LÁGRIMAS DE FÊNIX



Ele não saberia dizer que horas eram, mas já era bem tarde, quando ouviu baterem na porta.
- Severo!
Ele congelou ao ouvir aquela voz feminina chamando seu nome. Pensou ter reconhecido a voz, mas, ao mesmo tempo, achou a idéia completamente absurda. Resolveu abrir uma pequena fresta na porta, tentando entender o que estaria acontecendo:
- Mas... que diabos…
E então, ele engasgou. Através do espaço estreito, ele pôde ver claramente a mulher que batia à sua porta, ao mesmo tempo em que ela deixava cair o capuz do seu manto. Mesmo no escuro da noite, ele podia reconhecer facilmente quem era. Aquela cascata de cabelos vermelhos, aqueles olhos amendoados cor de esmeralda, faiscantes, inconfundíveis. Inesquecíveis.
- Lílian! Severo exclamou, encarando-a boquiaberto.- Mas que surpresa agradável!
- Sou eu, sim, Severo! Ela sorriu, deixando Severo incapaz de dizer qualquer coisa que fizesse sentido por alguns minutos. Tudo o que ele conseguiu foi ficar ali parado, encarando-a. Então, quebrando o silêncio, ela voltou a falar, parecendo ansiosa.
- Severo, eu preciso falar com você! É importante!
- Mas é claro! Ele colocou-se de lado, abrindo mais a porta, para que ela entrasse.
- Mas... o que é tão importante assim que fez você me procurar? O que posso fazer por você? – A surpresa pela presença dela era tão grande que ele mal conseguia manter um tom de voz normal.
- Severo... me perdoe por vir, assim... mas preciso muito da sua ajuda.
Lílian parecia muito pálida, como ele nunca tinha visto. Seus olhos brilhavam com determinação e seriedade. Ele ficou encarando-a em silêncio, tentando imaginar o que ela teria de tão importante para lhe dizer.
- Severo... Eu pensei muito antes de vir procurar você. Mas... Eu acho que você é a única pessoa que pode ajudar....
Sua expressão séria e um pouco hesitante, aumentava o mistério da sua visita. Ele resolveu servir um pouco de vinho de elfos para os dois, mais numa tentativa de se acalmar do que num gesto de hospitalidade genuíno. Enquanto enchia os cálices, não pôde deixar de perguntar:
- Desculpe a curiosidade – inevitável- , mas me responda uma coisa, antes de mais nada: por que eu, especificamente?
- Severo, existem algumas coisas que você precisa saber. Eu esperava nunca ter que contar, nem a você nem a ninguém. Mas, agora, você precisa saber....
Severo, que estava prestes a tomar um gole do vinho, interrompeu o movimento. Alguma coisa na voz de Lílian o fez sentar-se e esperar, com uma pontada de apreensão.
- O quê? Ele perguntou, a voz soando um pouco mais agressiva do que tinha pretendido.
- Veja bem... Antes, quero lhe dizer que eu não teria vindo, se achasse que tinha escolha. Eu teria poupado você da dor... poupado a nós dois...
O comentário dela o fez recompor-se. Dor?
- Como assim? O que você quer dizer...
- É verdade, Severo. Desculpe, mas o tempo é curto, tenho que ser sincera e direta. Eu vim aqui pedir que você faça... – Lílian recomeçou a falar, quase num sussurro e parou, parecendo procurar pelas palavras certas.- Não é uma coisa fácil, e vai exigir muito mais do que eu ousaria pedir a você, se a situação fosse outra. Mas você precisa conseguir, você me entende?
- Conseguir o quê? Severo perguntou, sem compreender.
- Sim, Severo. Escute. Você precisa proteger uma pessoa, que é muito importante para todos nós... Importante para nós dois.
- Quem?
- Harry... O meu filho. Ela respondeu, abaixando os olhos cheios de lágrimas.
