Descendo ao Inferno



-Falem baixo. O local é escuro e podem estar escondidos em qualquer canto escuro. Não podemos usar nossas varinhas para iluminar o local, e não devemos ser percebido tão cedo. –falou Mc. Gonagall, o rosto mal iluminado pela falta de luz do local úmido.

-Cara Minerva, duvido que a estas alturas Riddle não tenha percebido que fugimos de nossas celas. –falou Dumbledore sobre os óculos de meia-lua.

Dumbledore passou a mão velha e nodosa sobre a pedra fria da parede externa, e cheirou o dedo que juntara uma quantidade considerável de limo. Contraiu as narinas e pôs-se a pensar, os outros bruxos o aguardando apreensivos e curiosos.

-É, acho que está certo, se não me engano... Sim, creio que seja por ali. –murmurou ele para ninguém em especial, apontando para um aglomerado de árvores nodosas e centenárias. Dumbledore adiantou-se, os sapatos de fivela pisando impiedosamente na lama fedorenta da pequena trilha onde se encontravam.

-Quê? Mas como é que ele... –murmurou Rony apavorado, indicando com a cabeça ruiva para Dumbledore, que continuava a caminhar em direção a mata densa, sem olhar para trás. Rony foi interrompido por Moody, que o cutucou com a perna de pau, e o empurrou para fora do caminho resmungando.

-Se Dumbledore diz que aquele é o caminho, então aquele é o caminho a Voldemort. –sussurrou Lupin, logo atrás de Harry. –Mantenham as varinhas posicionadas, não sabemos o que nos aguarda...

Lupin mal terminara de falar quando um grasnido alto e ensurdecedor pode ser ouvido, no momento em que adentravam a mata, sob a falsa proteção das árvores folhosas. Todos olharam a sua esquerda, e o ruído continuou, alto e agonizante, como se duas imensas criaturas discutissem.

-Ogros. –murmurou alguém atrás de Harry.

-E talvez, suponhamos, gigantes. –comentou Dumbledore a sua frente, tentando contemplar o céu salpicado de estrelas.

Apesar de estarem no verão, a noite não era favorável. Era um clima diferente, mágico. Sentiam o vento uivante e congelado lamber-lhes as orelhas desprotegidas e os pelos da nuca ficar de pé. Harry sentiu Hermione tremer ligeiramente ao seu lado.

-Acha que teremos problemas com eles, Alvo? –perguntou Mc. Gonagall, que caminhava corajosa ao lado do homem, na primeira fila de batalha.

-Não se soubermos seus pontos fracos. –respondeu Dumbledore, num sorriso amistoso.

-Vamos liquidá-los, Dumbledore, estamos em boa quantidade! –falou Moody, o olho azul girando em órbita para todos os lados.

-Não, Alastor, iremos aguardar, e se notarem nossa presença, aí sim, iremos atacar. Por enquanto apenas caminhe. Não vamos ser alvos fáceis, parados em uma clareira na calada da noite. –respondeu Dumbledore.
Harry pisou em um graveto, de repente, e com o barulho, todos viraram seu rosto para ele, a fim de ver o que acontecera.

-Desculpem. –murmurou baixinho, quando Gina apertou firmemente sua mão.

Havia outro grupo anti Voldemort os acompanhando de longe, aguardando por sinais de ataque. Nele estavam Fred e Jorge Weasley, o Sr. Weasley, Gui, Carlinhos, Flitwick e Hagrid, acompanhados por alguns aurores do Ministério. Um grupo peculiar, porém, potente.

-Conjurem casacos, algo me diz que devemos nos aquecer enquanto há tempo. –murmurou Dumbledore, mexendo a varinha num floreio. Uma grande e grossa capa púrpura apareceu diante dele, e sem êxito, Dumbledore a vestiu, apertando a capuz sobre a cabeça prateada.

Rony gemeu as costas de Harry.

-Tudo bem, Rony, eu conjuro para você e o Harry. –cochichou Hermione impaciente. –Ora, batalham com Voldemort, o bruxo mais maligno de todos os tempos, e não sabem conjurar um abrigo para o frio...

Após todos estarem devidamente aquecidos, continuaram sua caminhada, ao fundo, os ogros e gigantes brigando entre si.

-Alvo, desculpe interromper... –murmurou a profa. Minerva, desolada. –Mas não acha que caminhamos demais? Quer dizer, este local é uma ilha, poderia ser facilmente atravessada com umas duas horas de caminhada árdua, e estamos nisso a uma hora e meia!

