Inglaterra



Vida olhou pela janela do avião. Nuvens. Sorriu pra si enquanto ajeitava uma mecha encaracolada de seus cabelos claros, depois olhou Ângela:

- Ainda não entendo essa sua fobia de transportes mágicos...!

Ângela sorriu, guardando na bolsa a foto das netas que observava:

- Só acho que nesse ponto os trouxas são mais... confortáveis...!

Vida sorriu. Cansadamente percebeu que teria de pedir um favor à amiga:

- Angie, você ficaria muito chateada se eu te pedisse que me contasse novamente o que eu sei sobre Você-Sabe-Quem...? – ela tinha lido o nome no jornal que Angie tinha conseguido, e que noticiava a morte de Dumbledore.

- Não, não ficaria ... – Ângela sorriu. Vida tinha lapsos constantes de memória. Abaixou a voz e se aproximou mais dela – Voldemort, como prefiro chamá-lo, é, basicamente, o maior bruxo das trevas do qual já se teve notícia nos últimos anos... e claro, um antigo conhecido.


- Belas amizades tinha você hein Angie...! Mas eu me lembro de algo como “o menino que sobreviveu” e outras coisas estranhas...

- Ah, claro. O garoto. – Ângela suspirou – Ele foi predestinado através de uma profecia a vencer Voldemort e digamos que conseguiu. Sobreviveu a uma maldição da morte lançada por ele.


- A qual “ricocheteou” e se voltou contra Voldemort, que sumiu do mapa sem deixar vestígios. – Vida repentinamente se lembrou da história. Infelizmente sua cabeça começou a doer: acontecia sempre que ela lembrava de algo.

- Resumidamente sim. Mas me parece que ele voltou, há dois anos atrás... e tem atormentado o pobre garoto de novo. Malditas profecias...


- Malditas profecias... – Vida sentenciou junto. – quantos anos tem esse moleque...?

- Dezesseis, dezessete não sei. Está no jornal.

- Coitado.

- É, coitado. – Ângela se lembrou fielmente da foto da casa destruída, logo depois que Voldemort foi destruído pelo menino, anos atrás. – Já perdeu a família por causa disso.


- Belas amizades mesmo as suas...! – Vida brincou mais uma vez – Mas sabe... – ela sentia a cabeça doer mais fortemente – eu às vezes invejo até um garoto como ele: por mais que o passado seja trágico ele consegue lembrar de onde veio.

- Você sabe de onde veio, – Ângela tentou sorrir de maneira estimulante – eu te tirei de uma floresta na Escócia onde você estava presa e totalmente selvagem.


- Você entendeu o que eu quis dizer Angie... – ela suspirou – eu não me lembro de nada anterior a quando você me resgatou daquela floresta e daqueles seres estranhos... e daria qualquer coisa pra lembrar...

- Nós tentamos Vida... e você sabe o que aconteceu...


- Eu sei. Mas não me conformo. Você acha que na Inglaterra podemos encontrar algo do meu passado...?

- Como podemos saber...? Nunca tentamos. E acho perigoso tentar.


- É, além do mais... – Vida se recostou na cadeira – nem é o nosso intuito...



Horas depois estavam andando pelas ruas de Londres. Vida olhou no relógio: era madrugada, logo o dia estaria amanhecendo. Bocejou, tinha tido a oportunidade de dormir no avião, mas não tinha ousado fazer isso e assustar todos os trouxas quando acordasse gritando de mais um de seus pesadelos que eram tão comuns. Olhou pro lado e viu Ângela adentrar num beco escuro. Seguiu-a.

- O que você está fazendo...? – Vida perguntou quando a alcançou.

- Marcando uma visita a Hogwarts. Era lá que Dumbledore vivia, era o diretor. – ela disse enquanto enfiava a mão num dos bolsos internos do sobretudo. Retirou de lá uma coruja minúscula e assustada. Ela piou baixinho quando o ar frio da noite bateu-se sobre ela. Colocou o pedaço de pergaminho em que estivera escrevendo alguma coisa a pouco no bico da coruja e sussurrou alguma coisa pro bicho.

- Você trouxe a Tuga no bolso esse tempo todo?! – Vida perguntou incrédula, vendo a corujinha levantar vôo. Ângela sorriu pra ela – Desde o Brasil?! Como ninguém do aeroporto percebeu isso...?!

- Eu tenho meus truques Vida...! E além do mais, geralmente os trouxas só vêem o que querem ver. Por isso eu os admiro. – ela respondeu saindo do beco, e tomando o rumo da rua de novo.


- Você é imprevisível mesmo...! – Vida sussurrou parando do lado de Ângela.

- Olhe toda essa neblina, o ar frio... – Ângela disse baixinho, observando a rua – estamos em pleno verão. Essa não é minha terra, mas eu passei anos suficientes aqui pra saber que as coisas não deviam ser assim.


Vida fechou os olhos, respirou fundo aquele ar frio e pesado.

- Dementadores. – ela disse abrindo os olhos.

- É. Eles estão por perto. – Ângela puxou a varinha, a segurando discretamente. – Você deveria fazer o mesmo.


- Por quê...? Eu não tenho nenhuma memória mesmo, muito menos memórias tristes pra eles me fazerem reviver...! – Vida ria da sua própria desgraça.

Ângela dispensou a ela um olhar de censura, que a fez parar de sorrir. Vida pigarreou:

- Vamos a Hogwarts agora...?

- Sim ... – Ângela suspirou – e dessa vez vou ter que deixar de lado o meu medo de transportes mágicos.


- Ah, então finalmente vamos aparatar...? – Vida ansiava por sair dali e encontrar um lugar no qual se abrigar.

- Não. Aparatar minha cara, só em ultima estância. – Ângela tinha crises claustrofóbicas durante a terrível sensação de passar por uma mangueira apertada, que era aparatar. – Vamos de Nôitibus Andante...


- Ah meu Deus... – Vida dispensou a frase trouxa, porque ninguém em sã consciência falaria “Ah, Mérlin!” na frente de Ângela. Não conhecia esse tipo de transporte, ou pelo menos não se lembrava dele, então teve receio. – pelo nome me dá até medo...!




Sentada na cama oscilante do Ônibus roxo que corria a uma velocidade incrível, Vida bocejou mais uma vez. Às vezes observava os borrões coloridos que eram a “paisagem” lá fora. Do seu lado Ângela estava estática, o olhar fixo no chão.

- Você tem certeza que está bem...? – Vida questionou tendo a certeza de que via a amiga ficar num leve tom esverdeado.

- Estarei se você parar de falar comigo... – ela respondeu rigidamente.


- Tudo bem...

Vida desviou o olhar pra janela. Por um instante, nada mais que um instante, viu a fachada de uma casa no que parecia uma área rural, ou no mínimo afastada da cidade: era pintada de azul e tinha uma pequena escada que levava a varanda. Ao lado da escada flores vermelhas floriam plantadas num canteiro. Sentiu uma dor imensa enquanto, num flash, se via pisando na varanda daquela casa. Uma memória. A varanda decorada toscamente, poucas cadeiras. Uma frase lhe veio a mente, como se alguém a sussurrasse no ouvido: “decoração de menino!”. A dor estonteante e ela caiu da cama, desmaiada.

- Droga...! – Ângela resmungou se levantando. – Eu sei que esses desmaios são constantes, mas precisava ser agora...?

Com alguns acenos de varinha ela colocou Vida deitada na cama.

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Pessoas, mais um cap!!!
Enjoy!

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