Inseguranças




DISCLAIMER: Não é meu! É tudo da J. K. Rowling.


BETA READER: Shey Snape – muito obrigada!


N.A.: Capítulo Trinta e Cinco! Nossa pequena família luta contra as inseguranças uns dos outros.




Capítulo 35: Inseguranças


O plano de Severo de contatar Hermione naquela quarta-feira fora por água abaixo depois de todo o mal-entendido com Nathan. O tempo que ele pensara que passaria com ela, Severo teve que passar com Nathan, ou sua consciência não o daria descanso.


Ele levara o menino de volta às masmorras depois do chá desconfortável com Potter, e compartilharam o jantar. Disso tudo, Nathan lhe extraíra outra promessa. Severo estava definitivamente ficando mole com seu filho, e ele culpava sua consciência pesada.


Pior que uma noite longe de Hermione e duas promessas extraídas fora a intromissão abelhuda de Potter.


Quando Severo chegara com Nathan na Torre da Grifinória, Potter saíra aparentemente do nada para interferir – novamente.


— Não o vi no jantar — comentara.


— Jantei nos aposentos do meu pai. Tínhamos que discutir a nova insígnia da família. — Nathan sorriu para Potter e depois olhou para Severo com tanta alegria que quase compensou as promessas e a presença de Potter.


— Uma nova insígnia Prince?


— Não, não. Nós não usaremos mais aquela insígnia. Certo, Pai? — Nathan respondera a Potter, procurando o apoio de Severo.


Severo lhe dera seu apoio, assentindo com a cabeça e reafirmando sua primeira promessa.


— Papai e eu desenvolveremos uma insígnia de família completamente nova — Nathan prosseguira. — Uma para a nossa família, começando conosco.


Seu menino soara tão orgulhoso que Severo estava maravilhado, ainda agora, só de lembrar.


— Uma insígnia Snape? — Potter questionara.


— Não. — A irritação com a lerdeza do cérebro de Potter no tom de voz do Nathan fizera Severo sorrir com malícia. — Faremos uma insígnia Granger-Snape, é claro — Nathan dissera ao irritante Potter, compartilhando a segunda promessa de Severo.


— Ah — Potter respondera. — É claro.


Foi então que a expressão de Potter mudara; ainda deixava Severo desconfortável cada vez que precisavam estar no mesmo recinto desde então. Os olhos verdes do homem pararam nele como se vissem Severo pela primeira vez na vida. Por mais irritante que Potter sempre fora, não era nada comparado a como ele estivera agindo depois daquele encontro – educado, respeitoso, e tinha os olhares... inquisitivos, contemplativos. Severo estava receoso. O que ele poderia estar planejando?


Não haveria tempo para descobrir antes que Hermione chegasse. Severo teria que ficar de olho em Potter para ter certeza que ele não colocaria o nariz nos assuntos de Severo novamente, desta vez no que dizia respeito à Hermione.


Nesse espírito, ele tomou o lugar ao lado de Potter no jantar. Hermione chegou logo depois e tomou o lugar ao outro lado de Severo, sorrindo com doçura para ele.


— Olá.


Ele teria gostado de cumprimentá-la direito, mas… — Boa noite, Hermione — teria que ser suficiente.


Ela sorriu abertamente para ele mesmo assim.


— Olá, Hermione.


O sorriso dela diminuiu de acordo antes dela responder o cumprimento de Potter.


— Harry.


As coisas ainda estavam frias entre os dois amigos. Bom — Severo aprovou. Facilitaria seu trabalho.


— O que o manteve tão ocupado esta semana? — ela perguntou a Severo, obviamente se referindo a sua ausência completa durante os últimos dias.


— Eu... A presença de Potter no castelo tem um efeito negativo nos alunos, e tem sempre mais trabalho durante as visitas dele.


Ela afagou sua mão, na mesa, onde todos podiam ver.


— Tenho certeza que conseguirá relaxar durante o fim de semana. — O sorriso dela era delator, mas não mais que a mão, ainda parada sobre a sua.


Ah, o toque carinhoso dela merecia beijos e toques em retribuição – a pele macia, o rosto delicado, os lábios encantadores...


— Já que ficarei até amanhã — Potter se intrometeu —, acha que podemos conversar sobre os avanços na sua pesquisa antes de eu ir?


Ela soltou sua mão. Severo realmente odiava Potter.


— Não vejo porque não — ela concordou, pragmática.


Severo pensou se a reticência dela em falar com Potter ainda era um efeito colateral da língua solta do mesmo e consequente vazamento de informação sobre a ligação de Severo com Nathan.


— Encontre-me no escritório de Severo amanhã depois do café-da-manhã, e então lhe farei um relatório.


Depois do jantar, quando os alunos estavam todos trancados em suas salas comunais e dormitórios – ou em esconderijos conhecidos que ele evitaria esta noite – Severo foi para os aposentos de Hermione e bateu à porta uma vez.


O sorriso dela ao vê-lo sempre fazia seu coração acelerar. — Achei que teria que lhe caçar pelas masmorras. Por que demorou tanto?


Antes que pudesse justificar sua ausência e o avançado da hora, ela o puxou para um beijo.


Ele decidiu que nunca se cansaria dos lábios dela.


Nunca.


Da próxima vez que teve consciência de si, ele tinha atravessado a sala, Hermione estava pressionada ao seu peito com os olhos semicerrados, lábios molhados, e as costas contra a parede.


— Nós não deveríamos ficar tanto tempo um sem o outro — ela comentou, envolvendo seu rosto com ambas as mãos e sorrindo. — Senti tantas saudades. — Ela o beijou novamente, não com a urgência de antes, mas suavemente, com reverência.


— Tinha planos de lhe ver na quarta-feira — ele disse a ela, deleitando-se com a sensação de cachos sedosos se prendendo à pele grossa de seus dedos calejados.


— O que o fez mudar seus planos?


Ele observava um cacho encolher para longe de seu dedo ao se afastar.


— Nathan teve uma ideia infortuna que me manteve ocupado.


— Nathan? Pensei que tinha dito que Harry o impedira.


— Potter estava envolvido.


Ela o pegou pela mão e o dirigiu ao sofá, um movimento que ele poderia se acostumar facilmente.


— Conte o que aconteceu.


— Nathan apareceu para nosso encontro usando uma insígnia de família.


— Uma insígnia de família? Isso não é um objeto tradicional antigo de sangue-puros?


Ele assentiu com a cabeça.


— Também me pegou de surpresa.


— O que Harry teve a ver com isso?


— A Sra. Potter fez a insígnia para o Nathan.


— Gina? Certo, estou perdida. Comece do começo.


Entretanto, por onde começar? Ele deveria lhe contar primeiro sobre os gritos, o iminente lançamento de azarações, ou as lágrimas do filho deles? Suspirou.


— Nathan achou que eu gostaria de vê-lo usando a insígnia da família Prince, mas aquilo era a última coisa que eu queria ver nele.


Ele queria que ela dissesse algo para confirmar que sabia de todas suas razões implícitas, mas ela permaneceu calada.


— Eu perguntei, e ele me disse que havia sido trazida para ele por Potter — continuou.


— E você não esperou para ouvir o resto, esperou?


Ela não o desapontara, mas o fato dele estar esperando que ela chegasse a essa conclusão não deixava a declaração dela menos desconcertante. Ele deixou o sofá e parou em frente à janela.


— Tinha certeza que Potter estava tentando colocar meu filho contra mim. Perdi o controle — confessou.


— Você confrontou Harry.


Foi sua vez de ficar calado.


