Meias Verdades




Capítulo 2




Meias Verdades










Tudo parecia ter voltado ao normal na fazenda da família Stanford. Jonathan fez seus irmãos ouvirem milhares de vezes como conquistou as duas taças para a casa, e apesar da maior parte da família já estar cansada de ouvi-lo, Adam vibrava a cada gol que ele narrava e implorava para o novo capitão da Grifinória deixa-lo entrar no time também.

Adam lhes contou todas as maravilhas do México, e como ficou conhecido pela sua desenvoltura e habilidade por lá. Ele levou plantas exóticas da Inglaterra e deu até algumas amostras para o Professor Martinez, de Herbologia. Nas duas primeiras semanas era coruja atrás de coruja que chegava trazendo-lhe notícias dos seus novos amigos latinos, mas Joseph não gostou nenhum pouco da idéia e deu um jeito delas sumirem.

Eric narrou as mil e umas aventuras que teve com Wood e Tevolli, um garoto que ele disse ter entrado na escola para assumir o legado de Harry Potter. Eles sempre se metiam em grandes enrascadas à procura de aventuras no castelo. Eles descobriram inúmeras passagens secretas, desafiaram o zelador ranzinza, foram até a orla da Floresta Proibida tarde da noite usando um artefato mágico de Tevolli, e tantas outras coisas que qualquer um duvidaria.

Jonathan aprontava das suas com seus irmãos, vez ou outra chamava alguns amigos do time e eles misteriosamente sumiam no meio do campo com dezenas de vassouras. Ele dizia que um dia se tornaria um grande jogador profissional, pois se não o fosse, seria um talento desperdiçado. Seu pai, por mais que não gostasse de magia, fechava os olhos quando via que “Jojo”, como era conhecido pelo time, saia por ai para jogar. Talvez ele entendesse que todo o seu empenho e dedicação poderiam ser valiosos.

Já Adam, assim que chegou, fechou a cara quando viu as mudanças que sua irmã havia feito em sua horta mágica após um ano e já estava rabugento de novo, apesar de cumprimentar Robin “por não ter devastado completamente a sua pequena produção.” Ele tinha as melhores notas em herbologia e poções, e talvez o seu mau humor o tivesse aproximado de Prof. Snape, conhecido como o mais rabugento de Hogwarts.

Eric, quando não estava na casa de Andrew, o trazia à fazenda. A menina começou a ficar mais acostumada ao garoto. Eric e o amigo já haviam contado mil e umas histórias aos dois irmãos mais novos. Robin conhecia de cor e salteado a história das incríveis aventuras de “Harry Potter, o menino que sobreviveu”. Mas que bruxo que se preze não as conheceria?

As férias foram agradáveis na medida do possível, tirando às vezes em que Eric se tornava arrogante com ela na frente do amigo; e quando Adam era curto e grosso, ou então era simplesmente ranheta por prazer; ou quando Jonathan abusava da boa vontade da menina na frente dos amigos, lhe pedindo favores atrás de favores; ou então Ronan exigia demais sua atenção; sem contar com o fato de seu pai estar sempre vigiando tudo o que a menina fazia.

Ela cumpria todas as suas tarefas, obedecia cada palavra que seus pais falavam, mas mesmo assim, Joseph continuava tratando-a com a mesma frieza e rispidez de sempre. Robin achava que talvez ele quisesse ter tido só filhos homens, e por isso ela se desdobrava para trabalhar mais do que os outros irmãos. Não que o pai fosse mal, mas não dedicava a ela o mesmo carinho e atenção que despendia com os outros filhos. Vez ou outra dizia que não sabia lidar com mulheres direito, o que fazia Robin repensar os atos de seu pai.

