...Visível escuridão...

...Visível escuridão...



...Visível escuridão...

- Almofadinhas! - chamou Remus sutilmente olhando para os borralhos de fogo na lareira de seu escritório – Você está aí? Pode me escutar?

Ele estava sentado a sua mesa, no escuro, com um cálice de vinho na mão, vazio. Ele não estava bebendo, ele não bebia muito, muito menos quando estava sozinho, mas ele gostava de sentir o cálice em sua mão, gostava de observar a luz da lua que passava pela janela através do vidro do cálice como um dardo de fogo. Ele colocou a taça sobre a mesa, se espreguiçou e pegou um peso de papel de cima da mesa. Sirius o havia dado a ele no ano anterior. Era um globo de vidro transparente, dentro do qual, reclinava-se a figura de uma pequena e bela ninfa de cabelos ruivos, sobre uma pedra em miniatura brincando com um oboé. (Como era um globo mágico, a neve caia toda hora, sem ser preciso balançá-lo) Lupin sempre achou que a ninfa lembrasse um pouco Lílian, embora nunca fosse dizer isso a Sirius.

A ninfa largou seu oboé e olhou para ele.

- Vá dormir, Remo. Está tarde.

- Estou esperando pelo Almofadinhas. - ele disse suavemente – Nós temos que conversar. - ele colocou o globo na mesa, levantou-se de e foi até a lareira onde fogo estava quase no fim. Encostou-se ao tijolo da lareira, fechando seus olhos – Sirius Black, onde você está agora?

- Estou aqui! - disse uma voz vinda de perto de seu cotovelo.

Lupin abriu seus olhos, virou-se, viu os ombros e a cabeça de Sirius no fogo, e sorriu.

- Perdão. - desculpou-se Sirius – Eu demorei um pouco para achar alguma casa de bruxos com uma lareira. Não há muitas lareiras nessa parte da Grécia. É muito quente.

- A Grécia parece te fazer bem. - disse Lupin

Era verdade: Sirius estava saudável, moreno e sorridente, e o olhar assombrado e lúgubre de Azkaban parecia ter quase desaparecido de seus olhos. Quase desaparecido... Lupin duvidava que esse olhar fosse desaparecer algum dia.

- Verdade. - concordou Sirius, focalizando Lupin com seus olhos negros – Você disse que queria conversar comigo sobre o Harry. Ele está bem?

- Harry está bem. - disse Lupin – Bem, ele está bem na medida do possível. Afinal de contas, ele tem dezesseis anos, acabou de descobrir ter um monte de poderes, e ainda não sabe como lidar com eles. Ele ainda está longe de seus amigos, e claro, a todo ano da vida dele, desde dos onze anos, alguém tentou matar ele. Eu acho que ele está se sentindo um pouco deprimido e ressentido.

- Ele não está longe de todos os seus amigos. - disse Sirius – Ele tem Draco.

- O garoto Malfoy? - perguntou Lupin, surpreso - A mim, pareceu que eles se odeiam. Essa tarde agora, eu tive que apartar uma briga dos dois. Harry quase transformou Draco em pasta. Muito estranho da parte de Harry. O garoto Malfoy nem ligou, disse que Harry estava chateado por ter rompido com sua namorada.

- O que? Com Hermione?

- Ah, então você já sabia? - perguntou Lupin, interessado.

- Harry não chegou a me contar. - respondeu Sirius, sorrindo – Me parece que seria mais fácil ele agüentar o Feitiço Cruciatus a me falar sobre sua vida amorosa. Mas... - Sirius deu de ombros – Eu adivinhei.

- Como?

- Intuição canina. - disse Sirius – E também devido ao fato de que, sempre que ele via Hermione, parecia que alguém o havia atingido com um Balaço. Tiago costumava olhar para Lílian desse jeito. É uma prova inconfundível.

Lupin estava sorrindo novamente.

- Eu lembro que quando você tinha dezesseis anos, você...

- Ah, não! - interrompeu Sirius firmemente – Não estamos falando de mim. Estamos falando de HARRY.

- Na verdade, era sobre o garoto Malfoy que eu queria te falar. - disse Lupin – Draco. Nome horroroso, a propósito. Pobre garoto.

- Ao passo que “Remo” está ganhando popularidade. - falou Sirius.

Lupin sorriu.

- Agora você está falando como o Almofadinhas novamente. Você deve gostar do jovem Malfoy. Perdão, Draco.

- Verdade. - disse Sirius – Ele não é como o pai. Ele parece comigo quando eu tinha a idade dele.

- Em outras palavras, ele é uma bomba-relógio mal-ajustada, teimoso que odeia o mundo e todos que vive nele?

- Não a todos. - disse Sirius, soando divertido – Agora me diga, Aluado. Por que me chamou? Ele está metido em confusão?

- Não sei. - respondeu Lupin, pensativo – Ou ele não está metido em confusão alguma ou então, ele está na pior que possamos imaginar.

- Aluado... - Sirius soou exasperado.

- Está bem. - Lupin pegou um livro de cima de sua mesa, apoiando-o em seus joelhos. Era o mesmo livro que Harry e Draco haviam visto em sua mesa no dia anterior, mas não havia jeito dele saber disso – Eu fico me perguntando se é mesmo uma boa idéia deixar aquele menino ficar com a espada de Magids.

- Eu não deixei ele ficar com ela. Foi uma decisão de Dumbledore.

- Acredito que ele tinha seus motivos. - disse Lupin, suspeito – Mas aquela espada... se é a espada que eu acho que seja... é um objeto muito poderoso e maligno.

- É a espada que pertenceu a Slytherin, não é?

- Bem, há a possibilidade de ser uma cópia ou imitação. Posso ver porquê os Malfoy, ou qualquer família de bruxos, reivindique a posse de alguma coisa assim. Diz a lenda que Salazar Slytherin vendeu sua alma a um poderoso demônio em troca de uma espada que faria seu portador invencível.

- E funcionou?

- Certamente. Slytherin venceu todas as batalhas das quais participou. E então, um dia, ele desapareceu. Simplesmente desapareceu. Nunca mais foi visto. E a espada também foi tida como perdida. Na verdade, diz a lenda que ele trapaceou em seu trato com os demônios; ele não devia ficar com a espada para sempre, mas se recusou a devolvê-la na data marcada, então... - Lupin deu de ombros – Ninguém sabe o que aconteceu a ele, mas geralmente dizem que não foi nada bom.

- Ele não devia ter lido seu Livro do Chefe Supremo do Mal. - sorriu Sirius – Regra 54: Eu não vou quebrar um pacto com um demônio, nem tentar trapacear simplesmente porque quero ser teimoso.

Lupin revirou seus olhos.

- Sirius...

- Me desculpe, eu só não consigo ver o que essa história toda tem a ver com o Draco.

- É uma espada demoníaca, Sirius! - disse Lupin, irritado – Ela tem muitos poderes e inteligência própria! Se essa inteligência é benigna ou maligna, eu não sei. É preciso vontade, força e habilidade para lidar com uma coisa dessas, e ele é só uma criança.

- Quando tínhamos dezesseis anos, não nos considerávamos crianças.

- Mas nós éramos. Pense como as coisas podiam ter sido diferentes se tivéssemos sido um pouco mais espertos, um pouco mais pacientes, um pouco menos confiantes. Pedro não teria ficado como ficou, e Tiago... Tiago poderia estar...

- Não. - interrompeu Sirius – Não diga isso.

Lupin suspirou.

- Tem mais uma coisa.

- Ah, não! - falou Sirius determinado.

- Que foi?

- Eu te conheço. Sempre que você diz “Tem só mais uma coisa”, significa que você guardou as piores notícias possíveis para o final. “Está tudo muito bem, só mais uma coisa. Harry foi devorado por um basilisco.” Esse tipo de coisa. - Sirius respirou fundo – Bem, continue. Conte-me.

- Há uma profecia sobre a espada.

- Claro que tem! - exclamou Sirius, de mau-humor – Bem, o que é?

Lendo o livro, Lupin falou:

- Quando, novamente, a espada é manejada numa batalha por um descendente de Slytherin, o próprio Slytherin voltará a vida, e ele e seu descendente vão se unir para trazer destruição e terror ao mundo mágico.

- Às vezes, eu me pergunto como você pode dizer esse tipo de coisa com a cara lisa, Remo. Perdão! - Sirius adicionou, ao ver a cara que Lupin fez – Bem, acho que ainda não temos com o que nos preocupar. Ao que eu saiba, Draco não usou a espada em batalha. Harry que a usou contra Lúcio.

Lupin respirou aliviado.

- Que bom! Era o que eu queria saber.

- É só mantê-lo longe da espada. - disse Sirius.

- Ah, claro! - replicou Lupin – Você se lembra quando nós tínhamos dezesseis anos e as pessoas nos diziam para se afastar de alguma coisa? Do quão obediente nós éramos?

Os olhos de Sirius faiscaram, e ele sorriu. Em sua vida toda, Lupin só havia visto Sirius sorrir desse jeito para pouquíssimas pessoas. Para Tiago. Para Lílian. Para ele, Lupin. E para Harry. Talvez, ele sorrisse assim para Narcisa, Lupin não sabia. Mas esperava que sim.

- Nós éramos terríveis, não éramos? - falou Sirius.

- Não, - respondeu Lupin, retribuindo o sorriso – Nós não éramos terríveis. Nós éramos demais.


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Hermione berrou.
E se arrastou para trás, montada em seus cotovelos, o mais longe possível da coisa horrível que estava bloqueando a passagem da porta. Ela atingiu a parede e se empurrou contra ela, apertando os olhos para mantê-los fechados.

Acalme-se, ela disse a si mesma. Seja corajosa. Seja como o Harry. Harry já viu coisas piores do que isso. Seja como o Harry.

Ela abriu seus olhos.

E viu o que já havia visto antes. O bruxo que entrou no aposento ainda estava parado onde havia estado, imóvel, com o capuz puxado para trás, permitindo a visão de seu rosto. Era o rosto de um homem da idade de Sirius, tão branco quanto sal, com maçãs do rosto enormes e proeminentes e cabelos pretos foscos e desgrenhados. Esse homem tinha um nariz grande e adunco, sobrancelhas finas e a sua boca era uma inflexível linha. Ele era incrívelmente magro, mais ainda que Sirius ao deixar Azkaban. Tatuada em cada bochecha estava a nítida imagem de um crânio com uma serpente saindo de sua boca. A Marca Negra. Era horrível olhar para ela, mas esse não foi o motivo do grito de Hermione.

Era porque ela sabia quem ele era. Como ela poderia não saber? Havia estátuas dele, fotos dele, por Hogwarts inteira. Ainda assim, isso era impossível.