— Pelo arranjo dos lugares no jantar, posso presumir que está tudo resolvido agora?


Embora nada pudesse convencê-lo de que Potter não estava planejando alguma coisa, ele concordou.


— Nathan pedira a Sra. Potter que fizesse a insígnia, não o Potter.


Ele a ouvira se aproximar por trás. Podia ver o reflexo dela na janela, e isso o ajudou a aceitar a mão que ela colocara em seu ombro sem se esquivar.


— Envolveu azarações? — ela perguntou.


Ele olhou intensamente para o rosto refletido, mas não conseguiu encontrar nenhum sinal visível de reprovação ali, apenas preocupação. Ele se virou, e a mão dela escorregou para tomar a sua.


— Não, mas só porque Nathan interferiu — contou a ela.


O medo agora transparecia pelos olhos levemente arregalados. Entretanto, a mão dela continuava segurando a sua.


— Não envolveu azarações — ele disse, tentando tranquiliza-la. — Falei com Nathan, e o assunto foi esclarecido. O precioso Potter está são e salvo.


— Não é com Harry que estou preocupada. — Ele soubera disso mesmo antes dela dizer, então a surpresa veio com o que ela disse depois. — É com você que estou preocupada. — Ela o puxou de volta ao sofá, e ele só pôde se deixar levar. Acariciando seu rosto, ela continuou: — Por que ver a insígnia da família Prince com o Nathan lhe incomodou a ponto de fazê-lo acreditar que estava sendo atacado?


— Isso não tem importância. — Se as mãos dela segurando as suas não fossem tão confortadoras, ele teria fugido do sofá mais uma vez. — A insígnia foi destruída, e eu compensarei Nathan trabalhando com ele em uma nova.


Ela chegou mais perto e achou uma maneira de se colocar em seus braços. — Sei que falar sobre o passado pode ser doloroso, mas me deixaria feliz poder ajudá-lo com isso. Talvez com o tempo nós possamos chegar lá. — Ela ergueu o olhar, e ele podia sentir o calor do sorriso dela.


Ele a segurou mais firme e perto de si. Não estava preparado para falar sobre seu passado com ela, sobre uma vida que esperava deixar bem para trás nas memórias. Ela não estava preparada para ouvi-las – pelo menos não se quisesse que ela permanecesse onde precisava dela, bem ali, em seus braços.


Ele estava perdido em pensamentos e não notou o silêncio se alongando e o tempo passando.


— Só não vá muito longe, onde eu não possa alcançá-lo.


As palavras calmas fizeram sua mente errante fugir da escuridão do passado. Fechou e abriu os olhos para ela e aceitou o beijo afetuoso, relaxando nos braços dela e escolhendo-a como o único lugar que queria se perder esta noite.


Como sobrevivera tanto tempo sem isso?


~o0oOo0o~


— Hermione?


— Aqui! — ela gritou, entrando no escritório pelo laboratório. — Sente-se. Só estou terminando de tampar algumas amostras para você.


Da alcova, escondida há anos por prateleiras, Severo podia ver Potter ocupar uma das cadeiras em frente à sua mesa, enquanto Hermione desaparecia de vista novamente. Eles esperaram pelo retorno dela.


— Aqui. — Ela colocou alguns poucos frascos na mesa e ocupou a cadeira de Severo. — Tive algum sucesso com a base modificada, mas ainda não há nada conclusivo. Preciso fazer mais testes antes de conseguir lhe dizer se estamos prontos para o próximo passo.


— Isso é brilhante — Potter disse a ela, pegando um frasco na mão e brincando com ele.


Severo soube então que estivera certo de vir aqui esta manhã e observar Potter. Era óbvio que o moleque tinha segundas intenções para esta reunião.


— Hermione — Potter começou, colocando o frasco de volta com os outros. — Eu... Eu não convoquei esta reunião para discutir a pesquisa. Queria falar com você sobre o Snape, mas não queria que ele soubesse.


— Harry... — Severo podia notar a irritação dela.


— Não, espere. Não seja precipitada. Eu o vi com Nathan e não acredito mais que você tomou uma decisão ruim.


Aquilo adiou as palavras de Hermione e fez Severo franzir a testa em pensamento.


— O Nathan gosta dele.


— Eu sei, Harry.


— Ele realmente olha com respeito para o Snape, e o Snape... Ele realmente gosta do Nathan — Potter disse perplexo. — Eu... Eu estava errado, desculpa.


— Embora soubesse que estava sendo injusto, eu nunca fiquei brava com você porque duvidou dele. Eu sabia que não aceitaria bem a situação logo de cara, então isso não me surpreendeu. O que me surpreendeu foi sua falta de confiança em mim. Você deveria ter confiado em mim ou ao menos ter reconhecido minha autoridade no assunto. Aquilo realmente me ofendeu e me deixou brava.


— Eu sei disso agora. Sinto muito mesmo, Hermione.


Caíram em um silêncio desconfortável, e Severo teria deixado seu esconderijo para estapear Harry, se tivesse certeza que Hermione o deixaria escapar ileso.


— Nunca vi Snape ouvir a ninguém como ele faz com o Nathan. É como se não conhecesse o Snape nenhum pouco.


— Não acho que o conheça. Se conhecesse, nunca teria duvidado dele para começo de conversa. Mas isso é tudo passado agora. Nathan ama o pai, e eu sei que Severo ama o Nathan tanto quanto. Está tudo se ajeitando agora.


— Ele deve me odiar mesmo. — Potter olhou para todos os lados menos para Hermione, e Severo captou o olhar dele e a tristeza nele.


— Você não tem como saber disso, Harry.


— Eu achei que era apenas como ele tratava as coisas e as pessoas, sabe? Mas eu o vi com Nathan, e o modo como ele queria protegê-lo de qualquer mal... Não tinha nada a ver com o modo que ele costumava nos proteger. O que Nathan queria importava. O que Nathan pensava era mais importante do que o que o Snape queria. Não achei que fosse viver para ver Snape se desculpar como ele o fez.


— Eles estão aprendendo a ser pai e filho.


Potter olhava fixamente para as mãos, e Hermione o observava, esperando tanto quanto Severo pelo que visivelmente se formava em sua mente deixar sua boca.


— Anos atrás — Potter começou baixinho, olhando as próprias mãos enquanto falava —, quando você trabalhava com o Snape, quando o Nathan...


Merlin amado!


— Você o amava? — Potter perguntou.


— Não era tão simples assim — Hermione respondeu. — Havia coisas muito mais importantes ocupando nossas mentes, a guerra estava no auge, se encaminhando para o fim, e os sentimentos eram mais complicados de se identificar naquele momento. Mas em retrospecto, com a experiência que tenho hoje, sim, eu o amava.


— E... Ele... Ele retribuía seu amor?


Hermione perdeu o olhar distante e baixou os olhos para os frascos.


— Não sei, Harry. Acho pouco provável. Uma vida passada em guerras pode realmente fazer uma pessoa classificar tais sentimentos como frívolos ou bobos. Somente Severo poderia lhe responder.


— Se você não achava que ele tinha sentimentos por você, por que prosseguiu com...? Quero dizer, vocês têm um filho juntos! Tive um pouco de tempo para analisar as coisas, e posso entender como você acharia que ele era um homem digno de sua atenção. Você sempre foi uma pessoa que ia atrás de cérebro e não beleza, e o Snape é bem poderoso e inteligente, e vocês passaram bastante tempo sendo brilhante juntos. Mas sua gravidez não encaixa! Você obviamente sabia como evitar isso!


Severo se sentia desnorteado de receio. Esta conversa estava ficando pior do havia esperado.


