A Penseira Perdida





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- CAPÍTULO SEIS –
A Penseira Perdida

- Moody! – exclamou a Sra. Weasley ansiosa. – Achei que nunca fosse chegar... Venha, venha. – disse a matrona muito afoita encaminhando Moody até o quarto onde a filha estava em repouso.

- Alastor, - começou Lupin lhe seguindo os calcanhares pela escada adornada com elfos decapitados – tomei a iniciativa de lançar alguns feitiços anti-dor, não sei se fiz bem...

- Tudo bem, Remo. – respondeu Alastor seco, mudando repentinamente de assunto – Onde está Potter?

- Aqui – respondeu Harry. Alastor abriu a boca, mas Harry completou. – Gina é mais importante agora. - interpelou Harry que estava sentado próximo à cama onde Gina jazia inconsciente. Os cabelos vermelhos contrastando com os lençóis brancos, no rosto a expressão da mais pura dor.

- É verdade Potter. – respondeu Moody em um rosnado rouco. – Caso não consigamos resolver este problema, iremos até o St. Mungus, tudo bem?

- Qualquer problema, Gina vai para Hogwarts. – sentenciou Harry – Madame Pomfrey é tão capaz quanto qualquer curandeiro do St. Mungus.

Moody passou alguns minutos sobre Gina, a varinha girando e balançando. Mantras e feitiços foram pronunciados, outros permaneceram no cerne da varinha e outros, entretanto, foram resultados de exclamações reverberantes que tremiam as vidraças das janelas. Luzes e fumaça circundaram Gina, e de vez em vez a garota suspirava profundamente fazendo com que a Sra. Weasley soluçasse nos braços do marido que chegara sorrateiro e não ousara interromper a concentração de Moody. Após uma hora e alguns minutos, Moody conjurou faixas de gaze branca e encantou-as para enrolarem-se no abdômen de Gina. A expressão de dor na face de Gina havia desaparecido, e agora descansava calmamente.

- Está pronto. – disse Alastor recolhendo a varinha para o bolso interno das vestes. A Sra. Weasley eu um soluço de felicidade e todos pareciam mais contentes agora. Harry levantou-se e indicou a porta para todos saírem, saindo e olhando uma última vez para Gina, Harry fechou a porta. – Harry – chamou Alastor enquanto o restante descia -, é necessário que ela fique em repouso por um longo tempo. Minhas magias podem não ser suficientes, entende?

- Concordo plenamente Alastor, e como disse, qualquer piora nós a levamos até Hogwarts.

- Harry não é apenas levar à Hogwarts... – disse Moody baixando a cabeça – Ela deve ficar aqui, por meses, não pode sumir por ai com vocês mais! – Alastor começou a descer um lance de escadas – Lamento Harry.

- Eu fico feliz! – concluiu sério. Moody parou estupefato e olhou para trás com as sobrancelhas erguidas – Sim! Prefiro que ela fique aqui, não há como delatarem a Ordem, afinal o segredo morreu com o Fiel não é mesmo? – Moody concordou com a cabeça.

Mas Harry - começou Moody com o olho azul elétrico girando loucamente -, e os outros dois? – perguntou assustado – Foram mortos? Porque eu lhe juro Harry, eu acabo com aquela raça nojenta, eu juro!

- Alastor...

- Eram seus amigos! Aqueles imundos patifes...

- Alastor! – pediu Harry e, em um espasmo de memória lembrou-se de quem outrora o havia recriminado o auror por falar demais no Torneio Tribruxo. – Se você tiver a paciência de esperar eu falar!

- Você se parece cada dia mais com seus pais. – lamentou Lupin saudoso sentando-se na mesa da cozinha.

- Você está falando igual Dumbledore, garoto! – exclamou Moody assustado. – Isso sim!

Molly e Artur riram, estavam menos apreensivos visto que a filha já não corria riscos iminentes. Harry sentou-se com os outros na cozinha para beberem algo enquanto conversavam. Harry contou que Hermione e Rony foram até o Ministério entregarem Nott ao Quartel General de Aurores. Moody achou perigoso dois adolescentes com um bruxo adulto, mas Molly interpôs e explicou que dera ao panaca a dose mais forte que possuía de Solução Paralisante, e Harry completou que Rony havia guardado a varinha de Nott na Sala de Música, ao lado da cozinha.

- Mesmo assim... – repreendeu Moody – As perguntas que farão...

- Moody! – queixou-se Molly – Harry pediu que Tonks viesse até aqui, na verdade eu enviei meu patrono à ela, e a garota pediu que encontrassem-se com ela na entrada de visitantes do Ministério da Magia.

- Pare! Pare! – pediu Moody levantando-se. – Vou atrás deles está ficando pior!

- Moody, eles foram com a minha Capa da Invisibilidade, ninguém poderá vê-los. E além do mais, Hermione e Rony são grandes bruxos! Nott mais se parece com um boneco do que com um ser humano.

Por fim Moody concordou em sentar-se e esperar pelo regresso dos dois que para disfarçarem, foram até o escritório de Tonks “visitar-lhe”. Harry começou a explicar que fora visitar o túmulo dos pais, e que a cidade estava vazia, exceto por um bar aberto.

- Mas apenas o bar estava aberto? E mesmo assim sem ninguém dentro? – perguntou Lupin assustado. – O Boca Maldita era o local de encontro dos aldeãos! Eu mesmo muitas vezes fui atendido por Ted, o barman!

- Não havia ninguém Lupin. – disse Harry – Lamento.

