Mais do mesmo



Hermione estava saindo, empertigada, quando sentiu duas mãos fortes a puxando para trás.
- Só isso, Granger?- Draco ria.- Nem um berro, nem um tapa? Você deve estar mesmo mal.
A garota o encarava confusa, enquanto ele ria e a sentava.
- Já jantou?- sem parar de rir, ele perguntou.
Ela fez uma negativa com a cabeça. Os olhos do rapaz, naquele cinza nublado, já não estavam tão frios. Ele realmente parecia estar se divertindo muito de alguma coisa, que parecia ter escapado à sabe-tudo.
Draco a deixou só, enquanto ia mandar o elfo doméstico preparar algo para ela comer. Garota estúpida - ele pensava - Com tanta mulher bonita se jogando em cima de mim, está louca se acha que vou servir de consolo pras bobagens do Potterzinho.
Hermione pôde sorrir um pouco. Ele estava só brincando... Deve estar tudo bem então. Estava aliviada, pois apesar de ter achado estar decidida, descobriu que não tinha tanta certeza assim. Ela tentava ignorar uma pequena parte de si, que estava decepcionada.


Ron observava Harry, preocupado. O amigo estivera calado o dia inteiro, com o olhar perdido. Ele bem que compreendia o amigo, afinal conseguira arrancar (quase que à força) o que havia acontecido entre ele e a Hermione na noite anterior, e imaginava que a situação não era nada fácil.
Uma coisa era namorar uma amiga, como acontecera entre ele e Hermione quando eles eram adolescentes. Afinal, os dois se gostavam e haviam sido sinceros um com o outro a maior parte do tempo. Pois bem, mas uma coisa foi ter um namoro, com começo, meio e fim bem determinado, onde nenhum se sentiu enganado e a amizade continuou, forte e estável, depois. Mas no caso do Harry... Podia imaginar como a Hermione estava se sentindo. Desta vez, nem podia jogar a culpa em cima da garota, dizendo que ela era sensível, implicante e essas coisas. Ninguém gosta de se sentir enganado por alguém de quem gosta. Ron suspirou. Ele sabia o quanto doía imaginar que não se significa nada para a pessoa de quem se gosta, nem mesmo a consideração de uma carta.
O ruivo colocou as pernas sobre o sofá, abraçando os joelhos, com os olhos apertados por uma lembrança dolorida. Na verdade, talvez estivesse mais propenso a ficar ao lado da Hermione naquele momento, do que ao lado de Harry. Compadecia-se mais com o sofrimento da amiga, ele que sabia há tanto tempo o que ela sentia pelo Harry, podia imaginar a alegria com a qual ela dormiu depois de ter ficado com ele, para acordar com uma verdadeira facada daquelas. Não que ele tivesse raiva de Harry, mas entendia melhor a Mione. Só quem já se sentiu trocado, humilhado por alguém de quem gosta entende o quão fundo isso machuca.
No geral, as pessoas diminuem esse sentimento, como infantil. “Isso passa”, dizem. “Ninguém morre de amor”, repetem todo o tempo. Ron sabia que não matava, mas sabia também o quanto feria. Os olhos brilharam forte, algumas lágrimas se acumulando. Parecia que podia sentir o vento cortante nas bochechas, e o barulho infernal daquele trem indo embora. Jamais esquecera aquele momento, ele ainda o assombrava a noite, às vezes. E nunca mais ele conseguiu entrar em uma estação de trem sem pensar nela, no porquê ...