— Nenhum método é cem por cento à prova de falhas. Além do mais, isso é irrelevante. Nathan tem doze anos. Por melhor ou pior que uma gravidez não planejada tenha sido, é tudo insignificante agora. Por que trazer isso à tona? Onde está tentando chegar com esta conversa?


— Hermione, eu... Você ainda o ama?


— Sim, amo — ela respondeu sem rodeios, fazendo o coração de Severo bater mais rápido. Potter virou o rosto, tentando esconder a careta. Ele poderia cair duro, e a felicidade de Severo estaria completa. Potter fechou os olhos e encarou Hermione novamente.


— Ele sabe?


— Sim, sabe.


— Vocês estão juntos, então? — Havia um tom esperançoso de dúvida na pergunta de Potter.


Severo sorriu com malícia, sabendo que Potter poderia realmente cair duro até o final desta conversa.


— O que você acha? — Hermione perguntou, surpreendendo tanto Severo quanto Potter.


Potter suspirou.


— Explicaria muita coisa. Digo, ele estava conversando com você, deixando tocá-lo. Não acho que ele concordaria com isso em outras circunstâncias.


Bem observado, Potter. Severo revirou os olhos. Ele teria que advertir Hermione sobre tocá-lo em público se ela estava falando sério sobre manter suas vidas privadas. O mínimo que ela podia fazer agora era negar tudo.


Ela ainda não dissera nada.


— Talvez eu tenha lido mais do que havia para ler — Harry disse visivelmente desconfortável com o silêncio dela. — Só quero que saiba que não acho que seria ruim para o Nathan se estivessem – contanto que tenha me dito que ama ele, e considerando que ele tenha qualquer tipo de sentimento remanescente ali em algum lugar. Embora, pensando melhor, ele pode até ter, se o que eu vi entre o Nathan e ele for qualquer indicação. Ele é inteligente o suficiente para acompanhar vocês dois, e ele será um bom pai se quiser. Ele pode até ter o potencial de ser um bom marido também, se o coração dele estiver comprometido com isso e ele tentar muito, muito...


— Harry.


Graças a Merlin ela o interrompeu! Severo teve que verificar se seus olhos ainda estavam no lugar após ouvir a palavra "marido" associado a ele, e pela boca do Potter, ainda por cima!


— Você está tagarelando — ela acrescentou quando viu que tinha a atenção de Potter. Ela sorria, aquela tola! — Fico feliz que tenha mudado de ideia com relação ao Severo e possa confiar no meu julgamento agora. Significa muito para mim. — Ela sorriu novamente.


Potter olhou para ela, esperando mais, talvez. Entretanto, Severo estava bem satisfeito. O relacionamento deles não era da conta de Potter. Nem de longe.


— Você não vai dizer mais nada, vai?


O sorriso dela se abriu para mostrar os dentes. — Acho que não.


Severo poderia ter beijado ela ali mesmo neste momento, se ao menos Potter fizesse mais do que apenas suspirar e fazer bico – como ir embora, por exemplo.


— Aqui, leve as amostras. — Hermione o ofereceu os frascos. — Informarei você quando estivermos prontos para dar o próximo passo.


Severo pescou o significado oculto nas palavras dela e sorriu com ela. Potter se levantou para sair, levando os frascos com ele. Severo observou-a abraçá-lo.


— Ficarei aguardando notícias.


— Mande lembranças minhas para Gina e as crianças.


— Mandarei. Cuide-se, Hermione.


~o0oOo0o~


Estaria Severo escondido em uma alcova perto da saída do Salão Principal após o almoço em um sábado se não houvesse escutado a conversa de Hermione com Potter? Provavelmente não. Estaria contemplando abduzi-la e beijá-la bem ali onde qualquer um poderia flagrá-los? Provavelmente, mas isso porque quase nada além de Hermione passava por sua cabeça esses dias. O que Severo não antecipara era o grito de surpresa e o modo como os cotovelos dela podiam descer com tanta força em seu estômago quando a puxou do corredor para a alcova com ele.


— Hermione — sibilou, segurando uma mão sobre a boca dela. Ela parou de lutar em seus braços. Ele recolheu a mão.


— Você me assustou — ela sussurrou, virando em seus braços para o encarar antes de olhar em volta. — O que estamos fazendo aqui?


Ele se inclinou e simplesmente a beijou, longa e languidamente.


— Está me dando uns amassos em uma alcova.


Ele ergueu uma sobrancelha e sorriu com malícia à observação dela, o que a fez rir. Severo foi obrigado a calá-la com outro beijo antes que alguém realmente os encontrasse ali. Depois do beijo, do riso só restou um sorriso, teimoso.


— O que significa isso? Está com febre? — Ela tocou sua testa por brincadeira. — O que a diretora diria se nos pegasse aqui, assim?


— Que não somos melhores que os alunos em nos escondermos, se você não parar de falar. — Ele se inclinou sobre ela, parando centímetros da boca dela para enunciar: — Cale. A. Boca. — Com um beijo, ele dispensou para longe dali o sorriso crescente dela.


Ele havia perdido a noção do tempo e do espaço quando vozes e passos se aproximando lhe trouxeram de volta para onde estavam. Ele a puxou para o peito com mais firmeza e para as sombras da alcova, dando as costas para o corredor. As vozes já se moviam para longe quando ele a sentiu tremendo em seus braços – segurando risos, ele percebeu.


— Severo, isso é muito divertido, mas acho que estou pronta para ir para algum lugar onde possa lhe dar uns amassos direito, sem interrupções. Tenho certeza que conhece os melhores lugares no castelo para isso.


Ele olhou fixamente para o rosto lindo e os olhos divertidos dela enquanto procurava decidir o que seu coração tentava lhe dizer. Ele tinha vontade de devolver o sorriso para completar sua demonstração boba de comportamento adolescente. Ele sentia vontade de se apresentar para ela – simplesmente Severo – e começar do zero, do começo de tudo, onde ela não o conheceria como esse pedaço quebrado de homem, digno de piedade.


Severo empurrou as ondas do cabelo dela para trás e a observou o observando. As palavras que Potter dissera a ela brincavam em sua mente novamente. Ele queria ser capaz de ser o que Potter implicara que ele poderia ser. Ele queria fazê-la feliz, tomá-la sob sua proteção e cuidados. Ele queria ela dentro de si, trazê-la para dentro de si, e ser dela.


— Adoro seus olhos — ela observou de repente. — Eles são como pedras preciosas quando brilham assim na luz. É fascinante — sussurrou antes de beijá-lo suavemente nos lábios e de traçar suas sobrancelhas com os dedões, emoldurando seu rosto com as mãos macias.


— Venha comigo — ele sussurrou de volta, tomando a decisão e deixando a alcova.


~o0oOo0o~


Ela seguiu Severo pelos corredores e pelas masmorras. O modo como ele a encarara, como se tentasse dizer-lhe através do olhar algo da alma... Fora o momento mais íntimo que compartilharam. A fez pensar em onde ele a estaria levando.


Ele parou à porta dos aposentos dele, e ela estava logo atrás quando ele entrou. O coração de Hermione começou a acelerar enquanto esperava que ele fechasse e protegesse a porta. Ele chegou mais perto e pegou-lhe a mão, puxando-a com ele por uma porta que ela nunca cruzara antes.


Ela estava dentro do quarto dele pela primeira vez.


— Severo...


Antes que pudesse pensar no que dizer, ele a puxou novamente, e eles deixaram o quarto e entraram em outro cômodo.


