+ Divórcio



– Vamos lá, o que vocês estão esperando!? Temos muito o que fazer! – Ralhou Lebatofsky, guiando os alunos para um bosque do outro lado do Campo de Treinamento. Geralmente, Harry não ficava muito apreensivo quando sabia que deveria entrar na Floresta Proibida ou algo assim; geralmente era um medo saudável e de bom-senso para quem iria entrar naquela região. Porém, aquele bosque, tão escuro e hostil, pareceu a Harry uma idéia desagradável para uma aula, no início da manhã. Todos congelavam; Neville tremia ligeiramente ao lado de Harry, os dentes do garoto formando uma espécie de marcação, a medida que tremiam de frio. Do outro lado, Katty parecia estar tentando entrar dentro de si mesma; estava tão encolhida para se proteger do frio que parecia um metro menor do que realmente era.



Harry levou as mãos à boca e assoprou-as, com a intenção de esquentá-las. A idéia não teve sucesso, afinal, a única coisa que se formou foi um vapor gelado que deixou as mãos de Harry piores do que estavam. Lebatofsky, porém, parecia o único que estava cheio de energia e disposição, mesmo com todo aquele frio; pulava,animado, de um lado para o outro, provavalmente em uma medida desesperada de se aquecer como os demais, porém à sua maneira. Além disso, falava sem parar, o que deixava os alunos, além de enrelegelados, bastante aborrecidos.



– Ora essa, vocês parecem um bando de trasgos! Andem mais rápido com isso, sim? Um friozinho à-toa e já começam a congelar, pelo amor de Merlin... Ah, aqui estamos! – Lebatofsky virou-se, cheio de animação, para a multidão congelada que eram seus alunos. Resmungava e falava ao mesmo tempo:



– Bem, estamos aqui no bosque dos Espelhos! Trate de acordar, garoto, Aurores não se portam desse jeito! – Ralhou com um – Esse bosque foi magicamente desenvolvido pelos maiores bruxos da atualidade... ei, garoto, está me ouvindo? Eu estou falando na sua frente! Certo... esse bosque foi desenvolvido pelos maiores bruxos atuais, e é realmente complexo, portanto, é preciso atenção.. ESTÃO ME OUVINDO!?



Uma garota simplesmente babava, de olhos fechados, no ombro de um amigo, que fazia uma expressão bastante contente. Lebatofsky suspirou vigorosamente e disse, com ar de derrota:



– Tudo bem... entrem no Bosque, pelo jeito nem ouviram o que eu disse... espero por Merlin que não morram nem nada pior...



Harry estranhou a expressão do professor, mas seguiu seu caminho, acompanhado por Neville e Katty. Era o bosque mais estranho, alucinante e belo que já vira; as árvores eram feitas de vidro espelhado, e era possível ver por dentro delas diversas nuvens de variadas cores. Harry se interessou particularmente por uma, que emanava uma espécie de gás azul-arroxeado e brilhante, e cuja extensão de vidro era longa até o céu escuro. Lebatofsky parou ao seu lado, sorrindo.



– Ah, sim, sr. Potter, achei que se interessaria por esta árvore... é a árvore do Patrono.



– Árvore do Patrono? – Perguntaram juntos Neville e Harry.



Lebatofsky abriu a boca, mas quem falou foi Katty.



– A árrvorre do Patrrono é encarregade pela prrodução da substância mágica forrmadorra de Patrronos no mundo mágico, Arry. É simplement superrb encontrrarr uma dessas porr aqui, são muito valiosas. – Disse a garota, animada.



Lebatofsky meramente deu um sorriso encantado para Katty.



– Sabe, senhorita, conhecer a Árvore dos Patronos é uma verdadeira honra para um bruxo. Existem centenas de pessoas do mundo mágico que nem ao menos sabem o que é esta árvore... – Lebatofsky continuou encarando a garota, até resolver explicar melhor o que era a tal árvore, mais para Neville e Harry do que para Katty – Bem.. a árvore do Patrono, senhores, concentra, realmente, a fórmula mágica que criou o Patrono. É algo extremamente complexo, por assim dizer... mas vou tentar explicar. Seria melhor chamar um especialista, mas...



