Despedidas




Capítulo 4




Despedidas






A família chegou em casa, cheia de sacolas e presentes, satisfeitos. Rachel ordenou que todos organizassem suas coisas para facilitar na arrumação das malas. Enquanto Ronan suspirava no quarto, infeliz com a partida dos irmãos tão próxima, Robin dava uma última conferida na lista de materiais para certificar-se de que tinha tudo. Ela brincava sossegada na cama com sua nova mascote tentando achar um nome apropriado para ele, quando ouviu um choro baixinho, vindo da cama de Ronan. Ele era sempre sorridente, e por vezes parecia uma matraca, mas quando se entristecia, ficava quieto num canto até tudo passar. Ronan nunca se queixava do que o afligia, e isso era uma péssima mania, pois Robin sempre tinha que adivinhar o que o afligia, no entanto hoje o porquê era evidente.

- O que é que aconteceu, Ronan?

Ele nada respondeu, então Robin pode entender que aquela poderia ser uma conversa difícil se insistisse no assunto. Resolveu então se abrir com o irmão.

- Ronan, não fique assim... Olhe, eu também vou sentir falta de tudo isso aqui! Pense bem, um ano longe da mamãe, do papai, de você, da Alice, da fazenda! Você não é o único aqui que vai ficar triste!

- Mas você vai pra Hogwarts! E eu vou ficar aqui... e nem vou mais estudar com a Alice!

- Ninguém sabe o que me aguarda por lá... E se eu não fizer amigos, não conseguir boas notas? As coisas não são tão fáceis como aparentam ser...

- Mas eu vou ficar aqui! Sozinho!!!

- Ah! Não diga isso! -a irmão deitou-se ao lado dele tentando faze-lo tirar a cara do travesseiro. -Olhe, prometo que lhe escreverei sempre! Eu te conto como tudo é por lá e você pode me contar sobre as coisas que acontecem por aqui também!

- Mas não será mais a mesma coisa... Você sabe!

- Lembra-se do que a mamãe sempre fala? Das mudanças?

- Sei... "Mudanças nem sempre são más e blábláblá"!!!

- Ronan! É sério... As mudanças sempre acontecem na nossa vida, independente do que fazemos, ou mesmo quando não as queremos! E o que é que importa nessas horas?

- "Saber como lidar com elas"...

- Hum... -Robin franziu o nariz, acariciou o bichinho de estimação e sorriu. -Mais ou menos... Você deveria ouvir a mamãe de vez em quando! Às vezes ela é muito chata, mas normalmente está certa... Coisas boas e más acontecem... o que faz da gente boas pessoas é a forma como a gente vê tudo isso...

- Ta! Ta! Já entendi... eu escuto a mamãe...

- Imagina se alguma coisa muito boa também te aguardar por aqui? Novos vizinhos, novos amigos?

- Mesmo assim... eu vou ficar sozinho! -e ele voltou a chorar, para a infelicidade de Robin.
- Ronan, eu não vou mais insistir! Em vez de ficar choramingando ai, nós podíamos brincar com a minha nova varinha! O estojo dela é cheio de truques... e eu queria testa-los ainda hoje! -ela sorriu, como se planejasse alguma coisa.

- Ta bom! -disse ele enxugando as lágrimas e dizendo em seguida. -A gente podia ver se funciona com os outros!

- Ah.. não... eles estão quietos lá embaixo... Acho que não vão querer brincar!

- Fala que você dá um sicle pra quem conseguir pegar a sua varinha! Eles não vão desistir até conseguirem!

E lá se foram os dois atrás dos irmãos mais velhos, que jogavam videogame na sala. Eles não deram muita atenção no começo, e só aceitaram participar da brincadeira quando ela cedeu às exigências deles e ofereceu como prêmio cinco galeões. Mas ela aceitaria até por cem, pois aquele senhor lhe garantiu que o estojo era muito seguro. Lá se foram os três tentando pegar a varinha de Robin, mesmo porquê ficaram muito curiosos quanto ao fato dela precisar de um estojo superseguro para guarda-lo.

Jonathan foi a primeira vítima e teve os dedos mordidos. Eric nem conseguiu fazer o estojo se mover, e Adam saiu correndo pela casa com a caixinha mas mãos até achar uma chave de fenda para abri-lo, e quando ia faze-lo, Robin pulou sobre o sofá e arrancou-lhe o estojo o mais rápido que pode. Ela deu a brincadeira por encerrada, dizendo:

- Acabou! Acabou! Ninguém conseguiu...

- Você nem me deixou tentar direito! -Adam protestou.

- Você ia acabar estragando meu estojo... -ela franziu o nariz.

- Mas ao menos eu poderia abri-lo! Isso é injusto... muito difícil...