O que seus olhos encontraram era tão completamente inesperado, que levou um tempo para perceber que Severo soltara sua mão. Ela olhou por sobre o ombro e descobriu que ele não havia se afastado muito, mas que estava parado ali há um passo atrás dela, observando sua reação.


— Onde estamos? — perguntou, olhando com olhos arregalados para as paredes de vidro – ou seriam janelas que cobriam do chão ao teto? A luz filtrada pela água do lado de fora davam um tom esverdeado a tudo. Ela se aproximou do vidro para ver a vida nadando ali e sentiu ele se aproximar por trás.


— Boa parte das masmorras está sob o lago. — Os braços dele envolveram sua cintura.


— É encantador.


A cabeça dele se apoiou na sua, e ela deixou o corpo relaxar no dele. Eles observaram a água em um silêncio confortável. Ela nunca imaginaria um cômodo assim em Hogwarts, um aquário.


— Eu costumava passar horas observando o lago. — A voz dele fluía por seu corpo tão calmamente quanto as plantas flutuando na água.


— É calmante — concordou. — Se soubesse que havia um cômodo assim quando era aluna aqui, o teria usado para estudo ou simplesmente para ler. É um refúgio tentador.


Ele concordou com um resmungo, e eles voltaram ao silêncio confortável. Alguém poderia assumir que o cômodo seria frio, mas lhe parecia bem aconchegante. Talvez fosse apenas a sensação dos braços dele ao seu redor, do queixo dele em sua cabeça.


— A sala comunal da Sonserina tem uma parede similar — ele lhe disse.


— Nunca soube. Vocês sonserinos são bons em guardar segredos. — Ela deslocou o queixo dele para virar a cabeça e sorrir para ele. — Outra coisa que você manteve bem escondido foi essa sua veia aventureira. Eu sabia que os sonserinos eram astutos, mas até realmente usar isso como manobra para me abduzir para uma alcova e me dar uns amassos onde qualquer um poderia nos ver. Você é cheio de surpresas — ela lhe disse com um sorriso reminiscente. — Imagino qual outros talentos ocultos vou descobrir em você.


— Sou um homem de muitos talentos — ele respondeu bem perto de seu ouvido.


— E um instigador — ela sussurrou de volta, quase num ofego.


Beijá-lo era o mínimo que podia fazer. Talvez então ele lhe mostrasse um de seus talentos. Talvez beijá-la do jeito que estava fazendo já fosse talento suficiente. De uma coisa Hermione estava certa: ela não o deixaria até que descobrisse todos seus segredos.


Os olhos intensos... O modo como ele a segurava com tanto carinho... Hermione sabia que estava prestes a ver algo dele que não vira ainda. Ele lhe diria algo? Ele lhe perguntaria algo? Ele lhe tocaria em alguma parte que suas mãos ainda não tocaram?


Estava perdida em seus olhos.


~o0oOo0o~


Era tão fácil estar aqui com ela e esquecer todo o resto. Talvez o reflexo que a água fazia no rosto dela tornasse mais fácil acreditar que ela era uma deusa saída de seus sonhos. Havia tanto para sentir.


— O que eu fiz para lhe merecer?


A mão macia veio acariciar sua bochecha, seu lábio inferior.


— Você me faz dizer coisas que normalmente não diria. Você me faz esquecer quem sou — continuou como se estive, efetivamente, em um de seus sonhos com ela. — Você me faz querer ser o homem refletido em seus olhos. — Ele plantou um beijo na testa dela e puxou-lhe a cabeça para o peito.


Todo esse turbilhão por causa do que ouvira Potter dizer a ela, porque ela admitira que o amava para Potter e recebera a aprovação do homem como resposta.


Ele queria lhe dizer o quanto fora afetado pelo que ouvira.


Um bom marido… Ele nunca pediria isso a ela. Não faria ela se amarrar a ele.


— Severo.


Uma família… Estaria ele preparado? Poderia ser aquele homem? Deveria oferecer tudo de si a ela?


— Você pode ser quem quiser, e não mudará o que vejo em você.


Ele se afastou para ver o rosto dela – lábios extremamente adoráveis e olhos sinceros. — Tem certeza disso, Hermione? Ainda não estou convencido que sabe onde está se metendo.


— Estará, com o tempo.


Ela o beijou delicadamente, mas com firmeza, e isso o deixou mais tranquilo para acreditar que ela poderia lhe convencer. Que ela o convenceria. Um dia. Logo, ele esperava. Bem logo.


— Você dá pouco espaço para pensamentos racionais — ele ressaltou.


Ela só riu, se desvencilhando de seu abraço para perambular pelo cômodo. — Por que não há mobília aqui? Um sofá seria bom.


— Eu... — E naquele momento sua bolha estourou. Ele queria contar a ela? Queria que ela soubesse o que ele passara ali? — Eu destruí a mobília e nunca a repus.


O sorriso dela se fora no mesmo instante que as palavras deixaram sua boca.


Droga.


Ela franziu o cenho e inclinou a cabeça, olhando para ele. Ele não queria que ela perguntasse por que, ele realmente não queria. Como pôde trazê-la aqui? Como acreditara em sonhos tão facilmente? Ela correu o olhar pelo cômodo com mais atenção que antes.


— O que tinha neste cômodo antes?


— Uma escrivaninha, um par de cadeiras — ele fez uma pausa antes de respirar fundo —, um divã.


Tudo que ela fez foi assentir silenciosamente com a cabeça à sua resposta. Ele esperou pela pergunta que realmente importava – esperou pelo porquê – mas não vinha. Ela circulava pelo cômodo vazio, aproximando-se dele sem deliberação, e ele esperava, contendo a vontade de fugir. Ela passou por ele sem dizer nada, parando de frente para o lago.


Ele fechou os olhos.


— Aqui é onde eu normalmente me reportava ao Alvo.


A reação ruidosa que esperava nunca aconteceu.


Ao invés disso…


— Entendo porque precisava de uma redecoração. — Uma declaração. Calma.


— Eu tinha que me livrar daquilo. Era muito... — Por que as palavras fluíam? De onde vinham? Severo sentia dor, mas não podia identificar a origem.


— Tem um retrato dele no escritório da Minerva.


Ele não conseguiu segurar o bufo que lhe escapou; nem pôde resistir à mão que tocava suas costas.


— Você já falou com ele alguma vez? — ela perguntou tentativamente.


— Já. — Ele ficaria só nisso, mas então... — É só um retrato, Hermione. Ele não pode me perdoar, mesmo que houvesse qualquer chance de perdão. Falar com ele só... — Ele segurou as palavras novamente, incerto do propósito e da origem delas.


— Horrível, eu sei. — Ela levou seu braço em volta dos ombros dela e se aninhou ao seu lado. — Não consegui passar do "Oi".


Ele se sentia bastante inadequado, mas aceitou assim mesmo o calor dela e a visão tranquilizadora das águas calmas do lago. Ele a trouxera aqui na intenção de compartilhar algo especial com ela, mas nunca isso. Sua esperança o fazia perder perspectiva. Esta mulher poderia dizer o quanto seus olhos eram bonitos quando brilhavam na luz, ou até onde iria para aceitá-lo, ou mesmo o quanto o amava, e não mudaria quem ele realmente era, os crimes que cometera.


Não, ele não a mandaria embora. Ele era verdadeiro o suficiente consigo mesmo para admitir que talvez não sobreviveria se o fizer. Entretanto, era imperativo que não esperasse mais do que ela oferecesse. Ele não podia forçá-la a cumprir as promessas que fizera. Afinal, ela não sabia que não haveria como mantê-las.


Quando ela não quisesse mais nada com ele, ele a deixaria ir.


