Só mais 3 Meses - Parte II



Quando soube que seu destino na França não se limitaria às duas semanas da convenção, Rony se desesperou. Queria mandar uma coruja para avisar a família. Queria escrever para Hermione, explicar que não tivera escolha. Mas não lhe foi permitido nem uma coisa ou outra.

Não abriria mão do curso de especialização oferecido pelo Ministério para não se indispor com ninguém. Mas sentia-se angustiado a cada aula.

Todas as noites sonhava com Hermione. Ela chorava, acusava-o de insensível e depois ria nos braços de um jogador de quadribol. Dizia que Rony era patético e que sua viagem só facilitou as coisas para ela.

Outras noites, a mulher aparecia segurando uma enorme goles enrolada numa trouxa de panos cor-de-rosa. Quando Rony chegava perto, ela atirava a goles contra ele e dizia que ele nunca havia sido um bom goleiro. Que deixava tudo passar e que era por isso que eles estavam brigando.

Ele nunca entendia esses sonhos, só sabia que levantava mal-humorado e ia para o curso sem se dirigir a ninguém.

A única pessoa que conseguia lhe arrancar algumas palavras era a auror espanhola Julia García de Gusman. A auror era bastante determinada, prestava mais atenção às aulas do que ele e invariavelmente soltava comentários inteligentes.

Tinha a pele cor de jambo e os cabelos escuros e encaracolados. Os olhos, dois globos negros e brilhantes, eram emoldurados por um par de óculos moderno, com armação de metal preto e algumas pedrinhas discretas que davam um charme todo especial ao conjunto.

Aparecia sempre de jeans escuro e camisas claras, botas de camurça pra fora da calça e cintos coloridos que marcavam sua cintura com um ar jovial e despojado.

Todos os aurores admiravam a beleza e inteligência da jovem. Ela havia estudado em Beauxbattons e seu francês era impecável. Também falava inglês, chinês, italiano, serêiaco e algumas línguas de povos mágicos extintos.

Acostumada a lutar por tudo o que queria na vida, a bruxa espanhola, vinda de uma família de trouxas, se encantou com o homem mais difícil do curso. Rony simbolizava para ela mais uma tarefa a ser cumprida e ela se jogou de cabeça para quebrar a frieza do ruivo.

- Não gostou da aula de hoje? – perguntou a morena se aproximando de Rony no intervalo para o almoço.

O ruivo comia sem prestar atenção ao que estava em seu prato. A única correspondência que chegava dentro do curso era a que trazia os jornais dos respectivos países de cada integrante, e Rony devorava o Profeta Diário para tentar achar qualquer informação sobre Hermione ter assumido seu romance com o tal Erick.

- Hum? – resmungou ele, olhando para a moça que, sem cerimônia nenhuma já havia se sentado a sua frente.

- Eu disse que você não gostou da aula. Passou o tempo todo com o olhar perdido.

- Você também não deve ter gostado, para perder seu tempo vigiando para onde eu olho, imagino que o assunto tenha sido um porre.

Sem dar espaço para que ela continuasse a conversa, voltou sua atenção para o jornal. Mas a morena não se deu por vencida. Puxou o Profeta Diário da mão de Rony e perguntou, passando os olhos pelas manchetes:

- O que tem de tão interessante aqui que não tem nas aulas? Ou em mim?

Ela se debruçou sobre a mesa para lhe devolver o jornal. Havia calculado cada movimento e se certificou que a ação o havia deixado encabulado. Sua blusa estava displicentemente aberta e deixava ver pelo decote, o colo moreno e bem torneado.

- Notícias da minha esposa – disse baixando os olhos, desconcertado.

- Ah, você é casado. – disse fingindo decepção – Isso é um pecado. Alguém assim, como você, deveria ser proibido de casar. Deveriam lhe transformar em algo como patrimônio da humanidade.

Ela riu do próprio comentário e Rony a achou demasiadamente fútil. Era uma auror brilhante, mas tanto oferecimento não fazia seu estilo. Era da timidez de Hermione que ele gostava.

