Vício



DISCLAIMER: Não é meu! É tudo da J. K. Rowling.


BETA READER: Shey Snape – muito obrigada!


N.A.: Capítulo trinta e três! Severo se vê vivendo uma vida dupla novamente, e Nathan está prestes a ser introduzido à sociedade bruxa.




Capítulo 33: Vício


Hermione foi para casa naquela semana com muitas dúvidas e uma vontade enfraquecida. Ela soubera que não seria fácil ignorar seus sentimentos por Severo, mas tivera esperança que sua atitude antagonista e sua crueldade afiada para com ela deixassem as coisas um pouco mais fáceis. Entretanto, o homem que encontrara durante o fim de semana em Hogwarts não poderia ter sido o mesmo bruxo. Severo fora quase agradável. Ela até ousaria rotulá-lo como cordial.

Suas frágeis defesas estavam desmoronando.

Se não o confrontara no domingo, foi apenas porque Nathan estivera com eles, senão Hermione teria feito papel de boba novamente, professando seu amor por ele mais uma patética vez.

Isso não estava certo. Hermione tinha que ser mais forte se quisesse que seu coração sobrevivesse este convívio forçado até que Nathan estivesse forte suficiente para lidar com o pai sozinho.

Então ela poderia parar de encontrá-lo toda semana.

Doía só de pensar de um dia essa hora chegar.

Ao menos posso ficar com os sonhos — sua mente tentou lhe induzir a acreditar, fazendo Hermione revirar os olhos consigo mesma.

Ela não poderia manter Severo em seu subconsciente e fingir que o esquecera. Severo não poderia ser um homem se escondendo em sua mente. Hermione ficaria arrasada, e não era assim que queria terminar seus dias. Não era assim que encontraria alguém para compartilhar a vida. Nathan voltaria de Hogwarts um rapaz, e era assim que tinha que ser, e estava na hora dela se preparar para isso.

E Severo não a queria.

Mesmo ele tendo me oferecido vinho de uma maneira tão sedutora.

E com isso em mente, Hermione perdeu outra batalha. Era inútil; ela precisava de ajuda!

Érica — Hermione pensou. Ela me ajudará. Parou de andar de um lado para o outro da sala de estar para ir atrás de sua vizinha, amiga de longa data e melhor chance de um conselho confiável.


~o0oOo0o~


— Você está mesmo sugerindo que eu comece a sair com o William? — Hermione perguntou, não gostando muito da ideia.

— Ele está caidinho por você, o que deveria ser como todo homem solteiro que lhe conhece deveria se sentir — Érica enfatizou como outra forma de criticar a atitude de Severo —, e ele já é seu amigo. Você não gosta de estar com ele?

— Bom, eu gosto, mas...

— Sem mas, Hermione. Se você quer esquecer um antigo amor, precisa substituí-lo por um novo. Será divertido, você vai ver. Apenas dê uma chance ao William. — Érica balançou a cabeça para dar ênfase e segurou a resposta bem menos entusiástica de Hermione ao conselho.

— Não sei, Érica. Não parece certo envolver o William desse jeito.

— Besteira — a amiga de Hermione descartou. — Ele vai amar cada minutinho. — Érica sorriu, e pareceu para Hermione que ela realmente sabia do que estava falando.

Hermione suspirou.

— Está bem, vou pensar no assunto.

— Excelente! — Érica bateu palmas de alegria como se Hermione já estivesse convencida.

A única coisa que Hermione realmente sabia era que ela tinha que parar de amar Severo Snape. Cada manhã que acordava envolta nos laços da presença de Severo em seus sonhos a fazia querer chorar de frustração, então concordou com Érica e convidou William para jantar. Ela não se importava com o que ele achava desta decisão súbita de sua parte; Hermione só queria muito, muito seguir com sua vida.


~o0oOo0o~


— Uau — Nathan disse baixinho.

— O que foi? — Severo perguntou, de certa forma confuso com a reação do menino.

— Você ignorou completamente o meu cavalo ali. — Nathan sorriu abertamente, movendo a peça em questão para frente. — Xeque mate — disse alegremente.

Severo franziu a testa, mas depois relaxou o rosto com um suspiro. Não era como se ele estivesse vendo muita coisa depois de duas noites seguidas na companhia de Hermione nos sonhos dela. Ele derrubou o rei preto e anunciou:

— Está ficando tarde. Vou acompanhá-lo até sua Casa.

— Só porque eu ganhei? — Nathan protestou.

Severo fechou a cara. — Nós dois temos aula de manhã. — Ergueu uma sobrancelha e desafiou o menino a desafiar sua autoridade.

— Certo — Nathan concordou, perdendo um pouco de sua alegria.

Severo, então, se esforçou para mostrar um pouco de consideração. — Eu gosto de jogar xadrez com você — comentou enquanto colocava as peças na caixa.

Nathan sorriu e começou a ajudá-lo.

— Eu também gosto. Tenho que pensar muito mais do que quando jogo com o Andy ou o Kevin se quiser ganhar.

— É apenas natural. Leva tempo e prática para dominar o jogo, e eu já venho jogando há muito mais tempo que você — Severo concordou e levou o tabuleiro e peças para um armário em seu quarto.

— Que outros jogos você joga? — Nathan indagou da porta.

— Bexigas — ele respondeu distraidamente, sua cabeça agora presa ao desconforto de ter um aluno em seu cômodo mais privativo, filho ou não.

— Ouvi falar, mas nunca joguei ou vi ninguém jogando — Nathan confessou, completamente alheio ao desconforto de Severo.

— Aprendi com a minha mãe quando era criança. Na verdade, ela o preferia ao invés de xadrez — Severo revelou, conduzindo-os de volta à sala de estar.

— Então ela é bruxa? — Nathan perguntou.

Toda a situação estava fazendo Severo perceber como falaram pouco sobre a vida um do outro no tempo que passavam juntos e também como era difícil se abrir e deixar seu filho entrar. — Ela foi — ele respondeu, cuidadosamente revelando mais do que foi perguntado, testando os próprios limites.

Nathan, esperto como era, entendeu o que quis dizer.

— Ah.

Antes que o menino pudesse fazer a próxima pergunta, Severo antecipou:

— Meu pai era trouxa, e ele também já morreu há um bom tempo.

— Sinto muito — Nathan ofereceu.

Severo não se sentia o mesmo, mas não precisava dizer isso ao filho. O momento já era constrangedor o bastante, e o silêncio o deixava ainda pior. Estava na hora de encurtar a noite. — Vamos indo.

Andaram lado a lado pelos corredores de Hogwarts. Os alunos que cruzavam seus caminhos não olhavam duas vezes para eles, e pela primeira vez, Severo percebeu que os alunos não achavam nada estranho ver o Prof. Snape e o Sr. Granger andando juntos.

Curiosamente, Severo não se sentia mais muito diferente. Saber que seu relacionamento não era baseado somente nesses poucos meses turbulentos e estranhos tornava mais fácil aceitar o fato de que era o pai de um menino de doze anos. Suas almas estiveram conectadas desde o começo, e Severo podia finalmente entender os sentimento aparentemente estranhos que sentia por Nathan.

Podiam gostar um do outro, e estava tudo bem.

A reação de Nathan à experiência extracorpórea sob a influência do Anima Liberta agora estava clara e compreensível para Severo.

— Pai — seu filho chamou, o título enviando uma onda de calor ao coração de Severo —, você mora no castelo o tempo todo? — A questão tomou Severo de surpresa. — Quer dizer, para onde você vai nos feriados e nas férias, quando não há aulas?

