta ao hospital para lhe fazer companhia.

- O senhor vai ter que fazer repouso até amanhã de manhã – informou o medibruxo que o atendeu.

- Não, eu não posso, o senhor não entende! A minha esposa está aqui e ela está grávida e... – ele parou de falar. Era a primeira vez que dizia aquilo e nada no mundo lhe pareceu mais maravilhoso do que o som daquelas palavras. Respirou fundo, com uma careta estranha produzida pela dor que ainda sentia e pela alegria de saber que seria pai e repetiu a frase, saboreando cada letra. – Minha esposa está grávida! Eu preciso saber como ela está...

- Sinto muito, senhor, mas o seu caso foi muito grave. Precisa ficar de repouso até amanhã. Vou lhe receitar uma poção que irá fazê-lo se acalmar. Se tudo estiver bem até o fim da tarde, eu prometo que permito uma visita à ala de sua esposa, está bem?

Ele não teve outra coisa a fazer a não ser concordar, ainda contrariado. Mas a alternativa do médico era melhor do que ter que esperar o dia seguinte para ver como Hermione estava. Ficou imaginando o quanto ele foi bobo de pensar que ela o estava traindo. Erick era apenas o obstetra.

No fim das contas, o tal Erick Crosser tem uma noiva no ministério que não tem nada a ver com a SUA esposa.

Abriu o álbum e começou a ler cada página, emocionando-se com as fotos, as receitas... Chorou muito quando leu sobre a ameaça de aborto e agradeceu pelo fato de não ter passado de um simples ameaça.

Quando o remédio fez efeito ele adormeceu, com o álbum aberto sobre o colo. Acordou quando a noite já havia caído e, pela excelente recuperação, o médico permitiu que fosse transportado até o quarto que Hermione ocupava.

A Srª Granger fazia companhia para a filha, e todos os Weasley e Harry já haviam voltado para casa. Quando viu o genro chegando, lançou-lhe um olhar ofendido, mas mesmo assim permitiu que ele se aproximasse de Hermione.

A moça dormia um sono tranqüilo, induzido por poções, e sua respiração empurrava a barriga redonda para o alto.

- Ela vai ficar bem? – perguntou em voz baixa.

- Vai sim – respondeu secamente a mãe da moça. – Foi apenas um alarme falso. É comum nas mulheres da minha família. No meu mundo chamamos isso de Braxtons-Hicks.

- Então, a neném... elas estão... tudo bem?

- Sim, tudo perfeito.

Ele se aproximou mais de Hermione e acariciou a barriga que abrigava sua filha. A moça suspirou na cama e abriu os olhos com dificuldade. A claridade das luzes que pendiam do teto do quarto era muito forte.

Mas mesmo sem enxergar direito, ela soube quem a havia tocado e sorriu. Levantou a mão até segurar a dele e ambos ficaram ali, sem falar nada, apenas aproveitando a sensação de ter uma família unida, pela primeira vez.

Depois do que pareceu uma eternidade de paz, Rony finalmente disse:

- Eu não tenho muito tempo aqui. Logo preciso voltar para meu quarto e...

- O que lhe aconteceu? – perguntou Hermione tensa, querendo se levantar e recebendo um olhar zangado da mãe e do marido.

- Não foi nada. Fique tranqüila, por favor! – pediu em voz baixa e carinhosa. – Foi só um acidente de aparatação. Amanhã vai estar tudo nos seus devidos lugares e eu venho aqui para buscar vocês duas, está bem?

Hermione não respondeu. Olhou constrangida para a mãe, que entendeu o que a filha queria e saiu do quarto, com uma desculpa qualquer. A jovem voltou a olhar para o marido e respondeu, um tanto sem graça:

- Eu não quero voltar para casa, Rony – e antes que ele protestasse, completou. – Não quero voltar AINDA.

- Mas por quê? Você passou isso tudo aqui sozinha e eu não acompanhei nada. E agora que você mais precisa de mim, não vou poder ficar do seu lado?

O olhar do ruivo era puro desespero. Se ele soubesse que Hermione estava grávida, jamais teria ido à França. Teria mais paciência com ela quando assumiu o novo emprego. E acima de tudo, não teria deixado Julia lhe beijar.

- Isso não é verdade. Eu não passei por nada sozinha, sua família e meus pais estiveram comigo o tempo todo. E não é agora que eu mais preciso de você, porque eu sempre vou precisar. E você vai poder ficar ao meu lado, sim. Pode ir me ver na casa da minha mãe. Eu só acho que a gente precisa de um tempo para poder conversar e colocar os pingos nos is.

- Você tem certeza disso? – perguntou escondendo a frustração.

- Tenho. Vai ser melhor para todo mundo.

Ele ainda ficou ali, por um tempo, apreciando a barriga da esposa. Quando a enfermeira veio buscá-lo, despediu-se de Hermione com um beijo apaixonado e saudoso, que fez a morena suspirar.

Estava quase na porta quando disse para a enfermeira, que empurrava sua cadeira de rodas:

- Esqueci uma coisa!

Eles voltaram até a cama e Rony, contrariando todas as ordens médicas de não fazer esforço com as pernas, se levantou da cadeira e deu um beijo na barriga de Hermione, enquanto murmurava baixinho, como se quisesse que apenas a bebê o ouvisse:

- Até mais, minha florzinha!

Sentou-se novamente e só então aceitou voltar para seu quarto, deixando para trás uma Hermione completamente emotiva e uma Srª. Granger novamente de bem com o genro.

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Comentários (2)

  • Andye

    O Rony é simplesmente um fofo!

    2012-03-12
  • Lana Silva

    Awwwwwwwwwwwwwww *-* Quando eles souberem de toda a confusão....Eu tô amando!!!

    2011-11-23
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