O Desabafo

How I wish I could walk through the doors of my mind;
Hold memory close at hand,
Help me understand the years.
How I wish I could choose between Heaven and Hell.
How I wish I would save my soul.
I'm so cold from fear.
(Tears and Rain - James Blunt)

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Capítulo 4 - Desabafos

O dia seguinte amanheceu frio no dormitório feminino da Grifinória, embora os raios do sol fraco de inverno insistissem em invadir a tranqüilidade da cortina vermelha que envolvia a cama de Hermione. Depois de muita resistência à luz que continuava a tentar acordá-la, como se já não bastasse Bichento; a garota resolveu levantar e tomar um banho, para começar bem o primeiro dia de aula de seu sétimo e último ano. Na noite anterior, após ter arrumado suas coisas em seus devidos lugares no criado e na escrivaninha que jazia no quarto – já que ela era a única que a usava –, deitou de roupa e tudo e dormiu maravilhosamente bem.

- Elas nem sonham em acordar ainda... – murmurou para Bichento enquanto procurava a toalha com suas iniciais na mala e observava as suas companheiras de quarto, Lilá Brown e Parvati Patil, que ainda dormiam esparramadas em suas devidas camas. – Droga, minhas vestes ficaram toda amassadas... Vou ter que colocar as velhas! – resmungou depois de perceber que se esquecera de trocar de roupa antes de dormir.

Após “caçar” todas as coisas que precisaria para um banho em seu malão, Hermione seguiu para o banheiro do dormitório e tomou um banho quente e demorado, consciente de que suas companheiras de quarto não acordariam na próxima meia hora. A garota deixava a água escorrer pelo seu corpo de mulher, nessas horas gostava de não pensar em nada: era um dos únicos momentos do dia em que ela não precisaria se preocupar com tarefas ou com os amigos. Quando o tempo embaixo d’água se fez suficiente para que ela despertasse, Hermione se enxugou e se vestiu no próprio banheiro, pois embora soubesse que aquelas dorminhocas ainda não haviam acordado – senão já estariam tentando derrubar a porta –, não gostava de se trocar na frente dos outros.

- Eu tenho dezessete anos, preciso parar com essas idiotices. – resmungou para si mesma enquanto abotoava a camisa do uniforme. Borrifou um pouco do perfume com essência de morango que costumava usar e penteou os cabelos castanhos cor-de-mel. – Acho que tá bom assim. Só quero ver se alguém vai perceber. – ironizou depois de arrumar as madeixas de uma maneira diferente da usual.

- Hermione! Eu preciso arrumar o cabelo, dá pra você sair logo daí? – berrara uma Lilá um pouco estressada, enquanto esmurrava a porta do banheiro. Hermione nunca gostara daquela menina, mas depois de seu sexto ano, ela passou a odiá-la, definitivamente. “Não que eu tivesse ciúmes do Rony. Tá, eu tinha, mas era ciúmes de amigo, eu sabia que ela era uma vadia e que não merecia ele!” pensou Hermione enquanto abria a porta e desviava de um murro que Lilá estava imaginando dar na porta. – Finalmente né, garota! Hey, o que você fez com seu cabelo?

- Não posso mudar um pouco o visual? Eu só dei uma ajeitada nele... – respondeu Hermione irritada, enquanto a garota a observava pasma com a mudança. “Não era pra ela perceber. Droga” pensava enquanto pegava a bolsa já arrumada na noite anterior e a varinha e descia em direção ao Salão Principal, para tomar seu café da manhã. Atravessou o retrato sem avistar ninguém na sala comunal, e desceu todas as milhares de escadas que levavam até a torre da Grifinória. “Acho que eu acordei cedo demais” pensou quando chegou ao seu destino, que estava deserto, em exceção de alguns alunos da Corvinal.

Alguns vários minutos depois, que Hermione por acaso passara lendo um de seus muitos livros, o Salão Principal começou a encher, vários alunos com caras de sono, outros – os do primeiro ano mais diretamente – com sorrisos de orelha a orelha estampados nos rostos, apareciam e se sentavam, esperando pelo café. Avistou uma cabeleira ruiva muito alta acompanhando uma morena um pouco menor, e esperou que Rony e Harry chegassem até a mesa.

- Bom dia, Mione. – disseram os dois, Rony com cara de sono e Harry aparentemente absorto na tarefa de procurar por Gina na mesa.

- Bom dia garotos! Ela não desceu ainda, Harry. – respondeu a garota, sorrindo de modo carismático.

- Ah, obrigada Mione. - sorriu Harry sentando-se em frente à amiga. - Você tá aqui faz muito tempo?

- Um tempinho sim... Acordei cedo demais! - respondeu carinhosamente, enquanto Rony dava a volta na mesa e sentava-se do lado dela, já que Gina se sentaria ao lado de Harry.

- Que horas você chegou ontem, Mione? - perguntou o rapaz ruivo, tentando claramente se conter para não perguntar o porque da demora.

- Um pouco tarde Rony, eu perdi a noção do tempo. - respondera calmamente, e sua feição mudara de alegre para desanimada quando lembrou que teria uma detenção pra cumprir.

- Que foi? - perguntara Rony, preocupado, ao mesmo tempo em que Gina se se sentava à mesa e cumprimentava Harry com um selinho e os outros com acenos, inclusive os dois.