- Difícil? O pior é que é tão fácil... É uma pena, mas acho que eu vou ter de ficar com o prêmio!! -disse enquanto abria o estojo toda exibida, depois agitando a varinha no ar e fazendo uma reverência.

- Nossa! -disseram todos.

- Que foi? -ela não entendeu a exclamação.

- A sua varinha... -Eric pegou na mão e começou a apreciar aquela raridade.

- Por que sua varinha é... assim? Não é de madeira, como as nossas! -Jonathan tirava o artefato das mãos de Eric.

- É tão exagerada quanto você! -Adam riu maldoso.

- Não seja invejoso... -Robin retrucou com um sorriso. -Pior é você, que é exageradamente carrancudo e implicante!

- E você é exageradamente chata e "ingênua"!

- Adam não está errado... Isso chama muita atenção... é mesmo muito exagerada. -Jojo passava agora a varinha para Adam.

- É bem bonita... mas é mesmo muito exagerada! Aliás, é tão exagerado quanto esse seu bichinho com cara de fuinha!-Eric disse enquanto pegava o animalzinho do ombro da irmã e começava a correr.

Robin correu, mas desistiu ao ver que os outros estavam adorando fazê-la de boba, correndo daquele jeito pela casa. A mãe gritou da cozinha, pedindo para eles fazerem menos estardalhaço, então ela parou e disse:

- Não vou ficar correndo por ai que nem boba! Devolva-me já o meu ferrete, por favor.

- Senão o quê?

- Senão... eu vou chamar a mamãe e ela vai dar uma bronca em vocês! E eu conto também que vocês compraram bombas de bosta e um monte de logros pra matar aula!

- Ai, olha só a menininha da mamãe! Devolve pra ela, Eric, senão o bebê vai chorar! -Jojo riu, acompanhado dos irmãos.

- Eu se fosse você não ficava rindo Eric! Afinal, não fui eu que caí no chão e fiquei choramingando no meio da rua! -Robin sorriu vitoriosa ao ver o irmão corar.

- Se você não tivesse me empurrado! -ele devolveu o bichinho pra irmã, que logo se escondeu no seu suéter.

- O quê! -Robin ficou muito aborrecida com a afirmação. -Você é tão mentiroso! E tão malvado!!! Ao menos eu não fico roubando dinheiro dum irmão menor!!!

- Do que você está falando!?! -Eric é quem se alterou agora.

- Ah! Não se faça de bobo, Eric!!!

- Essa afirmação é muito maldosa... e injusta! -disse Jojo, segurando o irmão mais novo e tentando apartar a briga.

- Mas é verdade! Perguntem pra ele quantos galeões tem em seu bolso!!! Ele me tirou mais oito galeões quando eu saia de Gringotes!!!

- Essa acusação é muito feia! -disse Adam, agora também sério. -Quer ver? -ele olhou para o irmão menor e perguntou. -Ronan, quantas moedas você tem?

- Tenho três... -ele tirou as moedas douradas do bolso da jardineira.

Agora era Robin que não entendia.

- Eric pegou mais dinheiro e dividiu igualmente entre a gente... -disse Jojo. -Algumas pessoas não são como você, Robin. Você não sabe como é chato ir para Hogsmead sem uma moedinha sequer no bolso!

- Ou então ver todos comprando doces, saindo para tomar uma cerveja amanteigada, enquanto você tem que esperar até alguém se oferecer para pagar pela sua bebida... -Adam olhou para a irmã com um pouco de raiva no olhar. -Nem todos nasceram em berço de ouro, como você, irmãzinha... -ele disse com desdém.

Robin ficou quieta por um instante a olhar para eles, e viu que suas acusações foram longe demais. "Nem tudo é o que parece ser", ela pensou. Fora demasiado injusta, e sabia que tinha que se desculpar, e até o faria se a mãe não aparecesse e os chamasse para o jantar. Na mesa, o clima não ficou menos pesado, mesmo diante da conversa animada deles sobre como seria a volta para Hogwarts.

À noite, após o jantar, surgiu a idéia de fazerem uma pequena festa de despedida para os filhos: todos pareciam animados, já haviam feito a lista de convidados na cabeça e Jonathan mandou sua coruja à tia encomendando os doces e bolos mais gostosos. O ar da casa ficou mais leve e agora tudo parecia festa na casa dos Stanford, até que Joseph finalmente ligou.

Adam estava enxugando a louça do jantar quando largou tudo para atender ao telefone. O pai avisou que passaria no domingo para levá-los à casa da avó para se despedirem, já que ela morava mais ou menos vinte quadras da estação King´s Cross. Disse que estava com saudade das crianças e que mal poderia agüentar até domingo. Foi então que Adam teve a idéia:

- Mãe, nós podemos convidar o papai para festejar amanhã?