Mas nenhum segundo antes disso.


~o0oOo0o~


Severo voltou à mesa onde normalmente aconteciam os jantares de domingo e se uniu novamente ao Nathan, que estivera sentado quieto ali por horas, imerso em livros que ele provera. Colocou um copo de suco de abóbora em frente ao filho e ganhou um sorriso pela consideração.


— Então — instigou —, encontrou alguma coisa interessante?


— Runas — Nathan respondeu, virando o livro aberto à sua frente e apontando para um tópico específico na página.


Severo correu os olhos pelo texto sobre Runas Vikings com curiosidade. — Por que não Runas Celtas?


— Todo mundo usa Runas Celtas. — Nathan deu de ombros. — Nós não somos todo mundo.


— Não, não somos — Severo concordou. Nunca cessava de lhe surpreender e maravilhar o quanto de si, mais jovem, conseguia ver em Nathan. Trabalhar juntos para desenvolver esta nova insígnia de família estava provando ser mais prazeroso do que Severo antecipara. Tivera a oportunidade de trabalhar com seu filho antes, mas apenas em tarefas práticas da confecção de poções. Aqui, cercados por livros, desenvolvendo algo novo, induzia a uma conexão de outro nível, mais profunda.


— O que exatamente quer das runas? — Severo perguntou em seguida, sem conseguir deixar passar a oportunidade de cutucar o cérebro do filho.


— Bom, runas podem acrescentar proteções e outras propriedades mágicas aos objetos, certo?


Severo assentiu que sim.


— Se escolhermos bem, podemos transformar a insígnia em um objeto poderoso. — Nathan levou uma mão ao pescoço, puxando a corrente pendurada ali. — Poderia ser como o meu colar. — Ele mostrou o pingente que Severo lhe dera de natal – o pingente modificado pela poção. — Para a proteção — Nathan acrescentou, sorrindo.


— Muito bem.


Depois de mais uma hora de estudos, eles chegaram a um número de runas possíveis que poderiam acrescentar significado e propriedades mágicas à insígnia. Mas, aparentemente, Nathan ainda não estava satisfeito.


— Existe alguma poção que possamos usar para torná-la indestrutível?


Severo ergueu uma sobrancelha.


— Por que alguém teria interesse em destruir a insígnia?


Nathan desviou o olhar para o primeiro livro que encontrou aberto perto dele, e fingindo examinar algo nele, respondeu:


— Você destruiu a dos Prince.


Severo se xingou novamente por aquela perda de controle e reação brusca.


— Talvez conheça uma poção ou duas com esse propósito.


— Poderia ajudar a preparar. — Seu filho então olhou para ele, esperançoso.


— Veremos. Por hora, acredito que já temos informações suficientes para começar. Talvez sua mãe concorde em se juntar a nós no sábado.


Nathan não parecia muito feliz com o prospecto, o que intrigou Severo.


— O que foi?


— Nada.


— Obviamente é alguma coisa — Severo insistiu. Quando Nathan continuou segurando uma resposta, Severo pressionou: — O que é? Desembucha.


— Achei que faríamos isso juntos, só nós dois — Nathan resmungou.


— Essa não é a insígnia Granger-Snape? — Ele ergueu uma sobrancelha ao filho.


— É, mas...


— Você não acha que sua mãe gostaria de fazer parte disto também? — Seu menino parecia envergonhado. — De qualquer forma, vamos precisar dela para a transfiguração.


— Por quê?


— Envolve gestos tolos de varinha demais para o meu gosto. — Ele sorriu com malícia e recebeu um pequeno sorriso em resposta. — Vamos recomeçar nossas atividades no sábado.


— Está bem — Nathan concordou indiferentemente. — Posso pelo menos levar os livros comigo?


— Pode. — Antes que a pequena celebração que seu filho fazia pudesse terminar, Severo acrescentou: — Se descobrir que seu trabalho escolar foi prejudicado de alguma forma, este projetinho será interrompido até o final do semestre. Estamos entendidos?


Nathan só sorriu mais largamente. — Sim, Pai. Obrigado. — Severo foi abraçado antes de Nathan pegar os livros e sair.


Então Severo sorriu.


Sorriu novamente quando foi recebido pelo beijo de Hermione mais tarde naquela noite. Ela estava na cozinha do apartamento, terminando de preparar a refeição que compartilhariam, enquanto ele falava da tarde com Nathan.


— ...então decidi que você está encarregada de qualquer trabalho de transfiguração que seja necessário.


— E, deixa eu adivinhar, você vai tomar conta das poções, se tiver alguma envolvida.


— Não se esqueça das runas.


— Pensei que o Nathan estava encarregado das runas — ela provocou.


— Estamos trabalhando nelas juntos — respondeu, e sabia que ela sorria, mesmo que estivesse de costas para ele enquanto preparava a salada.


— Estou feliz que esteja progredindo bem. Sei que Nathan pode ser impossível às vezes, especialmente quando está animado com alguma coisa.


— Já tive doze anos. Sei o que esperar. Nós ficaremos bem.


Ela se virou para olhar para ele, inclinando a cabeça curiosamente, fazendo Severo se sentir desconfortável.


— O quê? — ele perguntou.


— Estou tentando imaginar você com doze anos. — Ela sorriu novamente, entregando-lhe a salada e passando por ele para chegar à mesa.


— Nathan não deixa muito para a imaginação — disse calmamente, colocando a salada na mesa e tomando seu lugar —, exceto pelo fato dele ter seu nariz e uma aparência mais saudável como um todo. Ele é, talvez, mais alto do que eu era na idade dele. O cabelo é... — Ele se censurou antes de tagarelar mais um pouco. Ela já estava olhando fixamente para ele do outro lado da mesa de qualquer forma. Ele se serviu e ocupou a boca com comida, tentando controlar o sangue e evitar corar.


— Gosto do seu nariz. Combina com o seu jeito; tem personalidade.


Ele bufou, incapaz de controlar o sangue desta vez, e corou horrivelmente.


— Mas devo concordar que deve ter sido um pouco demais no rosto de um menino.


— Você não faz ideia.


— Talvez eu faça. Digamos apenas que estou feliz pelo Nathan ter o cabelo mais parecido com o seu do que com o meu. — Agora era ela que parecia envergonhada. — De qualquer forma — ela focou o prato —, deveria provavelmente trabalhar nas minhas habilidades enferrujadas em transfiguração antes de sábado, então.


~o0oOo0o~


— Assim?


— Isso. Agora, tente com o encantamento.


Nathan e Hermione estavam no estágio final, agora. Sentavam-se à mesa nos aposentos de Severo, transfigurando e encantando as insígnias para o formato e tamanho que decidiram durante o jantar. Severo estava lendo junto ao fogo, declarando novamente que gestos tolos de varinha não eram para ele. Para Hermione, a declaração escondia o fato de estar mais cansado que o normal. Talvez acordar tão cedo para coletar ingredientes na floresta gelada num sábado tenha sido demais após uma semana cheia. Hermione sorriu afetuosamente com a lembrança de sua cara sisuda e humor nada alegre quando se encontraram no Saguão de Entrada. Ele definitivamente não era um homem das manhãs.


— É isso? — Nathan lhe mostrou a runa entalhada quase atravessando o objeto em forma de moeda.


Hermione sorriu.


— É. Tente fazer o mesmo com as outras runas. Cuidado para não deixar a marca vazar o metal.


— Está bem. — Ele se concentrou na próxima runa e trabalhou no encantamento. Hermione fez o mesmo com as outras duas insígnias.