- Acabei de lembrar que eu tenho detenção hoje à noite com o Snape, porque perdi a hora. - resmungara bravia em resposta. - E o pior é que eu vou ter que cumprir com o Malfoy!

- Que barra hein... - respondera Rony, um pouco incomodado com a idéia da amiga cumprindo detenção com o garoto. - Opa, vamos comer! - exclamara alegre assim que a comida apareceu nos pratos, esquecendo do drama da amiga e sendo repreendido por uma olharde "esfomeado" dela.

- Só você, Rony... - disse Gina, que depois de tantos beijos de Harry entrara na conversa também, já que agora o que interessava (além de Harry) era o café da manhã maravilhoso que se estendia pela mesa.

Depois de alguns minutos comendo e de terem recebido os horários, Harry Rony e Hermione se dirigiram até a sala da Professora McGonnagal, para terem dois tempos de Transfiguração. Gina seguiu o lado oposto, tinha aula de Herbologia em uma das inúmeras estufas de Hogwarts.

- Acho que Transfiguração esse ano vai ser complicado! – dizia Hermione, absorta em suas idéias de como conseguir estudar para tudo enquanto entravam na sala e se sentavam.

- Ah Mione, não chateia! A gente sabe que tudo vai ficar mais difícil esse ano, não precisa ficar lembrando toda hora! – responde Rony rabugento, observando a classe e reparando que Corvinal não estava ali como de costume. – Corvinal não está aqui.

- Eu acho que sei porque. – disse Harry, intrigado. – Mila Bulstrode é da Sonserina, olha ela ali. Acho que as aulas vão ser com eles...

- É, vão mesmo, olha quem chegou... – murmurou Rony, um pouco nervoso, apontando discretamente um rapaz alto de cabelos louro platinados que entrava na sala. – Ele tem que se meter em tudo mesmo não é? Merda!

- Calma Rony, ele tá sem os guarda-costas, é só ignorar ele... – tentou remediar Hermione, calmamente, mas na verdade estava tão puta quanto o amigo. Além de aturar ele durante a noite e nas aulas de poções, também teria que aturá-lo na aula da sua matéria preferida?

“Merda”.

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Draco Malfoy, sendo o único garoto restante do sétimo ano da Sonserina, ficara com o quarto que antes dividia com os companheiros inteiro para ele. É claro que o rapaz não demorou a fazer algumas mudanças no lugar, com permissão do diretor da sua casa, Severus Snape. Transfigurou as camas de seus colegas em objetos de seu grado, como cômodas e poltronas e sua cama em uma de casal gigantesca. Tingira as paredes de verde e as cortinas de preto, se perguntando porque elas não eram deste jeito antes; e enfeitiçou o teto para que ele sempre parecesse um céu estrelado, tanto à noite quando de dia. Depois daquela manhã, percebera que fora um erro estúpido da parte dele fazer o dia parecer noite, embora adorasse a mesma; pois acordara um tanto atrasado para as aulas: - “Não, ainda é noite, despertador maluco... Vou dormir um pouco mais.” – pensara várias vezes naquela manhã, antes de levantar faltando vinte minutos para que as aulas matinais começassem.
- Maldição! Vou tirar esse feitiço maldito assim que eu conseguir voltar aqui! – resmungava o louro enquanto tirava a calça com pressa, quase tropeçando em uma das poltronas que transfigurara. – Outra coisa que eu vou lembrar de mudar de lugar! Bosta!

Tomou um banho rápido, e como durante a manhã é mais aconselhável que garotos tomem banhos frios, assim o fez. Como sabia que demoraria uma pouco mais na hora de se arrumar, Draco saiu do chuveiro bem depressa e se enrolou na toalha para ir até a cômoda que transfigurara buscar suas vestes de Hogwarts. E se lembrara, porque estava mesmo usando a toalha? Jogou-a em cima da poltrona e se vestiu rapidamente, era impressão ou sua camisa estava apertada? Sorriu maliciosamente ao pensar na possibilidade de ter ganhado músculos no último ano. E seu sorriso cessou imediatamente após lembrar de que não pensava mais no mesmo há muito tempo. Chacoalhou a cabeça de leve, como quem quer esquecer de alguma coisa, e voltou ao banheiro, para dar o nó na gravata – que mesmo depois de sete anos o fazendo, ainda não aprendera a executá-lo com perfeição sem a ajuda do espelho – e pentear o cabelo de leve. Desde quando não usava aquela poção para manter os cabelos abaixados (ou para lambê-los, como Draco costuma dizer) que sua mãe insistia em mandar? Provavelmente desde o quarto ano. Aprendeu que seus cabelos louros platinados ficavam melhores ao vento que os desarrumava e dava-lhes um ar de não penteado do que quando eram manipulados por aquela poção horrenda. Não que isso tivesse alguma relação com Harry Potter, porque não tinha. Ou pelo menos Draco tentava se convencer disso todos os dias enquanto “penteava” as madeixas, assim como fazia agora.

- Não, vocês não estão desarrumados por causa da bicha da cicatriz, estão assim porque ficam mais atraentes e... Enfim ficam melhores! – resmungou para as próprias madeixas enquanto passava o pente de leve dentre elas. – É um absurdo pensar que foi por causa dele, eu só mudei um pouco com o passar dos anos... Ai! – exclamara quando o pente com que penteava o cabelo caiu sobre seu pé ainda descalço.

