Paradiso Inferno (Benetton)






“A desconfiança é o farol que guia o prudente.”

(William Shakespeare)






Capítulo Quinze: “Paradiso Inferno”



Mia virou a página da revista que lia com uma certa violência. Olhou o relógio na parede imaculadamente branca da sala de espera e bufou baixinho. Quatro e quinze. Faziam exatos trinta e cinco minutos que ela se encontrava sentada naquele sofá laranja fluorescente e nada de ela ser chamada.

- Culpa da Rach. – resmungou ela fazendo uma careta para uma modelo loira que sorria com seus dentes perfeitos num anúncio de creme de beleza da “Bruxa Moderna” – Se ela não ficasse me importunando tanto, eu estaria agora no meu escritório, atarefada até a raiz dos cabelos!

Virou a página da revista novamente, dessa vez quase a arrancando, tamanha era a força que empregava no ato tão simples.

A verdade era que ela não gostava nada de medi-bruxos. Nada mesmo. O simples pensamento em ser internada já lhe dava ânsias. Mas pela quarta manhã seguida que Rachel a flagrara vomitando, a amiga praticamente a obrigara a visitar seu tio, que era um dos medi-bruxos mais conceituados de Nova York.

Mia estava a um segundo de uma nova tentativa de mutilar a revista, quando escutou a voz da recepcionista.

- Senhorita Chang, o Dr Pearl irá atendê-la agora. – ela anunciou, fitando a morena com um olhar reprovador.

- Até que enfim! – resmungou ela pondo-se imediatamente de pé e seguindo por um corredor bem iluminado em direção a uma porta de cerejeira.

Abriu a porta sem muita cautela, encontrando uma sala elegante, toda pintada de rosa-salmão, com alguns quadros de barcos e uma mesa de vidro na frente de uma espaçosa janela.

Um velho bruxo, gordo e levemente calvo no topo da cabeça a olhava curiosamente através dos olhos incansavelmente verdes. Ele recostou-se em sua poltrona, e pousou as mãos entrelaçadas sobre a mesa.

- Boa tarde, senhorita Chang. – saudou ele com um sorriso.

Mia sentiu vontade de dizer que era quase boa noite, tamanha a demora no atendimento, mas controlou-se e apenas acenou com a cabeça, abrindo um meio sorriso e sentando na poltrona a sua frente.

- Bem, o que temos aqui? – perguntou ele erguendo uma sobrancelha desconfiado.

Mia remexeu-se um pouco incomodada.

- Bem, ultimamente... Nos últimos dois meses pra ser sincera... Eu ando tendo uns enjôos estranhos, dores de cabeça repentina... Eu sei que eu não estou doente, mas a Rach ficou me importunando para eu procurar o senhor, e bem, aqui estou eu!

O Dr Pearl estreitou os olhos, fitando a morena a sua frente de uma maneira quase cômica. Seguiu-se um silêncio em que somente o barulho da poltrona em que Mia se remexia inquieta se fazia presente.

- Obviamente que a senhorita não está doente. – respondeu o medi-bruxo simplesmente, sorrindo para a mulher.

Mia meneou a cabeça, sentindo-se ligeiramente envergonhada por temer algo tão simples como uma consulta daquelas.

- É só isso? – indagou, levantando-se da poltrona com um salto e ajeitando sua bolsa – Bom, muito obrigada então, doutor! O senhor é realmente o melhor medi-bruxo da cidade!

Ela apertou a mão do velho senhor de uma maneira animada, girou os calcanhares e quando estava a dois passos da porta de saída, ele a fez parar.

- Você não gostaria de saber o que tem? – a voz dele era divertida, e quando Mia virou-se para encará-lo, ele tinha um resquício de riso nos lábios.

- Bom, pra falar a verdade, não quero não! – respondeu ela fazendo menção de sair novamente.

- Mesmo assim, é minha obrigação contar. – ele disse novamente, enquanto Mia fazia uma careta de súplica.

