O Segredo De Gina



Harry estava mesmo muito confuso quando deixou a Sala Precisa refletindo sobre tudo o que acontecera. Como alguém que nunca aprendera direito Defesa Contra as Artes das Trevas podia se sair tão bem na execução de um feitiço como aquele? Enquanto caminhava, Harry olhava para os lados prestando atenção se não via o Prof. Lupin, pois já era tarde e raramente ele ficara na sala nestas horas da noite. Os setimanistas eram maiores de idade e não tinham restrições quanto a andar pelos corredores depois das dez horas e isso facilitava as coisas, principalmente numa ocasião dessas. Desde que Voldemort morrera tudo parecia estar mais tranqüilo, porém ninguém, até mesmo Harry que estivera lá, gostava de abusar da sorte, porque Comensais não faltavam para dar continuidade aos planos do Lorde das Trevas. Mais a frente Harry levou um susto quando Rony trombou com ele.

- Harry! – exclamou Rony mais surpreso que assustado.

- Rony! Pensei que fosse outra pessoa!

- Estou te procurando faz tempo cara! Onde se meteu?

- Estava com Loueine. – disse Harry naturalmente e antes que Rony começasse a sorrir largamente, Harry explicou. - Dando a aula que ela me pediu!

Rony arqueou as sombracelhas surpreso.

- Então a Profª McGonagall autorizou as aulas, foi?

Os dois começaram a caminhar.

- Sim, mas McGonagall nos pediu discrição absoluta quanto a isso.

- Discrição? Ora e por quê?

- Na verdade eu ainda não falei com ela, foi Loueine quem falou e me passou o recado. Eu até estranhei que ela não me chamasse para conversar, mas parece que o motivo dela ter aceitado tão rápido foi o fato de que o Prof. Lupin está muito ocupado.

- Que estranho! Não é do feitio dela aceitar as coisas assim tão facilmente.

- Pois é, mas foi o que aconteceu e talvez tenha sido um grande erro meu não tê-la procurado antes.

- Algum problema? Pela sua cara não é coisa boa.

Harry parou de fronte a Rony.

- Aconteceu uma coisa muito estranha Rony.

- Estranha? Como assim?

Harry olhou para os lados e puxou o amigo num canto pelo braço. Rony abaixou um pouco a cabeça.

- Loueine executou um feitiço sem precisar de uma varinha!

Rony franziu a testa desentendido.

- Mas Harry, com bastante treinamento isso seria possível, não?

- Aí é que está Rony. Pra que ela queria as aulas se não precisa delas, hein?

- É. Isso não faz sentido.

- E outra...- Harry deu mais uma espiada por cima dos ombros. - ... ela praticamente conjurou um Patrono!

Rony arregalou os olhos.

- Minha nossa Harry! Mas como foi isso?

Harry calou-se olhando para os lados.

- Vamos para a torre. Aqui não é um bom lugar para conversarmos sobre isso.


Alguns andares dali, na torre da Grifinória, Hermione encontrava-se sonolenta debruçada sobre alguns livros espalhados em cima da mesa.

- Acho que é o suficiente por hoje! – concluiu para si mesma recolhendo os livros. Alguns segundos depois Gina adentrou muito quieta. Hermione consultou o relógio sobre o console da lareira e viu que já passava da hora dela, que era uma sextanista, estar na cama. – Gina? Pensei que estivesse dormindo.

- Ah! Oi Mione, ainda acordada? – perguntou num tom de voz tristonho.

- Estudando. – respondeu Hermione indicando a pilha de livros. Gina largou-se numa das poltronas próxima a lareira e contemplou as chamas que ainda crepitavam nela fazendo seus cabelos fiarem ainda mais vermelhos. Hermione colocou os livros num canto, ajeitou os cabelos atrás das orelhas e aproximou-se dela sentando-se. – Gina, você está bem? Estou sentindo você tão quietinha.

Gina olhou da lareira para Hermione.

- Nada não, não se preocupe comigo.

- Como não vou me preocupar se você é minha melhor amiga e sempre se preocupa comigo também, hein?

Gina sorriu.

- Sabe o que é Mione, é uma história muito louca e difícil de entender.

- Ora e será que não quer pelo menos tentar me contar? De repente eu posso te ajudar em alguma coisa. Eu devo supor que tenha a ver com suas saídas noturnas? – Gina sacudiu a cabeça positivamente. – Ótimo! Então estou no caminho certo.

Houve um breve momento de silêncio.