No entanto, a relação da menina era bem diferente com sua mãe: Rachel achava que ela era sua grande esperança e já havia traçado um futuro brilhante para a filha. Primeiro ia estudar em Hogwarts, de preferência na casa da Grifinória; trabalharia duro para obter excelentes notas nos NOM´s e NIEM´s, os famosos testes de Níveis de Magia que eram obrigatórios, faria muito sucesso na carreira que escolhesse; depois arranjaria um bom casamento com um bruxo sangue-puro de família abastada e seria feliz para sempre, se tudo saísse conforme o planejado. Robin às vezes ria para não chorar, achava que sua mãe esperava demais dela, e tinha medo de não suprir suas expectativas, mas talvez fosse um modo da mãe demonstrar o seu amor.

Os dias foram se passando, e à medida que as férias iam acabando a ansiedade aumentava dentro de Robin, que verificava todos os dias de manhã o poleiro de Hermes, para ver se havia chegado algo para ela, algo que a menina estivera esperando o verão inteiro. Até que faltava apenas três dias para que as aulas recomeçassem. Nesta manhã, a garota havia acordado mais cedo por conta de outro pesadelo. Desceu então para pegar um copo de leite na geladeira, e ao chegar no topo das escadas, qual não foi a sua surpresa quando percebeu que os seus pais estavam brigando na sala, próximos à lareira. Rachel dizia nervosa:

– Não cabe a nós determinar o futuro dela! Você não vê que é o destino? É assim que tem que ser, e não há nada que nós possamos fazer!

– Se eu sou o pai, eu decido! Ou então vamos acabar logo com tudo isso! –disse Joseph, tentando esconder um maço de cartas atrás das costas.

– Mas Alvo já nos garantiu que vai cuidar dela... e Iolanda vai estar sempre por perto! –Rachel retrucou enquanto tentava pegar as cartas das mãos do esposo.

– Não gosto dela, mas numa coisa ela está certa: se Dumbledore fosse tão competente quanto diz ser, nada disso teria acontecido!

– Não fale assim! Vovô sempre foi muito generoso conosco... e com Robin! Ele sabe o que é melhor para todos nós!- respondeu a mãe se alterando e quase agarrando as cartas.

– Generoso? Seria generosidade dele se ao menos contasse toda a verdade à garota! Ele é um falso! Um velho gagá! A senhora sabe muito bem porque eu não gosto dessa história de mágica! –disse Joseph muito alterado. –Será que nós vamos ter que começar a discutir outra vez? Acho que você se esqueceu de todos os fatos que ocorreram!

– Venhamos e convenhamos, Joseph! Sem querer te ofender, mas você é meio recalcado... por que não pode usar magia!!!

– E quem foi que disse que eu quero?!? –ele arregalou os olhos, muito mais vermelho e nervoso.

– Desculpe-me, Joseph, não quis ofende-lo!!! –vendo que falara demais, Rachel tentou consertar o erro. –Mas você sabe que Magia também pode ser usada para o bem! Ela só é usada para o mal quando as pessoas deixam que isso lhes suba à cabeça!

– Parece-me que isso lhe subiu à cabeça há muito tempo!!! Eu sei que a única coisa que vi foi magia sendo usada para o mal! E isso só fez com que minhas suspeitas fossem confirmadas!!!

– Vamos logo, dê-me isso! –a mulher parou de tentar pegar as cartas. –Estamos parecendo duas crianças brigando desse jeito...

O silêncio se fez entre eles, até que Joseph ponderou:
– É verdade...- disse ele rindo envergonhado. –Então vamos chegar a um consenso! Contamos toda a verdade e deixamos que a menina decida o seu próprio futuro.

– Isso não seria justo, Joseph! Ela é só uma criança...

Uma nova pausa se fez. O homem pensou bem e amoleceu, estava quase entregando as cartas, quando parou e disse:

– Ainda não chegamos a um acordo. Sabe, não estou louco... Você me entende, não é Rachel?
– Sim, eu entendo. Mas ainda sim insisto que me devolva isso. Robin tem esperado por essas cartas há meses. Queima-las seria uma crueldade!

