Encontros Aleatórios

México, 1947

Ela olhou o Casarão Atemporal em algum lugar árido e desértico do México e entrou sem olhar pra trás.
Correu pelos corredores e abriu a porta do escritório num movimento brusco.
- Anda Voldemort. – ela disse firme – Levante e saia daqui. Ele levantou o olhar pra mulher na porta por um instante e depois voltou a olhar os livros espalhados sobre a mesa. Ele anotava algumas coisas num papel.
- Voldemort, eles estão vindo. Levanta logo daí! – ela disse impaciente.
- Um minuto. – ele falou com calma piscando os olhos vermelhos e escrevendo ainda.
- Eles vão te matar. – ela disse casualmente
- Não, não vão. – ele se levantou de repente enrolou o papel e colocou-o no bolso. Olhou pra ela sem muito interesse – E você?
- Eles nunca me tocaram, não vai ser agora que vão tocar. Não ousariam.
- Mas agora você ajudou “el extranjero maldito”. – ele falou dando um pequeno sorriso ao pronunciar as palavras em espanhol que tinha aprendido.
- E estou quase me arrependendo. – ela disse mais impaciente – Saia logo daqui.
- Até mais Ângela. – ele disse passando pela porta e fixando os olhos vermelhos nela – Nós ainda nos veremos.
E desapareceu.

EUA, 1952

Ela caminhou lentamente pelo deserto americano. Cinco anos depois ela já não era mais “A Guardiã dos segredos da magia negra dos Astecas. Ela foi retirada do Casarão Atemporal logo depois que Voldemort o deixou. As autoridades mágicas mexicanas não haviam tocado nela, mesmo com ela tendo cometido o crime de abrir os Segredos Negros pra um estrangeiro.
Mas ela não se importava. Tinha gostado de Voldemort. E o trabalho de Guardiã não a agradava mais.
Há anos, antes mesmo de entrar no Casarão, ela perseguia os segredos da magia antiga pelo mundo, procurava a sabedoria dos antigos feiticeiros. E agora, no meio da tribo de índios norte-americanos, ela buscava a sabedoria dos xamãs remanescentes.
Os velhos feiticeiros dessa tribo tinham aceitado facilmente a intromissão dela. Eles ficavam felizes por passar suas tradições e feitiços pra alguém, já que suas tribos eram cada dia mais raras e suas tradições cada dia mais sucumbiam à influencia do “homem branco”.
E naquela tarde quando ela voltava de um passeio pelos penhascos próximos com um guerreiro da tribo ela percebeu que não era só ela que estava procurando os Xamãs: um homem envolto por uma capa negra chegava às tendas.
- Voldemort. – ela murmurou.
Entrou na tenda e encontrou o cacique da tribo e o xamã mais velho que estavam tentando, com seu inglês precário, conversar com o homem.
- Cacique. – ela disse no dialeto dos índios – Este é Lord Voldemort e ele está aqui pelos mesmos motivos que eu.
- Ângela. – Voldemort disse a ela sem parecer surpreso – Você sempre foi ótima em línguas.
- E você péssimo. – ela disse – A não ser nessa. – ela apontou pra pequena cobra que estava enrolada no antebraço dele.
Ela acertou com o cacique a estadia de Voldemort e o ajudou a selar uma espécie de contrato com a tribo pra poder receber seus segredos.
Depois eles saíram pela tribo observando e sendo observados pelos índios.
- Há quanto tempo está aqui? – ele perguntou
- Dois anos. – ela respondeu
- O que aconteceu no Casarão?
- Nada. Eles chegaram e me mandaram sair. E eu fui embora.
- Eles não ousariam tocar numa sangue puro tão importante quanto você. – ele disse se referindo ao fato dela ser descendente de um antigo feiticeiro inglês.
- Não. – ela falou – Eles não ousariam tocar em alguém que teve acesso a magia tão negra e por tanto tempo quanto eu tive.
Ele riu. Ângela não.
- Muito conhecimento por aqui? – ele perguntou
- Você fala os termos errados. – ela o corrigiu. Era tão jovem quanto ele, mas muito mais sensata – Muita sabedoria por aqui. E foi o que vim buscar.
- E eles têm algo que eu quero também. – ele disse
- Você é diferente. – ela disse o encarando – O que você busca e o que eu busco são coisas diferentes.
- O que foi Ângela? – ele a encarou fixando os olhos vermelhos sobre ela – Você acha indigno o que venho procurando?
- Não. – ela sorriu pela primeira vez – Quem foi guardiã dos Segredos negros dos Astecas por anos?
- Você. – ele disse como se gostasse da idéia
- Mas aqui as coisas são diferentes. – ela disse abruptamente
- Por quê? – ele perguntou como se não esperasse ouvir aquilo
- Porque eles não são livros que você pode abrir e folhear, Voldemort. Eles não vão te ensinar só o que você quer aprender.
- É aquele contrato que você fez não é? – ele se descontrolou pela primeira vez
- Eles não te deixariam ficar se não o tivesse feito. – ela disse calmamente – Eles querem a garantia de que toda sua tradição vai ser preservada. E não parte dela.
Ele ficou calado. Pensando. A cobra subiu pelo seu braço, se escondendo nas vestes.
Um pequeno índio se enroscou nas pernas de Ângela e ela o tomou no colo. A criança chorava desesperadamente.
- Ele sabe que eu vou embora. – ela explicou a Voldemort que observava aquela cena como se fosse a ultima coisa a acontecer ali – Ele se apegou a mim.
- Seu tempo aqui acabou? – ele perguntou
- Sim. – ela disse – E hoje eu estou indo em busca de coisas novas.
- Parte agora? – Voldemort perguntou sem encara-la
- Daqui a algumas horas. – Ângela disse entregando a criança índia a sua mãe.
- Me apresenta a esse lugar?
- Claro.
Ela mostrou a ele todo o território índio, os hábitos dos mesmos e suas regras. Depois partiu.
- Até mais Ângela. – ele disse antes dela desaparecer.



