A piscina de estrume



Ele largou-a.

_Porquê?

_Porque não.

_Não és capaz?

_Sou!

_Duvido…

_Preciso torturar-te outra vez?

_Torturar não é matar… tu torturas-me porque sabes que quando acabares eu ainda estou aqui!

_Pára de ser insolente.

Atirou-a para a cama, caindo em cima dela, sentia uma vontade mortal dentro dele… algo que desejava sair para fora, e que até agora ele reprimira.

_Sai! – esmurrou-o em vão.

Ele beijou-a, na boca, com língua, com paixão, com fogo…

Ela gemeu fingindo-se enojada, não lhe ia dar esse gostinho…

_Pára de fingir! – abriu-lhe a blusa rasgando-lhe os botões.

_Larga o Osso! Larga! LARGA! L-A-R-G-A!!! – gritou esperneando enquanto desviava o rosto das suas investidas.

Voldemort teve de admitir que por muito desejo que tivesse, aquele género de cenas acabava-lhe com o apetite todo… largou-a, e mais uma vez, como em tantas outras, ela correu para o outro lado da divisão, cobrindo-se com os farrapos que haviam sobrado da sua blusa.

Remediou o enorme rasgão a varinha (para alguma coisa aquele pedaço de pau teria de servir), e deixou-se cair no cadeirão sem olhar para ele.

Algo na atmosfera pesada e silenciosa que se abatera na divisão, lhe dizia que não devia ser ela a quebrar o gelo.

_Estás de castigo. – disse ele secamente, aproximando-se dela, que se afastou maquinalmente. – Não vou voltar a tocar-te! – tocou-lhe com a ponta na varinha na cabeça e ela sentiu um arrepio mágico descer-lhe pela espinha uma sensação desagradável. – Podes ir-te embora.

_Posso ir-me embo… - parou a meio da frase como se avaliando o seu significado – embora para onde? Para casa? Deixas-me abalar assim?! Que generosidade… nunca pensei que fosses piedo… - fora interrompida por um grito:

_Pisga-te daqui!

Ela deu um salto involuntário ao som da voz dele, e correu dali para fora.

Maravilhosamente apercebeu-se de que as portas já não se trancavam diante de si e feliz da vida correu escadaria fora até ao hall onde depois da porta se dirigiria até ao ministério… imaginava vivamente a cara do olho-louco quando ela o informasse de que descobrira não só o paradeiro de Voldemort, como também tinha a certeza que ele pirara de vez…

O devorador sem cérebro ainda se encontrava ao pé da porta, adormecido de encosto a uma armadura. Ela tocou na maçaneta, observando-o e sem resistir, fez passos leves na sua direcção. Já próximo dele, rasteou a armadura que se desfez e caiu pesadamente com um grande alarido, seguido do som abafado do devorador em cima dos pedaços desconjuntados.

Sorriu feliz da vida quando o devorador acordou sobressaltado e se tentou levantar de entre os pedaços metálicos, sem saber que canhões haviam caído ali para o acordarem daquela maneira.

Ela lançou-lhe um outro sorriso de troça, mas antes que pudesse voltar quem se riu foi o devorador.

_Não sabia que as arvores de natal já andavam por ai sozinhas. – comentou reparando obviamente na sua testa piscante…

_Não te rias de mim! – encantou-o.

_Eu não me riu da menina. – repetiu ele estupidamente.

Rodou a maçaneta da porta principal e abriu-a, a noite lá fora estava calma e silenciosa, com a pálida lua iluminando o caminho e banhando os degraus cinzentos da entrada…
Deu um passo na sua direcção, e magicamente foi elevada no ar a dois metros de altura e atirada para o outro lado do hall, que era uma distancia considerável… Ao cair no chão deslizou até à parede, na qual embateu fazendo cair uma moldura da parede, que lhe falhou a cabeça por milímetros.