Claro, já que Severo tinha acabado de dizer ao Nathan algo sobre seus pais, era apenas natural que sua mente quisesse saber mais. Entretanto, será que Severo gostaria de revelar mais? Poderia ele um dia levar Nathan aos horrores da Rua da Fiação?

Decidindo, ele olhou para o menino e disse: — Eu normalmente fico no castelo. — Era melhor deixar a Rua da Fiação fora da vida de Nathan por hora.

— O tempo todo? Mesmo durante as férias longas como as de verão? — Nathan insistiu.

— Geralmente, sou convidado a ficar em outros lugares por alguns dias, e as vezes aceito esses convites.

Aquilo pareceu satisfazer a curiosidade de Nathan porque as perguntas pararam, mas isso fez Severo pensar... Como seria quando Nathan estivesse de férias no verão e longe do castelo? Ficariam longe um do outro até o próximo semestre começar? Severo não gostou muito da ideia. Ele se acostumara com a presença do menino; não era apenas professor de Nathan, mas o pai do menino.

Estavam no retrato da Mulher Gorda quando Nathan falou novamente. — Você poderia vir e ficar comigo quando as aulas acabarem. Tem bastante espaço para mais uma cama no meu quarto. — Nathan sorriu.

Severo ficou pasmo com o convite de tão inesperado que fora. — Obrigado, mas não acho que daria muito certo.

— Tenho certeza que a Mãe não se importaria. Posso falar com ela para você. — Outro sorriso. — Boa noite, Pai.

Morar com Hermione… Severo balançou a cabeça para limpá-la da ideia maravilhosa, porém impossível, e começou a andar de volta aos seus aposentos. Ele a visitaria sob a influência do feitiço esta noite.

Novamente.

Severo suspirou. Ele nunca mais teria uma boa noite de sono.


~o0oOo0o~


Por mais que o cansasse, Severo continuou a visitar Hermione usando o feitiço que libertava a alma. Dissera a si mesmo que não deveria abusar, mas estava cada vez mais difícil de passar um dia sem a alegria que somente a alma dela podia trazer – algo completamente diferente de tudo que jamais sentira.

Quando ia para a cama com a intenção de dormir a noite toda, ele fechava os olhos, e a ausência daquela energia – que ele não queria chamar de amor – o fazia se sentir como se tivesse ido para a cama morrendo de fome. Especialmente quando tivera um dia estressante ou tinha passado tempo com Nathan, Severo simplesmente não conseguia se segurar e fazia uso do feitiço para ir até onde quer que ela estivesse, não importando como estaria exausto na manhã seguinte.

Não importava se eram alguns corredores ou quilômetros dali, se ela estava em Hogwarts ou Londres, Severo sempre fora capaz de encontrá-la. Ele só precisava pensar nela, e era como se ela o convocasse com aquele magnetismo maravilhoso dela. Um piscar de olhos, e o pensamento nela o guiava. Outro piscar de olhos, e ele estava com ela onde quer que ela esteja. Tão fácil... Tão irresistível…

Mais irresistível ainda era chegar até ela mais cedo e encontrá-la ainda acordada, dando-lhe alguns lampejos de seu dia-a-dia antes deles se encontrarem nos sonhos dela. Três noites atrás fora uma dessas noites, e ele a encontrara lendo, reclinada numa poltrona de aparência confortável no apartamento dela em Londres. A paz dela lhe acamou do dia atribulado, algo que Severo não conseguia se lembrar de jamais ter acontecido na presença de mais ninguém – nem mesmo Lílian. Era assustador e ao mesmo tempo prazeroso perceber como a presença dela no mesmo cômodo podia ser reconfortante. Isso, junto com o fato dela não poder lhe ver, era viciante. Ele podia observar a expressão dela sem restrição, e cada sorriso diferente, as linhas que apareciam no rosto dela quando ele menos esperava, ainda tinha ar de novidade para ele.

Na noite seguinte, ele chegou ao apartamento de Hermione e sentira um momento de desorientação, provavelmente em função do assalto repentino de música inesperada a alguns sentidos que ele não sabia que eram tão perceptivos. Severo olhara em volta e a encontrara na cozinha, cozinhando ao ritmo do som agradável. Ela se movia com graça, teve que notar; uma graça diferente daquela que ele percebia nela enquanto trabalhava com poções. Ela acompanhou e cantou junto baixinho, ajudando-o a lembrar de sua voz quente sussurrando ao pé do ouvido na noite anterior. Ele estava se acostumando com a voz dela, agora que vinha com um número de palavras adoráveis que revolviam coisas no fundo de sua alma.

E esta noite ela viera até ele, e ela também não viera sozinha. Severo a vira no Salão Principal mais cedo, e observá-la, sabendo que ela estava alheia às noites que passaram juntos, fora mais desconfortável do que previra. O fez se perguntar se ela podia se lembrar dos sonhos, e se esse fosse o caso, o que ela estivera pensando quando olhara para ele com aqueles olhos brilhantes e aquela expressão pensativa antes de cumprimentá-lo durante o jantar.

Nathan, por outro lado, estava apenas sorrindo para ele, doce e inocentemente, e o fato desta ser a primeira vez que ele vira a alma do menino desde aquela primeira experiência com Hermione nos aposentos dela o fez se sentir um pouco culpado. Sua alma deveria ter visitado mais a do filho.

— Sabia! — Nathan exclamou. —Você está usando o feitiço! — Ele parecia feliz ao invés de irritado com a descoberta, como Severo achou que ele ficaria.

— Pensei que poderíamos passar algum tempo juntos, mas esperava que fosse sonhar esta noite. — A costumeira reprova de Hermione ao seu uso constante do Anima Liberta nunca escava sua percepção, mas era sempre rapidamente descartada.

— Precisava lhe ver — Severo confessou. Era tão fácil ser honesto com ela neste estado, quando ele sabia que ela não se lembraria amanhã.

— Estou a apenas alguns andares daqui, como tenho certeza que sabe. Entretanto, ideia de realmente me visitar nunca lhe ocorreu, não é? — ela perguntou com forte censura.

Esta versão extremamente irritada de Hermione era nova para ele, e Severo foi atingido pela força surpreendente da vergonha que ele sentiu por sua covardia. Quando a viu no Salão Principal, ela sorrira, e sua primeira resposta impulsiva fora ir até ela e beijá-la insensatamente. Claro, ele logo percebeu que estava no meio de um salão cheio de crianças e adultos interessados demais nas vidas dos outros, e pior, estavam todos muito bem acordados.

— Por que está brava com o Pai, Mãe? — Nathan a censurou e veio abraçar Severo como que para mostrar como ela deveria tratá-lo.

Severo sorriu para o menino, envolvendo-o num abraço de um braço só por um curto momento, e depois olhou de volta para Hermione. — Ela não está brava comigo, Nathan. Está, Hermione?

Ainda olhando feio, ela foi até onde eles estavam e deu um selinho no rosto de Severo. — Claro que estou — ela lhe disse, contrariando totalmente sua atitude.

O comportamento antagônico dela o deixava tanto apreensivo quanto divertido. Se ela estivesse realmente brava, ele teria sentido, certo? Se ele não podia sentir sua raiva, então talvez suas palavras não fossem realmente sinceras. Ele sorriu com malícia. Ela estreitou os olhos para ele. Seu sorriso malicioso se transformou num sorriso genuíno.

— Temos um encontro amanhã, de qualquer forma — Severo tentou apaziguá-la. Depois tentando uma distração, ele dirigiu sua pergunta ao Nathan: — Quais eram seus planos para a noite?

— Já que não está sonhando... —
Nathan se virou para a mãe para perguntar: — Ainda estamos seguindo o planejado, certo?

— Sim, claro —
ela respondeu, ainda bem vexada, ele percebeu. — É sexta-feira, temos neve e vamos para os jardins; não estrague isso — Hermione disse a Severo com gravidade e saiu sem esperar por eles.

