Conto XIX – Um maroto brasão



Conto XIX – Um maroto brasão

Nota Inicial: O antepenúltimo conto do nosso segundo ano em Hogwarts será narrado por mim, em terceira pessoa. Além de encerrar a trama das “Malas que Sumiram”, a narrativa do segundo ano deverá tomar um novo rumo a partir deste conto: um quê de comédia e romance. Divirtam-se.

Remo Lupin

Tudo ocorreu muito rápido. Em um instante de terror, meus olhos e os de Sirius arregalaram-se em espanto. Iluminados pelo frio e verde lampejo da morte, nós observávamos os últimos e intermináveis segundos de vida de Pedro Pettigrew.

Ao mesmo tempo, a alguns metros dali, a imagem de um desfalecido e sangrento Tiago Potter refletia-se nos grandes e mortificados olhos do Elfo doméstico.

No breve instante que separou o temor da surpresa, Pedro Pettigrew fechara os olhos, aguardando o lampejo atingi-lo e, com isso, carregar-lhe a vida. De olhos cerrados o garoto não pudera ver o elfo sumir diante de Tiago, dissolvendo-se no ar, e reaparecer interpondo-se a Pedro e o lampejo.

Nenhum ganido ou expressão de dor apresentou Tíber, o elfo, ao receber em cheio no seu peito a Maldição da Morte; caiu duro e morto no chão.

Antes mesmo que Remo e Sirius pudessem apresentar qualquer reação, a esfera brilhante e imaterial que o fantasma carregava brilhou intensamente.

O Sr. Coaty tentou arremessa-la para longe, mas o globo parecia ter grudado em suas mãos. O brilho branco e intenso da esfera abrandou-se, dando lugar a um refulgir violeta. O fantasma emudeceu, enquanto assistia imagens diversas projetarem-se da esfera para as negras árvores do jardim, compondo um estranho cenário de contrastes: as árvores sombrias antepostas ao fulgor fraco e sem foco das distorcidas figuras projetadas.

- O que está acontecendo? – Remo perguntou a Sirius, quando o turbilhão de imagens ameaçou tomar uma forma. Por fim, o brilho violeta cessou e viu-se rente ao fantasma uma imagem do próprio Sr. Nilton Coaty dez anos mais novo, como em holograma.

- Venha... – soou gélida a voz do Coaty mais jovem – Venha de encontro à prisão eterna. Aqui serás sempre jovem, porém não possuirás sentimentos. Serás um reflexo de si próprio, preso em um mundo sem vida ou cor.

- M-mas... – balbuciou o fantasma, assustado – O que eu fiz?

- Matastes um inocente utilizando-se da esfera, a que vos foi confiada, da forma errada. Já não mereces viver neste mundo – e, com isto, a imagem do Coaty jovem se desintegrou.

As mãos do fantasma, ainda presas à esfera, que agora não emitia brilho algum, começaram a se distorcer e a adentrar naquele globo de energia. Logo, todo o Sr. Coaty foi sugado para o interior da esfera. Com um último grito desesperado, o fantasma desapareceu para sempre: fora levado a um mundo desconhecido que lhe serviria de eterna prisão.

Com um baque surdo a esfera, agora sólida e opaca, atingiu o chão.

Remo, Sirius e Pedro assistiram a cena, imóveis e mudos. Os olhares assustados apontavam que tais eventos lhes eram, de inteiro, desconhecidos. O olhar de Pettigrew, entretanto, exibia algo mais... um brilho novo e intenso, ao mesmo tempo em que seu rosto não parecia entender o porquê de ainda estar vivo. Foi quando viu o corpo de Tíber caído a seus pés.

O elfo estava pálido. Deitado no chão daquela forma, lembrava apenas uma criatura preguiçosa apreciando uma soneca sob a copa das árvores. Os olhos assustados e abertos de Tíber, entretanto, lembravam a Pedro que a vida já não lhe pertencia.

Uma lágrima de agradecimento e pena percorria a face de Pettigrew quando Remo exclamou:

- Ei, Tiago! – o amigo acabara de se dar conta da gravidade do ferimento do amigo e a necessidade de socorrê-lo de imediato – Temos que levá-lo à Ala Hospitalar!

Como que combinado, os três amigos marcharam até o corpo de Tiago Potter, caído no chão, e o ergueram: Sirius e Remo o apanharam pelos braços e Pedro se encarregara das pernas. Neste cortejo atravessaram os jardins e, adentrando no castelo, rumaram até o hospital.

Pouco sabiam, porém, que as suas costas o corpo de Tíber sumia com a leveza de uma folha carregada pelo vento noturno.