Severo torceu a boca, num sorriso irônico. Ele faria, com gosto, qualquer coisa para Lílian. Mas, só o pensamento de ter que ajudar, proteger, o filho do seu arquiinimigo e rival, fazia-o sentir um gosto amargo na boca. Que ironia! Ele desviou o olhar do rosto triste de Lílian, como se as lágrimas dela fossem indecentes.
- Mas me responda uma coisa: por que eu, entre todas as pessoas? Por que não pedir a Dumbledore, ou a algum amigo de vocês na Ordem da Fênix? Sirius Black, por exemplo... Tenho certeza de que existem dezenas de pessoas que se candidatariam à honra de ajudar seu filho... Severo tentou imprimir um tom de sarcasmo à pergunta.
Lílian hesitou. Aparentemente, era muito difícil continuar. Ela encarou-o ansiosa.
- Harry… - Ela começou, com voz baixa, e então desviou o olhar novamente.- Ele não é filho de Thiago...
Severo ficou completamente desconcertado.
- Não?
Agora, pensando no assunto, ele mal conseguia sufocar o riso, imaginando que a mulher de Thiago tinha sido infiel a ele. O tolo!
- Bem, mas então quem é o pai? Ele perguntou, disfarçando a animação. Qualquer desgraça de Thiago sempre o deixaria contente.
- O pai de Harry... é você, Severo!
- O QUÊ??
- Você precisa saber... Meu grande amor é você, Severo. Sempre foi, sempre vai ser. O Thiago...foi só uma ilusão. Eu fiquei fascinada, ele era o garoto mais popular da escola... Eu nunca iria admitir isso, nem pretendia procurar você... Mas então eu soube... Ah, Severo!
- Mas … ele engasgou, perplexo.
- Quando eu soube que Lorde Voldemort colocou os Comensais da Morte atrás do meu filho... do nosso filho... eu sabia que tinha que contar a você, e pedir a sua ajuda...
- Você não devia ter vindo... nunca... você nunca deveria me procurar... Isso é um... absurdo...

POF!

A cabeça de Severo bateu na parede do quarto, com estrondo. Ele gemeu. Esfregando o lugar da batida e piscando na escuridão, ele tentava encontrar o caminho de volta à realidade. Tinha sido um sonho? Por um momento, ele ficou quase feliz. Um filho! Uma criança que fosse dele, que não o rejeitasse, mas sim o amasse. Ele iria ensinar a ele todos os segredos do preparo de poções, contra-azarações que só ele conhecia, explicaria tudo sobre plantas e animais, colecionando ingredientes para poções. E ele ouviria tudo com entusiasmo, ansioso por aprender. Não como os imbecis idiotas como Thiago e sua turma, que só pensavam em se divertir à custa dos outros, e que nunca entenderiam a ciência e a arte do preparo de uma poção, nem que o professor tentasse enfiar o conhecimento a marteladas nas suas cabeças. Mas, é claro, só podia mesmo ser um sonho, ele pensou, com amargura, agora que estava totalmente acordado. Só então ele se deu conta, completamente, do que tinha sonhado.
O sol da manhã começava a surgir, entrando pela janela alta. O quarto estava silencioso, tranqüilo. Severo levantou-se, tonto e sonolento, e começou a caminhar na direção do banheiro. No meio do caminho, viu de relance o seu reflexo no espelho. A face magra, bochechas ossudas, a pele muito pálida coberta pela cortina de cabelos pretos e oleosos. Dois olhos abatidos o encaravam.
“Meu Deus, Severo, você está com uma aparência ainda pior do que de costume, se é que isso é possível. O que aconteceu com você?”
