The Second Dose



Oh, que legal! Realmente, tudo o que eu estava precisando para animar os meus dias era pegar uma detenção. Sabe, fazia algum tempo que eu não pegava uma, já estava com saudades de limpar a sala dos troféus... Humpf! E como se não bastasse gastar o meu fim de semana inteiro enfornado naquela maldita sala, ainda teria a agradável companhia da minha prima Bellatrix. Duvido que o inferno consiga ser pior que isso...

Porém, todas as vezes que eu pensava na minha má sorte e em quão insuportável era a minha prima, uma voz tímida, mas indiscreta o suficiente para se fazer erguer, me dizia que ontem à noite, quando eu a beijei na biblioteca, ela não me parecia tão insuportável assim...

E todas as vezes que eu ouvia essa voz, meus pensamentos rumavam para aquela fatídica noite. Não, não me peçam explicações ou motivos que me levaram a agir daquela maneira, pois até o presente momento, nem eu mesmo entendi essa história ainda. Analisando a situação agora, me parece ser uma extrema loucura o que fizemos, mas, lá, no momento em que os meus olhos pousaram sobre ela, a expressão dura que a fazia parecer ainda mais sexy e perigosa, o andar rápido e o olhar faiscando de ódio, beijá-la pareceu ser algo tão certo quanto beber água quando se está com sede.

E ela ainda não dera sinais de arrependimento.

Ok, eu não a vi depois disso. Quero dizer, eu a vi algumas vezes, durante as aulas e no Salão Principal, mas não nos dirigimos a palavra depois do que ocorreu e, talvez, fosse melhor que as coisas acontecessem assim. Não queria nem imaginar o que aconteceria se a história do beijo chegasse aos ouvidos dos patriarcas da família Black. Suspirei irritado enquanto caminhava pelos corredores de Hogwarts, lembrando-me da rápida e desagradável conversa que tive com meu irmão nessa manhã.

Andava calmamente pelos corredores de Hogwarts junto a Tiago, Lupin e Pedro, rumo ao Salão Principal, quando senti uma mão fincar em meu ombro direito. Virei-me na mesma hora e os cabelos impecavelmente bem cortados e arrumados, o ar esnobe e o uniforme engomadinho da Sonserina não me deixavam dúvidas: era meu querido irmão que aparecera para me dar um “oi”.

– Preciso conversar com você agora, Sirius.

Os marotos pararam ao meu lado ao ver a cena e Tiago precipitou-se a minha frente, pronto para dizer poucas e boas a Régulo, quando eu coloquei a mão em seu ombro. Ele, claramente, não esperava ser interrompido e me olhou com ar interrogativo.

– Está tudo bem. Vão indo vocês na frente, eu prometo que não vou demorar.

Resignado, Tiago virou-se retomando o caminho para o Salão Principal, assim como Lupin e Pedro. Os observei sumir de vista, até que a voz de Régulo se fez ouvir:

– Já acabou o teatrinho? Podemos conversar agora?

– Olha o jeito que você fala dos meus amigos, moleque. – Virei para ele, não me preocupando em esconder que estava extremamente descontente em vê-lo. – Que diabos você quer?

Régulo olhou para os lados, certificando-se de que o corredor estava relativamente vazio, uma vez que quase todos os estudantes já deveriam estar sentados em suas respectivas mesas para desfrutar do café da manhã – lugar onde eu também deveria estar, não fosse meu irmão.

– Eu ouvi uma conversa, no mínimo suspeita, e vim lhe perguntar se é verdade... – começou em um tom excessivamente baixo, que me fez – argh!- chegar mais perto dele para poder ouvir com clareza. – O que aconteceu entre você e Bellatrix na biblioteca, ontem à noite?

Tentei me manter impassível perante a pergunta, mas creio ter falhado miseravelmente. Arregalei os olhos, fitando-o com assombro. Como é que aquele projeto de gente descobrira aquilo?

– Bem, vejo que é verdade, então. E antes que você me pergunte como descobri, estava conversando com o Professor Slughorn quando Madame Pince apareceu nas masmorras, chamou-o até a porta e disse-lhe rapidamente o que havia ocorrido. Eles conversaram em tom confidencial, mas mesmo assim, o principal da conversa eu consegui ouvir...

– Oh, que chato para você ter ouvido a conversa, não é? E é sim, eu a beijei, algum problema? – perguntei enquanto retomava a minha típica postura: braços cruzados, o peso do corpo apoiado em uma das pernas e o infame sorrisinho de lado.