- Bem, - disse o Sr. Weasley satisfeito – Como já sei que está tudo bem, preciso voltar ao escritório, minha ausência pode ser notada! Até! – e dizendo isso sumiu de onde estava sentado com um CRACK.

- Ainda não entendo como Godric’s Hollow se transformou em um vilarejo fantasma...

- Remo! – reprimiu Alastor – Não havia mais ninguém?

- Havia um velhote de casaco, mas saiu rapidamente quando...

- Nott! Theodore Nott! – disse Moody socando a mesa – Eu prendi aquele maldito e o soltaram! Sempre com seu disfarce xadrez! – Harry parou por um instante e pensou na ultima palavra de Moody. Havia uma velhota no ônibus usando um casaco xadrez, e misteriosamente apareceu na plataforma de desembarque de Godric’s Hollow e por fim, o dono da mercearia.

- Ele estava nos seguindo! Encontramos uma velhota, e depois ela de novo, e o velho era a única pessoa no vilarejo!

- Então Você-Sabe-Quem já sabe de sua jornada? – perguntou Molly exasperada – Porque, mesmo nós não suspeitamos o que seja!

- Impossível! – conclui Moody. – Comensais são animais vagantes, que andam por onde bem entendem, procurando a Morte perfeita, a Morte mais prazerosa, não é à toa que se intitulam com esse nome repugnante. – disse num rosnado - Seja lá o que esteja fazendo, Voldemort não sabe de nada.

Ainda bem, pensou Harry, seria o caos se além dele, o próprio Voldemort estivesse procurando suas Horcruxes para escondê-las novamente, ou colocasse guardas em pontos estratégicos, o que atrapalharia e muito a vida de Harry. O medalhão... a taça... a cobra... algo de Gryffindor ou Ravenclaw... Como destruí-los, pensou enquanto Lupin discutia com Moody sobre as políticas tomadas por Scrimgeour. CRACK. Tonks, Rony e Hermione aparataram no Hall de entrada e seguiram até a cozinha.

- Alô! – disse Rony ao entrar, tinha as vestes sujas de terra, a têmpora suada, mas um vigor e felicidade que estavam visíveis em demasia. O mesmo não se repetia no rosto de Hermione, que ainda tinha a varinha em punho, como se essa estivesse colada a sua mão. Esta pálida, lívida.

- Gina? – perguntou a garota com o olhar meio desconexo.

- Graças a Moody ela já esta melhor querida. – disse a Sra. Weasley levantando-se e abraçando Mione que soluçou devagar.

Tonks parecia radiante, mas visto a tristeza e desespero de Mione falou em um tom informativo. - Ainda bem que esses meninos fizeram algo! – disse feliz abraçando os dois – Agora Scrimgeour poderá vangloriar-se de ter prendido algum Comensal.

- Harry! – desabou Mione na cadeira em frente ao garoto. – mais uma vez você nos salvou de uma enrascada!

- Mione... – disse Rony sentando-se ao seu lado – Está tudo bem... Acalme-se...

- Tomem isso. – ordenou a Sra. Weasley. Rony olhou para a taça vermelha que se transfigurava na sua frente. Um cheiro ocre, proveniente do par de taças, invadiu o aposento.

- O que é isso? – perguntou Rony desgostoso empurrando a taça para longe de si com a ponta dos dedos.

- Algo que lhes fará sentir melhor. – disse Harry sóbrio. – O gosto não é de cerveja amanteigada, mas a sensação é muito boa.

- Vamos! – pediu a Sra. Weasley dando tapinha na própria cintura. – Andem logo com isso! – Enquanto os amigos bebericavam seus cálices fumegantes Harry voltou-se para Moody e perguntou-lhe sobre algo que já há algum tempo o incomodava.

- Moody, - chamou o garoto e, quando o bruxo virou-se – olho mágico enlouquecido –, ele perguntou – Você tem notícia de Slughorn? Sabe por onde anda?

- Boa pergunta! – exclamou Lupin – Por onde anda o velho Slug?

- Harry! – exclamou o antigo professor – sabia que cedo ou tarde lembraria de Horácio. Acho que você conheceu bastante daquele paspalho o ano passado, não?

- Hum, acho que sim. – concordou relembrando-se do hierarquizado Clube do Slug.

- E o que você acha? – perguntou Moody sarcástico já respondendo à própria pergunta – É óbvio que está fugindo de seus pupilos Comensais! E escute... Não duvido que esteja saindo do país...

- Mas porque a curiosidade Harry? – perguntou Lupin.

Harry arregalou os olhos para o amigo de seu pai. Não podia contar, tampouco queria mentir, teria de novamente omitir? Harry estava começando à ficar aborrecido com seus desvios de assuntos com Moody, Lupin ou qualquer outro que não fosse Rony, Gina ou Mione.

- Só curiosidade... – respondeu inexpressivo olhando para baixo. Ao seu lado, Rony reclamava do gosto da poção.

- Pare de reclamar! – ralhou a Sra. Weasley.

- Para onde pretende ir agora garoto? – perguntou Moody curioso e antes que Harry pudesse mentir, Hermione lhe salvou tirando-o da cozinha.

- Vamos subir para ver Gina, que acha? – convidou Hermione de uma forma que mesmo que quisesse, não poderia recusar, afinal a amiga já havia lhe pego o ombro e já andava atrelada ao mesmo.

- O que é isso Mione! – pediu Harry endireitando-se já no Hall de entrada.

- Então queria responder as perguntas de Moody? – disse aborrecida, os olhos meio vermelhos e inchados.

- Não... – conclui o garoto – mas...

- Você não precisava ter agarrado o Harry! – concluiu Rony vermelho que os seguia logo atrás.