Levantou-se incomodado e, pedindo licença de um jeito rude, saiu do refeitório e foi para seu alojamento. Guardou o jornal sob a cama e se deitou um pouco para descansar.

A primeira semana no curso de Interrogatório Mágico pareceu a Rony uma constante, apenas diferenciada pelo conteúdo das aulas e pelo lugar que ele escolhia para se sentar no refeitório.

O cardápio era sempre o mesmo, o Profeta Diário era entregue pragmaticamente no mesmo horário e a inconveniente auror espanhola insistia em lhe amolar.

Depois de tanta insistência, ela conseguiu arrancar-lhe um sorriso com um comentário muito peculiar sobre os métodos ensinados na aula do dia.

- Até parece que na hora do interrogatório eu vou servir água pra vilão. Se quiserem que eu sirva alguma coisa, que me arrumem um litro de veneno. Aí sim, eu sirvo com gelo e um guarda-chuvinha de papel.

Ela realmente parecia ser do tipo que não tem a menor paciência para lidar com quem está errado. Assim como ele.

Mais uma semana, e a companhia dela já não lhe causava tanto incômodo e eles faziam todas as refeições juntos. Nos dias que se seguiram, os sonhos com Hermione diminuíram de intensidade e em algumas raras ocasiões ele até esquecia da esposa.

Quando se lembrava, dizia para si mesmo:

- Deixa ela pra lá, Ronald. Ela que fique com o Erick.

Nesses momentos, se desdobrava em atenções com a auror, que sendo esperta como era já havia compreendido o problema enfrentado pelo ruivo inglês. Soltava comentários propositais, sempre acompanhados de dissimulados pedidos de desculpa e não se importou de, na última semana do curso, enfeitiçar a edição do Profeta Diário, alterando uma notícia da Coluna Social. Onde antes se falava do noivado do goleiro do Wimbourne Wasps, Vladimir Crosser, com a fazendeira criadora de pégasus, Hellen Lairs agora aparecia escrito:

Goleiro do Wimbourne Wasps, Erick Crosser, formaliza seu noivado com membro do alto escalão do Ministério da Magia

A bruxidade feminina inglesa está de “luto” desde o anúncio do noivado do goleiro mais cobiçado de todos os tempos, Erick Crosser. O galã de 1,90 de altura e belos olhos verdes formalizou seu noivado com uma funcionária do alto escalão do Ministério da Magia.

Segundo fontes internas, ele não quis revelar o nome da sortuda, pois ela terminou um relacionamento conturbado recentemente e ele não quer que o nome dela seja envolvido em escândalos.

O casamento está previsto para o inverno, estação mais romântica na opinião do goleiro, e a lua-de-mel será nos Alpes Suíços, numa estação de esqui bastante tradicional.


Rony leu a notícia umas vinte vezes para se certificar de que seus olhos não estavam lhe pregando uma peça. Pensava que, depois de tanto procurar aquela informação, talvez sua imaginação o estivesse enganando.

Mas as palavras estavam ali, e a foto do goleiro mostrava o quanto ele era atraente. O comentário indiscreto de Julia só piorou a situação. Parando atrás de Rony, como se ainda não tivesse lido a matéria, ela apenas falou:

- Uau, esse goleiro é o sonho de consumo de qualquer bruxa!

Deu-lhe as costas e saiu rebolando discretamente, confiante de que um par de olhos azuis a seguia com uma impressão indignada. E estava certa nisso, Rony a fuzilava com os olhos.

Será que até ela, que até então não lhe dera sossego um só instante naquele curso também se interessaria pelo seu “rival”?

Passou o resto da tarde amargurado e nem a indicação para o prêmio Alastor Moody como destaque no curso serviu para animá-lo. Na verdade, sabia que aquela indicação era apenas mais uma conseqüência da briga com Hermione. Só foi indicado porque para deixar de pensar nela, se enfiou de cabeça nas aulas, conseguindo as maiores notas.

A última noite no curso foi marcada por acontecimentos conflitantes na mente do ruivo. Primeiro, haveria o baile de despedida, uma confraternização entre os 30 aurores e instrutores que participaram da convenção e do treinamento.