– Pesei que tivesse me entendido! Será que vamos ter de começar tudo outra vez? –disse ele em tom ameaçador.

– Não, Joseph, nós não vamos ter de começar tudo de novo... –Rachel se recuou um pouco e voltou-se para ele com a mão estendida. –Accio cartas!

O maço saiu voando das mãos do pai e foram parar nas da mãe. Robin agora entendia o porquê do sumiço da correspondência e ficou impressionada com a agilidade da mãe. Desejava mais do que tudo que aquelas fossem as cartas que a levariam direto aos portões de Hogwarts. Joseph, no entanto, pareceu muito assustado e aborrecido. Saiu depressa em direção ao quarto do casal, minutos depois voltou para a sala já vestido com uma mala na mão esquerda e as chaves do carro na direita, ele estava vermelho de raiva. No hall de entrada, ele se virou para Rachel num tom amargo e disse:

– Pensei que tivéssemos um trato! Mas agora vejo que não se pode confiar em bruxos de espécie alguma! –e bateu a porta de casa ao sair.

Só se ouviu o barulho do motor do velho Ford arrancar e sumir ao longe. A mulher observava da porta ele partindo, e quando percebeu que tudo era real, se jogou no sofá mais próximo e começou a chorar baixinho. Foi então que Robin percebeu que meia hora havia se passado e o que estava acontecendo, resolveu por fim descer para consolar a mãe. A garotinha se sentou ao lado dela e ficou a observa-la: mesmo chorando ela era uma mulher muito bonita.

Rachel Locksheart Stanford era uma bruxa sangue-puro de trinta e seis anos, descendente de uma família tradicional de bruxos que sempre estudaram em Hogwarts. Tinha cabelos ruivos ondulados abaixo dos ombros presos em rabo-de-cavalo com um lenço de seda, olhos azuis, nariz fino e um sorriso largo que encantava qualquer um. Mas agora ela não sorria... parecia realmente triste e desolada. Robin tentou abraçar a mãe, que percebendo a garota ao seu lado, logo se recuperou e enxugou as lágrimas dizendo:
– O que você faz a essa hora acordada, minha pequena?

– Eu tive outro sonho... Então resolvi tomar um copo de leite...

– Hum... –a mãe recuperou o tom aparentemente calmo e continuou. –Bem, aqui estão suas cartas. Creio que você estava ansiosa para poder abri-las.

– Mas... e o papai? –disse ela já se arrependendo de fazer a pergunta ao ver os olhos da mãe se enchendo de lágrima outra vez.

– Ele não está aqui, agora... portanto, não faça cerimônia!

Robin ia começar a ler as cartas, mas estava com outra coisa na cabeça: a conversa de seus pais. Ela pensou por um instante no que ia dizer, então encarou sua mãe e perguntou:

– O que é que você discutia com o papai?

– Hum... O papai não gosta muito dessas coisas de bruxos... Queria que você estudasse numa escola normal...

– Mas o que é “normal”? Ele sabe que tenho esperado por isso...

– Eu sei! Foi o que eu disse! A escolha era certa: você queria ir para Hogwarts como os outros. –disse ela enxugando o rosto nas costas da mão.

– Mas isso não é tudo... Quer dizer, ele disse que eu deveria saber a verdade e decidir por mim mesma. Que é que devo saber?

Rachel ficou em silêncio por algum tempo, olhou com doçura para Robin, então colocou a menina no colo e disse:

– Bem, acho que você é pequena demais para tomar conhecimento a respeito de tudo. Quer dizer... tem certas coisas que você não pode compreender ainda... –Robin ouvia com atenção. –Mas sabendo que a verdade sempre vem à tona, é melhor que ouça de mim... Por hora, só posso lhe contar meia verdade, certo? E quando você ficar um pouco maior, pode me perguntar isso de novo...

A menina acenou a cabeça positivamente, mesmo sabendo que isso não era suficiente, ao menos não era uma mentira...

