Motivos Maiores



Adeus ou Tchau



Capítulo Três – Motivos maiores



You look like a feather

In a beautiful world

I wish I was special

You’re so fucking special




Hermione engoliu em seco, tão logo parou de girar. Antes mesmo de abrir os olhos já sentiu uma rajada de frio que percorreu seu corpo; era a Rússia.

Abriu os olhos e viu dezenas de bruxos cruzando o pátio da Estação Internacional Russa de Pó de Flu, um nome grande demais talvez, mas bastante específico. Observou tudo por um instante, meio atordoada, para depois tatear a alça de sua mala no chão. Uma voz gritou em russo subitamente, a seu lado, e ela pulou para frente. Logo em seguida a lareira de onde saíra de encheu de chamas para receber uma senhora de cabelos brancos, envolta em várias camadas de peles de animais. Hermione franziu a testa, resistindo ao impulso de perguntar à velha bruxa russa se aqueles casacos eram de pele sintética.

Essa sim era a Hermione que ela conhecia, pensou ao recomeçar a andar entre a multidão. A mulher que se preocupava com questões gerais, que não ficava presa em seu mundinho egoísta de problemas amorosos.

No fundo, ela sabia o tempo todo que isso não passava de uma válvula de escape, mas todos temos um pouco de auto engano dentro de nós.

Tão logo afastou o pensamento, uma voz carregada chamou seu nome no meio da multidão; a bruxa virou-se para olhar diretamente para um rapaz de cerca de dezoito anos, com óculos enormes e cabelo bagunçado, olhos negros, muito magro e de porte curvado, acenando avidamente para ela por cima de uma pilha de papéis que segurava sobre uma prancheta gasta; uma pena estava pendurada à prancheta, e vez por outra deixava escapar uma série de faíscas azuis, no mínimo perigosas.

“-Herrrrmiony Grrrrranger! – chamava o atarefado rapaz, acenando e tentando ajeitar os óculos sobre o nariz ao mesmo tempo. Hermione se aproximou, hesitante, arrastando o malão. – Oh, deixar que eu cuidarrr disse.– adiantou-se ele, levantando-se num gesto brusco e derrubando todo o papel no chão.

Hermione virou os olhos sem que ele percebesse, cheia de pena.

“-Desculpe, senhorrrrrita, - lamentou ele, recolhendo tudo apressadamente. – Dia maluco, semana maluca... Senhorrrrita me desculpe, por favorrr, eu estar com tantas tarrefas que...

Mas com um gesto de varinha Hermione reuniu os papéis; o jovem russo observou tudo se juntando organizadamente sobre a prancheta e de volta a seu braço, com os óculos pendurados na ponte do nariz. Hermione sorriu de maneira modesta.

“-Obrrrigado – disse ele, afinal soltando o ar e calando-se. – Seja bem vinda à Rússia.

Hermione guardou a varinha e apertou a mão trêmula do rapaz.

“-Como se chama? – ela perguntou, erguendo uma sobrancelha.

“-Nikolai Strotski – ele respondeu. – Sou seu intérrrrprrete... Devo acompanhá-la ao hotel da conferrrência... Isso é tudo que trazer? – acrescentou, com um olhar surpreso ao malão que ela arrastava.

Hermione sabia o porquê da estranheza de Strostki; o frio já fazia com que se arrependesse de ter trazido tão poucos agasalhos; subestimara o frio de Moscou.