Magia negra ela pensou. Teria que ser muita magia negra. Ele estava morto. Morto há mil anos. E para ressuscitar os mortos existia a necromancia o pior tipo de magia negra existente.

Ele deu uns passos em direção a ela, e ela olhou para os pés dele, revestidos em grossas botas negras, porque ela não conseguia olhar de novo para aquele rosto horroroso, tatuado e cheio de cicatrizes. À medida que ele chegava perto dela, ela sentiu um poderoso cheiro que vinha das vestes dele. Um cheiro parecido com conhaque abrasador.

Ouviu-se um barulho tipo tuque-tuque quando ele se ajoelhou perto dela.

- Olhe para mim. - ele falou. Sua voz zumbia como se sua garganta esquelética estivesse cheia de moscas ou de gafanhotos – Olhe para mim.

Hermione olhou para ele, embora não quisesse. Ela tentou limpar sua garganta, mas não conseguiu, e falou, numa vozinha que parecia ter sigo sugada de um canudo:

- Quem é você?

- Você não me conhece, Rowena? - perguntou a voz de zumbido – Eu sei minha aparência não é a mesma de antes. Mas você ainda devia reconhecer o seu Salazar.


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- Veritas!
Krum engasgou quando o Feitiço da Verdade tomou conta dele. Draco sabia exatamente como ele se sentia; conhecia a dor agonizante de tal feitiço, o sentimento de ser rasgado e exposto, mas não tinha nem tempo nem inclinação para sentir pena de Vítor Krum.

- Onde está Hermione? - ele perguntou.

- Eu... não... sei... – disse Krum rangendo os dentes.

- Malfoy – chamou Rony num sussurro sibilante – é ilegal usar o feitiço Veritas. Você pode ir pra Azkaban por isso.

- Não me importo. - respondeu Draco, sem olhar para Rony, mas para Harry, que retribuiu o olhar com a mesma expressão que ele próprio tinha certeza de ter estampada em seu rosto: determinação inflexível.

Era a mesma expressão que Harry tinha quando jogava quadribol e estava terminantemente determinado a pegar o pomo. Quando eles jogavam um contra o outro, essa expressão facial de Harry deixava Draco nervoso. Agora, ele a achava estranhamente tranqüilizante.

- Vá em frente, Malfoy. - disse Harry.

- Por favor. - Vítor Krum interrompeu inesperadamente – Eu... eu também querro saber a verdade. Por favor, me pergunte o que for necessárrio.

Draco encarou Krum, suspeito. Krum estava pálido e mordendo seu lábio com dor, mas parecia sincero.

- Certo. - concordou Draco, ainda segurando firmemente sua varinha – Conte-nos o que se lembra de ontem.

Krum falou, baixo e com esforço:

- Pela manhã, jogamos contrra a Romênia. – ele grunhiu - Perdemos, e estou muito zangado por causa disso. Também estou zangado porque eles não puserram segurrança nas tendas dos jogadorres. Quando volto parra a minha tenda, há um homem lá, e eu tenho que enxotá-lo.

- Que tipo de homem? - perguntou Harry numa voz tensa.

- Um homem bastante comum. - respondeu Vítor – Entenda, temos pessoas em nossas tendas a toda hora: fãs e similares, eles invadem. Esse carrinha querria me dar uma garrafa de vinho da Bulgárria. Então, eu bebi um pouco, e ele saiu. Eu voltei ao meu quarto, e... eu acho que adormeci. Não me lembrro de mais nada.

- Vítor - disse Draco firmemente – O que aconteceu quando você voltou ao seu quarto? Você não foi dormir. O que você fez?

Krum estava pálido e suando.

- Não me lembrro.

Draco estava segurando sua varinha tão forte, que as juntas de seus dedos ficaram brancas.

- O que você fez?

Krum balançou sua cabeça, apertando seu peito como se estivesse machucando-o, e respondeu:

- Eu não me lembro!

- Ele está mentindo! - exclamou Harry.

- Não dá pra mentir quando se está sob o efeito do feitiço Veritas. - disse Draco em tom baixo, virando sua cabeça para olhar para Harry – Tenho certeza disso.

- É um feitiço da memória, então. - murmurou Rony – Ele está contando o que ele acha ser verdade.

- Você pode acabar com o efeito de um feitiço da Memória. - disse Harry, no mesmo tom de voz determinado – Malfoy. Dê-me a sua mão.

- Por quê? - perguntou Draco, cautelosamente. Na última vez que Harry pediu que Draco lhe desse a mão, ele havia rasgado sua palma com um canivete.

- Porque... - respondeu Harry – Se nós dois segurarmos a varinha, e fizermos o feitiço, ele deve ser forte o suficiente para quebrar o feitiço da Memória.

- Deve mesmo. - concedeu Draco – Também deve ser forte o suficiente para reduzir o melhor jogador de quadribol da Bulgária a um louco tagarela com o poder mental de um bebê de quatro meses.

- Não acho. - disse Harry – Não se nos concentrarmos.

- Isso é o que eu quero dizer sobre deixar os grifinórios planejarem as coisas. - estourou Draco. Ele e Harry estavam tão perto agora, que ele podia ver seu reflexo nos óculos de Harry. Ele parecia aflito e híbrido – Que tipo de plano é “se concentrar”?

- Harry - interrompeu Rony, aflito. Ele não escutava nada do que os dois estavam conversando de onde ele estava, mas a expressão de Harry o estava deixando nervoso – Harry, eu não acho que...

Ignorando-o, Harry agarrou a mão esquerda de Draco (alguma vez você duvidou que Draco fosse canhoto?), entrelaçando seus dedos em volta da varinha. Quando ele fez isso, a cicatriz de sua mão encostou na cicatriz da mão de Draco, e ele sentiu o solavanco de uma lança fria em sua pele. Ele viu os olhos de Draco virarem-se pra ele, nervosamente. Draco também havia sentido aquilo.

- Isso não é uma boa idéia. - disse Draco, pressagiando.

Com outro olhar soturno, Harry virou a varinha, agora segurada pelas mãos dos dois, em direção a Vítor, e murmurou:

- Veritas.

Draco sentiu sua mão dar um solavanco como se alguém a tivesse puxado. A varinha vibrou em suas mãos, e ele a segurou com mais força, quando um raio de luz preta saiu da ponta de sua varinha e atingiu Krum no tórax, quase derrubando-o de lado. Krum berrou de dor, agonizando, e caiu ajoelhado, com a mão no peito.

Rony estava horrorizado.

- Harry, o que é que você fez?

Harry tinha soltado a varinha, e estava agora ajoelhado junto a Krum, com a mão sobre o ombro dele.

- Vítor, - ele chamou impacientemente – Eu quero tirar esse feitiço de você o mais rápido possível, mas você tem que nos contar o que te aconteceu ontem. Onde você estava na noite passada?

- Depois do jogo, eu volto ao meu quarto. - respondeu Krum, assustado ao som da própria voz. Draco sabia como ele se sentia; o feitiço Veritas não somente te forçava a dizer a verdade, mas te impelia a falar, a falar e a falar – Eu deito na cama. Estou me sentindo meio estranho e acho que é o vinho. Então, batem na minha porta. Eu me levanto para atender. É o homem que estava na minha tenda. Ele aponta sua mão para mim e diz Imperio.

Uma expressão de assombro toma conta do rosto de Vítor. Ele obviamente não tinha noção de nada disso.

- Então ele me dá um... um... kak shte kazhesh tova na Angliyski...

Rony, Draco e Harry se entreolharam, visto que nenhum deles sabia nada de búlgaro para falar. Mas Vítor parecia ter voltado a história.

- Um copo, uma garrafa, de um líquido, ele me fez beber isso e me deu instruções. Eu visto minha capa e ando até o Caldeirão Furado. Eu fico lá esperando até vê-la, Her-mi-ô-nini, entrar pela porta. - Vítor soava melancólico – Ela está muito feliz e bonita. Eu a convido para entrar e para falar comigo um pouco. Entramos no quarto dos fundos. Ela se vira pra me perguntar alguma coisa, e eu a agarro. Eu tapo a boca dela, para que ela não gritar, e a obrigo a beber a poção.

Os olhos de Krum estavam arregalados de horror. Draco, Rony e Harry estavam olhando para ele, chocados, e com um medo crescente.

- Agora ela está quieta, está dócil. Ela faz o que eu digo a ela para fazer. Ela se livra da garota de cabelo vermelho. Ela volta ao quarto. Esperamos juntos e o homem entra. Ele aponta sua mão para ela e diz “Imperio...” - Krum parou – Ela está chorando. Ele tem que repetir o feitiço. Finalmente, saímos, Her-mi-ô-nini e eu. Voamos para a Toca e eu espero ela pegar suas coisas e escrever uma carta pro Harry. Então, montamos em minha vassoura e voamos para a Estação King’s Cross. - a voz de Vítor estava ficando rouca agora, não se sabe se era de dor física ou de choque. Harry não sabia dizer – O homem está esperando lá, vestido de trouxa. Ele toma Her-mi-ô-nini de mim. Então, eu saio, e volto para cá. Então, eu acordo... - ele balançou sua cabeça – E não me lembro de nada.

- Harry - sibilou Rony, com urgência. Agora, ele estava em pé perto da porta, ainda mais aflito – Harry, alguém vai vir... alguém deve ter escutado o Krum gritar...

Mas Harry ainda estava encarando Vítor Krum.

- Para onde ele a levou?

- Eu não sei! Eu não sei! Você tem que acreditar em mim. Harry, você sabe que eu nunca faria nada que trouxesse mal a Her-mi-ô-nini!

Harry levantou-se, afastando-se de Vítor, que ainda estava meio sentado, e meio em pé, encostado no pé da cama, completamente perturbado. O próprio Harry estava quase tão mal... parecia que ele ia vomitar. Ele deu um passo em direção a Draco.

- Eu acho que devemos repetir o feitiço. – disse Harry, num sussurro - Talvez haja algo... talvez ele saiba...

- Não! - exclamou a voz de Rony, inesperadamente.

Os dois viraram-se para ele, que estava encostado na porta, com uma expressão que misturava raiva e pânico.

- Por que quem quer que seja que capturou Hermione ia deixar Krum saber pra onde eles estavam indo? Obviamente só estavam usando-o. Se ele não fosse tão famoso, provavelmente o teriam matado. Se ele diz que não sabe, eu acredito nele. E Harry... você o está machucando! Isso não é você. Sinto muito, mas vocês dois ficam enlouquecidos por tudo em que Hermione está envolvida, então acho que eu devo tomar essa decisão. - Rony ergueu sua varinha, apontando-a para Krum – Finite...

- Espere! - pediu Harry, apressado – Só mais uma pergunta. Só uma. - ele virou-se para Krum – Você disse que o homem apontou sua mão para Hermione quando executou a Maldição Imperius. Sua mão, não sua varinha. Ele não usou uma varinha?

