Vestígios Passados e Futuros



Capítulo VI – Vestígios Passados e Futuros
(Narrado por Lílian)


“People try to deny, classify, or just hide,
The feelings, what's inside,
Broken hearts, and hard times.”
(Mest – Walking On Broken Glass)



Novembro chegou acentuando ainda mais o clima fresco de outono, e já trazendo os primeiros vestígios do inverno que estava por vir, e prometia ser o mais frio dos últimos dez anos. E junto com eles, notícias que não seriam muito bem recebidas...



Acordei mais cedo do que normalmente naquela manhã, com o barulho da porta sendo fechada. Os primeiros raios de sol recém adentravam pelas janelas do nosso quarto, fazendo com que a luminosidade invadisse meus olhos, até então fechados... Ao abri-los e dar uma olhada pelo local, pude constatar que todas as garotas ainda dormiam.

Todas, exceto Nat.

Virei-me para o lado, tentando inutilmente voltar a dormir. Onde será que ela estaria? Era tão cedo... O que ela poderia estar fazendo? Pare de pensar nisso, Lílian!

Tentei controlar minha curiosidade, virando-me de um lado para o outro para tentar achar uma posição confortável para voltar a dormir.

--- Ah, certo. --- murmurei, tirando as cobertas de cima de mim e levantando --- Se não vou conseguir voltar a dormir, pelo menos vou atrás dela.

Coloquei meu roupão vinho por cima do pijama, juntamente com o cachecol que vi ali em cima do criado-mudo. Estava realmente começando a esfriar. Não que eu esteja reclamado, gosto do frio. A atmosfera parece ficar mais calma na Sala Comunal da Grifinória, todos encolhidos perto da lareira tomando um chocolate-quente ou qualquer coisa desse tipo.

Desci cuidadosamente a escada do dormitório, para não acordar ninguém. Chegando à Sala Comunal, rapidamente avistei Nat encolhida em uma das poltronas, seus longos cabelos loiros caindo cacheados por um de seus ombros.

--- Hey. --- a cumprimentei, no que ela sorriu.

--- Bom dia Lily. --- ela respondeu, enquanto eu sentava em uma das poltronas também, abraçando minhas pernas para me proteger do frio.

--- O que você está fazendo aqui, essa hora da manhã?

--- Nada... --- ela respondeu, olhando vagamente para fora da janela.

--- Ah, sei. O motivo de você estar na Sala Comunal quando mal amanheceu, desse seu olhar vago e dessa expressão séria é nada. --- comentei, simplesmente.

--- Será que não dá para esconder nada de você?

Nat me olhou, sorrindo fraca, porém sinceramente. Éramos, sem dúvida, grandes amigas. Simpatizamos uma com a outra desde o momento que nos vimos, no nosso primeiro Expresso.

--- Você nunca conseguiu. --- falei, rindo. --- Falando sério, o que houve?

--- Um mau pressentimento. --- ela falou, dando um suspiro, cansada. --- Como se alguma coisa estivesse prestes a acontecer... Alguma coisa ruim.

Um sopro de vento passou por nós no momento em que ela conclui a frase, causando arrepios.

--- Fique calma, Nat. Todo mundo já deve ter sentido algo desse tipo. --- falei, tentando tranqüilizá-la. Mas no fundo aquilo tinha me deixado um pouco preocupada também.

--- Não é tão simples, Lily. --- ela comentou, abaixando a cabeça tristemente.

Agora sim eu estava verdadeiramente preocupada. O tom de voz dela estava tão sério, tão... Estranho. E Nat definitivamente não costumava ser assim, estava sempre sorrindo, sempre animada. Muito estranho.

--- Se quiser me contar... --- hesitei, sem saber muito bem o que fazer. --- Sabe que pode confiar em mim.

Fui até lá, abaixando-me na frente dela. Nat levantou a cabeça, pude ver que seus olhos estavam marejados, e sua expressão demonstrava uma tristeza que eu nunca havia visto igual. Seu olhos saíram de foco por um momento, no que, creio eu, ela se lembrou de alguma coisa...