- Você dois! – disse Hermione apontando para os garotos – Silêncio!

A garota abriu a porta do quarto e eles viram Gina dormindo em sua cama fofa com lençóis brancos. Os cabelos rubros tinham destaque no mar de branco. A janela entreaberta recebia uma suave brisa outonal que ondulava as cortinas e deixava o quarto com um frescor limpo. O semblante de paz no rosto de Gina fez Harry sentir-se calmo. Os pensamentos afoitos sobre Slughorn, ou como encontraria o antigo mestre, ou ainda, como o persuadiria novamente à contar tudo sobre Horcruxes, tudo fora limpo de sua mente, e no momento, sentiu a fadiga corporal. Estava exausto e desejava dormir.


***


- Mas que dia... – Harry havia acabado de levantar-se atônito, os olhos colados, a claridade matinal invadindo suas retinas violentamente. Um barulho aborrecedor e agudo adentrava em seus ouvidos acordando-o bruscamente. Rony dormia, o travesseiro de plumas sobre a cabeça, o lençol jogado. Harry tateou a mesa de cabeceira, pôs os óculos e olhou para a janela. Lá estava a causa do barulho. Um corvo. Um negro corvo batia seu negro e fino bico no beiral negro da janela. Em suas patas negras e enrugadas, um envelope branco e alvo, destoando do negrume da cena. Como um farol aos olhos de Harry, a tinta brilhante e escarlate dizia. “Harry Potter”. Harry olhou para a carta e para a ave, pegou a varinha e apontou para a ave negra.

- Revele-se! – o corvo congelou um instante e reiniciou a bateção no vidro. Harry executou mais alguns feitiços e vendo que nada poderia ser, abriu a janela e a ave entrou. O envelope branco caiu no chão de tábuas lustradas. A ave bateu asas, subiu no beiral e sumiu. Harry lembrou-se das muitas precauções que Moody tinham quanto a tudo que era estranho, mas servindo à curiosidade e não à diligência, Harry puxou o envelope com as próprias mãos, rasgou a lateral e abriu-o, receoso.



Caro Harry Potter,


Escrevo-te para que saibas que em algum lugar, tens um amigo. É necessário que confies em mim, sei que em tempos tão obscuros pareça um convite ao perigo, mas quero que ao menos me dê a chance de conquistar sua confiança. Não deixes que os outros interfiram em seu julgamento, pense assim como Dumbledore pensava, independentemente. Voltarei a escrever-te em breve.



Saudações,

O Ajudante



As letras vermelhas brilhavam em seus olhos, a mente lenta e matinal começava a ser inundada por pensamentos, questionamentos e dúvidas. Por que confiaria em um desconhecido, logo agora que tudo parecia vir contra ele... Hermione jamais confiaria, e ainda confiscaria a carta à McGonagall, Rony por sua vez ficaria intrigado e por fim pediria conselhos ao pai. Mas ali era apenas ele, e Harry não gostava do que estava sentindo. Sentia-se grato por alguém que conhecia Dumbledore lhe escrevesse. Era um convite ao erro.

BUM!

Harry abaixou-se, pensou que o corvo havia explodido, sofrera um atentado, mas não. Fora uma pancada. BUM! E se repetiu. Harry ouviu gritos. Era uma voz rouca e suave. Rony roncou alto e remexeu-se. Harry pegou o robe que estava pendurado no pilar da cabeceira, enrolou-o no corpo e saiu do quarto. Uma brisa fria e úmida, típica do outono londrino invadiu seus pijamas, fazendo os cabelos de sua nuca estremecerem. BUM! Rony não podia ver aquela carta jogada sobre a cama. Harry reentrou no quarto, memorizou o feitiço convocatório e a carta e o envelope voaram velozes para sua mão. Descendo as escadas Harry exclamou para as letras escarlates.

- Larcarnum Inflamare! – em poucos segundos o pergaminho virou cinzas e perdeu-se no carpete embolorado da mansão Black. As vozes e os baques surdos vinham da cozinha, onde Harry vislumbrou a Sra. Weasley, a cara muito fechada, olhando para alguém na sua frente.

- ...ele sempre foi doido! – disse a voz rouca. E Harry viu, uma bengala batia com força na mesa à cada afirmação. – E eu que fui preso! Agora o biruta se joga da torre mais alta da escola e me deixa alguns livros e um terreno em um pântano na Escócia? O que ele achou que eu faria em pântano? Porque não me deu a penseira! Logo a penseira agora é do moleque!!!

Pela fresta da porta, Harry também pode ver, agora se levantando, um homem alto, cabelos e barbas, prateados e longos, até a cintura. Uma longa veste roxa e mãos com dedos finos e familiares. Quando o homem virou-se, Harry viu os olhos azuis que tanto ansiava por ver. Mas por poucos instantes, a miragem durou. A expressão de fúria em cada ruga daquele rosto mostrou-se não sendo o antigo diretor e eterno professor Alvo Dumbledore. Muito pelo contrário, era Aberforth Dumbledore, seu irmão mais novo, tresloucado e ambicioso. A bengala em riste para Harry.

- VÊ ALASTOR? – disse virando-se para as pessoas na cozinha. – UM MOLEQUE MAGRICELA HERDOU METADE DE TUDO? – Harry não compreendia sobre o que ele falava, mas pela expressão de desgosto de Moody e Molly para Aberforth, não era algo agradável, ao menos para Dumbledore, o irmão.

- Hem-he.. . – pigarreou Harry de uma forma que lhe trouxe péssimas lembranças que o fizeram parar abruptamente. – Hum, bom dia?! – disse meio atônito levando as mãos à bengala do velho e baixando-a com as mãos para espanto do dono.

