O CABEÇA DE JAVALI



Era uma noite fria e chuvosa em Hogsmeade. A rua estava deserta e apenas um homem caminhava apressado na direção do Cabeça de Javali. Em qualquer outro lugar, a figura dele seria completamente insólita. Era alto, magro, com cabelos e barba prateados, tão longos que daria para amarrar no cinto. Usava vestes longas, debaixo da capa de viagem. Seus olhos incrivelmente azuis cintilavam por trás de óculos em meia-lua, apoiados sobre o nariz longo e torto. Mas ali ele não era exótico, pelo contrário. Lá ele era muito conhecido. Seu nome era Alvo Dumbledore, e ele era o diretor da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts.
Abrindo a porta da estalagem, ele deixou o frio e a umidade para trás, dizendo, sorridente:
- Boa noite! Eu tenho um encontro marcado com a Senhorita Sibila Trelawney...
Uma figura feminina emergiu das sombras do salão. Era muito magra, e Dumbledore não saberia dizer sua idade. Uns óculos enormes aumentavam seus olhos várias vezes, dando-lhe uma aparência de mosca gigante. Seus cabelos muito crespos eram discretamente enfeitados por um lenço, e em volta do seu pescoço usava inúmeras correntes e colares de contas. Com uma voz meio etérea, ela sussurrou:
- Muito prazer, professor... é muito bom vê-lo no mundo físico finalmente. Vamos subir aos meus aposentos. Acho que me misturar à roda-viva das multidões no Salão anuvia a minha visão interior...
Dumbledore não pôde deixar de sorrir, observando o Salão deserto. Mas preferiu não fazer comentários e apenas segui-la. Viera entrevistar a candidata a professora de Adivinhação num gesto de cortesia, por tratar-se da trineta de uma famosa vidente, muito talentosa, Cassandra Trelawney. Mas ele, pessoalmente, que nunca estudara essa matéria na escola, tinha sérias dúvidas quanto à sua utilidade.
Depois de abrir a porta do pequeno cômodo, Sibila fez um gesto amplo com a mão cheia de anéis e disse no mesmo tom de voz sussurrante de antes:
- Sente-se, sente-se.
Acendeu algumas velas perfumadas e pegou a sua bola de cristal de dentro do armário, enquanto explicava:
- Como o senhor deve saber, é um dom concedido a poucos, esse que tenho... A Visão Interior pulou várias gerações na minha família... Mas eu me sinto no dever, sinto que é minha missão sublime, tentar ensinar os métodos básicos da Adivinhação às novas gerações. Sem dúvida a matéria mais importante que um bruxo deve aprender... embora, como disse, considero que muitos bruxos e bruxas talentosos em outras áreas nunca conseguem penetrar nos mistérios do futuro...
Dumbledore escutava com atenção educada, porém em seus pensamentos já pensava numa desculpa sutil para dispensá-la.
- A vidência com a bola de cristal é uma arte particularmente requintada, por isso pensei em fazer essa demonstração começando por ela. – explicou Sibila, de modo condescentedente, enquanto olhava fixamente para a bola de cristal, com cara de grande concentração:
- Eu vejo aqui... o senhor tem um inimigo, um inimigo mortal.
Dumbledore apenas acenou em concordância, mantendo uma expressão muito séria.
- Vejo perigo em seu caminho... Hmmm, sim... sim... mas também está cercado de amigos. Gente de sua confiança. Seguidores. Ah, claro... muitos jovens.
Ela batia com o indicador de leve em um ponto indeterminado da bola à sua frente, como a garantir de onde tirava cada interpretação. Depois de um suspiro, continuou:
- O senhor é um bruxo muito inteligente, talentoso e respeitado... irá fazer muitas viagens, e muitas descobertas importantes.
Dumbledore olhou discretamente para o seu relógio de doze ponteiros, e achou que já era uma boa hora para concluir a conversa.
- Cara Senhorita Trelawney... eu sinto muito, mas a Escola... o conselho, a revisão do currículo, a senhorita deve entender... temos dúvidas se iremos manter a disciplina de Adivinhação como parte do currículo atualizado de Hogwarts.
Sibila agora encarava o professor com um ar tão desamparado, que ele não teve coragem de concluir a frase, devolvendo-lhe um olhar bondoso. Ela deu um suspiro, e Dumbledore, achando que tinha sido entendido, levantou-se aliviado, apanhou sua capa e virou-se para se despedir. Mas, para seu espanto, a vidente estava dura na cadeira, com olhos desfocados, aparentando um transe. De sua boca frouxa saiu uma voz rouca, completamente diferente da anterior:
- Aquele com o poder de vencer o Lorde das Trevas se aproxima... nascido dos que o desafiaram três vezes, nascido ao terminar o sétimo mês... e o Lorde das Trevas o marcará como seu igual, mas ele terá um poder que o Lorde das Trevas desconhece... e um dos dois deverá morrer na mão do outro pois nenhum poderá viver enquanto o outro sobreviver... aquele com o poder de vencer o Lorde das Trevas nascerá quando o sétimo mês terminar...
Seus olhos giravam enquanto falava, e assim que terminou a sua cabeça pendeu sobre o peito. Dumbledore ainda não tinha se recuperado do espanto quando ouviram uma grande agitação do lado de fora, tirando Sibila do transe.
- Desculpe, professor, devo ter cochilado. Não tenho me alimentado muito nesses últimos dias, sinto-me um pouco fraca...
A porta do quarto se abriu com um estrondo. Aberforth trazi, pego pelo colarinho, um velho conhecido do Diretor. Alguém que ele não via há muito tempo, e de quem as notícias que tinha o entristeciam muito: Severo Snape. Snape tinha sido aluno de Hogwarts, tendo se formado há quase 3 anos. Um aluno brilhante, dono de uma inteligência e um talento incomuns. Porém, ele acabara escolhendo o caminho do poder fácil, aliando-se aos Comensais da Morte, os seguidores de Lorde Voldemort, o bruxo mais maligno que jamais existiu.
......

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