Bem, talvez ela estivesse um pouco brava afinal.

— Ela não gosta de surpresas, só isso — Nathan lhe disse, mantendo aquele sorrisinho feliz no lugar. — Vamos. Você não vai gostar se ela tiver que voltar para nos buscar.

A neve que cobria os jardins de Hogwarts brilhava no luar – radiante, até, como se tivesse luz própria. Severo andou lado a lado com Hermione, envolto demais em pensamentos amargos para apreciar a claridade sobrenatural. Como Hermione, ele não gostava de surpresas, e sair para dar uma volta nos jardins do castelo não era o que ele planejara para esta noite. Também fora de sua lista estava passar o tempo com uma Hermione emburrada.

— Você ainda está chateada — ele decidiu comentar, tamanho era seu nível de irritação com o comportamento dela.

— Bem, isso é óbvio. Você é uma fonte constante de frustração. — Ela olhava para tudo menos para ele, e era frustrante, até ela acrescentar, em voz mais baixa que o normal: — Estou preocupada.

Severo franziu o cenho. Ela começava a lhe preocupar também, mas provavelmente por motivos completamente diferentes. — Preocupada com o quê? — perguntou tentativamente, evitando a palavra “quem” a todo custo, mas tentando muito não deixar transparecer.

Hermione não respondeu, e eles ficaram um ao lado do outro em silêncio. Severo percebeu que Nathan estava à frente deles, mas que havia parado também – só que ele estava ocupado com a neve. Quando Severo estava prestes a tomar vantagem da distância do menino para pressioná-la por uma resposta, a voz dela o alcançou, apertada.

— Estou muito preocupada com você. — Ela, então, se voltou para ele, e o que o atingiu no peito foram ondas de algo familiar, mas bem no fundo de sentimentos mais cortantes. O fato dela ter lhe dito que o que ela sentia era preocupação foi o que conteve os tremores de nervoso. — Pensei que você se importasse com nosso futuro — ela acrescentou.

— Vocês deveriam estar construindo seus fortes! — Nathan gritou de onde estava, agora atrás de uma pilha de neve. Chamou a atenção dos pais em tempo de ambos o verem pegar um punhado de neve do chão. — Prontos ou não! — Uma bola de neve passou raspando pelo ombro de Hermione.

— Ei! — Ela partiu rapidamente para pegar um pouco de neve para jogar de volta em Nathan, e pegando um Severo já boquiaberto completamente desprevenido, colocou-o entre ela e Nathan. Uma bola de neve passou perto de sua perna esquerda, e a seguinte o atingiu no meio do peito.

Isso era guerra. Severo correu para se proteger.


~o0oOo0o~


Arfando, preso no chão coberto de neve com força surpreendente por Nathan, Severo concedeu a derrota. — Estou velho demais para isso.

Hermione riu, ela mesma se levantando do chão. — Sai de cima de seu pobre e velho pai — disse ao filho deles. Ela ofereceu uma mão para ajudar Severo a se levantar quando Nathan saiu de cima dele. Ele tomou-lhe a mão, mas ao invés de deixar o chão, Severo a puxou para ele.

Cara a cara com ela, Severo segurou Hermione firme pela cintura. — Talvez não tão velho — ele destacou antes de beijá-la os lábios pela primeira vez naquela noite – muito bom.

— Dá para parar com isso? — Nathan pediu. — É nojento e embaraçoso.

Hermione encerrou o beijo e sorriu adoravelmente para Severo daquele jeito que ele só podia responder sorrindo de volta. Ela o socou de leve no peito. — Seu sonserino — disse antes de rolar para o seu lado.

Severo estendeu uma mão para Nathan. — Nos ajude a levantar — disse ao menino.

Nathan olhou desconfiado para a mão estendida. — Você vai me puxar para o chão, não vai?

— Está negando uma mão a seu velho pai? — Severo indagou em sua melhor voz de intimidação.

Nathan hesitou apenas mais um segundo, mas caiu na dele. Assim que suas mãos se tocaram, Severo puxou Nathan, gritando protestos de injustiça, para a neve entre ele e Hermione.

Severo não conseguia se lembrar da última vez que rira tanto e de pura felicidade – que parecia permanente. Como poderia estar deitado ali na neve com seu filho e sua mulher depois de tamanha demonstração de bobagem inconsequente ser tão satisfatório? Talvez ele soubesse menos ainda sobre a felicidade do que suspeitara originalmente.

Não muito depois, já de volta ao calor de seus aposentos, a natureza alegre e falante de Hermione deixara o exterior de sua alma. Com Nathan de volta ao próprio dormitório, Severo a segurava no sofá ao lado dele em silêncio contemplativo.

— Você ainda está preocupada — Severo destacou. — Mesmo depois do que compartilhamos esta noite, você ainda teme que nosso futuro esteja em perigo.

— Que futuro? —
ela respondeu retoricamente.

— Ora, Hermione? Pensei que tivesse provado que minhas intenções...

— Você não pode ter os dois, Severo —
ela lhe disse. — Não pode viver em ambas as realidades para sempre. Está se torturando ao sonhar acordado, tentando estar presente para sua família, mas nos deixando no momento em que acorda. Não está vendo?

Ele sabia que ela estava certa sobre a tortura de acordar todos os dias sem eles, mas ela estava completamente equivocada se achava que ele não podia ignorar a dor para ter o tinha com eles em sonho. Severo nunca trocaria a certeza do que tinha em sonho pela possibilidade de perder tudo.

— Quero você na minha vida, Severo, não apenas nos meus sonhos. Venha até mim quanto estivermos ambos acordados. Venha de manhã, passe o dia comigo. Dê-me uma chance de me lembrar de você como realmente é. Deixe-me saber o que sente por mim, ao invés de me deixar para adivinhar apenas com base na intuição — ela implorou, e ele podia sentir o desespero dela muito bem.

O que Severo podia fazer era puxá-la contra o peito e abraçá-la forte.

O que Severo não podia fazer era ir atrás dela quando estava acordada.


~o0oOo0o~


— Estava pensando que poderíamos passar uma noite diferente e jantarmos nos meus aposentos esta noite — Hermione disse.

Ela esperava que Severo não percebesse a razão real de seu pedido; ela nunca poderia lhe dizer que era mais suscetível a seus charmes nos aposentos dele, podia? O jeito como ele vinha olhando para ela ultimamente era suficiente para transformar sua determinação em nada mais que uma vontade preguiçosa. Não, ela não achava que podia correr o risco.

— Seus aposentos? — ele questionou.

Quando a esperada indignação não se seguiu, Hermione se sentiu obrigada a responder educadamente: — Sim, só para mudar, ver como o Nathan reage a uma nova dinâmica. — Nathan, nunca ela mesma.

— Não tenho objeções — ele concordou sem mais delongas. — Mesmo horário?

Hermione se sentiu repentinamente insegura. — Sim, claro — confirmou. Sem saber mais o que fazer na presença dele, se virou para ir embora, olhando por cima do ombro apenas por um momento rápido antes de fechar a porta do escritório dele.


~o0oOo0o~


— Por que vamos ficar aqui esta noite? — Nathan questionou após se sentar no sofá para esperar pelo pai.

— Achei que seria bom oferecer os jantares de vez em quando. Educado, até, não acha?

— Se você está dizendo...

— Você sabe que é. Eduquei-lhe melhor que isso, rapaz, então pode desamarrar a tromba. Eu me lembro muito bem de quem teve que ser arrastado para as masmorras para esses jantares a apenas meses atrás, e não fui eu.