Krum balançou sua cabeça.

- Não. Ele usou só sua mão. – disse ele áspero.

- Era um Magid, então. - concluiu Draco.

- Não era uma mão qualquer. - continuou Krum – Ele era um homenzinho bem comum. Pequeno e gordo. Mas sua mão era feita de prata.

Harry olhou para Rony e para Draco, que estavam olhando para ele com idênticas expressões de terror. Mas foi Harry quem falou primeiro:

- Rabicho!


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- Rowena? - arfou Hermione, incrédula.

- Minha bela Rowena. - chamou o bruxo, que se auto-denominava Salazar.

Ele estendeu uma mão coberta por uma luva e tocou os cabelos de Hermione. Ela não se mexeu, apesar do cheiro de álcool abrasador fazer sua garganta doer.

- Esse não é o meu nome. - disse Hermione – Eu sou... você pegou a pessoa errada. A garota errada.

- Eu não discordaria dele se fosse você. - disse uma voz maliciosa e cortante. Hermione virou sua cabeça, e com pouca surpresa, viu a figura familiar de Rabicho, gorda e baixa, parada na porta. Ele estava usando vestes cinzas, sua mão metálica vinha da manga direita. Havia um sorriso malicioso em seu rosto – Você sabe com quem você está falando?

Hermione manteve seus olhos fixos em Rabicho quando replicou. Ele não era nenhum ganhador de concurso de beleza em carro alegórico, mas pelo menos, ele ainda tinha seu rosto todo.

- Como eu cheguei aqui? - ela perguntou, esforçando-se para manter a voz firme.

- Rabicho te trouxe para mim. - disse a voz de zumbido a sua esquerda – Ele é um servo muito leal.

- Não tanto. - disse Hermione para Rabicho numa voz trêmula – Considerando que há apenas duas semanas ele estava servindo ao Lord das Trevas!

- Agora, eu sirvo ao mestre do meu mestre. - disse Rabicho – O maior dos Quatro Grandes de Hogwarts, o mais temível bruxo que já tenha segurado uma varinha. - ele sorriu vaziamente para ela – Você sabe de quem eu estou falando? Hogwarts decaiu tristemente se eles sequer dão a seus alunos um aprendizado de história apropriado.

Hermione fechou seus olhos.

- Salazar Slytherin está morto. – disse ela. - E os mortos não podem voltar.

- Me machuca ouvi-la dizer isso, meu amor. - disse a voz de zumbido em seu ouvido. A voz de Salazar Slytherin. Sua mente não queria aceitar isso, não podia aceitar isso. Algo tão terrível não poderia estar acontecendo a ela. A mão de luva preta dele fechou-se sobre o ombro dela, e o choque do toque dele foi a sensação mais desagradável da vida de Hermione. Ele a levantou, sobre suas pernas trêmulas, e virou-a, de modo que ela pudesse vê-lo – Depois de tantos anos vagando no espaço cinzento. Você me trouxe de volta ao mundo.

- Eu fiz o quê? - arfou Hermione.

- Foi você quem criou o feitiço que quebrou o encantamento que me deixava cativo. - respondeu Slytherin – Certamente, fez isso de propósito?

Ela virou seus olhos desesperadamente de modo que não o visse, e acabou vendo Rabicho olhando-a.

- Seu Feitiço Furacão. - ele disse – Muito inteligente aquilo. Mas talvez, não completamente sensato. Poderiam ter havido... conseqüências involuntárias.

- Eu não entendo. - ela ofegou, olhando de um para o outro.

- Não se lembra? - perguntou Slytherin, olhando para ela pelos seus olhos vazios – De quando eu te disse que jamais morreria de verdade?

- Não! - exclamou Hermione cortante – Eu não me lembro porque eu não sou quem você pensa que eu sou. - ela olhou desesperada para o rosto esquelético que a encarava – Rowena Ravenclaw está morta. Ela está morta há mil anos.

Em resposta, uma das mãos enluvadas agarrou seu pescoço. Por um momento, ela pensou que ele fosse estrangulá-la. Então, ela se deu conta, horrorizada, de que, ele havia pego o Feitiço Essencial, e estava segurando-o com a mão fechada.

- Você tem a vida do meu descendente em volta de seu pescoço. - ele disse – Como uma vez, Rowena teve a minha. Quando acordei, a primeira coisa que vi foi seu rosto, pelos olhos dele. E vi que ele te amava, assim como uma vez eu a amei. A História se repete. Eu também vi o Godric, pelos olhos dele. - disse Slytherin, com um rosnado – Quando ela me deixou pelo Godric, ela destruiu tudo pelo que eu tinha batalhado, tudo que eu tinha quase concluído. Eu não vou deixar isso acontecer de novo, meu amor.

- Eu não sou o seu amor. - disse Hermione, numa fúria desesperada.

- Talvez ainda não. - disse Salazar Slytherin – Mas vai ser.


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Gina estava sentada na cozinha ouvindo o tique-taque do relógio, quando a porta se abriu, e Harry, Rony e Draco entraram, carregando suas vassouras e parecendo completamente exaustos. Pelo menos, Draco e Rony pareciam exaustos. Harry estava um grau pior que exausto, como se tivesse acabado de passar por uma terrível provação.
Rony e Draco jogaram suas vassouras em um canto. Harry colocou a sua cuidadosamente na parede perto da porta. Gina o observou da cozinha. Seu coração palpitava com um reprimido desejo de correr e pôr seus braços em volta de Harry: ele parecia tão triste...

Rony caminhou até ela, e colocou uma mão sobre seu ombro.

- Alguma coisa?

Gina balançou sua cabeça, em resposta.

- Nenhuma palavra dela.

Nenhum deles parecia surpreso.

- Obrigado por esperar, Gina. - agradeceu Harry numa voz fatalmente cansada.

- Vocês... descobriram alguma coisa? - perguntou Gina, ansiosa.

- Sim e não. - Harry deu de ombros.

- Ela está bem?

A resposta a essa pergunta foi um silêncio lúgubre. Harry disse:

- Eu vou tomar banho. Volto logo. – ele virou-se e subiu as escadas.

Gina olhou miseravelmente para Rony.

- O que aconteceu?

Rony suspirou. Ele olhou para Draco, que estava encostado na parede da cozinha.

- Falamos com o Krum. - ele disse, e contou a Gina exatamente tudo o que aconteceu – Acho que tivemos bastante sorte. - ele disse depois de ter terminado de contar a história – Ninguém nos pegou, e quando eu tirei o feitiço do Vítor, ele parecia bem. Ele não podia se lembrar de nada que nos contou sob o efeito do Feitiço Veritas. Não se lembrava nem de por que estávamos lá.

- Eu tive que pegar o autógrafo dele. - disse Draco, tentando soar leve – Foi muito embaraçoso.

- O Harry está bem? - perguntou Gina, olhando para seu irmão. Ela tentou ler seus olhos, como costumava poder fazer quando era mais nova. Nesse momento, eles diziam Harry não está bem e eu queria que você não se importasse com isso.

- Ele precisa dormir. - concluiu Gina – Vocês todos precisam dormir.

- Boa sorte ao tentar convencer Harry disso. - disse Rony.

- Ele está muito chateado com por causa da Hermione, não é? - disse Gina

- Ele está chateado por causa do Vítor. - disse Draco – Ele está chateado pelo que ele é capaz de fazer quando está pressionado.

Rony olhou para Draco amargamente.

- O que você sabe? – ele disse.

- Mais do que você imagina. - respondeu Draco, com um toque de sua antiga fala desdenhosa.

Ele deu de ombros e passou pela porta, batendo-a forte bem atrás dele.

- Eu vou ver se o Harry está bem. - disse Gina, já subindo e ignorando a expressão de Rony.


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Draco permaneceu no jardim dos Weasley, deixando a luz prateada do luar escorrer por ele como chuva leitosa. Era uma noite fria e úmida, e o jardim cheirava a menta, lama e alecrim. Não tinha nada a ver com o jardim da Mansão Malfoy, que sempre cheirava a metal, folhagem e sangue.
Ele virou-se para o sul, direção da sua casa, e ao pôr a mão dentro do bolso, percebeu, em repentina irritação, Eu não estou com a minha varinha. Logo depois, pensou: não importa. Magids de sua idade não deviam executar feitiços sem varinha; isso era verdade. Mas também, Magids de sua idade não deviam fugir da escola na calada da noite com o propósito de executar feitiços ilegais em atletas internacionalmente famosos. Magia sem varinha parecia ser menos pior. Pro diabo com essa regra idiota, ele pensou, e ergueu sua mão esquerda, pondo-a bem na frente de si próprio. A luz do luar iluminava a cicatriz em forma de raio da palma de sua mão, deixando-a meio que prateada, como se tivesse sido desenhada por mercúrio líquido.

É estranho que a mão que Harry decidiu cortar era justamente a que eu uso pra fazer magia. Ele também cortou a mão que ele usa para a magia. Será que ele fez isso consciente?

Ele deu de ombros, deixando para lá a pergunta, e concentrou-se firmemente, pensando no objeto que queria, imaginando onde ele estava da última vez que o viu. Para um feitiço de atração funcionar, não importa a distância do objeto atraído, mas sim, saber onde ele estava, e Draco sabia: na escrivaninha de seu pai. Ele imaginou o escritório de seu pai da última vez que o viu, construindo a imagem em sua cabeça, até mesmo o cheiro do lugar: livros, conhaque e magia negra. Ele fechou seus olhos e ergueu sua mão esquerda.

- Accio!


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Gina achou Harry no antigo quarto de Percy, sentado no canto da cama, que estava intocada desde a última vez que Percy tinha estado lá, com seus lençóis azuis sem estampa e bainhas de hospital. Ele havia tirado seus óculos, e estava sentado com suas pernas puxadas para cima, com a cabeça nos joelhos.

Gina sentou-se ao lado dele, sentindo a cama afundar com o seu peso.

- Harry, - ela disse – Você precisa dormir um pouco.

Ele ergueu sua cabeça vagarosamente e respondeu:

- Não estou cansado.

Ela sempre ficava espantada pelo quão diferente ele ficava sem seus óculos. Mais jovem, é claro, mas menos meigo de certo modo; mais frio, e mais capaz de atitudes duras. Havia, agora, uma linhazinha esboçada entre suas sobrancelhas, que se desfez quando ele olhou para ela, tentando sorrir. Ela se perguntou quantos anos demoraria para aquela linhazinha virar uma linha permanente entre seus olhos, que nunca desapareceria, estando ele sorrindo ou não. Ela se perguntou se estaria por perto para poder ver essa mudança.