“Ninguém sabe realmente como esta árvore se formou. Diz a lenda que o maior bruxo da Terra seria a única pessoa capaz de decifrar o segredo da árvore, por ter uma característica única, marcante e especial, que nenhum outro bruxo apresentou antes. Sinceramente, muitos já tentaram, sem sucesso, descobrir exatamente o que esta árvore guarda. A única certeza que temos é que ela é a originadora do Feitiço Patrono, que, como é fato conhecido, esse é o único feitiço que não foi criado pelos bruxos, e sim foi descoberto por eles. ”



– Mas.. como descobriram que ele guarda os Patronos, professor? – Era Neville quem perguntava. Havia se formado em volta dos três garotos uma respeitável rodinha de pessoas interessadas, e Lebatofsky pareceu feliz com o ocorrido.



– Bem... isso foi suposto por bruxos gênios que verificaram que nenhum Dementador ou espírito das trevas que for se aproxima desta árvore. – Disse Lebatofsky, orgulhoso. – Por isso temos algumas delas no CT. Acredito que somos o maior reservatório dessas árvores, na Grã-Bretanha.



– Mas o que a árvore faz, além de afastar os maus-espíritos, professor? – Perguntou uma garota de cabelos castanhos, que Harry descobriu chamar-se Mariah La Belle.



– Bom... como eu já disse, somente o bruxo mais capacitado da Terra tem o poder de descobrir exatamente o que é. Mas acredito que muitos de nós aqui poderíamos avançar bastante nas nossas descobertas. – E curiosamente, seu olhar virou-se para Harry, que ouvia tudo muito atento.



O sinal tocou no exato segundo que Lebatofsky olhou para Harry. Aliviado, o garoto não pensou em outra coisa senão em escapar dali. Estava voltando a ser o foco das atenções de novo, tudo o que menos queria nesses momento. Chegou, quase correndo, na aula-experiência de Metaformagia, lecionada por Tonks, como Lupin já lhe havia explicado. Harry sorriu ao ver a amiga sentada na mesa do seu chalé altamente colorido, alisando seus longos cabelos azuis (Neville ficou simplesmente chocado e não parou de rir até se sentar em uma mesa), e a jovem o cumprimentou jovialmente.



– E aí, gente? Vamos começar a aula ou tá difícil? – Perguntou Tonks, e alguns garotos riram, enquanto se sentavam. A jovem bruxa começou a andar pelo pequeno palco que montara para dar suas aulas, e disse no tom de voz mais tranqüilo que Harry ouvira – A partir de hoje, vocês vão começar a receber aulas-experiências sobre a Metaformagia, mas vocês já devem imaginar isso, porque está no horário de vocês... bom, meu nome é Tonks, só Tonks, e é assim que vocês devem me chamar, beleza? Tá, vamos lá.



Tonks conjurou do nada uma lousa cheia de desenhos complicados, flechas em todas as direções e montes de fórmulas complicadas, que não faziam sentido algum para Harry. A classe toda olhou aparvalhada para a superfície do quadro, boquiaberta, e a professora deu uma risada alta:



– É, eu quis assustar vocês – disse com um sorriso bonito. – Por enquanto, nada de fórmulas, até vocês aprenderem a ser metamorfomagos direito, o que vai levar um tempinho... bom. Existem dois jeitos de ser um metamorfomago: o jeito fácil e o jeito... bem difícil. Claro que a maioria de vocês vai querer aprender o jeito fácil da coisa, mas aí que vem a notícia ruim: só é fácil para quem já tem isso no sangue, nas veias. Quem não souber patavinas sobre Transfiguração, ou não nascer sabendo, vai ter muita dificuldade. Mas tamos aí para isso.



“Bom... é vital para um Auror saber se transformar suas feições, ou até mesmo se tornar uma pessoa completamente diferente. Alguém pode me explicar por quê?”



Silêncio geral. A mão hesitante de Katty levantou-se por um momento, mas em questão de segundos a garota a recolheu, desistindo da idéia de responder. Tarde demais, Tonks já a vira.



– Hey, você que levantou a mão!? Fala aí, diz o que você... ah! – Tonks deu um sorriso enorme ao avistar direito o rosto de Katty, seus olhos se iluminaram de surpresa, como se Tonks estivesse avistando uma conhecida de tempos atrás. Por um momento nenhuma das duas falou palavra, até que Katty disse, no tom de voz mais estranho que a garota já adquirira:



Serrve parra fugirr e enganarr brruxos das trrevas. – Explicou resoluta, encarando Tonks de uma maneira estranha. A professora pigarreou, piscou os olhos, e girou sobre os próprios pés, dizendo, de costas para a classe.



