As aparências enganam

As aparências enganam



- E então? - Remo perguntou.

- Eu já disse que não sei de nada.

- Se realmente não soubesse de nada, não teria essa cara de culpada. - Sirius observou - Eu sou um Auror, lembra? Tenho treinamento nesse tipo de coisa.

Tonks respirou fundo, baixando a cabeça. Lentamente, o cabelo dela começou a encurtar, indo do negro para o rosa chiclete. O corpo dela também mudou, tornando maior e mais roliço. Diante dos dois surpresos rapazes, Tonks voltou a levantar-se e Sirius jurou para si mesmo que se Rabicho tivesse uma irmã, aquela seria a imagem perfeita dela.

- Eu sou uma metamorfomaga. - ela respondeu enfim, enquanto voltava ao normal - Minha mãe não queria que eu contasse para ninguém. É isso.

- É uma pena que isso não seja um dom de família, finalmente eu veria alguma utilidade em ser um Black. - Sirius observou, impressionado - Teria ajudado um bocado no meu curso. Já pensou em ser Auror, Tonks?

Antes que ela pudesse responder, Remo abriu a porta da sala.

- Sirius, será que você pode nos dar licença?

O moreno deixou morrer o sorriso e acenou com a cabeça para a prima, saindo em seguida. Tonks observou tristemente o ex-monitor. Remo puxou uma cadeira, sentando-se de frente para a morena, toda a concentração de seus olhos âmbar sobre ela.

- Acredito que você tenha consciência do que fez, não?

- Lupin, eu...

- Você me enganou.

Se tivesse dito isso gritando, não teria doído mais. Remo tinha o mesmo dom de Dumbledore, de despertar os remorsos de alguém apenas com seu olhar. Aquele tom calmo, quase suave, conseguia machucá-la ainda mais.

- Você nunca teria me notado se eu não fizesse isso. - ela disse num sussurro, voltando a abaixar a cabeça.

Remo respirou fundo. Era melhor terminar com tudo aquilo de uma vez. Não queria magoá-la, mas...

- Eu não vou sair por aí espalhando o seu segredo, embora devesse. Mas acho que essa conversa bastará para que não volte a enganar ninguém com esse dom. O que você fez foi errado e, nos nossos tempos, as pessoas não têm muita paciência com quem faz coisas erradas.

- Você não precisa falar comigo como se eu fosse uma criança pequena.

- Ótimo. Então acho que vai entender se eu disser que não quero mais que me escreva ou que me procure. - ela levantou-se indo em direção à porta, ficando de costas para ela - Siga sua vida, Ninfadora Tonks. E, por favor, esqueça de mim.

Ele saiu e Tonks caiu num pranto silencioso. Estava tudo acabado agora.


As aparências enganam aos que odeiam e aos que amam
Porque o amor e o ódio se irmanam na fogueira das paixões
Os corações pegam fogo e depois não há nada que os apague
Se a combustão os persegue, as labaredas e as brasas são
O alimento, o veneno, o pão, o vinho seco, a recordação
Dos tempos idos de comunhão, sonhos vividos de conviver



Aquilo não podia estar acontecendo... Ele não podia ter dito aquilo. Porque tudo tinha que ser tão difícil? Porque com tantos garotos no mundo ela tinha que ter se apaixonado justamente por Remo Lupin? Aquilo não era justo.

Ela suspirou, afinal levantando-se e olhando ao seu redor. A sala de astronomia não mudara nada desde o primeiro encontro deles. Exceto que, agora, era muito provável que Remo a odiasse. Ou talvez não sentisse nada. Todos aqueles anos talvez não significassem nada para ele além de um passatempo, afnal, os marotos eram famosos pelos corações partidos que tinham deixado na escola. Ela era apenas mais uma na longa lista deles...

Se pudesse voltar atrás, desistir daquela idéia maluca de conquistar o monitor certinho da Grifinória... Mas não, tinha que ser cabeça-dura, tinha que... Mas agoar tudo estava terminado.


As aparências enganam aos que odeiam e aos que amam
Porque o amor e o ódio se irmanam na geleira das paixões
Os corações viram gelo e depois não há nada que os degele
Se a neve cobrindo a pele vai esfriando por dentro o ser
Não há mais forma de se aquecer, não há mais tempo de se esquentar
Não há nada pra se fazer senão chorar sob o cobertor



Ela voltou para seu dormitório, agradecendo aos céus por ser a única a ocupá-lo por aqueles dias. Não queria que as colegas a vissem, elas certamente perceberiam que Tonks não estava bem. Elas nunca a tinham visto de mau humor, quem dirá chorando.

A morena se enfiou debaixo de seu cobertor e voltou a chorar baixinho. Talvez se chorasse toda a mágoa que sentia, ela fosse embora. Doce ilusão... Ela nunca voltaria a ser completamente a mesma. Pois sabia que o que sentia por Remo não era apenas uma paixonite de criança, embora tivesse começado dessa maneira.


As aparências enganam aos que gelam e aos que inflamam
Porque o fogo e o gelo se irmanam no outono das paixões
Os corações cortam lenha e depois se preparam para outro inverno
Mas o verão que os unira ainda vive, transpira ali
Nos corpos juntos, na lareira, na reticente primavera
No insistente perfume de alguma coisa chamada amor.



Ao menos as lembranças ficariam. A noite do baile, as duas vezes em que se encontraram naquela bendita torre, as cartas... Por mais anos que se passassem, ela continuaria a sentir algo por aquele rapaz de profundos olhos âmbar. Embora não soubesse daquilo naquele momento, a esperança de que, um dia, teria seu final feliz, a acalmou. E, com esses pensamentos, a jovem dormiu.

No dia seguinte, os traços de tristeza seriam guardados da vista dos outros. No dia seguinte, tudo pareceria menos escuro. No dia seguinte, haveria novamente esperança...

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.