Meia hora depois, ela já estava registrada no Hotel Gaarder, que era originalmente trouxa, embora atualmente o dono fosse um dos bruxos mais espalhafatosos que Hermione conheceu em toda a sua vida, incluindo neste cálculo o velho Arquibaldo. Ele circulava com uma capa roxa berrante e falava alto em russo de uma maneira que Hermione juraria pertencer a tipos italianos, e não russos. Quando ela se registrou, o Sr. Gaarder secudiu sua mão com tanta força que quase despregou seu braço do corpo:

“-Da, da, muito bom terrr ingleses porrraqui de novo. – ele falou, enquanto Hermione massageava sua mão. – última vez quando grrrande brrruxo malvado atacarrr... Oh! – Gaarder se interrompeu, olhando mais uma vez para a ficha de Hermione. Seu queixo caiu enquanto ele relia o nome dela, cerca de umas quinze vezes e outras três em direções aparentemente não usadas pelo inglês. – Eu conhecerrr vacê!! - ele exclamou com alegria.

Hermione arregalou os olhos. Desde quando um velho bruxo russo sabia quem ela era?

“-Você ser a vocalista d’As Esquisitones! – Gaarder estava gritando a plenos pulmões, bem na cara da mulher. – Quase que Yosef não reconhece vacê sem a perruca roxa...

Recuperada da surpresa, Hermione levou cerca de cinco minutos até conseguir convencer o dono do hotel que não era a vocalista das Esquisitonas e muito menos estava ali para fugir de uma briga que tivera com Celestina Warbeck, que lhe acertara um chute na boca do estômago seguido de um Feitiço Furunculus.

De qualquer forma, não deixava de ser curioso que seu nome tivesse soado familiar; enquanto se jogava em sua cama de molas barulhentas, Hermione ficou imaginando se não teriam de fato falado dela por ali. Afinal, com toda a guerra contra Voldemort, ela se tornara uma militante conhecida... Agora ela fazia uma vaga idéia de como Harry se sentia, sendo famoso. Só não conseguiu decidir se era melhor ter sido reconhecida como uma das maiores responsáveis pela derrocada de Voldemort, ou confundida com uma cantora amalucada.

Rony também deveria ter ficado famoso, pensou ela, desfazendo sua mala.







“-E eles só podem entrar por aqui – finalizara Hermione, com um dedo inquisidor sobre o ponto que marcava o túnel que ocupava o subsolo da Floresta Proibida, com um suspiro de triunfo.

Lupin examinou toda a estratégia de Hermione com o cenho franzido, o rosto reluzindo com o suor, parecendo exausto sob a luz das tochas que iluminavam a sala do diretor Dumbledore.

-Mas eles com certeza esperam que nós tapemos essa entrada. – argumentou ele, indicando o começo do túnel, bem no meio da depressão das aranhas de Aragogue.

O Mapa do Maroto estava estendido sobre a mesa de Dumbledore; o diretor próprio estava sentado em sua cadeira, pensativo, com o olhar vidrado e muito distante. Hermione tentou examiná-lo, mas simplesmente não era capaz de supor o que poderia estar habitando os pensamentos do velho barbudo.

Harry estava encostado à porta, alheio a todos eles; acabara de sair de uma briga violenta com a própria Hermione, defendendo que ele deveria atacar os exércitos de Comensais sozinho. Era certamente uma atitude desesperada, e até mesmo Rony concordara que eles precisavam ao menos abrir caminho para que ele chegasse a Voldemort.

O ruivo estava parado ao lado dela, com o cabelo bagunçado de tanto passar a mão por ele em gestos de frustração, observando as linhas do túnel e os alfinetes brilhantes, que indicavam os territórios tomados à volta de Hogwarts.

“-Temos mesmo que esperar que eles venham pra cima da gente? – ele acabou deixando escapar. – Já estamos cercados e ainda temos que esperar o último golpe?

Quim Shacklebolt sacudiu a cabeça, compenetrado na observação do mapa.

“-Seria desesperado demais atacar os Comensais. – murmurou, com cautela. – Estamos cercados por eles e Voldemort pode estar em qualquer parte. Se pudéssemos levar Harry direto até ele, seria melhor. Mas assim...

“-Eles nem ao menos se deixam ver – comentou uma Hermione frustrada. – Mas eu ainda acho que o melhor modo que eles têm é o túnel, porque assim como nós, querem um ataque surpresa.

