Rua dos Alfeneiros nº 4



Como seria a vida de um rapaz de 16 anos, órfão, criado pelos tios que o odeiam, sabendo que tem uma pequena fortuna em um banco mas usa as roupas velhas de seu primo, sabendo que não existe nenhum parente seu vivo a não ser sua tia, e se sentindo culpado pela morte de seu padrinho. Sendo perseguido por um louco psicopata, que só pensa em poder, e pra completar esse rapaz é bruxo.

A vida de Harry Potter certamente era bem diferente da de vários garotos, sejam eles bruxos ou trouxas. Pra começar eles não tinham que carregar a responsabilidade de carregar a “salvação” do mundo nas costas, eles não tinham uma profecia, não tinham Voldemort correndo atrás deles.

Assim que Harry chegou na casa dos Dursleys, uma imensa vontade de sair dali cresceu dentro dele, mas como Hermione disse pouco antes de se despedir dele, “tenha calma”, respirou fundo e lembrou-se do que Dumbledore tinha lhe dito a respeito da proteção que ele recebia quando ia para aquela casa e que precisava ficar ali “de molho” por um mês. Subiu para seu quarto e foi arrumar suas coisas e resolveu que era melhor não pensar que ainda faltavam 30 dias para ele poder sair dali...

Era impressionante como os dias demoravam a passar, pareciam que eles se arrastavam, Harry chegou até a pensar que o relógio estava trapaceando e voltando as horas. No começo das férias tentou arrumar algo para se distrair, começou a ler os livros antigos da escola, já tinha terminado todos do 1º, 2º e 3º anos. Lia o dia todo, afinal não tinha nada mais interessante pra fazer mesmo. Só quando percebeu que já tinha lido todos esses livros e já estava começando os do 4º ano viu o quanto estava paranóico. “To parecendo a Mione” pensou ele num dia depois de jogar para um lado o livro de transfiguração do 3º ano. Afinal como será que estavam Rony e Mione? Pensou ele. Porque não me escreveram? Talvez seja pelo simples motivo que uma guerra está prestes a começar. Disse uma vozinha dentro de sua cabeça. É, talvez seja isso, ou talvez estejam com medo das corujas serem interceptadas. Concluiu que talvez fosse isso mesmo, não queria pensar que os amigos tivessem se esquecido dele, ou que talvez estivessem juntos de novo, se divertindo e que Dumbledore tivesse feito eles jurarem não lhe escrever. Ainda sentia uma pontinha de ressentimento ao lembrar do velho bruxo. Mas como Hermione havia dito, tinha que manter a calma, tinha que praticar oclumência, e ficar com raiva dos amigos ou de Dumbledore só ia ajudar Voldemort.

Ainda tinha Sirius. Harry se sentia culpado pela morte do padrinho, era como se tivesse uma ferida e ela não tivesse curada ou cicatrizada, e com certeza ia demorar. Sirius era como um pai para Harry, mais um amigo que pai talvez, mas Harry só tinha a ele, ele era seu padrinho, seu conselheiro, seu amigo, seu guardião como Sirius mesmo tinha dito no formulário de Harry, e agora ele se fora. Assim como entrou na vida de Harry ele saiu, sem mais nem menos, sem nenhuma explicação lógica, sem nenhum motivo convincente.

As vezes sonhava com o padrinho, que ele ainda estava vivo, ou do dia que ele tinha morrido. Acordava assustado e se lembrava que não tinha ninguém ali para lhe dizer que fora só um pesadelo ou que não era nada. Podia até parecer patético, um rapaz de 16 anos querendo “colo”, mas em toda a vida dele ele nunca se lembrou de receber carinho. Morava em uma casa onde a palavra ou sentimento amor não existia, não sabia o que era receber um abraço de boas vindas no começo das férias ou um de despedida quando saia para a escola. Só veio conhecer essas coisas depois que entrou para Hogwarts, lá sim era sua casa, tinha seus amigos Rony e Hermione, seus colegas e nas férias e feriados podia ir para a Toca, casa de seu amigo Rony, lá era recebido como um Weasley apesar de não ter os cabelos ruivos. A Sra. Weasley estava sempre preocupada com ele, vivia perguntando se ele estava se alimentando bem, se as dores na cicatriz tinham parado, perguntando se os trouxas o estavam tratando bem.
Lembrou-se de quando ela disse que tinha ele como um filho, lembrou-se que Sirius estava lá aquele dia, e foi uma discussão dos dois que levou a esse comentário.

