A COELHA do Lord



Cheia de fome, sede e medo, viu as horas passarem sem que vivalma aparecesse atrás da porta, por momentos pensou que Voldemort decidira mata-la à fome, mas enganara-se. A meio da tarte, uma malga de sopa e um pão foram-lhe entregues por uma portinhola mágica, alimentos que ela sorveu sem sequer se preocupar com o facto de poderem estar envenenados.

Não estavam.

Haviam já passados cerca de três horas e ela continuava viva e de boa saúde, prestes a embarcar num sesta, quando finalmente a porta se abriu.

Sentiu-se desapontada ao ver que não era Tom, mas sim um devorador, este soltou-lhe as correntes, e pousou um vestido vermelho sobre a cama.

_O Lord quer que te vistas para ele. – disse – Virei buscar-te mais tarde.

_Ele que enfie o vestido no …

O devorador da morte interrompeu-a dizendo:

_O mestre sabia que irias responder algo do género… e disse que se te recusasses, passearias nua pelos corredores desta mansão até ele finalmente decidir matar-te. Pessoalmente acho que tens muita sorte por ainda respirares.

_Ninguém pediu a tua opinião, azelha! Agora desanda daqui para eu me vestir.

O devorador da morte lançou-lhe um sorriso de gozo e fechou a porta com estrondo.

O vestido, de seda vermelha, ficava incrivelmente justo ao corpo de Orion, justo demais. O seu decote quase lhe chegava ao umbigo e a racha na perna esquerda tocava a sua anca. Era uma roupa ousava demais…

_Raios me partam se eu me vou aproximar dele com isto! Nem sitio para a varinha tem…

Observou o pedaço de pau inútil, que até ali ainda não lhe servira de nada. Decidida a não andar assim vestida, vestiu o manto por cima do traje vermelho, e por mera aparência estética, deu um jeito no cabelo desgrenhado.

O devorador apareceu pouco depois, abrindo num sorriso por vê-la ainda com o manto.

_Quer dizer que preferes ir nua a…

_Cala a boca imbecil! – ordenou vendo-se ser obedecida – Eu tenho o raio do trapo vestido.

_O mestre disse sem mais nada.

_E eu estou-me lixando para o que o mestre diz! – gritou aproximando o seu rosto do do devorador a cada palavra que dizia.
Ele suspirou murmurando:

_O que se há-de fazer? Esta gente nova tem tendências suicidas…


Voldemort encontrava-se sentado na poltrona onde ela estivera sentada na noite anterior, e ao seu lado encontrava-se uma outra vazia, que ele lhe indicou.

_Eu disse para a obrigares a vestir. – retorquiu em direcção ao devorador.

_Eu tou vestida. – avisou ela.

_Tira o manto! – disse ele sem rodeios.

O devorador saiu fechando a porta.

Ela não se sentou na poltrona, nem retirou o manto.

_Tu não mandas em mim. – comentou cruzando os braços e fazendo beicinho.
Ele caminhou, sem que os seus passos fossem ouvidos sobre a alcatifa e colocou-se diante dela.
Uma feiticeira mirrada, gritou de uma moldura atrás dele:

_Beija! Beija!

Mas foi recebida por um rugido dele:

_Cala-te ou atiro-te para o fogo.

O silêncio reinou de novo na sala, dando-lhe um toque sepulcral.

_Tira… o… manto. – disse ele muito devagarinho, como se ela fosse uma atrasada mental.

_Não.

Ele continuou no mesmo tom retardado:

_Ou… vou… ter… de o … tirar… eu.

_Quero ver isso! – comentou.

Ele agarrou-lhe os dois pulsos tão depressa que ela não teve tempo sequer de se defender, e encostou-a com toda a força na porta, mordendo-lhe o pescoço.

_Sai lapa! – deu-lhe uma joelhada afastando-se.

Ele mordeu o lábio, como se tudo aquilo fosse muito divertido para ele, o que muito provavelmente era.

_Vá! Mata-me de uma vez.

Ele soltou uma gargalhada gelada.

_Não. Voldemort é mau… não é piedoso! Eu vou fazer algo muito pior… que vai doer em ti muito mais do que a morte.

