O Gosto do Caviar



Adeus ou Tchau




Capítulo Quatro – O Gosto do Caviar



But I’m a creep

I’m a weirdo

What the hell am I doing here?

I don’t belong here…




Hermione fechou a porta e recostou-se nela. Maravilha, agora ela também seria perseguida por encrencas? A amizade com Harry levara tanto tempo que transferira as manias do moreno para ela, só podia ser. Que droga de coisa Dan quisera dizer com aquilo? Que ela estava em perigo? Que ele estava em perigo? Que todos eles estavam em perigo? Mas de onde poderiam vir ameaças, depois de tudo? Voldemort estava morto, por Merlin! Não havia volta. Harry quase fora com ele para ter segurança de que ele estava destruído completamente.

Ela tinha que dormir. Se havia algo de estranho naquela inocente conferência sobre Yets, ela descobriria. A mulher se endireitou e estufou o peito. Ela era Hermione Granger!

Era cedo quando Hermione pôs a cabeça nos travesseiros. Pouco depois das nove horas, talvez, o relógio de sua cabeceira estava atrasado em pelo menos cinco horas. De qualquer forma, Nicolai Strotski prometera acordá-la. O jovem intérprete (ou intérrrrrprrete, como ele falava) era mesmo muito esforçado. Novato no emprego, provavelmente. E querendo se desvencilhar da ajuda do irmão, que ela percebia ser muito responsável e maduro. Só não imaginara que ele pudesse lhe confidenciar qualquer coisa sobre subcorrentes da conferência; afinal, eles haviam acabado de se conhecer...

Mas com a urgência que ele demonstrara, devia ser mesmo algo sério. Claro. Na manhã seguinte Hermione exigiria explicações com Dan. Só precisava ter oportunidade para isso. No meio de todos os aqueles bruxos de todo o mundo.

Seu sono foi mais tranqüilo daquela vez. Não totalmente isento de pesadelos, durante a noite ela sentiu apenas o frio e ouviu gritos, mas teve a impressão de que sua cabeça estava resgatando o passado próximo, já que ouvira muitos gritos ela própria, e sentira muito frio, durante a guerra.

Quando ela abriu os olhos, o relógio marcava mais ou menos uma e meia da manhã, mas ela sabia que devia faltar pouco para amanhecer. Dormira pouco, e sentira falta de amigos por perto, mas sua consciência estava mais leve. De alguma forma, aquele sacrifício que ela acreditava estar fazendo por Rony a fazia se sentir mais nobre, e até mesmo lhe dava a impressão de estar sendo castigada por todas as mortes pelas quais fora responsável na guerra. A mente humana tem mecanismos estranhos, e a de Hermione não era diferente.

O que a despertara fora uma coruja. Não qualquer coruja. Era Pichitinho, exausto e exaurido, jogado sobre suas cobertas com um pergaminho amarrado na perna. Enquanto se levantava e convocava um lanche qualquer de suas malas, ela quis voar no pescoço de Rony. Como ele forçava uma coruja tão pequena a fazer uma viagem tão grande? Pichitinho já não era nenhum bebê.

Mas quando pegou o pergaminho e o desamarrou de uma coruja grandemente agradecida, suas mãos tremiam. A caligrafia de Rony enchia um pedaço mais do que razoável, maior do que muitos ensaios que ele se atrevera a tentar escrever nos tempos de escola.

Quando terminou de ler, foi tomada de uma seqüência interessante de sentimentos. Primeiro riu da menção a Vítor, depois se comoveu de ver que ele gostava dela de verdade, e que estava preocupado, depois caiu no choro! Por pelo menos uma meia hora, enquanto o sol começava a nascer em Moscou, ela se acabou de chorar e desejou nunca ter lutado na guerra, nunca ter conhecido Rony, nunca ter se descoberto bruxa.