— Está bem, mas isso foi antes. Agora nós jogamos xadrez, e você não tem um tabuleiro de xadrez.

— Não, não tenho, mas estou certa que encontraremos algo mais que entreter sua pobre alma entediada.

— Essa mudança tem alguma coisa a ver com você ser péssima em xadrez?

— Não seja bobo — Hermione descartou, ainda mais concentrada no papel que escrevia do que em qualquer outra coisa. Ela apenas notou que algum tempo havia se passado em silêncio quando Nathan falou novamente.

— Sabe, você é igualzinha a ele as vezes — ele comentou.

Com o interesse aguçado, ela deixou o papel de lado e virou a atenção para o Nathan. — O que você disse?

— Eu disse que você é igualzinha ao meu pai as vezes — ele repetiu, confirmando o que ela pensou ter ouvido, e acrescentou: — Ele também estuda e trabalha o tempo todo, até quando está falando com outras pessoas.

— Desculpa — ela pede, sentindo-se penitenciada. Ela deixou seus papéis na mesa e se juntou ao filho no sofá. — Eu não tive intenção de dividir minha atenção. — Ela sorriu cheia de desculpas. — Agora, sou toda sua.

— Está tudo bem.

— Não está não. — Hermione tirou-lhe a franja dos olhos. — Você precisa cortar os cabelos — observou.

Ele se esticou para longe. — Quero deixar crescer.

— Não me diga que quer ter o cabelo do seu pai? — Ela franziu a testa.

Nathan deu de ombros.

Ela segurou um suspiro e alcançou-lhe o cabelo novamente. — Você é bonito do jeito que está. Não há necessidade de mudança alguma.

Ele se afastou novamente. — Então deixe o meu cabelo em paz.

Hermione sabia que era um caso perdido. — Só se você deixar eu lhe dar um beijo estalado na bochecha. — Ela o puxou pela mão.

— Mãe, eu não quero um beijo, muito menos um estalado.

— Mas eu quero. Vem cá. — Ela puxou, conseguindo colocar os braços em volta dele num abraço. Nathan resistiu sem muito vigor, desistindo logo e deixando-a fazer o barulho que quisesse com sua bochecha. Ela riu quando percebeu que ele estava corado.


~o0oOo0o~


Severo ouviu o barulho vindo dos aposentos da Hermione quando se aproximou. Reconhecendo a risada dela, ele parou diante da porta para deixar suas memórias o encherem com suas ondas de alegria. O sentimento foi aguçado quando também pôde ouvir o filho rindo. Severo sentiu quase um puxão em sua alma para entrar e se juntar a eles; ele bateu à porta.

Nathan veio atender, corado e sorrindo abertamente. — Oi, Pai!

Hermione estava sentada confortavelmente no sofá, mas se levantou prontamente para cumprimentá-lo, os ombros mais tensos. — Boa noite.

— Boa noite.

Para onde foi a mulher que ria? Ela não agia como se estivesse relaxada em sua presença, como geralmente fazia quando estava dormindo, e isso fez Severo querer tomá-la em seus braços e tranquiliza-la. Os olhos suplicantes da noite anterior, quando ela pedira que ele viesse até ela quando estivesse acordada, o assombravam, e ele se sentia estranho ao negar-lhe conforto agora.

— Eu sonhei com você ontem — Nathan lhe disse, ainda sorrindo, e interrompeu a descida de Severo às trevas de sua alma.

— Tendo pesadelos? — Severo perguntou ao menino, endurecido, tardiamente consciente dos olhos e ouvidos de Hermione na conversa.

Nathan revirou os olhos. — Claro que não. Estávamos numa guerra de bolas de neve nos jardins. — Lá estava novamente, aquele sorriso tão carregado de felicidade.

Severo olhou de soslaio para Hermione em tempo de registrar sua confusão. Será que ela conseguia se lembrar também? Se conseguia, ela não tocou no assunto.

— Não acho que poderíamos realmente ir lá fora agora, poderíamos? — Nathan perguntou.

— Está escuro demais lá fora — Severo respondeu.

Hermione, em pé com as mãos nos ombros de Nathan, o olhava com estranheza. Severo trouxe de volta as próprias palavras para examinar, mas não encontrou nada de errado com elas. Tentou colocar o desconforto de lado como paranóia, mas ele simplesmente não o deixava.

Embora estivesse mais reservado com as palavras daquele ponto em diante, se juntando às conversas subsequentes com cuidado, Severo parecia ter pouco controle sobre seus olhos traidores. Eles procuravam Hermione sempre que ela fazia algo que o lembrava de suas noites juntos.

— Mais vinho, Severo? — ela ofereceu algum tempo depois.

— Não, obrigado.

Maldito vinho — pensou enquanto largava a taça vazia.

A noite progrediu sem surpresas no ponto de vista de Severo, mas isso não tirava a sensação latente de que alguma coisa tinha dado terrivelmente errado ao longo da noite. Quando ele a desejou uma boa noite e acompanhou Nathan até a Torre da Grifinória, Severo teve uma dica do porquê.

— Obrigado por ser tão legal com minha mãe hoje — seu filho disse.

Sem querer piorar ainda mais as coisas, Severo apenas assentiu com a cabeça.

— É bom ver vocês se dando bem.

— Boa noite, Nathan — Severo disse, querendo encerrar o assunto.

— Boa noite, Pai.

Severo andou até as masmorras, certo de que bancou o completo idiota naquela noite.


~o0oOo0o~


— Granger.

Nathan se virou para a voz e viu que Malfoy vinha a seu encontro. Andy e Kevin também pararam para esperá-lo. Nathan franziu a testa. Malfoy parecia determinado e formal quando parou em frente aos grifinórios e estendeu uma mão que segurava um envelope.

— O que é isso? — Nathan perguntou com suspeita.

— Um convite, o que mais seria? — Malfoy respondeu irritadiço.

Nathan não fizera menção de pegá-lo. — Um convite para o quê?

— Disse ao Pai que você não era civilizado — Malfoy lhe disse com desdém. — Você vai me fazer segurá-lo para sempre?

Nathan finalmente pegou o envelope oferecido. — Um convite para o quê? — insistiu.

— Minha festa de aniversário. Espero que esteja ocupado na data e não possa ir. — Malfoy deu as costas para o grupo de grifinórios confusos e andou rapidamente na direção oposta, desaparecendo numa curva corredor abaixo.

— O quê? — Kevin finalmente reagiu.

— Malfoy convidou o Nathan para a festa de aniversário dele — Andy respondeu e ganhou olhares dos dois amigos.

— Nós sabemos disso — Kevin dispensou. — O que nós não sabemos é por quê.

Andy deu de ombros. Nathan decidiu abrir o envelope, os amigos olhando curiosamente por cima de seus ombros.

— É a festa de aniversário de doze anos dele, no próximo domingo... — Nathan leu para eles.

— Na Mansão Malfoy — Kevin acrescentou com desgosto palpável.

— É — Andy concordou.

— Ele obviamente não quer que eu vá, então por que se dar ao trabalho de me convidar para começo de conversa? — Nathan se perguntou enquanto recolocava o pergaminho no envelope e o guardava na mochila.

Andy deu de ombros.

— Talvez ele tenha sido obrigado. Você sabe, seu pai é o Diretor da Sonserina — Kevin disse, também dando de ombros. — Você vai?

Eles desceram o corredor, entraram na sala de aula de Transfiguração, e Nathan ainda não tinha a menor ideia. — Vocês acham que eu devo ir?

— Eu não iria! — Kevin foi rápido em expressar sua opinião.

— Eu não fui convidado, mas não acho que iria mesmo assim. É o Malfoy, você sabe — Andy concordou.