- Poder, você pode... Mas duvido que ele venha, Adam. Ainda mais se souber que os vossos amigos bruxos também foram convidados.

- Não custa tentar, não é? Podemos fazer tudo muito simples...

- Vá em frente, meu bem. Mas não crie falsas esperanças: às vezes seu pai é tão teimoso...

Adam ligou para a casa da avó: o pai atendeu e o garoto fez o convite. Joseph não garantiu que viria, mas disse que pensaria a respeito. Adam ficou feliz, pois sabia que talvez o pai cederia à saudade dos filhos. Afinal, logo ficaria mais um ano sem vê-los! Tudo era possível.

No dia seguinte, Alice ligou para Robin, e esta lhe contou que haveria uma festa em sua casa, e que a amiga deveria comparecer às quatro horas na fazenda dos Stanford para que pudesse participar também. Alice aceitou o convite e desligou logo em seguida, sua amiga era aceitava muito bem a "esquisitice" da família.

De manhã, Rachel arrumou a casa com uma ajudinha da sua varinha mágica, e às três horas Tia Rebeca estava à porta com um homem e duas crianças, de pouco menos de oito anos. Ela pediu para os meninos ajudarem-na a tirar as caixas de doces que havia no carro. Rachel preparava cerveja amanteigada e suco de abóbora na cozinha, e a irmã foi ajuda-la, seguida de seu marido Pierre.

Ronan recebeu os primos Jacques e Bernard, levou-os para o jardim para brincarem de futebol. Ele adorou poder estar com crianças que tinham mais ou menos a sua idade, já que todos os seus irmãos eram mais velhos que ele.

Às quatro horas da tarde a lareira da casa não parou mais de chamuscar: primeiro chegaram três amigos de Adam e duas meninas que pareciam um pouco envergonhadas; depois veio o pessoal do time de Quadribol e, para a surpresa de Jonathan, Gina realmente veio, acompanhada de três irmãos e os pais; quinze minutos depois Andrew saiu da lareira, seguido de dois garotos mais altos que ele.

E, as quatro e meia, a campainha da porta tocou. Os bruxos ficaram espantados: só podia ser um trouxa. Foi uma correria só para esconder os chapéus, capas e qualquer artefato mágico dentro de uma estante de madeira que ficava na sala de jantar. Robin abriu a porta e viu que eram Joseph, Alice e Sr. e Sra. Bealmount, na concepção de Robin, quatro pessoas normais, sem um pingo de sangue mágico. Ela os convidou para entrar com toda a educação.

Joseph, ao adentrar a sala de estar, deu uma boa olhada a sua volta: nunca havia visto sua casa tão cheia... de bruxos. Eles se distinguiam de qualquer pessoa normal pelos trajes, que pareciam um pouco fora de moda e às vezes não combinavam com nada, além dos olhares suspeitos que foram lançados a ele.
Assim que os filhos avistaram o pai, ele foi recebido calorosamente e levado até a cozinha onde os outros adultos haviam se reunido. Quando Rachel viu o marido, guardou a varinha no avental. Joseph cumprimentou todos os presentes e se aproximou da esposa, que o abraçou num sobressalto. Meio relutante, ele retribuiu o gesto. Rachel pediu a irmã para cuidar de tudo na cozinha e levou o marido pela mão até o quintal dos fundos, onde poderiam conversar melhor.

Sr. e Sra. Bealmount, já na sala de estar, cumprimentaram Robin por ter sido aceita em "Hogawards", e ela presumiu que a amiga tivesse contado aos pais sobre isso. A menina agradeceu e os levou para a cozinha logo em seguida: lá estavam seus tios e os pais de Gina. Sr. Weasley demonstrou tanto interesse sobre os dois que acabavam de se juntar a eles, que os encheu de perguntas sem pé nem cabeça. Assim que introduziu Richard e Françoise ao restante dos convidados, as amigas subiram para o quarto de Robin.

As duas sentaram-se na cama da amiga e Alice colocou sua mochila rosa no colo. Robin pegou sua nova mascote que havia se enrolado no seu velho suéter e dormia tranqüilo, e foi só perceber que tinha companhia, que o bichinho começou a correr atrás da sua bolinha vermelha. As duas se divertiram por algum tempo com o ferrete que parecia que não ia parar mais, até que elas finalmente se cansaram de correr atrás do bichinho pelo quarto e sua dona o segurou no colo. Então Alice começou a vasculhar a bolsa e disse meio distraída:

- Adorei o seu bichinho! Já tem nome?