Grécia, 1956


Ela caminhou pelos templos em ruínas. Tinha um livro em suas mãos e olhava distraidamente as colunas em sua frente. Os passos que vinham atrás dela não a despertaram de seu divagar em pensamentos. Olhou novamente o livro e depois se virou pra encarar os olhos vermelhos que estavam sobre ela.
- Não há nada pra você aqui. – ela disse simplesmente fechando o livro. – A não ser que você agora se interesse por deuses trágicos cultuados por poetas mortos. – ela estendeu o livro a ele.
- Não. – ele olhou com um sorriso sarcástico. – Nem é isso que você veio procurar aqui.
- Não. O que eu vim procurar não está aqui. Eu receio que esteja próxima de voltar à Grã-Bretanha.
- Tão cedo de volta pra casa? – ele perguntou – Treze anos fora já foi o bastante?
- Eu ainda não estarei de volta a Londres. – ela disse. – Eu falei Grã-Bretanha, não de volta pra casa. E você? O que você faz aqui e não em “casa”?
- Eu vim buscar algo. Um objeto. – ele falou vagamente
- Parece que seus planos têm ido no caminho certo. – ela falou desviando o olhar dele e focando de novo as ruínas.
- Tem. – ele falou – E os seus?
- Também. – ela disse se afastando um pouco, andava a passos lentos. Ele foi atrás. – Só ainda não cheguei onde queria estar.
- E a propósito, onde você esteve? – ele perguntou observando as vestes coloridas e espalhafatosas que ela usava.
- Em algum lugar do hemisfério sul, entre a África e a América. – Ela disse sorrindo levemente e parando pra encara-lo.
- Você não parece tão bem quanto antes. – ele disse. Ela ainda tinha o rosto moreno e os cabelos negros e longos que iam até a metade das suas costas, mas parecia cansada. Os seus olhos já não brilhavam tanto, mas ela ainda era de uma beleza crua e selvagem.
- Nem você se parece como antes. – ela disse. Ele estava mais magro, mais pálido, os cabelos maiores e só os olhos continuavam vermelhos como antes.
Ele não respondeu. Deu as costas a ela e caminhou pra dentro de um templo em pedaços. Andou entre algumas pedras e depois parou. Ela estava a metros agora, indo embora.
- Nos veremos logo. – ele disse. Era uma afirmação e não uma pergunta.
- Eu acho que não. – ela disse ainda de longe. Seu olhar parecia de reprovação por ele ter dito aquela frase.
- Não? – ele perguntou sem olha-la. Procurava algo entre as pedras. – Por quê?
- Você faz perguntas de mais! – ela respondeu com a primeira coisa que veio a cabeça
- Você tem que agradecer. – ele falou se agachando e pegando algo – Dos outros eu exijo respostas. De você eu aceito grosserias.
- Adeus Voldemort. – ela disse indo
- Nos veremos logo. – ele repetiu
- Eu não quero que você fale isso! Porque toda vez que você fala isso nós nos vemos de novo!
- Talvez eu queira vê-la de novo. – ele disse a encarando
- Mas eu receio que eu não. – ela disse e desapareceu antes que ele pudesse dizer algo.