– Sim, é exatamente isso! Bom.. vamos lá, agora eu quero todos me imitando! – O cabelo azul e longo de Tonks tornou-se rosa brilhante com cachos, mais curto que o cabelo anterior. Algumas pessoas da classe suspiraram aterrorizadas com a perspectiva de fazer aquilo. – Brincadeirinha... – Tonks se virou para a mesa, curvou-se atrás dela e pegou uma gaiola cheia de pequenos ratos cinzentos. – Essas aqui são as cobaias de hoje. Vamos lá, quero ver todo mundo treinando vários feitiços transfigurantes neles! Quem deixar o seu rato o mais irreconhecível possível ganha um prêmio! – E saiu andando pelas mesas, enquanto os alunos se preparavam para “detonar” seus ratinhos. Depois de meia hora, Harry parou de transfigurar a criatura para verificar o seu feito; de fato, o rato estava bastante mudado. Os pelinhos de suas costas estavam laranjas, com bolotas roxas, e muito compridos, parecendo mais um minúsculo espanador de pó vivamente colorido. Quando passou por ele, Tonks riu; mas não riu mais do que o ratinho de Neville; o garoto parecia realmente mudado por dentro, pois fez questão de fazer uma réplica, no rato, de seu antigo professor de Poções, Severo Snape. O mesmo nariz adunco e projetado para a frente, os mesmos olhos semicerrados, a mesma cabeleira (no caso, pêlos) oleosa e negra. Harry deu uma risada alta e sonora. Outros antigos alunos de Hogwarts também deram grandes risadas.



– Ficaram ótimos, todos! Bem... eu prometi e vou cumprir... – Ocorreu um estalo, e alguns segundos depois surgiu, em cada carteira, diversos objetos, de todas as cores e formas. Harry olhou para o dele e soltou uma exclamação audível: era a carta que escrevera para Rony e Hermione, no começo do curso! Estava lá, um tanto amassada, é verdade, mas simplesmente intacta, perfeita! Olhou para os lados, em seguida: Neville olhava extasiado para uma bola transparente em sua mão, cheia de fumaça dentro.



– Meu Lembrol! Lembra dele, Harry? Nossa, sumiu faz tempo...



– Um feitiçozinho simples – Sorriu Tonks, ao ver a reação dos alunos. – Chama-se Encantamento do Resgate do Objeto Passado... um nome muito grande para um feitiço muito simples, ele lhe devolve a última coisa que você estimava e perdeu. Bem.. é isso por hoje! Até a próxima aula! – Disse Tonks, assim que o sinal bateu, seus cabelos cor-de-fogo balançando levemente enquanto ela acenava para os alunos que já saíam. Harry e Neville saíram animados da aula, até perceberem a falta de Katty ao seu redor. Encontraram a garota saindo, afobada, do chalé de Tonks, aparentemente muito nervosa. Estava um tanto rouca, como se tivesse gritado com alguém, quando disse:



Perrguntei se eu poderria ficarr com o rato. – Disse Katty, mostrando na palma de sua mão um rato totalmente cor-de-rosa, de brincos e batom. Harry exprimiu uma risada, mas também lamentou-se: nem de longe gostaria de ter experiências com ratos de novo. Odiava ratos.



– E gritou com ela para ver se conseguia? – Disse Neville, astutamente. Harry olhou impressionado para o amigo. Ele estava dando “foras” na garota! Que atípico de Neville era fazer isso! Geralmente... geralmente mal falava com elas, agora estava falando assim?



Guarrde esse tipo de comentárrio parra você, Névill. – Resmungou Katty, nervosa, e a garota saiu andando.



Harry puxou as costas das vestes de Neville, sobressaltando o amigo. Então, disse o que estava pensando:



– O que você está fazendo, Neville? Sério, nunca vi você agindo assim! Coitada da Katty! Nem te fez nada!



– Ah, fez sim, Harry. – Disse Neville, finalmente tenso.



– Ah, é? Fez o quê? – Perguntou Harry, agora mais curioso do que surpreso.



– Mentiu para mi... para nós. – E foi embora, decidido, deixando Harry sozinho e confuso entre a massa de estudantes.



