Lágrimas e Chuva



* * *

(...) Ele ia até o fim, estava tomado pelo desejo de tê-la em seus braços, e nada o pararia naquele momento. Nada exceto...
- O QUE ESTÁ ACONTECENDO AQUI? – berrara um Snape aparentemente enervado, que adentrara a sala naquele estante, os separando tão rapidamente quanto se podia imaginar.
O resto da noite seria difícil, sem dúvida.



* * *



- Estou esperando por uma resposta! – Snape cuspiu as palavras, como costumava fazer, já um pouco mais calmo.

- Nada, professor. – respondeu Draco, calmamente – A gente tava só terminando de arrumar a sua escrivaninha.

- Tão juntos desse jeito, Senhor Malfoy? – perguntou o professor, lançando seu mais irritante sorriso malicioso.

- É professor, ele tinha terminado o armário e foi me ajudar...

- Cale a boca, Granger. – interrompeu Snape cinicamente – Quinze pontos a menos pra Grifinória, você devia aprender a não dirigir a palavra a quem não dirigiu a você.

- Qual o problema de estar tão junto, professor? – perguntou Malfoy interrompendo a troca de olhares raivosos entre os outros dois antes que Hermione retrucasse, fingindo-se de desentendido.

- Não se faça de idiota, Senhor Malfoy. – retrucou quase cuspindo veneno. – Eu sei que na verdade você não é, embora aparente ser.

- Pois eu não sei do que o Senhor tá falando... – ele continuou fingindo de modo descarado – Eu realmente só estava ajudando ela a terminar a tarefa, pra gente sair logo daqui. – Já era possível ver as veias saltadas de raiva no pescoço de Snape, mas este se controlou e respondeu categoricamente:

- Muito bem, Senhor Malfoy. Se você quer brincar, então que brinquemos.

- Nós não temos tempo para brincadeiras, professor. – intrometeu-se Hermione novamente, recebendo um olhar de reprovação de Draco.

- Menos vinte pontos para Grifinória! Cale a sua boca, Srta Granger! – vociferou Snape, ficando nervoso novamente.

- Brincar do quê, Professor? – disse Draco calmamente, fingindo uma animação estranha (N/A: isso sinceramente teve um pouco de duplo sentido, mas se vocês não perceberam era exatamente isso o que Draco estava querendo dar a entender).

“Ele realmente sabe como irritar esse maldito.” – pensou Hermione, indignada com a infantilidade e estupidez do Professor.

- Eu não costumo tirar muitos pontos de minha própria casa, Senhor Malfoy... – disse Snape, beirando a uma explosão de raiva – Mas creio que se você me dirigir a palavra mais uma vez com esse tom ridiculamente infantil e falso, vou ter de abrir uma exceção.

- Ainda não sei do que está falando. – respondeu Draco calmamente – Mas eu sei que a gente realmente precisa ir, e seria muito gentil da sua parte se o Senhor deixasse.

- Quarenta pontos a menos pros dois. – completou Snape sorrindo de lado deliberadamente para Hermione – Podem ir agora.

- Mas isso não é... – começou Hermione, mas Draco tampara sua boca com a mão e a puxara para fora da sala antes que ela terminasse a frase.

Seguiu segurando-a até chegar em qualquer lugar do castelo que ficasse longe das masmorras o suficiente para que se a soltasse, ela não pudesse correr até o Professor e transformá-lo em um duende. Pelo menos era isso que ele teria vontade de fazer se tivesse perdido setenta e cinco pontos de uma vez.

- Seu idiota! – gritou Hermione eufórica assim que Draco a soltou, próximo ao saguão de entrada. – Você não devia ter me segurado!

- Pois se eu não o tivesse feito você poderia estar em piores lençóis do que já está, Granger. – respondeu o loiro sério, uma seriedade que soou estranha até para ele mesmo.

- Quer que eu te agradeça agora, é Malfoy? – retrucou a morena, completamente fora de si – Pois então, obrigada por querer dar uma de herói, seu idiota! Mas saiba que de herói você não tem nem a cutícula da unha do pé! Você não é o Harry e nem nunca vai ser, sua doninha imbecil!

E estava feito. Ela havia cutucado aquela ferida já quase cicatrizada que ele sustentava desde o primeiro ano. Harry Potter, o herói da cicatriz. Ele sabia, sempre fora o anti-herói. Mas aquilo doía, por que ele não tinha o direito de ajudar ela da maneira que queria? Era-lhe errado fazer o certo? Por que diabos ela não aceitava isso?

- Santo Potter. – ele murmurou sem expressão nenhuma, antes de virar as costas à garota e seguir pelo corredor escuro pelo qual eles haviam chegado até ali.

