Rendição





DISCLAIMER: Não é meu! É tudo da J. K. Rowling.


BETA READER: Shey Snape – muito obrigada!


N.A.: Capítulo trinta e quatro! O último golpe nas defesas de Severo, e outra história de príncipe.




Capítulo 34: Rendição


Severo não estava no café da manhã. Severo não estava no almoço. Severo não estava no laboratório na tarde de sábado, nem em seu escritório em hora alguma do dia.


Hermione foi o mais paciente que conseguiu, tentando muito não elevar suas esperanças demais. Não seria bom ela ir bater à porta dele, exigindo palavras que ela não sabia se ele era capaz de dizer. Também não seria nada bom jogar fora o equilíbrio que trabalhara tão duro para alcançar desde o momento em que decidira que seguiria adiante e esqueceria Severo.


Sim, a noite anterior moveu algumas das pedras fundamentais de seu equilíbrio construído, um fato inegável. Também era bom para sua saúde mental lembrar o quanto Severo estivera completamente bêbado. Ela precisava manter aquilo na cabeça e permanecer calma, centrada.


Hermione olhou no espelho uma última vez e contemplou suas roupas simples, maquiagem leve e cabelos desgrenhados.


— Vamos, Nathan.


E o mais tranquila que conseguiu, Hermione foi para as masmorras para o usual jantar de domingo na esperança de manter a compostura quando o encontrasse.


Severo estava silencioso e inexpressivo quando admitiu Nathan e ela em seus aposentos. Lembrou Hermione de como ele costumava se portar durante as reuniões da Ordem enquanto ele mantinha um olhar calculado nela ao mesmo tempo em que falava com Nathan. Ela entrou no jogo dele durante o jantar, fazendo do Nathan o centro de cada conversa, mas quando o jantar terminou...


— Vá na frente, querido. Tenho algumas coisas que quero discutir com seu pai.


— Está bem. Boa noite, Pai.


Severo assentiu, rígido.


— Boa noite, Mãe. — Nathan a abraçou e saiu.


Ela estava a sós com Severo. Ele se mantinha rígido ao lado da lareira, olhando intensamente para o fogo. Hermione esperou que ele dissesse alguma coisa, qualquer coisa – ele certamente sabia por que ela ficara para trás. Ela deveria manter-se calma e racional. Deveria esperar ele dar o primeiro passo. Deveria ser paciente e apenas esperar. Ela deveria, mas…


— Severo...


Ele desviou o olhar do fogo e a fitou com uma cara em branco. — Peço desculpas — ele finalmente disse.


O mais neutra e tranquila que conseguiu, Hermione calmamente respondeu: — Não quero suas desculpas. — Ela se aproximou dele, nunca perdendo o contato com seus olhos, procurando uma expressão neles. — Ontem, você...


— Ontem eu não era eu mesmo, como tenho certeza que percebeu.


— Ontem você estava bêbado — ela continuou.


Ele assentiu com a cabeça uma vez e escondeu os olhos dela, colocando os cabelos entre eles. — Novamente, peço desculpas.


— Não precisa; não foi por isso que eu fiquei.


Ela sabia que esperava em vão, mas ainda tinha esperanças dele dizer alguma coisa além dessas desculpas polidas. Ela queria ouvir dele o motivo de tê-la beijado. Queria que ele lhe dissesse o que o fizera ir atrás dela, o que havia mudado.


Tudo que ouvira foi seu suspiro alto.


— Não estava raciocinando direito. Obviamente, minhas desculpas não são suficientes para você, já que continua esperando sabe Merlin o que.


Ele finalmente olhou para ela com alguma expressão – o que era muito melhor que expressão nenhuma, mesmo que o que as linhas ao redor de seus olhos mostrassem fosse irritação.


Ela mordeu o lábio inferior enquanto contemplava a sorte de ir direto ao ponto. Não parecia promissora, se os olhos bravos dele lhe diziam alguma coisa. Ela arriscou uma abertura.


— Tem coisas que me disse ontem à noite que acredito que deveríamos discutir.


Ele balançou a cabeça num gesto negativo. — Nada que eu disse ontem à noite merece discussão. Eu estava bêbado.


— E portanto a noite passada nunca aconteceu, é isso que está dizendo? — A atitude dele a estava fazendo perder a paciência que cultivara tão cuidadosamente durante o dia.


— Não estava raciocinando direito, e você sabe disso.


— Você já disse, mas isso não vem ao caso...


— Ah, vem sim! — ele estourou.


Aparentemente, ela não era a única com falta de paciência no momento. Respirou fundo e calmamente disse:


— Alguma coisa obviamente mudou no jeito que me vê, ou você não teria batido à minha porta ontem à noite.


Ele olhou feio para ela. Ela tomou a hostilidade dele com calma e esperou. Ele baixou a cabeça, esfregando a testa com uma mão, e naquele momento, pareceu muito cansado.


— Sou homem, Hermione. Você é uma mulher bonita.


Ele dissera que ela era bonita.


— E tenho lábios encantadores — ela acrescentou.


Ele voltou rapidamente o olhar para ela, mostrando sua surpresa. Ela sorriu para ele, divertida. Ele fechou os olhos e suspirou.


— Eu disse isso, não disse?


— Duas vezes. — Seu sorriso se estendeu, mas ela logo perdeu a alegria. — Nunca fiz segredo algum de meus sentimentos por você. Se alguma coisa mudou no modo como me vê, eu quero saber.


— O que o seu amante trouxa teria a dizer sobre isso?


Aquilo a tomou de surpresa. Ela não pensara nem um segundo no William desde o primeiro toque dos dedos de Severo em sua pele na noite anterior. Depois ela se tocou e estreitou os olhos. Como ele poderia saber sobre o William?


— Burilando as habilidades de espião? — ela acusou. — Preferiria deixar o William fora disso.


— E eu preferiria... — ele hesitou — esquecer ontem à noite.


Ela deu um passo para mais perto dele. — E assim mesmo permanece a questão: conseguiríamos?


Ela observou seus olhos dançarem sobre seu rosto, parando em seus lábios, e ela prendeu a respiração, pensando que ele pudesse beijá-la. Ela os lambeu. Ele lhe deu as costas.


— Pare de me tentar, mulher! Você acha prudente me fazer perder o controle perto de você?


— Você quer perder o controle perto de mim?


— Não!


— Você mesmo disse: é um homem, e eu uma mulher. Por que não podemos ficar juntos se é claramente o que queremos?


Ele balançou a cabeça de leve, ainda de costas para ela. Ele lutava; ele estava tentando se afastar dela novamente.


— Não. — Hermione balançou a cabeça também. — Não desta vez, você não vai. — Ela o contornou para fazê-lo olhar para ela. Sua mão parou no peito dele, procurando pelo coração, e sentiu-lhe a respiração difícil. Ele fez uma careta, os olhos bem apertados. — Não lute — ela pediu suavemente. — Por favor. — Seu rosto se juntou à mão no peito dele, sentindo-o estremecer ao soltar o ar. Ela o puxou para si, ouvindo o coração bater mais rápido que o dela.


Ela nunca o deixaria escapar.


~o0oOo0o~


Severo tentou manter o controle de sua vontade. Se ela não se afastar... Não posso... Merlin, quero beijá-la.Ele fixou o olhar na mesa à frente. Com esforço enorme, ele a segurou pelos ombros e a colocou à distância de um braço. Contornando-a, ele procurou por estabilidade na mesa, sentindo a madeira sob as mãos geladas e esperando que a superfície sólida o focasse.


— Não estamos chegando a lugar nenhum com essa reunião, Hermione. Eu nem sei por que você ficou.


— Pare de se esconder de mim — ela lhe disse e puxou-o pelo braço, tentando virá-lo para ela.


A voz dela tinha poder nele, e isso só fazia doer mais. Ele resistiu. — Vá embora, Hermione. — Por que ela tem que me tocar?


— Olhe para mim, Severo.


Um sussurro dos infernos!


Ele cedeu e foi de encontro ao diabo. Ele controlou as emoções o melhor que pôde e torceu para que seus olhos mostrassem apenas um desejo cruel de fazê-la sofrer.


— Por que acha que preciso me esconder de você? — Quem é o diabo agora?— Este sou eu, Hermione! Olhe para o homem capaz de tomá-la contra sua vontade. Olhe para mim e fuja enquanto ainda pode. Esta reunião acabou.


A mão dela deixou seu braço e veio acariciar suavemente seu rosto. Ele deveria ter empurrado ela quando os dedos tocaram de leve sua testa, mas não o fez. Os dedos percorreram sua sobrancelha.


— Deixe a máscara cair — ela sussurrou. — Este não é você. Eu quero ver você de verdade, Severo.


Ele fechou os olhos – um breve fechar de pálpebras – e olhou de volta para ela. Por que estava fazendo isso? Por que aqueles dedos, seguidos pela sensação da sinceridade dela, o estavam derrubando?


Ele estava nu para ela, como estivera para sua alma.


— Lindo — ela sussurrou, envolvendo seu queixo com a mão. O dedão acariciou seu lábio inferior.


Suas mãos ganharam vida, e seus dedos se perderam nos cabelos dela, um dedão acariciando a bochecha dela. Tão macia...


— Beije-me, Severo.


Ela ofereceu a boca com lábios entreabertos, e ele pode apenas aceitar, baixando os seus para um toque leve. Ela suspirou, e ele acolheu seu calor, pressionando seus lábios finos na maciez dos dela para um beijo de verdade. Ela se apoiou nele, trazendo-o para mais perto pela nuca. Ele a puxou para si, mantendo suas bocas se movendo sem pressa, aproveitando cada milímetro de contato até se afastar, respirando dentro da boca dela.


Seus olhos se abriram e se encontraram – os dela entreabertos. Ele se sentia um estranho no próprio corpo. Era como se seus sonhos estivessem misturados à uma realidade que ele não conhecia. Ele nunca beijara daquele jeito, com tanta intensidade. Ele nunca fora beijado daquele jeito. Ela não tem a mínima ideia do que está fazendo comigo.