“-Esse é o problema, Mione – disse Rony, com um olhar preocupado para ela. – Eles querem um ataque surpresa, e nós precisamos de um.








Ele estivera irreconhecível naqueles últimos dias de combate. Estava fechado, taciturno, compenetrado na missão injusta de derrotar Voldemort. Harry então era só resmungos, querendo (sem conseguir) carregar o mundo mágico nas costas. Mas Rony... Ela não sabia identificar bem a mudança do ruivo. Todos os Weasley estavam com ele, todos estavam ajudando uns aos outros, mas mesmo assim ele não tinha mais aquele humor dos dias comuns, mesmo aquele que Rony demonstrara em situações de risco de anos anteriores. Era como se ele tivesse percebido – agora era sério, agora o mundo todo estava em jogo.

Hermione tomou um banho, vendo como na Rússia já escurecia. Era estranho mudar de fuso horário... Como viajar no tempo. Um pedaço do dia havia simplesmente sumido, sido engolido pelo buraco negro da rede de Flu.

À hora do jantar encontrou a maioria dos outros bruxos que participariam da conferência, no dia seguinte. Encontrou Strotski dividindo uma mesa com outros três bruxos, e como era o único rosto conhecido, foi até lá também, forçando os passos mais seguros que conseguia.

“-Senhorrrrita Grrranger! – Strotski se esganiçou, levantando-se e apertando a mão dela. – Querrro que conheça meu irmão, Dan, e estes dois senhorrres, Hawstings e van Pels. Eles vêm... da Norrruega, não é, senhorres?

Hermione apertou as mãos dos três bruxos e sentou-se analisando-os com mais cautela. Dan tinha os mesmos olhos negros do irmão, mas seu cabelo estava arrumado com capricho, a maioria jogada para a esquerda. Tinha um queixo de curvas bruscas que a fez lembrar de Vítor, e usava uma capa bruxa muito gasta, que parecia ter sido feita a partir de um cobertor de mendigo. Os dois bruxos noruegueses, Hawstings e van Pels, tinham ambos cabelos loiros e olhos azuis, embora apenas nisso se parecessem; enquanto Hawstings era magro e miúdo, de lábios contraídos e marcados por alguma possível acne da adolescência, van Pels era alto e muito gordo, vestido em capas negras numa tentativa de parecer discreto, tinha um rosto expressivo e grossas sobrancelhas.

“-Estávamos falando sobre a conferência de amanhã – disse van Pels, com um gesto largo com o garfo, e num inglês surpreendentemente bom. -, e parece que não há outro assunto por aqui. Sabe, Strotski, acho que alguém precisa oblivivar aquele garçom, e logo, ele já ouviu os espanhóis falando de quadribol duas vezes.

“-Eu sei – replicou Dan, com um sorriso culpado. – Eu mesmo estava tentando convencê-los de que a Rússia é a nova potência do quadribol. Mesmo depois de termos derrotado o Brasil na semana passada, eles não quiseram acreditar em mim.

“-Mas na América Latina eles não ligam muito para quadribol, ligam? – tentou Hermione, cujos conhecimentos sobre quadribol se restringiam a Quadribol Através dos Séculos. – Parecem gostar mais de tranca bola...

Nicolai Strotki soltou um risinho abafado.

“-Mas os Ministros da Magia de lá resolverrram que estimular o quadrribol ajudaria a integrrrá-los com a Eurropa – comentou, com um sorrisinho superior. – Querrem que a gente esqueça que há todo um oceano entrre nós.

Hermione suspirou, ouvindo a conversa e ocasionalmente comentando qualquer coisa.



*-*-*-*-*-*-*-*



Rony foi acordado de maneira muito pouco carinhosa, na manhã seguinte. Harry estava puxando todas as cortinas de seu quarto e cantando a plenos pulmões – o que não era nada bom de se ouvir. O Menino-Que-Sobreviveu podia ser muito talentoso e podia também ser muito nobre e dono de grande poder mágico, mas era péssimo cantor. O ruivo gemeu embaixo das cobertas, cobrindo o rosto amassado com um travesseiro.