— Essa é uma Manaaz ou uma Ehwaz? — Hermione perguntou, sem saber ao certo qual runa Nathan escrevera no resumo que seguiam para o entalhamento.


— Hmm, não tenho certeza. Pai, qual runa é...? — Nathan não terminou a pergunta, mas deixou a mesa e se aproximou do sofá. — Mãe, acho que o Pai está dormindo. — Nathan balançou a pena perto do nariz do pai. Severo reagiu, mas não acordou. Nathan deu um risinho.


— Nathan! — Hermione chamou-lhe a atenção numa voz sussurrada.


— O que fazemos, então? — Nathan perguntou em voz baixa, ajoelhando ao lado do pai no sofá.


— Não podemos deixá-lo aqui. Ele vai ter torcicolo de manhã — ela comentou.


Nathan ergueu a pena novamente, peralta. Hermione olhou feio até ele se esquecer da ideia. Nathan assomou o homem adormecido.


— Pai — sussurrou.


Depois mais alto:


— Pai.


O homem se mexeu enquanto dormia. Nathan deu um sorriso largo.


— Pai — tentou novamente.


Severo finalmente abriu os olhos, sonolento. Encontrando o menino sorridente olhando de cima para ele, Severo simplesmente sorriu de volta, puxando Nathan para si e suspirando contente, fechando os olhos e voltando a dormir. Nathan deu outro risinho, sua cabeça descansando no peito do pai.


— E agora? — o menino lhe perguntou.


Hermione nunca vira uma cena tão encantadora na vida. Seu coração expandiu no peito, e tudo que conseguia pensar era em encher de beijos seus dois homens até não sobrar um centímetro não beijado. Levou um tempo para ela decidir beijar primeiro a testa de Nathan e depois a de Severo. Acariciando o cabelo do homem para longe do rosto, ela sussurrou:


— Severo, acorda. — Ela o beijou suavemente na bochecha. — Severo.


Ele inspirou profunda e longamente e abriu os olhos.


— Dormir no sofá não pode ser bom para o pescoço e para as costas — ela lhe disse, sem conseguir esconder o sorriso, que apenas aumentou quando o observou se dar conta de quem estava aninhado a seu lado.


— Nathan? — A voz dele estava rouca.


— Você dorme como uma pedra — o menino comentou, sorrindo abertamente para o pai.


— É o que parece — Severo concordou e soltou Nathan do abraço involuntário.


Hermione não conseguia tirar os olhos dele. Talvez fosse a ternura observada de outro ponto de vista. A timidez, tornando-o mais acessível, próximo. Um homem diferente do bruxo que ressoava poder e impunha respeito. Havia um aconchego intoxicante e comum sugando as forças das pernas de Hermione. Ela ansiava vê-lo acordar todos os dias. Seus olhos se conectaram, chamando-a para ele.


— Pelo menos você não estava roncando — Nathan prosseguiu. — O vovô ronca tão alto que a vovó tem que chacoalhar ele para fazê-lo parar senão ninguém dorme, e ele também nem acorda.


A intensidade crescente foi colocada em espera.


— Terminaram com toda a parte com as varinhas?


— Não, mas não precisamos terminar agora.


— O quê? Mas estamos quase terminando!


— E seu pai precisa descansar. Vamos, eu levo você para a sala comunal.


Hermione arrastou Nathan porta afora com Severo lhes seguindo de perto. Ela parou na porta e desejou:


— Boa noite.


Ela queria beijá-lo, mas com Nathan ali...


— Boa noite — Severo desejou de volta, os olhos brilhando bem dentro dos dela. — Bons sonhos. — A boca dele subiu vagarosamente para formar um sorriso malicioso.


Algo naquele sorriso ficou nos pensamentos de Hermione, carregando-a para a cama e rumo ao sono. Talvez o desejo dele se tornasse realidade, e seus sonhos fossem realmente bons com ele neles.


~o0oOo0o~


— Acho que minha mãe está namorando o meu pai — Nathan disse a Andy por sobre o tabuleiro de xadrez.


— Sério? — seu amigo perguntou de volta, movendo um peão para atacar o cavalo do Nathan.


— Sim. — Nathan moveu o cavalo para longe da ameaça. — Você acha isso uma coisa boa?


— Isso depende. Teria preferido que você tivesse deixado o cavalo onde estava, mas não acho que você estaria interessado em perder um cavalo neste ponto do jogo.


— Estava falando dos meus pais.


— Ah! Desculpa. — Os meninos mantinham os olhos no jogo. — Acho que os pais deveriam ficar juntos. Os meus estão. — Andy deu de ombros.


— E... — Nathan hesitou. — Como é?


— O que você quer dizer?


— Você sabe, como é ter pais que estão jutos?


— É legal. — Andy deu de ombros novamente. — Ha! Você não viu meu bispo!


— E você não viu minha rainha. — Nathan moveu a rainha para tomar o bispo, mas sua mente estava em outro lugar. Se seus pais estiverem mesmo juntos...


Talvez não mudasse nada, e ele estava apenas pensando demais. Mas se não estivesse...


Será que isso significava que ele finalmente teria uma família normal? Será que seu pai se mudaria com eles? Sua mãe nunca morara com nenhum de seus namorados. Sempre fora ela e Nathan, sempre. Seria diferente quando seu namorado era o pai do Nathan?


Nathan franziu a testa para o tabuleiro. Ocorreu-lhe que seu pai não poderia se mudar do castelo, senão quem daria aulas de Poções e seria o Diretor da Sonserina? Moveu um peão para frente.


— Xeque — Andy anunciou após mover um cavalo para atacar seu rei.


Finalmente prestando atenção total no tabuleiro, Nathan analisou as opções e suspirou. Tombou o rei que protestava e desistiu.


— Você venceu.


— Kevin — Andy chamou —, é sua vez!


Nathan vagou o lugar para Kevin e sentou-se ao lado deles, os olhos viajando pela sala comunal. Não seria ruim morar aqui o ano todo. Talvez seja isso que devam fazer, vir morar em Hogwarts. Sua mãe já tinha um quarto, então não seria tão difícil, certo? Exceto pelo fato de não haver quartos extra nos aposentos do seu pai. Será que ele estaria disposto a se mudar para aposentos maiores? Será que ele podia sequer deixar as masmorras para morar em outra parte do castelo? Isto é, se sequer houver aposentos maiores no castelo. Nenhum dos professores casados morava com as famílias aqui, então como iria saber?


Talvez Nathan encontrasse algumas respostas em iHogwarts: Uma História/i. Foi buscar sua cópia.


~o0oOo0o~


— Mitchell está sempre do lado do Jeremy, e isso está me enlouquecendo — Érica dizia enquanto Hermione guardava as compras. — Ele deveria apoiar minhas decisões disciplinares, mas o que ele faz? Ele desdenha da minha autoridade! Como ele acha que o Jeremy vai aprender algum respeito? Deveria ter economizado para mandar o Jeremy para um colégio interno, como você fez com o Nathan.


— O Jeremy é um menino perfeitamente normal, comportado e respeitoso. Ele escuta você. Ele só está agindo como qualquer menino de onze anos.


Érica foi apaziguada pelos elogios ao filho, e elas continuaram a guardar os itens restantes.


— Queijo chique, vinho bom... Está namorando de novo?


A pergunta pegou Hermione de surpresa.


— Não me olhe assim! Como se eu não lhe conhecesse bem o suficiente para juntar isso — Érica ergueu a garrafa de vinho do balcão — com isso — em sua outra mão ela tinha o queijo —, e não entender o significado real. Quem é o sortudo? Eu conheço?


