As Pirâmides de Furmat



Frio. Cheiro de mofo e coisas pútridas adentrando em suas narinas. O barulho do vento uivante. A dor de uma pancada extrema na nuca. Harry finalmente reuniu as forças necessárias para apoiar a mão trêmula no liso e frio chão de pedra. Percebeu, na total escuridão, os cabelos ruivos de Gina jogados em um canto. Seu rosto mostrava cortes ensangüentados, e seus olhos estavam fechados, e seus músculos contraídos em dor.

-Gina! Você está bem? –perguntou Harry correndo em sua direção, tentando reconhecer o sinistro local.

-Estou, que diabos aconteceu? Por Merlim, minha cabeça dói! –resmungou ela, tentando pôr-se de pé.

-A última coisa que me lembro é que aparatamos, seguindo as coordenadas que Dumbledore nos passou. A Ordem estava conosco... –falou Harry, tateando o bolso interno de suas vestes a procura de sua varinha. –Droga, onde está minha varinha?

Gina, de repente, começou a procurar algo em suas próprias vestes.

-Harry, a minha também sumiu... Onde estamos? –perguntou Gina, a voz trêmula, porém a voz firme.

-Segundo as coordenadas de Dumbledore aqui deveria ser o local onde Voldemort e seus fedidos Comensais estariam escondidos, mas neste escuro não vejo nada além de você... –respondeu Harry, olhando para os lados. –Será que erramos ao tentar aparatar?

-Harry, as possibilidades de nós dois termos errado o local é mínima, e nossas varinhas não sumiriam de nossos bolsos andando... –respondeu Gina, caminhando no escuro, tateando as paredes do local onde pareciam ter sido aprisionados. –Merda... Alguém nos pegou, eu só não sei como...

-Vamos ter de sair daqui com ou sem varinha, antes que percebam que acordamos... –falou Harry, tapando o nariz com a manga da camisa. –Credo, que cheiro horrível é esse? Tem alguma coisa podre aqui...

Harry continuou a caminhar pela cela na qual fora aprisionado e percebeu um monte mais escuro do que o normal, paralelo a si. Caminhou naquela direção, indicando-o para Gina, que o acompanhou. Harry o cutucou com o pé, hesitante.
Percebeu que era grande, maciço, e frio.

-É um corpo... –falou ele baixinho, tateando para senti-lo. Achou a roupa do cadáver, e o puxou até o local onde antes estivera, onde havia uma pequena nesga de luz, vinda do teto, onde havia um minúsculo buraco.

Harry afastou-se do corpo para poder enxergá-lo melhor. Ao seu lado, Gina levou as mãos à boca entreaberta.

-É uma mulher grávida... –sussurrou ela, espantada. –Meu deus, o que houve? –ajoelhou-se ao lado da mulher, enquanto a mente de Harry trabalhava alucinadamente rápido.

“Conheço essa mulher...”, pensou ele, observando os longos cabelos castanhos e levemente ondulados da mulher. Era muito bonita, e Harry sabia que já havia a visto em algum lugar.
Não. Não podia ser ela. Havia morrido há muitos anos. Antes mesmo de ele próprio nascer.

-Gina, afaste-se! Há algo muito errado por aqui! –falou Harry, puxando Gina para perto de si, ainda com os olhos fixos na mulher de pele alva a sua frente.

-O que houve Harry? –perguntou ela.

-Acho que ela não morreu realmente aqui... –respondeu ele. –De fato, acho que é um Inferi...

-Não Harry, não poderia... Afinal, por que ela não nos atacou?

-Não sei, deve obedecer a algum comando, sei lá... –respondeu Harry.

-Harry, estamos à mercê de Voldemort... Ele não espera as vítimas acordarem para matá-las. Especialmente se a vítima é você. –Gina tomou fôlego. –Escute Harry, os Inferi de Voldemort tem uma única ordem, e achei que você se lembraria dela. Eles matam tudo que podem quando percebem que a pessoa próxima é inimiga de Voldemort.

-Gina, Voldemort planeja coisas que nem as piores mentes podem imaginar...