Aquela manhã definitivamente não começara bem para o louro. Depois de muito tropeçar – isso não era uma coisa normal, ele se perguntara muitas vezes se tinha bebido alguma coisa na noite anterior, mas chegara à conclusão de que estava tudo dando errado porque ele estava atrasado – ele finalmente conseguiu vestir os sapatos e pegar os seus materiais, para ir até a primeira aula.

- Mas... Qual é a primeira aula? – perguntara para o nada enquanto caminhava pelo corredor que levava às masmorras. Lembrara em seguida que só havia uma pessoa no sétimo ano que continuou na escola, que por acaso ele não mantinha contato freqüente: Mila Bulstrode. “Ela já deve estar na classe há essas horas... Eu vou ter que perguntar para algum professor. Saco” – Hei, McGonnagal! – gritara ao avistar a professora próxima à entrada de sua sala de aula. ”Pelo menos sorte nisso eu tenho...”

- Sim, senhor Malfoy? – perguntara a professora ao avistar Draco, que estava um pouco ofegante.

- Er... Eu acordei atrasado professora, não recebi o meu horário. – respondeu o garoto, em seu habitual tom arrogante. - A senhora saberia me dizer qual é a primeira aula da Sonserina?

- Por acaso saberia sim. Sua aula é comigo, entre antes que eu esqueça que hoje é oprimeiro dia de aula. – ponderara a professora severamente ao rapaz, que fez uma careta quando esta se virou. – E não se esqueça de anotar os horários, pois eu não voltarei a te informá-los.

Draco concordou com a cabeça e entrou na sala, seguido pela professora. Nunca contara a ninguém, mas sua matéria preferida sempre fora Transfiguração. Apenas fingia preferir Poções e não costumava responder as questões durante a aula por puro orgulho. Aquele orgulho Sonserino. Mas este ano seria diferente. Ele não tinha mais motivos para esconder sua admiração pelas aulas da McGonnagal, seu pai não o obrigaria mais a fazer as coisas que ele fez. Ei, pensar no pai dele doía. Então Draco simplesmente concluiu seus pensamentos sobre o assunto, que se resumiam em ser ele mesmo e não o que o pai e a sociedade sempre exigiram dele; visto que a professora já estava fazendo a chamada, e passou a prestar atenção na aula. “O que os grifibobos fazem aqui?”.

- Este ano, Sonserina terá Transfiguração com a Grifinória, visto que há muito poucos alunos Sonserinos e os Grifinórios são em maior número do que as outras duas casas. – explicara McGonnagal, ao observar que os alunos da Grifinória estamparam expressões de espanto nas caras. Alguns segundos em silêncio e murmúrios maldosos ecoaram pela sala que estava tranqüila até aquele momento. – Eles se resumem em Draco Malfoy e Mila Bulstrode, por favor, não sejam hipócritas! – conclui a professora aparentemente intrigada com seus alunos.

- Mas professora, o problema é o Malfoy! – resmungara Rony, que se calou em seguida ao receber um olhar mortífero da professora. – Er... Desculpe.

- Você não tem que se desculpar comigo Weasley, se desculpe com o senhor Malfoy. – respondeu a professora com um sorriso gracioso enfeitando os lábios.

- Não, prefiro não me desculpar então. – sibilara Rony, após desviar do olhar da professora e pegar o livro na mochila. – Esse idiota não merece porra nenhuma. – murmurara somente a Harry e Hermione.

- Dez pontos a menos para Grifinória por sua falta de educação, Weasley. Eu pude te ouvir. – disse a professora séria; Malfoy sorria maliciosamente enquanto as orelhas de Rony começavam a ficarem vermelhas. – Agora comecemos a estudar, abram os livros na página 9, no tópico “Transfiguração Avançada” e leiam, por favor.

A classe inundou em um silêncio absoluto. Não que todos estivessem lendo, alguns escreviam nos cantos dos livros, outros observavam adoravelmente o nada e alguns até cochilavam moderadamente. Mas Hermione lia o texto, muito concentrada. Tá, ela já o havia lido algumas vezes antes. Não que isso a impedisse de ler novamente. Rony e Harry liam vagarosamente, hora desviando a atenção da leitura, hora parecendo ligeiramente interessados. Neville já havia acabado de ler o texto e girava a varinha entre os dedos, e Malfoy, que acabara de ler logo depois de Neville, observava Mila Bulstrode ao seu lado com olhares que expressavam absoluto nojo.

“Ótimo.” – pensou rabugento – “Aturar essa feiosa o ano todo ao meu lado em todas as aulas vai ser muito divertido” – se mexeu na cadeira, desconfortável com a situação, e acabou batendo seu cotovelo no livro, o derrubando. – “Merda, o que aconteceu comigo hoje?” – pensava enquanto abaixava-se para pegar o livro, não reparando em alguns olhares que recaíam sobre ele.

“Como são lerdos, ainda não acabaram de ler”. – pensava Hermione enquanto observava todos na classe, quando reparou que Draco se abaixava para pegar o livro. – “Estranho, não está me parecendo tão assustador enfrentar detenção com ele.” – e um sorriso tímido para si própria se formou nas feições da garota. “Ele pode estar diferente. Mas pode não estar. E eu prometi ontem a noite não divagar a existência dele hoje. Droga.” – chacoalhou a cabeça e desfez o sorriso rapidamente. Virou para frente e percebeu que Minerva agora se encontrava de pé, pronta para explicar a matéria.