- Ainda não... Pensei que talvez você pudesse me ajudar com isso... Acho que você tem mais "bom gosto", sabe? Eu pensei em Mimi, Fifi, ou Tatá...

- Argh! Isso é nome de cachorro! Que falta de imaginação... -ela riu.

- Então o que você sugere?

- Não sei! Deixe me vê-lo... -a menina pegou o bichinho e o observou com cuidado. -É machinho, não? Difícil, muito difícil! Me desculpe, Robin, mas eu realmente não sei! Essas coisas devem ser pensadas com cuidado! Afinal, será o nome dele para o resto de sua vida...

- Eu já pensei em vários nomes, mas nada que se pareça com um furão!

- Ah! Foi então que você resolveu jogar essa responsabilidade para a sua amiga, não? Muy amiga, você, Srta. Locksheart!!!

Elas riram por um instante, e Robin continuou indagando a respeito do novo nome do seu animalzinho, quando Alice tirou algo da bolsa, escondeu nas costas para que sua amiga não visse o que era, e começou a falar:

- Nossa! Se alguma criança da escola estivesse por perto, não te chamaria mais de esquisita! Minha mãe, pelo jeito, adorou dar uma passada aqui... -ela sorriu. -Eles são como ela e você, não é?

- Como eu? -ela parecia mais interessada em saber o que havia escondido nas mãos de sua amiguinha.

- É... Sabe Robin, eles são bem diferentes...

- Ser diferente não é errado...

- Eu sei! Gosto de você porque é diferente! E por isso eu pedi algo à mamãe. -a menina mostrou para Robin um bonito embrulho com um cartãozinho pintado a mão, provavelmente pela amiga. Entregando-os a ela, completou -Abra logo! Espero que você goste...

- É claro que vou gostar!

Robin estava morrendo de curiosidade para saber o que havia lá dentro, mas primeiro leu o cartão da amiga, que dizia:



< p align="center">À caríssima Robin Viollet Locksheart, minha melhor amiga,

Para que a jóia da nossa amizade nunca se perca,

uma jóia que nunca perece.

P.S.: Espero que você goste do poema...

Eu peguei de um livro da mamãe!




< p align="center"> "Na escuridão da noite fria,

Uma única estrela no céu brilha

Pelo caminho certo, o escolhido nos guia




< p align="center">O caminho de casa, o escolhido nos mostra

O sagrado segredo, o escolhido conhece

E cinco virtudes os escolhido possui




< p align="center">Bondade para aceitar nossos erros

Alegria para iluminar nossas almas

Amizade para nos reerguer das trevas




< p align="center">Coragem para lutar contra nossos medos

Força para salvar a alma

Que a escuridão uma vez roubou."




"Lindo..." disse ela sorrindo, então abraçou Alice, que correspondeu o ato. Robin abriu com todo cuidado o belo pacote que quase cabia na palma da sua mão: era um estojo azul royal e aveludado. Robin sorriu, seus olhinhos brilharam quando finalmente abriu a caixinha. Duas estrelas douradas de cinco pontas, cada qual com sua corrente, também de ouro. Elas eram todas desenhadas nas pontas e o grande pentágono do centro, que tinha um belo cristal do mesmo formato, se abria. Lá estava a foto de Alice e Robin quando elas foram num parque de diversões comemorar os dez anos da amiga ruivinha, e no verso do amuleto estava escrito o mesmo poema do cartão.

Robin pegou uma das estrelas na mão, observou atenta cada detalhe, depois estendeu o presente de volta à amiga e disse:

- Eu gostei muito, Alice, mas não posso aceitar... Aliás, não devo aceitar!

- M-Mas por quê? -a amiguinha ficou indignada...

- Isso é muito...caro! É bonito, e eu entendo o que você quis dizer com tudo isso... mas nossa amizade...

- Nossa amizade vale isso e muito mais, Robin! Vamos lá, vire-se logo para que eu possa colocar o colar em você!

Robin relutou um pouco, mas a amiga tirou a estrela da mão da sua mão, deu a volta em torno dela e já foi logo colocando a jóia no seu pescoço. Robin pegou a outra que estava no estojo e colocou em Alice. Elas se olharam no espelho que ficava ao lado do guarda-roupa: o adereço era realmente lindo. As duas se abraçaram e voltaram a sentar na cama, por fim Alice disse:

- Mas, então você gostou ou não do poema?

- Achei bonito... mas por que coloca-lo na estrela?

- Hum... porque tem estrela no meio? -Alice riu, acompanhada da amiga.

- É sério! Eu fiquei intrigada... Por que você escreveu aquilo no colar?