- O que especificamente está acontecendo? – perguntou se sentando à mesa comprida, onde farelos e formigas dividiam o mesmo espaço. Havia envelopes e boletins com aspecto oficial sobre essa também, mas o que chamou a atenção de Harry foi um outro envelope. Aberforth o segurava firmemente, a antiga e inconfundível caligrafia, verde, fina e floreada, estampada no pergaminho. – O que é essa carta de Dumbledore? – disse Harry apontando para o envelope.

- Porque acham que existe apenas um Dumbledore no mundo? – reclamou Aberforth brandindo o envelope de Alvo Dumbledore no ar engordurado da cozinha. – Que bosta de dragão frito! Odeio esse maldito nome!

- Pare de gritar Aberforth! – esbravejou Alastor indo de encontro ao dono do Cabeça de Javali. Harry pode notar quão alto era Aberforth e quão corajoso era Alastor, ambos à mesma altura. - A Sede da Ordem hospeda moradores, e você bem sabe que não são nem oito horas ainda! O testamento de Alvo já foi verificado pelo Ministério!

- O que não... - começou Aberforth dando com os ombros.

- Testamento de Dumbledore? – perguntou Harry nervoso, começando a ligar os pontos.

- Sim. – respondeu o Sr. Weasley ao seu lado.

- E permaneceu por anos no cofre do Gringotes – continuou Alastor ignorando a interrupção -, e você também deve saber que ninguém roubou nada de lá até hoje.

- Alastor, sente-se. – pediu Molly calmamente enquanto enchia a xícara do marido com chá. – Aberforth, - disse mais severa – sente-se também. A Ordem é um local para se descansar. – e Harry, coma, você vai precisar de forças hoje. – recomendou a matrona desaparecendo no hall para subir e acordar os restantes.

- Deixe-me ver se entendi? – perguntou Harry olhando para o prato cheio de mingau de aveia. – Dumbledore deixou um testamento, e ele...

- Sim, sim garoto. – resmungou Aberforth – Você ganhou metade de tudo! E, diga-se de passagem, a melhor metade... Humpf... A casa de verão, a casa dele, com todos os pertences inclusive a penseira, que, há alguns dias, tinham dado-a por perdida, e os títulos que possuía do Ministério da Magia e da escola!

- Uma boa quantidade de dinheiro Harry! – garantiu o Sr. Weasley. – Scrimgeour procurou por dias esse testamento, estava obcecado por saber o que Dumbledore fazia. – Arthur Weasley levantou-se, cobriu-se com a grossa capa de viagem e antes que aparatasse completou – Na verdade, continua obcecado com Dumbledore, e você, óbvio. – e fechando os lábios, aparatou.

- Me dá isso aqui! – ordenou Moody erguendo a varinha e exclamando – Accio Testamento! – O testamento voou das mãos de Aberforth, para seu desgosto, e Moody empertigou-se para lê-lo. – ‘Aos amigos e familiares (meu irmão, que apenas me resta)’... Blá, blá, blá... – Moody correu os olhos pelo pergaminho e comentou – Dumbledore sempre soube usar as palavras... É Harry, é isso mesmo, você agora possui mais duas casas, uma em Newcastle, aonde Dumbledore morou antes de ser diretor e sua Cabana em Bournemouth, belas praias as do sul do país.


***


- Prontos? – perguntou Harry dois dias depois de assinar uma papelada transferindo o patrimônio de Dumbledore para seu nome. Harry tinha nas costas, uma pequena mochila com roupas limpas e alguns frascos com poções recomendadas pela Sra. Weasley. Hermione levava alguns livros e Rony garantiu suprimentos. Gina por sua vez, estava tristonha por ter de permanecer na Ordem. Havia acordado há apenas um dia e já falava pelos cotovelos sobre como poderia recuperar-se ao longo do caminho. Entretanto, para desânimo da caçula Weasley, Hermione não concordava com sua partida precoce, e como todos sempre fizeram, assim Gina fez e escutou a amiga.

- Obrigado Hermione. – agradeceu a Sra. Weasley baixinho para a garota. Uma grossa lágrima borrando-lhe a face. – Você não sabe o quanto significa para mim...

- Não diga nada Molly... – pediu Hermione.

- Mãe! – resmungou Rony – Você está chorando de novo? – perguntou inconformado. – Se você chorar todas as vezes que partirmos, a Ordem viraria um lago!

- Rony! – repreendeu Hermione virando-se bruscamente – Você está sendo insensível!

- Ele esta certo... Seu pai me diz a mesma coisa. – respondeu limpando o rosto na manga das vestes. Hermione continuava a segurar a mão da Sra. Weasley quando um baque-baque veio Hall. Era Moody.

- Bom dia a todos! – disse com um rosnado seco, o olho mágico girando como louco em sua órbita – Potter! Eu vou com você! – antes que Harry respondesse, ele retrucou – Afinal é a casa de Dumbledore, e Deus sabe quanto tempo não vou àquele local.

- Mas você nun...

- Apenas guiarei vocês. – sentenciou – Parto pela noite, tudo bem?

- Mas é claro que está bom, Alastor! – exclamou Molly com uma voz embargada. Rony arregalou os olhos.

- Mãe...

- Tente entender...

- Eu não acredito mamãe! – disse Gina sentada com os olhos arregalados para a mãe. – Você realmente nunca soube mentir... – resmungou Gina enxotando uma mosca de seu prato. – Moody, faça o que a Ordem necessita.