Ela bufou tomando o tom dele como bluff.
_
Agora tira o manto! Eu adoro ver esse vestido nas minhas coelhas…

_Co.. Co… Coelha?! Vai pastar macacos Troll! Eu não sou coelha de ninguém, muito menos de ti.

Ele deu um passo em direcção a ela, ela recuou dois passos.

_Tem medo de mim?

_Não. Se eu quisesse matava-te agora!

Ele riu-se, fazendo-a sentir-se insignificante.

_Os teus Avada Kadavra fazer-me-iam comichão!

Agarrou-a pela cintura sentindo-se superior enquanto a via debater-se e esmurrar-lhe os ombros e peitorais, não tendo qualquer efeito.
Ele pegou-lhe como um saco de batatas, agarrando-lhe nas coxas e levou-a para o seu quarto.

A divisão tratava-se de uma divisão acolhedora, com um bonito dossel talhado em madeira negra, com cortinados verdes semi-transparentes e brilhantes.

Na parede ao lado abria-se uma janela com varanda e cujas cortinas absorviam a luz pálida da lua cheia que teimava em entrar.

A lareira crepitava, o incenso queimava e a cama chiou quando ele a pousou sem cerimónia em cima dela.

_Tira a capa!

_Não.

_Tira a porra da capa… não estás a ver que eu estou a mandar?!

_E eu estou-me lixando… - rebolou sobre a colcha de veludo e saiu da cama.

Ele urrou, deixando-se cair de costas.

_Desisto. – disse ele – Vou procurar alguém que não fuga de mim.

_Então tens muito que procurar… não há por ai nem uma única feiticeira que não tenha medo de ti! A não ser que prefiras um feiticeiro, mas acho que também há muito poucos…

_Tu não tens medo de mim, pois não? – investiu ele mais uma vez.

_Não.

Ele sentou-se na cama, olhando-a nos olhos.

_Então porque foges?

_Porque eu não gosto de ti e tu não gostas de ninguém!

Deixou-se cair sobre um cadeirão sem reparar sequer onde se sentava.

Tom esticou o braço para tentar impedi-la mas tarde demais.

Tssss!

_AIIII!

Nagini, que se havia enroscado no cadeirão, havia cravado os seus dentes pontiagudos e venenosos no traseiro de Orion, que gritando de dor, saltitou pelo quarto agarrando o traseiro.

_Venha cá! – chamou ele metendo Nagini fora do quarto – Deixe ver!

_O meu rabo?! Nunca!

_Queres morrer?!

_Entre isso e tu veres o meu rabo… deixa pensar… SIM!

Ele agarrou-a deitando-a na cama com alguma dificuldade.

Segurou-lhe os braços e com um movimento de varinha tirou-lhe a roupa.

Claro que despi-la era desnecessário, ele teria apenas de ir buscar o antídoto.

_Vou buscar algo para anular o veneno. – disse saindo do quarto.

_Tom! As minhas roupas…

Mas ele já não ouviu, trancara a porta e deixara-a ali, nua.

Depressa se levantou para procurar algo com que se pudesse cobrir…
O armário de Voldemort encontrava-se ali perto, abriu-o e tirou um manto negro, que era a única cor existente ali.

Vestiu-se e encolheu-se envergonhada a um canto. Sentindo o seu traseiro arder com o veneno da cobra.
Sentiu-se lentamente a desmaiar… todos os seus sentidos se apagaram, e deixou o corpo cair para o lado. Pensou que havia morrido…

Mais uma vez enganara-se.

Acordou no dia seguinte, deitada no chão, mas sem dores.
Tom de certo havia-lhe dado o antídoto, pelo que estava novamente saudável… agradeceu mentalmente, sentindo que não queria ter morrido com uma mordidela no rabo.

Na cama, Voldemort dormia silenciosamente. A sua varinha estava pousada sobre a mesa de cabeceira, e o corpo sereno dele tornava-se algo a que ela não podia resistir.

Pegou na própria varinha e gatinhou lentamente até ele, de joelhos aproximou a ponta da varinha da sua pele pálida e usando-a como caneta desenhou um bigode, uns óculos redondos e uma cicatriz na testa…

Incrível como ele se assemelhava à foto que tinha no seu escritório!