- Ron? RON! – Harry o chamava.
O rapaz balançou a cabeça, voltando para a realidade. Não estava naquela estação de trem, embora jurasse sentir a face fria. Estava no sofá da casa do Harry, e ele estava lhe dizendo alguma coisa.
- Que Harry? – Ron se arrumou no sofá, ainda meio tonto pelas lembranças.
Harry gaguejou um pouco, talvez envergonhado.
- O que você faria se estivesse no meu lugar?
- Bom cara, sei lá. Mas você já passou tempo demais pensando, não? Eu só sei que tem duas garotas esperando por uma explicação sua, e se você não quiser bancar o cafajeste, é melhor fazer algo.
Ele se levantou e calçou os sapatos que estavam jogados pelo chão. Também era hora dele fazer alguma coisa ao invés de ficar remoendo caraminholas na cabeça.
- Mas faz alguma coisa, cara. – Ron voltou-se para ele, enquanto vestia o casaco. – Nada vai fazer elas se sentirem pior do que se você aparentar indiferença.
E o ruivo saiu. Harry enfiou a cabeça debaixo de uma almofada, rezando para virar uma avestruz.


Hermione comia na enorme mesa da sala de jantar da mansão dos Malfoy. Não que tivesse fome, mas mastigava e engolia sistematicamente pedaços generosos da refeição, para livrar-se logo dela. Draco estava em algum lugar daquele casarão imenso, fazendo Merlin sabe o quê. Ela batia o garfo de quando em quando no prato, fazendo uma musiquinha triste e monótona, que ecoava na sala de teto alto.

Draco estava diante da lareira, tentando falar com alguém.
- Harry Potter, Grimmauld Place Nº 12.

Droga – ele pensava – Será que o endereço está errado? Era difícil ter certeza, afinal o lugar era mais um esconderijo do que uma casa, não dava pra consultar no catálogo bruxo. Ele suspirou. Ou então o idiota estava em outro lugar. Para onde um bebê chorão como ele podia correr, depois de ter aprontado alguma coisa? Porque deve ter aprontado alguma feia, para a santinha da Hermione ter chegado lá quase se jogando em cima dele.
- Só pode ter ido se esconder na Toca dos pobretões, onde com certeza vão passar a mão na cabeça oca dele.
Ele virou-se novamente para a lareira, com um novo endereço em mente.

- Residência dos Weasley.

Dessa vez, ele pode ver um contorno feminino jovem se formando nas chamas esverdeadas. A Weasleyzinha, Ginny havia atendido ao chamado da lareira.
- MALFOY? – ela não conseguiu controlar o espanto quando viu que era ele.
- Calma, garota, não tenha um enfarte. – ele sorriu debochado. – Claro que não é todo o dia que se tem o prazer de falar comigo, mas seu coraçãozinho pode não suportar...
- Nem nos seus sonhos mais delirantes, Malfoy. – a ruiva respondeu com desprezo. – Por que você incomoda?
Draco teve vontade de mandá-la se danar, mas segurou-se.
- Escuta, o Potter está aí?
Ginny o encarou um pouco, antes de responder mal-humorada.
- Não ta não. Era só isso?
Draco segurou-se novamente. Molequinha petulante, que vontade de enfiar a mão nela.
- E o seu irmão? O jogador de quadribol, ele está aí?
- Não, não ta não. E o que você quer com eles?
- Eu não quero nada! – Draco quase gritava. – Só estou fazendo o favor de procurar o Sr. Maravilha, pra saber o que diabos ele aprontou com a Granger, para ela chegar aqui do jeito que chegou!
- A, a Mione está aí? – Ginny esqueceu-se por um momento da antipatia que nutria por Malfoy, por preocupação com a amiga.
- Está.
- E ela está bem?
- Ta viva. Mas ta estranha pakas.- Draco resolveu acabar com a conversa. – Então ta, Weasley, se o Potter aparecer aí, e se ele quiser saber onde está a amiga dele, fala que ela está aqui e que ele pode vir buscar ela se quiser...
- ... Se a Mione quiser ir com ele, né... – Ginny completou, pensativa.
Draco se interessou imediatamente.
- Você sabe o que aconteceu?
- Sei. Mas não posso te contar. Pergunta pra Mione, ela conta pra você.
- Ta, ta. Tchau.
- Malfoy, espera.
- Que foi?
Ginny hesitou um pouco, mas decidiu completar.
- Cuida da Mione, ta? Ela deve ta gostando muito de você, pra ter te procurado. Afinal, ela tem muitos amigos, de bem mais tempo, mas escolheu pedir a sua ajuda.
Draco riu de lado.
- Ta certo. Não vou morder ela. Tchau.
- Tchau.
Draco gargalhou. Ela deve ta gostando muito de mim? É que eu sou um cavalheiro, do contrário contaria o que ela tem muito por mim... Ela pode até ter muitos amigos, mas ia se jogar na cama de quem? Do Longbottom?