— Não é ninguém. — Hermione tirou os itens da mão de Érica para colocá-los na geladeira. — Eu gosto de vinho e queijo. — Quando se virou novamente, Érica estava olhando para ela como se não fossem amigas e vizinhas pelos últimos dez anos. — O quê? — Hermione perguntou constrangida.


— Eu... Nada. Você guarda a manteiga na geladeira?


Hermione franziu a testa.


— Você sabe que não. Tenho tentado lhe convencer da futilidade disso desde que me mudei aqui.


— Só para ter certeza que você ainda é você.


— Érica?


— Não é da minha conta, Hermione. — O sorriso de Érica era forçado e doloroso de ver. — Acho que vou cuidar do jantar. O Mitchell vai chegar logo em casa. — Ela olhou em volta como se procurasse algo que não estava lá e depois foi em direção à porta. — Vejo você–


— Érica! Espera!


A mulher está visivelmente segurando lágrimas.


— O que foi? — Hermione se aproximou da amiga e colocou uma mão nas costas dela. Lágrimas começaram a cair. — Oh, não! Não. O que foi? — Ela a puxou para o sofá, oferecendo-lhe um lenço, e esperou que se acalmasse, fazendo sons confortadores e esfregando as costas de Érica de maneira calmante.


— Tudo bem. Está tudo bem.


— Sinto muito por isso.


— Ora, ora. Não há necessidade disso. Somos amigas, e é para isso que servem as amigas. Você me ensinou isso, lembra?


O sorriso que Érica lhe deu era menos doloroso que o anterior.


— Você é minha melhor amiga em todo o mundo, Hermione. Você sabe disso, não sabe?


— Sei, e me sinto honrada. Você sempre foi uma ótima amiga desde que vim morar aqui, e sou muito grata por isso. — Hermione sorriu para demonstrar sua gratitude. Sem Érica, sua vida como mãe solteira e trabalhadora em Londres teria sido demais há dez anos.


— Você tem estado distante ultimamente — Érica começou, e o sorriso de Hermione se dissolveu. — Com o Nathan longe, é como se não tivéssemos mais nada em comum. Você está tão ocupada com o trabalho que você quase nunca está em casa, e temo que estejamos nos distanciando, e eu tenho saudades da minha melhor amiga.


— Oh, Érica... Sinto muito se tenho estado ausente nestes últimos meses. Tem tanta coisa acontecendo na minha vida, mas isso não é desculpa para não ter tempo para você. Sinto muito, muito mesmo. Também sinto muitas saudades suas. — Hermione abraçou a amiga. Era verdade, ela sentia saudades de Érica tanto quanto a outra mulher parecia sentir saudades suas, só que agora Hermione estava de volta em meio a bruxos e bruxas e o Estatuto de Sigilo também estava de volta, com força total, em sua vida. Ela não podia falar sobre Hogwarts com Érica, ou sobre suas preocupações de que Severo nunca superaria o que acontecera na guerra, ou sobre a guerra, ou... — Não há desculpas. — Hermione disse a si mesmo e saiu do sofá para pegar vinho e duas taças. — Quer saber? Terenos uma noite de meninas.


Hermione ouviu com atenção as novidades de Érica sobre a vida em geral. Na hora em que já estavam na metade da garrafa de vinho, Hermione tomou um gole da taça e pensou sobre as coisas que estava morrendo de vontade de falar para alguém. Ela tomou outro gole e começou:


— Estou saindo com alguém.


— Sabia! — Érica explicou, e então com mais sutileza, ela acrescentou: — Digo, sabia que estava saindo com alguém, mas eu o conheço?


— É o pai do Nathan.


Érica pareceu sem palavras por um momento.


— Hermione, isso é importantíssimo!


— Eu sei! Pensei que ele não gostava nenhum um pouco de mim, mas então uma noite... — Hermione segurou a língua, tentando decidir se essa conversa era errada ou era só a sensação. Olhando para a melhor amiga e decidindo, ela continuou: — Ele veio me procurar e, sem mais nem menos, me beijou como nunca tinha sido beijada na vida. — E ela prosseguiu em contar para Érica uma versão editada das últimas semanas de sua vida amorosa.


Infelizmente para Hermione, o que chamou a atenção de Érica foi a falta de vida amorosa em tudo que Hermione lhe contara.


— Não sei se estou feliz ou triste por você. Pode ser só o fato dele ser o cavalheiro que diz, mas simplesmente não é certo deixar uma mulher adulta como você esperando desse jeito!


— Érica! Estamos esperando o momento certo. Ele é um cavalheiro.


— Talvez deva tomar a iniciativa, mostrar a ele o que quer. Saia com ele para um encontro e se aproveite dele. — A mulher deu um risinho de menina.


— Certo, sem mais vinho para você.


— Estou falando sério, Hermione! Se você o quer como diz, vá em frente e tome a iniciativa!


Hermione balançou a cabeça, incapaz de prosseguir com a explicação que essa sugestão merecia. Mas depois de mandar Érica para o apartamento ao lado, quando estava na cama, pensando em Severo, não conseguia tirar da mente as imagens que as sugestões de Érica criaram. Hermione queria Severo, e por mais que ela estivesse disposta a esperar ele tomar a iniciativa, seu desejo por ele apenas crescia a cada vez que ficavam juntos sozinhos, trocando beijos e carícias. Isso a fez pensar sobre o futuro do relacionamento.


Talvez a ideia de chamar Severo para sair tivesse mérito, a longo prazo. Mesmo que Severo insistisse em manter o relacionamento deles em segredo, ela achava que deixar o confinamento do castelo e de seu apartamento poderia ajudá-lo a sentir o relacionamento deles crescendo para algo mais que... Hermione nem sabia onde estavam no momento.


Talvez essa fosse a intenção de Severo, a de manter o que tinham o mais longe do definido e do sério possível. Embora, que vantagem isso poderia trazer para ele?


Talvez ele não queira que o relacionamento deles cresça para algo a mais. Talvez Severo esteja ganhando tempo com outros planos em mente. Severo poderia estar atrás de Nathan, usando-a para conseguir a custódia do filho.


Hermione balançou a cabeça. O Nathan é nosso filho! As coisas estão progredindo perfeitamente bem entre eles. Não há necessidade de Severo usá-la de forma alguma para chegar até Nathan. Eles já eram uma família.


Não eram?


Talvez isso não fosse o que Severo queria. Talvez ele não fosse capaz de esquecer o que aconteceu entre eles no final da guerra.


Ela pegou no sono com contradições demais na cabeça.


~o0oOo0o~


Hermione encontrou Severo no escritório, debruçado sobre uma pilha de pergaminhos, pena em mão.


— Severo.


Ele ergueu o olhar, um olhar assustado passando pelo rosto dele por um momento rápido antes dele fixar os olhos na lareira. — Hermione? — Ela observava da rede Flú ele deixar a escrivaninha para vir até à frente de sua cabeça flutuante. Ela sorriu com ternura.


— Boa noite. Interrompi você?


— Estava só corrigindo redações atrozes. Você está de fato me salvando do desprazer. Precisa de alguma coisa? Não quer atravessar?


A preocupação dele e o imediato convite lhe aqueceram o coração. Talvez Hermione estivesse temendo isso por nada. Talvez suas preocupações não fossem senão infundadas. Ela recolheu a cabeça para logo rodopiar, de corpo inteiro, para dentro do escritório dele. Ela estivera cuidando das roupas, limpando das cinzas, quando sua atenção foi desviada pela mão tirando seu cabelo do rosto e depois pelos lábios beijando os seus. Ela sorriu.


— Como foi seu dia? — ele perguntou, ainda tocando-a.