- Ai, ai! Você quer significado pra tudo, não é mesmo!?! Mamãe é quem sugeriu... Na verdade, eu acredito que seja para que proteja a nossa amizade... nós duas... e tudo aquilo que amamos! Mamãe disse assim vamos "selar o laço que nos une para que não nos percamos na escuridão", ou algo do tipo... Então, gostou ou não?

- Gostei! Já me sinto mais protegida!

Robin sorriu para amiga, as duas riram e voltaram a brincar lá no quarto com o novo mascote e duas bonecas que Alice trouxera na mochila. Às sete horas Robin devolveu o animalzinho à gaiola, pois elas resolveram se juntar ao resto do pessoal lá embaixo já que estavam com muita fome. A mesa de jantar estava coberta de bolos, doces, jarras de cerveja amanteigada e suco de abóbora. Todos os presentes gostaram das guloseimas variadas, já os doces trouxas de tia Rebeca fizeram muito sucesso e a Sra. Weasley e Madame Alexandra pediram a receita à grande doceira da festa.

Rachel e Alice foram exibir os colares primeiro às mulheres que haviam se sentado na sala de estar para por a conversa em dia. Todas acharam que as duas ficaram lindas e Rachel agradeceu a Sra. Bealmount inúmeras vezes pelo mimo. Já o querido irmão Eric fez um comentário maldoso a respeito do colar:

- É bom ter amigas ricas, não Robin? Assim você pode ganhar jóias... Ela já te convidou para darem umas voltas no shopping? Quem sabe vocês não torram o vosso dinheiro em porcarias que só as meninas da vossa idade teriam coragem de comprar?

- Me poupe, Eric! Não sou obrigada a ouvir este tipo de comentário! Ultimamente sua inveja anda atacada...

- Eu pelo menos não escolho os amigos pela conta bancária!

- E eu ao menos tenho amigos!

Eric ficou em silêncio por um instante, pensando se deveria responder. Robin deu as costas para ele e nem esperou resposta, pois percebeu que Eric a tratava assim sempre que estava na frente dos outros colegas da escola. Acabou relevando o que ele disse. Andrew veio falar com ela um pouco depois, quando Alice saiu para pegar alguns doces para as duas. O garoto disse:

- Robin... posso falar com você um instante?

- Claro. -ela foi um tanto quanto indiferente.

- Não ligue para o que Eric falou... ele age meio estranho quando esta perto do Tevolli e do pessoal da escola... mas é coisa de garotos sabe?

- Eu percebi isso. Ele também fica metido perto de você!

- Eu chamaria isso de alto-afirmação... Eric sempre fica inseguro perto do Ângelo. Talvez porque o cara goste de por todos à prova... Enfim, será que dá para desconsiderar o que o seu irmão disse?

- O que o meu irmão disse? Nem me lembro mais o que era... -Robin riu e fez cara de desentendida.

- Ta certo então... Era só isso mesmo! -Andrew fez uma breve pausa. -Ah! A propósito, você ficou mutio linda com esta estrela no pescoço...

O garoto sorriu e virou-se para uma saída estratégica, já percebendo que Alice voltava. Mas Robin segurou-o pelo braço e disse:

- Só por curiosidade, quem é este tal de Tevolli?

- Bem... é aquele ali de cabelo preto que não para de falar!

- Aquele... -ela olhou por cima do ombro de Andrew e quando avistou o menino exclamou -AQUELE!?! Ah, não! -exclamou Robin.

- O que foi? Qual o problema?

- Agora entendo porque meu irmão está aborrecido!

Ela desmanchou o sorriso assim que reconheceu o garoto da loja. Era Ângelo Tevolli, o mais alto do grupo, esguio e quase pálido. Tinha cabelos pretos e lisos, artificialmente despenteados, olhos verdes, uma cicatriz que cortava o supercílio esquerdo, e um ar de superioridade que irritava Robin. Ele era o mais falante do restante do grupo, que parecia escuta-lo com atenção. Até Adam e seus amigos haviam se juntado a eles para uma boa conversa.

Ela sentiu sua felicidade se esvaindo como uma rosa que acabara de murchar. Olhou para os lados tentando encontrar talvez a menina de cachos dourados e nariz arrebitado, mas por sorte ela não estava lá, pois seria infelicidade demais para um só dia. Agora sim entendia o porquê de Eric tê-la tratado daquela forma e perdoou instantaneamente todas as brigas que tiveram durante as férias. Ela parecia muita intrigada com o fato de todos prestarem a atenção naquele garoto insuportavelmente arrogante.

- Ai... eu vi esse garoto ontem no Beco Diagonal... Não gosto dele desde o primeiro momento em que o vi! Ou melhor, me lembro de tê-lo visto em King´s Cross, mas muito rapidamente... Mas não gosto dele mesmo assim! E eu não sou dessas coisas...