Harry finalmente levantou a cabeça do sofá. Tinha os olhos avermelhados pelo choro. O tempo estava passando, e logo chegaria o horário que tinha marcado com Marian. Ou será que o horário já havia passado? Ele não tinha muita certeza.
Foi em direção à lareira, mas mudou de idéia. Não teria coragem de olhar nos olhos da garota e confessar toda a confusão que tinha armado. E se não fosse claro, cometia o segundo erro, de deixá-la acreditando que tudo estava bem. Sua tia Petúnia às vezes assistia à novelas trouxas, que sempre tinham enganos no gênero. Não, era melhor escrever.

Querida Marian

- Não, querida não é bom. – Harry mordeu a ponta da pena. – Não posso ser bruto, mas também tenho que ser claro.

Marian,

Sinto muito ter que te escrever está carta, mas tenho que ser sincero. Acho que fui precipitado na minha carta anterior. Não me entenda mal, você é maravilhosa, mas acho que ainda não estou certo o suficiente dos meus sentimentos para começar um relacionamento. Se puder, me perdoe, sobretudo por não ter te dito isso pessoalmente. Como já te disse, sou um covarde com as mulheres.

Harry.


Ele ficou segurando o pergaminho diante dos olhos. Estava uma droga. Aquilo era muito menos do que a Marian merecia, depois de ter sido incluída naquela confusão toda. Ele suspirou. Gostaria de tratar Marian com a consideração que ela merecia, mas no momento estava mais preocupado com a Hermione. Ela, mais do que ninguém, merecia uma explicação.


Hermione já havia terminado de comer, mas continuava batendo com o garfo no prato, apenas para fazer barulho. O silêncio daquele lugar fazia a mansão parecer uma tumba. Terrível como sua mente lhe pregava peças, trazendo à tona apenas as lembranças que a faziam sofrer. Merlin! A noite havia sido tão boa! Por que acordara? Ou melhor, por que sonhara? Por que havia sonhado ter algo com o Harry... Maldito Malfoy! Se não a tivesse obrigado a admitir... Talvez toda aquela confusão não tivesse acontecido.

