Dias Cinzentos



Existe uma lei na física que diz que se algo tem alguma probabilidade de dar errado, com certeza, vai dar. E, essa teoria nunca fez tanto sentido como naquele fim de outubro. O caos tomou conta de tudo. Não se soube como, mas a sede da Ordem foi descoberta e ex-simpatizantes de Voldemort a atacaram de surpresa, matando um auror e ferindo gravemente outros três. Por sorte, a situação foi contornada, mas toda a comunidade bruxa estava em alerta e o pânico era geral. Todos temiam que aqueles tempos negros estivessem voltando. O ministério se aliou aos auroures, e juntos eles começaram a trabalhar para restabelecer a paz e a ordem. Infelizmente, os desordeiros aproveitaram a vulnerabilidade para agir e, conseqüentemente, a violência aumentou em número e grau. O ministério também enfrentava uma grave crise, e a competência de Arthur Weasley começou a ser questionada. Seus opositores também aproveitaram essa brecha para tentar enfraquece-lo. A tensão era palpável, e todos esperavam o stopim dessa crise. Ele aconteceu, mais ou menos, duas semanas depois do ataque. Até então, Gina e Sebastian continuaram tocando a vida com a maior normalidade possível. Nesse dia, em especial, ela tinha ficado no trabalho até um pouco mais tarde, e quando retornou pra casa, encontrou a porta do apartamento entreaberta, estranhou porque nas atuais circunstancias todo cuidado era pouco, e Sebastian sabia e concordava com isso. Com cuidado e um pouco tensa, tirou a varinha da bolsa e entrou. O lugar estava todo revirado e no chão da sala, havia um corpo, imóvel... Ela não precisou de luz pra saber quem era, desesperada e com lágrimas nos olhos, correu até ele, debruçando-se sobre o corpo:

- Sebastian... Sebastian!!!- chamou desesperada chacoalhando o corpo

- Sebastian... Acorda, por favor... Não me deixa... Sebastian...- continuou soluçando

Ela permaneceu alguns minutos aturdida, sem saber o que fazer ou o que pensar. Aquilo tinha sido um baque, seu amigo era sua fortaleza... Era inacreditável como sua vida tinha virado um inferno e era inacreditável que alguém tivesse coragem de fazer isso com ele de forma tão violenta... Seu amigo mais leal. Com a mente incapaz de pensar em outra coisa, saiu atrás do aparelho que Mione lhe dera:

- Droga! Cadê? Cadê?Aqui... Calma.- disse para si respirando fundo

- Tecla verde + número... Não, não... Número + tecla verde... É, é isso...

Depois do telefonema, em menos de dez minutos Mione chegou com todo o resto. Enquanto seu apartamento era “invadido” por várias pessoas encarregadas de encontrar pistas e levar o corpo para o St. Mungus, Gina permanecia sentada no sofá, com os olhos inchados e com a cabeça baixa, incapaz de pensar... Aquilo só podia ser um pesadelo! A sensação que tinha era a de estar no centro de um furacão:

- Gina, você está bem mesmo?- perguntou Mione sentando-se ao seu lado

Ela assentiu, incapaz de falar:

- Como ele está?- Hermione perguntou a Harry

- Ele saiu daqui quase sem pulsação, mas eles disseram que vão fazer o possível no St. Mungus.

- Há sinais de luta, ele deve ter resistido e depois foi torturado pela maldição Cruciatus, quanto a isso não há dúvida, O que me leva a supor, que quem fez isso achou que ele estivesse morto quando saiu daqui, porque se não o golpe final seria dado.- disse Sirius sério

- Mas, quem iria querer machuca-lo?- perguntou Rony confuso

- Talvez, a vitima não fosse ele... Pra mim, ele só estava no lugar errado, na hora errada... Ele foi só uma peça no jogo, uma peça que descartaram.- respondeu Mione pensativa

Fred apareceu na porta, parecia inquieto:

- Falou com o porteiro?- perguntou Harry assim que o viu

- Falei...- respondeu hesitante

- E, aí... O que ele disse?

Ele lançou um olhar a Gina, antes de responder:

- Eu mostrei algumas fotos, e ele reconheceu uma delas... Ele disse que a última pessoa que entrou antes da Gina foi o .... Malfoy.- disse por fim

Gina que até então estivera alheia a tudo, levantou a cabeça para encarar o irmão incrédula:

- Não... Não... Ele não faria isso... Eu sei que não!!!