- Como vocês puderam observar, esse tipo de Transfiguração é diferente do que temos visto até agora. Estamos acostumados a transfigurar animais ou objetos, mas daqui pra frente vamos transfigurar a nós mesmos. – concluiu com um tom levemente descontraído. – Por favor, alguém gostaria de ser meu voluntário para essa aula?

Silêncio. Claro, ninguém era louco de tentar se transformar em alguma coisa e nunca mais voltar ao normal. Todos fingiam observar a janela, se encolhiam nas cadeiras, abriam os livros e fingiam-se mergulhados na leitura mais profunda de suas vidas. Mas duas pessoas levantaram a mão. Uma já era de se esperar, claro, a queridinha da professora como provavelmente metade da classe pensara. Mas o que o Malfoy estava fazendo com o braço levantado também? Ele nunca tinha sido voluntário para nenhuma aula de transfiguração. A professora McGonnagal virou o rosto na direção do louro e o observou profundamente, sorriu e então chamou os dois á frente da sala.

- Podem vir, Granger, Malfoy. – os dois se levantaram, se encararam e seguiram á frente da sala. – Quero que se transformem em animais, fica a critério de vocês em qual. Mas acho que pra começar um animalgrande seria mais fácil para ambos. – e ajeitou os oclinhos no nariz. – Vocês sabem o que fazer, estava no livro. Primeiro você, Granger.

- Sim, professora. – respondeu Hermione, um pouco aflita. Deu um passo a frente de Malfoy e fechou os olhos em sinal de concentração. Sabia como fazer, estava tudo no livro. Tinha que desejar mais que tudo ser o que pretendia se transformar, e recitar algumas palavras, com um movimento de varinha específico. Parecia bem fácil, mas não era. “No que eu vou me transformar? Droga! Acho que vou tentar um... Hipógrifo! É qualquer coisa!”.

Chacoalhou a varinha e murmurou o que leu no livro alguns minutos antes. Mas... Nada havia acontecido. “O que tá acontecendo, droga!”. Tentou de novo, dessa vez, falando mais alto, mas nada acontecera novamente.

- Er... Professora, eu acho que não consigo. – admitiu sem graça, após duas tentativas mais.

- Tudo bem, Srta. Granger, nós ainda vamos treinar esse tipo de magia durante muito tempo. – e sorriu carinhosamente para Hermione, indicando que deveria sentar-se agora. – Malfoy, sua vez. – disse McGonnagal, lançando-lhe um olhar frio e virando para sentar-se em sua mesa.

- Certo, professora. – respondeu Draco, um tanto seguro de si. Já havia ouvido falar nesse tipo de transfiguração. “Talvez animais só exijam um pouco mais de concentração. Acho que vou tentar um lobo... Não pode ser tão difícil”.

Fechou os olhos também em sinal de concentração, e chacoalhou a varinha sem fazer nenhum ruído, visto que já dominava perfeitamente feitiços não-verbais. Pensou insistentemente na figura de um lobo que vira uma vez em um livro, com o pêlo mesclado de cinza e branco e os olhos azuis acinzentados, assim como os próprios. Sentiu um frio repentino invadir seu corpo, enquanto a classe inteira observava a cena curiosa.

Foi quando de repente, os cabelos de Draco se alongaram e mudaram de textura, no lugar de seu nariz e de sua boca surgira um focinho longo com dentes afiados, e seu corpo ia diminuindo de tamanho. Sua varinha caiu com um estrondo no chão quando suas mãos se transformaram em patas com unhas também afiadas, e suas pernas e pés diminuíam transformando-se nas patas dianteiras do lobo. Ele caíra de quatro no chão, os olhos de lobo idênticos aos originais miravam a classe que parecia horrorizada com a cena, e com seus novos ouvidos aguçados ele pode ouvir Minerva falando friamente, como se antes achasse que ele não fosse capaz: “Trinta pontos para Sonserina”.

Minerva apontou a própria varinha para Draco, ainda na forma de lobo, e o garoto voltou a sua forma original, mas com o cabelo desarrumado e as roupas amarrotadas, o que arrancou alguns suspiros silenciosos de algumas garotas. A professora o mirou um tanto espantada, e com o tom de voz mais seco que pode arranjar perguntou:

- Onde aprendeu isso, Sr. Malfoy?

- No livro que acabei de ler, professora. – respondeu o louro com desdém, dirigindo-se à sua cadeira.

- Deve ter aprendido com o papai comensal dele... – murmurou Rony para os amigos, um tanto inquieto com a transformação de Draco.

- Rony, talvez ele tenha mesmo aprendido com o livro... – respondeu Hermione, no mesmo murmúrio de Rony.

- Se nem você conseguiu, Mione! – disse Harry, entrando na conversa. – Acho muito provável que tenha sido com o pai dele mesmo...

- Silêncio! – ordenara McGonnagal, bravia com os tantos cochichos que corriam pela classe, enquanto Malfoy girava a varinha entre os dedos, com um sorriso malicioso nos lábios. – Ou vocês querem que eu tire mais pontos da Grifinória?

O silêncio tomou conta da classe por alguns instantes, enquanto a professora ajeitava alguns papéis na mesa. Harry, Rony e Hermione se entreolhavam intrigados, enquanto o resto da sala fingia prestar atenção em qualquer coisa que não fosse Draco ou a própria Minerva.