Era uma manhã de inverno, fria como qualquer outra. Uma garotinha de aproximadamente seis anos brincava tranqüilamente com suas bonecas de porcelana, alheia a todo resto. Perfeitos cachos loiros caíam-lhe pelas costas, seus olhos negros brilhavam intensamente, e um alegre sorriso estampava seu rosto.

Tudo estava perfeitamente bem.

Num movimento em falso, derrubou uma das pequenas roupinhas das bonecas no chão, mas quando foi se abaixar para ajuntá-la, sentiu um aperto forte no peito. A janela do quarto se abriu sozinha, dando lugar para um forte sopro de vento entrar. Correu os olhos por todo cômodo, amedrontada.

Convencida de que fora simplesmente uma sensação ruim, voltou a brincar. Ou pelo menos pretendia fazer isso, antes de ouvir um grito. Isso até não teria a assustado tanto, o que lhe deu mais medo foi uma coisa: conhecia aquela voz.

Desesperada, e sem pensar duas vezes, correu rapidamente para fora de seu quarto e através dos corredores da grande casa. Cada passo parecia ser minúsculo perto da distância que a separava de seu destino, e cada segundo parecia levar uma eternidade até que chegasse lá.

Usufruindo de toda coragem que tinha, levou a mão à maçaneta. Entrou no quarto, batendo a porta atrás de si. Foi então que se deparou com a cena mais... Aterrorizante, que já vira. Levou as mãos à boca, contendo um grito.

Aproximou-se da cama onde dois corpos jaziam imóveis; Sua mãe e seu pai... Mortos. A expressão de terror estampada claramente em seus olhos. Lágrimas começaram a escorrer por seu rosto sem que a criança pudesse evitar. Sacudiu inutilmente o corpo da mãe pelos ombros, mesmo sabendo que ela não tornaria a acordar.

Estava sozinha agora. Sozinha, como jamais estivera.

--- A última vez que eu tive um pressentimento desses... --- Nat começou, engolindo em seco --- Meus pais morreram.

Senti um arrepio percorrer todo meu corpo, antes de tomar coragem para falar de novo.

--- Mas você acha... Acha que alguém vai morrer? --- perguntei, hesitante.

--- Não... --- ela respondeu, vagamente. --- Não hoje.

Nat me encarou seriamente, seus olhos possuíam uma profundidade enorme e, no fundo, ela parecia saber mais do que estava me contando...

--- Não me dê atenção. --- ela disse, agora sorrindo. --- Está tudo bem, não há porque se preocupar.

Embora ela parecesse convicta de suas palavras, aquilo não me convenceu por completo. Bom, percebi que Nat não me diria mais nada, então decidi mudar de assunto mesmo... Conversa vai, conversa vem, e nem percebemos o tempo passar.

Logo as pessoas já estavam descendo dos dormitórios, e dentre os vários alunos que agora se faziam presentes ali, pude destacar uma Isa sonolenta no meio deles.

--- Bom... Bom dia! --- ela disse, entre bocejos, juntando-se a nós e deixando-se cair em uma das poltronas.

--- Olá, dorminhoca! --- cumprimentei, sorrindo. --- Você sabe que horas s...

Mas não consegui terminar minha frase, uma voz bem conhecida interrompeu-me às minhas costas.

--- Bom dia Lily, garotas! --- Imagine se não era o inconveniente do Potter.

Logo atrás dele, vinham Remo, Sirius e Pedro, que logo nos deram bom dia também.

--- Então... Que tal irmos tomar café? --- Sirius sugeriu, no que todos prontamente concordamos.

Já havia bastante alunos no Salão Principal quando chegamos, mas nossos tradicionais lugares à mesa da Grifinória continuavam à nossa espera. O banquete já estava pronto, e, no que pusemos a nos servir, o Correio-Coruja irrompeu pelo salão. Dezenas de corujas diferentes, trazendo para os alunos o Profeta Diário, e outras coisas em especial.