- Essa porcelana é legítima, senhorita Granger. – Draco sussurrou no ouvido dela, fazendo-a se arrepiar. – Se quebrar o prato, vai passar a vida inteira para pagá-lo.
Hermione o olhou de soslaio, envergonhada por saber que ele tinha percebido que a fizera estremecer. Ele sentou-se numa cadeira próxima, com as mãos nos bolsos, olhando para o teto.
- Por que você voltou a me chamar de Granger? – Mione não o olhava, mas sim para o tal prato de porcelana.
Draco a encarou divertido.
- Porque eu quis, oras. Alguma reclamação a respeito?
Ela deu de ombros.
- Apenas prefiro Hermione.
- Pois agora que vou te chamar de Granger mesmo. – ele riu, mas sem vontade. – Escuta, eu não sou bom nessas frescuras todas de amizade e essas coisas. – ele estava olhando para o lado oposto ao de Mione. – Se você quiser conversar com alguém sei lá, com a Weasley, eu posso te dar uma carona. – ele coçou de leve o nariz, pensando que ela poderia aparatar onde quisesse, o que fazia da sua carona inútil.
- Draco, será que eu posso ficar um pouco aqui?
- Se quiser, fica. – ele brincava com a toalha da mesa. – Só não vai começar a chorar aqui e inundar tudo. – ele ergueu os olhos. – o tapete é persa, tem que ser lavado a seco.
Hermione mostrou a língua, antes de bronquear.
- Seu idiota. Se eu fosse depender do seu apoio...
- E você esperava o quê? Eu sou o Malfoy, lembra? Não tenho vocação para terapeuta. Por isso disse, que se você precisar de alguém mais sensível...
- Não, deixa para lá. Na verdade, eu nem tenho mesmo com quem conversar.
Draco riu alto.
- Justo você? O orgulho grifinório? Achei que vocês tinham milhares de amigos, que chateavam aleatoriamente... Nós, os sonserinos que somos os isolados, não era isso?
- Ah, cala a boca! – ela se permitiu rir um pouquinho, mas depois ficou séria novamente. – Eu tenho muitos amigos sim, seu idiota. Mas todos os meus amigos são amigos dele também. Não posso desabafar com eles, sem ouvir um “mas tenta pensar no lado dele, Mione”.
A garota fez uma careta de desgosto, mas Draco novamente sorriu.
- Devo interpretar que o “dele” se refere ao Potter?
Diante da afirmativa da Hermione, ele continuou.
- Por que não disse logo? Eu posso muito bem ouvir horas e horas sobre o Cicatriz, contanto que seja para falar mal dele.
Draco se ergueu, e puxou Hermione pela mão. A levou para a frente da lareira, na biblioteca, no mesmo lugar onde alguns dias antes os dois haviam se beijado... Acendeu o fogo com a varinha, e pediu licença.
Meio sem graça, Hermione ficou ali, olhando o fogo. Não devia ter dito que queria falar mal do Harry, mas, na verdade, era aquilo que ela queria sim. A conversa com a Ginny não tinha a aliviado de tudo, porque ficava aquela coisa de “vamos deixar tudo bem”... E naquele momento em específico, ter consideração com o Harry não era bem o que ela queria fazer.
Draco voltou em um instante, com uma garrafa de alguma coisa e duas taças.
- O que é isso? – Hermione perguntou?
- Vinho, sua tonta. E não vem me encher, porque já somos maiores de idade, ok?
- Ok... – talvez um pouco de vinho viesse bem a calhar mesmo...
Draco tirou os sapatos e sentou-se em frente a lareira. Encheu as duas taças entregando uma a Hermione.
- Pronto, Granger, pode desabafar.
Ela começou a falar, mas engasgou. Ficou vermelha e não disse mais nada.
- Ah pelo amor! Fala logo, o que ele aprontou? Ele te violentou ou algo assim?
O rapaz estava brincando, mas ela engasgou com o vinho e precisou de ajuda para recuperar o fôlego. A simples suspeita de que Harry fosse capaz de algo assim era terrível demais. No entanto, Draco encarou de outra maneira a reação dela. Ele a estava segurando pelas costas, para ampará-la depois do engasgo. Os olhos que antes estavam divertidos ficaram duros e frios.
- Hermione, ele fez algo que você não queria?
A entonação na voz dele a assustou. Só o havia visto com aquela raiva contida na voz durante a guerra contra Voldemort, quando ele havia trocado de lado. Ela fez que não com a cabeça, mas continuou calada.
- Fala pra mim, Mione. Ele te forçou a alguma coisa?
- Não. Não. Não me forçou a nada. – ela conseguiu enfim dizer, mesmo que com a voz vacilante.
Imediatamente Draco se afastou e foi beber da sua taça, antes de perguntar.
- Então você fez porque quis?
Hermione pode enfim sorrir um pouco. Malfoy era mesmo um pervertido, para ele tudo tinha que envolver sexo.
- Sim, eu fiz porque eu quis. Mas só o que fizemos foi nos beijar.
- Bom, - Draco a olhava por cima do ombro.- Qual foi o problema então? Era o que você queria, não era?
- Ah Draco, não sei. Olha, o que houve foi...
E Hermione resumiu, o melhor que pôde, o fim de semana. Não quis entrar em detalhes, uma para não ter que revivê-los, e outra porque achava meio estranho ficar contando dos beijos, ou da noite que passou na cama com Harry, para o cara com quem ela trocava alguns beijos bem quentes.
Draco ouviu tudo calado, com o semblante impassível. Quando ela terminou, ele respirou fundo.