- Estão dispensados. – finalizou a professora com o tom de voz normalizado. – E não quero que tentem esse tipo de feitiço fora das minhas aulas, as conseqüências podem ser sérias.

Todos levantaram apressados arrumando os materiais, não viam a hora de saírem logo dali. A próxima aula do sétimo ano da Grifinória seria só depois do almoço, Feitiços. Harry, Rony e Hermione tinham o resto da manhã livre para o que quisessem fazer.

- Ei gente, o que vocês acham de a gente passar o resto da manhã no jardim? – disse Rony empolgado, enquanto caminhavam no corredor da sala de Transfiguração. – E o que foi, Mione? – perguntara preocupado para a garota, que estava com uma cara de quem comeu e não gostou.

- Nada não, Rony. – esboçara um sorriso. “Porque eu não consegui me transformar?” – E eu acho que não estou com muita vontade de ficar no jardim hoje, tá um pouco frio... – “Que mentira mais estúpida, tá um sol infernal lá fora...”.

- Ah, claro! E eu sou um gnomo com gripe... – ironizou Rony, enquanto chegavam perto do saguão de entrada.

- É porque você não conseguiu de transformar, Mione? – perguntara Harry, que até aquele momento estava só observando a conversa.

- Não, gente... Não é nada, e vão lá pra fora que eu vou dar uma passada na biblioteca pra pegar alguns livros. – esboçara outro sorriso, que soara um pouco mais verdadeiro que o outro, visto que os dois assentiram e seguiram para o jardim.

“Foi só a primeira aula Hermione, a primeira tentativa... E daí que o Malfoy conseguiu? Ele que se dane.” – pensava enquanto passava pelos corredores apurados de alunos, quando de repente trombou com a última pessoa que gostaria de encontrar naquele momento: Severus Snape.

- É melhor prestar mais atenção enquanto está andando, Srta. Granger - disse o professor com seu usual tom de escárnio. - E não se esqueça, hoje às nove, na minha sala. - sorriu maliciosamente e seguiu o caminho das masmorras.

"Nunca o odiei tanto, porque atrapalhar meu dia dessa maneira?" - continuava pensando enquanto chegava na biblioteca, e avistava a segunda pior pessoa para se ver em um dia ruim: Draco Malfoy.- "Ótimo, e lá se vai o meu sossego pelo ralo". - pensou com ironia ao observar o louro a escrever raivosamente em um pergaminho e se sentou em uma mesa bem escondida na biblioteca, sua preferida.

O fora fazer ali mesmo? Na verdade nada. Estava mesmo era fugindo das perguntas bestas de Harry e Rony. Estava de mau humor, por que sempre tinham de se intrometer? Às vezes era melhor ficar só. E era disso que ela realmente precisava. Passou algum tempo ali, fazendo nada, com um livro aberto à sua frente, até que seus olhos se voltaram para um certo Malfoy que ainda escrevia em seu pergaminho. "O que será que ele tanto escreve?" - pensou - "E que me importa? Não tenho nada que me meter na vida desse babaca". Resolveu então se voltar ao livro, afinal, não havia passado nem do primeiro parágrafo.

Alguns muitos minutos depois, Malfoy guardava seu pergaminho na mochila e saía da biblioteca apressado, sem perceber que o mesmo havia caído antes dele se retirar. Estava atrasado pra Herbologia. “Que matéria idiota, Herbologia.” – pensava irritado – “Se eu pudesse tinha desistido dela há muitos tempo... Saco.”

Enquanto o louro corria pra chegar a tempo em sua aula, Hermione ainda estava na biblioteca, tentando ler aquele livro gigante que tinha escolhido sem nem ver o título. Afinal, era isso que ela fazia. Como conseguiria ler um livro tão grande e chato se soubesse do que se tratava? Ela não era tão anormal assim quanto todos pensavam. “Ei, o que é aquilo no chão?” – pensou ao avistar um pergaminho no chão da biblioteca. "Parece o pergaminho do Malfoy..."- e um súbito sorriso malicioso se fez em seus lábios. - "Vamos ver sobre o que ele tanto escreve..."

Não, ela não era má. Era curiosa e mais nada. Sabia que estava errada. Mas... Não podia perder essa oportunidade única. E é lógico que devolveria o pergaminho ao garoto assim que terminasse de lê-lo. "Que mal tem nisso? Não deve ter nada que eu não possa saber escrito aqui" - e sorriu maliciosamente de novo, mas parou assim que percebeu que aquele sorriso era muito parecia muito com os que Draco costumava dar. Saiu da biblioteca com pressa, queria chegar logo no dormitório para que pudesse abrir o pergaminho sem que ninguém a perturbasse. Disse a senha a Mulher Gorda, atravessou a sala comunal às pressas, dando graças à Merlin que ela se encontrava vazia e subiu as escadas para o dormitório, que também estava vazio. - "Estou com sorte hoje..." - pensou com um sorriso nos lábios, ja começando a ler o que o garoto escrevera.

[i]Primeiro de Setembro

Escrever. Nunca gostei muito de escrever. Claro, redações sempre foram necessárias, mas nunca escrevi sobre eu mesmo. Nunca pensei em fazer isso, e nunca tive vontade. Parece ridículo o estar fazendo agora, mas eu preciso... Contar isso a alguém, ou a alguma coisa. Contar o quanto fui idiota em nunca ter dado importância à tudo que me foi proporcionado.