“-Vamos, bela adormecida – exclamou Harry, e Rony ficou pensando de que diabos ele estaria falando. – Já está quase na hora do almoço. Sua mãe está arrumando uma refeição para todo o clã Weasley e Gina está revirando a casa inteira atrás de Pichitinho. Você sabe onde ele se meteu?

Rony revirou-se na cama, quando Harry começou a tentar puxar suas cobertas.

“-Hum... Neste momento deve estar sobrevoando algum ponto da Europa Oriental. – replicou, muito a contragosto.

Os puxões na coberta pararam; o moreno, quebrando bruscamente a rotina de anos, pensou depressa.

“-O que você escreveu para Hermione tão cedo?

Rony decidiu ao menos falar alguma coisa. Era melhor conversar debaixo da coberta do que conversar olhando nos olhos do amigo.

A bem da verdade era que não sabia muito bem o que o levara a escrever para Hermione na calada da noite; mas estava tão cheio de dúvidas que resolveu que era o melhor jeito de tirar as coisas a limpo. Se estava tudo bem entre ele e Mione, não haveria o menor problema em escrever para ela! E se não estava tudo bem... De qualquer forma, ele saberia com isso. Pichitinho quase tivera um infarto quando ele o pegara, no meio da noite, para levar o pedaço mais estúpido de pergaminho pelo qual Rony se responsabilizou em toda a sua vida.



Mione,

Eu estava sem muito pra fazer aqui n’A Toca e fiquei pensando se seria muito idiota escrever pra você antes mesmo de fazer um dia que você foi para a Rússia. Não tenho muito para contar também, exceto que Gina acordou ontem com dois gnomos de jardim puxando seus pés na cama; até agora mamãe está tentando descobrir como eles conseguiram chegar até lá. Eu na verdade acho que o vampiro do sótão está começando a fazer pequenos passeios por outras partes da casa, e como ontem mesmo Gina reclamou dos resmungos dele, pode ter sido uma vingança, nunca se sabe.

Estou com uma sensação esquisita desde que você entrou naquela lareira. Certo, para ser sincero essa sensação vem de um ou dois instantes antes, quando a gente se despediu – você estava mesmo animada com essa conferência, espero que as coisas corram bem, de verdade -... Não sei se você percebeu, mas você disse “adeus” ao invés de algo mais breve, como um “tchau”... E eu fiquei pensando.

Droga, será que com aquilo você quis dizer que quer se afastar pra sempre? Puxa, estou imaginando você lendo esta carta e rindo de mim e de como eu me preocupo com qualquer coisa, mas eu nunca percebo nada que as pessoas querem me dizer, Hermione, e se eu consegui captar qualquer coisa de uma palavra diferente que você disse, isso deve significar alguma coisa. E então você diz “adeus” e me deixa aqui pensando, porque você sabe que tudo anda parecendo bom demais pra poder ser verdade, desde que você acordou da maldição... Por isso eu queria mesmo que você arranjasse um tempinho aí no meio das suas conferências pra me dizer que está tudo bem, porque isso está me matando.

Engraçado uma mudança de palavra fazer a gente pensar tanto. “Adeus” e “tchau” são sinônimos, não são? Palavras que significam a mesma coisa. Ao menos isso eu sei o que é, por cima de toda essa burrice que eu sou capaz de acumular. Pois é, as duas palavras dizem a mesma coisa, mas se fosse mesmo assim eu não teria deixado Harry falando sozinho hoje nem teria gritado com a Gina, quando ela perguntou como tinha sido a despedida. Quero dizer, quem deu esse poder às palavras? Desde quando elas são capazes de me fazer ficar louco e neurótico desse jeito?