- Diga, então. – disse ela com a voz cansada, virando-se para ele – Se não estou doente, o que raios que eu tenho que não consigo parar de vomitar?

Dr. Pearl sorriu novamente. Aquilo já estava começando a irritá-la. Por que raios o homem não conseguia parar de rir?

Ela aguardou a resposta batendo o pé impaciente no chão.

- E então, doutor? O que é que eu tenho?

Ele meneou a cabeça, divertido, antes de responder:

- Um bebê.


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Mia sentiu a cabeça latejar fortemente e o braço formigar na tentativa frustrada de se erguer na superfície estranhamente macia em que se encontrava. Tentou abrir os olhos, mas uma luz ofuscante perfurava suas pálpebras, desanimando-a a seguir com o gesto.

- Droga... – resmungou com a voz embolada, antes de sentir um arrepio percorrer seu corpo devido à uma baforada quente em sua nuca – Que raios...?

Com um movimento brusco ela se virou para trás, esquecendo-se completamente do braço adormecido ou das marteladas invisíveis em sua cabeça. A cama onde ela se revirara soltou um gemido alto devido ao movimento, mas o som não foi alto o suficiente para abafar a exclamação de surpresa da morena:

- MERLIM! – ela arregalou os olhos, esquecendo-se completamente da claridade, e tentando se esquivar da pessoa, acabou por se desequilibrar e cair com um estrépito no chão.

- O que você está fazendo...? – a voz dele saiu rouca e sonolenta, e extremamente sexy, na opinião dela.

- O que... o que... Onde... nós... e... – ela apenas conseguia balbuciar palavras sem nexo, surpresa demais com a situação absurda.

- Quer fazer o favor de falar com a boca...? – cortou ele mal humorado.

Mia respirou fundo, tentando fazer sua respiração voltar ao normal, enquanto amarrava a cara para o rapaz.

- O que você está fazendo aqui? – perguntou ela levantando-se do chão e fitando-o com um olhar assassino – Aliás, o que EU estou fazendo aqui? Onde eu estou...?

Olívio revirou os olhos cor-de-mel, enquanto afastava uma mecha dos cabelos castanhos dos olhos.

- Não é óbvio...? – retrucou ele mal humorado – Tentaram me seqüestrar e acabaram seqüestrando você junto.

Olívio cobriu os olhos com uma das mãos, enquanto Mia voltava sua atenção ao quarto em que se encontravam. Era um ambiente pequeno, com uma cama de casal e uma minúscula janela com grades. O chão era de madeira podre e Mia espantou-se que ele não desmoronara devido ao seu tombo.

- Que raios! – ela resmungou irritada enquanto voltava a se sentar na cama – Todas as desgraças da minha vida envolvem você! Isso é tudo culpa sua!

Olívio bufou.

- Você acha que eu queria ser seqüestrado e estar aqui com você? – retrucou ele fitando-a pelo canto dos olhos – Acredite, eu preferiria mil vezes estar no meu apartamento com outra pessoa.

Mia sentiu as palavras de Olívio perfurando seu coração. Claro, ele preferiria estar com Kahlen... Quem sempre fora, de fato, o grande amor da vida dele... Por quem ele sempre fora apaixonado. Ela mordeu o lábio inferior, engolindo as lágrimas que brotaram em seus olhos e permaneceu calada, desejando que as lágrimas fossem embora.

Olívio soltou um longo suspiro ao seu lado. Será que ele pensava nela...?

Mia não conteve um soluço baixinho, enquanto sentia o olhar de Olívio voltando-se em sua direção.

- O que você ta fazendo? – perguntou ele rispidamente.