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- Ele ficará bom – informou a enfermeira aos ansiosos Sirius, Remo e Pedro após trinta minutos de espera no corredor externo ao hospital – Uma boa noite de sono e uma xícara de chocolate quente pela manhã deve ser a combinação perfeita depois de ter tomado tantas poções de cicatrização.

- Não bastava apenas um feitiço? – Sirius deixara escapar, encarando a mulher.

- Olha, garoto, eu não assumo o risco. Um feitiço poderia afetar a mente do sr. Potter e problemas é a coisa que menos quero atualmente – e com esta explicação rude, a enfermeira retornou ao interior do hospital, fechando a porta com força ao passar.

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Amanhecia e os três amigos ainda não haviam conseguido dormir. Sentados à janela do Salão Comunal da Grifinória, aguardavam a chegada de Tiago da Ala Hospitalar. Foi graças a esta espera em claro que puderam notar a chegada de uma pequena coruja. A ave pousara à janela da torre, bicando ligeiramente a vidraça.

- Acho que temos uma carta para nós – disse Pedro, em meio a um sonoro bocejo. Abrindo a janela, apanhou a ave e retirou de sua pata um pedaço de pergaminho cuidadosamente dobrado. Abriu e leu:

O diretor de Hogwarts, Alvo Dumbledore, convoca-os a uma breve visita à sua sala. Sétimo andar, por trás da gárgula de pedra. Lembrem-se das Pastilhas de Hidromel.

- Lembrem-se das Pastilhas de Hidromel... – releu Pedro o trecho para os amigos – Ele nos convida à sua sala e somos nós que temos de levar pastilhas? Esperava mais educação de Dumbledore, se querem saber...

- Não é isso que me preocupa – Remo falou, tomando o pergaminho das mãos de Pedro – Nos convoca a uma visita...

- Com certeza, é para nos dar os parabéns! Acabamos com quem queria arruinar com a escola! – Sirius exclamou alegremente, esquecendo por um momento o quão sonolento ele estava.

- Não vamos nos iludir e esquecermos que desobedecemos as regras. Saímos da nossa torre após o anoitecer... fugimos para os jardins... e armamos uma cilada para um elfo que se mostrou inocente – Lupin listava as faltas cometidas durante aquela madrugada.

Ouvindo isto, Pedro afundara-se na poltrona, abandonando a instantânea euforia de receber uma placa de serviços prestados a Hogwarts. Sirius retrucou:

- Poxa, Remo... o que são esses erros se comparados ao mal que o fantasma e o elfo causavam à escola? Convenhamos...

- Mas não deixam de ser erros. Sair impune de uma destas é coisa muito... – Lupin começava a dizer, quando se interrompeu e indagou – E então? Onde que compraremos as tais pastilhas?

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- A senha? – indagou a gárgula de pedra quando Pedro, Sirius, Remo e Tiago (que chegara ao Salão Comunal alguns minutos depois da carta de Dumbledore) pararam nervosos à sua frente.

- Senha?!? – Lupin exclamou, analisando frente e verso do pergaminho recebido sem nada encontrar – Dumbledore nos chamou a uma reunião, só isso.

- Sem a senha, ninguém entra – censurou a gárgula de pedra.

- Como não pode haver uma senha aqui? – dissera Tiago, nervoso, tomando o pergaminho das mãos de Remo e o analisando – Dumbledore não cometeria uma mancada dessas!

- Pastilhas de Hidromel, é isso? – Sirius arriscou, fazendo menção de entregar à gárgula um pacote colorido de balas compradas na Dedosdemel.

A escultura, entretanto, girou sobre si mesma e à medida que girava erguia-se do chão trazendo consigo uma escada circular. Os garotos observaram aquilo, incrédulos.

- Pastilhas de Hidromel... não acredito que gastamos 8 galeões por nada! – exclamou Pedro, decepcionado, seguindo os amigos na subida.

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Alvo Dumbledore, entretanto, não se encontrava em sua sala. Os garotos se viram alvos de centenas de olhos sábios e curiosos dos ex-diretores da escola, todos eles descansando em seus confortáveis quadros pintados a óleo.

- Bem, rigorosamente, na carta não dizia que o encontraríamos aqui... – Remo dizia, nervoso, enquanto apertava o pergaminho em sua mão.

- Caso não saiba, é falta de educação sentar-se sem ser convidado! – ralhou o quadro de um velho calvo e carrancudo, quando Pedro deixou-se assentar em uma poltrona marrom. De imediato, o garoto pulou do assento, olhando feio para o quadro.

