O calabouço



Eles desceram os degraus de pedra em silêncio por um bom tempo. A respiração ansiosa de Rony atrás deixava Hermione com uma sensação estranha de estar protegida, mas ao mesmo tempo aflita com o que poderia acontecer a eles.
Quando Harry pisou o primeiro pé em um chão plano, várias tochas se acenderam ao mesmo tempo, e com um sobre-salto eles puderam ver que estavam em algum tipo de calabouço: havia estantes em alguns cantos, contendo várias garrafas com líquidos de muitas cores diferentes. Uma mesa quase ao centro tinha três caldeirões que ainda pareciam estar cheios. E um livro estava aberto ao lado delas.

- Alguém esteve aqui recentemente. – concluiu Mione. Eles andaram até o centro do lugar para observarm melhor os caldeirões.
- Há poção polissuco neste aqui. – Harry afirmou. Em todo o seu estudo em Hogwarts, era a poção que ele mais conhecia. – Você pode nos dizer o que há nestes dois outros Mione? – Ela andou para o caldeirão que estava no meio da mesa. Havia um certo cheiro característico que a lembrava de alguma poção que havia estudado, mas tinha uma cor estranha de terra, o que só poderia significar que não havia saído muito bem.
- É Felix Felicis. – Ela agora tinha certeza, pois era o livro de poções que estava aberto exatamente nas instruções dela. – Mas não foi bem concluída. É uma poção muito difícil.
- E neste caldeirão? – Rony olhava intrigado para um caldeirão que emanava ainda uma fumaça azul brilhante. Mione chegou perto e observou melhor. Sentiu um cheiro irresistível de um perfume amadeirado com suaves toques de lavanda. Aquilo definitivamente era estranho.
- Não pode ser. – ela murmurou. Harry se aproximou. Também pareceu durante algum tempo absorto em pensamentos.
- É uma poção do amor? – ele perguntou meio abobalhado.
- Essa poção parece ter o mesmo efeito sobre nós do que uma poção do amor. Mas a cor, a consistência... não são de uma. Eu acho que nunca vi uma poção como essa.
- Talvez seja alguma poção nova. – Rony dizia ainda com o rosto intrigado. – Que pareça ser uma poção do amor, mas tenha algum outro efeito.
- É uma boa idéia Ron. – Mione se virou para ele. – Talvez não seja uma poção conhecida pelo Ministério. – ela foi até uma das estantes contendo garrafas vazias, pegou uma delas e encheu-a com a poção desconhecida. – Eu posso descobrir o que ela é.
- Ótimo. - Harry pareceu mais animado. Andando de um lado para o outro, pensativo adicionou. – Draco queria se transformar em uma outra pessoa e oferecer esta poção desconhecida a alguém. Provavelmente não era uma tarefa muito fácil, então achou útil ter um pouco de sorte, apesar de não ter conseguido. – parou e olhou para os amigos. – Vamos tentar descobrir mais alguma coisa por aqui.

Eles ficaram algum tempo observando todo o calabouço, mas nada mais parecia ser fora do normal. Alguns armários com ingredientes comuns para qualquer poção, garrafas com poções velhas e rotuladas, livros de poções e de defesa contra as artes das trevas que estudaram em Hogwarts. Quando Hermione ia dizer algo sobre estarem a muito tempo ali, Harry se pronunciou primeiro.

- Vamos embora antes que o Sr. Hart perceba o quanto demoramos. – e saiu andando pelas escadas acima. Mione, guardando a garrafa da poção desconhecida, foi em seguida e Rony por último. Assim que o ruivo pisou no primeiro degrau da escada, todas as tochas se apagaram.

Assim que passaram pela porta de madeira, Rony murmurou o contra feitiço que havia deslocado a estante, e ela após um pequeno estalo voltou ao seu lugar habitual. Assim que guardaram suas varinhas, deram de cara com um policial trouxa entrando no local. Ele pareceu também assustado em ver que havia gente lá dentro.

- D-desculpe. – gaguejou ele. – N-não sabia que havia superiores aqui dentro.
- Onde está o Sr. Camble? – Harry perguntou numa voz raivosa.
- T-trocamos de turno para ele almoçar, senhor... – ele parecia aterrorizado.
- Já estamos de saída. – Harry concluiu. E os três passaram pelo policial assustado. Quando Hermione passou por ele, porém, ela pensou ter visto um brilho estranho em seu olhar. Mas ignorou-o.

Eles voltaram para o acampamento e tornaram a vestir suas vestes de bruxo. Já era hora do almoço e quase ninguém circulava por lá e, para a felicidade de Harry, o comandante também estava ausente. Ouvindo o ronco alto do estômago de Rony, Mione e Harry gargalharam. Eles pareciam estar de volta às suas antigas aventuras.

- Onde almoçaremos hoje? – Harry perguntou displicentemente enquanto iam em direção à clareira onde ficava a chave do portal.
- Vamos para A Toca! – Rony quase implorava. – Minha mãe ficou sabendo que fomos ao Três Vassouras e me disse que me azararia na próxima vez que fizéssemos isso.
- Precisamos mesmo contar tudo para Gina, não é mesmo Harry? – Hermione o olhava com um olhar sério. – Ela está bem preocupada conosco.
- É... – Harry ainda parecia indeciso. – Vamos para A Toca então.
- Nós nos encontramos lá então? – Hermione tentou. Com o olhar desconfiado dos amigos, explicou. – Preciso passar em casa para pegar alguns livros sobre poções.
- Acho melhor você não ir sozinha. – Rony falou sério. Harry concordou com a cabeça.
- Rony, vá com Mione e me encontrem n’A Toca. Até lá eu já contei tudo para Gina e aviso para Molly que iremos almoçar lá.

