A Notícia



- Eu ainda não entendi o motivo desse alvoroço todo, Mione.

- Você é muito desligado, Rony! Está na cara...

- Na cara o quê? A mamãe só nos chamou para um jantar. O que tem de mais nisso?

- O que tem de mais? Rony, hoje é terça-feira e nós almoçamos lá no domingo.

- E daí?

- Daí que alguma coisa aconteceu. Eu tenho as minhas suspeitas, e se o que eu estiver pensando for realmente a verdade, isso vai ser incrível!

Rony olhou a esposa acabar de prender os cabelos de um jeito meio estabanado e pegar a bolsa para saírem. Antes, porém, de aparatarem na Toca, ele perguntou:

- Você vai contar sobre sua promoção?

- Não sei. Isso pode estragar a notícia que sua mãe deve nos dar.

A casa em que Rony passou toda sua infância e parte da adolescência estava agora reformada. Ainda era torta e com um ar de que havia passado por vários feitiços de ampliação, mas isso tudo dava um charme peculiar ao ambiente e o tornava ainda mais aconchegante.

As janelas estavam todas iluminadas e uma grande mesa foi colocada no jardim, onde seria servido o jantar.

A família Weasley, que já não era pequena, cresceu muito após a guerra. Fleur e Gui tinham uma filha, e Teddy, filho de Tonks e Lupin, vivia na casa da “Vó Molly”, junto com o padrinho Harry e o primo James. Não caberiam todas essas pessoas na cozinha da Toca mesmo que um novo feitiço de ampliação fosse feito.

Rony sentiu o cheiro delicioso da comida de sua mãe assim que aparatou no jardim. Puxando a esposa pela mão, entrou animado pela porta da cozinha, mas estancou atordoado com o falatório naquele cômodo.

Sua mãe conversava em voz alta com Andrômeda Tonks, que teimava em tentar segurar Teddy pelo pulso a fim de fazê-lo parar para arrumar seu cabelo, apesar do rapazinho protestar que queria ir pro jardim esperar o padrinho chegar voando. Penélope e Fleur trocavam receitas e logo envolveram Hermione na conversa.

O ruivo saiu dali o mais rápido que pôde. Os homens estavam na sala, ouvindo músicas e discutindo sobre as últimas decisões ministeriais. E Rony, apesar de trabalhar no Ministério, no Departamento de Aurores, detestava falar de seu serviço durante festas e reuniões familiares.

Na cabeça dele, o serviço de um auror está sempre ligado a problemas e isso não era assunto para dias de festa. Embora o motivo da festa daquela noite ainda permanecesse um enigma para ele.

Jogou-se no sofá de qualquer jeito e olhou distraído para a lareira. Esta ganhou um brilho esverdeado que, em seguida, deu lugar a Gina e Harry, logo atrás da esposa, com James no colo. Não era comum que eles viessem pela rede de Flu, pois ambos gostavam de voar e já estavam acostumando o pequeno James à sensação do vento batendo no rosto.

Gina cumprimentou a todos, pegou James do colo do marido e correu para a cozinha, aumentando o alvoroço das mulheres ali presentes. Harry abraçou o amigo com muito entusiasmo, como se não o visse há séculos, o que não era uma atitude muito normal, já que eles trabalhavam juntos e se viam todos os dias.

- Você está bem? – perguntou Rony, voltando para o sofá, a testa ligeiramente franzida.

- Ótimo! Estou realmente ótimo, ótimo... Ótimo mesmo! – respondeu Harry numa inquietação fora do normal e um sorriso que Rony achou meio psicótico.

- Tem certeza? Você me parece meio “perturbado” – comentou sinceramente preocupado.

- Sim, é só que... bem, tudo isso me deixa meio... confuso – desabafou.

- Ah, eu entendo! Também fiquei confuso com isso.

- Jura? – perguntou Harry animado e tentando entender se o amigo estava sendo solidário ou se estaria passando pelo mesmo “problema” que ele.

- Claro! Esse jantar fora de hora e essa falação toda depois de um dia de serviço igual ao que tivemos hoje deixam qualquer um desorientado. E quando chego em casa a Mione...

- A Mione o quê? – interrompeu Harry quase pulando da cadeira, imaginando se as duas amigas tinham combinado o que falar naquele dia.

- A Mione vem e me conta que foi promovida. Agora é chefe do Departamento de Execução de Leis Mágicas. O triplo do salário, com bem menos serviço.

- Uau! Isso é fantástico! – falou Harry com alegria e alívio.

O moreno pensou que o amigo ainda não sabia da novidade. Aliás, ninguém da família sabia, além de sua sogra, mas todos o olhavam com caras desconfiadas. Exceto Rony.

- Ei vocês! – chamou a Srª. Weasley – Venham para cá, já vamos comer.

Os dois se apressaram em ir para o jardim. Quando o assunto era a comida da mãe de Rony, desde que se conheceram ambos deixavam tudo de lado.