– Algum problema? Todos os problemas do mundo, Sirius Black! O que você quer? Levá-la para o mau caminho? Torná-la uma imunda traidora do nosso sangue, assim como você? Olha, eu não me importo se você preferiu a casa daqueles amantes dos trouxas dos Potter ao invés da nossa, – Disse com uma ponta de ciúme que não me passou despercebida. Meu irmão era tão previsível... – Mas, eu não vou permitir que você faça isso com mais ninguém da minha família! Portanto, afaste-se de Bellatrix!

Eu não sei o que ele esperava que eu fizesse, mas tudo o que conseguiu arrancar de mim foi uma gargalhada extremamente debochada. Era incrível a capacidade que o meu irmão tinha de agir exatamente igual aos meus pais, ele não passava de um fantoche nas mãos deles. Perdi as contas de quantas vezes ouvi aquele mesmo discurso – com algumas modificações, obviamente – enquanto morava em Grimmauld Place, 12. Por hora, estava livre dos meus pais, mas pelo jeito, não conseguiria me livrar do pateta do meu irmão tão facilmente.

Respirando com uma certa dificuldade, enquanto tentava retomar o fôlego perdido por conta da gargalhada, rebati àquelas palavras ridículas:

– Você fala como se Bellatrix fosse uma pobre menininha indefesa e ingênua... Acorda Régulo! Isso não teria acontecido se ela não quisesse! Eu, pelo menos, não me lembro de tê-la forçado...

– Não importa! Bella tem um futuro brilhante a esperando fora de Hogwarts, e eu não vou deixar que você estrague isso! Não vou permitir que leve o nome da família Black pra lama em que você se afundou!

Régulo estava muito vermelho, e elevava o tom de voz a cada palavra dita. De repente, como se tivesse percebido que havia perdido a “classe”, respirou fundo, retomando o discurso imbecil em um tom baixo e rouco, como se quisesse parecer extremamente ameaçador aos meus olhos. Mordi os lábios segurando o riso da sua tentativa de me meter medo.

– Eu ainda não disse nada para o papai e para mamãe, mas se essa situação continuar, serei obrigado a dizer o que eu sei, e aí, Sirius... você estará em maus lençóis...

– Você já parou a Bellatrix para ameaçá-la também, ou só eu que vou levar culpa no cartório?

– Não, eu não falei com ela, não julguei necessário.

– Hmm, claro, até porque o Sirius sempre é culpado de todas as desgraças que acontecem com os Black. Vá tranqüilo, irmãozinho, eu prefiro virar celibatário a ter que me relacionar com alguém daquela família.

Lançando-lhe um último olhar de desprezo, deixei-o sozinho no corredor. Moleque imbecil dos diabos!

Inexplicavelmente, passei boa parte do dia pensando nessa conversa, se é que meia dúzia de insultos e discursos ridículos poderiam ser chamados assim. Que besteira, imaginar que eu gostaria de ter algo sério com Bellatrix... Só o meu irmão cabeça-de-abóbora para pensar em um absurdo descabido desses.

Virei a direita deparando-me com um corredor adornado de quadros, e algumas fotos de turmas passadas acenavam felizes para mim. Fixei meu olhar na penúltima porta de tal corredor. A Sala dos Troféus.

Encontrei-a com a porta entreaberta e, assim que entrei, deparei-me com Filch, Madame Nor-r-ra, e Bellatrix. Ao que tudo indicava, estavam apenas me esperando. Devo me sentir honrado?

– Até que enfim você chegou, moleque. Pensei que teria que ir até a Torre da Grifinória para ir buscá-lo. – Comentou Filch, enquanto pegava a bola de pêlos no colo, com seu bom humor habitual.

Pensei em responder com alguma ácida ironia, mas me calei ao ver o olhar repreendedor de Bella sobre mim. Se eu estivesse com Tiago, certamente eu o faria, aumentaria nossos dias de detenção e nos divertiríamos às costas do inspetor, comentando sobre suas carrancas horríveis. Mas, ali naquele momento, não me senti muito à vontade para fazer isso. Aumentar meus dias de detenção junto com a minha prima? Hum... Obrigado.

– Imagino que já saibam o que fazer – Disse uma última vez, após ter alcançado a porta – Daqui há três horas eu venho buscá-los. Bom divertimento. – O “bom homem” ainda nos lançou um olhar de ironia, antes de fechar a porta com um estrondo.

