O Basilisco



As palavras latinas gravadas em tinta verde-esmeralda na primeira página brilharam como se uma lanterna tivesse sido acesa atrás delas. Uma luz intensa e amarela tomou todo o banheiro e um silêncio pesado soou no aposento. Tom achou que tivesse ficado surdo – Era impossível ouvir qualquer coisa. Tampouco era possível enxergar coisa alguma devido à luminosidade. Era como se o sol tivesse saído das páginas do livro. Então Tom Riddle sentiu um gancho fisgando seu umbigo, e foi transportado para dentro do livro.
O garoto assustado pôde reconhecer que ainda estava em Hogwarts. Porém as torneiras que havia deixado abertas estavam fechadas. Não haviam privadas no banheiro; elas haviam sido substituídas por um penico de louça de aspecto medieval. Havia apenas uma pia com um cano de chumbo exposto. Tom reparou que aquele banheiro parecia pertencer a uma só pessoa, e tudo estava gravado com um brasão de “S” que ele reconheceu ser o selo de Slytherin.
O clima era frio e o lugar era escuro, iluminado apenas por pesados archotes flamejantes na parede. Ainda temendo o que fosse encontrar quando abrisse a porta, saiu do banheiro cautelosamente com a varinha em punho.
Como previa, não encontrou as cinco camas de dossel de veludo verde-escuro que estava acostumado. No lugar disso encontrou uma esplêndida cama de casal cuja cabeceira era uma serpente enroscada em muitas voltas e uma cabeça com a boca aberta e a língua para fora, como se estivesse preste a dar o bote. Brilhantes rubis brilharam no lugar dos olhos da cobra.
Tom atravessou o quarto assegurando-se de que não havia ninguém ali. Ainda com a varinha em punho desceu as escadas tão familiares de seu dormitório. Reconheceu seu salão comunal, que agora se transformara na sala de estar de alguém que havia feito da sede da Sonserina sua casa.
Um homem moreno de barba e cabelos compridos e longas vestes verdes estava de costas para a entrada do quarto, sentado num confortável sofá de frente para a lareira. Parecia preocupado com alguma coisa, pois agitava sua taça de vinho freneticamente e resmungava alto. Então com um misto de medo e curiosidade, Tom se aproximou do sofá, e disse:
- Err... Com licença, senhor, mas eu posso saber o que está acontecendo aqui? Eu acho que estou perdido e...
Mas o homem não o ouviu. E para seu espanto, Tom viu o homem levantar e atravessa-lo como se fosse um fantasma!
O homem moreno entrou no quarto e apanhou a varinha em cima do baú. Depois saiu pela parede de pedra lisa. Tom o acompanhou, percebendo que estava, para todos os aspectos, invisível.
Realmente ainda estavam em Hogwarts, pois Tom reconheceu as paredes de pedra e a visão do lago por uma das janelas. Era uma noite fria de Outono e apenas a bela Lua cheia iluminava o céu.
O homem que Tom seguia andava rapidamente iluminando seu caminho com a varinha. De repente parou em frente a uma tapeçaria, pareceu pensar em alguma coisa e então uma entrada se materializou na parede.
Era a famosa sala precisa que Tom utilizara-se, muitas vezes como biblioteca, onde podia encontrar todo tipo de livro sobre Magia Negra que precisasse, e algumas vezes para apimentados encontros.
O homem estava ajoelhado no chão contemplando um enorme mapa de Hogwarts e marcando alguma coisa nele com uma pena. Continuava com uma expressão preocupada no rosto.
Além do grande mapa no chão, havia uma maquete do castelo e quadros mostrando o que provavelmente seria o subsolo do Lago, pois alguns peixes de aspecto macabro nadavam passando de um quadro a outro.
E então Tom Riddle viu uma coisa que ele achou extremamente bizarra. Num canto da sala, sobre uma almofada, encontrava-se um ovo branco de galinha, sobre o qual, aparentemente chocando-o, estava uma grande rã verde.
O homem de vestes verdes continuava profundamente absorto sobre o mapa de Hogwarts. Continuava marcando lugares no papel. De repente seus pensamentos e os de Tom foram interrompidos por um suave, mas claro ruído de quebra. O ovo estava chocando...
A rã pulou de cima do ovo, coaxando, mas assim que tocou o chão com suas patas, morreu de fulminantemente.
O homem desviou suas atenções do mapa e olhou decidido para o ovo, do qual parecia sair um rabo, ou alguma coisa fina e comprida. Então ocorreu a Tom uma lembrança, que o fez estremecer da cabeça aos pés...
“O Basilisco é uma criatura maligna incontrolável e extremamente perigosa. Seu olhar direto causa uma morte instantânea e seu hálito é capaz de fazer murchar qualquer tipo de planta. Pode facilmente atingir quinze metros de comprimento e surge de um ovo de galinha chocado por uma rã ou serpente e a única coisa que teme é o canto dos galos.”
A lembrança de tal aula de seu terceiro ano fez Tom Riddle se apavorar. Tinha que sair dali antes que o Basilisco saísse de seu ovo e começasse a matar tudo com seu olhar. Mas antes que percebesse que não havia forma de sair da sala que não fosse junto daquele homem estranho, ouviu familiares silvos e bufos, que logo passou a interpretar como palavras:
“Venha para mim, ó Rei das Serpentes. Guie-se nas minhas palavras, ache-se no escuro das trevas! Seja bem-vindo...”
O bebê basilisco desenrolou-se para fora do ovo. Tom não pôde entender como a criatura cabia lá dentro, pois devia medir pelo menos seis metros. Seus olhos vermelhos brilharam encarando o homem, mas este não morreu, nem tampouco Tom.
“Você habitará a câmara dos segredos em Hogwarts. Deverá obedecer apenas às minhas ordens e às de meus legítimos herdeiros que forem capazes de controlar-te. Não obedecerás nenhum outro, ainda que este fale a Língua das Cobras. A missão de meu herdeiro será purificar a Escola daqueles que forem indignos de estudar magia; aqueles que forem impuros.”
O basilisco aparentemente concordou, confirmou com a cabeça e então o homem lançou sobre o basilisco um feitiço de desilusão. Tom e a grande serpente acompanharam-no no curto trajeto de volta às masmorras. O Basilisco orientava-se pelas palavras que ele dizia; mas não parecia enxergar bem.
De volta à sala do homem, o Basilisco enrolou-se aos seus pés, e então o homem ordenou-lhe:
“Você vai se mover pela escola através desses encanamentos, de modo silencioso e não chamará atenção para si.”
O basilisco acatou prontamente as ordens de seu mestre e entrou pelo cano de chumbo exposto no banheiro, deslizando pela superfície lisa do metal até sumir de vista no túnel escuro. Logo em seguida o grosso cano moveu-se ruidosamente de volta à parede, que ficou totalmente lisa novamente.
O homem saiu do banheiro com um ar satisfeito e trancou a porta por fora, abandonando Tom lá dentro com seu livro.
O garoto encarou a parede lisa onde instantes antes estivera o cano exposto com um misto de medo, excitação e curiosidade. Então apanhou seu livro que ainda estava no chão e sibilou as palavras na sua primeira página, sentindo um gancho puxando-o pelo umbigo, trazendo-o de volta ao século XX.

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