Pude observar, enquanto a minha respectiva coruja não havia entregado meu jornal, que várias pessoas ficavam espantadas ao vê-lo. Inclusive os professores, - a não ser pelo diretor Dumbledore que sempre parecia saber mais que todos – pareciam surpresos, e até mesmo assustados.

Quando recebi o meu, pude perceber claramente o motivo do espanto: uma manchete, na capa do jornal. Trazia uma foto de uma casa, com a porta visivelmente arrombada, alguma coisa escrita na parede externa, e no céu, acima dela, uma terrível imagem de uma caveira, com uma cobra saindo de dentro de sua boca. No canto da foto, aproximado, mostrava claramente o que estava escrito na parede, “A Era de Voldemort começou.” E, aliás, estava escrito com sangue.

Logo abaixo estava a reportagem: “Nessa madrugada, a casa dos Fuller foi invadida, e o casal morto cruelmente por uma das maldições imperdoáveis, Avada Kedavra, pelo que os aurores puderam constatar após chegar ao local. Esse curioso assassinato, cujo motivo ainda não foi descoberto, parece estar ligado com uma série de fatos estranhos e desaparecimentos de bruxos que o Ministério tenta esconder. Poderia esse tal Voldemort ser uma ameaça para o mundo bruxo?!”

Nat também estava com seu jornal na mão, e, ao acabarmos de ler, nós duas nos entreolhamos. Parece que o pressentimento dela não era tão sem fundamento assim... Desviei meu olhar para a mesa dos professores, onde Dumbledore olhava para todo Salão por trás de seus óculos em forma de meia-lua, com aquela sua típica expressão misteriosa e calma.

Eu seria capaz de apostar mil galeões que ele já sabia de tudo isso muito antes, não fosse o fato de eu ser terminantemente contra apostas.

--- Vocês acham que isso pode ser sério? --- Isa perguntou, hesitante.

--- Não sei, sinceramente não sei... --- Potter disse, fitando o jornal. Era até engraçado vê-lo sério daquele jeito.

--- Bom, hoje é domingo e está um dia lindo, eu realmente não pretendo ficar trancado nesse castelo. --- Sirius disse, levantando da mesa --- Quem me acompanha até os jardins?

--- Que tal irmos todos? --- Remo sugeriu, sorrindo amavelmente.

--- Ótima idéia! --- Nat concordou, levantando também, no que todos fizemos o mesmo.

Vi Potter abrir aquele seu habitual sorriso para mim, no que apenas revirei os olhos. Não que eu achasse realmente uma boa idéia passar o dia com ele, mas a proposta de ir até os jardins com os outros não era nada má. Fazer o que se ele vinha de brinde, era realmente minha sina ter de agüentá-lo...

Passamos pelas enormes portas que davam acesso aos terrenos de Hogwarts, saindo para os jardins. Sentamos à sombra de um velho e enorme carvalho. Folhas secas estavam caídas no chão, devido à estação, e o frio já começava a se aproximar, porém o Sol brilhava forte no céu aquele dia, nos aquecendo um pouco.

--- Esse assassinato estranho me deixou curiosa... --- comentei, brincando displicentemente com uma ou outra folha do chão. --- Vocês não acharam estranho?

--- Ah, não deve ser nada. --- Pettigrew falou, na sua santa ignorância.

--- Não sei não... --- Remo começou. Desse sim eu queria saber a opinião, pelo menos ele sempre tinha alguma coisa prestável a acrescentar. --- Tudo bem que não é o primeiro a querer dar uma de Bruxo das Trevas, mas esse tal de Voldemort pareceu estar falando sério... Vocês viram a cara dos professores? Até eles se assustaram!

--- É verdade. --- Potter disse, ajeitando os óculos. --- Os outros apenas falavam, esse daí simplesmente fez. E vocês prestaram atenção na parte em que fala de acontecimentos estranhos e desaparecimentos que o Ministério tenta ocultar? Essa história pelo jeito vai longe...

Suspirei, não podia deixar de concordar com ele dessa vez, mesmo que não gostasse de ter que fazer isso.