- Hum... Incrível! Todos que eu conheço parecem gostar dele.

- Porque todos parecem venera-lo?

- Eric nunca o mencionou pra você?

- Não sei... Não me lembro!

- É... aposto que não... Dizem que ele é o novo Harry Potter!

- Por quê? Não vejo nada de especial nele...

- Por Merlin! Você não esta vendo que ele tem uma cicatriz em cima da sobrancelha?

- Estou, e daí?

- Ora! Só Harry tinha uma cicatriz na testa!

- Hunf! Até eu tenho uma marca dessas... -Robin estava indignada.

- Posso ver? -perguntou o garoto muito interessado.

- Não! -sua resposta direta e objetiva desapontou o garoto, então ela tentou se explicar. -...É que é muito feia... - Robin olhou para a amiga que tentava escutar conversa. -O que há de tão especial nele? Só essa bendita cicatriz?

- Claro que não! Ele disse que é uma marca que ele ganhou por ter sobrevivido a um feitiço dos comensais que mataram o pai dele! É uma história incrível! Se você quiser ir lá depois, eu tenho certeza que ele terá prazer em te contar tudo!

- Eu agradeço o convite, mas tenho algo mais... interessante para fazer.

Robin riu ironicamente e deixou o menino voltar para os colegas. Alice trouxera alguns doces a elas e disse que ficou intrigada com a conversa da amiga, e Robin tentou explicar tudo da forma mais breve possível. Mas é claro que a garotinha ruivinha já havia percebido tudo: ela tinha olhos muito atentos e com a convivência, aprendeu a ler nas entrelinhas o que sua amiga realmente dizia.

Joseph veio conversar com Robin algum tempo depois. Ele chegou perto das duas e convidou a filha para ir com ele na varanda. Já sentados nos degraus, eles ficaram olhando para o nada. A menina tentou então dizer algo para quebrar o silêncio que se fez entre eles:

- Pai, o senhor já conversou com mamãe?

- Mamãe? ...Sim. Nos conversamos... -Joseph estava com olhar distante.

- E vocês... se acertaram? Quer dizer, o senhor vai voltar, não é?

- Hum... sim. Eu até trouxe minha mala comigo, no caso de precisar ficar...

Robin olhou para o pai e riu. Ele corou e tentou emendar:

- Quer dizer, não que eu planejasse ficar aqui, entende? Só trouxe por precaução! Quer dizer... eu não quis dizer... -ele começou a se enrolar mais ainda. -Seria mais fácil para levar todos vocês à casa da sua avó, não é? Eu teria que voltar à cidade hoje e vir aqui de novo na parte manhã para pegar todos... Só estou tentando economizar tempo e combustível...

Vendo que não convencia a filha, que agora segurava o riso, mudou o rumo da conversa. Com um tom bem sério, ele disse:

- Mas não é por isso que estou aqui, Robin. Eu fiquei sabendo de uma coisa que você fez e que não me agradou nenhum pouco...

- O que é que eu fiz? -disse a menina já com o sorriso desfeito.

- Bem... eu soube a história do dinheiro que você colocou no cofre de Rachel... e se você quer saber minha opinião, não gostei da sua atitude!

Robin ficou quieta e começou a se perguntar, revoltada, se algum dia seria capaz de fazer algo que pudesse agradar seu pai.

- Por que não? Eu fiz isso pelo bem da família! Mamãe precisava...

- Mesmo assim, Robin. O que é seu é seu, e você deve guarda-lo para si! Nós nunca quisemos o seu dinheiro! Sabíamos que havia herdado uma fortuna, mas íamos cria-la a nosso modo e com o meu dinheiro...

- Nossa, o senhor fala de um jeito... -Robin fechou a cara.

- Não é isso... filha. -Joseph tomou fôlego. -Ronan e Viollet deixaram para você aquele dinheiro porque te amavam. Entenda isso: eles deram tudo para você! E se quisessem que nós tivéssemos direito a alguma coisa, certamente teria nos mencionado no testamento também.

- Mas é tanto dinheiro! Eles não vão sentir falta daquela quantia! E se tudo aquilo é meu, posso fazer o que quiser com aquela fortuna.

O pai parou por um instante, observou a menina com ternura e depois esboçou um sorriso contido. Robin não entendeu nada quando ele beijou sua testa e se levantou. Antes de entrar, ele se deteve na porta e disse:

- Não se esqueça Robin, o que é seu, é seu! Não deixe que ninguém tire proveito de você!

- Mas ninguém está tirando proveito de mim... -ela pensou melhor no que havia dito e remendou. -Quer dizer, quase ninguém...

- É sempre bom tomar cuidado... Ser boazinha e gentil com todos nem sempre será possível, principalmente frente às muitas pessoas invejosas e interesseiras que existem por ai...