Ela não respondeu. Apenas enterrou o rosto nas mãos, virando-se de costas para o rapaz. Uma por uma, as lágrimas indesejosas pendiam por sua íris negra. Inspirou profundamente na tentativa de se acalmar, e o perfume de Olívio preencheu suas narinas. Ela apertou os olhos, não reconhecendo no rapaz o cheiro habitual de Olívio: aquele aroma de grama molhada que lhe era tão familiar. Ao contrário do efeito que aquele cheiro lhe causava, o novo aroma do rapaz lhe dana ânsias: era um cheiro doce, enjoativo. Ela fez uma careta quando sentiu o odor se aproximar mais e mais de seu corpo.

- Desculpe.

Um sussurro. Um arrepio. Próximo... muito próximo.


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Radiante. Era como se sentia desde que ouvira o resultado por Dr. Pearl àquela tarde. Extremamente radiante.

Andava saltitante pelas ruas de Nova York cumprimentando estranhos na rua com um sorriso amistoso, enquanto acariciava a barriga saliente, resultado dos seus cinco meses de gravidez.

Parou em frente a sua habitual Casa de Cafés, abraçando uma moça loira por trás.

- Bom dia Rach! – desejou Mia alegremente à mulher, soltando-a do abraço.

- Bom dia minha Florzinha! – respondia a loira com seu habitual ar maternal – E então? Qual foi o resultado? – perguntou ela ansiosa, enquanto ambas entravam na Casa de Cafés e se dirigiam a uma mesa mais afastada do caixa.

- Adivinha. – respondeu a morena não agüentando um sorriso.

- É... – começou a loira, mas suas palavras foram atropeladas por um espalhafatoso atendente.

- Bom dia Mia! – exclamou o rapaz de olhos castanhos.

- Bom dia, Dean. – respondeu a morena enquanto segurava um sorriso ao ver a careta contrariada de Rachel.

- E essa barriga que continua a crescer, hein? – comentou ele tolamente, enquanto Rachel revirava os olhos.

- Ainda, bem né. – respondeu a loira secamente.

Dean meneou a cabeça confuso, enquanto se voltava para encarar Rachel.

- É. – concordou, abrindo um sorriso enviesado – Bem, o que vão querer?

- Eu quero um Latté. – respondeu Rachel, enquanto uma pena anotava sozinha o pedido da loira em uma caderneta que flutuava ao lado do rapaz.

- Eu vou quer... – começou Mia, mas novamente, o rapaz a interrompeu.

- Um capuccino descafeinado, com leite desnatado e chantilly? – ele abriu um enorme sorriso, enquanto Mia assentia. – Sei perfeitamente do que você gosta. – ele sorriu novamente, piscando um olho para a morena e desaparecendo detrás do balcão.

- Ele sempre teve uma queda por você, mas ultimamente já está demais! – comentou Rachel ranzinza – Ele está quase sempre errando meus pedidos!

Mia riu, enquanto meneava a cabeça.

- Você quer saber ou não o resultado? – perguntou, enquanto Rachel transformava completamente sua feição.

- Claro que quero! – exclamou ela animada.

Mia sorriu orgulhosa.

- Menina!

Rachel soltou um gritinho eufórico, enquanto se levantava parcialmente de sua cadeira e abraçava a amiga.

- Parabéns querida! – disse a loira voltando ao seu assento – Você já escolheu o nome?

Mia sorriu.

- Só consegui pensar no segundo nome. O primeiro ainda está em branco...

- Eu nunca entendi direito esse costume de vocês, orientais, de sempre começar as coisas pelo fim... – comentou Rachel enquanto Mia ria – Qual vai ser o segundo nome...?

- Aya... – respondeu a morena sonhadora.

Rachel franziu o cenho pensativa, provavelmente achando que o nome era esquisito para os padrões americanos, mas meneou a cabeça logo em seguida.

- Bom, eu tenho uma sugestão quanto ao primeiro nome. – disse animada.

- Rachel? – sugeriu Mia erguendo uma sobrancelha divertida.

- Esse também seria bom. – respondeu Rachel afobada – Mas... o que você acha de perguntar ao Woo –

- Aqui estão! – interrompeu Dean pela terceira vez, depositando dois copos na mesa – Um capuccino descafeinado com leite desnato e chantilly para Mia... – e piscou para a morena novamente – E para a loira, um Mokkaccino expresso.