Só depois de entrar em Hogwarts conheceu o significado de amigo, amizade, não se via um só minuto no mundo mágico sem Rony ou Hermione, eles eram inseparáveis, apesar das brigas, era neles que ele confiava era pra eles que ele contava tudo, desabafava, era neles que se apoiava, e talvez até por causa da ajuda deles que ele ainda estava vivo. Ao lembrar dos amigos sentiu ainda mais falta deles, claro sempre passou parte do verão longe deles, mas parece que com a ameaça de guerra eles ficaram mais unidos. Mais amigos. Como estava com saudades do “seu mundo” onde ele era querido e não uma “pedra no sapato” como era tratado na casa dos tios.

Um mês já se passara desde o começo das férias, Harry estava ansioso, queria sair daquela casa, queria receber noticias da guerra, de Voldemort. Já não sabia o que fazer para passar o tempo, já não agüentava mais ler, já tinha feito todos os deveres, às vezes ia visitar a Sra. Figg, não foram muitas vezes, afinal os tios não podiam desconfiar, mas nas poucas vezes que esteve lá recebeu poucas informações sobre a guerra, mas num dia especialmente quente de verão Harry a Sra. Figg acenando pra ele pela janela. Desceu as escadas correndo e foi até a casa da Sra, mal chegou e deu de cara com ela esperando por ele na porta.

- Recebi isto ontem a noite, é pra você. Dumbledore achou mais seguro mandar alguém entregar. Disse entregando ao rapaz um envelope amarelado. – agora vá ou seus tios vão desconfiar de alguma coisa. Ah! E se quiser responder traga a resposta pra mim que enviarei com segurança até o destinatário. Disse antes de girar nos calcanhares e entrar na casa.

Harry nem agradeceu, correu até sua casa e foi direto para o quarto. A carta segura na mão. Fechou a porta com um baque e se jogou na cama. Abriu o envelope e começou a ler.

Caro Harry



Tudo bem? Espero que esteja melhor que ano passado...



Estou-lhe escrevendo porque papai sugeriu de você vir pra cá e passar o resto das férias com a gente. Ele conversou com Dumbledore e ele também gostou da idéia. Me mande uma resposta o mais rápido possível. Não use Edwiges! Não seguro. Depois te explico.

Se você aceitar vamos te buscar um dia antes de seu aniversário.

Talvez a Mione também venha, ela ainda não sabe, está viajando com os pais.

Acho que é só isso. Depois te conto o resto das novidades.



Tudo de bom



Seu amigo



Rony



Harry pegou um pedaço de pergaminho e rabiscou sua resposta.


Rony, você ainda pergunta? Lógico que vou, espero vocês.

Mande abraços a todos.

Harry


Leu o bilhete mais uma vez, resolveu levar o bilhete para a Sra. Figg um pouco mais tarde ou ia dar muito na cara. Resolveu fazer isso durante a novela da tarde quando Tia Petúnia estivesse entretida e Duda batendo em alguém na rua.

No almoço quase não comeu, estava ansioso demais, não via a hora de chegar o dia 30 de julho, ainda faltam 2 dias pensou ao passar pelo grande calendário colado na parede de seu quarto. Depois desceu silenciosamente e foi até a casa da Sra. Figg. Entregou a carta e dessa vez agradeceu.
Chegou em casa e foi logo arrumar seu malão, podia parecer meio precipitado, mas demorou a tarde toda só para reunir os livros, depois do jantar se sentia cansado e resolveu acabar de arrumar suas coisas no outro dia. Se jogou na cama e logo adormeceu. Naquela noite não teve nenhum pesadelo.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.