- Claro que você está cansado! - exclamou Gina – Você está acordado há horas, voou vários quilômetros! Você precisa dormir. Você não vai servir de nada a Hermione se cair de sua vassoura de tanto sono, e se afogar no Canal.

- Eu não sirvo de nada a ela de qualquer jeito. - disse Harry amargamente – Foi tudo culpa minha.

- Não foi culpa sua! - revoltou-se Gina – Como poderia ser culpa sua? Foi mais culpa minha do que sua... eu jamais deveria tê-la deixado sozinha no Caldeirão Furado com o Vítor Krum...

- Não. - interrompeu Harry, balançando a cabeça – Não há outra razão para que Rabicho queira raptá-la que não seja para chegar a mim. Ela só está em perigo pelo quê ela representa para mim. Assim como Sirius esteve, assim como Rony, e todos com quem eu me preocupo.

- Bem, - disse Gina, tentando soar leve – pelo menos o Malfoy está a salvo.

Harry forçou um riso.

- Acho que está. – ele disse, tirando uma mecha dos cabeços de cima de seus olhos - Mas, Gina...

- Por favor, Harry. Me prometa que você irá dormir. Nós podemos acomodar o Malfoy no antigo quarto do Carlinhos e você pode ficar aqui. Amanhã de manhã faremos o que for preciso.

Harry hesitou por um momento, então, fez que sim com a cabeça.

- Você está certa. - ele disse – Eu sei que você está certa. - ele sorriu para Gina, e ela sentiu um frio na barriga – Só mais uma coisa, Gina, se você não se importar; eu não gostaria de ficar sozinho agora, então...

- Sim? - Gina olhou para ele, e perguntou numa voz baixa.

- Você poderia pedir ao Rony que subisse? Eu não estou me sentindo muito bem para descer as escadas, mas eu queria muito falar com ele.

- Oh, - disse ela, levantando-se – Oh, claro! Eu vou... eu vou ir buscá-lo agora mesmo.

No início da escada, ela passou por Draco, que estava carregando um livro verde bem grosso em suas mãos. Ela sentiu um desejo repentino de chutar o tornozelo dele, mas sabia que isso seria injustificado, então, se conteve.

- Você está naquele quarto. - disse ela, apontando o quarto de Carlinhos, que era ao lado do dela, pelo corredor – Há cobertores no armário. E nem me peça para fazer sua cama, porque eu não vou!

Ele olhou para ela, curioso.

- O que está te incomodando? – perguntou ele. - Está com Potterites de novo?

Draco não havia mudado em nada sua expressão facial, mas Gina podia dizer, pelo sorriso estampado no rosto dele, que havia um sorriso desdenhoso dentro da cabeça dele, que estava só procurando um lugar para sair.

- Eu tenho uma violenta aversão a você. - ela disse – Eu achei que você deveria saber disso.

- E estou realmente não me importo. - retrucou Draco, andando elegantemente até o quarto de Carlinhos.

Gina ficou lá parada por um instante, observando-o. Por algum motivo, que ela não podia decifrar, ela se sentia pior agora do que antes.


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Ele estava em uma câmara que estava em algum lugar sob o solo – ele não sabia como sabia disso, mas sabia. Ele usava vestes pretas com verde e prata, e botas pretas de couro de dragão. Ele podia dizer, sem ao menos olhar para baixo, que alguns centímetros foram adicionados à sola de seus sapatos para dar-lhe altura extra. Mas ainda assim, ele podia sentir o calor que se espalhava do chão, queimando a sola de suas botas.
Ele não estava lá sozinho. Eles estavam em um semicírculo. Havia sete deles. E Draco os reconheceu imediatamente; reconheceu suas longas mãos de dois únicos dedos, suas cabeças calvas e sem orelhas. Demônios. Só eles vestiam longas vestes de preto e vermelho, e o mais alto deles, aquele que estava no centro do semicírculo, carregava algo em suas mãos estendidas.

Uma longa espada de prata em cujo cabo havia uma multidão de pedras preciosas da cor verde.

- Você veio aqui para fazer uma troca conosco. - disse o demônio mais alto.

E Draco ouviu a si mesmo dizer, numa voz que não parecia a sua própria, mas sim, a de um homem muito mais velho:

- Sim, eu vim.

- E você sabe no que essa troca acarreta?

- Eu te darei o que você deseja, - disse o Draco-que-não-era-Draco – E você me dará a espada.

- Com essa espada, um homem pode fazer milagres. - disse o demônio.

- Milagres não me interessam. - disse o Draco-que-não-era – Poder, sim, me interessa. Me disseram que essa espada me daria poder. É verdade?

- Tem uma coisa que chama muito poder. - disse o demônio.

E o Draco do sonho riu e falou:

- Não acredito nisso.

- Você deve ao menos acreditar que há um equilíbrio natural para todas as coisas. - disse o demônio – Para cada benefício em uma coisa, há pagamento em outra. Você terá um ganho estupendo usando essa espada, mas primeiro, precisa pagar.

E Draco sentiu suas mãos – que pareciam sólidas e reais, bem diferentes de mãos de sonhos – irem até seu pescoço, e tirarem o pingente de lá. Ele tirou a capa e a camisa que estavam sob tudo, e seu peito ficou nu.

- Tome seu pagamento. - disse ele.

O demônio pegou o objeto com suas mãos de espátula, e flexionou seus dedos longos. Então, como um boxeador socando uma parede de cartolina, o demônio enfiou sua mão no peito de Draco. A agonia foi imediata, intensa e terrível, mas durou só um segundo. Draco gritou, e o demônio tirou sua mão de lá. Ela estava apertando alguma coisa em seus dedos sangrentos, algo que brilhava e fulgurava de modo bruxuleante, como luz de vela através de uma tela.

O demônio sorriu, seus dentes eram longos, afiados e pontudos.

- A espada é sua. O inferno está satisfeito agora.

- Malfoy! Malfoy! Acorde!

Alguma coisa o segurava pelos ombros e o estava sacudindo. Ele se contorceu, pondo suas mãos sobre seu rosto. Ele estava vagamente ciente de alguém estar gritando. Havia mãos puxando seus braços, tentando tirá-los de cima de seu rosto.

- Acorde! - repetiu a voz, desesperadamente, e então – Malfoy, por favor!

Ele abriu seus olhos. A gritaria acabou, e tudo ficou, repentinamente, muito silencioso. Era eu quem estava gritando, percebeu Draco, era eu.

Estava escuro no quarto. A única luz que havia era a luz prateada da Lua, que entrava pela janela, e que iluminava a garota em frente a ele, sua aflição, olhos escuros, e cabelos longos e encaracolados. Na quase-escuridão, ela parecia...

- Hermione? - ele sussurrou, meio acordado, meio dormindo.

- Não, é a Gina.

Ele tirou seus braços de seu rosto vagarosamente.

- Claro. - ele disse – Não dava para ser ela. Ela me chama pelo meu primeiro nome. - ele piscou e olhou para Gina – O que você está fazendo aqui?

- O que eu estou fazendo aqui? - repetiu Gina, irritada – Você estava berrando feito um lobisomem, por isso eu estou aqui! Eu achei que alguém estava te matando! Olhe onde você está, Malfoy!

Draco sentou-se, e olhou em volta, surpreso. Ele não estava mais na cama, mas sim, deitado no chão, num emaranhando de lençóis. Ele não se lembrava de ter caído da cama, mas ele também não se lembrava de ter berrado. Ele só se lembrava de seu sonho. Ele puxou o ar pelos seus dentes, e ele lembrou-se da dor, da mão do demônio entrando em seu peito. Do calor. Da espada.

Quando Gina falou de novo, sua voz estava vacilante:

- Malfoy...

- O quê?

- Você está sangrando...

Assustado, ele olhou para baixo, e viu, na parte da frente de sua camisa, exatamente onde se localiza o coração, uma mancha vermelha, do tamanho de um prato de jantar. Draco pôs sua mão sobre a mancha, e seus dedos voltaram vermelhos. Não era sangue velho, era novo.

Ele olhou para Gina.

- Chame o Harry. - disse, rouco.

Gina levantou-se rapidamente e andou até a porta.

Quando ela estava no meio do caminho, Draco a chamou:

- Espere!

Ela virou-se. Draco estava ajoelhado no meio dos cobertores. Ele havia tirado sua camisa e estava olhando para seu peito, que estava bem mais pálido que o resto dele, sob a luz da Lua. Seu peito também estava completamente sem marcas, não havia nenhum ferimento lá.

- Deixe pra lá. - ele falou – Parece que eu estou bem.

- Aquilo não era... seu sangue? - ela perguntou, aturdida.

Ele olhou para Gina, e a luz da Lua fazia com que faísca frias saltassem de seus olhos acinzentados.

- Eu não sei. Mas acho que estou começando a ter uma idéia. E não estou gostando nada, nada disso.

- Isso tem a ver com o seu pesadelo?

- Sim, - ele disse, para logo depois balançar sua cabeça – Quer dizer, não. Não tenho certeza se isso foi um pesadelo. Eu acho que foi um flashback. Ou, quem sabe, um delírio. Ou talvez, eu tive um flashback no meio de um delírio. Isso é possível?

Gina podia sentir seus olhos se arregalarem.

- Eu devo ir lá chamar o Harry. - ela sugeriu, mas Draco balançou sua cabeça.

- Não incomode o Potter. - ele disse – Só sente-se aqui comigo por um minuto.

Gina hesitou. Era muito difícil ler os olhos de Draco. Na escuridão, os olhos dele refletiam a luz como olhos de gato. Lentamente, ela andou e sentou-se perto dele, sobre os lençóis. Mas ela não queria olhar para ele, pois ele estava sem camisa, e isso fazia-a sentir estranha. Então, ela fixou seu olhar na noite, e disse a primeira coisa que lhe ocorreu:

- Está doendo?

- Doía enquanto eu estava dormindo. - ele respondeu – Mas não dói mais.

Ele estava olhando para sua camisa agora, cuja parte da frente estava manchada de vermelho escuro. Também havia sangue em suas mãos. Gina olhou para elas curiosamente, percebendo algo esquisito. As mãos de Draco eram praticamente iguais às de Harry: o mesmo formato, as mesmas unhas roídas, os mesmos dedos longos, e as mesmas articulações agudas de ossos. Ela havia olhado vezes o bastante para as mãos de Harry, e com atenção o suficiente para tê-las memorizado; ela as reconheceria em qualquer lugar. As cicatrizes iguais só aumentavam a estranheza.

Gina estendeu suas mão e tocou a cicatriz da palma da mão esquerda de Draco.

- Como você e o Harry conseguiram isso?

Draco olhou para ela.

- O Rony não te contou?

Ela balançou sua cabeça.

