Passione



Passione

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- Susan, o que está acontecendo afinal? - Lílian perguntou, sentando-se ao lado da amiga.

A italiana levantou a cabeça do travesseiro, sorrindo.

- Nada, Lily, eu só estou cansada. Estes N.O.Ms. estão me matando.

A ruiva olhou-a estranhamente. Susan levantou-se, mas deixou-se cair na cama de novo.

- Certo, eu estou vendo que você precisa de descanso. Quer que eu traga alguma coisa para você comer?

- Porque você sempre me oferece comida quando alguém não está nos seus melhores dias? - a morena perguntou divertida.

- Minha mãe sempre diz que a melhor coisa para levantar o astral de alguém é comer algo bem gostoso.

- Por isso você se enche de chocolate sempre que se encontra com o Potter?

Lílian fechou a cara.

- Você tinha que citar esse idiota? Acabo de chegar dos jardins e aquele imbecil estava lá se exibindo, mostrando a cueca do Snape para toda a escola.

- Eu não acredito que perdi isso!

- Susan!

- Certo, não está mais aqui quem falou. Mas já que você se ofereceu tão prestativamente para me arranjar algo para comer, anota aí: um sanduíche do maior que tiver, suco de uva e, para sobremensa, um belo pedaço de bolo de chocolate.

- Su, você é magra de ruim mesmo... Eu já volto.

Lílian saiu do dormitório, deixando a amiga sozinha. A morena levantou-se novamente indo até a janela, onde podia ver com clareza as pessoas que estavam no jardim, em torno dos tão aclamados marotos, que se divertiam com Snape. E lá estava ele, cercado pelo seu fã-clube.

Apesar de ser tão ou mais cabeça quente que a ruiva, Susan não tinha problamas com os marotos, já que, exceto por Tiago que vivia enchendo a pobre Lílian, eles respeitavam as colegas grifinórias. Ou melhor, ela tinha problemas com os marotos, ou mais exatamente, com um, mas eles eram exatamente o oposto dos problemas da ruiva.

Com tantos garotos para se apaixonar, ela foi gostar justamente do maior conquistador de Hogwarts. Porque o coração tinha que ser tão cruel com seus donos? Nunca conseguira se aproximar do moreno suficiente para mostrar o que sentia, e duvidava que se tivesse essa chance, conseguiria dizer a ele o que queria.

Além disso, sabia que ele, apesar de tantas garotas que sempre estavam em seus braços, só tinha olhos para uma. E não era ela. Com um suspiro profundo, Susan tirou o malão de debaixo da cama e retirou dele um pequeno embrulho, depositando-o na cama, onde, após um aceno de varinha, apareceu um violão.

Voltando a se sentar, Susan segurou o instrumento com delicadeza, começando a dedilhar suavemente uma antiga melodia de sua terra natal.


Cchiù luntano me staje, cchiù vicino te sento

(Quanto mais longe estás, mais perto te sinto)

Chi sa a chistu mumento

(Quem sabe neste momento)

Tu a che pienze... che ffaie!...

(Em que pensas... que fazes!...)



Susan riu enquanto Lílian se descabelava de raiva, e Emelina tentava acalmar a ruiva. Enquanto caminhavam pelo corredor, ela ia pensando em quando a amiga perceberia que Tiago realmente gostava dela e ela, dele.

Foi quando sentiu uma mão pousar em seu ombro, puxando-a para longe das amigas, que sequer notaram o desaparecimento dela. E, para completa surpresa da garota, quem a puxara era, por acaso, a pessoa que geralmente dominava seus sonhos.

- Mas o que... - ela começou, tentando disfarçar o conflito que lhe ia na alma.

- Calma, Timms! - Sirius falou baixinho, puxando-a pelo corredor vazio.

- O que você pensa que está fazendo, Black?!

- Eu preciso da sua ajuda.

A garota estancou e ele quase caiu com o movimento.

- Que tipo de ajuda? - ela perguntou desconfiada.