Hermione se levantou, olhou-se no espelho e viu os cabelos altos e amassados, o rosto inchado... Que diabos era ela? Uma maluca descontrolada, só podia ser isso! Ela tinha que estar descansada para a conferência! Os Yets realmente precisavam de decisões sensatas, se quisessem continuar vivos e se não quisessem incomodar os vilarejos trouxas em...

Certo, um banho poderia melhorar as coisas. E foi para o banheiro que ela foi, não sem antes causar um pequeno acidente, ao tirar a varinha da gaveta e, tomada daquela onda de reações, acabou explodindo um armário. Até finalmente entrar debaixo do chuveiro, estava realmente suada com o esforço de reconstruí-lo.



*’-*’-*’-*’-*’-*’-*’-*



‘-Ah, sim, você vai. – decidiu Harry pelo amigo.

‘-Acho que não tenho muita escolha, não é? – retrucou o ruivo, amargo, olhando em volta. A mesma estação de Pó de Flu. As coisas estavam doidas demais para ele. Harry o forçou a segurar sua mala e examinou o bilhete que comprara para ele.

‘-Lareira quatro e vinte e cinco, garanhão. – disse ele, empurrando Rony na direção da multidão aglomerando-se nas lareiras.

Rony bufou, desgostoso. Queria ir, mas não queria. Complicado, complicado... Tudo estava assim. Olhou para trás e fitou os olhos ansiosos de Harry.

‘-Vá logo! – exclamou ele, empurrando-o de novo.

‘-Harry...

‘-O quê?

‘-Estou cansado de ir atrás dela, cara. – ele confessou. – Ela não me quer lá, puxa vida. Se quisesse teria dado alguma dica.

Harry fez uma pausa. Então era isso. Dessa forma...

‘-Deixe de ser idiota e vá atrás dela. Só mais essa vez! – acrescentou, enfrentando o homem muito mais alto do que ele com coragem. Vendo que Rony não parecia convencido e examinava ainda o bilhete, o bruxo suspirou. – Você quer ver o que há de errado com ela, não é?

Rony ergueu uma sobrancelha.

‘-Pois então. – Harry se animou. – Você quer, você vai. Pare de enrolar e entre naquela lareira. Considerando tudo... Talvez você a pegue na saída da conferência.

O outro deu dois passos hesitantes. Talvez pudesse fazer uma concessão para seu orgulho ferido. Quem sabe... Afinal, ele estava indo apenas para ver se ela tinha mesmo algum problema, como tinha parecido. É! Não era coisa de sua cabeça! Harry também a sentira estranha. Então ela estava estranha!

Rony endireitou os ombros.

‘-Lá vou eu, Potter. Não me espere para o jantar.

E Harry observou Rony caminhando com decisão até as lareiras. Mas eu sou mesmo o máximo, pensou convencido.



*’-*’-*’-*’-*’-*’-*’-*



Ela estava razoavelmente recomposta enquanto caminhava para o subsolo. Nicolai estava a seu lado, observando-a com extrema cautela.

‘-O que foi? – ela inquiriu, tentando se defender com um tom ríspido.

‘-Senhorrita me desculpar, mas... Estava muito estrranha no café. – ele revirou suas pastas, fingindo ver se algo estava faltando.

Hermione tentou forçar uma expressão tranqüila. Mas estava uma pilha de nervos... Tivera outra imersão! Diante de Nicolai! Não fora tão profunda. Mas vira mais rostos mortos nos segundos em que a realidade deixou de ser real. Desconhecidos. E muito, muito frio.

Nicolai a sacudira com a maior delicadeza que pudera, para quem estava diante de uma bruxa inglesa em transe.

‘-Desculpe – ela disse apressadamente, quando se viu de volta à realidade. – É o cansaço... E o frio, eu acho...

O rapaz a olhou com cautela mas não disse mais nada. E agora que ele criara coragem para citar o evento outra vez, Hermione não sabia o que responder. Estavam já muito perto do subsolo, e ela teria que enrolar de alguma maneira.

‘-Depois conversamos, Nicolai. Mas por favor não... não mencione isso para mais ninguém.