Dois herdeiros da mui antiga e nobre “poujours tour” Família Black presos em uma sala com um número infinito de troféus para limpar e polir. Definitivamente, a vida é uma piada e daquelas bem idiotas, que você simplesmente não sabe se é melhor rir ou chorar.

Não sei vocês, mas eu prefiro rir.

Corri os olhos ao meu redor, tentando achar panos e produtos de limpeza apropriados para começar o serviço ao modo trouxa. Não, não podíamos usar varinhas. Tínhamos que deixá-las com o diretor de nossas casas antes de ir cumprir qualquer detenção. Encontrei-os sobre uma cômoda. Abri um dos frascos e despejei o líquido verde sobre um pano branco, que até o final daquelas três horas já estaria marrom, e me dirigi a uma pequena escada, disposto a limpar os troféus de cima. Já que estávamos ali, então, que terminássemos rápido.

Foi com irritação que constatei que Bellatrix continuava imóvel no mesmo lugar, de certo apenas observando as estantes e mais estantes cheias de troféus de tamanhos variados. Desde o momento em que entrei ali, ainda não tínhamos nos dirigido a palavra e, se dependesse de mim, as coisas continuariam assim. Mas, eu simplesmente não podia ignorar o fato de que eu estava ali, me matando para limpar um modesto troféu de seis andares, enquanto ela estava à toa.

– Se eu fosse você, começava logo. Deixa para apreciar os troféus enquanto você os estiver limpando...

Com o canto do olho a observei virando-se para mim, a expressão num misto de surpresa e raiva. Foi quando eu parei para pensar que, talvez, Bellatrix nunca tivesse cumprido uma detenção ali. Deveria estar perdida, a pobrezinha... ainda mais quando se exigia usar de artefatos trouxas. Segurei uma risada, enquanto me lembrava que da primeira vez que eu tivera aquela tarefa, fiquei um tanto quanto perdido também. Droga.

– Você não sabe o que fazer com aquilo ali, sabe? – Perguntei, indicando a cômoda com os produtos de limpeza.

Ela correu seu olhar para lá e pareceu ligeiramente em dúvida, antes de responder com toda a superioridade que a situação permitia:

– Não. Mas, se uma anta como você sabe, não deve ser assim tão difícil.

Dei-lhe um sorriso enviesado antes de dar-lhe as costas e continuar a polir a taça de Quadribol do ano de 1917.

– Realmente, não é nada difícil para antas e é por isso mesmo que eu acho que você deveria tentar... – Pausa para a ironia fazer efeito. Retomada para o “gran finale” -... ao invés de ficar olhando com cara de deslumbrada para todas essas estantes.

Não arrisquei a me virar, mas mesmo assim, podia apostar dez galeões que a minha prima devia estar com uma cara nada amigável.

Enquanto recolocava a taça de Quadribol em seu lugar, já devidamente limpa, ouvi os passos nervosos e determinados de Bellatrix em direção ao canto onde a cômoda com os produtos de limpeza estava. Já limpava o meu quarto troféu quando ela deu sinal de vida novamente:

– Frasco filho de uma hipogrifa! – Sua voz não passava de um resmungo – Ai de você se eu estivesse com a minha varinha... – Mais alguns murmúrios indistinguíveis – Ah! Desisto de você!

– Falando sozinha ou com os frascos? Se bem que, em qualquer uma das situações, seu estado inspira alguns cuidados, sabe Belloca? – provoquei-a displicentemente, ao mesmo tempo em que me virava para vê-la protagonizando a cena ridícula de não conseguir abrir um mero frasco. Quem diria, Bellatrix Black apanhando de um objeto trouxa... Se eu contasse essa lá em casa, passaria por mentiroso.

– Ora seu... – Parecia que todo o sangue de seu corpo concentrava-se no rosto, pois ela estava extremamente vermelha. Eu podia jurar que vi fumacinha saindo pelas suas narinas –... Ah! CALE A MALDITA BOCA, BLACK!

– Sabe, Bellinha – Recoloquei o troféu no lugar e desci a escada – Se você não fosse tão malcriada eu poderia até te ajudar, sabia?

– EU NÃO PEDI A SUA AJUDA!

– Então, como eu ia dizendo, não pediu porque é extremamente orgulhosa! – Parei apenas esperando um novo grito, ou algo do tipo, que, por algum motivo inexplicável, não veio – Sabe, Bella, acho melhor você começar a limpar esses troféus logo, assim acabamos o serviço mais cedo e com um pouco de sorte, saímos nós dois vivos daqui. Não lhe parece bom?