- Mas... eu não fiz por mal...

- Bem... eu sei! Também não faço isso por mal... estou tentando te proteger... Não é esta a minha função como pai?

E ele sorriu. Robin entendeu o que o seu pai queria dizer, às vezes ele era muito duro com a menina, mas no fundo ela sabia que ele sempre queria o seu bem, e por isso ela se esforçava tanto para ser a melhor.
Rachel apareceu logo mais na porta, perguntando quando a menina entraria, mas esta queria um pouco de tempo para si. Nunca fora muito boa com festas, tanta gente por perto.

- Só estou tomando um ar, mamãe... A casa está tão cheia!

- Mas a festa está terminando! Venha se despedir...

- Ah! Eu me despeço deles daqui mesmo. Só conheço os Bealmount.

- Bem, o que você e Joseph conversaram?

- Nada de mais... Só mais uma bronca, de leve! -Robin riu. -Ele estava preocupado com a história do dinheiro.

- Hum... seu pai é muito preocupado mesmo, principalmente quando se trata deste assunto. Ah! E bruxos! Outro assunto que o aflige!

- Não sei como ele agüentou ficar tanto tempo perto deles... Nem sabia que trouxas podiam freqüentar festas bruxas!

- Trouxas? Seu pai... um trouxa?!? -Rachel soltou uma gargalhada gostosa.

- O que foi? -Robin ficou perplexa coma atitude de sua mãe.

- Ah, por Merlin!!! Só você mesma para me fazer rir assim, minha pequena!!! -vendo que Robin continuava séria, resolveu se explicar. -Quem foi que te disse que Joseph é trouxa? Ele é um aborto, meu bem!

- Um aborto?

- Sim... Pessoa de família bruxa sem um pingo de sangue-mágico! -ela riu mais uma vez. -Imagine, seu pai trouxa! Sra. Lucinda é outro aborto, por isso a revolta deles com o mundo bruxo! Sabe, meu bem, ser um aborto não é nada fácil! Você é completamente excluído do mundo bruxo, tratado como um marginal...

- Eu... eu nunca pensei que o papai tivesse sangue bruxo! -Robin ainda estava compenetrada, tentando absorver aquela revelação.

- O pai de Joseph era um grande bruxo, trabalhava no Ministério. Era Romeno, mas viveu a maior parte de sua vida aqui na Inglaterra. Mas esta é outra história! Deixe-me ir agora... Quero me despedir dos Weasley antes que partam! -ela riu mais uma vez. -Acredita que Arthur me ofereceu um cargo no Ministério da Magia? Ele é um homem surpreendente! -Rachel se virou e foi embora, fechando a porta atrás de si.

Todos os convidados foram embora, os Bealmount foram os primeiros, e a festa acabou lá pelas dez horas da noite. Rachel pediu ao marido que fosse dormir para poder limpar a casa, com magia é claro. Os filhos, exaustos, já estavam deitados, a não ser Robin.

Apesar do cansaço, não quis dormir logo: ficou sentada lá fora, olhando a lua quase cheia, enquanto uma brisa noturna e fria tentava congelar seus ossos. Pensava em como tudo havia sido divertido, e que amanhã ela estaria partindo para Hogwarts. Estava triste e feliz ao mesmo tempo: não queria largar a família, apesar de ter a certeza de que sua mãe e irmão já não iam ficar sozinhos; mas estava muito satisfeita por dentro, já que ficou contando as horas até que este dia finalmente chegasse.

Ela estava lá, distraída, até que avistou no portão o vulto de um animal. Teve um sobressalto de começo, mas logo percebeu que era um gato, bem preto, com os olhinhos brilhantes a encarando. Sua cicatriz ardeu e um arrepio percorreu sua espinha. Ela se levantou e resolveu entrar, antes de fechar a porta, voltou-se para a cerca da frente para uma ultima olhada: nem sinal do bichano. "Terá sido uma ilusão? Ou então um presságio? ...Não! Não! Estou imaginado coisas! Foi só um gato! Foi só um gato..." ela pensava tentando se convencer de que aquele sentimento ruim que teve ao ver o animal não era nada.

Antes de ir se deitar, ela fechou todas as portas e janelas do andar térreo, por segurança. No quarto, deu uma boa olhada no guarda-roupa e escolheu algo confortável para usar amanhã: jeans, camiseta e seu velho suéter azul que sua mãe havia dado a Adam num natal a uns três anos atrás. Separou os uniformes, empilhou seus livros sobre uma mesinha e separou mais algumas coisas para por na mala. Então colocou seu pijama, se despediu da mascote que dormia sossegado na gaiola, e deitou sob as cobertas. Ronan já dormia profundamente ao seu lado. Robin estava feliz e agradeceu pelo dia que teve, virou-se para o lado e dormiu.