- Eu avisei que eles eram astutos. – advertiu Moody sorrindo à matrona. – Até! - E com um estalido seco aparatou.

- Eu ainda não acredito que recrutou Moody para tomar conta da gente, mamãe! – resmungou Rony pondo a mochila nas costas. – Gina, a gente manda uma coruja avisando se estamos bem, o.k.? – disse virando-se para a irmã e finalizando saiu da cozinha e segui pelo corredor escuro desaparecendo de vista.

- Rony... – chamou a sra. Weasley.

- Deixe ele Sra. Weasley, eu falo com ele no caminho. – explicou Hermione – Temos de ir senão perderemos o trem até Rotherham!

- Hermione tem razão. – pediu Harry levando a mochila ao ombro. – Mandamos notícias!

E dizendo isso Harry e Hermione encontraram-se com Rony no corredor, bufando. Eles saíram da Sede da Ordem e caminharam até o fim da rua. Hermione conversou com Rony que, ao final, continuara aborrecido com a atitude da mãe, alegando que não era mais uma criança. Na esquina da rua eles aparataram para um beco escuro de Londres, próximo à estação de trem. Hermione comprou os bilhetes, Rony e Harry vistoriaram o perímetro e não viram nada suspeito. Carregavam às varinhas quase presas aos punhos, para própria segurança.

- Aqui estão nossas passagens. – informou Hermione distribuindo os cartões numerados – temos vinte minutos antes de embarcar, querem comer algo?

- Estou sem fome. – sentenciou Rony.

- Mas devemos comer. – disse Harry dando um tapinha nas costas do amigo – sabe lá quando chegaremos à casa... – Harry sentiu os pelos da nuca arrepiarem, ele olhou a volta à procura de alguém. Não havia ninguém atrás deles senão o guarda da estação e uma menina loira carregando uma malinha rosa, de no máximo cinco anos, junto com os pais.

- O que

houve Harry? – perguntou Hermione enquanto caminhavam até a lanchonete.

- Nada. – mentiu – Não foi nada.

Harry sabia que havia sido mais do que apenas nada, e dali em diante, permaneceu quieto e muito sério. Seus amigos estranharam isso notoriamente, mas Harry não contou o que sentira. Ele no fundo sabia que, mais uma vez, havia alguém os vigiando. Em seus mais profundo temores começava a desconfiar que Lorde Voldemort poderia estar sabendo de sua jornada em busca de suas preciosas Horcruxes. A viagem até Rotherham foi calma e agradável. Ainda que a mesma menininha que haviam visto na estação, se perdera no trem, e findou por entrar na cabine que ocupavam.

- Qual seu nome? – perguntou Hermione à assustada menina que disse ser Luisa.

- Você tem uma linda boneca sabia? – disse Hermione carinhosamente. – Qual o nome dela?

- Ela se chama Ruth, igual à mamãe. – disse a menina abraçando a boneca. Nos ombros uma mochilinha de plástico que tinha as roupas da boneca e umas panelinhas. Rony saiu da cabine e foi até o maquinista avisar que havia uma criança perdida enquanto Hermione a entretinha. Alguns minutos mais tarde, quando Rony voltara, os pais da menina apareceram e ficaram furiosos, afinal eram as três pessoas mais estranhas daquele trem. Só então Harry percebeu que mesmo tendo vivido anos como trouxa, as roupas que agora usava eram as mais desconjuntadas e se pareciam muito com os bruxos na Copa Mundial de Quadribol, sem, no entanto, camisolas floridas.

A viagem fora longa. Foram cinco horas ininterruptas desde a partida, às treze horas e trinta minutos. Em uma velocidade lenta, o trem que haviam optado era uma opção turística que mostrava todos os locais importantes por onde passavam, a história do local. Rony e Harry ficaram implicando meia hora com Hermione por ser incapaz de comprar as passagens certas, mas ser capaz de gravar um livro gigante em um dia. Eles riram e conversaram, questionaram-se sobre o que encontrariam na Casa de Dumbledore. Hermione pensou nos livros, Rony nos aposentos e Harry nas lembranças...

Eles desembarcaram em Rotherham quando o céu havia atingido uma tonalidade lilás que indicava a chegada notória da escuridão noturna. Haviam pessoas agitadas na estação, indo embora para seus lares, voltando do trabalho, chegando para um novo turno. Uma vida comum que Harry sempre almejara e agora era tão distante que parecia algo artificial. Havia um velho senhor, alto e grisalho, com um longo sobretudo de microfibra negra (um trouxa aristocrata) que havia desembarcado na estação e carregava uma pesada mala. Harry parou por alguns segundo olhando para o homem. Este não percebeu seu olhar e continuou andando até passar por uma pilastra e desaparecer de vista.

- Vocês viram aquele homem? – perguntou Harry meio atônito. Harry sabia, aquele velho era um bruxo.

- Quem Harry? – perguntou Hermione compreensiva.

- ‘Tô vendo nada. – disse Rony esticando o pescoço.

- Mas é óbvio! – concluiu Harry – Ele desaparatou!

- Harry! Do que está falando? – perguntou Rony enquanto punha a mochila nas costas e seguiam estação à fora.

- Nada. – mentiu mais uma vez, começando a se achar um idiota.

Eles consentiram que uma viagem à noite para um lugar que desconheciam, em tempos como os que viviam, era algo muitíssimo perigoso. Iriam procurar uma estalagem trouxa, onde seria possível dormir, e cedo pela manhã, partir. Não foi difícil encontrar um local para dormirem, à dois quarteirões de distância da estação, havia a Estalagem Moss onde um velha senhora aposentada alugava quartos. Não era um belo lugar, muito menos confortável. Na sala de uso comum, havia uma mesinha de centro muito empoeirada com um dos quatro pés quebrados. Os quadros nas paredes retratavam folhas secas e árvores macabras dando ao local um aspecto muito estranho. Os quarto cheiravam fortemente a mofo e os colchões cheios de calombos, eram ditos pela Sra. Jael, dona da Moss, como sendo os melhores da Bretanha.