Uma porta velha e barulhenta foi empurrada por Hermione e diante dela, a verdadeira ante-sala da conferência: havia bruxos com todos os tipos de vestimentas, alguns com ponchos mexicanos e sombreros, outros tagarelando de queixo erguido, olhando em volta com desdém e usando peles; estes ela pensou serem franceses, mas depois reconheceu a bandeira da Argentina no agasalho de um deles. Bruxos da Índia, da Suécia, de Portugal, da China e da Mongólia, de Moçambique, do Brasil e da Bolívia... Os Estados Unidos haviam mandado uma verdadeira comissão, pelo que ela notou. Cerca de dez bruxos de ternos trouxas, sorrindo de maneira simpática, com as varinhas saindo dos bolsos de forma quase exibicionista.

Naquele momento, ela se perguntou porque seria a única bruxa inglesa ali.

‘-Ah, mas a senhorrita não é – Nicolai a interpelou, quando comentou isso. – Tem mais dois por aí, mas não são tipos muito simpáticos... Além do mais, eles brigam o tempo todo. Dan está cuidando deles agora, eu acho. Mas está tendo um trabalho enorme.

Hermione pensou um pouco.

‘-Como eu não soube deles, Nicolai?

‘-Peço-lhe desculpas. Srta. Granger... Falha no prrrotocolo... De qualquer forrrrma, eles não parrecem ter uma opinião muito diverrrgente da sua sobrrre o que deve ser feito dos Yets. Mesmo assim... – Nicolai esticou o pescoço, olhando entre os bruxos; os que vestiam roupas coloridas demais com certeza dificultaram sua tarefa. – Ah! Ali estão eles... Está vendo? Perto dos norruegueses...

Ela procurou um pouco entre a multidão, enquanto abriam caminho; e ali estavam os dois, Hawstings e van Pels. Ao lado deles... O tempo parou enquanto o queixo de Hermione caía como pedra no precipício.

Draco Malfoy e Carlinhos Weasley.

Ficou imeditatamente explicado o motivo deles brigarem o tempo todo. o motivo deles brigarem o tempo todo. Mas... Como Malfoy fora parar ali? Hermione piscou.

‘-Nicolai, você tem certeza... – ela balbuciou. – Oh, por Merlin, são Malfoy e Carlinhos!

Nicolai ergueu as sobrancelhas, atarantado ainda com seus papéis.

‘-Então a senhorrita os conhece? O ruivo parrece trrabalhar com drragões, devia ter vindo com os bruxos romenos, mas mudou os planos... E o Sr. Malfoy... – Nicolai hesitou. – A senhorrita conhece a situação dele melhor do que eu... – e engoliu em seco, calando-se.

Hermione estava então diante dos dois; Nicolai pigarreou de forma significativa e os dois voltaram-se para ela.

‘-Hermione!! – Carlinhos exclamou muito surpreso, imediatamente puxando-a para um abraço. – Puxa vida! É muito bom ver você por aqui. – e soltando-a, lançou um olhar depreciativo para Malfoy. – Até que enfim uma companhia agradável. Maldita a hora em que o Ministério mandou este paspalho atrás de mim, você não sabe como ele é... Ou melhor, sabe.

Malfoy franziu o cenho, olhando para ela.

‘-De fato, Weasley, o circo agora está completo! Eu devia ter imaginado que agüentar um idiota já era demais. Agora tenho uma San... Uma nascida trouxa para aguentar nas minhas orelhas.

Hermione pensou um pouco e lançou um olhar de indagação para Carlinhos.

‘-Não soube da nova medida do Ministério? – ele disse. – Discriminação agora é crime passível de uma fiança de quatrocentos galeões ou dois meses em Azkaban. Isso o impede de falar tudo o que pensa.

Malfoy bufou e foi ignorado; Hermione virou-se para Carlinhos.

‘-Mas de qualquer forma, como ele veio parar aqui? Você disse que o Ministério...