Draco voltou a olhar sua camisa.

- Acidente com um baralho de cartas bem afiado. – ele disse. - Não gostamos de falar disso. É muito doloroso.

Gina fez uma careta.

- Você sabe o que eu odeio em você, Malfoy?

Ele olhou para ela e sorriu.

- Estou chocado. – ele disse - Chocado por só haver uma coisa que você odeia em mim. Eu imaginava que você tinha uma lista de queixas, talvez até numeradas.

Gina subitamente sentiu seu rosto se contorcer num sorriso, e ficou horrorizada. Por que ela estava sorrindo para Draco Malfoy? Isso não era nada bom. Repentinamente, ocorreu a ela o que pareceria a Rony essa cena se ele aparecesse de súbito: ela estava sentada no chão com Draco Malfoy sem camisa, no meio de um bando de lençóis e cobertores embolados, e eles estavam sorrindo um para o outro como velhos amigos.

- Eu vou chamar o Harry. - ela disse apressadamente, levantando-se.

- Não faça isso. - disse Draco – Não é muito importante.

- Você está sangrando sangue fantasma. - disse Gina – E eu acho que vale a pena acordar o Harry por isso.

- Esqueça isso. - disse Draco, cujo tom de voz revelava que não haveria discussão – Só me traga uma outra camisa, ok?

- Uma camisa? - repetiu Gina, incrédula.

- Sim, uma camisa. Você tem um bando de irmãos, deve haver um monte de roupa nessa casa.

Gina apertou seus lábios, que se transformaram numa linha estreita, e saiu do quarto. Ela voltou com algo que ela jogou no colo de Draco. Era um dos famosos suéteres da senhora Weasley.

- Rosa! - ele exclamou, mal-humorado – Eu detesto rosa!

- Boa noite, Malfoy. - disse Gina, fechando a porta.


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Gina e Rony já estavam acordados quando Harry desceu para o café na manhã seguinte. Ele estava vestindo um dos suéteres verdes que a Sra. Weasley lhe dera anos atrás. O agasalho estava muito pequeno nele, agora, e as mangas não chegavam nem até seus magros punhos. Ele sentou-se numa cadeira ao lado de Gina, pegou uma colher, e pegou um pouco, indiferentemente, do mingau de aveia que ela passou para ele. Rony olhou para eles seriamente, e mexeu a cabeça; ele estava ocupado lendo o Profeta Diário.
- Alguma notícia? - perguntou Harry.

- Os dementadores ainda estão sumidos - respondeu Rony, com a boca cheia de torrada – Há alguns relatos deles terem sido vistos perto de uma cidade de bruxos em direção ao sul, mas não foi dado crédito a isso... - ele bufou – pelo Percy. É sempre o Percy, não é?

Gina deu de ombros, e falou:

- Imagine ver dementadores em sua própria cidade. Em seu próprio jardim...

Todos eles olharam, aflitos, pela janela.

- Gina, não. - disse Rony, irritado.

Mas Gina já havia pensado em outra coisa sobre a qual ela queria falar:

- Harry, tem algo errado com o Malfoy.

Rony e Harry olharam para ela, curiosos. Ela estava passando manteiga em uma torrada, e parecia determinada.

- Algo além do que está normalmente errado com ele? - perguntou Harry.

- Sim. - respondeu Gina, em tom firme – Ontem à noite, ele estava berrando tão alto enquanto dormia, que me acordou. Eu nunca havia ouvido alguém berrar desse modo, antes. Então, quando eu entrei no quarto dele, ele estava caído no chão, e havia sangue pela camisa dele toda.

- Ele estava sangrando? - perguntou Harry.

- Você entrou no quarto dele? - perguntou Rony, subitamente alarmado.

- Sim e sim. - respondeu Gina – Mas a parte de ter ido ao quarto dele não é a parte importante da história. A gritaria e o sangue, sim. - ela deu de ombros – Eu sei como Magia Negra é. - ela disse, em tom mais baixo – E estava por ele todo.

- Você ficou no quarto com ele? - perguntou Rony.

- Rony você está ouvindo o que eu estou falando? - perguntou Gina rispidamente.

- Você ficou, não ficou? - perguntou Rony novamente, horrorizado – Gina! O Malfoy?

- Eu meio que gosto da sonoridade disso. - disse sua irmã, com um sorriso sarcástico – Gina Malfoy.

- Gina! - crepitou Rony – Eu quero que você me diga nesse exato momento, me prometa, que você não irá... não iria... não com o Malfoy!

Gina deu uma mordida em sua torrada, deu de ombros, e disse:

- Nosso amor é proibido.

- Gina, pare de irritar o Rony. - disse Harry, que na verdade estava contendo um riso – Rony, pare de ser um chato. Tenho certeza de que a Gina não ficou sozinha no quarto com o Malfoy mais do que o necessário. Gina, o que você quis dizer quando falou que havia Magia Negra por ele todo?

Gina franziu as sobrancelhas, e respondeu:

- É só uma sensação. Desde que estivemos na Câmara Secreta, eu sinto essa sensação fria quando estou perto de Magia Negra. Eu senti isso na Hermione no Beco Diagonal, logo depois que ela viu o Vítor. E eu sinto isso com o Malfoy, também.

- Bem, isso não é tão surpreendente. - disse Rony – Quer dizer, ele esteve rodeado de Magia Negra a vida inteira. Ele é uma Travessa do Tranco ambulante!

- Talvez... - disse Harry, que estava mordendo a junta de um de seus dedos, algo que ele fazia quando estava pensativo.

- Você acha que ele é perigoso? - perguntou Rony, soando esperançoso.

Um tanto de má-vontade, Harry pensou na espada, o Talismã do Mais Puro Mal, e na onda de frio que veio da mão de Draco quando ele fez o feitiço Veritas no Krum.

- Eu acho que não. - respondeu Harry.

- Ainda assim, - falou Rony, pegando o prato de torradas – há a definitiva possibilidade dele ser um perverso e sangue-frio...- Gina chiou, Rony olhou para cima e viu Draco na porta, vestindo uma das suéteres felpudas rosa, e segurando um livro verde bem grosso – Oh. Hã... torrada? - disse Rony, pouco convincente, oferecendo o prato a Draco.

- Eu já fui chamado por uma porção de nomes, na minha vida. - disse Draco olhando para o prato – Mas nunca fui chamado de torrada perversa e sangue-frio.

Rony teve a graça de ficar envergonhado.

- Me desculpe, Malfoy. – disse ele. - Mas, a Gina...

- Te contou sobre ontem à noite. - completou Draco, olhando para Gina com uma certa frieza.

Gina retribuiu o olhar. Ele estava certo sobre o rosa, pensou Gina. Não era cor apropriada para ele. Não combinava com sua pele clara e cabelos louros, fazendo-o parecer nada mais que um bolo de aniversário rosa congelado.

- Eu tive um pesadelo. - ele continuou – E daí?

- Eu tenho pesadelos o tempo todo. - disse Harry – Mas eu geralmente não acordo coberto por sangue.

- Coberto é um pouco forte. - falou Draco, sentando-se à mesa – O mais apropriado seria... manchado.

- Certo. - disse Rony, com forte sarcasmo – Deixe pra lá então, não é estranho de modo algum.

- Exatamente. - disse Draco, ignorando a expressão de imensa irritação por parte de Rony – Potter, eu tive uma idéia. - ele fez um gesto para Rony, que parecia estar prestes a falar alguma coisa – E sem comentários irônicos, por favor.

- Certo. - concordou Harry – O que é?

- O Feitiço Essencial. - disse Draco – O meu Feitiço Essencial. Nunca foi testado, mas teoricamente, onde quer que eu esteja no mundo, Hermione pode me achar usando isso. Eu sei que ela podia me achar em qualquer lugar que eu estivesse, lá em Hogwarts, ela fez isso várias vezes.

- Mas isso só funciona quando é ela quem quer te achar. - disse Harry – E não o contrário.

- Quando só há um Feitiço Essencial, é verdade. - disse Draco. Ele ergueu o livro verde que estava segurando, o objeto que atraíra para si na noite anterior. Era a cópia de Elaborações Essenciais de Bruxaria de seu pai - Mas se fizermos um outro feitiço, os dois podem se achar.

Harry, Rony e Gina olharam para ele.

- Outro Feitiço Essencial? - perguntou Harry fracamente – Mas ele não é extremamente complicado e perigoso?

- Não tanto. - respondeu Draco – Eu estou um pouco velho demais para que o Feitiço tenha tanto efeito, mas terá efeito o bastante para isso. E eu vou dar um pedaço de mim de boa vontade, e isso irá ajudar.

- Isso significa que teremos que arrancar um dente seu? - perguntou Rony, interessado.

- Eu estava pensando em uma mecha de cabelo. - retrucou Draco – E eu queria ver você tentar arrancar um dente meu, Weasley.

- Hem-hem! - exclamou Harry – Temos o que precisamos para o feitiço?

- Não tudo. - respondeu Draco – Ainda não. Nós precisamos de um pouco de erva de bagunceiro, um pouco de veneno de lobo, e de um Orbe de Thessala.

- Um o que de quê? - perguntou Gina.

- Um Orbe de Thessala. - repetiu Draco – É usado em magias de Transfiguração e Transformação. Tem a ver com transferência de alma. Não é difícil de usar, e sim, difícil de passar. Eu acho que meu pai deva ter um, mas eu não tenho a menor idéia de onde ele o guardou.

- Então onde vamos achar um? - perguntou Harry – É o tipo da coisa que se pode simplesmente comprar no Beco Diagonal?

- Na verdade, não. - respondeu Draco – Mas é o tipo da coisa que o nosso professor de Transformações deve ter em sua sala.

- Lupin. - disse Harry – Ele jamais nos emprestaria algo assim.

- Verdade. - concordou Draco – E é por isso que teremos que invadir e pegar escondido. Teremos que voltar pra escola de qualquer jeito, e enquanto estivermos lá...

Harry piscou.

- Temos que voltar?

- Claro que temos! - disse Draco, como se isso fosse óbvio – Precisamos pegar a minha espada!

Harry empurrou sua cadeira de perto da mesa com um barulho.

- De jeito nenhum! - ele disse terminantemente – Nós não vamos trazer aquela coisa conosco!

Os olhos acinzentados de Draco deixaram escapar faíscas raivosas.

- Por que não?

- Porque - disse Harry, como se isso fosse óbvio – ela é maligna. É uma coisa maligna e eu não a quero perto de mim.

- É uma arma muito poderosa. - disse Draco – Ela tem poderes que sequer podemos imaginar.

- Exatamente. - concordou Harry – Porque são muito, muito terríveis.