- Não foi isso que eu pedi! – exclamou Rachel indignada – Eu quero um Latté! L–a-t-t-é!

Dean meneou a cabeça e sorriu forçado.

- Tudo bem, eu troco pra você. – respondeu, levando de volta o copo com o pedido errado.

- Cappuccino-descafeinado-com-leite-desnatado-e-chantilly ele consegue memorizar! Latté, não! – resmungou Rachel mau humorada enquanto a morena ria e sorvia um grande gole de sua bebida.

- Hm... Está bom Rach! Quer um pouco?

A loira meneou a cabeça, furiosa, esquecendo-se completamente da sugestão que daria à amiga: procurar Olívio Wood.

Mia sorriu com a indignação da amiga enquanto a mesma consultava seu relógio de pulso, bufando e praguejando o atendente.

- Bom, eu preciso ir se não quiser ser demitida. – resmungou ela com um muxoxo – Você vai ficar?

Mia virou o resto de seu capuccino em um só gole e meneou a cabeça.

- Também vou indo. – respondeu enquanto retirava dois sicles da bolsa e colocava em cima da mesa.

Mia pôs seu casaco e as duas se retiraram da Casa de Café.

- Bom, Mia... Já que o incompetente do seu namorado não sabe nem ao menos anotar um pedido direito, eu vou voltar à redação do jornal sem o meu Latté.

Mia meneou a cabeça, sorrindo divertida.

- Eu vou aproveitar o meu dia de folga pra comprar algumas coisinhas pra minha Vida. – respondeu ela sorridente, acariciando de leve a barriga – Agora que já sei que será uma menina, tenho que fazer o enxoval da minha futura princesinha...

- Mas pelo amor de Merlim, tome cuidado com essa barriga. – advertiu Rachel preocupada – Você pensa que só existe perigo e Lord das Trevas na Inglaterra, mas aqui em Nova York existem bruxos bem piores!

- Tudo bem, mamãe. – respondeu Mia revirando os olhos.

- Estou falando sério! – disse Rachel sacando a varinha – Tome cuidado! – e com estalo, ela desaparatou.

Mia revirou os olhos novamente. Rachel e sua preocupação de mãe. Sempre tomando conta dela.

Ajeitou a bolsa no ombro direito e virou-se para andar na direção da 5th Avenue, onde se localizava as grandes marcas de roupas bruxas, quando sentiu alguém esbarrar com brutalidade em seu ombro.

- Ei! Vê se olha por onde anda! Tome mais cuidado! – gritou ela furiosa, envolvendo sua barriga protetoramente.

- Oh, perrdoe-me! – a voz masculina com um forte sotaque francês lhe soou extremamente familiar – A senhorra estarr bem?

Mia meneou a cabeça confusa.

- Jean?! – ela exclamou com os olhos arregalados.

- Quem...? – o loiro franziu o cenho confuso – MIA?!

A morena assentiu brevemente.

- O que você está fazendo aqui?! – as vozes ecoaram pela rua movimentada no exato momento, enquanto os dois atropelavam respostas desconexas.

- Vim a trabalho – responderam os dois juntos, novamente. Se encararam por um momento e gargalharam.

- Acho qui tems muito o qui converrrsarr. – disse Jean encarando a barriga prenha de Mia com os olhos arregalados de uma maneira divertida.

- Tem um restaurante ótimo aqui perto. – disse Mia indicando uma viela à esquerda da avenida – Eu tomei litros de capuccino mas ainda não consegui almoçar.

- Tambén non consegui almoçarr ainda... – disse o loiro sorrindo.

- Vamos, então?

Jean assentiu sorrindo.


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Um choque elétrico percorreu toda a extensão do corpo dela. Ela se levantou da cama com um pulo, se afastando o máximo que podia do rapaz.