- Muito bem, então... eu vou contar! - começou Gina em tom decisivo ficando de pé e dando as costas para Mione como se estivesse sem jeito com o que iria falar. - É que... eu estou... estou saindo com um garoto. - Hermione sorriu ao mesmo tempo em que engoliu em seco pensando se poderia ser novamente o Harry. – Mas não é o Harry! – explicou Gina rápida como se lesse os pensamentos de Hermione.

- E... e quem é então? – perguntou Hermione fingindo surpresa.

Gina virou-se pra ela.

- Promete que não vai me condenar? Na verdade nem eu sei como isso foi acontecer.

Hermione franziu as sombracelhas ficando de pé.

- Nossa Gina, com este mistério todo você está até me assustando! Quem é este garoto afinal?

Gina respirou fundo depois de alguns instantes em silêncio.

- Zabini, Blázio Zabini! – soltou ela.

Hermione levou as mãos na boca sentando-se novamente e bem devagar na poltrona.

- Blázio Zabini? Mas ele não é... – começou Hermione incerta.

- Da Sonserina, exatamente! – respondeu Gina tensa.

- Nossa! Eu... eu realmente nem sei o que dizer. Quero dizer, deve ter algum motivo pra isso, mas de fato, eu... eu estou bestificada.

- Eu disse que era uma história difícil de entender.

Disse Gina sentando-se. Novamente houve um breve silêncio. Hermione a olhou amigavelmente.

- Olha Gina, eu sempre te dei a maior força nos seus assuntos e... não vai ser diferente agora tá?

Gina sorriu confortada.

- Não imagina como você me alivia dizendo isso Mione, valeu mesmo!

- Sem problemas. – Hermione aproximou-se mais da garota que ainda parecia cabisbaixa. – Mas Gina, não é só por não ter me contado que está com esta cara, é?

- Não. É que... eu e ele temos nos encontrado todos estes dias e tem sido ótimo. – Gina vacilou um sorriso assim como Hermione. – Mas hoje nós discutimos feio.

- Discutiram?

- Sim. Sabe, eu disse a ele que estava tudo muito bem, mas precisava saber se era só pelo fato do Malfoy não estar aqui durante todo o feriado. Ele ficou zangado e perguntou se eu duvidava dos sentimentos dele.

- E você respondeu o quê?

- Eu disse que não se tratava em duvidar dos sentimentos dele, mas em como ele pretendia contar isso aos amigos dele. Então ele ficou mais bravo ainda e disse que nem o Malfoy, nem qualquer outro amigo mandava nele.

- Uhh, pois ele acaba de ganhar um ponto comigo!

- Depois ele falou que se eu ainda não contei ao meu próprio irmão, então ele também podia duvidar dos meus sentimentos.

Hermione percebeu o semblante triste e desanimado de Gina quando a mesma respirou fundo.

- Sem querer te desanimar Gina, mas... você já pensou em como vai contar ao Ronald? Quero dizer, você pretende contar não é?

- Sinceramente, eu não sei o que eu vou fazer direito, mas pensei em pedir ao Harry pra me ajudar.

- Pedir ao Harry?! – espantou-se Hermione. – Mas Gina, tem idéia do problemão que poderia causar entre ele e Rony com uma história dessas? Rony vai achar que o Harry sabia de tudo e não contou antes.

- Eu sei disso Mione, mas não vejo outra solução, a não ser que...

- Que?

- Que eu ponha um fim em toda essa loucura!

- Ora Gina, não pode desistir assim tão fácil se gosta mesmo deste garoto. Puxa, desde ... – Hermione parecia ter um pouco de dificuldade de falar isso. - desde a época em que gostou do Harry, que eu não a vejo assim, tão empolgada e feliz.- Gina virou-se para Mione e sorriu fino. – Olha! Pode contar comigo, tá?! – disse colocando a mão no rosto de Gina.

As duas foram interrompidas pelas vozes de Harry e Rony que entraram no Salão Comunal naquele instante. Eles pararam de falar no momento em que perceberam que não estavam sozinhos. Houve um momento de silêncio como se os quatro escondessem alguma coisa.

- Bem Gina, acho que está na hora de irmos dormir não é? – despistou Mione ficando de pé.

- Claro! – concordou Gina acompanhando-a. – Vamos!

Hermione olhou de relance para Harry e ele ficou encabulado, ao mesmo tempo em que lembrou-se imediatamente do quão ficara chateado com ela por causa de Loueine. Rony as acompanhou com o olhar desconfiado quando elas subiram as escadas para o dormitório feminino.