Ele balançou a cabeça em sinal de reprovação:

- Gina, eu sei que pra você é difícil de aceitar, mas pára de se enganar! Ele nunca foi flor que se cheire e você sabe disso. Além do mais, ele tinha motivos mais do que suficientes para entregar a ordem e tentar dar cabo à vida do seu amigo.- vociferou injuriado

Ela o encarou perplexa, antes de retrucar revoltada:

- Aonde é que você está querendo chegar, hein?

- Pra mim parece bastante óbvio o que aconteceu, Gina! E, eu tinha avisado que seria suicídio leva-lo até a ordem, mas ninguém me deu ouvidos, deu?Agora, estamos pagando por essa irresponsabilidade... E, se você quer saber, todas as sugestões que ele deu naquele dia não levaram a lugar nenhum.

- Eu não acredito no que estou ouvindo!!!

- É isso mesmo!!! Vocês terminaram, ele não tinha mais porque manter o segredo, ser leal a você. Ele era o único capaz de delatar a ordem pros antigos amiguinhos, ele era o único capaz de nos trair! Ainda mais, com você estando grávida de outro. Tudo aponta pra ele e isso é um fato.

Gina não respondeu, era incapaz de acreditar naquelas acusações. Ele era inocente e ela sabia disso:

- Ele é inocente. Ele é inocente!- murmurou

Fred riu:

- Se ele é tão inocente quanto você diz, porque a gente não consegue encontrar ele em lugar nenhum, por que depois do que houve, nós o procuramos em toda à parte. Quem não deve, não teme! E, se ele fugiu é porque alguma coisa ele fez.

Gina olhou para todos na sala, antes de perguntar:

- Então, vocês também acham que foi ele quem atacou a ordem?

- Gina, ele foi visto lá. Depois, nós o procuramos e não o encontramos em lugar nenhum.- explicou Harry calmamente

Gina sentou-se novamente e afundou o rosto nas mãos. Era impossível pensar em algo coerente e, apesar de tudo, de todas as provas contra, acreditava na inocência dele:

- Você sabe quantos problemas o papai está enfrentando no Ministério por causa disso? Estão até querendo que ele deixe o cargo.- continuou Fred

- Já chega, Fred!!!- ordenou Sirius

Mesmo contrariado, ele se calou. Gina sentiu lágrimas se formarem e não pôde conte-las, Hermione se aproximou:

- Gina, se tudo isso for mesmo verdade, então você corre perigo... Eles têm que saber a verdade.- disse com seriedade

Gina a encarou exasperada:

- Verdade? Que verdade? Do que vocês estão falando?- perguntou Jorge

Gina e Mione se entreolharam. Depois ela se levantou e foi até a janela, ficou alguns minutos admirando o tráfego de carros lá embaixo. Quando se virou, todos a encaravam, aguardando uma resposta. Ela enxugou as lágrimas e depois acariciou a barriga de quase 8 meses:

- O filho que eu estou esperando é do... Draco.- admitiu com orgulho

Ninguém foi capaz de pronunciar nenhuma palavra, alguns estavam visivelmente decepcionados. No fundo, todos já esperavam por isso, mas os dois estavam morando juntos, simplesmente tinha sido mais conveniente achar que o motivo da separação era Sebastian e que, portanto, o filho era dele também. Foi Jorge quem quebrou o silêncio:

- Não sei porque o espanto, na verdade, isso era mais do que óbvio. Só a gente não queria ver.- disse com certo remorso

Hermione voltou a encara-la:

- Gina, conte tudo...- insistiu

Ela olhou para a amiga e depois voltou-se para a janela, antes de continuar:

- Há alguns meses atrás, a Narcisa me procurou... tivemos uma discussão séria... Ela me chantageou e me mandou ficar longe dele... Eu... Eu não tive outra escolha.- disse voltando a chorar

Hermione se aproximou, consolando-a:

- Acalme-se, Gina...

- Pelo amor de Merlin, Gina!!! Isso foi muita irresponsabilidade e insensatez. Você deveria ter nos procurado imediatamente.- censurou Rony

- Não, não foi. Eu estaria arriscando a vida das pessoas que amo, será que vocês não entendem?