Bellatrix bufou ruidosamente. Ela não disse nada, mas, obviamente, eu estava certo como sempre, e não restava nada a ela, a não ser, bufar como um trasgo nervoso.

– A propósito, – Continuei – Me parece que você estava com algumas dificuldades em abrir os frascos, não é? – Aproximei-me da cômoda e de Bella, mas sempre mantendo uma distância segura.

Ela suspirou alto antes de dizer num sussurro quase inaudível:

– É.

Por alguns segundos fiquei sem ação por ela concordar tão facilmente. Bellatrix admitindo que não conseguia fazer alguma coisa? Choveria caldeirões furados nos próximos dias...

– Bem, então... Ahn, como você estava tentando abri-los?

– Eu puxei a tampa. – O tom foi um pouco mais alto, mas ainda assim, surpreendente para os “Padrões Bellatrix”.

– Hmm, então é por isso que você não estava conseguindo. Tem que rosqueá-las. – Peguei um dos fracos sobre a cômoda e mostrei a ela – Assim.

– Ah, certo. Pode voltar a polir seus troféus e... obrigada. – Sua voz ao pronunciar a última palavra não passava de um sussurro, e eu tentei buscar na memória (depois de sorrir desconcertado) alguma outra ocasião em que ela me falara palavras educadas e em um tom tão suave quanto aquele.

– Ah, não foi nada... – Passei a mão pelos cabelos que insistiam em cair nos meus olhos. É, eu tinha essa espécie de “tique” quando ficava... bem, envergonhado. E ao que parece, tal gesto não passou despercebido a ela, que esboçou um sorriso antes de se virar para a cômoda e retomar sua tarefa, agora com mais sucesso do que anteriormente.

Mas, eu nem bem acabara de subir o último degrau da escada, ouvi Bellatrix tendo um acesso de... espirros?

Virei-me ainda em cima da escada para a sua direção. Era um espirro após o outro. Assustador.

– Bella, o que aconteceu?

– ATCHIM! Não sei, eu... ATCHIM! Abri o frasco, e... ATCHIM! De repente... ATCHIM! Começou a me dar... ATCHIM! Uma vontad... ATCHIM! Vontade de... ATCHIM! ATCHIM!

– Er... Tá, tudo bem, acho que já entendi o que aconteceu – Desci novamente as escadas o mais rápido que conseguia para tentar... Hum... ampará-la.

Bella espirrava cada vez mais, enquanto eu pegava o frasco recém-aberto e levava ao nariz para saber de qual fragrância se tratava. Eucalipto. Foi então que me lembrei de uma remota aula de Poções no segundo ano, quando trabalhávamos com essência de eucalipto, e Bellatrix teve um acesso de espirros similar. Em alguns segundos ela estava toda inchada, vermelha e respirava com uma certa dificuldade. O negócio foi tão feio que ela teve que ficar três dias na Ala Hospitalar até suas vias respiratórias voltarem ao normal...

A imagem de uma Bellatrix inchada, vermelha e ofegante invadiu minha mente, e eu decidi que, mesmo não morrendo de amores por ela, tinha que fazer algo.

– Bella, é o seguinte, você está espirrando assim por causa do cheiro desse produto. É eucalipto...

Ela arregalou os olhos, provavelmente iria dar um berro daqueles, do tipo “MALDITOS TROUXAS” ou então “QUEM FOI O IMBECIL QUE USOU EUCALIPTO PRA FAZER ISSO?”, mas tudo o que eu ouvi foi:

– ATCHIM! ATCHIM! Sirius voc… ATHIM!

– Tá, olha só, fica tranqüila que eu vou te levar para a Ala Hospitalar, tá bom? – Ela pareceu não concordar muito comigo, pois enquanto espirrava, mexia a cabeça para os dois lados – Como não, Bella? Quer morrer de tanto espirrar?

– Mas e o... ATCHIM! ... Filch...? ATCHIM!

– Ah, esqueça o Filch e a detenção! – Por mais bizarro que possa parecer, ela me lembrou o Lupin nessa hora – Vem, vamos antes que você comece a ficar vermelha e inchada. – Ela arregalou os olhos como se lembrasse do acontecido de quatro anos atrás e passou a me seguir rapidamente em direção à porta.