Quando sentiu os dentes em seu queixo, ele quase perdeu a força nas pernas. — Você é louca. — Ela sorria e deslizava a mão para seu pescoço. Os lábios dela se fecharam em seu queixo, aliviando a pele que acabara de atacar com os dentes. Ela trilhou beijinhos no que estava nu de seu pescoço.


— Hermione.


Ela se afastou, e Severo baixou os olhos para vê-la. Tão perigosa, tão linda.Ele a beijou novamente, profundamente, apaixonadamente, segurando nada. As línguas se encontraram, e ele se perdeu nela pelo resto da vida.


Ela terminou o beijo.


Atordoadamente confuso, ele baixou os olhos para olhar para ela e a encontrou relutante.


— Isso está indo rápido demais — ela ofegou. — Talvez seja melhor eu ir agora. — Ela não se moveu para fazer o que dizia, presa ali pela conexão que os olhos faziam entre suas almas.


Uma eternidade parecia ter passado quando ela deu passo relutante para deixar o aconchego de seus braços. Ele deixou, mesmo que não quisesse ela longe. Ela continuou olhando para ele, nunca se virando enquanto andava até a porta; seu sorriso era a única coisa que ele conseguia ver.


— Prometa que estará aqui quando eu voltar — ela pediu da porta.


Ele sabia que estaria, mas nunca disse em voz alta, e sua falta de resposta não fez o sorriso dela perder força. Ele não conseguia tirar os olhos dela até a porta se fechar e ela ter ido embora, clicando-o de volta do transe.


— Droga. — Não foi mais forte que um resmungo. Também não era uma praga.


~o0oOo0o~


Livros empoeirados e velhos. Eles pareciam não ter fim nesta parte da biblioteca onde poucos alunos se aventuravam. Nathan era o único que podia ser visto lá com certa regularidade nesta época do ano. Ele estava procurando por referências de seu passado. Era maio, mas ele se sentia como estivesse de volta a setembro, quando também estivera nesta parte da biblioteca em busca de seu passado. Naquela época, ele procurava um pai, e agora, ele sabia que seu pai era Severo Snape. Mas o que isso significava, exatamente? Depois da festa do Malfoy, Nathan descobrira que seu pai tinha outra vida inteira fora do castelo da qual ele não sabia muito. Ser um Snape envolvia muito mais do que simplesmente ser o filho do mestre de Poções de Hogwarts. Seu pai era muito respeitado na alta sociedade bruxa, provavelmente um membro dela ele próprio como parte de ser um Prince.


Aquilo foi o que Nathan descobrira pesquisando o broche que vira nas vestes do pai naquela tarde – um broche similar ao agora usado também por Malfoy.


A insígnia da família.


— História da Magia está lhe dando trabalho?


A voz de outra pessoa por perto surpreendeu Nathan. Prof. Lupin estava parado ao lado da mesa, trazendo um sorriso no rosto.


— Bom, mais ou menos.


— Duendes?


— Não, professor.


O professor pegou um dos livros da mesa e franziu a testa. — Genealogia bruxa? — Pegou outro. — Tradições de sangues-puro? Desde quando o Binns mudou a ementa?


— Não é para a aula do Prof. Binns, professor.


Testa franzida, seu Diretor de Casa ocupou a cadeira oposta a sua. — Isso não é lição de casa, é?


— Não, é outra coisa — Nathan confirmou.


— Gostaria de me contar então o que é isso?


Nathan olhou para seu professor com confusão. — O que quer dizer com isso, professor?


— Quero saber por que está sozinho nesta biblioteca triste pesquisando tradições de sangues-puro enquanto seus amigos estão todos aproveitando o tempo surpreendente bom lá fora.


Nathan olhou para suas notas e os livros espalhados ao redor delas. Ocorreu-lhe que não havia lido nada sobre a família Lupin até agora. — Professor, o senhor é sangue-puro?


A pergunta pareceu ofender o professor. — Sou um bruxo, e é isso que importa. Condições de sangue não significam nada desde a queda de Voldemort.


— Desculpe, professor. Não quis ofendê-lo ou coisa assim.


— Você não me ofendeu, Nathan. — A voz do Prof. Lupin estava mais calma. — Aqueles que lutaram na guerra são sempre cuidadosos quando questões como essas surgem. O que está procurando nesses livros?


— Só quero saber mais sobre o lado bruxo da minha família. O senhor sabia que meu pai é metade Prince? — Nathan sorriu e depois se lembrou seu lugar. — Com pai eu quero dizer Prof. Snape, claro.


— Eu sei quem seu paié. — Prof. Lupin sorriu, parecendo de certa forma mais confortável com a conversa depois daquilo. — Ele sabe sobre esta pesquisa?


— Não. — Nathan franziu a testa. Não havia sequer lhe ocorrido que seu pai pudesse ver algum problema nisso. — Não estou fazendo nada de errado... — Nathan estava quasecerto disso. — Ou estou?


— Não foi o que eu quis dizer. Já passou pela sua cabeça que talvez ele tenha informações que não estão nos livros? Pode ser que ele queira ajudá-lo.


Para ser honesto, não passara pela cabeça de Nathan ir direto ao pai e perguntar sobre a insígnia. — Pensei em começar pelos livros. Desta forma terei alguma informação antes de perguntar para ele.


Prof. Lupin descansou as costas na cadeira, colocando as mãos entrelaçadas na mesa e olhando com suspeita para Nathan. — Não vou ter que chamar sua mãe aqui para visitá-lo na ala hospitalar por causa disso, vou?


— O quê? Como é que uma pesquisa poderia me levar até lá?


— Não sei ao certo, mas é algo que aprendi quando fui professor da sua mãe. Toda vez que a encontrava na biblioteca, não demorava muito para ela ou algum de seus amigos se encrencarem e terminarem na ala hospitalar. Parece que você tem o mesmo talento. — Prof. Lupin lhe dispensou um olhar sabido.


— Não consigo imaginar como isso poderia me causar qualquer problema, professor.


— Muito bem. — Prof. Lupin se levantou, com sorte para deixar Nathan com sua pesquisa. — Tente se lembrar de comer e ir às aulas entre um livro e outro.


— Pode deixar.


Nathan sorriu e o professor finalmente se foi. Ele estava livre para voltar a outras referências sobre insígnias de família. Ele descobrira que foram criadas como uma forma de bruxos serem facilmente identificados, na época quando praticar feitiçaria e bruxaria na presença de trouxas não era proibido e bruxos famosos como Merlin eram altamente respeitados por suas habilidades. Era quase como seus avós usarem branco para trabalharem como dentistas. Claro, as coisas haviam mudado drasticamente quando bruxas e bruxos foram caçados e queimados vivos por seus dons. Eles tiveram que se esconder para a própria segurança, e usar a insígnia de família se tornara uma forma de bruxos se reconhecerem e unirem forças em prol da proteção. A tradição atravessou séculos, continuando nos dias de hoje entre os sague-puros.


Nathan encontrara livros com descrições detalhadas do que trazia cada insígnia das principais famílias bruxas e seu significado. Ele encontrara a dos Malfoy, a dos Potter, e mais importante que tudo, a dos Prince – a que seu pai havia por direito usado na festa do Malfoy. Lendo mais além, ele também descobrira que as insígnias nem sempre apareciam como broches, mas também poderiam ser exibidos na forma de anéis, preferidos por chefes de clãs, e de pingentes, geralmente usados por mulheres.


Bom, se Nathan decidisse fazer uma para si, deveria ser definitivamente um broche, como o de seu pai. Crianças mágicas podiam usar a insígnia da família depois de completarem doze anos – uma idade onde tinham as próprias varinhas e já haviam provado serem capazes de canalizar a magia por elas, assim, provando serem verdadeiros bruxos e bruxas.


Nathan definitivamente preenchia os requisitos. Ele já deveria estar usando sua insígnia de família, e a única razão que conseguia pensar para não ter a sua ainda era o fato dele ter feito doze anos logo quando sua alma estava presa fora de seu corpo por causa daquele feitiço estúpido. Ou talvez os Prince tivessem que reconhecê-lo como parte da família. Será que o reconheceriam?


O clã dos Prince era uma família bruxa bem respeitada, se o que ele lera for verdade. Tudo que Nathan descobrira sobre o lado Prince da família era excitante e assustador em partes iguais. Excitante porque ele descobrira que a história do chocolate no mundo bruxo estava intimamente ligada à dos Prince, e assustador porque cada descoberta somava a seus pensamentos íntimos de que seu pai não o apresentara para sua família porque não achava que Nathan estava à altura do nome.


Isidoro Prince fora um bruxo muito famoso. Nathan lera que ele fora o primeiro bruxo a misturar magia com chocolate nos anos 1840, e nem dez anos mais tarde, ele inventara o sapo de chocolate. Sua farmácia, onde os chocolates costumavam ser vendidos naquela época, se tornou a mais famosa da Grã-Bretanha bruxa.


Isidoro fora apenas o primeiro de uma linhagem de Prince a encontrar nos segredos do chocolate uma forma de reconhecimento, sucesso e fortuna. Nathan se perguntara sobre tal fortuna estar agora nas mãos de seu pai, mas foi logo dissuadido dessa noção por recortes reportando como seu bisavô vendera os direitos dos segredos dos chocolates da família para a Dedosdemel. Notícias de qualquer membro da família Prince depois disso foram escassas e espaçadas no tempo.


Além da informação que encontrara sobre os ancestrais Prince, Nathan também encontrara uma foto de sua avó, Eileen, quando ainda era aluna em Hogwarts. Ela fora monitora da Sonserina e capitã do time de Bexigas de Hogwarts. Ela parecia muito com seu pai, nariz e tudo o mais, e Nathan repentinamente se deu conta de como era sortudo por ter herdado o nariz dos Granger. Quando Eileen se casara com Tobias, ela se tornara uma Snape, assim encerrando da linhagem dos Prince. A última referência ao nome Prince que Nathan pôde encontrar estava numa notinha sobre o nascimento do neto de Lisaneas Prince, filho de Eileen Snape, Severo.


Vendo a notícia do nascimento do pai no jornal fez Nathan se perguntar se seu próprio nascimento chegara aos jornais. Avançando para edições menos amareladas do Profeta Diário, Nathan encontrou muitas referências a sua mãe e seus dois amigos, Harry e Rony, mas apenas em menções a seu misterioso desaparecimento. Nathan suspirou, deixando os jornais de lado.