— Hmm. — Nathan estava intrigado demais pelo convite para descartá-lo assim tão rápido. Prof. Lancey chegou e começou a aula, forçando Nathan a esquecer Malfoy e seu convite por hora.


~o0oOo0o~


Quarta-feira, quando o Nathan estava tomando chá e jogando xadrez com o pai, ele ainda estava para decidir o que fazer sobre o convite do Malfoy. No dia anterior, ele tinha finalmente conseguido encontrar uma explicação plausível para o por que dele ter sido convidado: ele era filho do Snape e o Snape era o padrinho do Malfoy. Agora, tudo que ele tinha que fazer era descobrir se seu pai queria que ele fosse à festa estúpida.

— Pai — Nathan chamou.

— Sim.

— Fui convidado para a festa de aniversário do Malfoy. Devo ir? — Pronto, ele perguntara.

Seu pai, então, ergueu os olhos do tabuleiro. Ele franziu a testa para o Nathan. — Um convite, você disse?

— Sim. Malfoy empurrou para mim antes de Transfiguração na segunda-feira.

Seu pai revirou os olhos antes de mover um peão e dizer:

— Foi provavelmente ideia do Draco. Essa festa é aqui em Hogwarts?

— Não — Nathan respondeu. — É na Mansão Malfoy. È mesmo uma mansão?

— Foi o que pensei, e sim, é mesmo uma mansão — seu pai respondeu.

Nathan moveu uma torre enquanto esperava seu pai dizer mais alguma coisa. Quando não disse, Nathan perguntou novamente:

— Então... Devo ir?

— Você quer ir? — seu pai devolveu a pergunta.

— Não sei. Não tenho ideia do que é esperado de mim — Nathan admitiu.

— Esperado? — seu pai perguntou, olhando intensamente para ele.

— Bem... — Nathan começou. Como poderia explicar seu dilema sem parecer ignorante? — Você é o padrinho dele, e eu sou seu filho agora, então... não se espera que eu vá?

A expressão de seu pai não mudou nem um pouco por todo o tempo que se entreolharam, Nathan esperando por uma resposta.

Depois de um tempo, seu pai finalmente respondeu, mais ou menos:

— Os Malfoy estão esperando que você aceite o convite, mas eu não tenho nenhuma expectativa.

Nathan teve vontade de rugir. Aquilo não lhe ajudava nem um pouco! Decidiu mudar a pergunta. — Você vai?

— Provavelmente esperam que eu vá — o homem respondeu sem tirar os olhos do tabuleiro.

— Isso é um sim? — Nathan perguntou, perdendo a paciência com as respostas evasivas.

Seu pai manteve a cabeça baixa, mas ergueu os olhos para olhar para ele, mantendo Nathan esperando até que Nathan ergueu uma sobrancelha.

O homem suspirou. — Você pode ir comigo.

Nathan revirou os olhos. — Está bem.

Ele fez movimentos estúpidos para terminar logo o jogo depois daquilo. Nathan não sabia que tipo de resposta estivera esperando, mas sabia que a que recebera não era ela. Talvez ele devesse ter recusado de cara o convite estúpido.


~o0oOo0o~


— Onde pensa que vai vestido desse jeito?

Oi para você também, Pai — Nathan pensou. — Achei que estivéssemos indo na festa do Malfoy.

— Você está em trajes trouxas.

— É um terno. Vovó sempre diz que eu fico distinto nele — ele ofereceu como explicação, sabendo muito bem que sua escolha de qual traje trouxa vestir não era o problema, mas sim o fato do que o que vestia era trouxa para começo de conversa. — Pensei que a festa fosse formal, já que o Malfoy é um pomposo...

— Você vai preferir tomar cuidado com o que fala — seu pai lhe interrompeu, o tom de voz perigoso, e depois voltando ao ponto... — Você não pode comparecer a um evento na Mansão Malfoy vestindo um traje trouxa, independente de quão formal ele seja.

Estraga prazeres — Nathan pensou. Sua intenção de chocar a sociedade formal bruxa foi destruída por seu próprio pai tradicionalista.

— Onde estão suas vestes de gala? — o homem perguntou. — Não diga que não tem nenhuma porque eu sei muito bem o que estava na lista que você recebeu com sua carta de Hogwarts.

— Você vai me fazer voltar lá para cima só para trocar de roupa?

Seu pai simplesmente cruzou os braços sobre o peito e olhou feio. Nathan suspirou. Quando se virou para deixar os aposentos do homem, seu pai lhe disse:

— Encontro você no Saguão de Entrada em quinze minutos e nem um minuto a mais, ou ficará para trás.


~o0oOo0o~


Vinte minutos depois, o monitor da Grifinória entrou no dormitório dos alunos do primeiro ano.

— Prof. Snape está em frente a Mulher Gorda, e ele não parece muito feliz. Ele diz que é para você encontrá-lo lá neste minuto, Sr. Granger.

— Droga — Nathan praguejou.

— Você disse que ele tinha ido sem você! — Andy comentou, horrorizado.

— Ele disse que iria se eu não aparecesse em quinze minutos. — Nathan deu de ombros.

— Você está morto — foram as últimas palavras do monitor antes de sair.

— Tenho que concordar com o Thomas — Kevin disse.

Nathan suspirou, tirou as vestes de gala amassadas do malão e as vestiu sem cuidados. Quando atravessou a sala comunal, cabeças se viraram para assistir. Nathan achou fácil ignorá-los em face à apreensão interna crescente enquanto sua mente se preocupava com qual parte da personalidade de Snape o encontraria lá fora.

— Ande — o homem disse ao vê-lo. Suas próximas palavras só vieram quando já estavam atravessando os jardins. — Teremos uma conversa sobre pontualidade quando voltarmos.

Nathan não tinha nada para falar em resposta, e quando aparataram para a tão falada Mansão Malfoy, ele perdeu as últimas palavras que ainda tinha. Seu pai se virou para ele, aumentando ainda mais seu nervosismo. Parte era por causa do olhar crítico do homem, mas o resto era porque a visão do prédio à frente era admitidamente intimidadora. A casa do Tio Harry era grande – a maior que Nathan já vira – mas esta casa não era apenas enorme, mas também muito imponente. O olhar de Nathan se focou no de seu pai quando o homem ajeitou a gola de suas vestes e tocou a varinha em seus ombros, desamassando o tecido cinza chumbo sob o casaco de inverno, o tempo todo resmungando e franzindo a testa.

— Preste atenção — o homem disse numa voz clara. — Sua presença atrairá alguma atenção para nós, e nem toda atenção será agradável. — Nathan engoliu em seco numa reação nervosa à seriedade do pai. — Você é um grifinório... — A preocupação de Nathan se abateu um pouco com aquela observação, tomada como um encorajamento até... — Tente evitar agir sem pensar e tornar as coisas ainda piores ao se meter em confusão. — Uma sobrancelha erguida completou aviso.

Além dos pés para os quais olhava com intensidade, as pedras limpas aguçaram a curiosidade de Nathan. A neve parecia não cair naquelas pedras onde estavam parados, as que levavam até um portão alto e adornado. Nathan ouviu o pai suspirar e se sentiu ainda mais deslocado.

— Vamos acabar logo com isso — o homem disse e se dirigiu aos portões. Nathan seguiu.

A casa parecia vazia quando entraram. Será que vieram ao lugar certo? Um elfo doméstico apareceu, e o som ecoou pelas paredes de mármore. — Professor Severo, senhor. — A pequena criatura fez uma mesura e depois olhou Nathan com olhos grandes que não faziam o menino se sentir nenhum pouco menos desconfortável. O pequeno elfo se ofereceu para levar os casacos, e só então Nathan notou a diferença nas roupas do pai. Ainda eram vestes pretas, mas havia um toque glamoroso ao tecido deste, e alguma coisa brilhou na lapela – algum tipo de broche. Nathan nunca vira o pai usando nenhum tipo de joia antes.