Ele tinha passado os últimos anos tentando se livrar de todo o sofrimento que esse amor impossível tinha causado. E agora, tudo parecia voltar, como se o tempo não tivesse passado. Todas as emoções: a dor, o desespero, o medo, a raiva... Tudo o que ele tinha se esforçado para manter trancafiado no canto mais escuro da mente, escondido dele mesmo, de repente vinha à tona. A cabeça de Severo estava um caos completo. Não era uma tempestade - não, era um furacão, com ventos muito, muito selvagens. Ele podia a sentir a mão irônica de Deus no que estava acontecendo com ele. Ele não era uma pessoa boa, altruísta. Não. Ele era ambicioso, egoísta, rancoroso. Fosse qualquer outra criança, ele talvez não estivesse nem pensando mais sobre o assunto. Se o Lorde das Trevas tivesse escolhido o outro bebê, o filho dos Longbottom, nada disso estaria acontecendo. Ele podia odiar essa criança desconhecida por toda a sua vida, só pelo fato de não ter sido ela a escolhida. Mas era o filho da Lílian que corria perigo. Queria o destino que fosse também o filho do seu rival, do homem que ele mais detestava nesse mundo. E, embora o sonho tivesse sido um absurdo completo, num universo paralelo, talvez, numa realidade alternativa, quem sabe... Aquele bebê que corria perigo, o filho de Lílian, poderia ser o seu filho.
Ele sabia, meio vagamente, o que teria que fazer agora. A única pessoa que poderia ajudar, o único bruxo que poderia enfrentar o Lorde das Trevas, era Dumbledore. E era ele que Severo teria que procurar.
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Mil, duzentos e oitenta e sete. Esse era o número de degraus até a sala do diretor de Hogwarts. Enquanto subia, devagar, Severo contava cada um deles, tentando, assim, não pensar no que teria que fazer ao chegar. Ele ainda não sabia se teria mesmo a coragem, e a capacidade, de fazer o que era preciso. O final da escada, depois do gárgula de pedra, o levou a uma enorme porta de carvalho, que se abriu sem ruído assim que ele a alcançou.
Ele entrou, silenciosamente, na grande sala circular já conhecida. Os instrumentos de prata sobre a mesa do diretor faziam estranhos ruídos. De onde ele estava, em pé, podia avistar o campo de quadribol, através de um dos janelões. O campo estava vazio hoje, assim como o resto da escola, porque as férias de verão ainda não haviam terminado.
- Como vai, Severo? Dumbledore cumprimentou-o com simpatia.
- Muito obrigado por me conceder uma segunda entrevista, Professor Dumbledore.
- Ora, é claro... Vamos dizer que a conversa com você é sempre interessante. Por favor, sente-se. Acredito que você aceita um copo daquele hidromel da Madame Rosmerta, não é?
Dumbledore serviu, como da outra vez, dois copos de hidromel, oferecendo um a Severo. Depois de um gole da sua bebida, ficou esperando que o rapaz continuasse a conversa. Por um instante, os dois olhares se encontraram, e Severo pôde sentir Dumbledore tentando investigar a sua mente. Num tom absolutamente causal, Dumbledore perguntou:
- O seu Mestre sabe que você está aqui?
- O senhor acreditaria se eu dissesse que não? Severo respondeu, com ironia.
- Talvez. Esse é o problema, sem dúvida. Você sabe, tanto quanto eu, que eu não tenho motivos para acreditar em você. E é pura perda de tempo tentar penetrar sua mente, você já era um excelente oclumente muito antes de deixar Hogwarts.
Severo enfrentou o olhar de Dumbledore. Já estava preparado para a desconfiança.
- Eu vim por minha livre escolha, minha própria vontade. E não precisava ter vindo. Eu não vim pedir emprego mais uma vez.
Pela primeira vez, desde o início da conversa, Dumbledore pareceu genuinamente interessado.
- Ah, não? Então, posso saber o motivo da sua visita?
Severo tomou fôlego, fazendo força para se manter calmo e controlado antes de começar a falar, tentando manter a voz fria e sem emoção:
- É sobre a Profecia.
- Sobre o quê?
- A Profecia. – Severo encarou o diretor com dureza. – Aquela que eu escutei, quando o senhor estava entrevistando Sibila Trelawney, no Cabeça de Javali.
- Sim? Dumbledore ergueu a sombrancelha.
- Por favor, senhor, pare de se fingir de bobo, certo? Eu contei ao Lorde das Trevas sobre a Profecia, o senhor sabe disso. Contei a ele a parte que pude ouvir.