Agora que ele sabia que seu pai não sairia de sua vida no próximo piscar de olhos, Nathan se pegara em questões que não costumavam lhe preocupar antes. Por que sua mãe demorara tanto para lhe dizer que o Prof. Snape era seu pai? Por que eles não estavam juntos quando ele nasceu? Por que o segredo? Por que seu nascimento não estava no jornal? Por que sua mãe deixara o mundo bruxo? Eles não foram namorados? Será que já pensaram em se casar? Se não, por que não?


E tinha qualquer uma dessas perguntas a ver com o fato dele não ter sua própria insígnia da família Prince ainda?


Embora ele não tivesse as respostas para aquelas perguntas, Nathan poderia remediar facilmente a última fazendo sua própria insígnia da família Prince. Ele encontrara o escudo dos Prince em um livro, então tudo que precisava fazer era transfigurá-lo em um broche. Se trabalhasse duro o bastante, poderia surpreender seu pai ao usá-lo para o chá na próxima semana.


~o0oOo0o~


Severo não conseguia dormir. Desde que admitira seus sonhos em sua vida acordado, Severo fora incapaz de deixar sua consciência descansar, constantemente assombrada por pensamentos do que seria o futuro de Hermione e Nathan com sua interferência na vida deles.


Cada vez que tentava pensar sobre o assunto com otimismo, Hermione acabava presa a ele e miserável. Cada vez que tentava pensar no pior cenário possível, Hermione estava machucada e abatida, gritando para que ele fosse embora e nunca mais voltasse. Cada vez que parava para pensar no futuro deles, o pior cenário arrumava novas formas de piorar ainda mais.


Como agora.


Ele acabara de passar a primeira parte da tarde com Nathan – seu menino inocente. Era incrível o quanto ele era puro, como a criança podia ser despreocupada, mas agora que Nathan havia ido embora, tudo que Severo conseguia pensar era em outro menino, o Menino que Sobreviveu. Um órfão, crescendo como um trouxa deslocado, escondido de sua vida real para sua proteção, sempre enganado, sempre... miserável.


Ali, cercado pelos livros que cobriam as paredes de sua casa dilapidada na Rua da Fiação, o homem escondeu o rosto nas mãos, fechando os olhos com força, tentando fazer as imagens de um Harry Potter com onze anos desaparecerem, mas nunca desapareciam. Fugir de Hogwarts também não o ajudava desta vez. As imagens ainda estavam lá, sempre lá, gravadas nos olhos de sua mente. Só que agora, o menino olhando com ódio para ele nem sempre era Potter, mas às vezes Nathan, sua inocência completamente ausente, olhos frios como pedras, com apenas ódio remanescente. Severo sabia que era responsável por tudo aquilo.


Ele puxou os cabelos, querendo que sua mente parasse de torturá-lo. Ele tinha que fazer isso parar!


Severo nem percebeu o que fazia até abrir os olhos para a vista de uma parede de tijolos. Ele aparatara em um beco entre dois prédios, um beco que já usara uma vez, meses atrás. Naquela ocasião, ele não hesitara, deixando o local obscuro assim que se sentira completamente ali. Nesta ocasião, entretanto, ele se mexeu para sair, tentando primeiro entender o que seu subconsciente lhe pedia.


Um grupo de pessoas barulhentas passou por perto, sem percebê-lo.


Vai ser melhor assim— sua mente proveu, e Severo resmungou:


— Isso é ridículo.


A que ele se referia, era difícil dizer. Poderia ser a sua inabilidade de agir e finalmente sair do beco, o que era de fato ridículo. Também poderia ser uma referência à ideia absurda que era vir atrás da Hermione no meio da tarde para convencê-la que ele não sentia nada por ela depois do que acontecera no final de semana, o que era extremamente ridículo.


Um grupo de jovens mulheres passou por perto rindo escandalosamente.


Severo rosnou para elas, para ele mesmo, e finalmente saiu, seguindo a calçada de cimento em direção ao prédio do Departamento de Química da universidade trouxa. Mantendo a imagem dos olhos de pedra de um Nathan destruído, ele deixou rapidamente as mulheres que riam para trás, ganhando velocidade e determinação a cada passo. Severo entraria no escritório de Hermione e lhe diria que isso era um erro, que ela não precisava dele, que era melhor se ela o deixasse viver sua vida miserável longe dela. Ele não ficaria para ouvir nenhuma palavra que ela disser; ele não lhe daria nenhuma oportunidade de abrir aqueles lábios macios para argumentar. Ele a encontraria, diria tudo que ela precisava ouvir, e depois correria o mais rápido que pudesse.


Ele chacoalhou a cabeça para limpar a mente.


Ele a encontraria, diria tudo que ela precisava ouvir, e depois sairia rapidamente antes que ela pudesse chegar até ele.


Ele franziu a testa, diminuindo o passo por um instante, preocupado de que talvez ele não teria a chance de escapar antes que ela colocasse as mãos delicadas nele, sabendo muito bem que não teria determinação suficiente para sair se ela o tocasse – ele sucumbiria.


Então ele quase sucumbiu fisicamente, tirado de suas preocupações ao tropeçar em alguém.


— Perdão — o homem que entrara em seu caminho disse.


— Não foi nada.


Eles olharam um para o outro, e o trouxa instantaneamente mostrou sinais de reconhecimento. Não era qualquer trouxa, mas o trouxa da Hermione. Severo disciplinou sua surpresa numa expressão vazia.


— Está procurando Hermione? — Suspeita estava na cara do homem. — Traz notícias do filho dela?


Filho dela… Com seu propósito principal colocado de lado por instintos mais urgentes, uma raiva vermelha tomou conta por dentro do corpo inexpressivo de Severo. Nathan era filho deles, não só dela, e este trouxa não tinha nada que perguntar sobre o menino de Severo.


Meufilho está bem — Severo soltou. — Não que seja da sua conta.


— Como namorado da Hermione, tenho que discordar.


Severo não teve tempo para reconhecer a petulância do tom dele, tomado de surpresa pelas palavras ao invés disso. Namorado.Toda a raiva drenou de seu corpo, substituída apenas por uma dormência fria. Ele pensara que ela dispensaria o trouxa depois do se passara entre eles no final de semana. Severo pensara que ela pretendia ser dele daquele ponto em diante.


Severo deixou o trouxa falando sozinho, ouvindo seus chamados, mas propositalmente os ignorando.


Ela não é minha. Ela nunca foi minha. Ela nunca será minha.


Suas pernas ágeis o guiaram rapidamente de volta ao beco, onde ele desaparatou de volta para Hogwarts e sua miséria antiga e sem futuro.


~o0oOo0o~


— Hermione?


Ela levantou o olhar e encontrou William à porta do escritório. Ela não sabia que ele já estava de volta da viagem à América. Hermione não estava ansiosa pela conversa que teriam, mas não havia nada a ganhar ao adiá-la. Construiu um sorriso assim mesmo.


— Está de volta.


Ele respondeu o sorriso dela com facilidade. — Sentiu minha falta? — Aproximando-se, debruçou sobre a mesa e a beijou.


Seu sorriso se entristeceu. Ela o trouxera para dentro desta confusão, e agora ele se machucaria.


Ele se sentou em uma cadeira em frente a ela.


— Como está o Nathan?


Ela achou a pergunta inesperada.


— Ele está ótimo, obrigada por perguntar.


— Então o que o pai dele queria?


— O pai do Nathan? — Ela franziu a testa.


— É, eu trombei com ele entrando no prédio.


— Severo? Aqui?


— Não, ele foi embora. — Agora era William quem franzia a testa. — Ele não veio lhe ver?


— Não. — Uma apreensão começou a tomar o peito de Hermione. — Você falou com ele?


— Rapidamente. — A apreensão de Hermione chegou a sua garganta, secando sua boca. — Perguntei por seu filho, mas ele foi grosso, dizendo que não era da minha conta. Ele é sempre assim?


— Sim, ele é. O que você disse? — Hermione sentiu como se sua vida estivesse pendurada por um fio naquela resposta.


— Bom, que eu era seu namorado! Que o Nathan agora também era da minha conta! — ele disse com veemência.


— Deus do céu — ela sussurrou, segurando a cabeça nas mãos.


— Hermione, você está bem? Eu não quis lhe assustar. Ele me garantiu que Nathan estava bem. — Ele estava ao lado dela num piscar de olhos.


— Estou bem. Devo provavelmente ir atrás dele. Pode ser importante. — Ela tinha que achar Severo o mais rápido possível, mas as mãos gentis em seus ombros, acariciando, lhe disseram que precisava colocar as coisas no lugar por aqui antes de ir atrás de Severo.


— Will, precisamos conversar.


Hermione prosseguiu com tristeza para partir-lhe o coração.


~o0oOo0o~


— Severo?


Ele ouviu a voz dela e se assustou.


— Severo, você está aí?


Ele olhou para a lareira e encontrou a fonte da voz. Ele hesitou apenas um segundo, disciplinando a feição antes de se mostrar em frente à lareira.


— O que foi?


Ela ficou quieta, como se tivesse esquecido o que ia falar no momento em que ele respondera seu chamado.


— Eu... Posso atravessar?


— Não pode — ele respondeu sucintamente.


— Severo, precisamos conversar, e eu preferiria não ter que fazer isso de joelhos no chão duro.


Ele fez questão de ignorar o pedido.


— Você poderia vir até aqui, se preferir. Já jantou?


— Por quê? Não deveria estar perguntando sobre as refeições do seu namorado?


— Por favor, Severo. Precisamos conversar. Eu o farei daqui mesmo, se precisar.


Ele cruzou os braços sobre o peito e esperou que tivesse uma expressão de tédio no rosto para mostrar a ela. O que ele sentia por dentro era raiva com sua dissimulação.


— Tudo bem, então, faça como quiser — ela disse. — Eu sei que encontrou com William esta tarde, e estou assumindo que não gostou do que ouviu dele. Eu estava namorando com ele, mas desde esta tarde, não estou mais. Se está se perguntando por que não tinha falado com ele antes, foi porque ele acabou de voltar de uma viagem hoje de manhã. Você o encontrou antes que tivesse qualquer chance de terminar com ele, o que eu fiz no momento em que o encontrei.