O seu ocupante, um velho decapitado, reclamou com a cabeça debaixo do braço, quando ela voltou a coloca-lo na parede, enquanto ela o ignorava…

Por algum motivo não conseguia sair dali… tentou as janelas e tentou até materializar-se mas, em todas elas, era repelida e atirada contra a parede mais próxima.

_VOLDEMORT! – gritou ouvindo a sua voz ser repetida vezes sem conta pelos corredores desertos. Acabara de se lembrar do feitiço que o bruxo fizera cair sobre ela antes de sair do quarto…

_Menina acalme-se! – disse o devorador ainda caído entre os pedaços de armadura.

_Tu vais voltar para o teu posto e pendurar as calças na cabeça! – gritou-lhe irritada.

_Eu vou voltar para meu posto e pendurar as calças na cabeça. – repetiu ele despindo-se imediatamente.

Orion reparou com bastante desagrado que o bicho não vestia qualquer tipo de roupa interior…

Correu escadaria acima em direcção ao quarto de onde acabara de sair, estava deserto.

Não estava simplesmente disposta a ficar ali sentada à espera que voltasse, tinha de aproveitar aquele momento, em que a sua raiva desvairada ameaçava explodir, para agir.

Todas as portas daquele corredor davam para quarto, a grande parte deles vazios, mas outros, em que os feiticeiros e feiticeiras dormiam e não acordavam nem quando ela abria a porta e espreitava o seu interior.

Mais ao fundo, uma porta dava para a majestosa biblioteca, com centenas de estantes colocadas estrategicamente, tocas elas atulhadas de livros, talvez Voldemort estivesse por ali…

Chamou-se a si própria à razão. Apesar de Voldemort ser chanfrado não se ia por a ler enfiado numa biblioteca àquela hora da madrugada!

Fechou a porta da biblioteca e abriu a seguinte, e a seguinte, e a seguinte… uma hora depois encontrava-se estafada, vendo a sua raiva ser descarregada em portas ao invés do rosto de Tom.

Desceu ao andar inferior, e uma após outra, verificou o conteúdo das divisões… nada, Voldemort parecia simplesmente ter-se evaporado. A manhã havia nascido e ela sentiu a sua barriga roncar quando fechou a ultima porta daquele corredor, que surpreendentemente dava para um outro corredor perpendicular, e no qual ela nem quis entrar…

Viu um vulto passar diante da luz ao fundo do corredor, seria ele?!

Percorreu o corredor correndo em direcção à luz vinda da hall, e procurou quem quer que ela tivesse visto… espera completamente vazio.

Ao pé da porta o devorador ainda sem calças, estava colocado em sentindo, guardando ferozmente a porta…

_Passou por aqui alguém? – perguntou sem olhar o homem da cintura para baixo.

_Sim, sim… - respondeu completamente alheio à sua nudez – Madame Lestrange que se dirigia ao refeitório. – apontou-lhe uma porta oculta por trás de cortinados aveludados. Não a havia visto.
Virou as costas ao informador, e foi direita à porta que Bellatrix não fechara…

Deixou cair o queixo, no seu interior havia uma mesa requintadamente posta para o pequeno almoço, ladeada por cadeiras almofadas e forradas a couro, sobre as quais se sentavam quase todos os devoradores da morte procurados, inclusive algumas caras que ela não conhecia.

Mas uma cara ela conhecia! Sentado no extremo da mesa Voldemort observava-a abrindo o rosto num sorriso maldoso, ao vê-la cansada, completamente despenteada e com a testa piscando nas palavras Coelha de Voldemort.

_Não tinha ido embora? – perguntou ele.

_Não, Decidi ficar para jantar… Livra-me deste feitiço!!! – gritou enraivecida.

_Meus senhores. – chamou Voldemort de braços abertos – Têm perante vocês uma Auror… vejam bem o grau de dificuldade que teremos em invadir o ministério se tivermos de derrotar Aurors tão poderosos quanto esta que… - sorriu – Não é capaz de se libertar sozinha de um feitiço de proibição.