- Você não sabe se são mesmo. - disse Draco, firme – Nem o Lupin sabe. Ele disse que precisava terminar de testá-la. É uma lâmina de Magid, e eu sou um Magid e essa espada pertenceu aos meus ancestrais, está na minha família há gerações, e, portanto, eu a quero!

Harry subitamente ouviu a voz de Hermione na sua cabeça, lembrando-se de algo que ela lhe disse há duas semanas... fazia só duas semanas? Dumbledore não te contou que as pessoas querem o que é pior para elas?

Sim, Harry havia respondido. Mas não todas as pessoas.

- Malfoy, - ele começou a falar, mas Draco havia levantado-se de sua mesa e estava olhando para todos, enfurecido.

– Olhe, - ele disse. - eu não sei com o quê exatamente estamos lidando, e nem você sabe disso. Mas se o que já vimos até agora serve como indicação, estamos lidando com Magia Negra muito, muito poderosa. Essa espada é um presente, Potter. Ela pode matar qualquer coisa. O próprio Lord das Trevas poderia ser destruído por ela. O Lupin nos disse isso.

Agora Harry estava bravo.

- Você não se lembra do livro? – ele disse rispidamente – Você pode usá-la, mas há um preço a ser pago!

- Eu sou um Malfoy,- ele disse - Nós não perguntamos preços. - ele sorriu pouco alegre – Eu posso pagar.

- Eu não acho que você possa. – disse Harry.

Gina olhou de um para o outro. Draco e Harry estavam se encarando; Draco com o rosto avermelhado nas bochechas, e Harry muito pálido.

- E se não for você quem vai pagar o preço, Malfoy? – perguntou Harry num tom fatal – E se acaba sendo que outra pessoa tem que pagar por isso? E se essa pessoa acaba sendo... – ele quase disse “Hermione”, mas ele não queria ser como Draco, ele não queria usar Hermione como uma vantagem contra o seu oponente - ...eu?

Os olhos de Draco brilhavam.

- Vou arriscar a chance. – disse ele.

Dessa vez, foi o Rony quem falou:

- Você é um patife, Malfoy.

Draco não olhou para ele; ainda estava olhando para Harry.

- E se ela estiver em perigo e a espada for nossa única chance de salvá-la? – ele perguntou – Você está disposto a correr o risco de deixar algo acontecer a ela sendo que você poderia ter evitado isso se não fosse tão nojentinho?

As mãos de Harry estavam apertando a mesa com força, e quando ele falou, foi com esforço:

- Nojentinho? – Harry repetiu gélido - Espero que você se lembre de me dizer isso quando você acabar por deixar um de nós morrer.

Por um momento, ninguém falou nada. Por fim, Draco falou, sem no entanto olhar para Harry:

- Se você não confia em mim, talvez prefira continuar com isso sem mim.

E o tom que ele disse isso tinha ao mesmo tempo uma nota de melancolia, e outra de raiva. Gina duvidava que ele soubesse que soou sequer um pouquinho melancólico; se ele soubesse, provavelmente teria permanecido calado.

- Eu não confio em você, Malfoy. – disse Harry num tom baixo – Mas eu também não quero ir sem você.

Os ombros de Draco caíram um pouco em alívio.

Harry olhou para sua mão com a cicatriz, depois voltou para Draco

- Se o que fizemos ao Krum é algum indicador, os poderes que temos juntos são muito maiores que os poderes que temos sozinhos. Talvez você esteja certo sobre ter todas os recursos à mão.

- Eu estou certo. – disse Draco, embora também parecesse aliviado. A atmosfera de tensão estava desaparecendo tão rápido quanto aparecera – Você vai ver. – ele disse a Harry – Nós vamos para a escola pegar a espada e então, iremos em busca da Hermione.

Ele se levantou e falou com uma determinação um tanto fria:

- Eu não me importo com o que eu precisar fazer; não ligo se for o próprio Lord das Trevas quem estiver com ela... se ele fez qualquer coisa para machucá-la, vou transforma-lo em pó, tão fino que vai servir para fazer sopa instantânea.

Draco parou. Harry, Gina e Rony estavam olhando para ele com expressões peculiares.

- OK, - ele continuou – Isso soou muito nojento, não foi?

Harry fez que sim com a cabeça.

- Sopa não é exatamente assustador, Malfoy.

- Fora isso, você foi bastante convincente – afirmou Gina, encorajadora.

- Eu ainda acho que estou certo. – disse Draco, embora boa parte da força tivesse saído de sua expressão.

- E eu ainda acho que você está maluco. – disse Harry – E talvez até maligno, mas você está obviamente muito determinado, e eu meio que admiro isso. – ele sorriu pela primeira vez no dia – Isso combina com você, Malfoy.

- Combina, mesmo. – concordou Gina inesperadamente – Mas definitivamente o suéter não combina.


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- Olha, Rony! – exclamou Gina, sorrindo – Essência de Malfoy. É magenta.
Ela cutucou a poção que estava fervendo no caldeirão com sua varinha e olhou para Rony. Ele estava sentado no canto da cama de Harry, amassando casca de besouro, não-muito-industrialmente, com um pilão e buscando forças para não bocejar. Eles tinham ido direto do café da manhã para suas vassouras, e haviam chegado à escola de Magids muito cedo. Todas as quatro vassouras estavam agora apoiadas contra a parede perto da cama de Harry.

Os próprios Harry e Draco, usando a capa de invisibilidade do pai de Harry, já haviam descido para a sala do Lupin. Gina pensou em perguntar o que eles fariam se o Lupin estivesse na sua sala, mas mudou de idéia. Isso, ela imaginou, era problema deles. Fazer a poção, por outro lado, era problema dela. Ela sempre foi boa nessa matéria na escola, e essa poção era surpreendentemente simples.

A parte difícil viria mais tarde, dado que o processo do Feitiço Essencial era uma combinação complexa de uma Poção, um Feitiço e uma Transfiguração. No momento, a poção, que era o primeiro passo, ainda precisava de vários ingredientes importantes, embora já tivesse um pouco do sangue de Draco nela, e o feitiço seria feito com o cabelo dele (ele havia dado a ela um cacho, tão belo e platinado que pouco parecia cabelo humano).

- Isso não é magenta – afirmou Rony, olhando para a poção e bocejando novamente – isso é fúcsia. E muito feio.

- Rony, você tem que amassar os besouros, não só matá-los.

- Não me chateie! – reclamou Rony – Eu não posso deixar de pensar que isso tudo é pro bem do Malfoy, e, não importa o que o Harry diga, eu não vou com ao cara desse cara.

Gina respirou fundo e disse:

- É pelo bem da Hermione, Rony. Por que você não me deixa amassar os besouros um pouco e você fica mexendo a poção no meu lugar? Você parece estar exausto.

Rony concordou amigavelmente, e eles trocaram de lugar assim que a porta do quarto se abriu, e Harry e Draco entraram, irritadíssimos.

- Ele está lá! – exclamou Harry, jogando os braços para o ar, chateado – Por que ele está lá? Ele não deveria estar dando aula?

- Patife! – xingou Rony – O que ele pensa que está fazendo dentro da própria sala?

Harry estava pensativo, mordiscando a dobra de seu dedo.

- Nós precisamos fazê-lo sair de lá. – disse ele – Mas como? Se um de nós fizer isso, ele vai achar que só queremos entrar lá escondidos para pegar a espada! E vai estar certo.

Draco parou de andar compassadamente e falou:

- Estou tendo uma idéia! – ele disse. - Ah, agora estou tendo mais outra!

Rony virou-se para encará-lo curioso, e acabou por cutucar um canto do caldeirão, deixando cair um pouco do conteúdo no chão.

- Agora estou simplesmente aborrecido! – reclamou Draco – Weasley, tire suas mãos retardadas dessa poção! Essa é a minha alma que você está bagunçando! É a essência da minha vida, é a minha existência, é...

- Um fabuloso novo produto de limpeza! – anunciou Rony, olhando para baixo.Onde a a poção havia caído, havia agora um buraco no tapete e mais um pouco além, no piso de pedra – Eu nunca vi nada assim, é completamente tóxico.

Todos olharam curiosos.

- Eu me recuso a considerar isso um reflexo da minha personalidade! – exclamou Draco, olhando para o tapete carbonizado.

- Esse é a seu privilégio. – disse Harry – E qual é a sua idéia?

Draco olhou para ele, demasiado divertido, e falou:

- Você vai descobrir, Potter. – ele andou até a porta – Espere aí, já volto.


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Fleur tinha um quarto só para ela na escola, e que no momento estava cheio de pequeníssimas e delicadíssimas borboletas que ela havia conjurado para se divertir. Logo que Draco entrou, quinze borboletinhas azuis pousaram em seu cabelo, e outras várias cor-de-rosa, em seu ombro.
- Oh! – exclamou Fleur, olhando para ele – Adorável!

Com esforço, Draco impediu a si mesmo de dizer Tire essas malditas borboletas de cima de mim!

- Eu preciso que você me faça um favor. – ele disse, por fim, olhando com seriedade para Fleur, que estava agora sentada em sua cama, com as pernas esticadas na frente de si, tocando cada uma de suas unhas do pé com sua varinha, colorindo-as com vários tons de rosa – Eu preciso que você faça o Professor Lupin sair da sala dele. Só por uns minutos. – ele completou, ao ver a expressão duvidosa que estava estampada no rosto dela – Vamos lá, eu achei que você gostasse dele!

- Eu gostava. – disse Fleur, deixando sua unha do dedão do pé esquerdo violeta – Mas eu mudei de idéia. Ele é bem bonitão, mas é um pouco... enfadonho demais pro meu gosto.

Draco mordeu o lábio, em frustração.

- Fleur, o cara é um lobisomem. Como ele pode ser enfadonho?

- Ele é chato – disse ela firmemente - Ele é chato e desinteressado e inglês. Diferente de você. – ela completou rapidamente – Você é um garoto inglês com instintos franceses. – ela sorriu – e tem sangue veela. Você não é chato. Mas o Lupin me enche de tédio.

- Esse é só o lado professor dele. - disse Draco, torcendo para parecer saber sobre o que estava dizendo – Enfadonho de dia, talvez, mas de noite ele é só bebidas, prostitutas e confusão.

Fleur torceu seu narizinho.

- Eu não acredito em você. – ela disse.

- Qual é, Fleur! Faça isso por mim! – ele pediu, tremendo por dentro. Só Deus sabe o que ela ia querer em troca – Por favor!

Ela o examinou dos pés a cabeça, levantou-se, sacudindo seus longos cabelos platinados.

- Está bem. – ela concordou, um pouco aborrecida – Vou fazer isso por você. Mas você... – ela deu um tapinha no ombro dele, e talvez acabou deixando sua mão lá mais tempo do que o necessário – Você fica me devendo essa, Draco Malfoy!