Como se ele pudesse acreditar nela. Que desculpa ridícula ela estava inventado! Alunos do segundo ano fariam melhor que isso.


— Severo... — A voz dela estava mais baixa. — Diga alguma coisa.


Ele manteve seu silêncio.


— Você veio me procurar... Você não queria falar comigo?


— Estava atrás de você para terminar sabe-se lá que eu achei que estava acontecendo entre nós. Não vejo motivos para isso agora, e você? — A raiva tinha finalmente encontrado um escape.


— Não, eu não vejo nenhum motivo para terminar tudo entre nós — ela respondeu. — Não é isso que eu quero.


Ele bufou. — O que você quer! O que, afinal? Um amante para os finais de semana solitários?


— Ora, pelo amor de Deus! Claro que não! — ela retrucou e depois suspirou pesadamente. — Esta conversa vai levar uma eternidade. Por favor, venha para cá.


A veemência dela ainda soava traiçoeiramente com ressonância em seu coração esperançoso, mais ainda depois da renovação do convite para ir até ela.


— Se não quer vir para a minha casa, então ao menos retire as proteções para que eu possa atravessar — ela insistiu com admirável calma.


Ele não poderia deixá-la chegar perto dele. Ela sempre tinha uma maneira de fazê-lo voltar no tempo e se tornar um adolescente, cheio de esperanças e inseguranças. Não, ele tinha parado com isso de ficar vulnerável perto dela.


— Está bem. — Ela interrompeu seus pensamentos. — Entendi. Teremos esta conversa na sexta-feira, então. Tenha uma boa noite, Severo.


Severo olhou fixamente para a lareira, agora radiante em amarelos e vermelhos com o fogo natural que nela ardia. Ela tinha felizmente ido embora.


Então por que ele não se sentia bem com isso?


Severo começou a andar de um lado para o outro em frente à lareira, segurando o peito e se perguntando o que poderia estar fazendo-o doer tanto. Ela dissera que terminara seu caso com o trouxa. Ele poderia acreditar nela? Ela seria sua, então?


Ela não é minha. Ela nunca será minha.


Não importava; o coração de Severo doía ainda mais.


Ela precisava saber que não era para trouxa nenhum entrar na vida de Nathan. Não era para homem nenhum se intitular namorado dela. Não era para homem nenhum tocá-la e beijá-la como ele, Severo Snape, fazia.


Ele rosnou com o peito dolorido, incapaz de parar andar de um lado para o outro. Ele deu um passo longo e jogou um punhado de pó de Flú no fogo.


— Apartamento de Hermione Granger — falou entre dentes, atravessando e quase perdendo o equilíbrio quando foi cuspido diretamente na sala de estar dela sem qualquer barreira para segurá-lo. Ele olhou em volta e a encontrou no sofá, olhando intensamente para ele.


— Você não protege a lareira contra intrusos? — Agora, menos desorientado e mais focado, ele estreitou os olhos para ela. — Ou está esperando alguém?


— Você — ela confessou. — Sabia que viria — acrescentou, visivelmente segurando um sorriso. — Entretanto, pensei que levaria mais tempo para deixar de ser tão teimoso.


— Que tipo de jogo é esse?


Ela ficou séria. — Isso não é um jogo, e eu pensei que soubesse disso. Por que estava na universidade mais cedo, afinal? Estou assumindo que Nathan está bem. — O tom dela era questionador e ligeiramente preocupado independente da afirmação na frase.


— Sim, ele está bem — ele garantiu, perdendo um pouco da raiva com menção do filho deles.


Agora, pensando melhor, ir atrás dela no local de trabalho só podia deixá-la preocupada, uma ideia terrível até mesmo para um homem egoísta como ele. Em seu desespero para fazer as cenas horríveis que sua mente estava criando desaparecerem, ele deixara a vontade tomar conta de suas ações, fazendo-o acreditar que empurrá-la para longe lhe ajudaria a trazer de volta o controle de uma situação que já havia perdido no momento em que encontrara com a alma dela. Severo partira com um propósito firme de lembrá-la de todos os excelentes pontos que faziam do relacionamento deles corrosivo e errado, mas voltara para seus aposentos consumido por ciúmes, cego para tudo o mais.


Ele olhou para os olhos expectantes dela e teve que esconder os seus atrás dos cabelos e dar as costas para ela, virando-se para as estantes ao invés disso, porque sabia que ela vira os pensamentos passando através de seu rosto; ela ainda esperava que ele dissesse alguma coisa.


— Fui até lá para falar sobre... — Ele suspirou.


— Nós? — ela completou para ele.


— Não posso fazer isso, Hermione — ele disse ao volume de couro azul em frente a ele. — É melhor isso terminar aqui.


A continuidade do silêncio dela pesava desconfortavelmente atrás de sua cabeça. Ele colocou as mãos nos bolsos, sem saber mais o que fazer consigo mesmo.


— É isso que quer?


— Sim — ele respondeu rapidamente, se agarrando desesperadamente a esta oportunidade de escape.


— Você não parece muito convencido disso — ela lhe disse. — Se estivesse realmente interessado em terminar tudo entre nós, estaria despejando palavras perniciosas na minha cara e não contemplando meus livros como se fizessem parte de uma coleção rara.


Ele se virou rapidamente para encará-la depois disso.


— Nathan faz exatamente a mesma coisa — ela ofereceu como forma de se justificar, apaziguando-o com um sorriso tristonho.


— Quando eu falo alguma coisa, eu falo sério — ele repreendeu.


— Você não quis dizer aquilo.


— Você está me chamando de mentiroso? Você?


A atitude dela o irritou. O fato de ela estar duvidando daquilo que ele mesmo duvidava não vinha ao caso. Ele a odiava naquele momento por ter a vantagem numa conversa feita para ser a queda dela e não dele.


— Só estou explicando minha tese — ela teve a audácia de dizer. — Você não me quer fora de sua vida; só está dizendo isso.


— Você não tem como saber o que eu quero — ele rosnou. — Não presuma que me conhece.


Ela concordou, assentindo uma vez com a cabeça. — Só estou começando a lhe conhecer. Por que não me diz o que quer, então?


Ele riu com sarcasmo. Depois, de repente, as palavras perniciosas que ele estivera tão pronto para lançar nela escaparam sua mente e tudo o que restou foram as perguntas que ele estivera morrendo para fazer desde o retorno dela em sua vida. Ele tentou segurar a língua, tentou mesmo, mas...


— Eu quero lhe entender, mas você é impossível de entender! — ele acusou. — Primeiro você vai até o inferno para provar que não sou um traidor por matar Alvo. Depois você trabalha comigo, me ajuda a enganar o Lorde das Trevas, é até amigável comigo... Depois eu lhe estupro.


— Severo.


— Não, eu vou terminar — ele rosna, olhando feio para ela. — Eu lhe estupro, e você me agradece, como se tivesse lhe feito um grande favor. Depois dá a luz a meu filho por razões que não posso compreender, e depois você o protege de mim – sabiamente, devo acrescentar. Você obviamente sabe que não sou bom para ele, e depois espera que eu acredite o contrário. Não consigo... — Sua voz falhou. — Como pode realmente acreditar que não vou destruir a vida de vocês? Porque eu vou! Não porque quero, mas porque é o que eu faço! Eu destruo vidas. — Ele parou de andar de um lado para o outro para olhar para ela, apenas para encontrar olhos calmos, expressão gentil, como se ele estivera lhe ensinando como fazer uma poção chata ao invés de estar despejando sua mente e seu coração para ela. — Você não está me ouvindo! — ele gritou acusadoramente.


— Sim, estou — ela calmamente disse. — Estou ouvindo cada palavra, cada preocupação. Quero que saiba que nunca estive alheia a suas preocupações... seus medos. Eu só não vejo por que eles precisam nos manter separados. Não é como se tudo tivesse sido um mar de rosas para nenhum de nós até agora. Claro que tenho medos e preocupações também – especialmente porque isso envolve o Nathan. Eu nunca me perdoaria se alguma coisa acontecesse com o Nathan, então eu pensei muito sobre isso. Nunca esperei que nosso relacionamento fosse fácil, ou suave, ou feliz para sempre... Eu só não consigo me ver feliz sem você em nossas vidas. Não um feliz de contos de fadas, porque você não é o Príncipe Encantado, e eu também não sou nenhuma princesa indefesa, mas uma vida feliz dentro do possível e do ordinário de pessoas reais, Severo. Sou apenas uma mulher comum apaixonada por um homem incrivelmente teimoso, que pensa que deve estar sempre preparado para me resgatar para ser digno do meu amor. O problema é: não estou trancada indefesa em uma torre. Não preciso ser resgatada por nenhum príncipe. — Um sorriso malicioso cresceu vagarosamente nos lábios adoráveis dela. — Embora você seja um.


Ele bufou a despeito de si mesmo.


Ela deixou o sofá e parou em frente a ele. — Eu honestamente acredito que podemos fazer isso dar certo.


— E arriscaria tudo com base apenas nessa crença. Você é uma tola, Hermione.


— Talvez eu seja, mas não sou a única, sou?


Ela correu uma mão peito acima e atrás do pescoço dele, puxando seu rosto para baixo para encontrar o dela. Ele se curvou ao desejo dela e a beijou com ternura. Ele era um tolo muito maior do que ela poderia sequer imaginar, mas pelo menos a dor que comprimira seu peito a tarde toda se fora.


— Encontraremos o ritmo certo — ela o tranquilizou. — Começaremos devagar e veremos onde isso nos leva.


— E o trouxa? — Ele ergueu uma sobrancelha incisivamente para ela.


— Ele nunca foi uma ameaça para você. — Antes que ele pudesse argumentar, ela acrescentou: — Eu terminei com ele hoje mais cedo, como lhe disse.


— E o Nathan? — Houve uma pausa em que ambos pensavam sobre o significado deste relacionamento para o filho deles. — Não quero envolvê-lo nisso — exigiu.


Hesitantemente, ela concordou:


— Por enquanto.