Aquela tarde. A tarde em que eu vi meu pai sendo morto por um dementador. O vi dando um beijo na testa de minha mãe, mas ele não veio me abraçar, tampouco dizer que sentiria minha falta. Não que eu realmente achasse que ele fosse capaz de sentir minha falta. Ele não sentiria, tampouco sentiria de minha mãe. E aquilo doía. Ela estava aos prantos, como nunca a vi. Porque diabos as coisas tinham de ser desse jeito? Abracei-a forte e fechei os olhos, segurando as lágimas que insistiam em cair. Malfoys não choram. Que piada. Todos choram. E sou homem suficiente para admitir que eu choro também.[/i]

Hermione hesitou em continuar a leitura. Por mais que sua curiosidade estivesse torturando-a por dentro, não sabia se devia realmente continuar lendo os relatos pessoais de Draco. Havia achado que era besteira o que ele passara aquele tempo escrevendo, mas acada linha que lia, sentia cada vez mais compaixão pelo garoto que sempre odiou. E isso não era certo. Guardou o pergaminho na mochila e foi até o banheiro, lavar o rosto. Já estava perto da hora do almoço, tinha que decidir logo se leria ou não o fim da "carta" do garoto.

- Que se dane, eu quero ler e vou ler! Se fosse meu o pergaminho ele leria também!- murmurou para si mesma, antes de voltar ao quarto, se jogar na cama e pegar o pergaminho de volta.

[i]Foi uma morte rápida. E não é fácil escrever isso, embora eu ache que se eu tivesse ficado muito mais tempo ali não aguentaria. Depois daquele dia as coisas mudaram em casa. Minha mãe estava sempre ao meu lado, chorava de vez em quando, mas disfarçava suas lágrimas quando eu chegava perto dela. Ela queria que eu achasse que ela era forte, e que estava feliz ao meu lado. Mas não era verdade. Ela não era forte, e tampouco se sentia feliz, eu podia ver isso em seus olhos. Quando eu perguntava o que havia acontecido, ela sempre me respondia que era por causa do meu julgamento, que estava preocupada com o que aconteceria comigo. Porque, além de matarem meu pai, ainda queriam me julgar por ser um comensal. Não nego que eu tinha a Marca Negra. Tinha mesmo, ou achava que tinha? Descobriria isso mais tarde.

Mais tarde eu digo, uma semana depois. Meu julgamento, no Ministério da Magia, sob olhares de uma boa parte da alta comunidade bruxa. Scrimgeour não tinha cara de bons amigos, e quando eu adentrei por aquela porta, seguido por minha mãe, eu me senti horrível. Aquele lugar era angustiante, e sentar na cadeira onde meu pai havia sido condenado era mais angustiante ainda. Ouvi todas as baboseiras de início de julgamento, ouvi do que estava sendo acusado, e por um segundo desejei ir de vez pra Azkaban, apodrecer com os dementadores. Um segundo dura pouco, não sou tão ridículo a esse ponto.[/i]

"Eu não sabia que ele tinha sido julgado... Deve ter sido realmente difícil" - pensava Hermione, enquanto fazia uma careta direcionada ao último trecho que lera. - "Era de se esperar".

[i]Foi então que minha mãe foi chamada para depor a meu favor. A partir daquele momento eu percebi que estive sendo um idiota durante toda a minha vida.[/i]

"Demorou hein?" - ria-se a morena, que embora estivesse sentindo um pouco de pena do garoto, não conseguia não rir de certos comentários que o louro escrevera em seu desabafo.

[i]Tudo o que ela disse? A verdade, nada mais que a verdade. Que sim, eu sempre anciara ser um Comensal da Morte, que sim, eu sempre quis seguir Voldemort assim como meu pai e que não, eu não havia me tornado um Comensal de verdade. Não eu não havia, e dessa nem eu mesmo sabia. Me cortou o coração vê-la chorando daquela maneira. Ela soluçava enquanto falava, dizia repetitivamente que demorara anos para encontrar a contra-maldição, até que eu pedi que trouxessem água pra ela. Onde estava a educação desse Ministro idiota?

Ela se acalmou então. Ouvi coisas que eu nunca imaginara que pudessem ser verdade. Ela passou três longos anos pesquisando maneiras de eu não receber a Marca Negra. Segundo ela, maneiras de me livrar de tudo o que ela tinha sofrido. Planejou maliciosamente como colocaria a contra maldição em prática e na tarde do dia em que eu receberia a Marca Negra, ela fez tudo o que o livro indicava. Mas é claro, ninguém acreditou na versão dela dos fatos. Ninguém mais tinha a Marca Negra. Podiam alegar que eu a tinha e que ela sumiu junto com todas as outras. E foi o que fizeram. É tão prazeroso desse jeito ver Malfoys sofrendo? O que se ganha com isso?

