Aula de Poções e a Observação



Poções era uma das aulas favoritas de Severo, perdendo apenas para Defesa contra as Artes das Trevas. Sua mãe era uma ótima preparadora de poções, e ele se orgulhava de usar os livros dela nas aulas. A combinação de arte e ciência no preparo das poções o atraía, e ele conseguia enxergar beleza em um caldeirão cozinhando em fogo lento, com a fumaça a cintilar, misteriosa. Adorava descobrir o poder dessas misturas de líguidos que podiam causar tantos efeitos variados, e tinha aprendido com a mãe que era possível experimentar e conseguir resultados ainda melhores do que diziam os enunciados do livro-texto. Claro, sem falar que sua mesa ficava bem ao lado de Lílian Evans. Lílian também era uma ótima aluna de Poções. Ela era, sem dúvida, a favorita do Professor Slughorn. As suas respostas rápidas e inteligentes sempre rendiam dezenas de pontos para a Grifinória toda aula. Severo ficava dividido entre a amolação de ver a Casa tão detestada ganhando pontos e a admiração pela colega.
Logo atrás deles sentavam-se sempre Thiago Potter, Sirius Black, Remo Lupin e Pedro Pettigrew. Os quatro estavam sempre ocupados em fazer a maior bagunça possível bem debaixo do nariz de Slughorn. Severo desprezava esse tipo de comportamento em aula. E o mais detestável era saber que, apesar dessa prova óbvia de falta de atenção e maturidade, eles conseguiam sempre se sair razoavelmente bem nos exames.
Mas quando Thiago conseguiu explodir o que deveria ser uma Poção da Paz, fazendo seu caldeirão soltar faíscas multicoloridas, o Professor Slughorn teve que decretar a aula como encerrada, enquanto tentava desfazer a confusão. Os amigos riam disfarçadamente do que parecia, agora, uma exibição de fogos Filibusteiro, e eram cercados por um bando de garotas que praticamente babavam de admiração. Irritado, Severo guardava distraído o material, quando Lílian veio falar com ele:
- E aí, Severo, já leu meu dever?
- Hm, Evans, desculpe, ainda não tive oportunidade, respondeu, um pouco embaraçado.
- Sem problemas... contanto que seja antes da segunda feira... e aí, está melhor?
- Melhor? Ele virou-se para encará-la confuso.
- Bom, eu achei que você não estava muito bem hoje de manhã, lembra? Depois, vi que chegou meio atrasado na aula...
- Não, estou ótimo. Obrigado pela preocupação.
Ele tinha que admitir que a simples constatação de que ela notava a sua presença o deixava num misto de excitação e desconforto. Tentando prolongar um pouco a conversa mas livrar-se do embaraço, ele mudou de assunto:
- Parece que o Potter conseguiu realmente causar impacto hoje...
Lílian ficou séria, e deixou escapar um suspiro de impaciência, virando-se para dar uma olhada rápida na confusão.
- É, ele parece ter esse dom, não é mesmo? Ele e Sirius são realmente bem crianções. Um desperdício de talento, se quer minha opinião... talvez seja um tipo de efeito colateral do excesso de talento.
- Excesso de arrogância, isso sim!
Lílian voltou a sorrir, quando respondeu:
- Acho que o problema dele é excesso de tudo: talento, inteligência, cara-de-pau, arrogância, admiradores e fãs...
- ... Dinheiro..., Severo deixou escapar sem perceber, pensando nas dificuldades da sua família.
- Bom, se ele tem dinheiro eu não sei. Só sei que o pai e a mãe dele são bruxos... e acho que não tem irmãos. Deve ser bom ter bruxos em casa... alguém que também saiba todas essas coisas interessantes que a gente está aprendendo...
- Minha mãe é uma bruxa muito talentosa... deixou escapar Severo.
- Ah, deve ser bem legal... eu vi que você usa os livros dela nas aulas de Poções. Meus pais são trouxa. Eles ficaram muito orgulhosos quando descobrimos que eu era bruxa, e tudo o mais... vibram com as boas notas, e com as histórias que eu conto daqui. Mas não entendem realmente a coisa toda, né? E minha irmã, nossa! Ela odeia toda essa coisa de bruxos e magia, poções, feitiços...
Eles estavam já no caminho para o refeitório, e as amigas de Lílian se aproximaram ruidosas, acabando a conversa. Severo seguiu caminhando sozinho, e nem percebeu a presença de Dumbledore até quase esbarrar no professor. Envergonhado, ele corou de leve enquanto resmungava um pedido atrapalhado de desculpas, mas o professor encarou-o sorrindo. Seus olhos azuis faiscaram por cima dos oclinhos em meia-lua e ele apenas comentou:
- Ela é realmente uma menina especial...
- Como é? Ei, não, não... Severo sentiu as bochechas queimarem, e se odiou por isso. Nunca deixava suas emoções transparecerem desse jeito. Fez uma careta de desagrado. Dumbledore, percebendo, apenas sorriu bondosamente:
- Severo, tenho certeza de que você ainda vai descobrir que sentimentos como esse que você tem por essa menina são a nossa maior força, o maior poder de todos. Nossa salvação, na verdade. Mas vejo que você não está interessado no momento na minha opinião a esse respeito... vamos lá, você também deve estar com tanta fome quanto eu.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.