– Pois bem... Vamos ver... –a mãe pigarreou e continuou, ainda um pouco perdida –Bem, quando jovem, eu trabalhava no Ministério da Magia no departamento de trato com trouxas, certo? E Vol... Voldemort andava agindo sorrateiramente, reatando alianças, trazendo mais comensais da morte para seu círculo de aliados, armando arapucas para pegar Alvo Dumbledore e uma família de bruxos muito bons...

– Eram seus amigos?

– Sim, eram... também eram muito corajosos...

– E o que aconteceu com eles?

– Hum... Vol...demort infelizmente os pegou desprevenidos, meu bem! Mas não foi assim que aconteceu com o papai!!!

– Ah! O papai o pegou, né?

– Não querida! Isso seria impossível! Vol... ele era um mago muito malvado, meu bem, tão malvado que nem o papai daria jeito nele! Enfim, naquela época estávamos passando por uma crise no mundo mágico e as coisas começaram a sair fora de controle. Um bruxo foi atacado por um grupo de comensais da morte, seu... pai presenciou a agressão e, ao invés de fugir como outros, tomou uma providência: ele pegou sua espingarda e se lançou contra os comensais.

– Comensais?

– Comensais da Morte... são seguidores desse bruxo, que vivem andando por ai fazendo coisas muito feias!

– Eles matam pessoas, né?

– Infelizmente, minha pequena... Por vezes, fazem coisas muito piores... –Robin lançou-lhe um olhar triste. – Mas então, seu pai avançou sobre eles e atirou diversas vezes! Acabou acertando um deles em cheio na perna direita. O coitado ficou levemente manco... Apesar de acabar estuporado no chão, ele salvou a vida de um bruxo importante: Cornélio Fudge, um homem do Ministério da Magia que era muito importante na época. Foi então que eu conheci seu... pai! Joseph estava perdido e assustado, passou alguns dias no Hospital Saint Mungus, e por ter presenciado o atentado, ele depôs contra os comensais. Eu fiquei responsável por tomar conta dele durante o processo, até que quatro comensais acabaram na Prisão Azkaban... e é só!

– Mas e o que vem depois?!? –Robin queria saber.

– Desculpe-me, meu bem, mas é só isso que eu posso te contar...

– Por isso papai odeia magia?

– Sim... em partes! Quando eu me casei, nós fizemos um trato onde eu não poderia usar magia na sua presença... a não ser que fosse em caso de vida ou morte! Mas às vezes eu dou umas escapulidas... Quando ele sai para pescar... Ele entende!

– Mas te proibir de usar magia é muito mau!!!

– Não diga isso! Sabe, seu pai não é mau: pela experiência negativa que teve com o mundo mágico, muito me admira que tenha se casado comigo! Eu amo Joseph, e ele sempre me trouxe muita segurança., mas magia sempre foi uma barreira a ser vencida entre nós. Porém hoje, pelo jeito, eu passei dos limites pois quebrei de novo o nosso trato. Da outra vez que brigamos por isso, ele ficou dois meses sem aparecer... –disse Rachel com ar muito desapontado e aborrecido.

– Mas mesmo assim... Ele faz isso porque não pode usar magia!

– Ah, minha pequena, tente entender... Ter o poder da Magia acarreta em ter grandes responsabilidades, como não usa-la contra aqueles que não podem! Seria muito fácil convencer seu pai do contrário, ou então manipula-lo pelo resto da vida... mas seria justo? Só por que posso, significa que devo?

– Ta certo, mamãe... Eu entendo melhor agora...

Robin se deu por satisfeita, e acabou com remorso por seus pais terem brigado pelas cartas. Então a menina pegou o maço e começou a repassa-las: todas endereçadas a Robin Locksheart, Singleton, Ham Road, Fazenda Stanford. Ela abriu o envelope meio amarelo e leu a primeira folha de pergaminho:



ESCOLA DE MAGIA E BRUXARIA DE HOGWARTS




Diretor: Alvo Dumbledore

(Ordem de Merlin, Primeira Classe, Grande Feiticeiro Bruxo Chefe, Cacique Supremo, Confederação internacional de Bruxos)



Prezada Senhorita Robin Locksheart,

Temos o grande prazer de informar que V.Sa. tem uma vaga na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Anexo abaixo está uma lista de livros e materiais necessários.