— Severo! Que prazer!

O cumprimento escandaloso quase fez Nathan pular. Ele não podia ver os pés escondidos sob as camadas do vestido volumoso e verde da mulher.

— E vejo que trouxe companhia! Que maravilha! — O sorriso dela não chegava aos olhos. Nathan olhou diretamente neles.

— Sra. Malfoy. — Nathan observou o pai tomar a mão da mulher pelos dedos e encostar os lábios neles. Nathan evitou franzir a testa. — Nathan, meu filho.

— Encantada. — Outro sorriso falso que ficou sem resposta.

— Acredito que encontrarei meu afilhado no salão?

— De fato, encontrará. Ele ficará encantado em vê-lo, Severo. — Depois, baixando o olhar para Nathan, ela acrescentou: — E a você também, é claro.

Quantos sorrisos falsos ele receberia naquele dia, Nathan se perguntou enquanto seguia os adultos.

O som de música e conversa finalmente alcançou os ouvidos de Nathan, traindo que estava realmente acontecendo uma festa no interior da mansão. As pessoas ali reunidas se viraram para observá-los entrar, e como seu pai avisara, a presença deles resultou em curiosidade e conversa paralela. Nathan decidiu não se sentir desconfortável. O pai de Malfoy se aproximou deles.

— Severo — o loiro cumprimentou com um sorriso e um aperto de mãos respeitoso. — Estava começando a achar que teria que mandar um elfo doméstico atrás de você. — Depois, virando para o Nathan... — Estou feliz que tenha aceitado o convite do meu filho, Sr. Snape.

Nathan aceitou a mão estendida, mas corrigiu:

— É Granger, senhor.

Snape intercedeu rapidamente, antes que o incômodo nos olhos do outro homem passasse a palavras incômodas. — Devemos encontrar Devon e entregar nossas felicitações. Se nos dá licença...

Quando estavam fora do alcance de ouvidos alheios, Snape parou Nathan pelo ombro. — Ninguém aqui se dirigirá a você como Granger. Não os corrija.

— Mas... — Nathan começou, mas antes que pudesse terminar, o aniversariante os encontrou.

— Tio Severo! — O sorriso do menino desapareceu quando ele viu quem estava com seu amado padrinho. — Granger.

Nathan quase riu, olhando astutamente para seu pai ao modo como Malfoy se dirigiu a ele. Quando voltou a atenção de volta para Malfoy, o menino o parecia ter chupado limão podre, pela cara que fazia.

— Surpresa! — Nathan caçoou, tentando muito manter a cara séria.

Parecendo alheio à animosidade óbvia entre os meninos, Snape tirou um pacote do bolso e entregou para o Devon, dizendo:

— Nathan e eu queremos que aceite este presente em comemoração ao seu aniversário.

Nathan franziu a testa ao modo como seu pai o incluíra num presente que ele nem sabia que existia, mas observou o desenrolar de tudo em silêncio para variar.

— Obrigado, Tio Severo.

Nathan percebeu os olhos de seu pai nele e forçou um “Feliz aniversário” para fora.

Malfoy ignorou Nathan; ele estava ocupado demais abrindo o pacote e tirando a tampa da caixa que havia dentro. Nathan fez uma grande demonstração de desinteresse no que a caixa continha, mas isso se tornou uma tarefa surpreendentemente difícil quando o sonserino abriu um sorriso com afeição genuína para o pai de Nathan.

— Devo presumir que está satisfeito com o presente? — Snape perguntou a Malfoy.

— Saberei com certeza quando descobrir o que é — o menino respondeu sem perder o sorriso fácil.

— Acredito que será mais rápido agora que está em Hogwarts — Snape disse a Malfoy, intrigando Nathan ainda mais.

Nathan olhou do pai para Malfoy e de volta para o pai, mas eles não pareciam notá-lo ali. — O que tem na caixa? — Nathan finalmente perguntou.

Como se lembrasse da presença de Nathan ali apenas naquele momento, seu pai baixou o olhar até ele e disse:

— Talvez pudessem descobrir juntos. Deixarei vocês meninos com isso.

— Mas... — Malfoy tentou protestar, mas Snape se virou e andou para onde o pai de Malfoy estava entre outros bruxos de aparência importante.

Nathan ficou repentinamente consciente de que fora deixado à própria sorte com Malfoy. — O que tem na caixa? — perguntou novamente.

— Não é da sua conta.

— Não foi o que meu pai acabou de subentender.

Malfoy olhou feio para ele, mas Nathan se recusou a sumir. — Meu padrinho sempre me dá alguma coisa relacionada a Poções que eu nunca vi antes, um ingrediente na maioria das vezes.

Nathan franziu a testa.

— Como eu disse, não é da sua conta. — Malfoy se virou para sair, mas algo o fez parar no meio do caminho e voltar para onde Nathan ficara. — Você precisa me seguir até o outro salão.

— Por quê?

— Porque precisa. — Malfoy arrancou novamente, e desta vez Nathan seguiu.

— Por que não posso ficar neste salão? — Nathan insistiu, intimamente receoso de ter que deixar a presença do pai.

— Porque não pode! — Malfoy estourou. — Por que apareceu na minha festa, afinal?

— Meu pai me obrigou a vir. Estaria me divertindo dez vezes mais se estivesse ficado para terminar a redação de História da Magia, tenho certeza.

— Que seja, Granger. Apenas tente ficar fora do meu caminho e não arruinar o meu aniversário. — Malfoy passou por ele, propositalmente dando um tranco em seu ombro a caminho de uma roda de meninos. Nathan reconheceu três corvinais, um lufa-lufa e... um covil de sonserinos.

Nathan suspirou. Por que tinha que aparecer nesta maldita festa, de fato!


~o0oOo0o~


Severo interagiu com novos e velhos amigos dos Malfoy com atenção mínima. Ele tinha anos de prática e sabia muito bem como se misturar sem realmente se misturar. Ele estava num círculo de conversa inútil, sua mente no que acontecia no salão adjacente. De tempos em tempos, Severo tiraria um frasco redondo e chato do bolso e espiaria a cor de seu conteúdo. Ele estava fazendo aquilo de novo exatamente quando ouviu a voz de Draco.

— Aconteceu alguma coisa?

— Draco — disse, escondendo o frasco e trabalhando num disfarce para sua surpresa ao ser pego desprevenido. — Quase não se vê o tempo passar em reuniões tão agradáveis. — Talvez Draco comprasse a ideia de que ele estivera simplesmente consultando um relógio de bolso.

— O que era aquilo no seu bolso?

Sem essa sorte, pelo visto. — Um frasco de poção — Severo respondeu, revelando apenas uma face da verdade como fizera tão bem por tantos anos.

Draco franziu um pouco a testa. — Está se sentindo bem?

Severo suspirou. — Estou bem — garantiu. Não fora sua intenção preocupar o anfitrião.

— Você foi mais evasivo que o normal esta noite. Foi como se não estivesse nem aqui, como se estivesse com a cabeça em outro lugar. Tem certeza que está tudo bem?

Bem perceptivo — Severo pensou. — Estou bem.

Draco balançou a cabeça, mas não insistiu, mudando o assunto da conversa para algo que Severo podia dar parte da atenção, ao invés de toda. A poção em seu bolso mostrava que Nathan não estava a ponto de bater ou azarar ninguém, mas também não deixava Severo despreocupado. Havia passado de cores neutras para cores mais sombrias com o passar da tarde, fazendo Severo se perguntar o que estava deixando seu menino triste no outro salão.