Choro. Ela chorava mais do que nunca, e aquelas correntes não me deixavam ir até lá. Ela gritava que queria o melhor pra mim. Que me amava mais que tudo no mundo. Que eu era o único filho dela. Que ela não poderia deixar que nada de ruim acontecesse comigo. Que preferia ir à Azkaban em meu lugar. Que morreria por mim. Foi então que meus olhos se encheram de lágrimas. "O que eu fiz?" - pensei. Eu não sabia de tudo isso, nada do eu havia feito durante toda a minha vida havia sido justo, eu a tratava como uma qualquer. E eu a amava. Aquelas lágrimas com gosto amargo de arrependimento já chegavam aos meu lábios, e eu quis gritar, quis morrer, quis me livrar daquelas correntes o mais rápido possível. Mas eu não podia fazer nada. Nada. Nada que pudesse acabar com a dor da pessoa que mais me amou no mundo. Não podia ser verdade.[/i]

Uma lágrima corria pelo olho direito de Hermione, que se sentiu ridiculamente mesquinha por alguns segundos. Não sabia o quando o garoto sofrera. E não, não adiantava alegar que ele merecia, porque essa dor ninguém merece. Nem mesmo o pior dos vilões. E ela sabia disso. Mas o que mais a fazia sentir compaixão era o fato de ele não assumir nenhum desses sentimentos, nenhuma dor, nenhuma lágrima. De guardar todos os ressentimentos para si próprio e para um pergaminho. Era de cortar o coração.

[i] quando eu ouvi uma voz conhecida. Um pouco cansada, um tanto acolhedora. "Veritaserum. Dê a poção à Sra. Malfoy". Dumbledore esteve lá o tempo todo, assistindo ao julgamento. Eu que nunca gostei do velho até achei ele camarada. Na verdade, eu só não dei um beijo nele porque estava preso na cadeira. Um senhorzinho de cara feia saiu do seu respectivolugar e passaram longos minutos até que ele voltasse, nos quais só se ouviam os soluços de minha mãe e o barulho de minhas correntes se mexendo. Quando o velho voltou, com o frasquinho com o líquido transparente, minha mãe já não soluçava e nem chorava mais. Exalava uma tranquilidade imensa, que impressionou até Scrimgeour.

"...e a contra-maldição funcionou perfeitamente, visto que a Marca aparentemente estava lá, mas em forma de Magia Branca e não do que deveria realmente ser. Consegui enganar a todos durante todo esse tempo, até mesmo o próprio Lord." - completou ela, após explicar o que eu já tinha dito antes. Fui abssolvido, e ela terá de prestar serviços à comunidade bruxa, pelo fato de também ter sido uma comensal. Quando me soltaram daquelas correntes, não pude me conter ao correr e abraçá-la como se fosse a última vez que o fizesse. E mesmo...[/i]

A 'carta' acabava aí. Talvez ele quisesse continuá-la. Ela tinha que devolver logo. Mas... O que ele faria quando descobrisse que estava com ela? Talvez a mataria. - "Não" - Talvez a estuporaria. - "Pode ser" - Talvez a odiaria mais do que já odeia. - "Com certeza". - E porque o fato de ele odiá-la mais do que o normal a machucava? Ela também o odiava. Odiava mesmo? Não sabia mais. Como era possível odiar alguém que sofreu tanto desse jeito? Ajeitou as vestes e guardou o pergaminho na mochila, planejando alguma maneira de entregá-lo a Draco sem que o mesmo percesse.

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Já estava quase no fim da aula. "Graças a Merlin" - pensava Draco, enquanto já começava a limpar o que havia sujado. "Ainda não consegui ver utilidade nessa matéria idiota, como eu O-D-E-I-O Herbologia..."
- Malfoy, tá tudo bem? - perguntou Mila Bulstrode, enquanto observava Draco tentando insistentemente vestir a luva esquerda na mão direita.

- Porque não estaria? - retrucou o garoto friamente, até que percebeu o que estava fazendo e ruborizou um pouco. - Foi só uma distração, que te importa isso?

- Nada, só achei que você estivesse sentindo falta de todo o pessoal, assim como eu estou. - disse a garota, de modo indiferente. - Já me peguei várias vezes fazendo coisas desse tipo.

- Eu não faço coisas estúpidas, já disse que foi uma distração. - disse Draco, insistindo em esconder sua fustração pelo fato de não ter mais seus amigos por perto.

- Só achei que pudéssemos tentar ser amigos. - respondeu a garota de cabeça baixa, quase num múrmurio, enquanto ruborizava.

- Então é isso? - perguntou Draco dando um sorrisinho malicioso, típico de sua linhagem. - Bom, pode ser. Acho... - a garota levantou a cabeça com um sorriso estampado no rosto, e Draco pôde reparar que ela não era tão feia da maneira que sempre achara.

"Acho que estou doente, só pode ser." - pensou em seguida.

O sinal tocou, indicando o fim da aula. Draco deu graças novamente e, prezando sua educação e cavalheirismo, esperou Mila arrumar suas coisas para que pudessem seguir até o Salão Principal para o tão esperado almoço. Não tão esperado assim, mas qualquer coisa que o tirasse daquelas estufas fedorentas seria de bom grado. Seguiram o caminho até um corredor que ficava perto do Salão Principal juntos, e lá se separam, pois Mila tinha de guardar umas coisas em seu dormitório.

"Melhor assim."

Draco continuou seu caminho pelo corredor supostamente deserto, até que esbarrou em alguém. Aquele cheiro lhe era familiar.

- Olha por onde anda Granger! - disse o garoto de modo mal educado. - Ei, o que você colocou na minha bolsa? - perguntou ao perceber que Hermione tirava a mão de sua mochila.

