Brilho

Algumas horas mais tarde...

Hermione caminhava pelos corredores em direção à biblioteca. Estava um pouco aflita. Não sabia o que exatamente poderia acontecer. Andava olhando para o chão em uma linha reta imaginária, como costumava fazer quando estava nervosa. Malfoy já estaria lá. Ele era pontual, se ela bem se lembrava. Se bem se lembrava? De onde tirou isso? Nunca havia tido um encontro com o rapaz. Sorriu. Provavelmente sabia disso porque Malfoys têm cara de serem pontuais. Ah, que fosse. Ficar discutindo consigo mesma a pontualidade dos Malfoys não era lá boa coisa a se fazer. Ainda mais quando se está caminhando em direção a um deles. É, havia chegado. Ele já estava lá. Com uma camiseta preta e um jeans velho. Parecia ligeiramente interessado em um livro da seção trouxa da biblioteca. Achou melhor não citar isso enquanto estivesse com ele. Talvez ele pudesse se sentir ofendido.

- Hey, Malfoy? – ela chamou baixo, quando já se encontrava dentro da biblioteca.

- Granger... Achei que não viesse mais. – ele respondeu indiferente, já guardando o livro com pressa e se encaminhando a uma poltrona.

“É, eu também achei que não.” – pensou a morena, sentando-se em uma outra poltrona ligeiramente afastada. Draco reparou na distância.

- Eu não mordo, Granger. – ele disse simplesmente, observando o braço da poltrona. Hermione corou. Draco sorriu. Ela ficava estranhamente bonita com vergonha.

- Er, certo. – ela retrucou meio sem jeito, se levantando e sentando-se na poltrona ao lado da que o louro estava sentado. – A gente pode começar?

- Quando você quiser.

Draco estava se sentindo realmente estranho. Há algumas horas atrás pensava em não deixá-la ir, pensava em tê-la para si, e agora isso, de não conseguir falar nada. Nunca havia acontecido! Ele sempre fora tão galanteador quanto possível imaginar, e agora, com Hermione, não conseguia ao menos ser gentil e... Parou. Talvez... Talvez ele estivesse apenas sendo ele mesmo. Talvez toda aquela falsidade que ele estava costumado a usar... É, ele não conseguia usá-la com ela. E não adiantaria de qualquer jeito, não era a mesma coisa. Ele não a queria por apenas uma noite, não a queria apenas para satisfazer suas próprias vontades. Ele a queria para fazê-la feliz, queria satisfazer as vontades dela. E foi observando aquelas bochechas ainda ligeiramente coradas que ele se pegou a pensar novamente: ele a queria para uma vida toda. Queria ter filhos com ela. Queria que ela fosse a mulher de sua vida, queria juntar suas escovas de dente pelo tempo que a eternidade lhes concebesse.

- Malfoy?! Você escutou alguma coisa do que eu disse?! – gritara Hermione o mais baixo possível na tentativa de chamar a atenção de Draco, que ainda estava um pouco absorto demais.

- Você disse alguma coisa? – ele retrucou acordando de seu transe, ligeiramente confuso.

- Eu não acredito que eu estou falando sozinha até agora... – disse a morena indignada, e Draco sorriu novamente. Ela também ficava estranhamente bonita quando brava.

- Desculpa... Eu acho que eu viajei um pouco. – ele sorriu divertido.

- Certo, eu te perdôo, mas só desta vez. – ela respondeu, sorrindo vagamente, um tanto quanto encantada com o sorriso do rapaz. O que aquele sorriso não era capaz de fazer com ela? Era incrível como o mundo ficava azul quando ela o via sorrir daquele jeito. Aquele sorriso sincero, tão bonito, tão... Caloroso. Draco Malfoy nunca havia sido caloroso. Ela não possuía nenhuma lembrança de nenhuma característica assim no rapaz. E agora ela poderia conviver com uma... O sorriso.