‘-Pois é. Malfoy é um Redimido, você sabe. Abandonou Voldemort quando foi requisitado... E precisa até hoje de proteção do Ministério. Tem até um empreguinho lá... – Carlinhos conteve um sorriso satisfeito. – Assistente da Seção de Mau Uso dos Artefatos dos Trouxas.

Ela não conseguiu se conter; um sorriso de escárnio apareceu em seus lábios e ela não pode evitar um comentário.

‘-Você quer dizer... Subordinado do Sr. Weasley?

Carlinhos assentiu alegremente, e daquela vez Malfoy teve que reagir.

‘-Os heroizinhos resolveram se divertir comigo, não é? Nunca estão satisfeitos, de verdade. Quando eu resolvo dar uma ajuda e dedar os Comensais, vejam o prêmio que eu recebo.

‘-Cale a boca, Malfoy. – ameaçou Carlinhos. – Não me faça mostrar a sua Marca Negra pra todos aqui. Assim você não poderá entrar na conferência e não poderá escrever o relatório para o Departamento de Criaturas Mágicas.

Hermione não perguntou por que não haviam mandado alguém daquela mesma seção; certamente não agüentavam mais Malfoy zanzando no Ministério; sem falar que era melhor mandá-lo para a Rússia, já que a alternativa era que ele continuasse lá, à mercê dos malucos reminiscentes. Ela sabia que nem todos os Comensais haviam sido presos. Restavam alguns insanos indefesos pelas ruas londrinas, embora fosse questão de tempo até serem pegos. Proteção do governo para Draco Malfoy... Ninguém podia culpá-la por achar graça. Ela só não entendia por que ele teria abandonado Voldemort. Aquilo quase lhe custara a vida.

Havia algumas bruxas circulando com bandejas de aperitivos, já que eles não tinham tido café da manhã. Em quinze minutos seriam distribuídas as Chaves de Portal para o local certo da conferência. Malfoy pegou com displicência uma casquinha cheia de caviar e levou à boca. Hermione segurou uma nova zombaria e voltou-se novamente para Carlinhos; Nicolai permanecera parado obedientemente ao seu lado.

‘-Então... O que vocês pretendem defender quando chegarmos lá?

‘-Pois é, eu estava pensando em controlar os Yets... Em alguns países os trouxas se dão muito bem fazendo isso, sabe. Nós podemos marcar os Yets e delimitar as áreas onde eles ficarão. Não faça essa cara, Mione, eles não podem simplesmente ficar soltos pela Rússia. Existem vilarejos realmente ignorantes que nunca saberiam lidar com uma invasão deles.

‘-Eu sei disso – ela replicou, pegando uma casquinha também, com cerca relutância. – Mas você não está achando que os russos vão liberar áreas decentes para as criaturas, acha? Além do mais, eles terão que contratar muitos feiticeiros profissionais do exterior e com certeza acabará saindo muito caro para o Ministério deles.

‘-E no que você estava pensando, então? – intrometeu-se Hawstings, que estivera conversando com van Pels mas se sentiu de repente atraído pelo assunto.

‘-Não tive muito tempo de formular uma hipótese perfeita – discursou Hermione, internamente satisfeita por ter sido questionada. – Mas eu tinha pensado em distribuir a população de Yets entre os países nevados, de acordo com a capacidade destes.

‘-Nem pense em mandar esses bichos para a Inglaterra – cortou Malfoy, sem se conter. – Não quero mandar um filho meu estudar em Hogwarts quando Hagrid poderá pegar um Yet e cruzar com explosivins, ou hinkypunks.

Hermione olhou-o com raiva.

‘-Antes de se preocupar com isso, Malfoy, talvez devesse considerar que mulher nenhuma queira carregar um filho seu na barriga. – sibilou.

Pouco depois Nicolai se apressou em cortar o debate, alegando que o assunto seria tratado de melhor forma na conferência. Hermione não se deixou convencer e tentou combinar com Carlinhos o que defenderiam; afinal, a comissão da Inglaterra não podia simplesmente aparecer para a conferência sem que seus membros tivessem as mesmas idéias.