*




Alguns meses se passaram como uma névoa suave, desde a chegada de Tonks no CT. As aulas pareciam realmente mais divertidas agora aos olhos de Harry, pois agora tinha aulas com uma amiga, o que era bem mais fácil. Sua vida também estava se estabilizando como Auror; nesse tempo, sua classe já tinha visto algumas pistas que os Comensais da Morte deixavam pelo caminho qundo atacavam, para identificarem previamente ataques dos asseclas de Voldemort. Harry, que já conhecia algumas táticas, pôde salvar um casal de velhinhos trouxas, cuja casa estava descaradamente marcada pela Marca Negra, no telhado. Logicamente, esse trabalho novo os obrigava a sair do CT com mais freqüência do que o normal, o que desagradava à muitas pessoas, incluindo Marienne e Hermione nessa conta.



Falando em Hermione, Harry agora já tinha seus finais-de-semana programados; sábado ia se encontrar com os amigos no Ministério da Magia, para relaxarem e conversarem sobre o que aconteceu de interessante na semana; Harry simplesmente adorava esses encontros, lembravam-lhe os velhos tempos. De fato, pouca coisa realmente mudara: Rony continuava apoiando o amigo em tudo, e Hermione sempre tinha que chamar Harry de volta à realidade, quando o amigo estava muito empolgado falando sobre o CT. Rony continuava na seção de Mau Uso dos Artefatos dos Trouxas, embora muito a contragosto e obviamente forçado pelos pais e pessoas da Ordem. Sim, porque Rony agora era integrante honorário da Ordem da Fênix, coisa que fez questão de falar (e muitas vezes) para Harry. Harry não sentia inveja; estava sempre em contato com a Ordem e com Lupin, agora que Tonks morava no CT. Hermione estava, como sempre, muito atarefada para prestar explicações sobre todos os seus trabalhos, mas garantia a Harry que o F.A.L.E. caminhava a todo vapor.



– Agora já temos mais de 100 afiliados.. acredito que finalmente estamos conseguindo algum espaço na sociedade bruxa, sabe, conseguindo romper alguns preconceitos idiotas e tudo mais. Um dos garotos que se afiliou primeiro, o Robert, está muito animado, até acha que poderemos, em menos de um mês, mover um processo contra o Ministério da Magia. – Dissera Hermione orgulhosa.



– Que Robert é esse, Hermione? – Perguntara Rony, estranhamente formal.



– Deixe de ser idiota, Rony. Que eu saiba, estou noiva com você. Então, por favor, pare de duvidar da minha fidelidade. – E isso fez Rony calar a boca sobre esse assunto.



Já durante os domingos, Harry reservava boa parte de seu tempo para namorar Marienne. A cada final-de-semana, os namorados se encontravam ansiosos, e já sentiam saudades quando tinham que voltar para o CT. Às vezes, Harry pensava seriamente em visitar a professora durante à noite, mas sabia intimamente que isso poderia custar mais do que o seu futuro cargo de Auror.



Sim, porque Harry percebia os olhares de censura que alguns professorem lhe direcionavam; à exceção de Lebatofsky e alguns poucos outros, os Aurores-Mestres nutriam pelo rapaz um tipo estranho de raiva, que Harry às vezes associava à inveja. Porém, parou de pensar dessa maneira quando o próprio Lebatofsky lhe segurou por mais um tempo em sua aula para dizer:



– Tome cuidado com quem você anda. E por quem se apaixona.



– Mas... profes..



– Não quero ouvir alguma mentira sua, Harry. Sei que é um garoto suficiente bom para proteger quem ama. Mas pare com isso. Escute o que as pessoas têm a lhe dizer. Eu não vou reprimí-lo por gostar dela, eu não mando na sua vida, mas encare isso como um conselho de amigo. Eu jamais quero ver você ser prejudicado. Agora eu entendo Dumbledore... você é um garoto bom demais, talentoso demais, para que deixemos você sofrer. Eu não quero isso. – Dissera Lebatofsky muito sério, antes de se retirar para seu chalé, o que deixou Harry pensativo.



Mas finalmente descobrira que estavam lhe falando a verdade. Da maneira mais surpreendente que o garoto imaginou ser possível.



*




Céus, como era difícil.