A mesa estava farta naquela noite. Havia carneiro assado com batatas, presunto ao molho de figo, creme de ervilhas e torta de abóbora com queijo. Na cozinha ainda ficou um enorme bolo, sem decoração, que seria servido de sobremesa.

Todos comeram com vontade, conversando e rindo de tudo. Até que o Sr. Weasley bateu com o garfo numa taça e falou:

- Agora que todos já jantaram, vamos servir a sobremesa, mas para isso preciso pedir uma coisa. Gina, minha filha, faça o favor de confirmar as nossas suspeitas.

Rony olhava tudo atônito.

Nossas suspeitas? Quais? Eu não suspeito de nada.

Gina corou vivamente e Harry também ficou bastante encabulado. A moça buscou a mão do marido e falou, finalmente:

- Sim, papai, estamos grávidos!

A mesa toda explodiu em vivas, risadas e congratulações. Todos procuravam abraçar Gina enquanto George dava tapinhas nas costas de Harry. A Srª Weasley agitou a varinha e logo o bolo apareceu na mesa. O que antes era liso agora estampava a inscrição: Felicidades, Mamãe e Papai Potter!

O único que permaneceu em seu lugar foi Rony, que via toda a cena se distanciar. Sua irmãzinha, a caçulinha da casa, teria outro bebê. Ele já havia ficado desconfortável com o primeiro, e então eles resolviam ter o segundo? E naquele instante Rony percebeu que ela não era mais criança e que a culpa disso tudo era de Harry Potter.

Ele, o garoto-que-sobreviveu, o escolhido, o cara que derrotou Voldemort, não era mais um herói. Era o pilantra que roubou a inocência de sua irmã (embora ele nunca tenha achado que Gina fosse realmente inocente em algum momento). E o que era pior: por duas vezes!

Apesar de saber que eles estavam casados, Rony optava por não pensar que esse tipo de “coisa” acontecia entre o casal. Em sua mente de irmão super protetor, Gina ainda era virgem, Harry era impotente e James havia sido adotado. De fato, Rony não acompanhou a primeira gravidez da irmã tão de perto, pois na época havia sido enviado para um curso de especialização da Academia de Aurores longe da Inglaterra.

Ele só despertou de seus devaneios quando sentiu a mão de Gina apertar a sua enquanto Harry lhe dirigia a palavra:

- Então, você vai, né?

- Por favor, Rony! – insistiu Gina com a voz mais doce que conseguiu fazer – É importante pra gente que você ajude Harry com o novo berço. É como uma tradição de família!

O ruivo apenas sorriu e balançou a cabeça em sinal afirmativo. Ajudaria Harry a fazer o berço da criança. Cuidar do quarto e do conforto do bebê era um jeito muito nobre de recompensá-lo após acabar com o pai dele. Ainda não havia perdoado Harry por ter “pegado” sua irmã de jeito.

Horas mais tarde, já sentado em sua cama, Rony conversava com a esposa:

- Eles são loucos, não são? Outro filho?

- Por quê? – perguntou Hermione, saindo do closet com uma das camisolas que Rony mais gostava. – Eles não me pareceram loucos. Pelo contrário, estavam muito satisfeitos.

- Sim, mas um filho agora? Gina estava super bem no Harpias, e era uma das jogadoras mais cotadas para a seleção. Isso só pode ter sido um acidente.

- Pelo que eu soube, foi tudo muito bem planejado – contou Hermione, que havia entrado embaixo do edredom e agora apoiava a cabeça no peito do marido.

- O quê? – indignou-se Rony, levantando da cama e empurrando a esposa. – Eles fizeram essa besteira de caso pensado?

- Besteira? Deixa de ser insensível, Ronald! E aposto que você está nervosinho assim por causa desse maldito quadribol.

- Claro, a única chance da Inglaterra se classificar estava nas mãos da minha irmã e ela decide simplesmente ter mais um “potterzinho” e deixar seu país de novo fora do mundial. E eu não estou nervoso. Só estou chocado – retrucou tornando a se encostar ao travesseiro. – Sempre pensei que as mulheres modernas quisessem se dar bem em suas profissões, ter uma carreira brilhante. Como você faz!

- Acontece que muitas mulheres não querem uma carreira. Elas preferem uma família!

- Muitas mulheres? Eu não conheço nenhuma doida que prefira isso. Aliás, só as mulheres Weasley é que são tão estúpidas assim.

Hermione olhou para o marido com a mesma fúria assassina da vez que o atacou, ainda em Hogwarts, com uma revoada de canários amarelos. Em seguida respondeu:

- Não se esqueça que eu sou uma Weasley, Ronald Billius! E se acha que eu sou tão estúpida assim, não vai se importar de ir dormir no sofá.

Ao invés da chuva de canários, o que acertou Rony foi o travesseiro e um belo empurrão dado com o pé, deixando claro que aquela noite ele não dormiria com a esposa.

Ainda tentou argumentar que não estava falando dela, mas não conseguiu permissão para voltar pra cama e acabou passando a noite no incômodo sofá da sala de televisão.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (5)

Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.