A isto se seguiu o fatídico momento de tomar as Chaves de Portal; Dan chegou com uma caneta, a passos ofegantes, depois de ter tropeçado nas vestes de uma bruxa indiana.

‘-Aqui estão vocês, finalmente. Eu trouxe... – fez uma pausa ao vê-la ali. – Olá, Hermione.

Ela acenou com a cabeça e Dan continuou.

‘-Nicolai e eu vamos acompanhar vocês nesta Chave. – Dan a estendeu para o meio do círculo que eles formavam em meio à profusão de bruxos. – Aproximem-se... Isso... Agora, no três...

O recinto da conferência se assemelhava muito aos que os trouxas usavam, pelo que Hermione conseguira ver nos jornais, em casa. Um salão redondo com várias colunas circulares e bancadas dos países. Janelas altas com passagens estratégicas para corujas e dois tubos especializados para memorandos, que davam na mesa central, onde havia uma plaquinha com os dizeres “Rússia”, seguida de outros três nomes: Dan Strotski, Wladimir Foronov, Irma Belaievna.

A discreta bancada com o letreiro “Inglaterra” não estava muito longe. Hermione se acomodou entre Malfoy e Carlinhos, mas esforçou-se para acomodar Nicolai num banquinho entre ela e Malfoy. Como não falava absolutamente nada de russo, o rapaz certamente seria necessário.

Houve uma certa demora para que todos se acomodassem, principalmente na comissão americana; como todos os outros países, havia apenas três cadeiras, de modo que os outros bruxos tiveram que se arrumar como puderam; emprestaram uma cadeira dos noruegueses, outra dos irlandeses, conjuraram banquinhos até que todos os integrantes pudessem se sentar de forma aceitável.

Wladimir Foronov tinha um rosto redondo e simpático, que lembrou Hagrid, embora seus cabelos e barba fossem ralos e brancos. Ele se levantou e, limpando a garganta, começou um pequeno discurso de introdução.

‘-É realmente muito bom receber todos os senhores, bruxos e bruxas, aqui nesta Conferência pelo Bem-Estar dos Yets, que o Ministério da Magia Russo convocou. Estou certo de que buscaram se inteirar dos assuntos que essa ameaçada espécie mágica vem destacando em nossa civilização bruxa, atraindo muitas vezes a desconfiança dos trouxas, que alegam terem visões do popular “pé grande”...



*’-*’-*’-*’-*’-*’-*’-*’-*’-*



Rony encarou atordoado a estação russa de Flu. Também sentiu frio e xingou em voz baixa, segurando a maleta que Harry enchera havia menos de meia hora com as coisas mais urgentes que ele poderia precisar. Olhou em volta, pensando no que fazer, quando resolveu tentar uma estratégia clássica: pedir informações.

‘-Com licença, eu estou procurando a...

Mas a mulher que Rony parou o olhou, estranhando, e murmurou qualquer coisa no espírito de “não falar ingrês”, de modo que o ruivo não insistiu. Caminhou mais um pouquinho até visualizar uma banca de jornais... Mas com certeza os jornais russos não poderiam lhe ajudar em nada.

‘-A senhor está perrdido? – uma voz grave entoou, atrás dele.

Rony se virou depressa, surpreso, para fitar um homem vestido em peles grossas e cinzentas, sorrindo por baixo da barba negra.

‘-Ah, sim, senhor, eu gostaria de saber onde é a conferência sobre os Yets que deve ser aqui na cidade...

O bruxo estreitou os olhos azuis, e com um olhar para os cabelos de Rony, confidenciou:

‘-Sei a que se refere, meu rapaz. Nós estar esperrando por vacê... Venha comigo.

Rony franziu a testa. Fantástico, com que tipo de bruxo importante ele estava sendo confundido? Sem ter alternativa melhor (depois que chegasse à conferência ele poderia desfazer o mal entendido! Primeiro ele poderia encontrar Hermione), seguiu-o, até um canto entre duas lareiras fora de atividade, ou pelo menos era o que estava rabiscado num inglês quase arcaico, logo abaixo da legenda em russo.