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- Você tem certeza de que acha isso uma boa idéia? – perguntou Harry, suspeito.
Draco se mexeu inconfortavelmente sob a capa de invisibilidade. Com a largura que ela tinha, foi bem difícil manter os quatro cobertos durante a espera no corredor.

- Por que não seria uma boa idéia? – replicou Draco.

- Bem, - disse Harry – ou não dá certo, o que no caso teremos problemas, ou dá certo e nesse caso...

- E nesse caso Lupin ganha um pouco de ação na vida dele. – disse Draco. – Nós estamos fazendo um favor a ele, na verdade. Está tudo bem.

- Não está NADA certo! – disse Rony num tom desengonçado.

- Por que não?

- Porque ele é velho pra cacete e isso é vulgar! – respondeu Rony, firmemente.

- Ele não é tão velho. – replicou Gina.

A capa se mexeu quando Harry, Rony e Draco tentaram se virar para olhar para Gina, antes de se darem conta de que isso era impossível. Harry tinha quase certeza, de todo modo, pelo tom de voz dela, que ela estava sorrindo.

- Ele não é tão velho. – ela insistiu.

- Gina! – advertiu Rony.

- Pra dizer a verdade, ele é até bem atraente. – disse ela.

- Será que poderíamos voltar a falar sobre dementadores no nosso quintal? – sugeriu Rony – Porque esse papo está me enchendo.

Nesse exato momento, Fleur apareceu num canto do corredor. Ela havia vestido vestes justas e prateadas, e deu uma piscadela na direção geral deles quando parou em frente à porta da sala de Lupin e bateu. Eles a observavam quando ela abriu a porta meteu a cabeça para dentro do aposento. O que quer que ela tenha dito, não foi escutado por eles, mas em pouco tempo, Lupin foi até a porta, tão distraído quanto levemente surpreso.

- Por que não podemos falar do seu dever de casa no meu escritório? – ele perguntou, pondo os pés para fora da sala e fechando a porta logo atrás de si.

- É que é muito mais agradável conversarmos durante uma caminhada. – respondeu Fleur, segurando o braço dele.

- Se você está dizendo... – concordou Lupin, embora sua voz indicasse extrema desconfiança.

- Ninguém nunca te disse que você é um excelente professor? – perguntou Fleur, puxando Lupin pelo braço que agarrava até o final do corredor.

- Sim, sim, me dizem isso sempre. – respondeu ele ao passar por Rony, Draco, Harry e Gina sem tomar ciência disso.

- E também já te disseram que além de excelente professor, você também é MUITO atraente?

- Bem, Dumbledore me disse uma vez, mas foi depois de uma festa de ano novo e ele estava levemente embriagado com cerveja amanteigada.

E eles desapareceram.

Embora não pudesse ver os rostos em volta dele, Harry podia sentir os outros três balançando de rir. Até Rony estava rindo. Era como ser surpreendido por um mini-terremoto.

- Shhh! – ele sibilou, tentando segurar o próprio riso – Shhh... esperem até entrarmos na sala...

Logo que entrou na sala, Harry tirou a capa de invisibilidade de cima de todos, permitindo que Draco, que estava praticamente chorando de tanto rir, desabasse na mesa.

- Eu quase amo a Fleur! – ele disse por fim, recompondo-se – E também já te disseram que além de excelente professor, você também é MUITO atraente?

Gina estava balançando sua cabeça.

- O pobre coitado não merecia esse tipo de abuso.

- Foi por uma boa causa, Gina. – disse Rony, rindo. Qualquer vestígio de ciúmes por Fleur parecia ter desaparecido – Ei, Malfoy! – ele continuou – O que você está fazendo?

- Pegando os nossos ingredientes. – respondeu Draco, que estava agora agachado no chão perto da estante de livros de Lupin – Está aqui... peguei! - ele pegou um pequeno frasco azul, tirou a tampa, cheirou o líquido e fez uma careta – Veneno de Lobo. – ele entregou o objeto para Harry, que o olhou de esguelha e passou para Gina – Erva de Bagunceiro, nós temos lá em cima... e aqui está... o Orbe de Thessala.

- Isso é só um globo de vidro, daqueles que cai neve de mentira, Malfoy. – disse Harry – Boa tentativa.

A ninfa do globo piscou para Draco quando ele a pôs no chão.

- Ops, desculpa. – disse ele, e continuou a procurar – Muito bem – ele disse, por fim – Achei.

E ele entregou algo a Harry, algo que parecia uma bola de tênis feita de vidro escuro.

- Tem certeza? – perguntou Harry, olhando para Draco com severidade.

- Se isso não for um Orbe de Thessala, sou eu quem vai explodir. – respondeu Draco – Sim, eu tenho certeza.

- Explodir? – repetiu Gina, que estava muito pálida quando Harry lhe entregou o Orbe.

Draco fez um aceno.

- Quase nunca acontece. – disse ele – Termine logo e faça o feitiço direito e todos nós estaremos bem.

Gina olhou para Rony, que estava igualmente nervoso.

- Eu não sei...

- Faça! – pediu Draco, que estava procurando algo embaixo da mesa de Lupin – E faça logo, precisamos sair daqui o mais rápido possível. Por que vocês não voltam para o nosso quarto e nos encontramos lá em alguns minutos? Levem a capa da invisibilidade. – ele olhou por cima da mesa; viu os três outros se preparando para sair, e adicionou apressadamente – Potter, você fica aqui comigo.

- Está bem. – disse Harry, parando de andar e voltando à sala.

Rony e Gina viraram-se para olhar para ele; ele deu de ombros, e eles puseram a capa sobre si próprios, desaparecendo de vista.

A porta da sala abriu-se e fechou logo atrás deles. Harry virou-se para Draco, que estava levantando-se de debaixo da mesa de Lupin, com a caixa de Adamantina que continha a espada de Slytherin. Havia um brilho em seus olhos, e Harry sentiu uma pontada de apreensão.

- Vamos lá, Potter. – disse Draco – Me ajude a abrir essa coisa.


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- Eu achei que a Marca Negra fosse um símbolo do Voldemort. – disse Hermione, olhando para Rabicho.
Ela achou que não havia motivo para não dizer o nome de Voldemort, visto que ela havia sido seqüestrada pelo único bruxo na historia que tinha conseguido ser ainda pior que o Lord das Trevas.

Slytherin, que parecia não estar com nenhuma varinha (claro que não, ela pensou, ele é um Magid, assim como o Harry), havia ligado a mão dela à de Rabicho, e ordenou que ambos fossem atrás dele para fora do quarto. Estavam todos andando por um corredor de pedra, cujo destino Hermione podia somente imaginar. Slytherin seguia na frente e ela e Rabicho atrás dele.

- Voldemort não inventou a Marca Negra. – disse Rabicho, presunçoso – Ela pertenceu primeiramente a Slytherin. Quase tudo que o Lord das Trevas fez ele copiou de Slytherin.

- Você é tremendamente presunçoso. – disse Hermione – Você não está preocupado que Voldemort fique bravo com você por tê-lo traído?

- Não. – respondeu Rabicho. Seu sorriso havia se estendido a um olhar medonho e nada atraente – Slytherin é duas vezes mais poderoso que Voldemort era, até na sua juventude. – disse ele, e riu. - A história se repete, se você ainda não reparou. Não há motivos para lutar contra isso, já estava previsto. Dumbledore sabe disso. Por que outro motivo você acha que ele...

Ele parou de falar quando Salazar Slytherin parou de andar e virou-se para eles. Seu rosto esquelético não tinha nenhuma expressão. Eles estavam no final do corredor, que dava numa sala circular cheia de tapeçarias.

- Rabicho – disse Slytherin, cuja voz de zumbido ecoava pelas paredes de pedra – Por favor, nos espere longe do Saguão de Entrada. Eu quero mostrar algo à minha convidada. – ele acenou para Hermione, e as cordas que a uniam a Rabicho desapareceram – Venha cá. – ele disse a ela, sendo prontamente obedecido por ela, que mal estava ciente de Rabicho saindo de perto.

- Eu queria que você visse isso. – disse Slytherin apontando para a mais larga das tapeçarias, que estava pendurada na parede mais distante – Talvez isso te ajude a entender.

A tapeçaria mostrava quatro figuras juntas sob uma passagem em arco. Eles eram jovens; tinham lá pelos seus vinte anos, no máximo, e encaravam Hermione, sorridentes, como se estivessem posando para uma foto. Ela reconheceu o homem da esquerda imediatamente; havia um quadro dele no Salão Comunal da Grifinória: alto e belo, com cabelos e barba negra, vestido em vermelho e dourado. Godric Gryffindor, parecendo muito com Harry.

Depois, havia uma mulher rechonchuda e ruiva, que parecia amigável e bondosa e estava vestida de amarelo. Ela a lembrava da Sra Weasley. Era obviamente Helga Hufflepuff.

Depois, havia outro homem: ele não era tão alto quanto Godric, e parecia estar bastante ciente disso. Ele também tinha cabelos negros, e um olhar carrancudo estava estampado em seu rosto. Se ele não estivesse franzindo a testa, ele também pareceria bonito. Ele vestia verde e prateado, e serpentes esculpidas em prata envolviam seus braços. Seus olhos eram prateados também. Ele era aquele que Rabicho havia chamado de o melhor dos Quatro Grandes de Hogwarts, mas não parecia estar ciente da própria grandeza, posto que parecia estar desesperadamente infeliz.

Mas era a quarta pessoa na tapeçaria que havia chamado a atenção de Hermione. Ela estava entre Slytherin e Gryffindor, e vestia vestes azuis escuras. Havia vários livros em suas mãos, e seus cabelos extremamente encaracolados estavam arrumados em tranças. Havia uma mancha de tinta em sua bochecha, mas isso não parecia um erro na tapeçaria. Ela era bonita, embora não extraordinariamente, então, de certo modo, parecia bastante... viva. Ela se parece comigo? Hermione perguntou-se mentalmente. Um pouquinho, ela concedeu. Certamente, não havia grandes semelhanças entre as duas. Os olhos de Rowena Ravenclaw eram azuis. Mas tinha alguma coisa. Definitivamente, havia alguma coisa.

Obviamente, isso não deixou Salazar Slytherin – ou o que restava dele – nem um pouco menos louco.

Ele virou-se para ela, e ela viu as tatuagens da Marca Negra – lívidas e terríveis – sobre seu rosto descarnado. Ela quis estremecer, mas não era o mesmo estremecimento que Voldemort havia causado nela. Salazar Slytherin era completamente horrendo, e por vários motivos, tinha sido mau além do acreditável, e não havia dúvidas de que ele a aterrorizava. Ainda assim, Hermione percebeu que sentia, de certo modo... pena dele.