Hermione permanecera onde estava, estática. Ela não devia ter dito o que disse. Sabia que aquilo o machucaria, sabia que o pior de Draco Malfoy era Harry Potter. Embora naquela hora o que queria de verdade fosse machucá-lo, fazê-lo sentir-se mal; não tinha o direito de ser tão estúpida após o favor que ele lhe tinha feito.

“Ele podia ter ficado calado, deixado eu perder setecentos pontos para Grifinória.”- pensava Hermione, agora já se encaminhando para o sétimo andar, absorta. – “Mas ele não me deixou responder, além de perder quarenta pontos por minha causa.” – concluiu, se sentindo a pior das criaturas da face da Terra.

Talvez ela estivesse errada. Talvez ele tivesse mudado de verdade. Talvez as coisas realmente pudessem ser diferentes. Mas ela estragara tudo. Todo aquele sentimento que ela havia sustentado no escritório de Snape, aquele sentimento completamente desconhecido, ela havia acabado de destruir. Já não sabia mais o que Draco significava pra ela. A única certeza que tinha era a de que precisava se desculpar. E logo.

Draco caminhava lentamente pelos corredores de Hogwarts, em direção às masmorras. Não, ele não ia monitorar merda de sétimo andar nenhum essa noite. Havia quem pudesse fazê-lo senão ele, não teria problema. O único problema agora era ele mesmo. Fora horrível assim durante tanto tempo? Se tivesse tido a mínima noção do quão asqueroso havia se tornado talvez tivesse parado e pensado antes de fazer tudo o que o pai mandava. Mas agora já era tarde, talvez não houvesse mais volta. E, se um dia houvesse, talvez ele estragasse tudo de novo. Afinal, essa era a sua especialidade.

Foi quando, distraidamente, o loiro tropeçou em alguma coisa jogada no chão. Claro que ele não caíra: o mínimo senso de equilíbrio de um jogador de Quadribol ainda circulava em suas veias, mas por pouco não batera a cabeça na parede em frente. Xingou em baixo tom a criatura infame que deixou aquela porcaria jogada ali, olhando em volta para constatar se alguma alma viva ou morta havia visto aquela cena patética.

- Era só o que me faltava! – exclamou bravio, agachando para pegar o objeto que o havia feito tropeçar.

Um livro. Não muito grande, nem muito pequeno. Tinha a capa grossa com as letras gastas, o que dificultava a visão do título. Talvez fosse um livro qualquer da biblioteca, seria melhor que ele devolvesse. Mas o faria mais tarde, o que mais queria naquele momento era esfriar a cabeça. E sabia exatamente como fazê-lo.

Draco acelerou o passo e quando menos percebeu já se encontrava em frente à entrada camuflada do Salão Comunal sonserino. Ouviu alguns garotinhos mais novos chamando por ele no canto oposto do lugar quando entrou, provavelmente pedindo ajuda para alguma tarefa de casa, mas os ignorou e seguiu seu caminho. Chegou até seu quarto, o seu destino, jogou o livro em cima da cômoda e foi direto na direção de seu armário. Na parte esquerda, escondido dentre suas roupas, encontrava-se sua fonte de tranqüilidade: o violão que ganhara do avô quando fizera sete anos.

Sempre que tocava, Draco recordava dos momentos que passara ao lado do pai de sua mãe. Os momentos mais felizes de sua vida, como ele gostava de pensar. Eles costumavam brincar na neve juntos; pescar; e de vez em quando até jogar algumas partidas de Quadribol, quando o garoto já era crescido o suficiente para se equilibrar em cima de uma vassoura. Era ele quem contava historinhas de dormir, quem lhe ensinou francês e também lhe ensinou a fazer o que mais gostava: tocar violão. Recordava-se de realmente odiar o instrumento no começo, mas foi depois do falecimento de seu avô que o loiro se sentiu na obrigação de voltar a tocar. E então a partir dali, aquilo se tornou seu hobby.

Pegou o instrumento já magicamente afinado e sentou-se em sua cama de pernas cruzadas, como sempre fazia para tocar. Todas as melodias que conhecia tinham um tom melancólico, mas de qualquer jeito isso não fazia diferença naquela hora. Lembrou-se então da preferida do seu avô, uma música antiga que cantava sobre uma garota e uma escada para paraíso. Desatou a tocá-la com todo o ódio que estava a sentir. Para ele, era como se descontasse tudo o que estava sentindo nas cordas daquele violão. Era como se seu próprio avô estivesse ali escutando seu lamento.

E então, lá fora, pequenas gotas de chuva começavam a cair cada vez em maior velocidade. O sol já havia se posto, e a melancolia de uma noite-chuvosa começava a invadir o quarto de Draco. O garoto não sentia vontade de parar, não se importava com as lágrimas que insistiam em escorrer de seus olhos já cansados. Aquela canção sempre o fazia esquecer de tudo o que estava sentindo. Ela o transportava para sua infância, para junto de seu avô... Porque as coisas foram daquele jeito? Como queria que ele estivesse ali, ao seu lado.