Seria servido um jantar ao som de uma orquestra que todos diziam ser maravilhosa e Julia já havia deixado mais que claro que pretendia dançar com ele a noite toda. Mas a única vez que ele realmente dançou com alguém foi no baile de formatura com a jovem que mais tarde se tornaria sua esposa.

Arrumou-se de qualquer jeito e apesar de estar bastante despojado achou que o visual não era dos piores. Rumou para o salão de baile e parou na porta, surpreso com a beleza delicada que emanava de Julia.

Diferente do jeans que via nas aulas, sempre discreto e prático, ela agora usava um vestido de cetim branco, que contrastava lindamente com sua pele morena. Os cabelos estavam soltos e ornados com pequenos pontinhos brilhantes. O rosto, já tão bonito, tinha os traços acentuados com uma maquiagem suave.

Ela lhe ofereceu o braço, que ele aceitou orgulhoso de poder aparecer ao lado de uma jovem belíssima. Aquela noite a imprensa foi convidada para registrar a entrega dos prêmios e fazer um balanço do evento.

E quando eles entraram pelo salão principal, os flashes dispararam. A princípio, Rony chegou a perguntar o que sua família pensaria se o visse ao lado de Julia. Depois, lembrando-se que Hermione já estava até noiva de outro, decidiu não se importar.

Dançou com a auror espanhola a festa inteira e quando seu nome foi anunciado como ganhador do prêmio, não recusou o abraço que a morena lhe deu, acompanhado de um beijo no rosto que prometia muito mais para quando a festa acabasse.

E foi nesse clima de exaltação provocado pela ansiedade da partida, pelo medo do que encontraria em Londres e pelo excesso de vinho dos elfos que Rony bebeu, que ele saiu do salão acompanhado por Julia e a levou até o alojamento que ela ocupava.

A morena o convidou a entrar com um sussurro ao pé do ouvido e ele aceitou sem cerimônias ou vergonha. Entrou cambaleante no aposento e caiu sentado sobre uma poltrona de veludo.

A espanhola tratou de afrouxar-lhe ainda mais a gravata, sentando sobre o colo do rapaz já se inclinando para beijá-lo. Ela encostou de leve os lábios já sem batom na boca de Rony e em seguida estava no chão.

Com a mesma pressa com que se levantou, derrubando Julia de seu colo, Rony alcançou a porta que dava para o corredor e foi para seu próprio alojamento, tratando de se despir e procurando um chuveiro bem frio.

Não, ele não chegaria a tanto. Resolveria sua situação com Hermione primeiro, daria o divórcio se ela realmente quisesse se casar com o goleiro, mas iria lutar por ela antes. Afinal, ele vencera Vitor Krum, Córmaco McLaggen. Por que não conseguiria vencer também Erick Crosser?

E se depois de tudo ela não o aceitasse de volta, ele não recomeçaria a vida com uma bruxa que não sabe se dar o devido respeito. De bruxas oferecidas sua cota havia se enchido antes mesmo dele terminar Hogwarts.

Saiu do banho ainda de cabeça quente, olhou a mala quase pronta, guardou a edição do Profeta Diário que trazia a falsa notícia do noivado de Hermione e separou a roupa com que iria voltar para casa.

Passou o resto da noite acordado e antes do sol acabar de nascer ele já estava no saguão do Ministério da Magia francês se despedindo dos colegas. Julia passou do seu lado sem sequer lhe dirigir um olhar o que, na opinião do ruivo, era um grande alívio.

A rede de flu que ele usaria o levaria direto para o Ministério da Magia em Londres e de lá ele poderia ir para casa. Esperava chegar a tempo de ao menos desfrutar a sobremesa daquele domingo na Toca.

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Comentários (3)

  • marcela miranda

    O Merlin.... Assim ele vai achar que o bebê da Moione e de outro. Coitado

    2014-04-14
  • Lana Silva

    É assim que se fala Rony...Vai a luta cara \O/

    2011-11-23
  • Lana Silva

    É assim que se fala Rony...Vai a luta cara \O/

    2011-11-23
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