Marienne entrou em seu chalé. Já era fim do período de aulas, ainda bem, graças a Merlin. A moça deixou-se ser conduzida até seu quarto, guiada somente pelas suas pernas, já que sua mente estava tão confusa, atribulada e cheia de pensamentos que Marienne queria apenas dormir, sumir, deitar, sonhar... e morrer.



A porta de madeira branca de seu quarto abriu-se magicamente para deixar a moça passar. Marienne, ainda entorpecida em seus pensamentos, sentou-se pesadamente na cadeira de espaldar reto, em frente à sua penteadeira. Mirou-se na superfície espelhada durante minutos que lhe pareceram horas. Mirar aqueles olhos castanhos e brilhantes, aqueles cabelos de ondas suaves, lhe provocava crescente ódio. Escondeu o rosto nas mãos.



“A quem eu estou enganando? Tentando enganar a mim mesma?” Chorou Marienne, pensando alto, sentindo as lágrimas molharem a palma de suas mãos. Apertou o rosto com força, sentindo fúria de si mesma. Então, em um gesto rápido e ágil, Marienne abriu uma gaveta da sua penteadeira. Só havia um objeto lá dentro: um grosso livro, com fechadura e capa aveludada. Marienne retirou-o da gaveta e fechou-a, e em seguida, com um movimento rápido, abriu o caderno. Uma letra rabuscada e bonita preenchia boa parte das páginas do objeto encadernado. Marienne procurou uma pena e um tinteiro nas outras gavetas e, assim que achou-as, começou a escrever com velocidade.



Não sei aonde isso vai chegar. Se pudesse, desistiria de tudo, agora. Não quero, não gosto de fazer o que estou fazendo. É mais do que cruel; é perverso. Eu não posso aturar mais isso.



Como se tivesse opção. Não tenho opção. Este é o problema! Se ao menos... se ao menos eu tivesse oportunidade... fugiria agora. Sumiria, desapareceria. Penso em viajar para Londres e me esconder por lá, até encontrar um lugar bonito e isolado para morar. Com.. ele. Sim, é o que eu quero, quero morar com ele. Admito isso, admito agora, eu amo ele! E o que posso fazer a respeito? Estou falhando miseravelmente com os planos, estou levando tudo à ruína. Mas o que isso me importa, de verdade? Se cumprir o que prometi, tudo irá abaixo, s máscaras irão cair e estarei definitivamente arruinada. Se não fizer... bem, posso me considerar condenada. Não viverei mais em paz, no mínimo. Não por remorso, mas porque serei impedida de viver. Não é difícil fazer isso com uma pessoa que... possui um passado... duvidoso...




Marienne não conseguiu impedir que mais lágrimas viessem e borrassem toda a página. Mas precisava continuar a escrever. Era a única maneira de se livrar daqueles pensamentos venenosos que lhe atormentavam cada vez mais. Sentia agora que um veneno era lhe extraído das veias, um veneno mortal.



.. mas... eu não posso mudar isso. Serei sempre uma pessoa marcada pelo que passei, mas não posso deixar que as pessoas que eu amo sofram com isso. Tenho que reunir toda a minha coragem, as minhas forças, e explicar tudo, seja para que ele me ignore para sempre, seja para que me apoie. Se ele não me perdoar nunca mais... eu vou entender, vou sofrer toda a minha vida, mas vou compreender completamente bem. O que eu estou fazendo é uma traição, o que eu mereço por isso é o desprezo, o ódio. Mas, se ele perdoar... juro que nunca mais lamentarei nessas páginas que estou condenada, porque isso pouco importará perto do perdão dele. Eu vou fazer isso. Vou tentar, vou conseguir. É, é isso que eu vou fazer. Vou deixar essas páginas e seguir o que tenho que fazer. E se ele me perdoar... estarei pouco me importando com o que vai acontecer depois.



Marienne se levantou. Sentia-se melhor, o “entupimento cerebral” passara consideravelmente. Caminhou lentamente até a janela e a abriu, deixando uma brisa da noite entrar e passar suave e confortavelmente pelo rosto, o que a deixou ainda mais disposta. Sorriu para o luar, os olhos fechados, e quando os abriu novamente, encontrou à sua frente a paisagem branda e bela do CT à noite. Alguns flocos de neve caíam do céu escuro, indicando que logo o Natal chegaria. A paisagem a lembrava de sua infância... por algum motivo, Marienne sempre gostava de apreciar a queda dos flocos de neve... fechou novamente a janela e mirou-se novamente no espelho.