So, so you think you can tell
(Então, então você acha que consegue distinguir)
Heaven from Hell
(O céu do inferno)
Blue skies from pain
(Céus azuis da dor)
Can you tell a green field
(Você consegue distinguir um campo verde)
From a cold steel rail?
(De um frio trilho de aço?)
A smile from a veil?
(Um sorriso de um véu?)
Do you think you can tell?
(Você acha que consegue distinguir?)

And did they get you to trade
(Fizeram você trocar)
Your heroes for ghosts?
(Seus heróis por fantasmas?)
Hot ashes for trees?
(Cinzas quentes por árvores?)
And hot air for a cool breeze?
(Ar quente por uma brisa fria?)
Cold comfort for change?
(Conforto frio por mudança?)
And did you exchange
(Você trocou)
A walk on part in the war
(Um passeio por um papel na guerra)
For a lead role in a cage?
(Por um papel principal numa cela?)

How I wish
(Como eu queria)
How I wish you were here
(Como eu queria que você estivesse aqui)
We're just two lost souls
(Somos apenas duas almas perdidas)
Swimming in a fish bowl
(Nadando em um aquário)
Year after year
(Ano pós ano)
Running over the same old ground
(Correndo nesse mesmo velho chão)
What have we found?
(O que encontramos?)
The same old fears
(Os mesmos velhos medos)
Wish you were here
(Queria que você estivesse aqui)

Embalado pelas lembranças da infância, Draco acabou caindo no sono, com o violão ao seu lado. Atingira seu objetivo momentâneo, que era esquecer tudo o que Granger havia lhe dito, e tudo o que havia acontecido. Não sabia se o que fizera era certo. Não sabia o que exatamente havia acontecido ali, na sala de Snape. Havia apenas se deixado levar pelos olhos de Hermione. E agora, por mais que não admitisse para si mesmo, ele temia que aquilo tudo fosse o que ele queria. Não sabia mais o porque sentira tanto ódio dela durante tanto tempo, agora o que mais queria era conhecê-la, quebrar suas defesas. Ela era orgulhosa demais pro gosto dele, e isso o incomodava. Tinha de parar de pensar nela, o quanto antes melhor.

Hermione, naquele momento, se encontrava debruçada no parapeito da janela do dormitório feminino do sétimo ano da Grifinória, olhando a chuva cair Desistira de monitorar: ninguém visitaria o sétimo andar naquela noite, segundo ela. Adorava chuvas de verão. Quando a água batia na grama quente por causa do sol de um dia inteiro, ela fazia exalar um cheiro maravilhoso da terra molhada. Gostava daquilo. Sentia-se um pouco caipira por causa disso de vez em quando, mas esse era um de seus cheiros preferidos. Lembrou-se em seguida de seu cheiro preferido e forçou-se a esquecer imediatamente. Não era sua culpa que o perfume de Malfoy fosse maravilhoso. Era uma fragrância amadeirada, com um leve toque de menta. Por que diabos ele tinha de estar tão diferente assim? Gostava mais de odiá-lo como antes do que de não saber o que sentir, como agora. Odiar, por mais ridículo que isso soe, é muito mais cômodo do que sentir qualquer outra coisa. Faz você sentir mais vivo. Decidiu por fim se desculpar pelo dito algumas horas antes e desprender-se dele pra sempre. Talvez fosse o melhor a fazer.

Talvez não.

- Hermione, fecha essa droga de janela que eu tô congelando! – gritara uma Lilá Brown nervosa de algum lugar do quarto.

- Já estou fechando, Lilá. – respondeu Hermione absorta, levantando-se e em seguida girando o trinco que fecharia a janela – Eu acho que você devia tentar ser um pouco mais educada de vez em quando, sabe? – brincou, com um sorriso triste estampado no rosto, já entrando dentro dos lençóis para tentar dormir, nem que fosse um pouco.


* * *

As músicas se chamam Starway to Heaven, do Led Zeppelin e Wish You Were Here, do Pink Floyd. Não curti o capítulo, eu sei que ficou horrível, mas esperem só mais um pouquinho que eu juro que a história vai melhorar, vai sair desse dramalhão todo... Mas é só que eu não resisto à isso, é difícil de explicar, mas poxa, eles mal se conhecem, se odeiam, e do nada se amam? Tem que ter todo o esquema e pans, até tudo dar certo. Vocês vão ver, eu vou conseguir. ;D

De qualquer jeito, obrigada por ainda lerem isso aqui. Só peço que vocês deixem algumas mensagens pra me animarem, é tão bom quando se tem algum estímulo pra escrever, sabe?

Beijos, até a próxima.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.