"Não, ele viu! Droga, droga, mil vezes droga!" - pensava a garota enquanto tentava formular rapidamente em sua cabeça uma desculpa que pudesse esconder o fato de que ela havia lido o pergaminho.

- Você tá louco? O que eu poderia ter pego daí? - disse nervosamente, tentando parecer convincente. Draco abriu o bolso da mochila e viu que o lugar de onde ela havia tirado a mão, estava o pergaminho, dobrado de modo diferente.

- Você leu isso? - gritou o garoto empurrando Hermione contra a parede, aparentemente muito nervoso. - Responde sua sangue-ruim maldita! - berrou mais alto ainda, totalmente sem controle.

- Eu achei no chão Malfoy, eu te juro que... - tentava argumentar Hermione, mas foi interrompida por Draco:

- Você não jura nada! Você leu ou não? - perguntou o louro já mais nervoso do que estava, apertando os ombros de Hermione com força, de modo que ficasse cara a cara com ela.

- Li... - começou a garota, sentindo a respiração ofegante do garoto em seu rosto. - E se você não me soltar agora a escola toda vai ficar sabendo o que tá escrito nisso aí... - completou quase num murmúrio, com medo da reação de Draco.

O garoto se afastou rapidamente de Hermione, com um expressão de fúria estampada no rosto e um olhar indecifrável, que deram a Hermione a leve impressão que de que ele poderia matá-la a qualquer momento. Draco cuspiu no chão, limpou as mãos nas vestes e disse com desgosto:

- Se eu ficar sabendo que você falou sobre isso pra alguém... - parou, respirou como se estivesse procurando controle e completou - Eu te mato com todo o prazer.

- Você não ia querer ir pra Azkaban depois de todo o trabalho que sua mãe teve pra... - mas foi interrompida por Draco, que a puxou pelo braço e tampou sua boca com toda a grosseria que pode encontrar.

- Já te disse pra calar a boca! - ele gritou antes que ela pudesse concluir a frase. Hermione se contorcia para tentar soltar-se de Draco, e cada gota da compaixão que ela havia sentido por ele minutos antes descia pelo ralo. Como pode acreditar que ele não era mais aquele idiota de sempre? Não disse que não era educado machucar garotas? O que ele estava fazendo então?

- Solta ela, Malfoy! - um berro vindo do fim do corredor denunciava que Rony estava à caminho. Draco afrouxou a força com que apertava o braço de Hermione, como se tivesse se acalmado e se aproximou de seu rosto, sussurrando em seu ouvido:

- Não se atreva a contar Granger... - se era pra parecer uma ordem, ele havia fingido muito mal. Estava mais para um pedido, que na visão de Hermione só não fora acompanhado de um por favor pois ele era orgulhoso demais pra isso. - A gente se vê. -concluiu indiferente, e se virou e seguiu o corredor à passos largos, antes que Rony chegasse e iniciasse uma briga.

"Porque ele tem que ser desse jeito?" - pensava a garota, enquanto Rony se aproximava. - "Eu estava realmente acreditando que ele estava diferente, capaz de sentir alguma coisa... Mas... Continua sendo o mesmo grosso que ele..."

- Oi Rony... - disse calmamente, quando o garoto postou-se ao seu lado.

- Tudo bem com você Mione? O que ele te fez? - perguntou Rony afobado, aparentemente preocupado com a amiga. - Eu vou espancar aquele maldito!

- Calma, Rony, eu tô bem, ele não me fez nada. - respondeu indiferente. Como odiava essa mania de superproteção de Rony, porque ele não ficava atrás de Gina?

- Mesmo? - insistiu o ruivo, e a garota assentiu com a cabeça. - Ele parecia estar querendo te machucar, Mione...

- Não estava, Rony. - esboçou um sorriso preocupado, que aparentemente fez Rony esquecer de insistir mais uma vez. - Vamos indo, então?

- Vamos. - conclui sem emoção, e seguiram o corredor juntos.

"Porque é que as coisas têm que ser desse jeito? Ele não é assim, eu sei que não. Eu li que não. Mas porque ele age desse jeito, eu poderia simplesmente oferecer um ombro... Ei, que diabos eu tô pensando! Ombro amigo? Depois disso? Só depois de desculpas, e ajoelhado ainda por cima! E só não conto pra ninguém porque eu respeito a dor dele. Espero que ele esqueça que eu existo, pelo menos nos próximos três meses."

Enquanto isso, do outro lado do corredor, Draco observava Hermione seguir o seu caminho ao lado de Rony com desgosto, e aproveitava para seguir o seu também.

"Porque é que as coisas têm que ser desse jeito? Ela realmente não precisava ter pegado esse papel maldito... Eu poderia ter contado pess... Ei, até parece que eu contaria algo pra ela! Ela pode ser de confiança, afinal, grifinórios são fiéis, mas eu nunca contaria alguma coisa praquela sangue-ruim maldita... Não importa que ela cheire morango, não importa que o cabelo dela esteja diferente hoje... Nossa, o cabelo dela tá diferente..." - esboçou um sorriso irônico - "E porque eu ainda reparo nessas coisas? O melhor que eu tenho a fazer é esquecer que ela existe. Depois de tudo que ela já sabe, vai ser difícil conseguir incomodar ela de novo. É, é isso, esquecer que ela existe, pelo menos nos próximos três meses".

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