Ela o beijou desta vez, um beijo curto demais para as necessidades de Severo. — Devo preparar o jantar agora? Estou faminta.


Assim como estava Severo, então ele a beijou novamente, profundamente, até que ele foi tirado de seu abandono pelo gemido satisfeito dela e interrompeu o beijo. Ele sentiu o calor subindo pelo peito e pela garganta, lhe dizendo que estava corado.


Ela limpou a garganta. — Gosta de massa?


Ele assentiu, ainda envergonhado por sua demonstração de total falta de controle.


— Ótimo — ela disse – mais para ela mesma, ao que pareceu – e o deixou sozinho na sala. — Tem licor e uísque no armário ao lado da estante, se não se importa em se servir — ela falou da cozinha.


Ele fez pouco da oferta dela e a seguiu. Da porta, ele perguntou:


— Você tem vinho?


Ela pulou de surpresa, traindo que estava nervosa. Isso o acalmou um pouco; significava que ele não estava sozinho em águas desconhecidas.


— Eu... — ela falseou. — Tem uma garrafa ali. — Ela apontou para um armário alto atrás dela.


Ele pegou o vinho e duas taças. Ela picava cogumelos, e ele se encostou no batente da porta para assistir, abrindo vagarosamente a garrafa.


— Estou picando ao seu padrão, professor?


— Achei que estivesse cozinhando, não preparando uma poção.


O comentário lhe fez sorrir, o que iluminou o cômodo. Era como nas muitas vezes em que a visitara somente como alma, como se tivesse deixado sua antiga vida para trás para começar de novo. Severo tinha vontade de abraçá-la por trás e enterrar o nariz em seus cabelos macios enquanto ela cozinhava. Ele terminou de abrir o vinho ao invés disso, colocando uma taça para ela ao lado da tábua de corte e se encostando de volta no batente da porta com uma para si.


Os únicos sons eram os da faca batendo na tábua de madeira e o de seu coração batendo alto em seus ouvidos. Ele desejou que houvesse música tocando, como geralmente havia quando ela estava sozinha na cozinha. Ela poderia estar cantarolando e balançando seu corpo cheio de curvas ao seu ritmo. Severo tomou um gole demorado de vinho e tentou se segurar para não agir só com a memória ou ter um ataque de ansiedade.


— Você gosta quente?


— O que disse?


— Gosta de pimenta no molho? — ela mudou a pergunta, mostrando-lhe uma pimenta vermelha.


— Sim. — Ele teria que tomar um banho frio depois desta noite mesmo.


Ela trabalhou nas panelas enquanto ele assistia. O que ela o oferecia... Uma vida nova, uma chance de ser ele mesmo depois de todos os anos que perdera... Não tinha precedentes. Ele tomou outro gole demorado de vinho e pensou no estava por vir, neles jantando como a vira fazendo com o namorado trouxa. Mais vinho...


— Deveria voltar para Hogwarts. — Ele colocou a taça no balcão.


Ela parou o que estivera fazendo para olhar cuidadosamente para ele, os olhos dela impossíveis de se decifrar. Ele estava paralisado por eles, até ela olhar de volta para a panela.


— O que ainda está lhe incomodando?


— Hermione... — Ele a viu mexer furiosamente a panela. Era hipnotizante. Ela parou. Ele levantou o olhar das mãos para o rosto dela. — Eu...


— Fique para jantar. — Ela voltou ao trabalho, ele ficou, observando-a silenciosamente. Ele só se moveu para segui-la até a mesa, juntando-se a ela para a refeição.


— Não é como se não fizéssemos isso todo sábado — ela comentou, arriscando um sorriso para ele.


— Então onde está o Nathan? — ele perguntou. Isso era completamente diferente, e ela sabia disso.


Ela suspirou. — Severo...


— Eu sei o que está tentando fazer.


— Estou tentando jantar com você. É simples assim. Entretanto, você está obviamente pensando que tenho algum plano misterioso em andamento pelas suas costas. — Ela olhou diretamente em seus olhos. — Não tenho. — Ela começou a servi-lo, e depois se serviu. Quando ela deu a primeira garfada, ele a imitou.


Parecia que a refeição se passaria em silêncio absoluto, mas quando ele estava quase acabando, Hermione largou os talheres e suspirou gravemente.


— Desculpa — ela pediu. — Achei que tínhamos chegado num acordo. Não quis lhe apressar. — Ela fechou os olhos depois de um momento. — Seu silêncio está me matando.


Sua língua estava presa. Severo já a estava magoando com sua inabilidade de agir como um homem normal agiria. Ele fez a primeira coisa que sua mente lhe dizia para fazer quando se tratava de confortar: ele cobriu a mão dela com a sua. A tensão se esvaiu dos ombros dela, e foi como uma Poção Calmante para ele.


— Obrigado por me convidar para jantar. A massa estava gostosa.


Ela riu, virando a mão com a palma para cima sob a dele.


— De nada. Obrigado por ficar.


Ele perguntou sobre viver numa vizinhança trouxa. Ela lhe contou sobre os vizinhos e amigos trouxas. Ele perguntou sobre os amigos trouxas de Nathan. Ela lhe contou como Nathan gostara de ir para a escola com o vizinho, seu melhor amigo durante anos. Ele perguntou como ela se tornara uma professora de Química. Ela lhe contou sobre os dias na universidade como aluna de graduação, sobre a escolha de se tornar uma pesquisadora e mais tarde professora.


Todo o tempo brincando com sua mão e seus dedos.


Ele poderia ter ficado ali para sempre, aprendendo sobre a vida dela e cada movimento que sua mão podia fazer.


A conversa continuou. Ele a focou nela, mantendo o fluxo de perguntas. Qualquer coisa que lhe dava interesse, ele se prendia, esperando que ela nunca se cansasse de responder com seu entusiasmo e o carinho de seus dedos.


— O que aconteceu quando descobriram que ela havia roubado suas ideias?


— Eles a cortaram do programa. — Depois de uma pausa, ela acrescentou: — Sinto que estou lhe matando de tédio com todos esses grandes fatos da minha vida. — Antes que ele pudesse contrariá-la, ela largou sua mão. — E olhe a hora!


Ele olhou. Era quase meia-noite. Ela largara sua mão, e agora estava deixando a mesa. Ele também se levantou. Ela levou os pratos para a cozinha. Ele saiu do caminho.


O que ele devia fazer agora? Ir embora? Esperar? Ajudar?


Ela voltou e parou em frente a ele. — Passei uma noite agradável. — Ela tomou as duas mãos dele nas dela. — Obrigada por nos dar uma chance.


Ele beijou os lábios macios dela, e depois os beijou novamente, e novamente, até aqueles lábios adoráveis segurarem os seus assim como as mãos dela seguravam as suas.


Paraíso.


Fora o maior tempo que beijara uma mulher, e poderia ter continuado a noite toda se ela não tivesse se afastado e o empurrado para a lareira.


— É melhor você ir. Está tarde. — Ela chamou pelos aposentos dele em Hogwarts, e o verde iluminou seu rosto. Ele a beijou novamente. Ela o empurrou, sorrindo. — Vá. Vejo você na sexta-feira.


Ele conseguiu roubar um último beijo antes da rede de Flú o levar para longe dela e do som suave do riso dela.


~o0oOo0o~


Querida Tia Gina,


Obrigado pelas balas que me mandou na semana passada. Tenho quase certeza que são da loja dos seus irmãos, acertei? Mande mais sempre que quiser! Andy também adorou.


Estive pensando se você não poderia me ajudar com uma lição de casa de História da Magia. Preciso de um broche com o símbolo que estou lhe enviando com a carta. É igual a uma insígnia de família, se já ouviu falar delas. Faria eu mesmo, mas não aprendi os feitiços ainda. Eu tentei, mas sempre fica faltando alguma coisa no símbolo, ou desaparece depois de alguns minutos... Espero que possa me ajudar.


Diga a Lílian que estou preparando uma resposta para a última carta dela. Deve ficar pronta amanhã.


Com amor,
Nathan Granger


~o0oOo0o~


A avidez de Hermione se abateu quando entrou no Salão Principal e viu que ambos os lugares ao lado de Severo já estavam tomados. O mais perto que conseguia chegar dele para jantar era três lugares de distância, ao lado esquerdo de Remo.


— Boa noite, Hermione — ele a cumprimentou. — Como foi sua semana?


— Foi ótima, obrigada. Como estão as aulas e a Casa da Grifinória?


Ela caiu em conversa mundana com o amigo de longa data enquanto tentava dar pelo menos uma olhadinha para Severo de tempos em tempos, tentando chamar seu olhar e de alguma forma se comunicar.


— ...os alunos estão... — Remo dizia, mas parou no meio da frase para olhar por sobre os ombros. — Como estão as coisas entre vocês?


— O quê? Desculpa, você dizia...?


— Severo. Notei como ele parece mais bem comportado perto de Nathan ultimamente, e vice-versa, mas como ele tem lhe tratado?


— Ele tem sido educado — Hermione disse, conseguindo manter a sensação dos lábios e mãos de Severo em sua pele para si. — Ainda discutimos, mas acho que não tem jeito de conseguir nada dele sem discutir primeiro, certo?


Remo fez um som com a boca e olhou para ela com olhos que ela achou inquisidores demais para o seu gosto. — E como anda o Harry?


A mudança abrupta de assunto a pegou de surpresa e a deixou ainda mais desconfortável. — Não o vejo faz algum tempo.


— Talvez tenham a oportunidade de colocar a conversa em dia. Ele me substituirá durante a lua cheia que vem.


Hermione tentou manter a atenção em Remo daquele ponto em diante, olhando além dele para Severo somente quando estavam entre um tópico e outro. Seus olhos se encontraram algumas vezes, mas Severo era muito mais discreto que Hermione e era difícil dizer se ele notara sua atenção ou não.


Ela foi direto para as masmorras depois do jantar. Não havia luz vinda debaixo da porta do escritório dele, e não havia nenhuma luz aparecendo nos aposentos deles também. Franzindo a testa, fez o caminho de volta para o Saguão de Entrada, notando então a luz iluminando o chão de pedra em frente à sala de aula de Poções.


