Pensamentos e cartas
Rony estava em seu quarto na Toca arrumando, de má vontade, os livros no armário. De repente a porta de seu quarto abriu e ele viu Hermione parada lá, sorrindo para ele. Rony largou os livros no chão e correu para abraçar a amiga. Depois que a largou, olhou bem dentro dos seus olhos e a beijou. Uma claridade, então, ofuscou sua vista. Abriu os olhos e viu o sol entrando pela sua janela. Estava deitado na cama, abraçando seu travesseiro. “Droga! Outro sonho!” Pensou resignado. Havia 5 dias que voltara de Hogwarts e há 5 noites vinha sonhando com ela. Os sonhos não eram iguais, mas sempre terminavam daquele jeito: eles se beijando. Estava ficando louco ou o quê? Não parava de pensar em Hermione. Só 5 dias e estava maluco de saudades.
Levantou da cama resmungando e desceu para cozinha.
Hermione olhava para o teto de seu quarto trouxa, se recusando mentalmente a sair da cama. Estava com a cabeça bem longe dali. Sua cabeça estava nos últimos dias que passou em Hogwarts. Instintivamente deu um sorriso. “Por Merlin, por que estou sorrindo? Dumbledore morreu! Voldemort está mais forte do que nunca!” Pensou. De repente estava sorrindo de novo. “Acho que estou maluca. O que diriam os meninos se me vissem sorrindo depois de tudo o que houve? Harry fecharia a cara para mim, com certeza. E Rony então...” e sorriu de novo. Por mais que tentasse, ela não conseguia evitar: o rosto de Rony sempre voltava à sua mente. Por isso ela sorria, porque a lembrança mais marcante do funeral de Dumbledore era Rony a abraçando e acariciando seus cabelos, enquanto a consolava. Não conseguia pensar em outra coisa. A sensação dos braços dele em volta dela lhe dava um arrepio quente e gostoso só de lembrar. Estava se sentindo estranha com isso. Aquela não era uma atitude normal da Hermione Granger que todos conheciam. Quem era ela afinal? A Hermione de sempre estaria triste e de luto pela morte do Professor, estaria pensando nas conseqüências e já tentando traçar estratégias para ajudar Harry na busca pelos Horcruxes. Porém a Hermione que estava lá só tinha um pensamento na cabeça: Ronald Wesley.
Neste momento um barulho na janela a despertou dos devaneios. Levantou a cabeça e viu uma coruja muito branca no parapeito.
- Edwiges! – exclamou a menina e abriu a janela, deixando-a entrar.
Desatou a cordinha que prendia o pergaminho nela e desenrolou para ler. “Harry escrevendo tão cedo? O que será que aconteceu?”
“Hermione,
Desculpe-me se Edwiges chegou muito cedo aí, mas é que estou meio atormentado nos últimos dias e não tenho conseguido dormir direito. Para você ter uma idéia, são 4h da madrugada e eu estou escrevendo esta carta. Não é para menos, com tudo o que houve, e o pior, com o que está por vir. Mas não quero aborrecê-la com isso agora. Estou tentando desviar meus pensamentos do idiota do Malfoy, do assassino do Snape e daquele miserável com cara de cobra. Procuro desesperadamente não pensar nisso por enquanto e acho que estou conseguindo, mas meus pensamentos acabam me provocando outra dor que não estou conseguindo me livrar. Não é minha cicatriz que dói desta vez, amiga, é meu coração. As palavras que eu disse à Gina, antes de irmos embora, estão me perseguindo. Tenho certeza que ela deve ter lhe contado na viagem de volta. O fato é que o arrependimento está me torturando. Pior que uma Crucciatus, se isso é possível.
Amiga, eu amo demais aquela ruiva e não sei como pedir desculpas a ela. Eu magoei muito a Gina e não sei como ela está agora. Sei que ela é forte e parece que agüentou bem o baque, digamos assim. Não sei se me perdoará.
Antes de escrever para você, quase escrevi para o Rony, contando como estou me sentindo, afinal ele conhece a Gina desde que ela nasceu, mas então achei que a resposta dele seria algo como:
Agora agüenta as conseqüências, cara. Nem pense em magoar minha irmã de novo!
Então eu pensei em você. Qual é a pessoa mais sensata de Hogwarts? Qual é aquela que conhece tudo de todos? Qual é a pessoa que mais me entende nestas horas? Quem é que tem sabedoria o suficiente para me aconselhar? A resposta é uma só: você, Hermione. Me ajuda, por favor! O que você acha que eu devo fazer? A minha vontade é de largar tudo e ir para a Toca agora mesmo, mas acho que seria precipitação. O que você me aconselha?
P.S.: Pedi a Edwiges que fique aí aguardando, até que você possa me mandar uma resposta. Por favor, não demore muito, senão vou enlouquecer.
Um beijo grande do seu amigo,
Harry”
- É Edwiges, parece que não sou só eu que estou com a cabeça perdida lá naquela Toca... – murmurava ela para a coruja, quando, de repente, outra coruja pousou no parapeito da sua janela.
- Errol, é você mesmo? – e abriu a janela. A coruja estava bem mais cansada que Edwiges.
- Duas corujas logo cedo! Caramba! – disse pegando o pergaminho amarrado nela. Era a letra de Gina.
"Amiga,
Tentei a todo custo não enchê-la com meus problemas, mas você é a única pessoa com quem converso essas coisas. Mamãe fica muito ocupada com a montoeira de filhos e um marido para cuidar, além das coisas da Ordem. Eu também fico meio sem graça de falar de rapazes com ela. Sei que é minha mãe e tal, mas você conhece Molly Wesley. A reação é imprevisível. Prefiro desabafar com você. Preferia falar pessoalmente, e estou quase incentivando o papai a comprar esse aparelho trouxa que vocês têm aí na sua casa: o telefone. Assim seria bem mais fácil a gente se falar logo, afinal não tivemos muito tempo para conversar no trem, depois daquilo tudo.
- Hermione sorriu ao pensar em um telefone tocando na casa deles. -
Estou me sentindo esquisita depois do que o Harry me disse em Hogwarts. Estou fazendo uma força imensa para entender as razões dele, mas está sendo difícil. Sei que ele quer o meu bem, mas será que o “meu bem” é ficar separada dele? Mione, eu amo o Harry. Você sabe o que eu sempre senti por ele. Aliás, você era a única que sabia. Você cansou de me dar conselhos e que acabaram dando certo. Preciso de seus conselhos de novo, amiga. Fico assustada porque, por mais que eu o ame, às vezes sinto muita raiva dele por ter me magoado. Na hora em que eu sinto essa raiva, eu fico com a certeza que vou acabar me acostumando, mas aí eu lembro dos beijos dele, lembro das coisas que ele sussurrava no meu ouvido e aí eu sei que estou perdida mesmo e a saudade vem com tudo. Esses sentimentos dúbios é que estão acabando comigo, às vezes raiva, às vezes amor. Por Merlin, o que eu faço, Mione?
Será que Errol pode esperar sua resposta? Aguardarei ansiosa.
P.S.: Vem para cá logo! Poderemos conversar melhor.
Beijos,
Gina”
- Como vou aconselhar esses dois se eu mesma estou precisando de conselhos? – disse para as corujas e as duas piaram como se tivessem entendido. Hermione, então, pegou pergaminhos e pena para escrever.
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