Os três tocaram novamente aquele pequeno pedaço de pergaminho, mas Hermione tomou cuidado para não encostar sua mão de novo com a de Rony. Chegaram ao escritório do comandante, que também estava vazio. Harry se despediu e aparatou dali mesmo para A Toca. Hermione já ia avisar a Rony que deviam fazer o mesmo, mas ouviram a porta se abrindo e o comandante Hart entrando. Ele parou surpreso olhando para os dois e abriu um largo sorriso para Rony.

- Ronald! – estendeu novamente a mão para cumprimentá-lo. E parecia não ver Hermione ali ao seu lado. – Como foi sua pequena experiência como um auror do Ministério britânico? – Rony parecia muito se graça.
- Foi ótima senhor Hart. – ele respondeu sem muita convicção.
- Então posso presumir que pensará na proposta que lhe fiz meu rapaz? – Ele ainda segurava a mão de Rony, demonstrando o quanto queria a resposta imediata.
- E-estou pensando no assunto senhor. – Rony respondeu ainda mais constrangido. E olhou para Hermione por uma fração de segundos. Ela apenas observava a cena meio boquiaberta, sem entender muito bem. O comandante pareceu ter percebido a troca de olhares, e simplesmente sorriu mais largamente.
- Espero que a adorável senhorita que o senhor namora concorde com tudo, não é mesmo?! Bom, deixarei vocês irem almoçar. E espero sua resposta Sr. Weasley!
- Certo. Até mais Sr. Hart.

Rony pegou Hermione pela mão e a atravessou pelo escritório do comandante, apressado. Quando saíram da sala, ele voltou a andar com mais calma e parecia indisposto a olhar para ela. Pensativa, Hermione percebeu que eles ainda estavam de mãos dadas. E apenas corou.

- Rony? – eles andavam em direção ao Hall de Entrada do Ministério. Mas antes de qualquer coisa ela queria saber o que exatamente estava acontecendo.
- Sim? – Ele a olhou nos olhos. E depois olhou para suas mãos ainda entrelaçadas. Corou violentamente e soltou a mão dela. Ela pensou em como perguntar o que queria sem parecer muito intrometida.
- O que o comandante te propôs? Quer dizer... posso saber? – também corou. O elevador parou no andar em que estavam e eles entraram. E só havia os dois e alguns memorandos que voavam em cima de suas cabeças.
- Ele quer que eu trabalhe para ele. Que eu volte para Londres como auror do Ministério daqui. – ele olhava para ela com uma expressão indecifrável. Mione sentiu uma vontade enorme de pular de alegria, mas conteve-se por não saber o que o ruivo estava pensando sobre o assunto.

Com um pequeno barulho, o elevador abriu suas portas e os dois caminharam até o centro do hall de entrada do Ministério da Magia em silêncio. Hermione não sabia como continuar a conversa e Rony parecia absorto em pensamentos. Parados, olhando para as águas claras do chafariz em sua frente, Hermione lembrou-se por um segundo do rosto intrigado do rapaz olhando para a falsa poção do amor.
Ela tinha sentido o cheiro da pessoa que ela mais gostava, e claro, tinha sentido o perfume que ela sentia ainda agora, ao lado de Rony. Harry parece ter sentido o perfume de Gina, já que tinha tanta certeza de que se tratava de uma poção do amor. Mas Rony não tinha feito nenhum tipo de comentário sobre o assunto e estava tão pensativo e intrigado desde que chegou perto da poção que Hermione só pode concluir que ela sentia algo que não estava esperando. E aquilo a intrigava mais ainda.

- Vamos? – ainda meio avoada, Hermione foi chamada à realidade por Rony. Ele parecia ter voltado à realidade. – Aparatamos na sua porta? – perguntou com as sobracelhas erguidas.
- Na minha porta. – ela repetiu. E, quase ao mesmo tempo, os dois giraram e sumiram no ar do Ministério.

Quando seu corpo parou de ser comprimido, Hermione abriu os olhos para se deparar com uma cena que ela não esperava. A porta de seu apartamento estava escancarada. Antes mesmo de olhar para os lados tentando pensar no que poderia estar acontecendo, Rony a puxou pela mão para dentro, como havia feito no escritório do comandante.
Com as varinhas erguidas, os dois entraram na sala de Hermione, que havia sido toda revirada. Os móveis estavam de cabeça para baixo e havia vasos quebrados e terra por todos os lados. Ainda sendo puxada, eles foram até a porta de seu escritório. Rony soltou um murmúrio mal humorado, e Hermione não pode entender o motivo até olhar para dentro do seu aposento favorito.
O medo fez com que instintivamente abraçasse Rony. Ela apertou seus olhos contra o peito do amigo para que não desatasse a chorar. O cômodo que dedicara toda a sua vida estava em chamas. Todos os seus livros pegavam fogo, e duas palavras flamejantes flutuavam no ar, bem em cima de sua escrivaninha, como se zombassem dela: “SANGUE RUIM”.

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