-Ora, Mc. Gonagall, Voldemort não estaria abaixo de nossos narizes, esperando para nos receber em sua sala, com uma taça de vinho élfico. –falou Moody, o olho azul-elétrico ainda movendo-se sem descanso.

-Estamos em uma ilha? –perguntou Harry, surpreso.

-Receio que sim, Harry, receio que sim... –murmurou Dumbledore, encostando-se cansado em uma nodosa e alta arvore. Era escuro, mas ainda assim podiam ver que ela esgueirava seus galhos por entre as outras, até que chegasse ao topo delas, onde recebia uma enorme quantidade de luz. Suas folhas eram imensas. –Vamos descansar dois minutos aqui, creio que saímos de sua linha de fogo momentaneamente.

Aliviados, alguns membros no grupo jogaram-se na terra enlameada e fria, outros continuaram de guarita, as varinhas em posição, movendo-se a menor menção de movimento. Harry juntou-se a estes.

Rony, por sua vez, sentou-se ao lado de Dumbledore, encostado no tronco da imensa arvore.

-Professor? –chamou cauteloso.

-Hm? –resmungou Dumbledore, massageando os compridos pés, como se nada de grandioso estivesse prestes a acontecer.

-Não sei se vou sobreviver a esta noite. –murmurou ele, sem jeito. –Sei que o senhor conhece muitas coisas, e gostaria de pedir algo...

-Primeiro de tudo, senhor Weasley, não vá pra guerra se acha que lá ira padecer. Vá para derrotar seu inimigo. –falou Dumbledore.

-Hm, certo, mas mesmo assim... –concordou Rony, observando Harry e Gina ao longe, abraçados. –Estou disposto a qualquer coisa por esta causa. Apenas queria saber, se eu morrer, devo escolher ser um fantasma?

Dumbledore sorriu.

-Não creio que morrerá esta noite, senhor Weasley, não, não... Há segredos sobre o senhor que você jamais poderia imaginar, nem nos seus mais ambiciosos sonhos. –respondeu Dumbledore enigmaticamente, deixando Rony boquiaberto, sem palavras. –Mas, vou deixar um recado, para o dia em que a morte o enfrentar. Não a tema. Jamais. A morte é a nossa próxima jornada. Uma pessoa que retorna como fantasma é um covarde, não se aventurou.

-Mas o senhor não sabe o que vem depois?

-Ora, é claro que não, não é mesmo? –riu Dumbledore, colocando os sapatos novamente. –Nem os inomináveis mais poderosos decifraram a morte, e creio que isso jamais irá acontecer. Mas veja por um lado: existiu uma pessoa há um certo tempo atrás, que não queria abandonar por nada seu amado filho, nem mesmo depois da morte.

-O senhor está falando do... –murmurou Rony, indicando Harry com a cabeça. Dumbledore não respondeu a esta pergunta.

-Ela retornou, como sua filha. Entende o que quero dizer? Não poderemos jamais entender a natureza complexa da morte. Temos de nos conformar.

-Pois é, acho que sou um pouco cabeça oca... –murmurou Rony, levantando-se. –Muito obrigado, professor.

-Não, não. Você não é cabeça oca. –falou Dumbledore, os olhos azuis piscando, mesmo sem Rony enxergar, pelo breu da noite. –É apenas jovem demais para entender certas coisas.

-Obrigado, mesmo assim senhor. –respondeu Rony, inflando de orgulho, e caminhando de volta até onde Hermione estava.

-Ora, cabeça oca. Imagine. Rony Weasley. Ah se ele soubesse... –murmurou Dumbledore para si mesmo. –Cabeça oca. Oca?

Curioso, Dumbledore bateu no casco da grossa árvore, com os nós dos dedos. Pode ouvir um ruído, lá dentro. Acariciou a própria barba, pensativo. Oca?

-Venham! Venham todos aqui, por favor! –chamou Dumbledore, acenando para a arvore onde outrora estivera escorado.

-Gárgulas Galopantes, o que foi Alvo? –perguntou Moody, adiantando-se com dificuldade ao encontro do velho.

-Creio que encontrei o esconderijo de Voldemort... –murmurou Dumbledore, acariciando o tronco da velha árvore, os dedos finos tocando levemente uma sobressalência de formato estranho. –Vem isso?