- Você já arriscou, Gina. E essa noite é uma prova disso.- afirmou Gui

Ela enterrou o rosto nas mãos, incapaz de pensar:

- Eu não agüento mais!!! Me desculpem se não foi a decisão mais acertada, eu só fiz o que achava certo.- desabafou cansada

- Depois disso, não resta dúvida, de que os Malfoy’s estão envolvidos no que aconteceu. Minha teoria é que a Narcisa é a cabeça, é ela que tem recrutado os simpatizantes e organizado essa baderna, movida por vingança ou sei lá o quê. Ela afastou a Gina do filho dela, convencendo-o de que ela não prestava, para depois usa-lo no jogo.E ele, a obedeceria facilmente movido pela decepção e despeito.- disse Fred convicto

- Seja como for, Fred... Ele não está envolvido.- retrucou Gina taxativa

- Ele não sabe do filho, não é?- concluiu Harry

Gina balançou a cabeça em negativa:

- É bem provável que ela ou os dois estejam envolvidos, o Fred está sendo coerente, Gina... Isso você não pode negar. Com isso, eu acredito que não seja mais seguro você ficar aqui.- disse Harry com sensatez

- E, pra onde que eu vou?- perguntou cansada demais pra discutir

- Pra minha casa ou a dos seus pais, não dá. Seria óbvio demais.

- Ela pode ficar lá em casa, sem problemas.- sugeriu Lara

- Então, está resolvido, você vai pra Hogsmead hoje mesmo.- disse Harry decidido

- Antes de ir, eu tenho que ir a um lugar.

Antes que alguém pudesse contestar, ela já tinha desaparatado. Quando chegou no local de destino, estava tudo escuro e silencioso. Acendeu a luz e deu uma olhada no seu antigo lar. Deu uma rápida olhada na sala e depois foi para o quarto. Ficou um longo tempo sentada na cama, no escuro, esperando que de alguma maneira ele pudesse surgir do nada. Involuntariamente, algumas lembranças apareceram e ela sorriu. Sentia-se em paz ali. Abriu o guarda-roupa e constatou que de fato, a maioria das roupas estavam faltando. Mas, no seu coração tinha certeza, que estivesse ele onde estivesse, não era para fugir. Ela tirou uma das camisas do cabide e afundou o rosto, aspirando o cheiro dele. Quando fez isso, sentiu bem nítidos os movimentos do bebê. Instintivamente, levou as mãos no ventre e ergueu os olhos maravilhada:

- Você também sente a presença dele não é, meu amor?- disse com carinho acariciando a barriga

Foi só naquele momento, que ela avistou a rosa vermelha, um pouco seca já, em cima do criado mudo. Ela pegou a rosa como quem pega o último fio de esperança e sorriu. Ele não tinha esquecido-a, não completamente. Aos poucos, o sorriso foi morrendo para dar lugar a uma certa melancolia e uma amargurada solidão:

- Ele deveria estar aqui pra sentir isso.- murmurou com mágoa

Nunca perdoaria Narcisa por estar roubando todos aqueles momentos dele, por ter roubado todos aqueles meses da vida dos dois, por te-lo privado de compartilhar aquela gravidez, por te-los afastado... Nunca perdoaria Narcisa por ter tirado o amor de sua vida. Uma lágrima solitária caiu e por fim, ela desaparatou.

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Todos a esperavam ansiosos e preocupados quando ela voltou. Rapidamente, ela colocou algumas roupas na mala e foi para a sala:

- Estou pronta, podemos ir.

Mione se aproximou dela:

- Eu aviso se alguma coisa acontecer... Vai dar tudo certo, Gina. Logo, logo, você poderá voltar pra casa, eu prometo.- disse dando um sorriso sincero

Ela assentiu e depois abraçou a amiga

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Apesar dos esforços dos Black’s para faze-la se sentir em casa, os primeiros dias foram difíceis. Ela se sentia sozinha e deslocada. Aquela não era a sua casa, muito menos a sua família. Apesar disso, era grata pelo que estavam fazendo por ela. Ela passava a maior parte do tempo lendo, passeando no jardim ou no povoado, muitas poucas vezes fora até Hogwarts, seu sofrimento aumentava lá e por isso evitava ir ao castelo. Seus dias eram longos e extremamente solitários, Sirius e Lara ficavam a maior parte do tempo no castelo e com isso, ela ficava sem ter com quem conversar. Pra piorar, ninguém tinha noção de onde Draco estaria e isso era o principal motivo de suas preocupações. Não ter noticias dele, deixava-a apreensiva. Além do que, só a deixaram visitar Sebastian na segunda semana de novembro. E, apesar dele milagrosamente ter sobrevivido e de seu quadro estar estável, seu coma era profundo e os curandeiros não tinha muita esperança de que ele fosse acordar. Gina tinha lágrimas nos olhos quando entrou no quarto, sentia-se responsável pelo estado do amigo. Ela sentou-se ao lado da maca, segurando uma de suas mãos:

- Me desculpa, Sebastian... Eu sinto tanto... Se eu pudesse ter evitado...