— Bom. Melhor agora aqui com você. — Ela segurou o rosto dele e lhe deu um de seus beijos carinhosos. — Precisava lhe perguntar uma coisa. — Ele continuou o beijo antes que ela pudesse perguntar, e desta vez o beijo cresceu em profundidade. Quando vieram à tona para respirar, Hermione teve dificuldade em lembrar o que eram palavras, e estava ainda mais incerta sobre para que pretendia usá-las.


— Sim? — ele provocou, sorrindo com malícia para seu o olhar visivelmente confuso. — Você estava dizendo?


Recuperando-se, ela o estapeou no braço brincando. — Estava dizendo que vim lhe convidar para me acompanhar a um evento de premiação na universidade na próxima sexta-feira.


Sem qualquer sinal de sorriso maroto e olhos brilhantes, a resposta dele foi curta. — Não. — Ela também perdeu o calor da presença dele quando ele se virou e voltou para a escrivaninha.


— Severo?


— A resposta é não.


Ele pegou a pena, ignorando Hermione. Ela esperara resistência, mas a atitude dele era totalmente desconcertante. Um "não" seco sem explicação não era aceitável. Não depois de todas as dúvidas crescendo em sua mente.


— Esta é sua resposta final? Sua resposta completa? — Apesar dos esforços para ignorá-la, Hermione notou que a mão com que ele escrevia estava parada no papel e continuou: — Tem certeza que não quer acrescentar nada a ela? Talvez um "estarei ocupado ajudando os elfos domésticos a limpar o castelo", ou talvez algo do gênero "minha mãe não me deixa sair com estranhos depois das seis"? Nem mesmo um "tenho um pressentimento de que ficarei doente no dia"? Nada?


Ele parou de fingir, pelo menos, e cruzou os braços sobre o peito, mas não oferecia nenhuma desculpa pela negativa direta sobre ir com ela na cerimônia.


— Entendo... — ela disse, desapontada. Hermione não queria analisar os sentimentos além disso, nem queria dar muita atenção para o quanto sua autoestima estava sendo mutilada pelos segundos que ficava ali parada, no escritório dele, sendo dispensada, seus piores medos se materializando diante de seus olhos.


Ela se virou rapidamente, pretendendo ir até a lareira. Com a mesma rapidez, a mão dele estava nela, segurando-a no lugar. Ela puxou, mas ele insistia em mantê-la segura.


— Hermione.


— Solta, quero deixá-lo em paz.


— Não é isso que eu quero — ele insistiu, certificando-se que ela não podia se soltar.


Ela se virou brava para ele.


— Não, é o que eu quero! Solte antes que eu lhe azare.


Ele a soltou, e ela foi embora.


~o0oOo0o~


Severo a encontrou no sofá, cabeça nas mãos, cabelo por toda parte, rosto obscurecido. Ele não tinha a menor ideia do que fazer ou dizer. Seu coração doía, suas mãos estavam frias e suadas, sua boca seca, e ele não sabia como parar de se sentir como se fosse perder os sentidos a qualquer momento.


— Por que me seguiu?


A voz dela era calma e sem vida.


— Você foi embora — ele respondeu sem pensar.


— Vá para casa, Severo.


Seu coração congelou, sua respiração travou, mas seus pés se recusavam a obedecer. Ele não podia ir embora. Não sem antes saber se seria bem-vindo novamente.


— Vá embora — ela sussurrou, sua voz trêmula. — Por favor, vá embora.


— Eu... Eu não posso.


Ela finalmente olhou para ele, e os olhos dela quase o derrubaram com o desespero que continham, mas no momento seguinte eles estavam escondidos novamente.


— Por que tem que ser tão difícil? — ela perguntou. — Por que não podemos simplesmente viver nossas vidas sem toda essa angústia, medo, insegurança?


— Não sei — ele confessou, concordando com a avaliação dela. Ele fez um esforço e tomou silenciosamente o lugar ao lado dela no sofá.


— Passei dois dias tentando pensar em uma maneira de chamar você para sair, temendo sua resposta, incerta do meu lugar.


— Hermione–


— O que nós somos, Severo? Um casal? Um par de amigos com alguns benefícios? Parceiros? Conhecidos? O quê?


Tudo que ele conseguia pensar para responder era "eu amo você", mas de alguma forma ele ainda não achava que fosse a hora certa de dizer aquilo.


— Claro que você não sabe — ela concluído de seu silêncio. — Você deveria mesmo ir embora, Severo. Não me faça implorar para que saia.


— Não posso ir sem saber...


— Saber o quê? — ela explodiu, e o tomou de surpresa.


Se posso voltar, se você voltará, se estraguei tudo, se... A mente de Severo não estava ajudando muito.


— Saber o quê? — ela repetiu brava.


— Não posso ir até que você tenha me perdoado — ele despejou.


— Perdoado você? Você ao menos sabe o que fez? Como meu perdão poderá mudar alguma coisa? Depois o quê? Voltamos ao limbo que é este relacionamento?


— Pergunte de novo.


Ela parou, olhando-o nos olhos.


— Pergunte — ele ofereceu novamente.


— Perguntar o quê?


— Tudo, começando com se eu vou com você à cerimônia estúpida.


Ela parecia confusa, mas fez como ele pedia. — Você virá comigo à cerimônia de premiação na sexta-feira?


— Sim.


— Por quê?


— Porque sou seu homem.


— O que isso significa?


— Significa que sou seu e que farei de tudo para continuar assim, até mesmo ir a uma cerimônia trouxa estúpida.


— Não é uma cerimônia estúpida. Meu mentor está sendo premiado com um–


— Irrelevante ao ponto — ele interrompeu, sem querer que ela desviasse da questão do relacionamento deles. — Hermione, não me leve a mal, mas eu não me importo com o que isso significa para mais ninguém além de você. Se é tão importante para você, eu vou, só não espere que me divirta.


— É importante que eu esteja lá, e eu quero você comigo! Será que isso é tão difícil de entender?


— Na verdade, é sim. Não sei por que você acha que é uma boa ideia me fazer ir com você para um evento trouxa público–


Ela urrou de frustração, interrompendo-o.


— Estou lhe chamando para sair. É um encontro. Você é meu par. Não me faça chamar o William.


Ele olhou feio.


— Não mencione aquele imbecil.


— É você ou ele, a escolha é sua.


— Já disse que vou, inferno!


Ele suspirou. Ela também.


— Sério, você faz parecer que estou lhe arrastando para uma sessão de tortura. Estou exausta só com essa conversa.


Ele estava igualmente exausto e não queria mais falar de cerimônias ou trouxas estúpidos. Severo tomou a mão dela ao invés disso e trouxe a cabeça dela para seu peito, depositando um beijo no topo. Haverá tempo depois para pensar em uma forma de convencê-la que ir a um evento público juntos era uma péssima ideia.




N.A.: A vida não é tão fácil quanto deveria, mas nossa pequena família não parece conceber a ideia de perder o que já conquistaram. Bom para eles! :0)


No próximo capítulo… O final do primeiro ano de Nathan, e o começo da vida familiar de Severo.


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Comentários (4)

  • wicca

    quando chega o proximo?

    2012-05-25
  • taina cullen

    que cap maravilhosooooo!!!!!!!! ansiosa para o proximo!

    2012-05-11
  • Carla Ligia Ferreira

    Amore, quase achei que tinhas desistido, ainda bem que não... =D. Beijos e até o próximo capítulo.

    2012-05-07
  • JuhSnape

    AMEI O CAP...MUITO LEGAL!!!!!!!!!!!!!!! 

    2012-05-07
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