Ela bateu à porta.


— Entre — ele convidou, fazendo Hermione sorrir.


Ela empurrou a porta e o encontrou lá dentro, mas não estava sozinho. Três meninos e uma menina, provavelmente alunos do terceiro ano, estavam envolvidos em diferentes tarefas enquanto ele se sentava a sua mesa, todos os olhos agora nela.


— Voltem ao trabalho — ele rosnou baixo, e os alunos obedeceram com comiseração. Ele deixou a mesa para encontrá-la à porta.


— Peço desculpas por interromper — ela disse.


— Precisa de alguma coisa? — ele perguntou educadamente.


— Nada que não possa esperar — ela mentiu. Por dentro, sua necessidade pelo toque e pela companhia dele era cada vez mais urgente, aumentada pelo som de sua voz e a visão dele à distância de seus braços.


— Minha noite está perdida com estes cabeças-ocas — ele lhe disse em voz alta, claramente para ser ouvido pelos alunos. — Se puder esperar até amanhã... — ele acrescentou, seu rosto transmitindo suas desculpas.


— Amanhã. Claro. Tenha uma boa noite, Severo.


Ele assentiu e descontou em um dos meninos ao voltar para a mesa. Hermione saiu antes que pudesse piorar ainda mais as coisas para os pobres alunos em detenção.


Ela esperou acordada em seus aposentos até que percebeu que ele não viria como havia esperado. Ela dormiu e sonhou com ele, inconsciente do que aquilo significava.


Ela ficou novamente incapacitada de se sentar ao lado dele no café da manhã, e antes que pudesse ir para as masmorras para encontrá-lo de verdade, Nathan veio até ela.


— Oi, Mãe. Você está indo para o laboratório do Pai?


— Sim, você vem comigo?


O sorriso dele a respondeu, e ela se resignou a outra manhã sem o toque de Severo. Ajudava o fato do processo de confecção da poção manter sua mente longe de pensamentos sobre ele. Incapaz de ir ao Salão Principal para o almoço, ela mandou Nathan sozinho. Quando ele voltou lhe dizendo que pedira para os elfos domésticos lhes trazerem sanduíches, ela insistiu que ele deveria ir para o Salão Principal para um almoço apropriado.


— Mas eu quero estar aqui para colocar as folhas de Aliquente — ele argumentou.


— Você quer estar aqui para me ver lidar com as raízes de Visgo do Diabo. Já lhe disse que é perigoso demais.


— Mas, Mãe, não estou pedindo para cortá-las, só para vê-la cortando-as — ele choramingou novamente.


Hermione apenas ergueu uma mão, pedindo silêncio com o gesto. Ela contou as últimas vinte voltas com o bastão de vidro, observando a poção alcançar a cor perfeita.


— Está branco leitoso? — Nathan perguntou, aproximando-se do caldeirão para olhar dentro.


Hermione ia continuar de onde havia parado em sua argumentação quando seus olhos viram o homem à porta.


— Quem pediu isso? — Severo perguntou com uma bandeja de sanduíches nas mãos.


— Eu pedi. — Nathan foi até ele e tentou pegar a bandeja.


— Onde pensa que está levando isso? — Severo perguntou erguendo uma sobrancelha e sem largar a bandeja. — Sanduíches não são ingredientes desta poção, ou são?


— Não, não são — Nathan respondeu vexado.


— Leve-os para fora — Severo mandou, mas segurou a badeja novamente quando Nathan tentou pegá-la. — Por que não está comendo no Salão Principal para começo de conversa?


— Estávamos discutindo exatamente isso — Hermione colocou.


— Mãe... — Nathan tentou argumentar.


— É provavelmente tarde demais para isso, agora — Severo disse. — Leve a bandeja para o escritório e, da próxima vez, faça o que sua mãe diz.


— Sim, senhor. — Nathan deixou o laboratório.


— Obrigada. — Hermione estava finalmente sozinha com Severo.


Ele inclinou a cabeça para reconhecer sua gratidão e manteve os olhos nela. O modo como ele a olhava, as possibilidades implicadas naquele olhar, lhe dava arrepios. Ela lutou para desviar o olhar de volta para o caldeirão. Ela não podia se dar ao luxo de se distrair neste estágio do preparo – a poção precisava ser mexida... Agora. Ela colocou as mãos para trabalhar na tarefa.


— Mexa a cada cinco minutos, alterne, comece na direção horária, sete vezes, vinte voltas. — Ele parecia estar lendo de suas anotações. Ela mexeu a última volta no sentido anti-horário e tirou o bastão cuidadosamente da poção. — Eu assumo daqui. Vá comer com o Nathan. Quantos ciclos faltam?


— Cinco, mas o almoço pode esperar. Obrigada assim mesmo.


Ele invadiu seu espaço, prendendo-a onde estava com seus olhos poderosos. Ele deslizou o bastão de sua mão como se fosse um carinho.


— Acredito que os sanduíches estão no escritório — ele sussurrou ao seu ouvido. Ele deu um passo para trás, fazendo-a balançar um pouco com o deslocamento.


Ela abriu os olhos, fechados pelo poder de sua voz passando por ela. O sorriso malicioso no rosto dele lhe disse que ele sabia exatamente o que acabara de fazer. Isso a assustou.


— Acho que vou esperar até a poção passar deste estágio. — Ela esticou a mão, pedindo o bastão de volta.


Ele perdeu o sorriso, como era a intenção. — Vá comer alguma coisa e deixe-me cuidar do caldeirão.


Ela não tinha tempo para discutir, então, relutantemente, ela lhe deu acesso à poção. Em poucos segundos, ele começou o terceiro ciclo de movimentos. Ela só reparou que estivera contando-os quando ele disse: — Eu sei mexer uma poção. Também sei como contar até vinte. — Ele parou precisamente em vinte e cuidadosamente ergueu o utensílio para fora da poção. — Garanto que também sei como esperar por exatamente cinco minutos antes de continuar a tarefa.


— A cor está...


— Eu sei. Vá almoçar, Hermione. Não vou arruinar sua poção.


Claro que não arruinaria. Hermione deixou o laboratório, desbaratada, e encontrou Nathan comendo quietinho no escritório.


— O Pai está tomando conta da poção?


— Sim. — Ela ocupou uma cadeira, pegando um sanduíche e pensando sobre o que acabara de se passar entre Severo e ela. Ele a manipulara, jogara com seus sentidos, e ela respondera. Ele estivera...


Hermione suspirou.


Ele estivera apenas tentando ser útil, e ela o ofendera com sua natureza superzelosa de cuidar de seu trabalho. Ninguém saberia como tomar conta de uma poção melhor que Severo, e ela inconscientemente o ofendera ao duvidar disso.


— Você acha que ele se importaria se eu voltasse para o laboratório?


— Claro que não, querido. Já comeu?


— Já. Quer que espere por você?


— Não, pode ir. Não o interrompa se ele estiver contando voltas — ela o aconselhou.


Minutos depois, quando entrou no laboratório novamente, ela encontrou Severo no meio do último ciclo de movimentos e Nathan o observando com atenção. Ela se aproximou deles quando ele ergueu o bastão da poção. Antes que ela pudesse dizer qualquer coisa, ele ofereceu o utensílio e disse:


— É todo seu.


Ele deixou o laboratório em passos longos e ligeiros e a deixou pensando em como o compensaria por sua falta de tato.


~o0oOo0o~


Severo estava distante durante o jantar, reagindo pouco até mesmo à conversa do Nathan. Ao final, Hermione se sentia tão mal com o que havia acontecido mais cedo que fez Nathan esperar lá fora quando diziam boas noites.


— Sinto muito pelo que fiz no laboratório.


— Está ficando tarde — ele a lembrou.


— Não quero ir sem ter certeza que você entende que fui tomada de surpresa. O modo como me distraiu com sua presença foi apavorante. Sinto muito se reagi mal. Não sei o que deu em mim. Eu…


— Nathan está esperando.


— Eu não quero ir — ela confessou sem querer ir embora antes de ter certeza que ele aceitara suas desculpas.


A expressão indefinida dele segurava os nervos de Hermione como fios de uma marionete.


— Caminharei com vocês — ele disse e segurou a porta aberta para que ela o precedesse no corredor das masmorras.


— Pai?


— Os acompanharei esta noite — Severo disse simplesmente.


Eles viram Nathan atravessar pelo retrato da Mulher Gorda, e Hermione imediatamente pegou a mão dele.


— Severo?


— Aqui não — ele resmungou, olhando em volta.


— Meus aposentos, então — ela ofereceu.


Ele começou a andar, levando Hermione pela mão, fazendo-a relaxar mais a cada minuto. À porta dela, ele a esperou dar-lhes passagem, e uma vez lá dentro, Hermione não conseguiu mais segurar sua ansiedade.


— Não tive a oportunidade de lhe agradecer por me ajudar no laboratório.


A mão dele esquentou um lado de seu rosto. — Chega disso. — Os lábios dele encontraram os seus, e Hermione quase caiu de alívio. Ela se segurou no pescoço dele, pressionando seu corpo no dele.


— Obrigada. — Ela tirou os cabelos dele do rosto, acariciando-o com as mãos e os olhos. — Faça o que fez comigo no laboratório — ela pediu. — Faça-me perder a razão. — Suas mãos desceram para o pescoço e o peito, contornando os braços por dentro da casaca e chegando até as costas dele.


— Você me dá crédito demais — ele resmungou em seu ouvido, sua voz entrando em seu cérebro e o derretendo.


Ela lhe deu um sorriso bobo antes de beijá-lo novamente.


— Você quase me fez mandar a poção para o inferno para poder ficar bem assim, abraçando e beijando você o dia todo.


— Menos conversa. — Ele cobriu sua boca com a dele para demonstrar como. Ela se perdeu nele, sentindo mãos e usando-as para tocar lugares inexplorados, até que o silêncio trabalhoso se tornava um ofegante delírio.


Talvez fosse hora de recomeçar a conversa.


— Severo — ela tentou, tocando seu nariz no pescoço dele, mantendo sua boca fora de alcance. Ele tirou seus cabelos do rosto, deixando um arrepio no caminho onde o dedão passara. — Estou com cede. — Saindo do abraço dele, ela ofereceu: — Aceita um copo d'água?