Ele havia de certa forma esperado cores mais vibrantes, que teriam significado a raiva do filho, desta forma mostrando a Severo que teria que intervir para evitar uma cena. Os tons tristes que estivera vendo por mais de uma hora ao invés disso estavam deixando Severo ainda mais alerta. Era inesperado e preocupante.

Outros se juntaram ao círculo de conversa, e Severo ainda estava por acrescentar mais que resmungos a ela. Entretanto, ele não estava tão distraído a ponto de não notar quando a conversa parou por completo. Severo se virou para a fonte da curiosidade dos outros.

Nathan se aproximou e travou os olhos negros, maiores do que Severo se lembrava, com os dele. — Prof. Snape — seu filho chamou, os olhos nunca deixando os seus como se esperasse que aqueles que os ouviam atentamente a conversa fossem invisíveis. — Estava pensando em quanto tempo mais vamos ficar, professor.

— Você deve ser o jovem Sr. Snape.

Nathan pareceu vulnerável quando foi forçado a virar o olhar para a Sra. Ollerton. Severo esperava que ele respondesse como fizera a Draco, mas o que Nathan disse foi muito mais preocupante.

— Acho que sim, senhora.

— Você tem os olhos do seu pai — a Sra. Ollerton comentou.

— Graças a Merlin o menino não herdou o nariz dos Prince — o Sr. Ollerton acrescentou, talvez mais alto do que queria.

A Sra. Ollerton riu da piada de mau gosto do marido, mas mais ninguém em volta se juntou a ela, preferindo uma neutralidade cuidadosa no que se referia a Severo. Ele ainda era conhecido por sobreviver ao Lorde das Trevas, e todos sabiam que não fora por acaso.

Porém, a atenção de Severo estava em Nathan. O menino olhava timidamente para ele, implorando com os olhos para ser levado para casa. — Draco, infelizmente deixei trabalho me esperando em Hogwarts. Foi uma tarde agradável.

— Não vai ficar mais um pouco?

— Infelizmente não será possível.

— Você já vai? — Severo não vira Devon se aproximar. — Mas não pode! Ainda não comeu meu bolo de aniversário!

— Devon... — Pansy recriminou.

— Obrigado por vir, Tio Severo — o menino disse sem vontade e depois se lembrou de acrescentar: — Nathan.

— Sempre um prazer — Severo respondeu educadamente. — Se nos dão licença... — Ele fez uma mesura, pegou Nathan e saiu.

Não muito depois, estavam logo após os portões da Mansão Malfoy. Nathan colocou os braços ao redor de Severo, pronto para a aparatação que os levaria de volta para casa.

Entretanto, Severo não aparatou imediatamente. Ele envolveu o filho com os braços ao invés disso, segurando-o contra o peito num abraço furtivo. Ele sentiu o ombro de Nathan ceder e soube que fizera bem. Apenas depois disso Severo os aparatou para os portões de Hogwarts.

— Desculpa. — Nathan quebrou o silêncio assim que chegaram aos ares gelados da Escócia com as palavras que mais irritavam Severo.

Severo suspirou.

— Por que está se desculpando?

— Eu fiz você sair antes do bolo.

Severo bufou.

— Você acha mesmo que eu gostaria de ter ficado?

Nathan deu de ombros.

— Nathan, olhe para mim.

O menino olhou, e Severo o examinou minuciosamente contra azarações ou envenenamentos. Nathan não protestou. Severo não encontrou nada.

— Você bebeu ou comeu algo que Devon lhe deu? — perguntou.

Foi a vez de Nathan bufar.

— Então o que aconteceu?

— Nada. Estava morrendo de tédio.

Enfim uma resposta que parecia mais com de seu filho. Parecia... Severo não era bobo para tomá-la como a história completa. Tinha mais por trás dela, mas ficaria contente com qualquer sinal de normalidade.

Naquela noite, Severo foi para a cama apenas depois que observara a poção em seu frasco achatado se tornar um verde claro, informando-lhe que Nathan havia caído num sono tranquilo. Sua primeira parada depois de lançar o feitiço Anima Liberta foi o quarto do filho, e ficou aliviado ao ver a alma dele alegre como sempre. Severo era grato pela capacidade das crianças de perdoar e esquecer.


~o0oOo0o~


No meio da semana subsequente, a alma de Severo, livre e consciente, entrou no apartamento de Hermione pela porta da frente e foi assaltado pelo perfume já usual de temperos vindo da cozinha. A mais nova mania de Severo era observar Hermione cozinhar. Ele ficava ao lado dela, observando-a mexer uma panela de molho de tomate e cantarolando com ela a mesma música que vinha da sala de estar.

Era a mesma felicidade e conforto intoxicante da maioria das noites com ela até ele ouvir uma voz masculina chamando Hermione sobre as notas calmantes da música e fazer Severo se virar naquela direção com velocidade incrível, chocado.

— Tem certeza que não precisa de ajuda com o jantar? — o trouxa perguntou a ela, entrando agora na pequena cozinha.

— Absoluta — ela respondeu, sorrindo com facilidade para o trouxa.

Os olhos de Severo, já bem abertos, ficaram ainda mais arregalados quando o trouxa abraçou Hermione por trás, colocando o queixo no ombro dela.

— Olha, prove você mesmo. — Ela ofereceu um pouco de molho na palma da mão para o trouxa, que lambeu e fez um som de aprovação.

— Concordo; você não precisa de ajuda alguma com o jantar. — O trouxa a beijou na bochecha e a soltou. — Vou colocar a mesa. Posso?

Hermione riu com leveza, e o coração de Severo doeu o suficiente para fazer seus olhos arderem.

— Sim, pode.

— Onde você guarda os talheres?

Ela riu novamente, e Severo saiu antes que seu peito se abrisse, perdendo o resto da interação deles. Severo vira o suficiente mesmo. Seu primeiro impulso de fugir e se proteger da dor estava rapidamente se transformando em perda e ressentimento, mas o que bateu e ficou foi a raiva.

Ao invés de voltar para o corpo, ele ficou e assistiu. Poderia ser considerado masoquista, mas ele queria saber – precisava, até, entender – como seu sonho se transformara num pesadelo tão grande em questão de segundos.

Eles jantaram em conversa amistosa sobre seus afazeres do dia-a-dia, rindo e trocando carinho pelos olhares. Hermione sorriu e corou quando o trouxa a elogiou. O trouxa não deixou passar uma oportunidade de lhe tocar as mãos. Era doentio, mas Severo assistia.

Eles se mudaram para o sofá, e braços foram entrelaçados, e cabeças seguradas com carinho. Severo virou a rosto quando os lábios deles se tocaram, mas somente por tempo suficiente para renovar sua raiva e determinação e olhar para a frente novamente, assistindo os dois se beijarem com paixão quente.

Agora clinicamente, Severo a podia ver tocando o trouxa como ela o tocava. Analiticamente, ele observou que ela beijava o outro homem como o beijava. Metodicamente, ele observava ela deixar aquelas mãos estranhas deslizarem por seus cabelos como se fossem as dele – de Severo.

E ela sorriu.

E o bastardo sorriu de volta.

E Severo finalmente tencionou o rosto de nojo e decidiu que esperaria para dizê-la o quanto a desprezava em algum lugar onde ela não estivesse dando uns amassos num trouxa pelas costas dele. Severo decidiu que ficaria e mostraria a ela como pensava pouco dela. Mesmo que fosse tudo para disfarçar como ele se sentia vazio, oco, sangrando pela raiva e sofrendo em cada pedaço de sua alma, ele a faria ouvir tudo que tinha a dizer sobre traição.