Agora que estou pensando na tristeza com que você foi embora, estou lembrando também do modo como andou me tratando. Quero dizer, depois que... Depois que eu te busquei na ala hospitalar de Hogwarts... Você me tratou como se quisesse que eu fosse embora, e não conseguisse me dizer isso. Eu queria que você dissesse, sabe, tornaria as coisas melhores pra mim. Eu não sei como eu pude pensar seriamente que você poderia mesmo gostar de mim, digo, diferente de um amigo. Não quero ficar repetindo, você sabe que eu sei bem o que eu sou e porque você não quer mais chegar perto de mim.

Ei, o Krum não vai estar nessa conferência, vai?




“-Estou esperando, Rony. – Harry ameaçou, interrompendo as lamentações mentais de Rony, que já se arrependera de ter mandado aquilo. – Se você não falar serei obrigado a arrancar a sua coberta e você vai me contar toda a história tremendo de frio e usando pijamas.

O ruivo bufou e arriscou uma cara pra fora. Harry segurou um riso diante do cabelo bagunçado, dos olhos espremidos e da cara amassada em geral de Rony. Mas, pensando bem, a coisa não era assim tão engraçada – decididamente havia algo errado com seu amigo.

“-Certo. – resmungou o ruivo com a voz muito enrolada. – Vou ser rápido. Depois que deixei a Mione em casa na semana passada, ela veio evitando me encontrar e não quis mais saber de chegar perto de mim. Ontem, quando ela foi se despedir, ela disse apenas “adeus”.

Seu amigo estava olhando-o com uma sobrancelha erguida.

“-E daí?

Rony quase podia ver Hermione diante de si, virando os olhos. Aquela teria sido a reação de seu amigo. Mas isso era porque ele não se pendurava a cada palavra dela. Não vivia se crucificando por ser tão pouco para ela, até porque ele não tinha que ter nenhum valor especial para ela – esquecendo o fato de que ele tinha – e tudo mais.

“-Harry, seu tapado, ela não quer mais me ver – ele esclareceu antes que o outro perguntasse. – E ela estava muito triste. – fez uma pausa, com o olhar perdido, e se sentou, sentindo-se estimulado por alguém estar ouvindo-o. – Eu me encontrei com ela uma vez. E uma hora ela meio que parecia estar com a mente longe, muito longe. E me segurou, como se estivesse prestes a cair num abismo.

Os olhos de Rony permaneceram nublados e ele parou de falar; mas a atenção e seriedade de Harry já estavam conquistadas.

“-Como assim? – disse, já vasculhando na memória uma certa carta muito breve que recebera da amiga.

Rony seguiu narrando seu encontro com Hermione, e esforçou-se para descrever como ela agira de maneira estranha; Harry franziu o cenho e examinou o amigo, que aos poucos criava coragem para se levantar e trocar de roupa, ainda com os ombros curvados.

“-Ela marcou um encontro comigo – começou, a que Rony virou a cabeça depressa e quase deu de cara na estante. – mas não estava lá quando fui vê-la. Tom me disse que ela havia estado lá, mas saiu antes que eu chegasse.

“-Mas qual é a droga do problema dela? – Rony exclamou revoltado, passando a camisa pela cabeça. – Quero dizer, definitivamente ela está nos escondendo alguma coisa!

Harry assentiu com preocupação.

“-Eu sei – ele falou. – Talvez devêssemos ir atrás dela.

“-EU NÃO VOU! – o ruivo trovejou, e os dois escutaram rangidos no sótão. Harry imaginou o vampiro protestando contra o barulho. Rony gesticulou com indiferença para cima. – Era o que me faltava, ficar perseguindo a Hermione pelos cinco continentes. Ela que quis ir para essa porcaria de conferência, não foi?

“-Rony, tem algo errado com ela. – Harry enfatizou, tentando chamá-lo à razão. – Ela nunca agiu de uma forma tão esquisita, e você sabe disso.