— Talvez eu deva ir.


— Não! — Hermione reagiu. — Quero dizer, fique. — Ela procurou a mão dele e o puxou para o sofá. — Fique e me conte como foi sua semana. O que você fez desde a última vez que nos vimos na quarta-feira?


Ele a observou enquanto ela enchia dois copos com água. — Você quer ficar de bate-papo? Não podemos fingir que acabamos de nos conhecer.


— Por que não?


— Porque minhas memórias de você não desaparecerão espontaneamente da minha cabeça. Bom, tecnicamente eu poderia apagá-las, mas você me entendeu. Já nos conhecemos por mais que alguns dias.


— As circunstâncias são diferentes. Nós estamos diferentes.


Ele ergueu uma sobrancelha para discordar. Ela lhe ofereceu um copo d'água, que ele aceitou.


— Está tentando me dizer que não mudou nada nos últimos dez anos? — Ela se sentou ao lado dele para esperar a resposta.


— Você acredita sinceramente que não sou o homem que conheceu quando chegou a Hogwarts? — Pela expressão no rosto dele, Hermione podia dizer que ele estava totalmente sério sobre a pergunta.


— Não sou a menina que conheceu há vinte anos bem como tenho certeza que não é mais o homem que conheci quando era aquela menina.


— Meninos e menina geralmente mudam. Homens e mulheres, entretanto... Existe certo ponto na vida em que os feitos não podem ser desfeitos, e a vida seguirá como uma série de consequências. A minha foi sempre um trem desgovernado, matando e ferindo tudo que já tentou mudar seu curso.


Ela pensou sobre as palavras dele. — Você pode estar certo, mas...


— Não há nenhum mas.


— Mas — ela continuou —, sempre nos são oferecidos novos caminhos para escolhermos, e mesmo que eles não pareçam lá muito diferentes uns dos outros, ainda assim temos a escolha de mudar. Você fez isso. Eu fiz isso. Nós mudamos.


— Mesmo que eu concorde que somos pessoas diferentes, nossos passados sempre serão a base para quem somos agora. Se não tivesse sido soldado de Potter, você não teria se tornado a mulher que é hoje.


— E quem seria ela?


— Completamente maluca, inteiramente confiante demais, superzelosa com os outros, mas não consigo mesma, uma perfeccionista.


Ela sorria para ele. — Que lisonjeiro.


Ele fez uma mesura jocosa.


— E quem é você? — ela perguntou sem pensar, e só depois percebeu o quanto estava lhe pedindo.


Ele desviou o olhar.


Antes que o silêncio os congelasse, Hermione chegou mais perto e tomou as mãos dele nas suas. — Posso?


Ele não lhe deu permissão, mas também não a proibiu.


— Não posso dizer que lhe conheço tão bem quando desejo. — Ela sorriu, tentando transmitir calor a ele e a suas mãos frias. — Você está diferente do homem que conheci durante a guerra. Antes que me interrompa, quero que saiba que você ainda é tão fechado, injusto, deliberadamente cruel e brilhante como sempre, mas naquela época, você parecia de certa forma... incompleto. Eu não sei o que estava faltando, mas depois desses últimos meses malucos, eu não acho que esteja mais faltando. Talvez seja porque passamos mais tempo juntos, ou tenha sido apenas uma impressão que me deixou quando estava sob o estresse tão severo da guerra, não tenho certeza. De qualquer forma, gosto mais desta versão de você.


— Minha vez. Sou fechado, injusto, deliberadamente cruel e brilhante.


Ela riu. — E o que mais?


Ele inverteu o aperto que ela tinha de suas mãos e olhou intensamente para elas. — O Nathan me mudou — ele admitiu.


A menção ao filho deles de maneira tão importante fez seu coração expandir. — Ele também me completa. — Ela libertou uma mão para limpar a visão dos olhos dele ao colocar-lhe os cabelos atrás da orelha. — Você e o Nathan me completam. — Ela o beijou com ternura e se aconchegou a ele. Ele a aceitou num meio abraço, puxando para ele.


Ela acabou cochilando ali, tomando o calor do corpo dele como coberta e as batidas do coração dele como a canção de ninar perfeita.


— Hermione.


— Hm.


— Acorda.


Ela tentou obedecer à voz, esfregando o rosto no peito dele. Era tão bom. — Não — ela lhe disse. Se ela acordasse agora, o sonho que era ele desapareceria, e ela sentiria tanto a falta dele.


— Hermione.


Ela abriu as pesadas pálpebras e sorriu sonolenta quando ele não desapareceu. — Estou acordada.


Ele empurrou os cabelos dela para o lado e depositou beijos breves em sua boca e testa. — Vá para cama. — Ele a ajudou a se levantar. — Vejo você pela manhã.


Ela foi com ele até a porta e segurou pela mão antes que ele pudesse ir.


— Já sinto sua falta.


Ele a beijou e saiu, desaparecendo na escuridão do corredor.


~o0oOo0o~


Houve a comoção de sempre no Salão Principal quando Harry Potter entrou com a Diretora McGonagall. Nathan sorriu e acenou para seu padrinho, que acenou de volta a caminho da Mesa Principal.


— Adoro quando Harry Potter substitui para o Prof. Lupin — Kevin comentou.


— Eu também — Nathan concordou. Ele não conseguia tirar o sorriso do rosto. Em sua carta, Tia Gina lhe dissera que seu padrinho traria sua insígnia da família Prince. Finalmente chegara!


Depois das aulas da manhã, Nathan passou pela sala de aulas de Defesa Contra as Artes das Trevas, onde encontrou seu padrinho consertando alguns bonecos de duelo. Ele bateu na porta aberta. Harry ergueu os olhos.


— Nathan. — Seu padrinho sorriu, chamando-o com a mão. — Entre. Já estou quase terminando aqui. — Ele consertou outro boneco. — Onde estão seus amigos?


— Eu disse a eles que faria uma parada antes de ir almoçar e acho que eles pensaram que eu quis dizer na biblioteca.


Harry riu. — Um verdadeiro Granger.


Nathan sorriu ao que tomou como elogio.


— Vou apenas trancar o escritório e podemos encontrá-los lá embaixo.


— A Tia Gina mandou alguma coisa para mim? — Nathan estava ansioso demais para esperar.


— Sim, de fato, ela mandou. Tinha quase esquecido. Está no escritório. Já volto. — Harry voltou com uma caixinha. — Aqui está.


Nathan abriu no mesmo momento e ficou maravilhado pela beleza do trabalho. — Tia Gina é boa mesmo em Transfiguração — comentou.


— O que é? — Harry se aproximou para olhar. — Um broche? — Ele olhou intrigado para Nathan. — Você não é novo demais para ir atrás de meninas?


— Meninas? — Agora era Nathan quem estava intrigado. — Ah! Não, isso não é para uma menina! É... — Nathan quase contou ao padrinho o que a insígnia realmente era. — É para uma tarefa de História da Magia.


— Ah, entendi. E o que significa?


"Ah, I see. And what does it mean?"


— É uma tradição bruxa bem antiga. Li um livro que datava sua existência até a época de Merlin.


— Merlin? Sério? — Harry colocou um braço em torno dele e puxou Nathan para fora da sala de aula com ele. — Tudo muito fascinante, tenho certeza, mas é melhor irmos andando se quisermos chegar ao almoço antes da comida acabar.


Nathan sorriu satisfeito. Sua insígnia da família Prince era perfeita, e ele a tinha bem em tempo de usá-la para o chá com seu pai esta tarde.


~o0oOo0o~


Nathan entrou no escritório do mestre de Poções com as vestes grifinórias adornadas com um broche tradicionalmente sonserino.


— Olá, Pai.


— Boa tarde, Nathan. Estou terminando de corrigir essas redações, mas iremos para os meus aposentos em breve. Sente-se.


— Sobre o que são as redações?


— Salada, ao que parece. Nunca deixará de me maravilhar quão estupidamente criativos alguns cabeças-ocas podem ser quando instruídos a pesquisar Repolho Chinês Glutão — seu pai respondeu. — O que por Merlin é um bok choy?


— É um prato chinês, com repolho.


Snape ergueu os olhos da redação para olhar para Nathan, surpreso.


— Eu gosto de comida chinesa. — Ele deu de ombros, sorrindo.


De repente, os olhos de seu pai foram de inquisitivos para amedrontados, como se tivesse visto um fantasma. — O que é isso nas suas vestes? — perguntou ao Nathan com urgência, soltando a pena e se levantando.


— É uma insígnia da família Prince. — Nathan sorriu, feliz que seu plano de surpreender o pai estivesse funcionando tão bem. — É igual à sua. Gostou?


— Tire.


— O quê?


— Tire!


Nathan encarou o pai com incredulidade. — Por quê? Eu tenho todos os...


— Agora, Nathan!


Ele obedeceu, tirando o broche sem saber por que algo que tinha preparado como uma surpresa agradável poderia ter incitado uma reação totalmente oposta em seu pai.


— Dê para mim.


Nathan deu com a mão um pouco trêmula.


— Onde encontrou isso? Quem lhe deu?


— Eu... Foi...


— Quem? — veio a voz brava do pai, só que agora mais alta.


— Tio Harry trouxe...


O homem saiu porta afora antes que Nathan pudesse sequer começar a explicar. Ele foi atrás do homem, tentando acompanhá-lo enquanto subiam as escadarias principais.


— Pai! — chamou, tentando fazê-lo parar. — Pai!


Quando chegaram ao andar certo, Nathan disparou, correndo à frente do pai.


— Nathan! Volte para o escritório!


Nathan ignorou a ordem e continuou correndo. — Tio Harry! Tio Harry! — chamou, tentando avisar o padrinho da ira de seu pai. — Tio Harry!


Harry finalmente apareceu no corredor. — Nathan?


— Corra, Tio Harry! Para dentro! — Nathan empurrou o padrinho de volta para dentro do escritório e teve que fazer uma pausa para respirar. — Use Flú! — Respirou fundo novamente. — Ele está vindo atrás de você.


— Quem? O que está acontecendo?


— Meu pai! Corra!