Severo foi para o quarto dela e esperou lá. Ele tanto queria quanto não queria que ela viesse para a cama, e quando ela entrou no quarto, ele não teve coragem de olhar para ver se ela estava sozinha. Ele continuou sentado na cama com os olhos fechados, e quando não a sentiu afundar, se sentiu forte o suficiente para abrir os olhos. Algo instantaneamente preencheu parte do vazio em sua alma: ela estava sozinha.

Agora era só questão de tempo até ela cair o sono.

E Severo não viraria o rosto quando ela gritasse de dor à mercê de sua língua afiada.

Ah, querido Severo…

Ele fechou os olhos ao ouvir a voz doce dela chamando seu nome. O momento da verdade chegara; Severo estava de costas para a forma adormecida dela.

— Não fale comigo — ele rosnou.

— Severo... — A voz dela era um sussurro, mas sua alma inteira estremeceu com a dor que emanava dela.

Uma mão caiu sobre seu ombro, e Severo se colocou em pé de um salto, eletrocutado até a raiva por sua perda.

— Não toque em mim! Essas suas... mãos imundas… — O rosto dele pode muito bem mostrar seu nojo por ela em suas linhas retorcidas.

— Severo, por favor...

— Por que fez isso comigo? Como você pôde permitir que aqueles lábios imundos beijassem você e gostar?!

— Eu não poderia...

— Na verdade, por que não o trouxe para a cama e terminou o serviço?

— Porque eu não sinto nada por ele.

— Mentirosa!

— Eu não estou mentindo; nunca menti para você.

— Não fale comigo —
ele falou por entre os dentes. — Não tente me dizer que não estava gostando de cada minuto que aquelas mãos imundas estavam por todo o seu corpo, Hermione, porque estaria mentindo! Eu vi como o beijou, o jeito que o agarrou. — Ele mostrou como se sentia enojado.

— Por que ficou? Por que não foi embora quando viu o que eu ia...

— Cala a boca! —
ele urrou. — Eu não quero ouvir sua voz!

— Severo...

— Você é uma maldita mentirosa, Hermione. Como pôde me trair tão facilmente? Você disse que me amava e depois... —
Seu rosto se contorceu de desgosto. — Você deixa as mãos nojentas dele tocarem você por toda parte. Você dá sua boca para ele. Você ri com ele…

— Mas é você que eu amo.

— Mentirosa!


Uma lágrima desceu pelo rosto dela. — Eu amo você — ela sussurrou.

— Não, não ama!

— Eu tentei lhe avisar que isso iria acontecer...


Ele balançou a cabeça em negação.

— ...que você não poderia ter os dois...

— Eu não quero ouvir isso.

— ...quando percebi que você não iria me procurar...

— Cale a boca!

— ...eu sabia que isso iria acontecer...

— Cale essa maldita BOCA!


Ela o fez. Ele respirava forte pelo nariz.

— Isso não. É. Culpa. Minha! Entendeu?! NÃO É!

Ela se aproximou, e Severo podia sentir o amor dela por ele emanando de sua alma, mas ao invés de tranquilizá-lo, doía.

— Não desista — ela implorou. — Sinta meu amor. Lute por mim, Severo. Não me deixe escapar por entre os dedos. Eu lhe imploro, por favor, lute pelo nosso amor.

Ele baixou o olhar até ela, tão perto dele ela estava, e a única coisa que deixou seus lábios foi o encantamento em latim sussurrado que o mandou de volta para seu corpo – e pela última vez, ele prometeu a si mesmo.

Naquela noite ele chorou até dormir, prometendo que nunca iria atrás de Hermione novamente.

Prometeu nunca mais se apaixonar novamente.


~o0oOo0o~


Na sexta-feira, Severo estava à porta dos aposentos dela em Hogwarts, e assim que ela a abriu, ele entrou, agarrando-a desajeitadamente pela cintura e girando-os de modo que ela ficou prensada com as costas na porta, que terminou de fechar com o peso de seus corpos. Além de um gritinho de surpresa, ela não teve tempo de dizer nada antes da boca dele clamar a sua. A urgência dele era de tirar o fôlego, literalmente.

— Severo? — ela conseguiu dizer quando ele deixou seus lábios livres tempo suficiente para falar. Ela sentira o gosto de Uísque de Fogo na boca dele, sabia que ele não podia estar pensando direito, e mesmo assim seus olhos estavam pesados e suas mãos fechadas com firmeza em volta dos braços dele.

— Lábios adoráveis — foi a resposta dele antes de atacá-los novamente.

Línguas se entrelaçaram, e Hermione lutou para ter um pensamento lúcido. Ela sabia que não deveria estar respondendo aos beijos apaixonados dele, mas aquilo estava fora de questão, até mesmo humanamente impossível. A mão dele se emaranhou em seus cabelos, e ela sabia que não devia deixar isso continuar, mas os dedos dele eram como o paraíso em seu couro cabeludo.

Ele emergiu para tomar fôlego novamente. Quando foi que ela fechara os olhos? Os dele estavam meio fechados. Meu Deus, olhe para aqueles lábios molhados, totalmente beijados!

— Seu cabelo é horrível — aqueles lábios sexy disseram.

Droga! Ela deveria agradecer por ele ter dito aquilo, ou ela nunca voltaria aos seus sentidos. — Severo, você não está pensando direito. — Ela tinha que por um fim nisso, e que Deus a ajudasse se ela não conseguisse.

— Achei que gostasse de me beijar — ele retrucou, perto demais de seu ouvido para que seu corpo não reagisse.

— Severo — ela tentou repreendê-lo.

— Hermione...

Deus do céu! Ela se derreteu com o modo como ele dissera seu nome, ali, centímetros de sua orelha, antes de mordiscá-la.

— Severo, você precisa parar. — Não foi mais que um sussurro, mas o fez finalmente tirar o nariz da curva de seu pescoço e olhá-la nos olhos.

— Eu não quero que pare — ela garantiu —, mas você está bêbado e nunca me perdoaria se o deixasse me ter neste estado – meu Deus, o que estou dizendo? — Ela depositou um beijo curto nos lábios ainda convidativos demais dele.

— Mas eu quero você. — Um beijo suave de boca aberta e uma lambida. — Preciso ter você. — Um puxão em cabelos encaracolados. — Preciso tirar você da minha maldita cabeça. — Dentes afiados fechando em carne macia. — Você está me enlouquecendo. — Um sussurro contra pele alva.

— É errado... — Quem ela estava tentando convence, a ele ou a si mesma?

— Errado... — ele concordou, a fala arrastada pelo álcool, e depois lambeu sua garganta.

Ela estremeceu e o segurou pelos cabelos, trazendo os olhos dele para os seus. — É errado.

Ele baixou o olhar. — Você tem lábios adoráveis. — Ele já dissera aquilo, e ela guardou a informação para usar no futuro.

— Você também — ela elogiou e passou o dedão de leve sobre o lábio inferior dele. Os olhos dele se fecharam. Ela suspirou. Por que você tinha que estar chapado? Hermione o empurrou devagar para trás e agarrou a maçaneta. — Volte quando estiver sóbrio.

— Não estou bêbado — ele disse enrolado, mas foi embora sem mais protestos.

Hermione fechou a porta e se apoiou nela novamente, desta vez sem o peso dele sobre o dela. — Senhor amado!




N.A.: Hehe! Beijos bêbados… tsk. O que você estava pensando, Severo? Bem, nós meio que sabemos o que você estava pensando. *rs*


No próximo capítulo… O último golpe nas defesas de Severo, e outra história de príncipe.

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Comentários (1)

  • Carol MH

    Estou super ansiosa pelo próximo capitulo. Pq está demorando tanto? Parabéns novamente pela fic!

    2011-03-08
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