- O... o que você pensa que está fazendo? – ofegou ela, tateando as suas costas em busca da parede. Sentia que desmoronaria se não se apoiasse em alguma coisa.

Olívio apertou os olhos cor de mel, visivelmente irritado.

- Nunca entendi você. – respondeu, com desagrado na voz – Chora porque eu digo que preferiria estar com outra, e quando eu me aproximo você se afasta. Hipócrita.

Mia sentiu um sorvo de ar lhe faltar aos pulmões. Quando recuperou seu fôlego, prestes a dar uma resposta grosseira ao rapaz, a porta do cubículo onde eles estavam se escancarou de um modo violento, e duas figuras vestidas de preto e com capuzes pontudos adentraram o aposento.

- O que...?

Sem dizer qualquer palavra, os dois seres, que Mia deduziu serem homens, seguraram com violência os braços de Olívio e o arrastaram para fora do quarto. Mia ficou paralisada, sem saber o que fazer. Sua voz parecia presa em sua garganta. Ela observou em silêncio os dois homens encapuzados levarem Olívio e trancarem a porta com um feitiço.

Sentia seu coração bater acelerado e seu peito doer. O que eles pretendiam fazer com Olívio...?


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- Querr dizer qui focê estarr grrávida de cinco meses? – Jean questionou enquanto assoviava – Uau!

- Pois é. – respondeu ela enquanto levava um suculento pedaço de bife de búfalo à boca.

- E eu posso saberr quem é o pai...? – ele questionou erguendo uma sobrancelha.

Mia parou de mastigar por um segundo e olhou receosa para o ex-noivo.

- Está tudo bem, focê pode me contarr. – respondeu o loiro sorrindo.

De algum modo, o sorriso de Jean sempre conseguia tranqüilizá-la. Ela gostava de tê-lo por perto para niná-la, acalmá-la. A relação deles era tão morna que chegava a ser fraternal. Talvez fosse por isso que os dois não haviam dado certo como um casal.

- Mesmo se eu te contasse, você não saberia quem é. – respondeu a morena voltando sua atenção novamente para comida em seu prato.

- Ora, non me subestime. – respondeu o loiro sorrindo mesmo com a grosseria da morena.

Mia ergueu seu olhar do prato para o azul cintilante dos olhos de Jean.

- O que você quer dizer com isso? – perguntou ela com um olhar inquisidor.

- Nada, só estou dizendo qui talvez eu te conheça melhorr do qui focê pensa. – respondeu ele erguendo as mãos em sinal de defesa.

- De qualquer modo, você não saberia quem é.

- Tente me dizer. – insistiu o loiro.

Mia apertou os olhos, analisando cada pedaço do bonito rosto do rapaz.

- Olívio Wood.

Uma ruga se formou na testa de Jean enquanto ele erguia as sobrancelhas.

- Porr qui focê nom conta prra ele?

- Como você sabe que eu não contei? – rebateu a morena apertando os olhos.

Jean sorriu novamente, fazendo a respiração de Mia se normalizar.

- Se focê tivesse contado – começou o loiro se aproximando de Mia até que sua voz se tornasse um sussurro – Ele estarria aqui ao seu lado, e não dorrrmindo no quarrto ao lado do meu no hotel.

Mia franziu o cenho pensativa, até que a compreensão se fizesse presente em sua cabeça.

- Vocês jogam juntos no Pudd... – sussurrou ela, enquanto Jean assentia sorrindo.

- Eu tenho cerrteza qui ele ficarria muit feliz em saberr de sua grravidez.

Um assombro de pânico tomou conta do rosto da morena.

- Mas ele não vai. – interpelou ela de um modo agressivo – Eu te proíbo de contar a ele! – ela praticamente gritou a última parte, enquanto várias pessoas viravam a cabeça para observar o casal que perturbava a paz no restaurante.

- Mia, calma, eu –

- Você não pode! – gritou ela enquanto se levantava da cadeira – Eu fujo! Eu saio daqui!