Algum lugar perto de Litlle Hangleton, 1962

Ela soltou alguns pergaminhos em cima da mesa empoeirada e suja. Sentou-se na única cadeira do lugar que ainda estava inteira e escolheu um, o abrindo. Puxou a vela que estava na mesa pra mais perto e a acendeu com isqueiro. Observou os escritos em uma língua arcaica e ficou um longo tempo decifrando aquelas palavras. Quanto mais traduzia mais não entendia nada, mais as coisas ficavam obscuras ao seu ver.
- Eu não acredito... – ela murmurou – Eu não acredito... eu já sabia de tudo isso!
Ela desenrolou mais uma parte do pergaminho e começou a ler mais adiante.
- Eu já sabia disso... – ela murmurou – Eu simplesmente não acredito.
E a porta do casebre que ela tinha escolhido pra se abrigar se abriu. A escuridão lá fora era tão intensa que ela não distinguiu quem fora que abrira a porta, portanto empunhou sua varinha fortemente.
- Ângela. – uma voz fria disse – É a primeira vez em muitos anos que eu me surpreendo em ver você.
- Voldemort. – Ângela disse soltando sua varinha – O que faz aqui?
- Esse lugar pertenceu a minha família. – ele disse vagamente. – O que você faz aqui?
- Foi o primeiro lugar que eu encontrei depois que consegui isso. – ela apontou o pedaço muito antigo de pergaminho. – Resolvi me abrigar pra lê-lo.
- O que é? – ele perguntou interessado
- Os Pergaminhos de Caleddin, o druida. – Ângela disse irritada – São escritos antigos que Mérlin...
- Passou anos perseguindo e encontrou na França entre pergaminhos romanos. – Voldemort a interrompeu como se fosse um insulto ela pensar que ele não sabia daquilo. – Eu sei Ângela.
- E eu pensei... – ela murmurou como se falasse sozinha – eu juro que pensei que isso me seria útil...!
Ele se afastou dela enquanto ela desvendava ainda algumas palavras do pergaminho quase caindo aos pedaços. Andou pela casa, olhando distraidamente as paredes e tudo o mais. Ângela deixou que o corpo relaxasse e se soltou na cadeira, como se desistisse:
- Anos de procura... – ela falou num sussurro. – eu desperdicei anos de procura.
Ele chegou perto da mesa de novo e encarou Ângela. Estava pálida. Os cabelos negros amarrados em um coque. Os olhos negros brilhavam menos.
- Você ainda não conseguiu...
- Eu não anulei a maldição. – ela falou rispidamente – Mas fiz alguns progressos. Se não eu já estaria morta não é mesmo?
- Estaria. – ele disse a encarando com certa intensidade estranha.
- Não, você não pode fazer nada por mim. – Ângela disse o encarando profundamente – É a minha sina, meu karma, ou seja lá como você quiser chamar esse inferno! – ela se levantou da cadeira num movimento brusco, pegando o pergaminho e o enrolando de novo.
Ele abaixou os olhos pro chão como se pensasse. Seu semblante era duro, preocupado. Ela foi até a porta, decidida a ir embora. Parou por um instante olhando pro homem de olhos vermelhos que ficava pra trás.
- Não vai falar até logo dessa vez? – Ângela perguntou em tom de desafio
- Eu disse duas vezes da ultima vez. – ele falou com um sorriso cínico – Isso quer dizer que eu ainda vou te ver de novo.
Ela sorriu pela primeira vez naquela noite e foi embora.