_Nem todos são como eu! – gritou-lhes.

Alguns devoradores da morte riram enquanto outros olhavam ora para ela, ora para o mestre, como se tudo aquilo não passasse de uma partida de ténis.

_Claro que não… existem alguns piores. Poucos… mas existem.

_Idiota!

_Confessa, boneca, estás tramada…

_O que foi que me chamas-te?!

_Boneca.

_Hã?!

_Estás surda ou quê?!

_Repete isso na minha cara!

Ele aproximou-se dela e repetiu tratando-a novamente como uma atrasada mental:

_Eu… chamei-te… Bo…ne…ca…

Puff!

Um punho havia-se cravado do rosto de Voldemort fazendo-o cambalear um passo.

Eles esticou-lhe o dedo diante do nariz:

_Ninguém me chama boneca, muito menos tu seu troll fedorento.

Alguns devoradores da morte susteriam a respiração… nunca ninguém ousara dirigir-se naquele tom a Lord Voldemort e escapara vivo para contar a história.

_Cruciu! – proferiu.

Num reflexo mais rápido que ela pensava ter, rolou no chão evitando a maldição, e levantando-se por trás dele. Usou a sua varinha para agarra-lo pelo pescoço fazendo pressão contra o seu peito, começou a estrangula-lo.

_Soltaaaa… me… crrrriaturrrra. – tossiu.
Voldemort deu-lhe uma cotovelada no estômago e livrou-se dela.

Virou sobre os seus próprios pés, e esmurrou-a na cara, fazendo-a cair sobre a mesa.

Ela tentou levantar-se vendo-o recuperar o folgo. Atirou-lhe com um cálice de água que lhe acertou em cheio na cabeça… infelizmente para ele, o cálice de pura prata devia pesar meio quilo. O objecto bateu-lhe na cabeça fazendo-o cair, e tomar banho do liquido gelado que continha…

Ele urrou!

Levantou-se para a agarrar, mas ela foi mais rápida e correu para o outro lado da divisão, de varinha em riste.

_Se te aproximas faço-te caracóis loiros! – gritou sendo ignorada, e depois sentindo-se extremamente estúpida.

_Anda cá! – gritou Voldemort enquanto os volumosos e brilhantes caracóis lhe nasciam sobre os lisos e espetados cabelos negros.

_Nem sonhes… - fugiu dele como quem brinca à apanhada, enquanto os devoradores observavam a cena completamente estupefactos.

_Será que tenho de vos dizer o que fazer?! – perguntou Voldemort irritado em direcção aos devoradores, colocando as mãos nas ancas e tornando-se uma figura muito cómica, com os caracóis a saltitar em cima dos seus ombros!

Os devoradores quase esquecendo que aquele era o seu mestre, deixaram-se cair em gargalhadas.

Voldemort, furioso, correu-os todos a Cruciu, e Orion, enquanto fugia sorrateira pela porta em direcção aos corredores labirínticos, julgou ter ouvido um Avada Kadavra… desta vez ele não estava a brincar.

Para sua própria segurança, procurou um esconderijo… mas com todos aqueles devoradores à sua procura seria difícil não ser apanhada…

Perdeu noção do tempo em que andou por ali, divagando pelos corredores e fugindo do som de passos e vozes que a procuravam.
Foi então que se viu encurralada num corredor, e não tendo outra alternativa, enfiou-se dentro de uma das portas.

Bufou ao reparar que mais uma vez entrara num armário de vassouras…

Perto de si, os devoradores abriam porta por porta vasculhando o interior de todas elas…

Ela tinha de se transfigurar, e desta vez tinha de ser uma transfiguração perfeita, para não a descobrirem…

Tentou uma e outra vez, mas quando finalmente conseguiu… era tarde demais! Um devorador abrira a porta mesmo da tempo de a ver transformar-se, e este imediatamente gritou chamando os restantes.

Teve apenas tempo de se misturar com as restantes vassouras atrás dela, deixando-os confusos.