Ela respirou fundo, seu rosto estava molhado de lágrimas:

- Eu nem ao menos sei se você pode me ouvir ou não... Mas, de qualquer maneira estou aqui... Com uma culpa imensa pelo que aconteceu e me sentindo absolutamente sozinha...- disse tentando conter os soluços

Ela se calou, procurando se acalmar, limpou as lágrimas e prosseguiu:

- Você tem que acordar, Sebastian!!! Isso é uma ordem... Eu não vou te perdoar se você me deixar, está ouvindo? Não vou... Quem é que vai ficar me ouvindo falar do Draco por horas sem se cansar e ainda fazer um comentário sem noção? Você é único, Sebastian e só você me entende... Eu preciso tanto da sua amizade, tanto...- desabafou

Ela ficou mais um tempo, observando-o no seu silêncio forçado, tão diferente do Sebastian habitual. Quem tinha feito isso, iria pagar muito caro.

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Quando Gina saiu do St. Mungus estava sem rumo, caminhou pelas frias ruas de Londres pensando no vazio de sua vida, e quando deu por conta, estava em frente à porta do apartamento de Ashley. Estava apreensiva demais com o sumiço dele, precisava desesperadamente de noticias, e se tinha alguém que poderia saber de alguma coisa, esse alguém era ela. Ficou esperando alguns segundos, antes dela abrir:

- Gina... Que surpresa! Entra...- disse normalmente

Ela entrou e sentou-se, ainda um pouco em dúvida se deveria perguntar sobre ele:

- E, o meu irmão?- iniciou Gina tentando manter uma conversa

- Pra variar, trabalhando... Sabe como é? E, o Sebastian, tem noticias dele?

- Eu acabei de ir vê-lo... Infelizmente, está na mesma. Sem melhoras.

Ela encarou a outra um pouco indecisa e desconfortável e, por fim, perguntou:

- Ashley, você tem alguma noticia do Draco? Ele entrou em contato com você?

Ela sorriu:

- Eu sabia que você tinha vindo aqui pra saber dele... Mas, você se enganou, ele não me procurou nem nada, sei tanto quanto você.

- E, quanto àquela garota com quem ele estava saindo? Será que ela sabe de algo?

- Pra ser bem sincera, acho pouco provável que ele tenha levado o caso adiante.

Gina deu um sorriso nervoso, antes de desabafar:

- Eu não queria que nada disso tivesse acontecido... Me sinto tão culpada pelo que fiz a ele.

- Ele é orgulhoso, Gina. Mas, talvez ele saiba reconhecer o seu gesto.- tranqüilizou Ash

- Ele sabia da minha gravidez?

- Eu o vi muito pouco e muito rapidamente depois do casamento, não deu nem tempo de tocar no assunto. E, também, eu não tive coragem e ele também não perguntava mais sobre você, achei melhor deixar como estava. Eu não concordo com o que você fez, mas não te culpo. Embora, eu ache que ele tem o direito de saber a verdade.

- Agora não há porque esconder, todos já sabem, e eu irei contar quando tiver a chance... Eu ainda temo a Narcisa, mas isso não está mais nas minhas mãos, fugiu do controle... Você também acredita que ele seja inocente, não é?

Ela sorriu de novo:

- Ele pode ter muitos defeitos, mas não é um traidor, muito menos um assassino. E, eu sei que ele terá uma boa explicação para esse sumiço.

Gina sorriu também:

- É bom saber que não estou sozinha.




N/A: Oiii, está aí mais um capítulo, e os capítulos finais estão chegando, só um pouquinho mais de paciência,rsrs... E, aí o que estão achando? Não deixem de comentar... Aliás, só tenho a agradecer a todos vocês que deixam comentários positivos e que tem sido tão compreensivos com esta autora aqui, valeu mesmo.

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