Londres, 1977


Ângela andou lentamente pela rua mal iluminada. Passou a mão pelos longos cabelos negros, agora salpicados com mechas grisalhas e com um movimento rápido os prendeu com uma fita negra. Ela não tinha um lugar certo pra ir, simplesmente andava. Sentia que a qualquer momento ele apareceria. Virou a esquina. E ele estava lá.
- Voldemort. – ela disse simplesmente encarando os olhos vermelhos que eram a única coisa que ainda se pareciam com aquele jovem bonito que ela tinha conhecido um dia. Agora ele parecia um fantasma de olhos vermelhos.
- Ângela. – ele disse
- Muito tempo... – ela murmurou – desde a ultima vez que nos vimos...
- Mais de dez anos. – ele falou e sua voz soou cavernosa e fria – Estava começando a achar que nosso ciclo de encontros tinha se quebrado.
Ela olhou pras pessoas que estavam à volta dele, como se formassem um semicírculo atrás do homem. Estavam todos vestidos de preto e usavam máscaras.
- Quem são? – Ângela perguntou os apontando com a cabeça.
- Meus Comensais da Morte. – Voldemort disse
- Ah sim, morte. – Ângela disse e pegou um maço de jornais antigos que estava guardado num dos bolsos da veste. – Você tem feito muito isso não é? Morte, Morte, morte, morte e morte. – ela perguntou pegando os jornais e lendo repetidamente a mesma palavra que estava escrita em todos eles e os descartava jogando no chão.
- Algum problema? – ele perguntou fixando os olhos nela.
- Morte é algo contra o qual eu venho lutando há muito tempo. – ela respondeu
- E eu também. – ele disse sorrindo um sorriso maldoso. – Você sabe disso.
- Mas você não foi condenado a ela por uma maldição como eu fui. – Ângela falou rispidamente. – Diga logo o que você quer Voldemort, eu sei que você está me procurando por que quer algo.
Uma das pessoas que estavam atrás de Voldemort soltou um gemido de raiva. Como se Ângela estivesse desrespeitando Voldemort por falar daquele jeito. Ele fez um gesto com a mão e a pessoa se aquietou.
- Não gosto de pessoas que escondem seus rostos. – Ângela disse olhando o mascarado que tinha resmungado
- Eles estão assim sob minhas ordens. – Voldemort falou mas sua voz não tinha um tom de ameaça pra Ângela. Era uma simples resposta.
- O que você quer? – ela repetiu.
- A sua presença. – ele disse – Preciso de pessoas como você ao meu lado.
- Ninguém fica do seu lado Voldemort, eu aprendi isso há anos. – Ângela disse friamente – Nós nos encontramos tantas vezes mas desde que eu te vi pela primeira vez rondando o Casarão Atemporal e te deixei entrar, eu percebi que você trabalha sozinho. Você só está me oferecendo um lugar ao seu lado porque prefere me ter como aliada do que como inimiga.
- Você nunca seria minha inimiga. – ele afirmou
- Como você tem tanta certeza? – ela perguntou vendo-o se aproximar, olhos fixos nos dela. Ela desviou o olhar. – Eu sou tão boa em Legilimencia quanto você Voldemort.
- Eu sei. – ele falou chegando muito perto dela. Esticou a mão magra de dedos brancos e finos e afastou uma mecha de cabelos negros que caía pelo rosto dela. O mesmo ser mascarado que tinha resmungado antes o fez de novo, só que agora parecia ter ciúmes. Ângela percebeu que era uma mulher. Voldemort ignorou – Por isso eu tenho que ser sincero com você. Sempre tive que ser.
- Eu não vou ficar do seu lado Voldemort. Eu tenho os meus próprios problemas.– ela afirmou se afastando.
- Eu posso te ajudar na sua busca. – ele ofereceu tentando a persuadir – Eu tenho pessoas que podem procurar com você. Procurar por você.
- Isso é algo que eu tenho que fazer, não quero ninguém se intrometendo! – ela falou parecendo furiosa. Ela se afastava indo embora. – Não se preocupe Voldemort, eu não vou estar contra você, mas também não vou estar ao seu lado. Essa guerra não é minha.
- Nos veremos Ângela. – ele disse com um sorriso cínico nos lábios. Sabia que ela não ia gostar de ouvir aquilo.
- Não se eu puder evitar. – ela disse desaparecendo.
- Não, você não pode evitar. – ele disse mesmo sabendo que ela não podia ouvir.