De repente, ouviram um barulho que vinha da porta dos fundos da biblioteca. Se entreolharam. Fosse quem fosse, eles não poderiam ser vistos ali. Não naquela hora, sem a permissão de nenhum professor. Pensaram a mesma coisa. Draco levantou num pulo e puxou o braço de Hermione que ainda estava nervosamente incapaz de tomar qualquer decisão espontânea e a puxou em direção à porta principal. Eles seguiram até um lugar distante, sem trocar nenhuma palavra durante toda a corrida silenciosa. Quando finalmente pararam, perceberam o quão tolo foi correr até tão longe, visto que só era necessário sair da biblioteca.

- Por quê você me ajudou?! – perguntou a morena, surpresa com atitude do louro, porém ainda um pouco sem ar.

- Um “obrigado” cairia muito bem agora, não é, Granger?! – respondeu desdenhoso, porém um pouco magoado. De novo a ajudava e de novo era chutado como um cachorro sarnento. Estava começando a pensar se ela não preferia o antigo Malfoy.

- Ah, desculpa! – ela sorriu – Obrigada, Malfoy. Mas... Por quê?! – insistiu Hermione, ainda confusa com a atitude do garoto. Achava que ele a estava evitando, achava que ele voltaria a ser o antigo Malfoy, que ele não seria mais gentil e que toda a história do beijo fora bobagem, embora desejasse com todas as suas forças que não tivesse sido.

- Porque... – ele começou, sem saber o que dizer – Porque sim. Porque eu quis, eu não posso mais ajudar os outros?

- Certo, então. – ela murmurou, um pouco desapontada. – Bom, pra onde iremos agora?

- Quê? – retrucou Draco assustado com a pergunta repentina da morena.

- A gente tem de terminar a nossa “reuniãozinha”, se você esqueceu, Malfoy. Aliás, temos de começar a nossa reuniãozinha. – ela sorriu levemente.

- Ah é, tinha me esquecido. – ele respondeu indiferente, reparando no sorriso da garota. Ela estava sendo sociável. Estava se soltando, estava sendo ela mesma. Por quê diabos ele não conseguia?! – Vamos pro jardim, lá tem ar fresco e fica mais fácil pra gente pensar.

- Boa idéia.

Os dois seguiram um caminho curto até a porta principal do Saguão. Acabaram correndo tanto da biblioteca que já estavam perto da saída. Hermione ia à frente e Draco alguns passos atrás. Andar paralelamente os forçaria a uma conversa que nenhum dos dois tinha vontade nem criatividade para começar. Caminharam mais um pouco pelo jardim e sentaram próximo a uma árvore. Olharam para o céu. Era simplesmente a noite mais linda que já tiveram oportunidade de presenciar. A luz da lua cheia da época contrastava com o brilho das estrelas, as deixando mais iluminadas do que de costume. E aquele brilho estrondoso deixava os olhos azuis de Draco com um brilho estranhamente lindo. Não, estranhamente não, eles já eram lindos. Mas os deixavam muito mais lindos, muito mais atraentes, muito mais...

“Chega, Hermione.”

Draco também havia reparado na luz exacerbada que aquela noite estava produzindo. Não se lembrava de noite mais iluminada que aquela. Hermione ficava linda à luz da lua. E aquela luz o fazia lembrar da noite em que se beijaram. Quem sabe... Quem sabe não fosse uma coincidência, uma ação do destino? E desde quando acreditava em destino?

“Você anda cada vez mais patético, Draco Malfoy.”

Os dois perceberam que estavam sentados ali há alguns minutos e que nenhum dos dois havia pronunciado sequer uma palavra.

- Então... – os dois disseram ao mesmo tempo, e se entreolharam, sorrindo.

- Por onde começamos? – perguntou Hermione.

- Só acho que não pode ser a mesma banda do Baile de Inverno... Ia ficar repetitivo, não acha? – ele disse simplesmente, ainda observando o céu.

- É, realmente. Eu tinha pensado em trazer uma banda trouxa, e depois tirar a memória deles... Será que daria muito trabalho? – ela começou, um pouco receosa, olhando pra ele.