Mas nenhum dos outros amigos dera atenção a Pedro ou à reclamação do velho do quadro. Remo, Sirius e Tiago olhavam, extasiados, para um brasão de bronze posto sobre a escrivaninha do diretor:

- Recompensa por serviços prestados a Hogwarts -

Aos mais marotos dos grifinorianos:

Pedro Pettigrew

Remo Lupin

Sirius Black

Tiago Potter


Notas finais: (além de conter notas do autor, há também os pensamentos, detalhes e opiniões pessoais de cada maroto sobre os diversos acontecimentos do conto).

# As notas finais terão de ser longas. Há muito para se explicar; coisas que, se postas no conto, tirariam o resultado por mim desejado. Comecemos...

# Como Dumbledore ficou sabendo da aventura dos garotos? Quando os três marotos levaram Tiago à Ala Hospitalar, obviamente, tiveram de dar uma explicação. Daí, não é muito difícil de imaginar como a aventura chegaria aos ouvidos do diretor, não é?

# McGonagall esteve presente na ala hospitalar quando os garotos chegaram com Tiago. A diretora da Grifinória, entretanto, achou por bem não dar detenção alguma aos meninos, visto que pensou da mesma forma que Sirius: o que foi desobedecer umas poucas e não tão comprometedoras regras visto que se eliminou o mal que perturbava a escola? Desta forma, Minerva deixou a cargo de Dumbledore qualquer tipo de punição aos garotos. Porém, não achemos que ela tivesse sido tão solidária se a aventura dos meninos tivesse acabado em tragédia.

# Dumbledore compreendeu a boa intenção dos garotos ao descumprirem as regras. Ao contrário de Minerva, não pensaria duas vezes em não dar detenção. Enxergou no ato dos garotos o puro espírito grifinoriano: coragem e união para enfrentar o perigo.

# Agora, voltemos um pouco a Tíber, a maior incógnita desta narrativa, até então. O elfo doméstico é leal ao seu senhor, entretanto, não é mal. Ao avistar Tiago Potter caído no chão, ferido e com a cabeça ensopada de sangue, Tíber sentiu-se mal. Muito mal, para dizer pouco. Para ele, havia acabado de matar um amigo seu e, pior do que isso, alguém inocente. Nos poucos segundos que teve para pensar desde a visão do garoto ferido à interposição a Pedro e a morte, Tíber concluiu que estava endividado com Tiago. Afinal, para o elfo, havia acabado de matar alguém a quem era muito afeiçoado e de quem recebera uma grande ajuda no passado. Pagou a dívida com a sua vida, em prol de prezar a vida de um amigo do garoto.

# Dou agora uma informação adicional que muito pouco somaria à história se fosse desenvolvida nos contos: a grande ajuda recebida por Tíber de Tiago foi ao ser contratado por Dumbledore. Ao saber que o seu Mestre havia morrido, o elfo desesperou-se ao se encontrar na perspectiva de não ter lar algum que o abrigasse (não se costuma ter elfos de outras famílias e o Sr. Coaty fora o último de sua linhagem, logo o elfo não poderia ser passado a um herdeiro). Tiago vê a situação de Tíber e implora a seus pais que o abriguem. Como estes recusam abrigá-lo, procuram por Dumbledore, diretor de Hogwarts, e o bruxo, sábio e bondoso, o aceita em sua cozinha.

# O que ocorreu com o fantasma do Sr. Coaty? Como utilizou de forma errada um instrumento mágico do mundo espiritual, recebeu a sua punição: foi carregado para um submundo onde viveria uma vida solitária contemplando a sua imagem de quando mais jovem. A esfera virou a sua prisão para todo o sempre.

# Por fim, como o Sr. Coaty morreu? Maldição de família. O seu tetravô fora amaldiçoado por uma forte e má feiticeira ao apaixonar-se pela filha daquela. Desde então, a vida dos seus descendentes tornou-se mais curta. Até que chegou o último da linhagem, Nilton Coaty.

# O recebimento do brasão serviu de denominação aos garotos. Eles agora são chamados e se autodenominam: marotos.

# Bem, como perceberam, a história dos contos não é só o que vai escrito e publicado na fanarea. Procuro elaborar uma boa e longa história, para não deixar furos. Entretanto, pôr todas estas informações em uma narrativa que se diz curta está fora de cogitação. Quando eu achar necessário dar-lhes informações adicionais, estas serão dadas aqui nas notas finais.

Espero que tenham curtido mais este conto! O penúltimo episódio da segunda temporada está por vir... Prometo uma pitada de romance e comédia para o próximo!

Abraços!

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