— Nathan, acho que disse para voltar para o meu escritório.


— Ah, não! Tarde demais! — Nathan lamentou.


— O que significa isso, Snape?


— Pai, o Tio Harry só trouxe a insígnia dos Prince para mim. Ele não...


— Fique fora disso, Nathan — seu pai dispensou. Dirigindo-se a Harry, ele acusou: — Está tentando corromper meu filho, colocá-lo contra mim?


— Não tenho a menor ideia sobre o que está falando, mas não gosto do seu tom, Snape, nem do jeito que está falando com meu afilhado.


— Pai, por favor. Ele não tem nada...


— Que você não consiga esquecer o fiasco do Príncipe Mestiço é uma coisa, mas usar meu filho para conseguir sua vingançazinha é um tanto inesperado até mesmo para você, Potter. — A varinha de Snape foi para a mão.


A do Harry também.


Os olhos de Nathan se arregalaram. Aconteceu tudo tão depressa, ao mesmo tempo.


Seu padrinho gritou:


— Largue a varinha, Snape!


Seu pai agitou a varinha.


Incêndio.


O broche trazendo a insígnia dos Prince caiu no chão de pedra como um pedaço de madeira ardendo em chamas furiosas.


Nathan ofegou, assistindo com olhos arregalados à destruição do que trabalhara semanas para preparar, com a ajuda da Tia Gina, como surpresa para o pai.


— Não mexa com o meu filho, Potter — a voz rosnada de seu pai avisou —, ou da próxima vez será você queimando. Vamos, Nathan.


Harry se colocou na frente de Nathan, protetoramente. — Ele não vai a lugar algum com você, Snape. O que era aquilo? O que você queimou?


— A insígnia da família Prince. — Nathan encontrou a voz, seus olhos fixos onde o broche queimara até as cinzas.


Silêncio, bruto e pesado, caiu sobre eles, os dois homens suspensos pelas palavras baixinhas de Nathan.


— Não entendo... — Ele ergueu o olhar para o pai com uma lágrima cortando seu rosto. — Você o destruiu, mas eu...


— Você não é um Prince — seu pai lhe disse com veemência. — Potter usou você para me atingir, e ele vai pagar por isso. Você nunca será uma deles; você nunca será um Prince.


Com a mente voando, Nathan deu pouca atenção para as explicações do pai. — Pedi à Tia Gina para fazê-lo para mim. Era para ser uma surpresa para você, uma surpresa boa. — Nathan ainda não sabia onde seu plano havia falhado. Ele olhou para onde a insígnia queimara. — Tenho certeza que era igual a que usou na Mansão Malfoy. Era a insígnia dos Prince, tenho certeza.


— Você o levou na Mansão Malfoy? — Harry perguntou ao Snape e foi ignorado.


Nathan olhou de volta para o pai. — Você é um Prince, não posso ter me enganado sobre isso.


— O que está tentando me dizer? Que vocêmandou fazer a insígnia? Que isso foi ideia sua, e não do Potter? — Seu pai começou a andar em sua direção.


— Fique onde está, Snape! — Harry avisou.


Snape desarmou Harry sem precisar de varinha. — Cale a boca, Potter. — Parando em frente ao Nathan, ele perguntou: — Por que fez isso?


— Eu... — Outra lágrima derramou de seus olhos, mas seu pai a limpou antes que caísse por seu rosto já molhado. — Eu só queria fazer parte da sua família — Nathan confessou, percebendo o que tinha sido sua razão real por trás de querer usar a insígnia.


Seu pai balançou a cabeça. — Eles não lhe merecem. Você não é como eles, e se estiver ao meu alcance mantê-lo assim, o manterei.


Nathan não conseguiu evitar que a mágoa se mostrasse em seu rosto.


— Não, não. Isso não significa que você não seja meu filho, minha única família. Você é um Granger, e pode ser um Snape, se quiser, mas não é de jeito nenhum como os desprezíveis Prince.


Nathan balançou a cabeça, ainda sem acreditar que isso tudo possa ter dado tão errado. Ele fizera sua pesquisa; ele sequer pensara que seu pai poderia reagir tão mal a uma insígnia que ele usava, supostamente com orgulho. Nathan mordeu o lábio inferior para segurar um soluço.


— Seja útil, Potter. Arranje um pouco de chá. O menino precisa de chá.


Ele estava sendo guiado para uma poltrona por mãos fortes, e isso o irritou. — Não preciso de chá nenhum. — Nathan chacoalhou as mãos para longe de si. — Pare de me tratar como se fosse um bebê.


— Filho, eu não quis lhe assustar...


— Não estou assustado — ele retrucou.


— Claro que não — o homem concordou, a voz mais baixa. — Você está bravo.


Nathan não podia negar aquilo com a mesma veemência, então escolheu deixar o comentário passar sem resposta.


— Não posso deixar que use uma insígnia de assassinos e odiadores de trouxas. Acredite em mim quando digo que não há nenhuma glória no nome Prince, Nathan. Você não é como eles, e não quero nem que pense nisso novamente. Entendeu?


— Eles inventaram o sapo de chocolate. Eles são preparadores de poção famosos. Por que...


— Não vale a pena.


Nathan não estava convencido. — Se é tão ruim ser um Prince, por que usa a insígnia deles?


— Eu... — Seu pai hesitou, olhando para Harry. — Vamos voltar paras as masmorras para terminar esta conversa lá. — O homem o puxou pelo braço; Nathan se desvencilhou novamente.


— Quero saber, Pai.


Snape fechou os olhos. — Eu, ao contrário de você, filho, sou um deles.


— Isso não faz nenhum sentido! — Nathan argumentou, e dor voltou para seu rosto.


— Não sou um bom homem. — Ele teve intenção de pegar o braço de Nathan novamente, mas voltou a mão para o lado do corpo. — Venha comigo, por favor.


— Por que acha que não é um bom homem?


— Nathan, por favor.


— Está sempre cuidando de mim, mesmo antes de sabermos que era meu pai, mesmo quando faço algo de errado. A mãe me contou sobre como sempre a protegeu e o Tio Harry. — Percebendo onde estavam e quem estava com eles, Nathan dirigiu a pergunta ao padrinho. — Não é verdade, Tio Harry? O meu pai não protegeu todos vocês?


— Sim, protegeu — Harry respondeu olhando estranhamente para Snape.


Seu pai suspirou. — Não sei o que ouviu sobre mim todos esses anos, mas a verdade... não é agradável.


— Que verdade? Você odeia trouxas?


— Não tenho nada contra trouxas.


— Você é um assassino?


O homem apertou o nariz entre os olhos enquanto tentava formular uma resposta quando o mais improvável aconteceu...


— Não, ele não é — Harry Potter respondeu. — Ele é um dos heróis, como sua mãe e eu.


— Fique fora disso, Potter.


— Ele é um herói rabugento e cruel, mas um herói mesmo assim.


— Então ele não deveria usar a insígnia dos Prince se ela é para assassinos — Nathan concluiu com seu padrinho.


— Por Merlin! Eu sou seu pai, não ele. Ele não opina em nada disso!


— Se continuar usando a insígnia dos Prince, terei que usar uma também — Nathan explicou.


— Eu lhe proíbo!


— É como as coisas funcionam. A tradição dita que posso apenas usar a insígnia dos meus ancestrais. Você não me dá escolha senão usar a insígnia dos Prince.


— Não teste minha paciência neste assunto, Nathan. Sua impertinência não será toleradas nesta situação.


— Acredito que temos um impasse — Harry interrompeu quando Nathan tinha sua resposta pronta para entregar.


— Potter...


— Pensaremos melhor durante o chá — Harry continuou dizendo. — Vou pedir uma bandeja. Quer uns biscoitos, Nathan?


— Sim, obrigado.


— Então é perfeitamente legal quando eleoferece chá — seu pai resmungou, seguindo-os até as poltronas.


O chá foi servido, biscoitos comidos, e o silêncio era ensurdecedor.


— Ainda temos um impasse para resolver. O que sugere que façamos sobre o assunto, Nathan? — Harry inquiriu.


Nathan olhou para o pai, que olhava Harry com raiva aparente.


— Sugiro que meu pai pare de usar a insígnia dos Prince. — Então, diretamente para ele, Nathan acrescentou: — Você não é um assassino, pai, e também não odeia trouxas. Você é um herói.


— Severo?


— Potter! — seu pai descarregou. Quando Nathan achou que aquelas seriam as únicas palavras de seu pai, que ele nunca concordaria, ele soltou um irritado: — Está bem.


Nathan sorriu. — Obrigado.




A/N:Severo está tentando, está mesmo. É só que é tão difícil para ele. Coitadinho... Ao menos Hermione e Nathan o conhecem um pouco melhor e podem enxergar além das inseguranças dele. :0)


No próximo capítulo… O final do primeiro ano de Nathan, e o começo da vida familiar de Severo.



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Comentários (5)

  • Ariane Grassi

    gente não tenham muita esperança de que ela atualize a fic rapidamente eu ja tive que esperar quase um ano por um capitulo dela!

    2012-01-29
  • Daniela Regina

    Continue a escrever, por favor! Sou viciada nessa fanfic. Não sou tão fã quanto os fãs de verdade, mas adoro a saga Harry Potter, e depois que descobri certas fanfics passei a gostar ainda mais. Espero que você volte a postar, não deixe seus leitores "always" curiosos, rs. Beijos, e como já disse, adoro essa fanfic!

    2011-08-08
  • Lilian Granger

    Simplesmente fabuloso, amo o geito como escreve.Seu Severo e sua Hermione estão perfeitos, do geito que devem ser!A evolução na vida de Severo tem sido grande, e significativa, eu gosto disso.Até o Harry está coloborando, não?A cena desses três tomando chá deveria ser fotografada e dada a Mi como presente!

    2011-04-06
  • M.DTonks

    Mto bom o capítulo!! :DD Adoro essa fic!  *aguardo ansiosamente o prox. capítulo!!  rs beijos

    2011-04-03
  • Escarlet Esthier Petry

    Parabéns Capitulo Lindo outra vez como sempre.Estou louquinha pelo próximo espero que saia logo. Beijos Escarlet

    2011-04-03
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