_Levamo-las todas! O mestre saberá o que fazer.

Pegaram-lhe justamente com as restantes vassouras e esfregonas.

E desta vez ela sentiu que estava em perigo.

Foi levada ao refeitório, onde ainda molhado e com caracóis, Voldemort esperava, com cara de poucos amigos.

_Via transfigurar-se. – informou – Agora só não sei qual delas é.

_Muito bem… então temos que descobrir!

_Quer que faça um contra-feitiço, mestre? – perguntou alguém entre a multidão de devoradores.

_Não. Tenho uma ideia melhor.

E com um movimento de varinha fez aparecer um balde cheio de fervilhante estrume de dragão.

O cheiro repugnante fez vários deles voltar a cara e tapar o nariz, enquanto ela, observava disfarçada, os fumos verdes e mal cheirosos que provinham do estrume “fresquinho”.

_Enfiem a cabeça das vassoura no balde. – pediu Voldemort sentando-se para assistir ao espectáculo. – Comecem por essa ai do canto.
O Lord apontara para uma vassoura de aspecto gasto, na qual um devorador pegou e enfiou dentro da papa pastosa e grossa.

Num som pouco agradável mexeu-a lá dentro, mas nada aconteceu.
Orion entrou em pânico! Iam-lhe enfiar a cabeça num balde de merd**.. (ups) estrume.

Não teria outra solução se não revelar-se…

Uma após outra, as vassouras foram colocadas no estrume que formava já uma papa nojenta e mal cheirosa.

Foi então que o devorador pegou nela, pronto para a enfiar no balde…
Revelou-se, caindo aos pés dele.

_Que nojo! – gritou.

Voldemort soltou uma gargalhada cínica.

_Enfiem-na no balde à mesma… - murmurou enquanto que com a varinha transformava o balde numa espécie de banheira onde ela caberia toda, aumentando é claro, a quantidade de estrume.

_Nãããããão!!! – debateu-se com todas as suas forças – Por Favor, NÃÃÃÃÃÃÃÃÃOOOO.

Estava na beira de piscina improvisada, agarrando-se à madeira de que esta era feita, como uma gata assanhada…

E então gritou em desespero:

_Perdão!

Voldemort fê-los parar de empurra-la mas deixou-a ficar na beira da banheira.

_O que foi que disses-te?

_Perdão… perdoa-me.

_Nãããããooo oooouviiii.

_P-E-R-D-Ã-O. – falou-lhe como se ele não tivesse inteligência, mas o tom foi ignorado por ele.

Voldemort limpou a porcaria das vassouras e fez desaparecer a piscina. Esse gesto deixou-a um pouco menos assustada, ao menos não iria morrer afogada em estrume de dragão…

_O que se diz? – perguntou-lhe.

_Nada.

_Olha que daqui a pouco quem vai nadar és tu. – atirou-lhe.

_Obrigado. – apressou-se a responder.

Voldemort puxou as vassouras e colocou-lhas nas mãos.

_Olha para esta porcaria… - disse fazendo-a olhar para a confusão que se havia instalado na sala de refeições – Logo hoje que matei o ultimo elfo doméstico…

Olhou-o de esguelha. Ele não esperava que ela fizesse de criada, ou esperava?!

_Tu vais limpar o salão… e os andares inferiores precisam de nova decoração e de uma limpeza profunda. Visto que tens muito tempo livre, e não podes sair de casa… podes entreter-te a limpar.

_Nem sonhes!
_E não te esqueças de lavar a loiça. – continuou ignorando-a completamente – Se eu voltar a este salão e cada milímetro deste chão e mesa não brilharem ao meu gosto… nós “falamos”…

Ele abandonou o salão, sendo seguido lentamente pelos seus fieis servidores… deixando-a ali, a sentir a raiva a crescer dentro de si.
E não tendo outro remédio, começou a levantar as dezenas e dezenas de pratos, copos e travessas postas para o pequeno almoço.

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