- Daria. Eu não quero ter que ficar me preocupando com Obliviates no dia do Baile, por favor. – ele retrucou, agora observando as feições da morena passarem de receosas para emburradas. - Você não conhece nenhuma banda bruxa?

- Conheço só uma além d’As Esquisitonas. – ela disse, indiferente. – E não é na verdade uma banda. É uma cantora, Nerina Pallot.

- Não, muito melosa. – ele disse, torcendo o nariz. Ela sorriu, embora quisesse muito que a cantora que dissera fosse a escolhida. – Bom, eu tenho uns CD’s de algumas outras bandas bruxas em casa, eu posso pedir pra minha mãe me mandar e aí eu te mostro.

- Certo. O mais rápido possível, por favor.

- Muito exigente ultimamente, Srta Granger. – ele sorriu, o típico sorriso Malfoy.

- Eu sou exigente Sr Malfoy. – ela também sorriu. Estavam começando a ter uma relação amigável ou era apenas impressão? Talvez se se tornassem amigos ou colegas fosse mais fácil qualquer aproximação e...

“Gina.”

- Eu preciso ir, então. – ela disse, se levantando bruscamente.

- Não, não precisa. – ele retrucou sorrindo, a puxando de volta para o chão e se aproximando dela. Foi tudo tão rápido que quando Hermione percebeu, já estava deitada no chão embaixo dele. Não que fosse uma situação ruim, era na verdade o que ela estava desejando desde que chegaram ali, mas até querer e acontecer já era outra coisa. Tá, não era outra coisa, era simplesmente maravilhoso. Ele não sabia de onde havia tirado coragem suficiente para fazer aquilo, mas se sentiu infinitamente grato por tê-lo feito. Tê-la feito sentir-se à vontade talvez tenha o deixado a vontade também, e além do mais, já não conseguia mais resistir depois de passar tanto tempo com ela.

Ficaram se olhando durante longos segundos, que pareciam uma eternidade. Enquanto Draco se perdia nos olhos cor de chocolate da morena, ela se perguntava o motivo de nunca ter reparado nesse lado dele antes. Como alguém podia ser tão perfeito a ponto de mexer tanto assim com ela? Podia sentir-se arrepiar só de perceber que ele não parava de olhá-la, só de sentir o peso que o corpo dele fazia no dela. E foi então que ele a beijou, novamente. Um beijo delicado, muito delicado para considerar a situação em que se encontravam. Ele não sabia se ela o permitiria fazer aquilo. Não queria assustá-la, era pra ser bonito, com ela ele esperaria o tempo que fosse pra fazer alguma coisa mais. Seus lábios roçaram nos dela; e o beijo foi se aprofundando devagar. Era a noite mais perfeita de sua vida. Ali, embaixo daquele céu estrelado, do lado do lago e com a garota que mais havia gostado em toda a extensão de sua vitalidade. Não que isso foi muito tempo, mas a língua de Hermione acompanhava bem o ritmo da sua. Foi o melhor beijo de todos pra ele. E também foi o melhor pra ela, sem dúvida. Claro que aquele fora só o segundo, mas teve a impressão de que se fosse o último com Draco malfoy, seria com certeza o melhor de toda sua vida. Pareciam simplesmente se completar, a mão de Draco já não pensava mais em se apoiar no chão e começava a passear entre a cintura e as costas da morena. Foi então que percebeu que se aquilo continuasse por mais algum tempo, ele já não teria mais controle sobre seus atos. Interrompeu o beijo e a olhou nos olhos. Então sorriu ao notar o rubor nas bochechas dela. Ela ficava estranhamente linda assim.

Hermione também sorriu. Havia percebido o porque de Draco ter parado de beijá-la, e concordava com ele no fato de que era cedo demais pra fazer qualquer outra coisa. Na verdade, eles mal haviam se falado, e ela já pensava em pormenores. Ridícula foi como ela se sentiu ao perceber isso. Mas nem ligou muito, na verdade. Aquilo havia sido tão perfeito que nem fazia diferença. Observou Draco sair delicadamente de cima dela e deitar-se ao seu lado. Pelo menos dessa vez ele não fugiria. Então... Então ele também queria. Sorriu novamente.