O homem barbudo tirou do bolso um pedacinho de madeira lascada e o estendeu a Rony.

‘-Está com toda a papelada aí?

O ruivo viu-se num dilema. Ali estava a Chave de Portal para a conferência. E se ele estivesse se passando por alguém realmente importante?

‘-Claro que estou. – replicou, fingindo um ar confiante.

‘-Ótimo. Entrrregue isso a Hawstings assim que chegar. E não deixar que caia nas mãos dos russos, nem dos ingrrrreses. Se eles souberem o que descobrrrimos, estarremos perrrdidos. Ah-

Rony congelou, com a mão estendida para o pedacinho de madeira.

‘-Sim?

‘-Porrr que estar falando ingrrrês?

Ele engoliu em seco, tentando pensar depressa.

‘-Disfarrrrce. – murmurou, imitando-o.

O barbudo pareceu considerar.

‘-Muito bom. Se pensarem que foram os ingrreses, melhor ainda. Agora suma daqui. – e entregou a madeira a Rony, que começou a girar depressa demais para poder pensar.



*’-*’-*’-*’-*’-*’-*’-*



‘-Os Yets certamente não podem viver soltos nos territórios russos. – van Pels dizia, de ombros erguidos. – São deveras violentos para os vilarejos... O ideal seria que houvesse uma conscientização ou a criação de uma Guarda pelo Ministério russo para evitar que eles ataquem os trouxas em busca de alimento.

‘-Mas como o Ministério russo não dispõe de todo esse dinheiro... – Dan cortou-o.

‘-... A reprodução da espécie terá que ser controlada, é claro. – van Pels completou, como se fosse óbvio. – As áreas delimitadas parecem uma boa alternativa, mas o Ministério da Magia da Noruega gostaria de receber alguns espécimes para criação em cativeiro. Estamos todos cientes de que as propriedades mágicas dos Yets são praticamente desconhecidas.

Um bruxo argentino se levantou num gesto largo de sua cadeira.

‘-E como pretende arrastar esses animais até a Noruega, se ainda não se conhece um sedativo eficaz para eles?

Van Pels abria a boca para responder, mas para Hermione a coisa já estava ficando absurda demais.

‘-De qualquer forma – ela cortou, se erguendo também, e vendo dezenas de cabeças se virando em todo o saguão para fitá-la. – os Yets não podem ter a reprodução controlada, pois sabemos que já são uma espécie ameaçada. Eles precisam de proteção, - e nesta palavra ela pôs tanta ênfase quanto conseguiu – já que muitos bruxos nativos já vêm desenvolvendo estudos sem os menores critérios, como se buscassem descobrir algo milionário.

Hawstings se levantou, ao lado de van Pels, com um punho fechado sobre a mesa.

‘-Com certeza a senhorita sabe que estudos qualificados já apontam o potencial dos Yets para funções curativas ou até filtração de energias como a magia negra.

Hermione não se deixou abater.

‘-Mas certamente estes estudos podem esperar que a raça dos Yets esteja segura! Se forem alvo de estudos, não serão mortos apenas os exemplares planejados, e sim outros que serão encontrados por oportunistas que querem apenas se dar bem em cima do sofrimento de um ser inocente como...

Mas de repente Hermione interrompeu o que dizia. Estava se sentindo tonta. Baixou a cabeça e imediatamente Nicolai a fitou com urgência.

‘-Está bem, senhorrrrita...?

Mas Hermione não conseguia mais escutar: seus ouvidos estavam tapados. Sua visão começou a ficar enevoada e correntes de ar frio começaram a percorrê-la... Não, não, aqui não...

Com um deslocamento de ar, Rony apareceu no recinto de conferência. Enquanto ele era encarado por dezenas de olhares de estranheza (principalmente os de seu irmão e de Malfoy), o ruivo conseguiu localizar Hermione pouco antes que ela caísse no chão.



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