-Runas... -murmurou Hermione, examinando o tronco nodoso. –Está quase que completamente escrito! –anunciou alegre, quando ela e Dumbledore voltaram-se e ficaram a ler as inscrições por alguns minutos.

-Será que alguém podia nos falar o que esta escrito? –pediu Harry, espiando o tronco por de cima do ombro de Hermione. –Sabe, nem todos sabem ler runas antigas.

-Oh sim, me desculpe... –murmurou Hermione, no momento em que Dumbledore começara a ler.

-“Daqui não passarás, a não ser que fiel as Trevas seu sangue seja. Olhe ao redor, seu mundo mudará, nada que conhece, aqui será. No mundo do frio, inimigo, padecerás.” –leu ele em voz alta. –Alguma idéia? –perguntou a todos.

Ninguém se pronunciou, e puderam ouvir os grasnidos dos ogros e gigantes aumentando a medida que aproximavam-se do local onde estavam escondidos.

-Precisamos fazer isso logo! –falou Harry, desesperado. –Estão chegando. Hermione... –chamou Harry, segurando Hermione pelos ombros. –Sempre foi boa com charadas e enigmas. Essa é a sua chance!

-Por favor Hermione... –pediu Gina adiantando-se. –Lílian pode estar lá dentro!

-Certo... –falou Hermione com a voz fraca. –Tenho um palpite.

-Fale então, srta. Granger! –falou Dumbledore animando-se.

-Bem, estamos em meio ao verão, e este local está frio e úmido. Imaginei a princípio que fosse por causa da floresta, mas este frio é mágico. –falou ela, gesticulando para todos os presentes, ao que o sorriso de Dumbledore aumentava mais e mais. –Provavelmente Voldemort entrou ai há pouco tempo, e ai diz que é um mundo do frio, então eles criaram frio aqui dentro, e de alguma forma entraram.

Quando ela terminou, todos estavam boquiabertos, sem entender o que ela queria dizer, exceto por Dumbledore que batia palmas.

-Excelente, srta. Granger. –falou ele, secando os olhos. –Minerva, me faça um favor sim? Deixe uma mensagem ao segundo grupo, vamos entrar.

E então, se ninguém entender direito o motivo, Dumbledore acenou com a varinha e a neve começou a cair em grandes flocos sobre suas cabeças.

-Agora, prestem atenção! –falou ele. –Acionei as defesas deles ao conjurar neve, então em pouco tempo estarão aqui. Vou erguer as raízes da arvore e vocês devem entrar se medo, seja lá o que ali tiver.

Então, num gesto não muito comum para um homem na idade de Dumbledore, ele se abaixou e com uma força surpreendente, ergueu as raízes da arvore. Abriu-se então um buraco igual ao do salgueiro lutador, e Harry correu para ajudar o diretor a segurar as pesadas raízes.

Hermione, Gina, Minerva, Olho-Tonto, Rony, Lupin e Tonks adiantaram-se e adentraram na árvore oca.

-Vá professor, eu consigo agüentar! –falou Harry, ao que Dumbledore concordou e pulou para dentro do buraco escuro. Harry contorceu-se e puxou a varinha de dentro do bolso, e gritou. –Imobilus!

A arvore ficou com as raízes suspensas no ar, e assim que Harry jogou-se para dentro do buraco, ela se fechou, e a frente deles só havia o breu.

-Certo, acho que aqui já é seguro para iluminarmos nosso caminho... –murmurou profa. Mc. Gonagall. –Lumus Máxima!

Uma luz quase cegante inundou o local que cheirava a terra molhada. A sua frente havia um longo corredor, que parecia não ter fim.

-Vamos então, não temos tempo a perder aqui... –falou Harry, caminhando à frente junto com Dumbledore.

-CUIDADO! ALI AO LADO! –berrou Tonks indicando um canto mais afastado. Dois pares de olhos brancos leitosos e sem vidas vinham em direção a eles, no mesmo momento em que ouviam o som de pinças gigantes se aproximando ao outro lado.

-Cuidamos dos inferis! –gritou Lupin, enquanto ele e Tonks corriam em direção aos dois corpos que aproximavam-se.

-Creio que seja acromântulas que estejam vindo aqui, não é mesmo? –falou Rony.