Estava tendo um sonho bom: "ela chegava em Hogwarts, cercada pelos irmãos, mas então aquele gato preto apareceu e atrapalhou tudo. Uma névoa espessa encobriu o caminho e ela se perdeu dos outros. Robin corria do gato, que agora mais parecia uma pantera de tão grande, e então o animal começou a lutar com a garota. Eles rolaram no chão e ela se debatia... O bicho começou a morder seu ombro e dizer: Acorde, Robin!"

- Acorde, Robin! Acorde!

Robin abriu os olhos, meio confusa, ainda se debatendo e gritando, sua cicatriz ardia muito.
- Você está bem, minha pequena?

- Ahn? Cadê o... -a garotinha, ainda atordoada, massageava sua cicatriz.

- Foi só um sonho, meu bem! -disse Rachel abraçando-a.

"Foi só um sonho", pensou. Sentiu-se aliviada quando viu que estava em seu quarto, com sua mãe sentada na beirada da cama. Mas foi um sonho muito ruim... era algo como um presságio.

- Melhor agora? -sorriu a mãe. -Acho bom se apressar, pois já são sete e meia e seu pai quer sair em uma hora.

O sentimento de alívio de Robin foi imediatamente substituído por pânico.

- Como é que posso fazer as malas e me arrumar em tão pouco tempo?

Jonathan, que estava parado na porta, com um ar preocupado, compadeceu-se do desespero da menina e disse:

- Separa logo suas coisas, bobona! Se você colocar tudo ai em cima da sua cama em quinze minutos, eu posso até pensar em ajuda-la... Sou muito bom em fazer coisas em cima da hora!

- Obrigada! -ela sorriu mais calma.

Robin saltou da cama e foi logo separando tudo o que precisava. "Aquela festa não foi uma boa idéia... Estava tão cansada que nem fiz minha mala!" ela pensou enquanto organizava os livros, pergaminhos e a gaiola de seu animal junto às suas roupas. Assim que terminou, correu para o chuveiro e hora que saiu do banho, viu todas as suas coisas dentro da mala. Estavam um pouco bagunçadas, mas com certeza, não poderia fazer melhor. Sentiu-se grata pela boa ação do irmão e assim que se vestiu, saiu atrás dele para agradece-lo.

Já na mesa do café, a mãe fazia flutuar a última jarra de suco até a mesa. Quando o pai entrou na cozinha a mágica cessou de imediato. Por sorte, Adam estava ao lado do recipiente e pode segura-lo a tempo. No entanto, a travessa com panquecas caiu sobre a mesa com um baque surdo, fazendo com que a pilha se espalhasse. Todos pareciam agitados, e em menos de vinte minutos devoraram toda a comida.

Rachel saiu da mesa antes de todos e pediu a Joseph que lhe desse uns quinze minutos lá fora. Pegou um pedaço de papel que estava sobre o balcão e o enfiou no bolso do avental junto com sua varinha. Enquanto os meninos iam arrastando todo a bagagem até a entrada, Ronan e Joseph limpavam uma enorme baderna na cozinha. Robin foi até a sala para dar um telefone:

- Alô? Sra. Bealmount... Eu estou partindo agora. Será que posso me despedir pela última vez de Alice?

- Ela está dormindo, meu bem... -uma voz sonolenta respondeu. -Espere, Robin, vou ver o que posso fazer...

Dois minutos depois, uma voz fininha falou:

- Robin, você já vai?

- Sim... Bem, desculpe te ligar agora, mas eu só queria te dizer adeus...

- Adeus, não! Só tchau, ou então até logo! Certo?

- Certo! ...Escreva-me, ta?

- Ta! Não se esqueça de nós! E se precisar de alguém, me liga... Eu vou desligar agora! Tchau!

O telefone ficou mudo. "Talvez Alice estivesse com muito sono... Quem sabe não mando uma coruja para ela quando estiver em Hogwarts?" Robin pensou, ainda um pouco chateada com a reação da amiga no telefone.

Uns doze minutos depois da mãe sair, todos na casa ouviram um barulho ensurdecedor que vinha da garagem: algo como metal sendo arranhado e esgarçado, se isso era possível; depois o carro foi ligado e então levado até a varanda da frente.

Quando os filhos abriram a porta da entrada viram a mãe sair do carro. No entanto, parecia que o velho Ford vermelho havia engordado um pouquinho: a lataria estava um pouco arredondada na lateral. O efeito por dentro foi um pouco melhor, pois parecia que o espaço havia dobrado. Quando abriram o port

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