- Precisamos de uma espiã no quarto das garotas, para vigiar a Evans. - ele respondeu divertido - O Pontas está começando a se desesperar.

- Você não quer que eu espie minha melhor amiga, não é?

- Depende. Se você disser que sim, é sério, se disser que não, era só brincadeira.

- Lógico que não!

- Então era brincadeira. - Sirius sorriu e Susan segurou-se para não derreter - Mas agora é sério, será que você poderia me fazer um favor?

- O que é agora? - ela perguntou falsamente desinteressada.

- O Remo disse que não ia emprestar as anotações dele de História da Magia esse ano e a única pessoa que anota além dele é a Evans. No entanto, eu soube de fonte segura que você, apesar de não prestar atenção na aula do chato Binns, é a melhor aluna de História da escola.

- Eu sempre gostei de História. - ela respondeu, pensativa - Aquele fantasma chato, no entanto, consegue fazer tudo ficar tão desinteressante que eu já quase desisti de seguir alguma carreira ligada à matéria dele.

- Bem, seja como for, eu perdi umas aulas e daqui a uma semana é a prova de História e eu fiz uma aposta com o Tiago que era capaz de ultrapassar as notas dele em todas as matérias. Como eu não posso apelar para a Evans, será que você podia me ajudar com História?

A garota olhou-o estranhamente. Desde quando Sirius Black pedia ajuda a alguém? Mas, se ele tivesse apostado com o Potter, não duvidava que fosse capaz de tudo para ganhar do amigo.

- Eu empresto meus cadernos para você, Black.

- Pode me chamar de Sirius! - ele disse sorridente.

- Que seja, Sirius. - ela respondeu sem conseguir conter um sorriso tímido - Posso ir agora?

- Claro! Mas promete que vai pensar na possibilidade de ajudar o Pontas com sua amiga ruiva?

Antes que ela pudesse responder, passos ecoaram no corredor e uma garota de cabelos cacheados com as vestes da Lufa-lufa, aproximou-se.

- SIRIUS! Eu não acredito que está me traindo!

Susan abriu a boca, assustada e o rapaz riu, aproximando-se da recém-chegada.

- Não se preocupe, Ju, a Susan é uma amiga da Grifinória, não é, Su?

A morena rapidamente recuperou-se.

- Claro, Sirius. A propósito, eu te entrego as anotações amanhã de manhã. - ela virou-se para a garota - Espero que se divirtam.

Sorrindo, embora com o coração apertado, Susan logo se distanciou do casal, indo para sua torre. Porque justamente com ela!?



Tu m'hé miso 'int'e vvene

(Você colocou em minhas veias)

Nu veleno ch'è ddoce...

(Um veneno tão doce...)

Nun me pesa sta croce

(Que sequer sinto o peso da cruz)

Ca trascino pe'te...

(Que arrasto por você...)



Estava tudo em silêncio no dormitório quando ela acordou assustada. Tivera um pesadelo. Susan levantou-se com cuidado, indo até a janela, onde a lua crescente se escondia por trás das nuvens.

Depois do episódio no corredor, há um ano, Sirius acabara por se tornar amigo dela, o que suscitara muita confusão com Lílian, que detestava os marotos, exceto talvez por Lupin. E, desde então, não tivera mais sossego. Parecia que a proximidade dele acabara por acentuar seus sentimentos. Só podia ser praga que tinham jogado sobre ela...

Ela olhou para a cama vazia da amiga. Lílian mudara-se para a Ala Hospitalar após descobrir que era sonâmbula. Se pudesse dividir aquele segredo com alguém... Mas não podia. Era melhor esconder de todos e ter, pelo menos, a amizade do maroto.

Susan encostou a cabeça no vidro frio e deixou escapar uma lágrima. Quando afinal encontraria paz?



Te voglio... te penso... te chiammo...

(Te quero... te penso... te chamo...)

Te veco... te sento... te sonno...

(te vejo... te sinto... te ouço...)