-Está bem então Harry, por que você acha que essa mulher não morreu neste local? –perguntou Gina, tornando-se impaciente.

-Porque eu a conheço... –respondeu Harry, passando as mãos nos cabelos despenteados.

Gina ergueu as sobrancelhas, mostrando surpresa.

-Como é? –perguntou incrédula.

-Gina, esta é Victória St. Clair, e ela morreu algum tempo antes de eu nascer... –respondeu Harry, ao que Gina arregalou os olhos. –Ela era a melhor amiga de minha mãe, a segunda última réia da Grã-bretanha. Ela estava grávida de Sirius quando morreu.

-Harry, isso é pouco provável, esta mulher deve ser muito parecida com ela apenas isso. E o fato de estar grávida deve ser uma estranha coincidência. E mesmo que por algum momento eu acreditasse que ela é Victória St. Clair me responda Harry, como ela estaria ainda em estado de putrefação após tantos anos terem se passado desde sua morte?

-Não sei, mas se tem algo que sei desde que recebi minha carta de Hogwarts, é que no mundo da magia, qualquer coisa é possível. –respondeu ele. –Gina, pense bem, estamos neste local porque procuramos caçar um bruxo que separou em sete pedaços sua alma, para tentar alcançar a imortalidade.

Gina não teve tempo de responder, pois naquele momento, uma cegante luz inundou o cubículo, e palmas lentas e debochadas puderam ser ouvidas as costas dos dois.

-Brilhantes poderes de dedução, Potter. Pena que isso não salvará sua vida... –falou uma voz desdenhosa, conhecida de Harry.

Lentamente Harry se virou, e pode ver então, o rosto alterado de Bellatrix Lestrange.

-Ah é? E diga-me, por que tanta convicção em sua voz? Todas as vezes que você e seu mestre disseram isso a mim, eu saí ileso. –respondeu Harry, percebendo o olhar, geralmente inabalável de Bellatrix falhar.

Mas esta logo se recompôs.

-Olha, então o bebezinho Potter aprendeu a usar palavras bonitas, é? –cutucou ela, aproximando-se lentamente do casal. –Mas parece que suas habilidades como pai não cresceu em nada não é mesmo? Ou então, não teríamos em nossas mãos esse pequeno entulho, não é mesmo? –falou ela, apontando para um canto, onde Harry pode ver pela primeira vez, que um Comensal mascarado segurava Lílian, que chorava e debatia-se.

-Lílian... –falou Gina, correndo naquela direção. Mas então, algo invisível a impediu, como se uma parede ali estivesse.

-Você vai pagar sua vagabunda, ah se vai... –falou Harry, surpreendido por usar tais palavras.

-Palavras não me atingem, Potter... E você, -falou ela para o comensal ao fundo. –leve a criança até o mestre.

-Você falou que palavras não a atingiam, não é mesmo, mas e que tal feitiços? –perguntou ele, aumentando seu tempo, concentrando-se ao máximo. –Esses a atingem?

-Não vejo nenhuma varinha em suas mãos e muito menos ao seu alcance, pode me dizer como irá conjurá-lo? A partir de sua cicatriz? –perguntou ela, com a sua já em riste, pronta para o ataque.

“Não, com os poderes de réia de minha mãe...” , pensou ele, olhando de relance para o corpo de Victoria próximo a si. “Se ela possuísse ainda sua pedra...”

-Bom, boa sorte, Potter, você vai precisar... –respondeu ela, e saiu do local, mas não sem antes apagar a luz que havia conjurado.

Harry ajoelhou-se ao lado do corpo inerte da mulher, e procurou em vão algo que o ajudasse.

-O que você esta fazendo Harry? –perguntou Gina, que se ajoelhara ao seu lado.

-Não sei... Qualquer coisa, algo que nos ajude a sair daqui, achar os outros, salvar Lílian e matar Voldemort... –respondeu ele, no mesmo momento que algo no pescoço dela o fez chamar sua atenção.