- Mia, porr favorr se acalm –

- Eu não quero vê-lo! Eu... – ela sentiu como se alguém tivesse apunhalado sua barriga. Dobrou-se de pé, protegendo sua filha enquanto sentia a vida da pequena se esvaindo de seu corpo.

Dor. Sua cabeça girava velozmente enquanto ela sentia um líquido escorrer por suas pernas. As pontadas internas em sua barriga continuavam sem piedade. Alguém dentro dela tirava sua Vida...

- Não... – ela sussurrava enquanto tentava se equilibrar em suas pernas que pareciam não existir.

- MIA! – a voz de Jean ecoava distante... longe. – MIA!


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Mia fincava as unhas na perna, enquanto abraçava os joelhos com força. Vira o céu escurecer pela janela do cubículo fazia mais de meia hora. O que eles estariam fazendo com Olívio? Meneou a cabeça tentando afastar quaisquer pensamentos pessimistas da cabeça. Olívio estava bem.

- Ele tem que estar... – sussurrou para o nada, ainda fitando a porta do quarto com os olhos marejados.

Com um estrépito grosseiro, a porta se escancarara pela segunda vez naquele dia, mas Mia não viu nenhum homem encapuzado. Apenas pôde ver um corpo masculino sendo jogado sem um mínimo cuidado para dentro do aposento e a porta sendo selada novamente.

Seu coração bateu acelerado. Tremendo dos pés à cabeça, ela saltou da cama em direção ao corpo encolhido no chão.

- Olívio...? – ela chamou, enquanto descansava a cabeça do rapaz em suas pernas – Olívio, por favor, acorde.

A respiração do rapaz era rasa e ele suava frio.

- Oli...? – ela chamou novamente, deixando escapar um soluço – Porquinho?

Talvez fosse a imaginação, ou talvez o subconsciente da garota, mas naquela hora ela pensou ter visto um assombro de riso tomar a face do rapaz. Com esforço, Olívio entreabriu os olhos e sorriu fracamente ao encontrar as obres negras de Mia.

- Estou bem.


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Sentiu sua cabeça girar quando tentou se erguer da cama em que se encontrava. Um mar de branco tomou conta de sua visão enquanto ela se esforçava para sentar.

- É melhorr non se esforrçarr muito. – a voz familiar de Jean soou angustiantemente triste aos seus ouvidos.

- O que aconteceu? – ela perguntou ofegante, apertando os olhos enquanto o clarão da janela aberta lhe cegava.

Jean engoliu seco.

- Bem, focê começou a passarr mal e eu te trrouxe aqui parra o hospital. – começou ele cauteloso.

- Aconteceu alguma coisa com o meu bebê?!

Jean mordeu o lábio inferior.

- Jean? – insistiu ela, o desespero tomando conta de seu corpo. Tateou sua barriga com as mãos, e com um suspiro de alívio constatou que ela continuava saliente.

Inspirou profundamente tentando se acalmar, abriu os olhos de uma vez e virou-se automaticamente para o loiro.

- O que houve? – sua voz saiu segura e firme, e Jean talvez tivesse se sentido incapaz de desviar o olhar da morena.

- Eu... Eu sinto muito, Mia. – Jean abaixou seu olhar e passou a fitar o chão – O Dr. Pearl fez tud qui ele podia, mas infelizment...

- Infelizmente?

Jean suspirou, erguendo seu olhar para encarar as orbes confusas e marejadas da mulher que um dia ele amara.

- Infelizment focê perrrdeu seu bebê.


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Suspirou, escondendo o mar negro dos cabelos entre os braços. Até quando eles continuariam presos ali...? Será que nenhum dos amigos tomaria a iniciativa de procurá-los?!

Escutou Olívio suspirar ao seu lado. Três dias. Três dias que se alimentavam de água e alguns restos de comida dignos de um hipogrifo. Sentiu seus olhos arderem de cansaço. Aquele calor infernal não ajudava em nada. Mesmo àquela hora do dia, quando o sol se punha, o calor a sufocava, matando-a aos poucos.