Londres, 1980


Ângela sabia que se não se afastasse logo Voldemort a encontraria de novo. Sabia que ele podia sentir sua presença e que tinha armado aquele encontro desde a última vez que eles tinham se visto. Mas ela precisava muito daquele artefato que vinha procurando há tempos e ela iria encontra-lo somente se pudesse entrar no Ministério da Magia. Parou na porta do Ministério indecisa pela primeira vez na vida. Alguém a despertou de sua indecisão tocando no seu ombro.
- O Lord das Trevas deseja vê-la. – alguém encapuzado e com uma mascara negra disse a ela. Não estava segurando uma varinha. Estava totalmente desarmado. Ela o olhou desconfiada.
- Quem...? – depois se lembrou que o Lord das Trevas era Voldemort – Ah... diga a Voldemort que eu não vou a lugar nenhum. Se ele deseja me ver que venha aqui.
- É muito arriscado senhora... – o homem mascarado disse
- Ele nunca se preocupou com riscos. – ela disse em tom cortante.
- Realmente eu nunca tinha me preocupado. – a voz de Voldemort soou atrás deles. Ela se virou pra olha-lo e ele a encarou – Como vai Ângela?
- Indecisa. – ela disse o encarando – O que você quer?
- O seu conhecimento sobre profecias. – ele disse sendo direto.
- Profecias...? – ela perguntou o olhando nos olhos – Fizeram uma profecia pra você?
- Sim. – ele respondeu – E eu preciso que você me diga o que acha dela.
- O que eu ganho com isso Voldemort? – ela perguntou cinicamente
- O que você ganhou me ajudando anos atrás no México? – ele respondeu fazendo outra pergunta
- Nada. – ela respondeu desafiadoramente – A não ser um laço com você que pelo visto nunca se quebra. Eu fiz de tudo pra não te encontrar aqui, hoje.
- Então? – ele perguntou firmemente
- O que diz a profecia? – ela perguntou
- Ele a ouviu. – Voldemort apontou o homem mascarado que estava ao lado deles ouvindo a conversa. – Repita pra ela Snape.
O homem mascarado ia começando a falar quando Ângela pegou a varinha e apontou pra ele. Num instante a máscara negra tinha sido retirada mostrando um rosto pálido e macilento sob cabelos negros e oleosos.
- Eu detesto falar com alguém que não mostra seu rosto. – Ângela resmungou
- Continue Snape. – Voldemort disse ao homem que parecia assustado com o golpe repentino. Se ela estivesse disposta a matá-lo ele nem teria tido tempo de detê-la. E Voldemort não parecia preocupado com aquilo.
- Aquele com o poder de vencer o Lord Negro se aproxima. Nascido daqueles que por três vezes o desafiaram, nascido ao fim do sétimo mês. – Snape disse rapidamente e logo depois cobriu o rosto com a máscara de novo.
- Aquele com o poder de vencer o Lord Negro se aproxima... Nascido daqueles que por três vezes o desafiaram, nascido ao fim do sétimo mês... – Ângela murmurava pra si mesma como se refletisse sobre aquilo.
- Lord! – uma voz de mulher os alcançou. Ela vinha desabalada e usando a mascara negra – Eles estão aí. Aurores, muitos deles, isso é uma emboscada!
- Uma emboscada uma ova. – Ângela disse furiosa olhando a mulher mascarada. Tinha certeza que era ela que estava resmungando da ultima vez que Ângela se encontrou com Voldemort. E tinha certeza que essa mulher guardava um amor doentio por Voldemort.
- O que você me fala sobre a profecia? – Voldemort perguntou a ela sem parecer preocupado.
- Eu acho que ela não tem nada o que falar. – uma outra voz os alcançou. Um homem alto de barbas e cabelo grisalhos, imponente, caminhava até eles. Atrás do homem podiam se ver sinais de batalha. As pessoas se enfrentavam e vinham em direção a eles enquanto se movimentavam na batalha, os encurralando no beco escuro.
- Dumbledore. – Voldemort disse parecendo impressionado. Olhou pra Ângela – Eu ficarei muito decepcionado se você tiver armado isso.
- Eu não conheço esse homem. – ela disse encarando Dumbledore.
- Mas eu conheço você. – Dumbledore se dirigiu a ela – Ângela Ap Wydryn, não é mesmo?
- Sim. – Ângela disse mas não se impressionou, muitos a conheciam. A maldição que ela carregava a fazia famosa.
- Ah sim, a linhagem da minha família e da sua se encontram em algum lugar do passado. – Dumbledore disse como se ignorasse a presença de Voldemort ali. Voldemort por sua vez parecia muito absorto na conversa pra poder fugir. A batalha agora acontecia em volta deles. Os comensais, em menor número, sofriam um ataque maciço.
- É verdade? – Ângela perguntou interessada – E como você ainda não está morto?
- O sangue de Mérlin que corre em minhas veias não é tão puro quanto o que corre nas suas. Por isso a maldição não me atingiu.
- Sorte sua. – Ângela disse com sarcásmo. Feitiços passavam pelas suas cabeças mas eles pareciam não se importar. Snape já tinha entrado na briga também, assim como a mulher que tinha vindo avisar sobre o ataque. Ela estava em uma batalha feroz com outra garota que empunhava uma espada e parecia furiosa.
- É assim que você pretende me parar Dumbledore? – Voldemort falou finalmente – Conversando com Ângela sobre o passado dela e fazendo com que ela se interesse pelo seu lado?
- Não Tom. – Dumbledore disse calmamente – Eu simplesmente estou evitando que ela faça uma coisa da qual se arrependerá por toda sua vida.
- Ela não pode ser controlada por você Dumbledore, - Voldemort respondeu – Ninguém pode controlar Ângela. Nem eu consegui isso.
- Essa guerra não é minha. – Ângela repetiu o que tinha falado há 3 anos atrás. Ela observava a briga em sua volta, sem perceber que agora Dumbledore e Voldemort duelavam também. Ângela percebeu que estava no meio de uma batalha que deixaria muitos mortos e feridos, mas saiu andando por entre as pessoas que duelavam, como se passeasse num parque.
Passou pela garota que empunhava a espada na garganta da mulher de cabelos negros e a incentivou mentalmente, mesmo sem ver seu rosto: “Isso garota. Essa menina é tão boba por amar tão fielmente quem não sabe o que é amor que ela não merece viver”.
Ângela andou até sair do meio daquela batalha e olhou pra trás, vendo os feitiços voarem em todas as direções. Sorriu levemente pra si mesma:
- É Voldemort, parece que dessa vez você não pode me dizer até logo. Nosso ciclo se fechou. Adeus.
E desapareceu.