O ano letivo começa em 1.º de Setembro. Aguardamos sua coruja até 31 de Agosto, no mais tardar.

Atenciosamente,

Minerva McGonagall

Diretora Substituta





Robin pulou de um sofá para o outro soltando gritinhos de alegria, e por fim não leu o anexo. Acabou acordando seus irmãos, que iam descendo um a um. Eric abraçou a menina e se juntou a ela na farra; Adam fez aquela cara de quem está com vontade de estrangular alguém, disse “Meus Parabéns”, meio atravessado e foi para a cozinha. Jonathan apareceu pedindo silêncio, e ao saber da notícia, foi logo dando um sermão na menina:

– Pelo amor de Deus, garota! Precisa fazer tanto escândalo?

– Ela acabou de entrar para Hogwarts! –disse Eric tentando defende-la.

– E daí!? Eu também estudo lá e não faço tanto estardalhaço! –retrucou.

– Mas como você implica com a coitada, “Jojo”! É o primeiro ano dela lá, será que você não pode demonstrar um pouco de entusiasmo?

– Eu não! Agora eu vou ter de vê-la todos os dias, agüenta-la na mesa do café, almoço e janta. Ouvir suas reclamações e lamúrias...

– Como você é cruel! –continuou Eric na defesa.

Os dois irmãos brigavam, enquanto Robin saiu de fininho. “Que briga imbecil e inútil! Por que eles agem dessa forma a meu respeito?” ela pensava enquanto saia em disparada do carvalho em busca de abrigo. Ela nem percebeu que a grama estava molhada e o ar da madrugada bastante frio. Ela adorava todos, cada qual à sua maneira, mas eles não: Jonathan a ignorava a maior parte do tempo, só dirigia a palavra a ela para dar bom dia, ou então para pedir algo. Raras eram as vezes em que os dois riam juntos, como quando iam nadar no rio que passava perto da propriedade.

Robin já acreditava que Adam a odiava por completo, vez ou outra ele vinha com uma palavra amiga, que era sempre acompanhada por duas ou mais críticas. E também vivia dizendo a garota para encarar a realidade de frente, ele só não dizia que realidade tão terrível era essa a ser confrontada. Ela sabia que ele a achava mimada por ser a única menina na família, e por isso exigia sempre a atenção de todos.

Só o Eric a compreendia, apesar de se comportar um pouco diferente na frente de Andrew, pois por vezes tinha sido um pouco ríspido ou distante. Desde que voltou de Hogwarts, a amizade deles ficou muito conturbada: os dois já não conversavam mais direito, e Eric começava a criticar a garota por qualquer erro. Quando não, aprontava das suas e deixava a culpa recair sobre a irmã sem dó nem piedade. Até o pequeno Ronan a usava ora como muleta, ora como escudo.

A garota, não agüentando o clima que se instaurara na casa, e não querendo pensar em mais nada, foi para o curral cuidar dos animais e tirar leite das vacas. Quando voltou para dentro, viu que seus irmãos a olhavam de cara amarrada. Adam soltou um “Você vai ver quando o papai voltar!” e logo ela percebeu que todos já sabiam que Joseph saiu às pressas de casa por sua causa. Robin, que já não estava muito feliz, começou a se sentir mal por tudo: eram culpas e críticas demais para a cabeça de uma criança de onze anos de idade.