Fechou os olhos com força, tentando pensar em um grande copo de suco de abóbora gelado, quando Olívio atrapalhou seus pensamentos com um pigarreio.

- O que foi? – ela perguntou cansada, mantendo os olhos muito bem fechados. Com o calor que fazia o rapaz insistia em ficar sem camisa, e venhamos e convenhamos, Mia Chamg nunca fora muito boa em resistir a um Olívio Wood seminu, suado e bronzeado.

- Você é linda, sabia? – Mia escutou-o dizer, e arregalou os olhos assustada. Será que o calor a estava fazendo ouvir coisas...?

- O que você disse? – ela virou-se para encará-lo, encontrando-o sentado no chão, com a cabeça apoiada na parede e os olhos fechados.

- Que você é linda. – respondeu ele sem se mover.

- Olívio, você está bem? – ela perguntou com a voz esganiçada, desencostando-se da parede fria para observar melhor a face do rapaz.

Olívio abriu os olhos lentamente, e com um movimento em uma sincronia que parecia pré-determinada, ele virou-se para encarar os olhos cintilantes da morena.

- O que tem de mais eu te chamar de linda? – ele perguntou casualmente.

Mia apertou os olhos, mas quando abriu a boca para responder, a porta se escancarou com violência. Ela observou Olívio se encolher involuntariamente ao seu lado, provavelmente à espera dos homens encapuzados, mas dessa vez quem adentrou o cubículo onde estavam foi um ruivo baixo e troncudo, que Mia reconhecera de algum lugar.

O ruivo parou à porta, ofegante, e sorriu quando seu olhar encontrou os corpos suados e maltratados de Olívio e Mia.

- ACHEI ELES! – o ruivo berrou, colocando a cabeça para fora do cubículo.

Passos apressados ecoaram lá fora, enquanto Mia se encolhia no chão e Olívio se punha de pé com um salto.

- Fiquem calmos, viemos para resgatar vocês. – o ruivo falou apressado, ajoelhando-se na frente da morena.

- Viemos...? – Mia balbuciou, olhando desconfiada para o estranho. E se fosse uma armadilha...?

O som dos passos se tornou cada vez mais forte, e ainda encolhida no chão, Mia viu a figura esguia e os novos cabelos flamejantes de Kahlen pararem à porta do cubículo, seguida de um ofegante loiro de cabelos arrepiados.

Com a cabeça clara e o coração batendo acelerado de felicidade e alívio, Mia levantou-se com um pulo do chão, abraçando o loiro pela cintura e enterrando seu rosto no ombro do rapaz.

Jean remexeu-se, parecendo muito constrangido com a reação da morena.

- Hm... Fico feliz qui focê esteja bem, mas... Mia, serrá qui... hm.. poderria me soltarrr.? – o loiro balbuciava enquanto lançava olhares ansiosos à ruiva ao seu lado.

No entanto, Mia permanecia muito bem abraçada ao rapaz.

- Mia. – chamou o loiro novamente, tentando afastar a morena de seu corpo, enquanto sentia uma mão deslizando até o bolso traseiro de sua calça.

- Mia, o que você está fazendo? – a morena escutou a voz de Kahlen estridente ao seu lado, mas não se importou. Capturou furtivamente a varinha de Jean, que ele sempre guardava no bolso traseiro da calça, e com um movimento rápido apontou-a e gritou:

- COLACORPUS!

Com as pernas atadas, Olívio caiu com um baque surdo no chão.