Não muita. Só um pouquinho.

- Agora – disse ele – Quero lhe contar uma história.


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Draco tirou seu cabelo suado da frente de seus olhos e praguejou sob sua respiração. A caixa de Adamantina não havia se rendido a nenhum de seus feitiços. Draco havia tentado Feitiços de Arrombamento, Feitiços de Amassamento, e chegou até mesmo a tentar executar um Feitiço de Quebramento com ele e Harry segurando a varinha ao mesmo tempo. E nada. Draco quis até tentar um Feitiço Furacão, mas Harry disse que esse tipo de feitiço não podia ser controlado muito bem, e que acabaria por atirar os dois para fora da janela.
Draco acabou desistindo de tentar abrir a caixa com mágica, e havia começado a tentar quebrá-la pela metade, jogando-a contra a parede de pedra. Isso não fez nada além de lhe dar uma dorzinha aguda nos punhos. Furioso, ele jogou a caixa no chão e começou a pular sobre ela, com os dois pés e praguejando.

Quando ele olhou, por fim, para Harry, este estava sorrindo para ele.

- O que foi? – perguntou Draco, irritado.

- Você está ridículo. – disse Harry, balançando a cabeça.

Draco parou, pensativo.

- Estou?

- Não tem problema. – garantiu Harry – Poucas coisas me fazem rir nos últimos dias.

Draco parou de pular e olhou para Harry com uma expressão peculiar.

- Eu te faço rir?

Harry deu de ombros.

- Não é para ficar todo animadinho com isso, não, Malfoy.

- Eu só... – Draco suspirou – me sinto culpado.

- Culpado? – indagou Harry – Por quê?

Draco saiu de cima da caixa, abaixou-se para pegá-la, e aproximou-se de Harry, parecendo estar bastante aflito.

- Potter – disse ele – eu tenho que te contar uma coisa.

Harry olhou para ele, surpreso. Draco estava segurando a caixa junto ao peito como se ela fosse um bebê, e seus olhos estavam arregalados e aflitos. Harry jamais havia visto, em toda a sua vida, uma expressão como essa estampada no rosto de Draco. Ele parecia ter engolido uma unha.

- O...o quê é que você tem pra me contar, Malfoy? – ele gaguejou – Você está bem? Está morrendo? O quê?

- É sobre Hermione. – respondeu Draco – É que... você tem sido tão... bem, confiante a respeito de Hermione e eu sermos só amigos, e eu comecei a me sentir culpado. Quer dizer, não foi nada muito importante, foi só uma vez...

Harry arregalou os olhos e quase gritou:

- Uma vez só O QUÊ?

Draco parecia estar fortemente envergonhado.

- Por favor, Potter, não me faça dizer com todas as palavras.

- Não. – disse Harry friamente – Diga com todas as palavras! Desembuche, Malfoy! Eu não estou entendendo.

- Olha, – disse Draco – foi só uma vez, eu acho que ela se sentiu muito mal depois. Você sabe, isso não significa que ela não te ame.

- Se você está querendo dizer o que estou pensando. – disse Harry rapidamente – Eu não acredito em você. – ele deu de ombros. – Não mesmo.

- Não? – perguntou Draco, sorrindo felinamente – Então por que o seu pequeno detector de mentiras não está apitando? O seu... Bisbilhoscópio?

Harry olhou para o próprio corpo violentamente. Era verdade. O Bisbilhoscópio estava completamente silencioso.

- Eu sinto muito, Potter. – disse Draco – Essas coisas acontecem.

- Você sente muito? – perguntou Harry numa voz reprimida – Sente muito? Isso é tudo que você tem pra dizer? Por que... por que nenhum de vocês me contou antes?

Draco deu de ombros.

- Nós não sabíamos como te contar isso. – ele disse. - Hermione acabou decidindo que era melhor que você nunca soubesse de nada. Talvez ela estivesse certa. – ele disse, olhando para Harry, desconfiado – Você não parece estar aceitando isso nada bem...

Manchas negras estavam dançando na vista de Harry. Ele se lembrava de ter estado com tanta raiva poucas vezes em toda a sua vida, geralmente com Voldemort. Draco está mentindo, disse Harry a si mesmo, mas então, por que o Bisbilhoscópio não apitou? – Eu sempre achei que fosse ser o primeiro – o único – isso explica porque ela está escrevendo para ele durante esse tempo todo, uma carta por dia, eu sabia que isso não era normal...

- Ei! – chamou Draco, cuja voz parecia vir de muito longe – Lembre-se, Potter! Controle, controle, controle...

BANG!

O globo de vidro na mesa explodiu como uma bomba, espalhando água e neve artificial pelos papéis de Lupin. A ninfa do globo gritou. Draco sorriu quando a janela se partiu, e quando a taça de cima da mesa virou caco. Fique bem bravo, ele rezou, Fique bravo o suficiente...

CRACK!

E Draco esquivou sua cabeça quando a caixa de Adamantina que estava em suas mãos se partiu ao meio fazendo um barulho que parecia de ossos se rompendo. Deu certo! Ele soltou a caixa e a espada que havia nela, deixando os fragmentos de Adamantina caírem no chão como uma chuva de pedras, e agarrou a parte frontal da camisa de Harry.

- Eu estava mentindo! – ele berrou, em meio ao som de vidros se quebrando e ventos uivantes – Eu estava mentindo!

Harry olhou para ele selvagemente.

- Você estava o quê?

- Eu estava mentindo! Claro que eu estava mentindo! Agora, pare!

- Você está só com medo. – disse Harry, apertando os olhos quando um peso de papel voou pela sala e bateu numa parede perto da cabeça de Draco.

Draco teve a leve impressão de que Harry estava gostando de certo modo do estrago que estava causando.

- Não seja idiota! – gritou Draco – Você não acha que se eu tivesse dormido com a Hermione, eu estaria contando vantagem há muito tempo? E quando nós tivemos tempo para isso? Vocês dois estão sempre grudados! Ponha a cabeça no lugar, Potter!

- E o meu Bisbilhoscópio? – gritou Harry teimosamente – Por que ele não apitou, então?

- Por que ele está na sua jaqueta, lá em cima! – berrou Draco – Mongol!

Houve um breve silêncio, quebrado somente pelo leve tinido dos últimos cacos de vidro caindo no chão, e pela furiosa vozinha da ninfa do globo de vidro, que estava xingando os dois. Harry não escutou nada; ele estava olhando para Draco, chocado.

- Mas por quê...?

Ele seguiu o olhar de Draco até o chão da sala de Lupin, agora coberto por água, pedaços de papel e restos da caixa quebrada. A espada estava no pé de Draco; brilhante e prateada como na noite em que a acharam. Draco agachou-se e a pegou com sua mão esquerda, dobrando seus dedos em volta do cabo. Ele a ergueu, mostrando-a a Harry, que a fitou.

- Oh! – exclamou Harry, assim que lhe caiu a ficha – Oh! – ele olhou para Draco, aborrecido – Seu babaca infeliz! – ele exclamou, mas sem muita energia em seu tom de voz – Você não podia ter arranjado outro jeito?

- Me desculpe. – disse Draco, num tom que sugeria que ele não estava nada, nada arrependido – Você disse antes que devíamos usar qualquer recurso que estivesse à mão.

Harry balançou a cabeça.

- Detesto facilitar as coisas para você, Malfoy. Detesto mesmo!

- Fácil como tirar doce de criança! – exclamou Draco, sorrindo, e que, em seguida, olhou para suas mãos, que estavam sangrando, pois foram atingidas por cacos de Adamantina – Bem, - ele corrigiu-se – Tão fácil como tirar doce de uma criança muito grande e muito brava.

- Eu estou muito cansado para bater em você, Malfoy. – disse Harry calmamente – Mas de resto, esteja certo de que você vai se ver comigo.

Draco não sabia se ele estava brincando ou não.

- Pode deixar! – ele replicou – Agora, vamos embora, vamos sair daqui antes que o Lupin consiga se livrar da Fleur e volte. – ele deu de ombros – Ou pior, antes que eles voltem juntos.


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Quando eles voltaram para o quarto que dividiam, eles acharam Rony e Gina ajoelhados no chão perto do caldeirão. Gina estava cuidadosamente tirando alguma coisa lá de dentro. Ela virou-se ao ouvi-los entrar, e fez um gesto para que se aproximassem.
O Feitiço Essencial que ela havia feito não era nem de longe tão bonito ou tão mortal quanto o que havia sido feito por Lúcio Malfoy. Este era um pouco assimétrico, não era um círculo perfeito, parecia ter sido alongado em um dos cantos. Draco olhou para o objeto, desconfiado.

- Ainda não está pronto. – disse Gina – Toma! – ela entregou-o a Draco – Segure isso. Eu preciso fazer o resto do Feitiço.

Ele segurou o Feitiço Essencial em sua mão, enquanto ela apontava sua varinha para aquilo. Uma longa mecha de cabelos ruivos caiu sobre o rosto dela quando ela começou a falar, e ela a colocou atrás da orelha impacientemente.

- Ullus res muta. Anima irreti. Sanguinum ad vitrum transmuta!

(tradução do latim para o português: Transforme o objeto. Apanhe a alma. Transmute sangue em vidro!)

Houve um lampejo de luz, e o Feitiço sacudiu na mão de Draco.

- Está pronto. – anunciou Gina.

Draco levantou-se, olhando para o Feitiço Essencial, que, como o anterior, era transparente, sendo que este tinha um cacho de cabelos ao invés de um dente. Agora há dois objetos no mundo que podem me matar instantaneamente, ele pensou amargamente, Hermione tem o primeiro. Em quem mais eu confio tanto a ponto de dar esse aqui?

Ele podia sentir os olhos das outras três pessoas observando-o quando ele andou até a janela, segurando o Feitiço na sua frente, e parou lá, olhando para o que havia do lado de fora. Então, ele fechou seus olhos, deixando tudo passar, assim como ele havia aprendido quando criança, trancado no armário do seu quarto. Ele podia sentir o Feitiço palpitando em sua mão como um pequeno coração, e, embora soubesse que aquilo não era nada além da própria pulsação, ele concentrou-se nisso, segurando o Feitiço Essencial bem apertado... apertado.

Uma torre circular, circundada por árvores. Os muros são de pedra antiga, e negros em algumas partes, como se já tivessem sido queimados. Não haviam pássaros. Imagens passadas rápido: uma saleta sem nada além de um pouco de palha no chão, um homem cuja mão era feita de prata, um corredor cheio de tapeçarias, e Hermione, seus olhos castanhos cheios de angústia, olhando para ele.

Onde você está? Onde você está?

Ele abriu seus olhos, virou-se, e encontrou o olhar de Harry.

- Sul – disse Draco – Seguiremos ao sul.

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