Antes que subissem, a Sra. Jael lhe ofereceu biscoitos caseiros e chá. Eles recusaram dizendo já terem comido na rua. Ela lhes deu a chave do quarto de número sete, onde havia três camas, fedidas e emboloradas. Hermione transfigurou os colchões e travesseiros tornando-os realmente limpos e confortáveis. Rony caiu na cama de comentou rindo.

- Vocês não achavam realmente que depois de ver os quartos iria aceitar aqueles biscoitos, não é mesmo?

- Até mesmo os do Hagrid poderiam ser melhores que aquelas coisas verdes... – disse Harry esticando o lençol de sua cama. Hermione abriu a mochila e retirou um robe e seus pijamas. Ela foi para o banheiro e trocou-se silenciosa. Ao sair, parecia sacudir a varinha mirando seus pés.

- O que houve Mione? – perguntou Harry curioso desamarrando os calçados.

- Aquele banheiro é n-o-j-e-n-t-o. – disse Hermione lançando raiozinhos verdes com cheiro de malva e hortelã. – Tem algo morto lá dentro. Algo próximo ao Box.

- Morto? – perguntou Rony. – Aranhas gostam de carne pútrida não?

Após Harry averiguar, realmente havia um animal morto no Box, era um rato velho e gordo que ficara agarrado no ralo. Harry ergueu a varinha e pronunciou “Rongeum Evanesco!”, e o rato sumiu em meio ao nada. Harry voltou para o quarto e encontrou Rony roncando. Hermione lia um livro à luz da varinha. Ele deitou-se, desejou boa-noite, e com a varinha apagou a luz. Os reflexos da varinha de Hermione iluminaram as barras laterais de sua cama onde havia vários riscos, arranhões, talhes e inscrições, mas com tanto sono, foi incapaz de compreender que ali havia letras de um arranjo já conhecido...

Na manhã seguinte, antes mesmo do desjejum, eles fecharam a conta na Estalagem, agradeceram a Sra. Jael e partiram para uma padaria próxima onde tomaram um rápido café da manhã. Tiveram o tempo exato para caminharem até o ponto de ônibus e embarcarem rumo ao Parque Nacional de Perk District onde poderiam aparatar e chegar finalmente a Newcastle (tudo arquitetado por Mione que traçara um pequeno mapa com a varinha no verso de um livro que levava consigo). A estranha sensação que Harry sentiu desde que havia partido do Largo Grimmauld havia sido dissipada, e ao chegarem no parque, ficaram chocados com o que viram. As árvores estavam queimadas, havia muitos bancos quebrados, postes tortos, e carros estraçalhados. Ambulâncias e policiais trouxas circundavam o local.

- Vocês vão descer aí mesmo? – perguntou o motorista confuso imaginado o que três jovens fariam em um canário como aquele.

- Sim. – disse Harry firme. O ônibus deu um solavanco e partiu deixando os três parados na calçada. – Foram eles. – afirmou Harry para Hermione e Rony. O sol brilhava no azul primaveril de setembro, mas entre nuvens brancas e fofas, Harry pode ver, como um letreiro em néon, um verde pálido e quase invisível à luz do sol: a Marca Negra.

- O que fazem aqui? – perguntou um oficial isolando a área com uma larga faixa preta e amarela.

- Descemos do ônibus. – respondeu Rony evasivamente. Hermione, ao ouvir, baixou a cabeça e levou as mãos aos bolsos.

- Não se faça de engraçadinho! Mostrem um documento de identidade.

- Documento de id..? – começou Rony até que Hermione pisasse no pé do menino. Hermione tirou a varinha do bolso, olhou à volta, e levou-a até a altura do homem. – Obliviate! – o homem ficou com os olhos fora de foco por um tempo, mas segundo depois agradeceu aos três por serem gentis com ele e seguiu caminho.

- Rony! – ralhou Hermione, - Se você não conhece as “normas” – disse a garota erguendo os braços e os dois dedos - da vida trouxa, então fique quieto!

- Para que, se tenho você? – riu-se o garoto, recebendo uma pancada da menina que riu também. Eles entraram no parque pela outra entrada, e ao passarem viram que tudo havia sido destruído ou consumido pelo fogo. Harry imaginou quantas famílias poderiam ter sido atingidas, e quanto mal os Comensais poderiam ter feito.

- Eles são horríveis, não é mesmo? – disse Hermione parando agachada próximo à um tanque de areia para crianças e vendo uma boneca de plástico sem a cabeça e com o corpo derretido pelo fogo que incendiara os brinquedos à volta. – Como podem? – disse em pranto. – Vê isso? – disse mostrando a boneca e uma mochilinha aberta de plástico rosa, cheia de roupinhas queimadas e panelinhas derretidas. – Significa que a menininha do trem estava aqui! E eles vieram e explodiram tudo? – Hermione suspirou e choramingou uma última vez antes de se erguer e enxugar as lágrimas. Desvencilhando-se dos destroços, a bruxa seguiu entre os dois amigos que abraçaram-na em conforto.

- Você precisa ser forte Mione. – disse Rony.

- Você foi forte Hermione. – confirmou Harry. – Você poderia ter ficado e lamentado pela Luisa, mas você lembrou que tem algo a fazer e seguiu em frente. E é o que devemos fazer, certo? Vamos, hora de aparatar.