- Eu já esperava que você fizesse isso. Dumbledore respondeu, calmamente.
- Ele sabe que há mais, que eu não consegui escutar tudo, mas ele, como eu mesmo, acha que eu ouvi o suficiente. Para os propósitos dele, quero dizer.
- Eu imagino que sim.
- Ele vai matar… Ele vai tentar assassinar a criança, os pais, todos eles.
- Eu não esperaria outra atitude partindo dele...
Severo fez uma pausa, sentindo o coração acelerar.
- Ele acredita ter descoberto qual é o bebê da Profecia, ou, pelo menos, ele já decidiu qual ele pensa ser.
Uma ponta de amargura atingiu Severo, e ele desviou o olhar, deixando a cortina de cabelos oleosos cobrir seu rosto.
- É Lílian. Quero dizer, é o bebê de Lílian Evans. - Ele concluiu, com a voz rouca.
Dumbledore fechou os olhos por um instante. “Ah, é isso, então. É por isso que o garoto está aqui”. Ele já suspeitava. Os Potter ou os Longbottom. Ele sabia das possibilidades. E tinha feito as duas famílias se esconderem, assim que os bebês nasceram.
- Então, você tem certeza do que está dizendo?
Severo acenou em concordância.
- Sim… Ele… Ele reuniu todos os Comensais da Morte para anunciar a escolha, e colocou todos na caçada aos Potter.
- E você veio até aqui para me contar isso? Por quê? Dumbledore ergueu de novo a sombrancelha.
Um brilho de desprezo surgiu no olhar de Severo:
- Eu não dou a mínima para o que possa acontecer com Thiago Potter, o senhor sabe. Mas... – e ele não conseguiu terminar a frase, voltando a olhar para baixo. Era visível que ele estava fazendo força para se manter calmo e sem emoção.
- Mas, quanto a Lílian, o assunto é outro, não é? Dumbledore completou.
- O senhor tem que mantê-la a salvo. Eles têm que ser avisados.
As mãos de Severo apertavam a beirada da mesa do diretor, como garras, as articulações dos dedos pálidas, na única demonstração de sua angústia. Dumbledore manteve-se em silêncio por um instante, antes de continuar:
- É bem diferente, não é? Quando os cadáveres são pessoas com quem a gente se importa...
Severo prendeu a respiração, e, por um momento, apertou ainda mais a ponta da mesa. Depois, num repente, levantou-se, com os cabelos chacoalhando sobre seu rosto.
– Bom, eu já falei tudo o que eu tinha para falar. É tudo o que eu sei sobre esse assunto. Ele ainda não sabe onde os Potter estão, mas todos os Comensais estão procurando. É isso.
- E agora, Severo? O que você vai fazer? Vai voltar ao seu Mestre?
- Ah, sim, com certeza. Talvez vá direto daqui. O senhor pode mandar esterilizar a cadeira quando eu sair. – Severo não pôde evitar a resposta sarcástica, enquanto se virava em direção à saída.
- Não é tarde demais, Severo, você sabe... Dumbledore disse, com voz suave.
Severo ficou paralisado ao ouvir isso. Virou-se para Dumbledore, com um misto de horror e perplexidade.
- O senhor é inacreditável! O que o senhor esperava? Alguma grande confissão? O senhor, por acaso, achou que eu entraria aqui e cairia de joelhos pedindo perdão pelos meus erros? O senhor esperava minha declaração de arrependimento?
- Você se arrepende?
- E, por acaso, o senhor ao menos se importa? Ora, por favor... Não tente, nem por um instante, me fazer acreditar que o senhor se importa! Eu sei que o senhor me despreza.
- Mas com certeza eu me importo! Nunca o desprezaria, Severo!
Dumbledore ficou em silêncio, encarando-o com tristeza.