Um local vermelho, talvez raspado, ou uma alergia, aos olhos de algum trouxa, mas Harry pode ver que formava a estranha formação de uma estrela. “Bem na altura da pedra...”
Então, Harry entendeu. A pedra que ela e sua mãe usaram por tantos anos, em nada significava, de verdade. O poder estava em seu sangue, em suas mentes. Mesmo afastada de sua pedra, o poder continuava ali. Harry passou o dedo levemente no local, e como por mágica, o local se aqueceu.

-Harry, o que está acontecendo? –perguntou Gina, quando percebeu que algo ali próximo havia caído.

-Eu acabei de fazer algo, que duvido até que Dumbledore saiba que exista. –respondeu ele assombrado. –Acabei de fazer um feitiço convocatório... Nossas varinhas estão aqui.

-Como? Harry, estou confusa... Como você fez isso? –perguntou Gina, vacilante.

-O estranho é Gina, que nem mesmo eu o sei... –respondeu ele, tateando o chão a procura das varinhas recém convocadas. –Mas Victoria continua viva, mesmo depois de morta... Assim como minha mãe... Venha, achei as varinhas.

Harry entregou a de Gina, e imediatamente lançou alguns feitiços para quebrar a barreira invisível que os prendia. Tentou por várias vezes consecutivas, e mesmo assim, não conseguiam deixar a escura câmera. Harry considerou também aparatar, mas sabia que não seria tão simples assim. Sentou-se, com a cabeça de Gina apoiada em seu ombro, ambos em completo silêncio e extrema concentração, imaginado como poderiam sair.
Passaram-se longos minutos, talvez horas, até que qualquer ruído pudesse ser ouvido. Até que as luzes acenderam-se novamente, a barreira invisível de desfez, e o bruxo que uma vez Harry julgara morto, ali estava para salvá-lo. Alvo Dumbledore, a aparência astuta de sempre, e o rosto contraído em raiva.

-Dumbledore, o que aconteceu? Como eu e Gina fomos pegos? –perguntou Harry.

-Ah, vocês não foram os únicos a serem capturados pelos comparsas de Voldemort. Ou melhor, pelas magias de Voldemort... –respondeu ele, observando a mão que ainda permanecia enegrecida pelo poder do anel onde Voldemort havia depositado um sétimo de sua alma.

-Como assim? –perguntou Gina. Nós só aparatamos nada mais aconteceu... –falou Gina.

-Oh sim, aconteceu... Nós é que não lembramos. Esse local onde estamos, só permite que aparatemos em um local, e infelizmente esse único local são estas desagradáveis celas... Imagino que viemos parar separados em umas porções de celas, e os Comensais resolveram não liberar a passagem para nós... Mas olhem pelo lado bom, recuperaram sua varinha, e imagino como... É uma pena seu túmulo ser arrombado...

-Está falando de Victória? –perguntou Harry olhando para a silhueta do cadáver ali perto.

-Ela mesmo... –respondeu Dumbledore com ar solene.

-Tentei tudo que foi feitiço que me veio a mente senhor, e o mesmo Gina, mas continuamos presos aqui... –comentou Harry, tentando desculpar-se por não ter ido salvar seu antigo diretor.

-Oh sim, essas barreiras apenas se abrem se acionadas pelo lado de fora... –respondeu ele, caminhando em direção ao local onde outrora estivera Bellatrix. –Descobri isso da pior maneira...

-Então como o senhor escapou de sua própria cela? –perguntou Gina, o seguindo, com Harry a seus calcanhares.

-Pelo visto, Voldemort subestima os trouxas. Sabem que estas ruínas antes pertenceram a eles? Descobri isso agora, na realidade todos diziam que nenhum trouxa havia pisado aqui. Bem, parece que o antigo habitante de minha cela havia cavado um enorme túnel para onde pude sair, ao qual Voldemort nem sequer percebeu...

-Senhor, Lílian está com Voldemort, agora, precisamos fazer algo... –falou Harry.

-Sim, sim, estamos indo, os outros membros da ordem já foram libertados e estão em algum lugar ai fora, esperando meu sinal de ataque... –respondeu Dumbledore. –Já estamos indo, mas antes vou devolver Victoria St. Clair a um lugar apropriado para uma Réia.

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