Londres, 1981


Ângela sentou-se num dos bancos do metrô. Pegou o jornal no bolso das vestes e o folheou. As pessoas passavam e a olhavam com cara de espanto.
Ela fechou o jornal e encarou a primeira página. Letras garrafais estavam estampando a noticia “Aquele-que-não-deve-ser-nomeado encontra o seu fim” e mais abaixo “Harry Potter: o menino que sobreviveu”.
Ela encarou a foto da casa destruída. Mais uma família tinha sido desfeita naquela noite.
- Tanta destruição... – Ela murmurou – eu nunca pensei que ele chegaria a tanto...
Ela se levantou guardando o jornal na capa de novo e andou lentamente por entre as pessoas. Seu olhar tinha nitidamente o que poderia ser tristeza. Seus cabelos longos e negros estavam com mais mechas grisalhas. Seu rosto bonito estava cansado.
- Minha busca vai deixar de ser divertida... – ela falou sozinha – por mais que eu negue, me encontrar com ele era uma diversão...
Ela saiu do metrô e olhou o céu. Estava nublado. Pensou na criança que passaria a vida inteira com o estigma de “o menino que sobreviveu”.
“Só mais um órfão de uma guerra idiota” ela pensou “Mas que os deuses o ajudem”.
E desapareceu.
Ela partiu. E por muito tempo o nome de Ângela Ap Wydryn não foi ouvido na boca de mais ninguém, porque ela simplesmente sumiu. Sem deixar pistas.


Sim pessoas, não se assutem... essa é a continuação da Lady Gray! Não se preocupem, pode parecer estranho, mas esse inicio falando sobre Voldemort vai ser meio que essencial para o desenrolar da fic...! Espero que vocês se lembrem da Ângela, que teve uma pequena partcipação na “Lady Gray – Um Olhar sobre o passado”. Espero que vocês gostem! Beijos pros meus betas e mais uma vez muito obrigada pela força, ok?? (Apesar de vocês estarem meio sumidos! Rs!). A Hannah e a Manu, obrigada pelo força com o nome da fic! Divirtam-se, se puderem! Rs!

E pra variar, um cap enorme, não??? rsrsrsrs!

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