Severo, um pouco mais controlado, continuou, com um sorriso amargo:
- O senhor sabia que eu sou um dos favoritos do Lorde das Trevas? É, é verdade... Ele diz que sou um dos bruxos mais talentosos que ele já conheceu... Isso é uma das coisas que me agrada, de verdade. Alguém, finalmente, reconhece que eu tenho talento, valor...
“...além da Lílian Evans”, ele completou, em pensamento.
- Severo, eu já vi outros se orgulharem de você!
- Quem, o velho Slug? Ah, ele só estava interessado no meu desempenho escolar. “O aluno brilhante em poções”... Mas ele nunca se importou comigo, de verdade.
- E você acha que o seu Mestre se importa com você? Você acha que ele é capaz de gostar, de realmente se importar com alguém?
Severo ficou em silêncio e baixou novamente os olhos. Depois de alguns instantes, respondeu, em voz baixa.
- Gostar… O que é gostar? O amor é uma fraqueza.
- Ah, é? Então por que você está aqui?
Não houve resposta.
- Então, eu volto a repetir. Não é tarde demais.
Severo voltou a encará-lo, arregaçando a manga da sua veste.
- Ah, não… agora já É tarde demais. Está vendo isso? – Ele disse, apontando para a Marca Negra tatuada no braço. – O senhor sabe o que isso significa? Eu fiz um juramento, isso foi tatuado a fogo, envolto em magia, arte das trevas... Eu estou ligado a ele. Para sempre. Até a MORTE!
Dumbledore encarou-o, os olhos azuis faiscando por trás dos oclinhos em meia-lua, e perguntou:
- Severo, eu só preciso saber de uma coisa: você ainda acredita nos ideais de Voldemort ? Você ainda concorda com os planos dele? Porque, me corrija se eu estiver enganado, mas me parece que os seus sentimentos mudaram um pouco, não é? Talvez, quando você era mais novo, quando você ouviu a propaganda do grande Lorde das Trevas pela primeira vez … você pode ter acreditado. Quando você estava muito infeliz, pareceu a solução, não é? Ele é sedutor, sem dúvida. E a promessa de poder é muito atraente. Eu conheço sua família, sua casa. Eu sei que a vida não foi fácil para você. Então, foi fácil ser convencido. Mas a realidade é bem diferente do que você imaginava, não é? Talvez você já esteja cansado disso tudo...

Severo não disse nada. Primeiro, encolheu os ombros, tentando aparentar indiferença à pergunta. Mas, em seguida, concordou com a cabeça, parecendo esgotado.
- A verdade, professor, é que eu estou exausto. Conheci o poder, a riqueza, tudo aquilo que eu achava que eu queria... Mas continuei vazio por dentro. A simples idéia de que a Lílian está em perigo fez voltar tudo aquilo que eu achava que tinha conseguido destruir dentro de mim. E o que o Lorde das Trevas faz, tudo o que ele pretende fazer, não faz mais sentido para mim.
- E você acha que ele desconfia disso?
- Não.
Dumbledore, então, fechou os olhos, muito concentrado.
- Então... Pode haver uma saída. – Depois de uma pequena pausa, ele continuou, como se estivesse pensando alto. – Os seus poderes em Oclumência são extraordinários...
- É, são mesmo, não é? - Severo sorriu, arrogante.- O senhor não consegue saber se eu estou dizendo a verdade ou não, não é? Porque eu posso bloquear sua Legilimência, o senhor não consegue ver nada da minha mente...
- Mas, e o Tom? Ele conseguiria?
- Não. Eu posso bloqueá-lo do mesmo jeito que consigo com o senhor.
- Ótimo! Então, e se, vamos dizer… E se ele lhe pedisse para vir aqui falar comigo?
- Pode ser que ele já tenha mandado... Severo respondeu, desconfiado. -Quando contei a ele sobre a minha primeira entrevista de emprego... Bem, contei que o senhor não conseguiu penetrar minha mente. Só por isso ele já ficou satisfeito, me mandou voltar e insistir... Ele ainda espera que eu venha trabalhar aqui, espione o senhor para ele...