- Eu poderia morrer agora. – ele disse, quebrando o silêncio. Hermione olhou para o lado assustada, e Draco sorriu pra ela. – Eu estou simplesmente... Feliz, Hermione. – o louro aproximou sua mão e a posicionou sobre a dela, num gesto súbito de carinho que nem ele mesmo se achava capaz de fazer. – Estou exatamente onde eu queria estar, com quem eu queria estar. – Ela sorriu.

- Eu também, Draco. – era estranho o chamar pelo primeiro nome, mas era mais estranho ainda pensar em chamá-lo de Malfoy.

- Posso te pedir uma coisa? – ele começou, sentando-se e olhando para ela dessa vez.

- Claro. – ela olhou pra ele, um pouco receosa.

- Você quer ir ao Baile de Inverno comigo? – ele sorriu, ao observar o receio evidente em seu olhar. Mas logo seu sorriso se esvaiu, quando percebeu que as feições da garota logo se tornaram assustadas e nervosas. – O que foi?

- Nada, é que... Eu já tenho um par. – ela disse se sentando também, abraçando os joelhos.

- Quem? – ele retrucou, começando a se irritar. Estava tudo indo tão bem e agora isso, de ela ter par. Estava mentindo, não queria ir com ele, não queria que seus amiguinhos a vissem com ele, era isso.

- Ron. – ela disse observando o chão, temendo a reação do rapaz.

- Weasley? – ele disse com nojo, se levantando inconformado – Faça bom proveito dele então, Granger. – ele virou e foi embora, sentindo vontade de se atirar no lago. Então era assim? Ela não tinha nenhum sentimento por ele, foi apenas fogo de palha de primeiro beijo, e logo em seguida correu para o Weasley? Ah, isso não ficaria assim. Ele sabia exatamente como dar o troco. E ele daria. Porque mudado ele havia, sim, mas não era nem um pouquinho idiota, isso ele definitivamente não era. Bateu a porta do Salão Principal e seguiu a passos largos para as masmorras, precisava definitivamente de um banho frio e uma boa noite de sono.

Hermione permanecera no jardim, ainda segurando os joelhos. As lágrimas já corriam teimosas por seu rosto, porque as coisas teimavam em dar errado pra ela? Estava tudo tão bonito, tão perfeito, as coisas que ele disse, o beijo, até a lua conspirava a seu favor! Mas... Alguma coisa tinha que dar errado. Ela era Hermione Granger, você realmente achou que tudo acabaria bem? Não, Merlin a havia feito nascer pra sofrer, pra se ferrar e pra chorar, só para isso. Praguejou mais um pouco e percebeu que a noite começava a ficar realmente muito fria, visto que já não tinha mais o calor humano de Draco para lhe aquecer. Outra lágrima escorreu e ela a enxugou depressa, e seguiu na direção do castelo. Não queria ver ninguém, não queria nada. Queria dormir e não acordar de novo, só pra poder sonhar o tempo todo com aquela noite.

Sentiu vontade de matar Ron ao encostar a cabeça em seu travesseiro, mas a vontade logo passou, pois o cansaço foi mais forte. Não sonhou aquela noite. Talvez tivesse sido melhor assim. Talvez não.

***

N/A:

- Completamente sem criatividade durante alguns dias, desculpem a demora, obrigada pelas reviews, com pressa, sem capacidade de responder as reviews uma por uma, mas eu respondo na próxima, obrigada REALMENTE!

- Eu particularmente não curti muito, mas eu quero saber a opinião de vocês, revisem por favor!

- Próximo capítulo com data indefinida (completamente indefinida), não me matem, mas tá difícil de conseguir escrever! Prometo coisa boa, pra quem gosta de uma briguinhas! Haha! Beijos!

Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.