--- Se for sério, acho que logo saberemos de mais alguma coisa. --- Sirius comentou, dando de ombros. --- Esses bruxos das trevas são todos da mesma laia, aposto minha vida que os Black logo se meterão nessa. --- terminou a frase fazendo uma careta de nojo, ele realmente detestava a família.

--- Sirius tem razão. --- Nat, que estava apoiada no ombro dele, concordou. --- Não adianta nada querermos discutir sobre isso agora. Vamos falar de alguma coisa mais alegre...

--- Boa idéia! --- Potter disse, sorrindo marotamente. --- Quando você vai sair comigo, Ruivinha?

Ah, estava demorando. Eu tinha certeza de que ele iria vir com essa pergunta.

--- Não era para falarmos de alguma coisa alegre? --- perguntei, ironicamente. --- De qualquer forma, a resposta é nunca!

Os outros todos riram, não sei se da persistência dele, ou das minhas respostas que nunca mudavam. Até eu não contive um sorriso vitorioso.

--- Hmm... O que vocês pretendem fazer quando terminarem Hogwarts? --- Isa perguntou, puxando assunto.

--- Quero ser auror, meus pais também são. --- Potter respondeu, orgulhoso. --- Nat, Almofadinhas?

--- Eu também! --- os dois responderam, ao mesmo tempo, no que logo riram, se entreolhando.

--- Lily?

--- Pretendo ser auror também. --- eu respondi, no que pude ver Potter abrir um largo sorriso. Ótimo, teria que aturar ele até depois de acabar a escola.

--- Só por minha causa, ruivinha? Sempre soube que você me amava! --- ele deu uma piscadela para mim, que bufei de raiva.

--- Você sonha alto demais, Potter. --- falei, sem transparecer como havia me irritado. Ainda eram capazes de dizer que eu ficava assim para tentar esconder o que sinto por ele, como costumavam fazer. Como se eu fosse sentir alguma coisa por aquele imbecil algum dia. --- Remo?

--- Ahm... Alguma coisa ligada à Defesa Contra as Artes das Trevas. --- ele disse, pensativo. --- Quem sabe seja professor. Isa?

--- Acho que eu vou ser curandeira... --- ela disse, corando levemente. --- Pedro?

--- Não faço idéia... --- Pettigrew respondeu, sem dar muita atenção.

Depois disso, o silêncio pairou no ar por alguns minutos nos quais fiquei pensando. O futuro é tão incerto, sempre fora. Ainda tínhamos muito a fazer até chegar lá, e algo me dizia que tempos difíceis estavam por vir...




N/A: Sem graça, eu sei. JURO que vou fazer um bem melhor no próximo para compensar! Mas é que eu estava empacada nessa última parte há dias e simplesmente não conseguia colocar mais nada nesse capítulo. E como fazia muito tempo que não atualizava, decidi postar assim mesmo. Desculpem mesmo pela demora, vou tentar fazer com que não se repita...

E, ohhh, tio Voldie começou a aparecer! Não que eu goste dele, é claro, mas fazer o que? Um dia eu ia ter de enfiá-lo na fic...

Certo, deixando de lado meus devaneios... Tradução do trechinho lá de cima:
“As pessoas tentam negar, classificar ou apenas esconder,
Os sentimentos, o que há por dentro,
Corações partidos e tempos difíceis.”


A música é realmente boa, recomendo. Aliás, tem várias dessa mesma banda que são boas... Por exemplo This Time, Jaded, e... Tá, parei por aqui, juro.

Ah, já ia esquecer. Acabei minha fic B², JUST A MEMORY [ http://floreioseborroes.com.br/menufic.php?id=8716 ], ficaria muito feliz se pudessem dar uma passada lá! E comecei outras duas (me desculpem, eu não consigo resistir!), também B², Orgulho & Preconceito [ http://floreioseborroes.com.br/menufic.php?id=10294 ] e Courage [ http://floreioseborroes.com.br/menufic.php?id=10721 ]

Beijos amores ;*

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