Rachel estava preocupada com o marido e já havia ligado três vezes para sua sogra perguntando por ele. É claro que ela não recebeu nenhum apoio de Lucinda, que mesmo sem saber do que se tratava, já achava que seu filho estava cem por cento certo. Já Ronan ficou amuado no quarto, muito aborrecido com a notícia: agora estava sozinho! Todos estudavam em Hogwarts e ele ia ficar largado e esquecido naquela fazenda. Robin até tentou falar com o garoto, mas ele era tão teimoso que ela decidiu por fim não insistir mais com isso. Foi para o banheiro tomar um bom banho e talvez esfriar a cabeça.

Quando Rachel chamou seus filhos para o café, eram oito horas. Robin estava arrumando os quartos da casa enquanto os garotos assistiam à televisão, quando sentiu o chão do andar debaixo estremecer. Como sempre, eles disputavam tudo, até quem chegava primeiro na mesa. Assim que todos se sentaram e agradeceram pela comida e por mais um dia lindo, Rachel pediu silêncio e disse:

– Faltam três dias para que vocês voltem para Hogwarts. –a mãe suspirou pesarosa, acompanhada de Ronan. –Então, hoje após o café, todos devem se arrumar e ficar prontos até as dez, pois nós vamos ao Beco Diagonal comprar o material para o próximo ano letivo. Combinado?

Os irmãos mais velhos soltaram vivas e deram pulos de alegria. Sempre que chegava essa época do ano, Joseph começava a ficar de cabeça quente: além do dinheiro gasto, tinha que ver a esposa usar magia com maior freqüência, e isso era a morte para ele. Talvez agora esses últimos dias fossem menos turbulentos devido à ausência do pai, que tinha o costume de viajar para pescar com seus amigos e voltar somente nos últimos dias de férias para despedir-se dos garotos.

Enquanto os três rapazes subiam logo para se lavar e disputavam o banheiro, Robin tirava a louça suja da mesa do café. Rachel havia preparado um desjejum reforçado para todos, mas o pai já fazia falta. Tudo era uma correria só na casa dos Stanford: Adam não sabia onde havia deixado o outro pé do sapato; Ronan não queria tomar banho; Eric mandou uma coruja para Andrew encontra-lo às onze horas na “Floreios e Borrões”; Jonathan escrevia seu quarto pergaminho para uma namorada secreta, que ainda não havia respondido nem o primeiro.

Rachel tirou a varinha empoeirada da escrivaninha de seu quarto e se pôs a arrumar a casa do jeito antigo: usando magia. Então, às dez horas da manhã de sexta-feira, estavam todos prontos em frente à lareira esperando as instruções da mãe. A mulher deu uma capa a Robin, que parecia trouxa demais para perambular pelo beco com aquele jeans surrado e seu suéter azul predileto, velho de tanto usar. Ela pigarreou e disse em voz alta:

– Bem, todos vocês já sabem como usar o Pó de Flu, mas não custa instruí-los outra vez, pelo menos para evitar que alguém acabe em uma lareira errada, como no ano passado. Enfim, cada um deve pegar um pouco de pó e entrar na lareira. Depois é só dizer bem alto e claro para onde vão. –a mãe virou-se para Jonathan e continuou. –Você primeiro John, já que é o mais velho deles e tem mais experiência.

– Eu queria primeiro passar na casa do Quirky, mãe... Será que posso encontra-la na “Floreios e Borrões” mais tarde?

Rachel franziu a testa e pensou por um momento. Sabia que Eric já havia combinado com o amigo de se encontrar lá, portanto consentiu:

– Tudo bem, mas esteja lá às onze horas, certo?

– Certo! –e então beijou a mãe, pegou um pouco de pó e entrou na lareira –Casa dos Zelewski, Oxford.

Uma chama verde ardeu e o rapaz desapareceu como fumaça. Em seguida, cada um pegou um pouco do Pó de Flu e, em ordem, eles foram entrando na lareira e desaparecendo em seguida nas chamas mágicas. A última a sair foi Rachel, que deu uma última olha ao redor, entrou na lareira e disse: “Beco Diagonal”.


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