Mesmo que a Ala Hospitalar estivesse relativamente perto da Sala de Troféus, demoramos um pouco a chegar até ela, pois Bella, por várias vezes, teve que parar quando se tornava muito difícil espirrar e andar ao mesmo tempo. Além disso, mesmo apoiada em mim, ela não conseguia seguir o mesmo ritmo dos meus passos espirrando daquele jeito.

Ao colocarmos os pés lá, Madame Pomfrey veio em nossa direção. Também, aqueles espirros deveriam estar sendo ouvidos num raio de um quilometro e meio. Ou mais.

– Menina Bellatrix, o que houve com você? – Perguntou enquanto começava a conduzi-la pelo braço até um leito vazio da enfermaria.

– Ela aspirou essência de eucalipto, Madame Pomfrey, e como é alérgica a eucalipto... – decidi responder por ela, pois no estado em que se encontrava, poderíamos esperar horas por uma resposta inteira.

– Oh, pobrezinha! – Pobrezinha? É, concordo que nessa situação ela até poderia se passar por uma – Venha, sente-se aqui, enquanto eu preparo uma Poção que fará a crise alérgica cessar – Depositou-a sentada sobre a cama, para logo em seguida, sumir em uma sala onde ficava seu pequeno estoque de poções medicinais.

Bella ainda espirrava de forma assustadora e, pelos gestos nervosos de suas mãos que ela colocava em frente a boca, estava começando a se enervar por isso. Fiquei em pé próximo à cama, ainda sem saber como agir direito. Não podia lhe perguntar nada, pois eu não tinha paciência para ouvir a resposta entrecortada por espirros. Também não podia fazer gracinhas, embora fosse algo extremamente irônico ver a toda-poderosa Bellatrix sendo derrubada por uma crise de espirros. E perigoso também. Já pensou se ela morde a língua sem querer e morre envenenada? Ok, sem gracinhas.

Madame Pomfrey logo retornou com uma poção meio azulada, que pela cara de Bellatrix, não devia ter um gosto muito agradável. Entre alguns espirros, ela conseguiu bebê-la fazendo uma cara terrível ao final, comprovando a minha tese. Madame Pomfrey mais uma vez nos deixou a sós, alegando que estava na hora de um outro paciente seu, vitima de uma azaração mal feita, beber uma poção com um nome estranho para, assim, tentar fazer seus dentes voltarem ao normal.

Aos poucos, os espirros de Bella foram rareando até pararem completamente. O silêncio caiu entre nós dois (antes, pelo menos, tinha os espirros para preencher o som ambiente) e eu pensei que, talvez, fosse hora de dar “tchau”.

– Bem, eu vou voltar lá para a Sala dos Troféus então...

– Espera, eu vou com você – Disse em uma voz rouca, o que era normal para quem passou os últimos vinte minutos espirrando desenfreadamente.

– Como? Acha mesmo que Madame Pomfrey vai deixar você sair daqui agora? Pode ser que com um pouco de jeito você consiga convencê-la a liberá-la para o almoço de domingo...

Ela suspirou, apoiando-se na cabeceira da cama, parecendo insatisfeita, embora os lábios dela mostrassem outra coisa... Ela estava sorrindo?

– Eu nem me lembrava mais que era alérgica a eucalipto... Seria trágico se não fosse cômico.

É o que eu sempre digo, querida Bella. Peraí, “querida”?

– Mas, veja pelo lado bom, dessa vez você não ficou vermelha e nem inchada... – Disse entrando no clima, aparentemente, cordial que havia entre nós naquele momento.

– É... Tem razão. – Então, ela olhou para mim com aqueles olhos negros brilhando, antes de continuar, uma nota hesitante em sua voz – Então... obrigada por ter me ajudado...

Ajudado? Mas, anh... eu não fiz nada de mais, fiz? Quer dizer, qualquer pessoa faria isso, não? Pensando melhor, tratando-se da esnobe Bella, a resposta para última pergunta fosse não.

– Não, não precisa agradecer... – Naquele momento, eu poderia jurar que estava levemente corado. Sirius Black corado? Pois é, milagres acontecem… – Bem, eu vou indo, então, vou ver se encontro o Filch para explicar o que aconteceu. Tchau!

Andei a passos rápidos, assim que uma vontade imensa de abraçá-la apossou-se de mim. Eu estava louco, não? O peso do olhar que eu sentia nas minhas costas não podia ser o dela, podia?

­­­­­­­


--------------------------------------------------------------------------------


Continua...

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.