- Perfeito, então! Volte, conte a ele que esteve comigo, que eu reconsiderei e que eu aceitei o seu pedido de emprego.
Severo encarou-o como se ele fosse completamente maluco.
- O senhor não está entendendo? Ele quer que eu espione Hogwarts, espione o senhor para ele. Ele me quer como seu agente, infiltrado aqui em Hogwarts! Com os alunos!
- Sim, eu entendi perfeitamente. E é exatamente isso que você será, pelo menos no que constar para ele.
A expressão de Severo se alterou com a compreensão do plano.
- O senhor está me pedindo para ser... uma espécie de... agente duplo?
- Sim.
- Isso é loucura! E o senhor não precisa disso. A Ordem já tem gente espionando junto a ele, não tem?
- Ninguém tão ligado a ele, ninguém com a sua influência junto a ele... E, se eu posso acrescentar, ninguém tão inteligente.
- Ah, não, por favor, nem tente esse tipo de jogo de sedução. Esse é o tipo da coisa que ELE falaria.
- Mas é verdade.
Severo não respondeu.
- Então, quer dizer que você veio aqui hoje só para me avisar sobre Lílian e o bebê. E o que pretendia fazer em seguida, fugir?
De novo, nenhuma resposta.
- Com certeza, você pode fazer mais do que isso, Severo! Você mesmo admitiu que gostaria de impedi-lo, de fazê-lo parar...
- Não, professor, eu só estou cansado. Eu não sei se alguém pode fazer isso...
- Mas você mesmo ouviu a própria Profecia que diz que alguém pode.
- Ah, não... um bebezinho?
- Bem... Ele não vai ser um bebê para sempre, não é?
Isso fez Severo lembrar o motivo da sua ida até Hogwarts. A angústia, ao pensar em Lílian, voltou
- Por favor, proteja a Lílian. É tudo o que eu peço, é tudo o que eu preciso. Eu não sou bonzinho, não sou altruísta. Só…
- Ama. E é isso que me faz ter a certeza de que não é tarde demais para você, Severo. Pense na Lílian. Ela está em perigo por sua causa. Você deve isso a ela, para ajudar a protegê-la. E ao bebê.
Severo piscou, imóvel, incapaz de dizer alguma coisa. Percebendo o efeito, Dumbledore continuou, animado:
- Venha lecionar, então, a partir do próximo mês! Só não poderá ser Defesa contra as Artes das Trevas. Muitos já suspeitam das suas ligações, eu estaria colocando você em perigo nessa posição. Como você sabe, o Professor Slughorn gostaria de se aposentar. Tenho certeza de que ser professor de Poções é um cargo perfeito para o seu talento na área! E, com certeza, é muito mais seguro para você.
Não muito contente com a proposta, mesmo assim, Severo acabou concordando. Aproximou-se do diretor, estendendo a mão.
- Certo, então. Eu aceito.
- Ótimo! Antes que você vá, só mais uma coisa.
- O que, senhor?
- Por favor, Severo, me perdoe.
Severo parou, mas continuou em silêncio, esperando. Dumbledore parecia triste e envelhecido quando continuou:
- Eu falhei com você. Por favor, me perdoe. Eu não demonstrei o quanto valorizava você, não o protegi. Mas, você pode ter certeza de uma coisa, Severo: eu nunca julguei mal você, não importa o que você pense.
Severo não se moveu. Dumbledore percebeu que ele próprio nem respirava, na expectativa, observando aquela figura de longos cabelos oleosos, vestes negras e manto puído. Depois de uma longa pausa, o rapaz à sua frente disse, ainda sem se mover, as vestes tremendo um pouco.
- O senhor não precisa se desculpar, Professor. As coisas são como são.
Ele começou a caminhar na direção da saída, mas então voltou-se mais uma vez:
- Eu vou organizar minhas coisas e voltarei para o início do ano letivo. Mas só lhe peço mais uma coisa.
- O que, Severo?