Os três amigos continuaram a caminhar normalmente e de repente ninguém mais os viu no Parque de District Perk. Sumiram do meio do nada, como se tivessem virado ar. A muitos quilômetros de distância de Rotherham, os três desaparataram juntos, coincidentemente, na movimentada Rua Neville. Hermione abriu o livro-mapa e o local da casa de Dumbledore piscava em azul. Uma seta miosótis indicava para onde deveriam ir.

- Você me surpreende Mione. – disse Harry estupefato. Ela riu.

- Bem, devemos ir até o próximo quarteirão e pegar um ônibus para a zona rural da cidade.

E assim o fizeram, seguiram até o ponto de ônibus da mesma rua, esperaram alguns minutos e embarcaram no sexto ônibus que parou. Demorou alguns minutos até descerem muito próximos ao ponto piscante no livro-mapa de Mione. Havia uma única estrada bifurcada. Quando começaram a ser tomados pela indecisão, ouviram uma voz agradável e firme às suas costas.

- Harry Potter? – perguntou a voz. Harry virou-se e rapidamente sacou a varinha. – IMPEDIMENTA! – um raio vermelho voou no ar. Rony e Hermione ao seu lado, varinha em punho. O homem, que só agora Harry vira, era o mesmo senhor alto e grisalho da estação de trem. Usava o mesmo sobretudo negro e com um aceno da varinha impediu a azaração de Harry.

- Precisamos melhorar isso. – disse com convicção. – Precisa fechar sua mente Harry.

- Vamos! O que você quer? – exclamou Rony – TRUNCAT! – um corte dourado subiu no ar e correu até o homem que aparatou dois centímetros suficiente para escapar do golpe.

- Você tem força garoto... – sacudiu o sobretudo limpando a poeira – Precisa de agilidade.

- Quem é v-o-c-ê? – sublinhou Hermione, lívida. – Fale! – Hermione girou a varinha e o homem caiu duro como pedra no chão. Seu olhos estáticos como vidro.

- Adonis! Adonis! – disse uma voz sóbria e preocupada. – Knoll demorou-se em demasia! Knoll limpando casa para a chegada de visitas! – Harry olhou a volta, e do meio do capim alto, uma elfo-doméstico passou correndo pela estrada e indo de encontro ao homem que presumivelmente chamava-se Adonis.

- Hei! Elfo! – chamou Rony. O elfo a ignorá-lo andou dois centímetros e foi suspenso no ar como se ganchos invisíveis prendessem seu calcanhar.

- Rony! – pediu Hermione. – Você! Você conhece esse homem? – perguntou Hermione à figura de ponta cabeça.

- Mas é claro que conheço Adonis Paralolvus! – disse o elfo estalando os dedos e fazendo o feitiço de Rony cessar. – Faz anos que não o vejo, mas é inconfundível! – mais um estalar de dedos e o homem voltou ao normal.

- Knoll? – disse o bruxo olhando para o elfo. – Você ainda existe! – disse o bruxo sorrindo.

Harry deu alguns passos e foi até Adonis. A varinha com a mira em seu peito.

- Agora, por favor. – pediu Harry – Quem é você?

Ainda deitado o homem respondeu meio confuso.

- Muito prazer Harry! – disse o homem estendendo a mão. – Sou Adonis Paralolvus, estudei com Dumbledore em Hogwarts e ficamos muito amigos. Temos uma enorme história pregressa. – Ele olhou para seus amigos. – Esses devem ser o Sr. Ronald Weasley e a Srta. Hermione Granger. Dumbledore me escrevia contando-me das aventuras que circundaram sua chegada a Hogwarts e o tempo que por lá passou. Infelizmente, vim aqui, como prometi a ele, após a sua morte, esperando exatamente encontrar você. Como ele queria que fosse.

Harry parou por um momento. Talvez aquele realmente fosse um amigo de Dumbledore visitando sua casa após sua morte, ou coisas do gênero. Mas também poderia ser um farsante. Tinha de perguntar algo que apenas Dumbledore e alguém íntimo saberia. Algo inusitado.

- Qual a coisa mais excêntrica que Dumbledore come?

- Torrões de batata. – disse fazendo careta – E confesso é horrível, ele me obrigou uma vez a comer. – um ponto pensou Harry. Hermione, ainda que séria, riu.

- Qual o jornal que Dumbledore lia?

- Além do Profeta, ele lia o New York Convention, o Le Sorcier De L'astut, o Der Vertrauen-Drachen, e mais outros. – Adonis pareceu acender uma idéia. – Mas se você me perguntou isso é porque já o viu lendo jornais trouxas.

- Dumbledore lia jornais trouxas? – perguntou Rony estupefato. O elfo-doméstico torceu o nariz para Rony.

- Sim, ele fazia isso desde os quinze anos. – respondeu a criatura com uma vozezinha esganiçada.

Não havia como não ser. Harry baixou a varinha e estendeu o braço. Eles caminharam por um curto trecho e por fim dobraram à direita num monte e puderam ver a casa de Dumbledore. A casa estava abandonada, mas não quebrada. As paredes de tábuas sobrepostas de madeira ainda resguardavam um azul desbotado que provavelmente fora algo vívido. Havia dois andares, uma enorme varanda que circundava o primeiro, e uma torre à direita com o dobro de andares e uma longa ponteira dourada que indicava a direção do vento. O jardim era uma profusão de verde, amarelo e marrom. A ausência de um jardineiro fez com que tudo fosse coberto por mato e capim. Havia galhos secos e gravetos no caminho.