E n'anno

(há um ano)

'Nce pienze ca è n'anno

(Você acredita que já faz um ano)

Ca st'uocchie nun ponno

(Que estes olhos não conseguem)

Cchiù pace truvàl...

(Mais encontrar paz...)



Ela estava no jardim com Selene e Emelina quando viu Pedro aproximar-se.

- Olá, meninas.

As três viraram-se para o recém-chegado, correspondendo ao cumprimento e ele sentou-se ao lado de Selene.

- Vocês estavam conversando sobre a Lílian?

As três assentiram.

- Ela geralmente acorda cedo, mas hoje não a vimos em canto nenhum.

- Engraçado... O Tiago também sumiu, sabiam?

Os olhos de Selene brilharam divertidos.

- Então está explicado... Se eles ainda não se mataram, a essa hora estão aos amassos.

Apenas ela continuou séria, levantando-se.

- Eu vejo vocês mais tarde.

Os três assentiram e a grifinória voltou para o castelo. No Salão Comunal ela encontrou Sirius observando as cinzas da lareira.

- Onde está seu amigo, Black? - ela perguntou nervosamente - Ele realmente está com a Lílian?

- Ele a seguiu ontem de noite. Mas eu não sei o que aconteceu.

- Então também está preocupado? - ela perguntou, mais calma, sentando-se ao lado dela no sofá.

O rapaz assentiu, sem olhar para ela. Susan suspirou, fechando os olhos. Ela e Lílian eram tão amigas quanto Sirius e Tiago, por isso procurara o rapaz. As duas eram trouxas e depois de uma aventura desagradável no primeiro ano envolvendo um sonserino quartanista nojento, Lúcio Malfoy, haviam se tornado unha e carne.

- Susan, você acha que eles estão bem? - Sirius interrompeu os pensamentos da garota.

- Se estão juntos, tenho certeza que sim. O que falta na Lílian sobra ao Tiago e vice-versa. Eles vão cuidar um do outro, seja lá no que se meteram.

Sirius concordou e levantou-se.

- Acho que não vai adiantar ficar aqui esperando. Você já tomou café?

- Já. Mas acompanho você assim mesmo.

Ela levantou-se também, seguindo-o para fora da torre grifinória, enquanto mexia numa pequena pulseira.

- O que está fazendo? - ele perguntou.

- Rezando. Minha nona me deu essa pulseira antes de vir para cá. É um terço de Nossa Senhora das Neves.

- Você acredita nisso? - ele a olhava curioso.

- Não muito. Mas a nona tem razão em dizer que rezar acalma a gente. Eu fiz uma promessa para ela, mas até hoje não se cumpriu.

- Que promessa?

- Isso não é da sua conta. - ela respondeu rápida. Como poderia dizer que pedira a santa para tirá-lo do caminho dela?

- Tudo bem. Será que se eu fizer alguma promessa para essa Senhora das neves, ela consegue fazer a Camille me receber sem tapas?

A morena desequilibrou-se, quase como uma bêbada e apoiou-se na parede. Com tantas coisas para aquele idiota dizer, ele vai falar justamente aquilo?

- Susan, você está bem? - ele perguntou, perto dela.

- Foi só uma tontura. É normal, não se preocupe. Vamos logo tomar esse café.

Ele assentiu e continuou caminhando, perguntando a ela coisas da Itália, enquanto ela rezava interiormente, implorando por piedade...



E cammino... e caminno...

(E caminho... e caminho...)

Ma nun saccio addô vaco...

(Mas não sei onde vou...)

I'sto sempe'mbriaco

(Estou sempre bêbado)

E nun bevo mai vino

(E jamais bebo vinho)

Aggio fatto nu vuto

(Fiz até uma promessa)

A'Madonna d''a Neve

(À Nossa Senhora das Neves)

Si me pass'sta freve

(Que se me passa esta febre)

Oro e perle lle dô

(Ouro e pérolas lhe dou)

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