- Nunca, ninguém poderá saber o motivo de eu ter vindo e aceito voltar. O motivo de eu ter traído o Lorde das Trevas. Tenho certeza de que ninguém, nem mesmo a própria Lílain, nunca desconfiaram... do que eu sinto. Odiaria fazer papel ridículo.
Dumbledore olhou-o com carinho.
- É claro. Isso é um assunto que só diz respeito a nós dois.
Severo acenou em concordância, e em seguida saiu da sala. Rapidamente ele desapareceu nas sombras do corredor.
Dumbledore continuou em silêncio, olhando para a porta enquanto esta se fechava sozinha.
- Você podia ter sido um pouco mais suave com ele. Podia ter mostrado um pouco mais de simpatia. – Dilys falou, do seu retrato na parede.
- Você acha? Não, ele não teria aceito. Não agora, pelo menos. Ele é um garoto cheio de ressentimento.
- Então, quer dizer que você acredita nele? Phineas Black perguntou, asperamente, do seu quadro.
- O que você acha?
- Ah, com certeza. Quando a raiva toma conta do rapaz, ele perde completamente o controle. Não sei como Voldemort não percebeu isso ainda.
- Eu acho que eu tenho um certo efeito sobre ele. Sim, a raiva, mas, principalmente, a angústia, a devoção ao seu amor, que são transparentes nele, me fazem acreditar. Se ele tivesse se mantido controlado, sem emoção, como é a sua postura habitual, eu não teria acreditado em nada do que ele disse.
- Perfeitamente. – Phineas concordou, com olhar astuto.- Mas e depois? Você acha que vai poder confiar nele daqui por diante, independente do que aconteça?
- Ainda não sei. Mas algo me diz que sim.
Dumbledore acenou com a cabeça na direção da fênix, na gaiola sobre a mesa. Fawkes, a bela ave, do tamanho de um cisne, com plumagem vermelho e dourada, estava, sem a menor sombra de dúvida, chorando.

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Aê, galera, espero que gostem desse capítulo. Aposto que dei o maior susto em vocês naqueles diálogo Lílian e Snape, né? Eu me diverti pra caramba escrevendo esse pedaço, tenho que confessar... Fiquei imaginando o povo lendo e achando que eu fiquei completamente maluca, o nosso Harry ser filho do Snape? Irc! Risos... O diálogo com Dumbledore foi um parto pra escrever. Não quiz fazer nada muito meloso, fácil, óbvio. Acabou ficando meio dark, desculpem. E acabou ficando meio Growp, como diz a Belzinha (ou é a Sally?... risos) Sorry... mas não dava pra diminuir o diálogo, nem separar. Deixei os meus comentários pra depois, de propósito, pra manter o "clima" do capítulo desde o início. Agora, vamos lá:

Belzinha: menina, obrigada pelos elogios! fico até encabulada... estou adorando seus comentários, a escolha das passagens que você mais gostou. Obrigada mesmo, viu?
Sally: ah, sem palavras... adorei seu comentário! Obrigada pelos elogios! sim, eu vejo um paralelo entre os perigos que esse bebezinho Potter está correndo e o seu fofinho... aguarde, nos próximos capítulos vai dar pra notar ainda mais as semelhanças... ;-) Aliás, de novo, já disse lá na sua fic mas vou repeitr, adorei o capítulo novo, com a "bolinha de cabelos vermelhos e macacão verde"!!! Beijão!
Bernardo: super obrigada por vir ler e comentar minha fic!! Com certeza vou ler a sua outra. Quanto ao Snape, eu concordo com você que ele não é um personagem "gostável" de verdade. Como ele mesmo diz neste meu capítulo, ele não é bonzinho, nem altruista. Ele é egoista, rancoroso, orgulhoso. E é um traidor. Mas ele é muito mais complexo do que parece à primeira vista. E é isso o que eu achei interessante explorar. Obrigada pelos elogios!

Bom, a todos que passarem por aqui e lerem, por favor: COMENTEM!! Critiquem, pixem, elogiem...qualquer coisa, eu adoro comentários!! Beijão pra todos!
Até o próximo capítulo!!


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