Já não tinha mais ódio de suas feições. Seu rosto vermelho, seus olhos consideravelmente inchados e irritados, as marcas de unhas no rosto não a deixavam feia, pelo menos aos seus olhos. Sorriu para o espelho e, resoluta, apanhou um grande casaco e saiu para a noite, preparando-se para o que ia fazer.



*




Naquele mesmo momento, Harry jantava tranqüilamente no Chalé Comunitário, tendo que suportar mais uma briguinha entre Neville e Katty. Harry já estava mais do que acostumado com esse tipo de coisa ao conviver durante sete anos com Rony e Hermione, e sorriu para si mesmo ao avaliar o resultado dessas briguinhas; o convite de casamento dos dois chegara à poucos dias atrás, convidando Harry e Neville para serem os padrinhos, e suas respectivas acompanhantes como madrinhas. As brigas entre Neville e a francesinha se tornavam cada vez mais freqüentes, e Harry suspeitava intimamente quais seriam os motivos dessas discussões. Mas preferia não tomar partido de ninguém.



– Por que você sumiu domingo, Katty? Que eu saiba, a gente tinha combinado de ir em Hogsmeade juntos. – Disse Neville, sua voz soando absolutamente irritada e ciumenta.



Névill, eu non acrredite que você está se imporrtande com o que eu faço ou deixo de fazerr. Que eu saiba, você julgava desnecessário fazerr isso, como você disse na última vez que discutemos. – A garota encarou Neville com um olhar altivo sobre o copo em que bebia suco de abóbora.



Neville ficou vermelho, como geralmente ficava quando Snape lhe dava um sermão agonizante, porém dessa vez a situação era diferente das assustadoras aulas de Poções. Geralmente, quando Snape gritava com Neville, o garoto abaixava a cabeça, assustado. Agora, porém, continuava encarando Katty com firmeza. Além disso, havia uma probabilidade remotíssima de Neville corar quando Snape falava por estar apaixonado e enciumado por ele. Harry ria só de cogitar essa possibilidade, que jamais esclaresceria para Neville. Resolveu permanecer fora daquela discussão, da qual Harry já conhecia o final; os dois amigos trocavam olhares aborrecidos, e em seguida ia cada um para o lado, para se verem somente no dia seguinte, falando muito formalmente, até originarem mais uma briga qualquer, geralmente iniciada por Neville.



Foi muito rápido: Katty quase gritava com Neville, atraindo assim toda a atenção de Harry e dos outros presentes, quando uma voz soou em seu ouvido e foi puxado para fora da cadeira.



– Venha comigo.



Era Marienne quem lhe carregava; no minuto seguinte Harry sorriu ao vê-la, mas tornou-se subitamente sério, um pensamento lhe afligindo a mente: a namorada nunca queria que ambos fossem vistos juntos, mas agora estava pouco se importando se alguém os visse, pelo jeito; Harry tentou por tudo que Marienne soltasse a gola de suas vestes, mas nem ao menos conseguia se virar para falar com a bruxa; ela marchava decidida, carregando Harry, até a saída do chalé. Quando abriu a porta e lançou-se para fora, soltou Harry, que tropeçou barbaramente nos degraus de madeira do chalé. Escorregando alguns degraus, Harry levantou-se, enfurecido, abrindo a boca para pedir explicações, mas simplesmente se calou ao focalizar direito o rosto da amada, que estava vermelho e molhado, uma expressaão de quem obviamente chorara.



– Mari, tudo bem? – Perguntou Harry, preocupado. Marienne escondeu o rosto nas mãos, mas levantou-o novamente, uma expressão decidida.



– Não. Nada está bem. Eu tenho... uma coisa para lhe contar. Uma coisa muito... muito séria. – Disse Marienne, segurando Harry novamente, porém agora pelas mãos, de maneira mais carinhosa. A preocupação de Harry intensificou-se em seu peito... – Vamos... para um lugar seguro.