-Bem vindo ao seu pesadelo... –murmurou Harry, adiantando-se junto a Rony, Hermione, Gina e Dumbledore para o som de onde vinham as pinças. –Já lutei com elas, no labirinto do Torneio Tribruxo, atinja seus abdomens, seus olhos, qualquer coisa, simultaneamente!

E então, a luz da varinha de Mc. Gonagall se apagou, sem aviso. E o local tornou-se escuro novamente.

-Lumus! –falou Hermione agoniada. Sua varinha não respondia ao comando. –Ai, meu deus, o que vamos fazer?
-Há algum feitiço aqui que torna nossas varinhas neutras. Não poderemos destruí-los aqui! –falou Dumbledore. –Acho que temos de correr até um local onde nossa varinhas funcionem.

-Jamais passaremos por acrocântulas sem nossas varinhas! –falou Moody.

-Se quiserem viver, corram! –falou Harry, ouvindo o sibilo de cobras aproximando-se. As pinças das gigantescas aranhas cortando o ar rapidamente, e Harry sentiu o frenesi do momento. Segurou Gina e Hermione pelas mãos e desatou-se a correr. Rony, Dumbledore, Mc. Gonagall em seus calcanhares.

Ouviram Lupin e Tonks correndo a sua frente, as respirações ofegantes. Harry sentiu-se bater com tudo contra uma serpente que se esgueirava por meio as suas pernas, e a única coisa que enxergavam as suas costas eram os olhos brancos dos Inferis que o perseguiam.

-Não consigo enxergar onde estamos indo! –gritou Rony.

-Agradeça a Merlin por isso, rapaz! –respondeu uma voz rouca as suas costas. Moody havia os alcançado, mesmo com a perna de pau o atrapalhando a cada movimento.

Num impulso, Harry puxou a varinha, mirou por de cima das pessoas atrás de si, guiando-se pelo barulho de pinças emitidos pelas acromântulas que os perseguiam.

-Expelliarmus! –gritou, brandindo a varinha.

E então, inesperadamente, um jorro de luz vermelha saiu da ponta da sua varinha, e atingiu em cheio o que parecia uma das enormes patas peludas do monstro.

Percebendo que suas varinhas haviam voltado a funcionar, os outros viraram-se em direção a seus inimigos, e jorros de luz vermelhas foram lançados contra todos monstros que o perseguiam. Mas nenhum fora decisivo. Quatro jorros de luz verde, lançados pela varinha de Dumbledore, Moody, Tonks e Lupin acertaram de uma só vez a maior acromântula que os perseguia.

-Aproveite para treinar, Harry! A avada kadavra não é proibida contra monstros! –gritou Tonks, e encorajado por isso, Harry reuniu toda sua coragem e todo seu ódio por Voldemort e gritou com toda força que podia.

-Avada Kadavra!

Um imenso raio de luz verde desprendeu-se de sua varinha no mesmo momento, e uma segunda acromântula caiu estatelada no chão.

-Muito bom! –comemorou Tonks, quando ela e Lupin passaram a mil por eles, em direção ao fundo do corredor. –Vamos atrás dos Inferis.

-Um, dois, três! –gritou Dumbledore, mirando a varinha no corpo da terceira e última aranha gigante. Ele, Harry e Rony gritaram juntos. –AVADA KADAVRA! –e o mostro caiu de cara no chão.
-Tudo bem... –comentou Dumbledore, enxugando a testa com a manga da capa púrpura. –Isso não vai corromper nossas almas...

Hermione, Gina e Mc. Gonagall já haviam quase que por completo exterminado as víboras que serpenteavam aos seus pés, e Moody havia juntado-se a Lupin e Tonks contra os Inferis. Harry pode ver uma parede de fogo se formar as suas costas, e percebeu que tinham acabado já com aqueles também.

-Digamos que isso foi fácil... –comentou Moody, enquanto caminhavam, cerca de cinco minutos depois para o fundo do corredor. –O que nos espera a frente é muito pior... Isso é apenas um teste.

-Deixou a mensagem ao segundo grupo, Minerva? –perguntou Dumbledore.

-Sim, creio que daqui algum tempo nos alcançaram...

-É uma pena que não poderemos esperar, pois acho que acabamos de encontrar a porta para o mundo das Trevas de Voldemort... –murmurou Harry cansado, apontando a sua frente.

Lá, encontrava-se uma magnífica parede de gelo, uma espessura de no mínimo, dois metros.

-Achei que o inferno fosse quente... -comentou, encostando a mão na parede.

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