“-PENTEIE ESSE CABELO! ESCOVE ESSES DENTES! – berrava o espelho que naquele momento Rony encarava. – E TIRE ESSA CARA DE TRASGO DO ROSTO AGORA!

“-Certo, agora até o meu espelho quer me dar conselhos – suspirou Rony amargo, embora soubesse que os gritos do espelho estavam longe de ser conselhos.

Os dois ficaram em silêncio por um momento, enquanto Rony encarava uma imagem derrotada num espelho que recuperava o fôlego.

Havia algo errado com Hermione, algo errado com Hermione... Rony sabia disso. Sempre soubera. E sempre imaginara que essa coisa errada era ele. Com certeza ela estava melhor agora, que estava longe dele.



*-*-*-*-*-*-*



Talvez os ares russos estivessem lhe fazendo bem de verdade, pensou Hermione com o humor tão leve quanto seus passos no corredor do hotel. No dia inteiro não tivera uma só imersão. Tivera medo, a princípio, que pudesse endoidar no meio dos bruxos em plena conferência, e ainda era um risco. Mas talvez agora que estava longe de Rony aquilo fosse parar. Afinal, ela seguira o conselho de seus pesadelos, deixara-o em paz.

A mão estava sobre a maçaneta de seu quarto, quando uma mão pousou em seu ombro.

“-Olá... Hermione, não é?

Dan Strotski sorria meio tímido para ela. As roupas rasgadas a faziam se lembrar de Lupin... Onde estaria ele naquele momento? Ela não o via desde que a guerra terminara, ou estivera pelo menos prestes a terminar. Afinal, ela apagara pouco antes disso. Será que Lupin estava morto e ninguém se dera ao trabalho de lhe dizer?

Os pensamentos de Hermione eram deveras rápidos, mas estavam ocupados pensando em Lupin, o que impediu que ela dissesse algo mais espirituoso que “olá”.

“-Nicolai me fez vir atrás de você, pediu para avisar que todos os bruxos da conferência devem se reunir no subsolo do hotel às dez da manhã. Eu disse a ele que é ridículo – Dan virou os olhos. – afinal Gaarder nunca conseguirá esconder dos hóspedes trouxas o que nós somos por muito tempo, mas parece que temos que fingir que seguimos as regras.

Hermione ergueu as sobrancelhas.

“-Você não tem sotaque nenhum? – perguntou, querendo confirmar.

“-Ah, não – Dan soltou um riso surpreso. – Parentes na Inglaterra, sabe. Gosto muito de lá, ao contrário do Nicolai, claro... Só acho meio deprimente, com todas aquelas nuvens que nunca somem.

Hermione sorriu, saudosa.

“-É, eu sei. – concordou. – Mas a gente se acostuma com o tempo.

Sentiu entre eles um vácuo, como essa sensação desconfortável que a gente sente quando está conversando com alguém e simplesmente não tem o que dizer.

Dan olhou para os lados, de repente parecendo apreensivo e segurando algo que queria dizer. Do nada, virou-se diretamente para ela e pôs as mãos sobre seus ombros.

“-Hermione, não posso dizer muito – ele sibilou, quase num sussurro. – Mas tome cuidado nesta conferência. Existem interesses maiores do que apenas a proteção de uma espécie mágica. – ele olhou mais uma vez em volta no corredor, e vendo que estavam de fato a sós, inclinou-se e cravou os olhos negros nos castanhos chocados de Hermione: - Apenas ponha isso na cabeça, tome cuidado.

Da mesma maneira que chegou, Dan virou as costas para ela e apressou-se a virar o corredor assim que atingiu a primeira virada, deixando Hermione com a mão sobre a maçaneta, pensativa.



N/A – Gente, onde está a solidariedade de vocês? Alguém comente, por misericórdia! Eu sei que a fic está muito diferente, mas tudo fará sentido no futuro!

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