Firewhisky



Rony aparatou na porta do apartamento sendo guiado por Hermione. Quando ela finalmente tirou a chave do bolso e girou a maçaneta para entrar, ele ainda parecia relutante em soltar seu braço, que ele segurava desde Hogsmeade. A mão quente de Ronald sobre seu braço causava uma tempestade de sentimentos que Hermione não esperava sentir. Afinal, ela já era uma mulher, mas todas aquelas sensações abaixo de seu estômago nunca haviam se manifestado perto do ruivo.
Eles se olharam durante alguns segundos e um calor inexplicável começou a crescer dentro dela. Ela precisava beber algo rápido. “E alguma bebida forte, de preferência” brincava consigo mesma. Delicadamente ela puxou Rony pelo braço até que os dois entraram em seu apartamento. Ela virou, sem ainda tirar a mão de Rony de seu braço, e fechou a porta atrás de si.

- Então, este é meu lar! – dizia ela num tom de voz meio baixo. E, para sua total confusão, Rony soltou-se de seu braço e deu um volta para olhar melhor a sala em que se encontravam.
- Era o que eu esperava que fosse. – respondeu no mesmo tom baixo. – E onde fica a biblioteca? – olhou para ela com as sobrancelhas erguidas, falando já em um tom normal.
- Venha.

Ela caminhou até a porta de seu escritório, abriu a porta e fez sinal para que Rony entrasse primeiro. Como já estava realmente ficando escuro, ela com um toque se sua varinha acendeu as velas que pendiam de um lustre no teto. Rony olhou abobalhado para suas estantes cheias de livros e demorou-se observando toda uma seção sobre quadribol.

- Estes são realmente muito bons! – disse sorridente. – Já sabe tudo sobre quadribol agora?
- Ainda sou uma péssima jogadora. – ela se aproximou também das estantes. – Mas acho que já sei as regras de cor. - Rony não sabia, mas ler aqueles livros era uma das formas que Hermione havia encontrado de não esquecer seus amigos. Não esquecê-lo. Abaixo dos livros de quadribol havia uma prateleira sem livros, com apenas um tabuleiro de xadrez bruxo com suas peças arrumadas para jogar.
- Vamos jogar? – os olhos de Rony brilharam quando tocou no tabuleiro. – Faz anos que não jogo xadrez.
- Pegue o tabuleiro e vamos jogar lá na cozinha. – Rony não tinha percebido, mas aquele canto era o tributo que Hermione prestava a ele em sua própria casa. Ela queria um pouco dele em seu lar.

Enquanto Rony ajeitava o tabuleiro e suas peças em cima da mesa da cozinha, Hermione vasculhou sua dispensa atrás de alguma coisa para servir para Rony. Dentro do cômodo que mais parecia um armário de vassouras, tinha uma pequena adega, que ela mantinha apenas para servir em ocasiões especiais, afinal não tinha costume nenhum de beber.
“E alguma bebida forte, de preferência”. O pensamento voltou a sua cabeça e ela acabou seguindo seu próprio conselho, escolhendo uma garrafa de Firewhisky. Quando colocou a garrafa em cima da mesa com duas taças, Rony olhou desconfiado para ela (a garrafa) durante um instante, mas apenas sorriu.
Rony e Hermione passaram mais algum tempo do início da noite jogando xadrez bruxo, bebendo copos do firewhisky e comendo alguns petiscos que ela havia providenciado. Depois da quinta partida que Hermione perdia seguida, ela sentiu que a bebida já estava afetando seus sentidos e ficar ali sentada não iria ajudar.

- Desisto Ron. É impossível ganhar de você no xadrez. – ela se levantou, com algum esforço e foi andando rumo a sua sala novamente.
- Bom, em alguma coisa eu tenho que ser melhor que você Mione. – ele a seguiu parecendo, também, ligeiramente alterado.
- Não é apenas no xadrez que você é melhor que eu Ronald. – Ela estava agora parada em frente ao sofá decidindo se sentava ou não. Optou por continuar em pé.
- Em que mais eu seria melhor do que você? – ele parecia surpreso e parou de frente para ela.
- Ora, Ronald – disse com tons de professora. – Em quadribol, é lógico!
- Claro, quadribol. – ele a olhava de um jeito engraçado. Seria aquilo efeito do álcool? – E o que mais... Mi? – Mais um arrepio percorreu o corpo de Hermione. Ela continuou olhando no fundo daqueles olhos azuis, desejando que ele parasse de provocá-la. Mas desejando que ele não parasse de provocar ao mesmo tempo. Ela pensou durante um segundo e a bebida a desinibiu o suficiente para entrar na brincadeira.
- E você sempre conquistou mais garotas que eu. Que eu rapazes, eu digo. – disse explicando algo que estava mesmo óbvio. O sorriso de Rony ficou extremamente provocante ao ouvir aquilo.
- Mas eu nunca conquistei a garota que eu queria. – ele se aproximou mais e pegou as duas mãos da mulher. Mais um arrepio e um calor crescente.
- Queria? – Hermione já sentia seu coração bater forte. Rony a abraçou agora, ficando suas bocas separadas por apenas alguns centímetros.