- Dezesseis anos. Dezesseis anos após minha ultima visita. Nunca mais voltei. – saudou Adonis. Rony caminhou até a porta e meteu a mão na maçaneta.

- Não faç... – o aviso de Paralolvus foi tarde. Rony foi lançado três metros no ar e caiu para trás. Hermione riu, Knoll pareceu satisfeito, Harry balançou a cabeça e Adonis comentou saudoso. – Eu mesmo já fui lançado umas quinze vezes... Harry, acho que você deve abrir a maçaneta.

- Eu?

- Sim Harry! – insistiu Mione – Você é o dono da casa! – Knoll sorriu.

Harry pôs a mão na maçaneta e girou. Houve um enorme ranger, uma bateção de pinos que resultaram por fim, em um estalido morno e pastoso. A porta abriu sozinha e Knoll foi o primeiro a entrar, correndo. Um frescor de pinho invadiu as narinas de Harry, e um longo hall de pedra calcária revelou-se límpido. Havia quadros nas paredes que retravam as mais belas paisagens que Harry já vira. Uma praia de areias brancas, uma colina com um castelo ao alto, e uma chapada de mármore desgastado. Uma escada alta, com uns bons quarenta degraus, levava ao segundo andar. O corredor principal era cortado por dois portais que levavam a duas salas completamente distintas. Uma sala, a da esquerda, parecia-se com uma biblioteca. Era uma biblioteca. Havia uma escrivaninha com alguns rolos de pergaminhos disciplinadamente dispostos lado a lado. Um tinteiro luzidio e negro sobre um risque-e-rabisque de couro de cabra, ao lado uma bela pena branca de águia. As paredes eram todas cobertas por prateleiras e estantes recheadas dos títulos mais diversos, das obras mais raras e mais sinistras, que fascinaram os olhos de Hermione. A sala da esquerda era um excelente espécime de estar. Havia poltronas fofas de veludo azul, canapés brancos, pufes miosótis e almofadas escarlates. Um grosso tapete de lã branca dava a impressão de se estar pisando em um colchão.

A casa era enorme, os cômodos eram gigantes e confortáveis, os livros eram maravilhas, a cozinha um fascínio, e tudo parecia impecavelmente limpo, organizado e sabiamente escolhido. A memória de Dumbledore saltou aos quatro quando ao subirem até o topo da torre onde Dumbledore construíra uma presumível aconchegante sala de ler, havia um quadro do antigo diretor. Exatamente como era antes de morrer: longas barbas e cabelos prateados, um nariz torto e o azul mais sábio no profundo da íris. O quadro os saudou.

- Bem Vindos! – disse a voz de Dumbledore, Harry sentiu-se enregelado. – Adonis! Obrigado por seguir meus pedidos… - a figura de Dumbledore olhou para a única mesa que compunha o aposento, um pilar de pedra rústica e elevada sustentava uma vasilha de pedra lisa. Um líquido gasoso circulava no interior, era a Penseira Perdida de Dumbledore. Sob a penseira, dois envelopes azuis. Uma fina caligrafia lia-se o seguinte.


Harry J. Potter

A Torre mais Alta

Minha/ Sua Casa

Newcastle Upon Tyne


E,

Adonis P. Paralolvus

A Torre mais Querida

Nossa Casa

Newcastle Upon Tyne



Harry emocionou-se ao receber o que lhe parecia ser a última carta de Dumbledore. A palavras era firmes e doces, sábias e excêntricas, era as palavras de Dumbledore, seu eterno mestre, seu ídolo, seu amigo. Adonis pareceu emocionar-se também, mas, sob a luz azulada da penseira, leram silenciosos.


“Caro Harry,



Se neste momento, você lê esta carta, é porque tudo ocorreu como achei que seria. Mesmo a mais firme rocha sede ao incessante abrasão. Já era chegada a minha hora... Viver foi uma linda aventura, agora desbravo uma nova perspectiva que muitos infelizmente temem: a morte. Nesta aventura pregressa, conheci pessoas, lugares, poderes e conhecimentos que culminaram no excesso e que resultaram em solidão. Mas não será necessário alongar-me. Nessa vida Harry, tudo é muito instantâneo, o que é agora, logo depois será o antes, que mais ainda tornar-se-á arcaico, velho e pobre.

Não se prenda ao todo, mergulhe nos detalhes, nas causas e nos porquês que a vida muitas vezes nos impõe. É mister ser questionador! Não seja fraco, não desanime. Confiei-lhe a missão mais importante, e não se preocupe, pois tenho certeza de que é capaz. Espero que nossa última viagem tenha sido proveitosa (como acredito que tenha sido), mas caso tenha sido o contrário, não desanime! Vasculhe o passado, use minha casa, peça ajuda a todos. Harry, seja você. Esteja próximo aos seus amigos, e pessoas queridas; não se influencie pela opinião alheia e acredite em seus ideais.

Harry, acredito que você e Adonis terão muito para conversar. Nas horas e locais exatos a verdade fluirá entre vocês e tudo parecerá mais claro. Lembre-se que a sabedoria é conseqüência do trabalho e dedicação! Siga em frente Harry! Faça valer a pena!


Abraços saudosos,

Albus Dumbledore”




Harry sentiu a mão tremer. Adonis, ao seu lado olhou para ele e disse poucas palavras.

- Dumbledore então confirmou as horcruxes. – afirmou sério. – Precisamos do Horácio, ele sempre sabe mais do que conta, mesmo com a memória que Dumbledore contou-me você o persuadiu a doar. Precisamos encontrar Slughorn.





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