Um recomeço



Capítulo XVIII – Um recomeço


Hermione deixou o banho, os cabelos ainda pingando água, enrolada em sua toalha.
Jogou-se na cama, do quarto que era dela quando morava com os pais. Viu a colcha verde-água clarinha, os vários livros que tinham ficado, pois não tinha espaço para todos em seu apartamento; os brinquedos de criança, as fotos, tanto fotos trouxas de sua família, quanto fotos mágicas, dela e seus vários amigos. Sem querer, buscava nelas os olhos e os sorrisos de Harry, sempre ao seu lado nas fotos.
Suspirou. Já não tinha mais lágrimas nos olhos, nem estava tonta pela bebida. Havia conversado muito com sua mãe desde que Ron a tinha deixado ali, e sentia-se melhor. Estalou os dedos com cuidado, pensando no comentário de sua mãe. Mas uma garota que enfrentou tantas coisas, que sempre foi corajosa, vai se acovardar agora?
Sorriu, mordendo o lábio. Era verdade que ainda doía, mas não tanto quando antes, e cada vez doeria menos. Draco tinha razão, tudo passa. E de certa forma, estava livre. Por muito tempo, tinha ficado devotada a Harry, mentindo para si mesma quando dizia que só o via como amigo. Agora, pelo menos, estava livre daquele sentimento de culpa. Chegou até mesmo a, maliciosamente, pensar que quem se sentia culpado agora era Harry.

- Nossa, estou andando demais com o Malfoy! – ela disse alto. – Estou ficando com o humor negro dele.

Tranqüilamente, ela recostou-se nas almofadas e dormiu. Um sono sem sonhos, calmo, embora um pouco dolorido. Finalmente havia colocado a cabeça no lugar, e tomado uma decisão adulta. Finalmente, sentia-se livre.

=&=

Harry madrugou no Ministério. Estava com olheiras, pela noite passada em claro, as roupas amassadas e a barba começando a despontar. Havia ficado a noite toda diante do apartamento de Hermione, mesmo depois que se deu conta de que ela não voltaria. Assim que sua entrada no Ministério foi permitida, ele entrou e passou a esperá-la na sala de aula.
Seus olhos pareciam cheios de areia, mas tinha de vê-la, falar com ela, mesmo que ela não quisesse falar com ele. Sabia que ela devia odiá-lo naquele momento, mas ele mesmo se odiaria muito mais se não fizesse nada. Pelo cansaço, várias vezes ele fechou e abriu os olhos, lutando para permanecer acordado. Em uma dessas vezes, ele viu a sombra de alguém abaixado diante de si, colocando a mão sobre sua testa, como se medisse sua temperatura.

- Harry, você está bem? – Hermione perguntou doce.

Harry sentiu-se imediatamente desperto quando ouviu a voz. Segurou a mão dela entre as suas, ansioso pelo contato.

- Mione...
- Harry, o que houve com você, parece doente. Quer que eu te leve para a enfermaria?

Harry fez que não com a cabeça, tentando falar mas gaguejando. Hermione sentou-se na cadeira ao lado dele, acomodando seu material na mesa, esperando que ele soltasse sua mão, mas ele não o fez.

- Mione, me perdoa, eu fui um idiota, me perdoa...

Hermione sorriu.

- Foi um idiota mesmo. Mas eu também fui, então acho que te desculpo.

Harry arregalou os olhos, surpreso. Ela parecia tão calma, tão serena. Ele estava preparado, talvez até quisesse ouvir umas boas verdades, para se sentir melhor. No entanto, lá estava ela, ainda sua melhor amiga, sorrindo pra ele. Mais uma vez, ele sentiu a sensação de se odiar profundamente.

- Eu amo você, Hermione, amo você...

Hermione tapou os lábios dele com a mão livre.

- Também te amo, Harry. Mas acho que temos que tomar cuidado, sobre que tipo de amor estamos falando. – ela não deixou que ele a interrompesse – Vou ser sincera, doeu muito o que aconteceu no domingo, mas a verdade é que não posso ser hipócrita. Antes do sábado à noite, não havia nada entre nós dois, além de amizade, e eu sabia que você estava gostando da Marian. – Harry tentou novamente falar, sendo novamente calado por ela. – E digo que não posso ser hipócrita, porque também não estou sozinha.

Os olhos verde-esmeralda brilharam terrivelmente tristes. Na verdade, ele tinha mesmo esquecido que a Hermione estava com o Malfoy.

- Vo- você e o Malfoy...
- Não sei, Harry, não sei. Não sei como estamos, se estamos, mas não é melhor resolvermos nossas situações, antes de pensarmos em nós dois como mais do que amigos?
- Mi, eu amo você, queroestarcontigonãoqueroninguém...
- Calma! Calma! Harry, se você não fosse tão importante na minha vida, talvez eu tratasse isso de uma maneira diferente, mas agora, eu só posso te perguntar, como você tem tanta certeza que me ama, que quer estar só comigo, se na sexta você sentia isso pela Marian?

Sem graça por estar parecendo volúvel, Harry olhou para baixo.

- Tudo bem Harry. Acho melhor continuarmos sendo amigos, até termos certeza do que sentimos um pelo outro. Pra mim também foi tudo muito rápido. E a Ginny me disse algo que não posso esquecer, “a amizade é mais importante”.

Harry umedeceu os lábios com a língua, soltando a mão dela.

- E enquanto isso, fazemos o quê? – a voz dele estava baixa.
- Acho melhor, você primeiro ter certeza do que sentia ou sente pela Marian, e eu pelo Draco, antes de tentarmos algo entre nós dois.
- Você quer dizer que vai continuar ficando com aquele...
- Não sei, Harry, não sei. Mas vamos fazer uma coisa? Não vamos nos magoar. Se você ficar com a Marian, ou eu com o Draco, não vamos fazer isso em frente um ao outro. E, se um de nós tiver certeza do que sente, seja um pelo outro, seja por alguém mais, vamos falar, sim? Nossa amizade é tão linda, vamos preservá-la, ok?

Harry a abraçou, repetindo diversas vezes que a amava. Hermione também o abraçou, feliz por não estar mais brava com ele. Também o amava.

Da porta da classe, Draco observava os dois se abraçando, mas só pôde ouvir os “eu te amo”. O Santo Potter consegue novamente. – ele pensava. – Não importa o tamanho da bobagem, ele sempre se sai bem. Não importa o quanto ele a tenha humilhado, ignorado, ela se joga nos braços dele como se fosse um robozinho programado. Com mil raios, porque foi que eu resolvi fazer este maldito curso? Para poder passar mais tempo vendo o Cicatriz se dando bem sem fazer nada, e eu me ferrando, não importa o quanto tente fazer tudo direito?
Ele voltou-se e saiu, não se importando com o barulho que a porta fez quando ele se desencostou. Que fossem todos para o inferno, o Potter, o Ministério, a maldita sangue-ruim!







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