Antes de afastar a mão, ele acordou agarrando-lha num reflexo.

_O que ias fazer?

_Nada! – respondeu muito rapidamente.

_Vinhas-me acordar?

Ela acenou afirmativamente com grande convicção e ele soltou-a para esfregar os olhos, onde a tinta fresca borrou para as pálpebras dando a impressão de que ambos os olhos estavam negros.

Ela abafou uma gargalhada.

_Já te disse como ficas sexy com os meus mantos?

Ela ignorou-o.

_Onde é que se pode tomar banho nesta espelunca? Ou tu não tomas banho?

Voldemort levantou-se espreguiçando-se.

_É na porta ao lado.

Ela foi até à sala de banho, mas teve o cuidado de trancar a porta atrás de si… a ultima coisa que queria era aquele troll retardado perto dela, enquanto estivesse no banho.

O banheiro, chique e asseado, tinha no lugar da banheira uma pequena piscina com agua pré-aquecida até ao peito, e na qual ela entrou com grande gosto.

Lavou-se cuidadosamente, tendo o cuidado de despejar todos os champôs e geles de banho depois de os ter usado, e saiu pelos degraus elegantes.

Antes de ter tempo de agarrar a toalha, Voldemort entrou, sem sequer ter de usar magia para entrar, comprovando que mais uma vez o seu feitiço fora ineficaz.

_Ei! – enrolou-se numa toalha que ele prontamente lhe tirou, ignorando completamente o facto dela estar ali exposta.

_Esta toalha é minha. A tua é esta… - passou-lhe uma toalha vermelha com letras amarelas que diziam: Falhada .

_Parvo! – ofendeu-o, ignorando as letras da sua toalha e tapando-se.

Sem esperar que ela saísse, ele começou a despir-se, e ela fingindo-se horrorizada, mas tratando-se apenas de um gritinho teatral, saiu da sala de banho fechando a porta.

Vestiu as suas roupas, que maravilhosamente haviam aparecido sobre a cama já feita dele.

Ainda não se tinha calçado quando ouviu um grito de gelar os ossos.

_ORION! O-R-I-O-N!

_Tom, querido não gaste o meu nome!! – gritou-lhe sabendo obviamente o motivo de tal tumulto… ele devia ter-se visto ao espelho.

_ISTO FOI LONGE DEMAIS! – gritou ele. – Venha aqui, JÁÁÁ!

Ela ignorou-o.

Ele apareceu, enrolado na toalha, com o rosto vermelho de fúria e numa expressão que não era bom sinal… talvez ela tivesse passado as marcas.
Ele a agarrou pelo pescoço, e atirou-a para a cama, destapando com a boca uma caneta de tinta permanente…

_Vais-me pagar!

Agarrou-a com magia e desenhou um bigode encaracolado sobre o lábio dela, e como se não bastasse uma perinha no queixo.

_Afasta-te monstro!

_Ai é monstro?! Castigo redobrado!! Escreveu-lhe na testa: COELHA DE VOLDEMORT, e com a varinha fez a tinta brilhar e piscar como as luzinhas de natal, para que se vissem bem de longe. – E ai de ti… repito, ai de ti… que eu vá tomar banho e tenha mais alguma surpresa desagradável!

Ela engoliu em seco. Ele saiu de cima dela e dirigiu-se para o seu banho…

Ainda não tinha passado cinco minutos quando ele reapareceu completamente molhado, segurando nas mãos os frascos de champôs vazios.

Ela não fazia questão de estar ali para ver o que aconteceria, mas não tendo por onde fugir, escondera-se debaixo da cama. Um esconderijo obvio para quem brincara ás escondidas durante a infância, mas para Voldemort, nenhuma alma com cérebro se meteria debaixo do dossel.

_Não te escondas, que só vai ser pior! – avisou enquanto a procurava.

Praguejou durante minutos até finalmente a ter achado. Puxou-a dali para fora e observou o seu rosto…

Apesar da fúria que sentia não podia deixar de rir da figura dela.

Estava assustada, conseguia senti-lo, mas por outro lado aquela era a bruxinha mais insolente que já alguma vez conhecera. Reprimiu as vontades que sentia crescer dentro de si…
_Vais-me matar agora? – perguntou ela.

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