- É agora que eu te ajudo, falando mal dele?
- Draco! Sei lá...
- Ta, ok. O cara é um idiota. Ele pode ser seu amigo e blá-blá-blá, e etc, mas é um idiota e ponto. Ele pode até ser o Sr. Maravilha, mas ainda parece o garoto de Hogwarts, que ficava vermelho só de olhar praquela corvinal...
- A Chang?
- É. – ele se calou. – Ta, e o que você acha de tudo isso?
Ela se espantou um pouco com a pergunta, mas decidiu respondê-la.
- Não sei. Passei coisas demais ao lado do Harry, para odiá-lo agora. Ele ainda é uma pessoa pela qual eu daria a minha vida...
- Mas...?
- Mas não estou gostando muito dele agora. Sei lá...
- Como homem?
- É, eu sei que devo muito a ele, mas no momento não consigo deixar de pensar no quanto está doendo.
Draco voltou a olhar para o fogo, bebendo mais do vinho. Hermione fez a mesma coisa. Alguns minutos se passaram, antes que ele falasse novamente.
- Bom, acho que é natural. Ele pode ser seu amigo, mas magoou a mulher em você. Ou sei lá, já disse que não sou bom com essas frescuras de amizade.
Hermione acabou rindo alto, meio alegre pelo vinho. Não costumava beber álcool , e parece que já estava sentindo o efeito. Meio que deitou sobre o braço, e Draco a imitou.
- Eu só queria que a dor passasse...
- Vai passar. Tudo passa.
Em silêncio, Hermione virou mais duas taças de vinho, fazendo uma pequena careta. O ligeiro torpor do vinho diminuía a vergonha que sentia de Draco, e deixava a opressão em seu coração mais distante... quase como se tivesse acontecido com outra pessoa.
- Draco?
-Quê?
- Você é tão bonito, sabia?
- Sabia. – ele respondeu prontamente, mas corou um pouco.
- Por que você tinha que ser um escroto desprezível? Se tivesse sido mais legal antes, talvez eu tivesse me apaixonado por você...E nada disso teria acontecido.
- Coisa pior teria acontecido, Hermione. – ele respondeu com sinceridade. – Eu sou um canalha.
- Você teria me beijado um dia depois de ter pedido outra em namoro?
- Não, claro que não. – ele riu debochado- Eu teria te levado pra cama, depois de ter pedido outra em namoro. Não ia perder tempo só com beijos.
- Mas você não quis transar comigo hoje quando eu pedi.
O vinho falava, obviamente.
- Não eu não quis mesmo. Sou bonito e bom de cama demais pra me sujeitar a dormir com uma mulher que está pensando em outro.
-Mas se a situação fosse outra, você transaria comigo?
Draco riu, afastando uma mecha de cabelos castanhos que tinha caído sobre os olhos da garota.
- Com certeza. E acho que você bebeu demais.
- Não sou acostumada a beber, sabe... Mas estou me sentindo bem agora.
- Então é melhor parar por aí, senão daqui a pouco começa a vomitar, e vai acordar de ressaca.
- Draco?
-Quê?!
- Você transaria comigo agora?
- Não. Vocês podem pensar o que for de mim, mas eu não abuso de garotas bêbadas.
- Mas me beijaria? Afinal, já me beijou sóbria...
- Só se você pedisse. Também tenho meu orgulho sabe...
- E o que tem orgulho com isso?
- Ué, você só quer me beijar pra dar o troco no Potter.
- Não! – meio sem prumo, ela balançava a cabeça e os braços, fazendo que não.- Eu só quero te beijar, porque você beija bem.
Malfoy sorriu, e foi aproximando os lábios dos dela, sentindo o cheiro suave do vinho e vendo as pequenas marcas escuras nos olhos castanhos. Infelizmente, o elfo doméstico bateu na porta bem naquele momento, quebrando a concentração de Draco. Sem se mover, o rapaz gritou:
- Vá embora, estou ocupado.
- Desculpe, senhor Malfoy. Mas um certo senhor Weasley insiste em falar com o senhor. – respondeu timidamente o elfo.
Draco soltou um grunhido, antes de se levantar, ajudando Hermione a fazer o mesmo:
- Vamos, Cinderella, parece que deu sua hora, a carruagem veio te buscar. Infelizmente, você vai ter que esperar um pouco mais pelo seu príncipe.
A amparando, ele foi até o hall, onde Ron o esperava. Ele se assustou quando viu a amiga cambaleante.
- Mione! O que você tem? Ta passando mal?
- Calma, Weasley. Ela só bebeu duas taças de vinho e ficou assim.
Ron encarou Draco por um momento. Não gostava nem um pouco daquele sujeito, e não entendia mesmo porque a Mione tinha ido procurá-lo. Quase teve um ataque quando Ginny lhe contou que a Hermione estava lá com o Malfoy. De qualquer forma, aquilo não importava no momento.
- Eu vim ver se a Hermione precisava de alguma coisa, se queria alguma ajuda, mas parece que você já embebedou ela pra ajudar, né?
- Não provoca – Draco mexeu com a franja, que caia em seu olho. – Como eu ia adivinhar que a menina não agüentava nem um copo de vinho? E se você quer ajudar, leva ela pra sua casa e pede pra sua irmã ou sua mãe ajudar ela a tomar um banho gelado, que ela logo melhora.
Ron apenas assentiu com a cabeça, pois não gostava de receber conselhos do Malfoy. Foi até a Hermione e tomou a posição de Draco, a amparando. Antes de saírem, no entanto, a garota voltou o corpo para o loiro, e sorriu:
- Obrigada Draco. Desculpa envolver você nisso.
Meio sem graça, ele acenou.
- Tudo bem, tudo bem. Vai descansar.