Rony se aproximou lentamente e ela ouviu um sussurrado “quero” em seu ouvido. Com movimentos quase em câmera lenta, que deixaram a garota agoniada com a expectativa, ele foi retornando seu rosto à posição anterior, quando ficou apenas a alguns centímetros da boca dela. Com um sorriso maroto, Hermione o encorajou a se aproximar. E foi exatamente o que ele fez.
Seus lábios se tocaram, finalmente. Hermione sentiu o toque da língua de Rony, que parecia brincar com a sua. Não era apenas um beijo doce e carinhoso de dois adolescentes perdidos. O beijo que Rony lhe dava alternava entre quente e provocante para tenro e ansioso. Ele mantinha suas mão firmes em suas costas, e ela tinha as suas mãos entre brincando em seus cabelos e segurando sua nuca.
A bebida parecia ter simplesmente facilitado tudo. Hermione tinha certeza que aquele beijo era o que ela mais queria desde que viu novamente o ruivo. E ela não tinha dúvidas que aquilo era o que ele queria também, com ou sem o efeito do álcool. Aquilo definitivamente era o que Rony fazia melhor que ela: beijar.
O beijo foi se tornando aos poucos mais quente e mais provocante, tirando todo o ar que ainda restava nos pulmões de Hermione. Rony a apertava mais forte em seus braços, e ela podia sentir o coração do ruivo batendo em um ritmo enlouquecido encostado em seu peito. Ela já apertava os cabelos e a nuca de Rony, como se estivesse com medo que ele se afastasse. Mesmo sem prever, Hermione soltou um pequeno suspiro quando o ruivo mordeu levemente seus lábios.
A consciência de Hermione alternava entre pensamentos pecaminosos do que ela gostaria de fazer com Rony assim que os dois chegassem ao seu quarto e o sentimento de que aquilo podia estar indo rápido demais para dois amigos que estavam em seu segundo beijo. E uma voz bem fraca em sua cabeça tentava gritar que ele era, afinal, um homem comprometido.
Rony pareceu extasiado com a reação da mulher e mordeu novamente seus lábios. A parte racional de Mione ficava cada vez mais no fundo de seus pensamentos, enquanto seus instintos começam a dominar seus atos. Dessa vez ela não conseguiu segurar um suspiro audível. Ela sabia que se Rony ousasse mordê-la daquele jeito mais uma vez, não teria mais volta. A voz fraca tornou a gritar em sua mente e Hermione pos a mão no peito de Rony e o afastou subitamente.

- A-algum problema? – Rony perguntou assustado e completamente sem fôlego. – O q-que aconteceu? – Hermione demorou alguns segundos para responder. Primeiro porque também estava sem fôlego e segundo porque sabia que o que ela diria a seguir quebraria totalmente o clima entre ela e Rony.
- Nós... não podemos fazer isso Ronald. – ele a olhava sem entender ainda. – E... – suspirou. Era agora. – e a July? – o rosto do ruivo ficou branco de uma hora para outra. Aparentemente ele não estava sequer lembrando da outra mulher. Mas, após uma fração de segundo, suas orelhas ficaram vermelhas e ele parecia prestes a explodir.
- PORQUE VOCÊ SEMPRE ESTRAGA TUDO?! – ele falava numa voz alta.
- Como é que é?! – Hermione ainda não acreditava no que estava ouvindo. – EU SÓ ESTOU TENTANDO SER REALISTA! – ela aumentou seu tom de voz também.
- A SABE-TUDO TEM SEMPRE QUE ESTRAGAR TUDO, NÃO É MESMO? VOCÊ NÃO PRECISAVA ME LEMBRAR DELA!!! – todo o rosto de Rony agora ficava vermelho.
- NÃO É QUESTÃO DE LEMBRAR OU NÃO DE SUA NAMORADA RONALD! – Hermione sentia raiva e dor misturadas. Estava cansada de brigas. Abaixou sem tom de voz para quase um sussurro. – A questão é que ela existe...
- Tem razão. – disse o ruivo em um tom mais baixo, mas mesmo assim com o rosto vermelho de raiva. Sem dizer mais nada, deu um giro e aparatou da casa de Hermione.