- O que será que essas duas estão tramando? – perguntou ele para Harry.

Harry não respondeu nada, apenas deu de ombros. Depois de um momento mais de silêncio, Rony sentou-se na poltrona mais próxima.

- Mas e aí Harry, conta logo como foi que a Loueine fez isso?

Harry sentou-se esfregando as mãos.

- A verdade é que eu estou confuso até agora. Eu me lembro de estar ali parado, explicando como ela deveria conjurar um Patrono, até improvisei uma varinha para praticarmos sem acidentes, e no momento seguinte, ouvi um grito estridente e vi um clarão muito forte e verde e...

Rony escutava tudo atentamente, quando Harry parou de falar muito pensativo.

- E? – indagou Rony.

- Eu não sei direito, mas parece que tive uns segundos de ausência na minha cabeça, sabe?

- Ausência? Como assim Harry? Quer dizer que não se não lembra do que aconteceu direito?

- Não necessariamente, porque lembrar eu lembro, mas o que eu senti foi esquisito, não dá pra explicar.

Rony estava tão confuso quanto Harry e parecia agora mais preocupado com o amigo do que antes.

- E por acaso deu pra ver que forma o tal Patrono tinha? – perguntou ele incerto.

- Não, a luz ofuscou tudo, era muito forte. – Harry ficou de pé e começou a andar de um lado para o outro enquanto falava. – E pra dizer a verdade nem sei se era mesmo um Patrono Rony. E se for apenas um feitiço qualquer, hum?

- Seria muita coincidência não é? E, além disso, você mesmo disse lá fora que o castiçal foi destruído, será que ele era um bicho-papão disfarçado?

- Quem é que pode saber. – lamentou Harry.

- Está pensando em fazer alguma coisa? Contar a mais alguém?

- Bom, hoje mais cedo eu fui até o corujal pra esfriar minha cabeça...

- Esfriar sua cabeça? Nestas duas últimas semanas você está mesmo estranho, por acaso está com algum problema Harry?

Harry se arrependera por ter dito isso. Com certeza não poderia contar a Rony o que o preocupava, não por enquanto, então disfarçou.

- Bom Ron, você sabe, falta só alguns dias para os Testes Finais e eu sinceramente não sei como vou me sair.

- Eu menos, mas não quero pensar nisso agora. – Rony fez uma breve pausa. – Mas e daí? O que tem sua ida ao corujal?

- Eu não esperava, mas recebi uma carta do Sirius... – Harry revirou um dos bolsos. ...veja! – ele entregou a Rony que começou a lê-la imediatamente.

- Mas que viagem é essa? – perguntou assim que terminou de ler.

- Eu sei tanto quanto você Rony. O problema é que conheço bem o Sirius e dá pra ver que alguma coisa não está certa, ele parece preocupado você percebeu?

- Sim, até disse para você procurar o Prof. Lupin se...- Rony levantou-se de um salto. – Ei Harry! O que poderia ser mais estranho do que essa história do Patrono?

- Então. Quando eu encontrei você era exatamente o que eu estava fazendo, eu estava procurando o Prof. Lupin, mas não o encontrei em parte alguma.

- Nem na sala dele? – arriscou Rony.

- Sei que ele não fica na sala dele a esta hora, então nem fui lá.

- Ora Harry, talvez devesse pelo menos ter certeza que ele não está lá.

- Pode ser Rony, mas hoje já está muito tarde. É melhor eu fazer isso amanhã.

- É, e é bom que seja bem cedo, antes que você tenha um problema maior ainda com McGonagall. Já pensou a cara dela quando Loueine contar o que aconteceu?

- Se é que já não contou né?

- Bem, se ela tivesse contado, provavelmente McGonagall já o teria chamado na sala dela, não acha?

- Pode ser. Bom, eu não sei você Rony, mas pra mim é só por hoje! Toda essa história me deixou exausto!

- Somos dois! – completou. - Cara, a Luna é incrível, mas não tem um minuto se quer, quando estamos juntos, em que não nos beijemos!

- Ora, e você está reclamando? – perguntou Harry num sorriso e tom sarcásticos.

- Não mesmo cara, não mesmo! – respondeu Rony dando uma grande gargalhada.


Logo depois os dois rumaram para o dormitório masculino. Embora os comentários de Rony rendessem alguns sorrisos, Harry não deixava de ter consigo um semblante de preocupação, afinal o dia seguinte parecia prometer.









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