Com um pouco de dificuldade, Ron foi com Hermione até a porta da frente, onde pode desaparatar para a Toca.
Draco voltou para dentro da casa, olhando para os pés descalços. Aquela menina era doida. Tinha ido até ali que nem uma destrambelhada, se jogando em cima dele, porque tava chateada com o Potter... bebeu dois goles de vinho e ficou bêbada! Não é à toa que caiu na conversa mole do Potter...Tão tonta, tão ingênua...Ele suspirou sem querer.
Voltou para frente da lareira, para terminar o vinho que tinha aberto.

- Tudo bem Mione? – Ron a olhava preocupado. Haviam acabado de aparatar diante da Toca.
- Eu to bem, Ron. – ela sorriu levemente.- Obrigada por ter ido me buscar.
A garota o abraçou, fazendo-o corar um pouco. Mesmo depois do fim do namoro entre os dois, Ron ainda corava com as demonstrações de afeto da menina.
- Obrigada, mas eu queria que me fizesse mais um favor.
Ron a olhou, e achava que sabia o que ela ia pedir. Ela podia ter bebido a ponto de cambalear para andar, mas mesmo assim era óbvio que, um dos primeiros lugares onde Harry a procuraria seria na Toca.
- Não adianta Mione, não vou te deixar no seu apartamento sozinha, bêbada. Eu prometo que se o Harry estiver aí, eu não deixo ele falar contigo, até você querer.
-Valeu Ron, mas eu queria mesmo que você me levasse para a casa dos meus pais. Você pode fazer isso?
Pensativo, ele a encarou. Talvez fosse melhor mesmo, ela conversar com a mãe, colo às vezes faz falta. Só não sabia qual seria a reação do pai dela, quando a encontrasse pendendo para os lados...
Ela segurou a mão dele, meio desajeita por causa da bebida.
- Por favor Ron.
Ele assentiu. Logo ele teria que ir, pois na manhã seguinte teria que recomeçar os treinos. Suspirou. Ele, no fim das contas, não podia salvar ninguém ali. Novamente, o único salvador possível era o menino-que-sobreviveu.
Mas, afinal das contas, onde está você Harry Potter?



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