Reencontro



Fechou o livro e se pôs a pensar no seu dia-dia. Fitava a lareira queimar seus últimos pedaços de madeira e espalhar calor pela pequena sala. Não tinha sono mesmo tendo passado as três noites anteriores tomando conta de uma violenta gripe do menino.

Ali, diante da lareira, numa fria noite londrina, ela ria sozinha das pequinesas do seu dia: deixar o menino no colégio, trabalhar como uma condenada num supermercado, justo ela num supermercado, lavar, passar cozinhar, pegar o menino no colégio... Até com uma gripe ela se preocupou.

Olhou mais uma vez para a lareira. “Não faz tanto tempo assim que minha vida era diferente...”, pensou.

_ Mamãe, boa noite!

Do alto da escada seu filho acenava a tirando de um quase transe e a jogando na realidade de mãe.

_ Já tomou o seu remédio? - sorriu.

_ Já, mamãe!

_ Então, boa noite! Durma com os anjos. E se cubra bem porque está muito frio, acho até que vai nevar...

Olhava fascinada para a criança. Era de longe a melhor coisa que fizera na vida. O pai do garoto, se pudesse tê-lo visto, diria a mesma coisa. Mas o destino não quis assim. Há muito que havia se conformado em ser sozinha, se submeter àquela vida, contanto que pudesse criar seu filho em paz.

_ Mãe?

_ Você ainda não foi para cama?- acordou novamente do transe, muitas vezes por dia se perdia em seus próprios pensamentos.

_ Sabe, mãe...- desceu as escadas e veio deitar-se no colo dela - É que eu estava lá no meu quarto e de repente fiquei com muita pena dos cachorros.... Eles vão ficar lá fora, numa noite fria como essa?

Abraçou com muito carinho o menino e o embrulhou com uma manta que ele carregava para cima e para baixo desde que era bebê.

_ Coitados, mãe, lá fora nesse escuro e com esse frio todo...

_ Sei... - olhou desconfiada - Posso saber da onde vem esse seu súbito interesse em cachorros? - começou a fazer cócegas no menino que ria descontroladamente.

_ Eu sempre gostei de cachorros, mãe. A senhora é que nunca quis um.

_ Não gosto de cachorros. E além do mais quem ia passear, dar banho, limpar e dar comida?

_ Eu, oras... Se eu tivesse um cachorro como aquele - apontou para um cantinho da janela que a cortina não cobria.

A cara dela mudou imediatamente, ficou branca, lívida ao ver a imagem do enorme cachorro negro que pacientemente vigiava a janela da casa pelo lado de fora do quintal.

_ Mãe, por que a senhora está tão nervosa?

_ Há quanto tempo ele está aí?

_ Mãe?

_ Quanto tempo faz?

_ Um pouco mais que três horas... por que?

_ Suba! Na cama, agora!

_ Mãe?

_ Já!

Subiu com o filho as escadas e fez questão de Ter certeza que ele dormia antes de descer novamente.

O medo tomou conta do seu coração. Tamanha era a aflição que não pensou antes de quebrar de uma só vez várias das promessas feitas há tantos anos antes.

Apagou o fogo da lareira o mais rápido que pôde, acabando por espalhar cinzas pela sala inteira. Afastou as sobras de lenha para revirar o fundo falso. Procurou pouco pelo que queria e ao tocar, sentiu de novo as velhas emoções.

_ “Carvalho, crina de unicórnio, 9 ¾ polegadas. Uma varinha própria para feitiços e encantamentos de cura, senhorita Kudrow.” - olhava para sua varinha e lembrava palavra por palavra aquilo que Olivaras havia lhe dito no dia que a comprou.

Teria ficado ali, não fosse a urgência do ocorrido. Levantou e abriu a porta da casa com a varinha mão e falou decidida:

_ Sirius Black, saia já da onde você estiver ou eu juro que vou chamar o ministér...

Sirius não precisou de muito mais que três segundos para transformar-se em homem e com uma mão puxar a varinha dela e com a outra tapar-lhe a boca.

Ele a puxou para dentro de casa. Ela nem se deu o trabalho de se debater, Sirius sempre fora muito forte, até comparado a outros rapazes, em relação a ela, então, não estavam nem na mesma escala.

_ Promete que não vai gritar? - Sirius apontava para cabeça dela a varinha. Ela fez que sim com a cabeça. Ele soltou a boca dela e entregou a varinha a dona.


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