N/A: EEEEEeeeiiii gente!! Hahaha Aqui estou eu novamente para encher o saco de vocês! Sinto muito mesmo pela demora, juro que não faço de propósito, mas agora estou trabalhando de manhã e a tarde e indo pra faculdade à noite, e conseqüentemente não estou tendo tempo para escrever! As horinhas que eu tenho do de folga me servem para comer, tomar banho e dormir! Mas eu não abandonei a fic não! Hehehe e acredito que ainda não tenha desistido graças ao apoio de vocês! Muito obrigada mesmo a todas que comentam, que apóiam, que ameaçam... hehehe... Só tenho a agradecer a vocês! Espero que a fic não esteja tomando um rumo “esperado”... eu queria muito que ela fosse diferente.. inesperada... misteriosa! Heheh mas as revelações só serão feitas no próximo capítulo! * -^_____________^- *!

Agora, vamos aos coments...

Thata: Lindona da minha vida!! Nem preciso te dizer o quanto você ler minha fic significa pra mim né?! Obrigada mesmo Thatha! De todo o coração!! Te amo maninhaa!

Thássia; : Comigo desde o comecinho da fic!! Hahaha tão especial que se transformou em uma personagem, que apesar de eu falar mal, amo de todo o coração! Hahaha... porque afinal, o que seria das mocinhas sem as malvadas?? E cá entre nós, catar o Davies e laçar um dos gêmeos Weasley não é pra qualquer uma né?! ^^ Hehehe Obrigada por todos os comentários, todos os incentivos, todos os puxões de orelha Thaty! ^^ Obrigada mesmo!

Tammie: Nossa, muito obrigada mesmo por todo o apoio, os elogios, o email.. TUDO!! Hehehe ah, bom, depois desse capitulo acho que já entreguei de bandeja a resposta para suas suspeitas né?! ^^ hehehe Acho que não consegui enganar ninguém! Minhas leitoras são muito espertas! Obrigada de todo o coração viu!


Ligia Melo: Hehehe pois é... a fic ta chegando ao seu fim!! >__< Pouxa, o que eu vou fazer sem os comentários de vocês??? Acho que vou inventar uma continuação para fazer vocês sofrerem mais... Hehehe Mas eu ainda não sei direito... Acho que só vou colocar mais dois capítulos, e depois um epílogo... Estou muito feliz mesmo que você continue lendo e comentando a fic! Muito obrigada!

Nash e Fê W.: Vocês, minhas sobrinhas, estão cada vez mais desnaturadas!! Hahaha abandonam suas fics, somem do mapa e nem dão sinal de vida!! Poxa, estou com saudades de vocês!! Vê se aparecem! ^^ Adoro as duas!

Luisa ( _-_-_ ): Hehehe acho que pude responder pelo menos algumas das suas perguntas nesse cap! ^^ Os dois foram seqüestrados juntos, mas já foram salvos... O Oli... Ah, eu não consigo disfarçar mesmo, então NÃO... ele não é o noivo da Kahlen! ^^ hehehe já deu pra sacar quem é com esse capítulo né?! Hehehe Desculpe mesmo pela demora! Mas é que eu estou atolada de coisas pra fazer! Desculpa mesmo! Muito obrigada por ler a fic e comentar! ^^ Bejão

Tati: Heheh desculpa ter desconfiado por um momento que você não estava mais lendo... eu sei que você está sim! ^^ Obrigada por todo o apoio, pelos comentários... Espero que eu tenha esclarecido aprte das suas duvidas nesse capitulo! ^^ Beijão tati!

Lunny: Obrigada pelo comentário!! Me deixou muito feliz mesmo! Qualquer sinal de vida vinda das minha sleitoras já me deixa muito feliz! Me dá forças pra continuar! Heheh que bom que você está achando o Oli engraçado! Hahahaha era essa minha intenção! Obrigada por ler a fic e pelo comentário! Super bjo! ^^



Meus sinceros, grandiosos e calorosos agradecimentos às minhas RFC´c, que me inspiraram a começar a escrever essa fic, à todas as pessoas que lêem, que comentam, e que me fazem muito feliz e me dão forças para não desistir! Vocês são muito importantes para essa pobre e humilde aprendiz de escritora! MUITO OBRIGADA MESMO!

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