– Certo. – Foi tudo que Harry conseguiu dizer, estava perplexo, sua garganta, seca. Deixou-se ser conduzido por Marienne até a área da Floresta dos Aurores, e se questionou por que estavam lá. A moça parecia conhecer muito bem aquela região; desviava-se dos galhos vídreos com agilidade e perfeição, enquanto Harry tentava acompanhá-la, ofegante. Logo, se encontraram em uma clareira curiosamente luminosa, já que era noite. A luz entrava por entre os galhos e formava imagens de sombras, em ângulos incríveis. Mari sentou-se no chão e indicou que Harry fizesse o mesmo, coisa que Harry faria de qualquer jeito, já que estava firmemente seguro na mão da jovem.



– Desde quando você vem aqui, Mari? – Perguntou Harry, puxando assunto depois de um longo silêncio.



– Desde os cinco anos – Disse Marienne, levantando-se para ajeitar-se melhor em outra árvore, caminhando lentamente até o outro tronco. – Meu pai foi Auror, e ele me trazia aqui quase todos os dias. Não gostava que eu passasse muito tempo em casa.



– Por q...? – Perguntou Harry, mas Marienne respondera antes de terminar a frase.



– Meu pai... não confiava na minha mãe. Não gostava dela, na verdade. Queria evitar que eu crescesse perto dela, depois de descobrir o que ela realmente era.



– Como assim? – Questionou Harry, agora absorto na conversa.



– É por isso que eu estou aqui, Harry... eu tenho que lhe falar uma coisa, antes que aconteça qualquer coisa com um de nós... esqueça que eu existo. Nunca mais me procure, está bem..? Esqueça o que passou.



Harry sentiu-se pregado no chão.



– Porque você quer que eu faça isso? Como você quer que eu faça isso? – Perguntou Harry, um tom de voz meio amargurado, meio furioso. Exatamente como Harry se sentia agora.



– Isso... não importa agora. Algo me diz que você vai descobrir tudo por conta própria, como sempre... fez... e vai... vai ser melhor...



– Mari, pare com isso e me fale logo o que está acontecendo. – Pediu Harry, sério. O que estava acontecendo? Não entendia nada! No domingo passado estavam os dois só sorrisos, beijos e abraços; Marienne nem ao menos lhe dera uma indireta que queria se separar dele. Na verdade, Harry alimentava a idéia de que Mari gostava tanto do namoro quanto ele, talvez até mais! – Fale! – Disse Harry, segurando o braço da namorada. Marienne choramingou.



– Tudo bem... se você quer mesmo saber... eu nunca lhe amei de verdade, Harry. Foi só... uma paixão passageira, infantil... foi divertida, não posso dizer que não foi... mas não era amor, nunca foi amor... sinto muito se eu lhe enganei durante todo esse tempo, mas percebi que não podia continuar com essa farsa durante muito mais. Você é um garoto... e eu já sou uma adulta responsável, sou sua professora, não posso continuar ludibriando você com essa farsa. E largue meu braço, Harry. Adeus. – Dizendo isso, Marienne saiu correndo, as mãos segurando o rosto, dizendo alguma coisa simplesmente incompreensível, deixando o coração de Harry estilhaçado como o vidro das árvores da Floresta dos Aurores.



**************




Um capítulo meio melosinho, mas importante... Gente, que saudade eu estava de postar minhas fics no Potterish!! Estava aguada de continuar essa história que, sinceramente, ainda tem bastante pela frente!! Acho que alguns de vocês devem ter reparado que os capítulos estão maiores, e podem ir se preparando, porque o décimo capítulo é gigantesco ^^'' A fic já está quase toda pronta, mas ainda não vou postá-la inteira aqui porque, além de eu ter que determinar alguns detalhes e ajustar algumas coisinhas, quero que vocês tenham tempo, fôlego e vontade de ler a minha fic, coisa que não vai acontecer se eu postar quatro capítulos de uma vez, talvez até mais!! Então, estou dando um tempinho para todo mundo poder "digerir" a história, criar algumas suspeitas em vocês sobre o andamento da fic, principalmente sobre o casalzinho principal ^^'' Existem coisas sobre a Marienne que só vão poder ser reveladas nos próximos capítulos, entre elas, o motivo dessa separação tão drástica dos dois!! Então, não percam, continuem postando seus comentários, que a cada dia me agradam mais e mais (dia desses eu arranjo capacidade mental para responder a todos ^^''), e aguardem o próximo capítulo, que loguinho vai estar aqui, e eu acho que vocês vão curtir muito. Beijos!!

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