Ainda respirando rápido e tentando recuperar seu fôlego, Hermione se deixou cair no sofá de qualquer jeito. Apoiando sua cabeça no braço do sofá, ficou olhando para o teto, tentando entender o que diabos se passava na cabeça do ruivo para beijá-la e depois não querer falar sobre ser comprometido.
Sua respiração ainda não tinha voltado ao normal quando, em um pulo de susto, ouviu a campaninha tocar. Quem poderia estar a incomodando uma hora dessas da noite em uma plena segunda feira? Uma vozinha dizia em sua cabeça: “será que ele voltou para pedir desculpas?”, enquanto uma outra voz, mais racional dizia: “não seja idiota, ele não faria isso”. Tentando parar de ouvir tantas vozes em sua cabeça, Hermione levantou e abriu a porta: era Gina.

- Gina! – a amiga parecia assustada. – O que aconteceu? Entre.
- Eu é que pergunto Mi. – Gina entrou e sentou-se no sofá onde antes Mione estava deitada perdida em pensamentos. – Rony chegou lá em casa com uma cara nada amigável e subiu para seu quarto sem dar explicações. Como eu sabia que vocês estavam juntos... achei que deveria vir ver você.
- Nós brigamos. – disse simplesmente. Mione torcia para que Gina não percebesse o quanto havia corado, já que a sala não estava muito bem iluminada.
- Isso eu não precisava ter vindo aqui para descobrir. – Gina agora a olhava com uma cara muito parecida com a dos gêmeos. – Me explique agora porque Rony chegou lá em casa sem fôlego, assim como você está ainda. E porque sua boca está tão vermelha. – Hermione ficou chocada com as observações da amiga.
- Está tão vermelha assim? – tentou fugir do assunto.
- E sua roupa está amarrotada. – ela sorria agora. – Hermione, por acaso você e o Rony... – e antes que Gina tirasse conclusões precipitadas demais, Hermione achou que deveria contar a verdade.
- ...Nos beijamos, foi isso.
- Vocês se beijaram, e...? – Gina tentava incentivar a amiga a contar mais.
- E só.
- Só um beijo?
- É. – aquilo estava começando a ficar constrangedor.
- Que beijo! – disse a ruiva confirmando com a cabeça. – E brigaram logo depois por quê?
- Bom... – Hermione pensou um pouco. – Eu o afastei. E disse que nós não podíamos fazer aquilo por causa da namorada dele. – concluiu. Gina ficou com uma cara pensativa por um momento.
- Eles tiveram uma discussão antes dela ir pra Romênia. Não sei o motivo, mas não sei se eles estão realmente juntos ainda.
- Não foi o que Rony me disse. Ele, aliás, ficou furioso por eu ter “lembrado dela” – disse as ultimas palavras imitando a voz do ruivo. – Por isso que brigamos. Como ele queria que eu não me lembrasse dela? Aquele legume infantil! Ele achou que podia simplesmente ficar com as duas ao mesmo tempo?! O que ele pensa que eu sou?! – a raiva agora crescia, enquanto ela desabafava com Gina.
- Calma Mi. Eu tenho certeza que não é isso que aquele desmiolado pensou. Vocês passaram o dia todo juntos. Posso apostar que ele só se esqueceu que ela existia. E você sabe que vindo do Rony, isso é bem possível.
- É, eu sei. – a raiva já diminuía. – Mas eu não esqueço dela. Nem vou me esquecer nunca mais. E enquanto Rony estiver comprometido nada acontecerá entre nós. Nada.
- Tenho que concordar com você neste ponto. Rony não pode achar que você vai aceitar ficar bancando a outra dele. Ele saiu bravo por isso então?
- Foi. – Mesmo sem querer, Hermione já se sentia aliviada por poder desabafar com alguém.
- Ele é um idiota.

“Sim, ele é.” Pensava Mione entristecida. “Um idiota que beija muito bem por sinal”. Sem querer sorriu pelo canto da boca enquanto olhava perdida para a sala. Pelo menos toda aquela confusão tinha feito Mione concluir que era capaz de atrair Ronald Weasley, afinal.

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